Você está na página 1de 11

Isabella de Sousa Inaba Lima

O desenvolvimento infantil na terceira infância

Trabalho de psicologia do
desenvolvimento II, apresentado à
professora Luciana Novaes, na
Pontifícia Universidade Católica de
Goiás.

Goiânia 2019
Resumo

O ciclo vital do desenvolvimento humano no terceiro período de vida do


indivíduo ocorre na idade de aproximadamente 6 a 12 anos. Neste período de
crescimento, as crianças necessitam de cuidados especiais em relação a boa
alimentação, sendo esta uma fase escolar e sociável, onde o indivíduo começa
a interagir em seu meio adquirindo novas descobertas, elevando seu nível
cognitivo e intelectual. As crianças apresentam um progresso constante na
compreensão da memória, e o desenvolvimento físico neste período é mais
lento que nos períodos anteriores, no qual o desenvolvimento motor permite
uma amplitude maior nas atividades desenvolvidas pelas crianças. Neste
trabalho tentou-se através de uma anamnese e às aplicações da prova de
Piaget, mostrar as condições, funcionamento e o desenvolvimento das funções
lógicas da entrevistada por meio de uma pesquisa com análise qualitativa dos
dados. A criança acertou 5/8.

Palavras-chave: Desenvolvimento infantil; Terceira Infância; Crianças; Prova


Piagetiana
O desenvolvimento infantil na terceira infância

A terceira infância compreende o período dos 6 a 12 anos de idade


(PAPALIA E OLDS, 2006) e usualmente está relacionado com o início do
período escolar da criança, que no Brasil compreende aproximadamente do 1°
ao 6° anos do ensino fundamental. Deve-se ressaltar que, apesar de ser
possível se traçar um perfil de desenvolvimento da criança que se encontra na
terceira infância, é necessária a consideração de diversos fatores na avaliação
do que pode ser considerado, ou não, parte do que compreende o
desenvolvimento normal.

Esse trabalho tem como objetivo identificar o nível do pensamento do


criança e reconhecer as diferenças funcionais realizando um estudo
predominante qualitativo, possibilitando o conhecimento das condições,
funcionamento e o desenvolvimento das funções lógicas da mesma.

A entrada da criança no universo escolar caracteriza, muitas vezes, a


primeira entrada significativa em um ambiente social o qual não é diretamente
vinculado à família nuclear (SHAFFER, 2005). A partir deste acontecimento
notam-se que abrem-se portas para que ocorra a possibilidade de
desenvolvimento da criança em diversas áreas de maneira mais acentuada,
tais como o desenvolvimento social, emocional, cognitivo, etc. Todas estas
áreas importantes para configurar o desenvolvimento da autoestima. Com
relação ao desenvolvimento cognitivo, o período da terceira infância também
compreende, de maneira geral, entrada da criança no estágio das operações
concretas de Piaget (FLAVELL, 1975). Entre outras características, neste
estágio há uma diminuição do egocentrismo visto no estágio pré-operatório e a
criança é capaz de pensar logicamente, levando em conta vários aspectos de
uma situação em vez de focalizar apenas um. Essa capacidade de considerar
vários aspectos de uma mesma situação é um fator que possibilita alterações
nas capacidades de julgamento moral e de auto avaliação. O conhecimento
dos aspectos do desenvolvimento humano é importante elemento na interação
com outros conhecimentos vindos do âmbito prático e que, como conjunto,
fundamentam uma atividade pedagógica.
Durante a terceira infância, as habilidades motoras das crianças
continuam aperfeiçoando. As crianças continuam tornando-se mais fortes, mais
rápidas e mais bem coordenadas e obtêm muito prazer ao testar seus corpos e
adquirir novas habilidades. Embora existam poucas diferenças nas habilidades
motoras de meninos e meninas de pouca idade, elas se tornam maiores à
medida que as crianças aproximam-se da puberdade. Essas diferenças devem-
se em parte ao maior crescimento e à força dos rapazes e à corpulência das
moças, mas grande parte disso pode dever-se às diferentes expectativas
culturais e experiências, aos diferentes níveis de treinamento e às diferentes
taxas de participação. O tipo de habilidade também faz diferença. Tarefas que
exigem movimento extenso ou apoio do peso do corpo, como salto à distância
sem impulso, são mais afetados pela gordura corporal (Smoll e Schutz, 1990).

As doenças tendem a ser breves e passageiras. Os problemas de


saúde agudos (problemas ocasionais de curta duração, como infecções,
alergias e verrugas) são comuns. Seis ou sete crises por ano com resfriados,
gripes ou viroses são típicos nessa idade, pois os germes disseminam-se
livremente entre as crianças na escola ou nas brincadeiras (Behrman, 1992).
As doenças do trato respiratório superior, dores de garganta, infecções de
garganta por estreptococos e infecções de ouvido diminuem com a idade, mas
a acne, as dores de cabeça e as perturbações emocionais transitórias
aumentam à medida que se aproxima a puberdade. A maioria das crianças na
terceira infância têm melhor visão do que quando eram mais jovens. As
crianças com menos de 6 anos tendem a ter hipermetropia. Aos 6, a visão é
mais nítida; um a vez que os dois olhos têm melhor coordenação, conseguem
focalizar melhor.

Aproximadamente aos 7 anos, segundo Piaget, as crianças entram no


estágio de operações concretas, quando podem utilizar operações mentais
para resolver problemas concretos (reais). As crianças são então capazes de
pensar com lógica porque podem levar múltiplos aspectos de uma situação em
consideração. Entretanto, as crianças ainda são limitadas a pensar em
situações reais no aqui e agora. No estágio de operações concretas, as
crianças podem realizar muitas tarefas em um nível muito mais elevado do que
podiam no estágio pré-operacional. Elas possuem uma melhor compreensão
dos conceitos espaciais, de causalidade, de categorização, de conservação e
de número.

O conhecimento sobre nossa própria memória, aperfeiçoa-se com a


idade. Entre os 5 e 7 anos, os lobos frontais do cérebro podem sofrer
significativo desenvolvimento e reorganização, tornando a metamemória
possíveis (Janowsky e Carper, 1996). Da pré-escola ao 6° ano, as crianças
apresentam um progresso constante na compreensão da memória. Alunos de
pré-escola e de 1ª série sabem que as pessoas lembram melhor quando
estudam por mais tempo, que as pessoas esquecem as coisas com o tempo e
que reaprender uma coisa é mais fácil que aprendê-la pela primeira vez.
Método

Participantes
A participante entrevistada foi uma mulher a quem denominei “Giovana” de 41
anos, juíza, moradora do Setor Bueno e casada com “João”, de 41 anos,
desembargador. A criança que realizou as provas de Piaget foi a filha caçula do
casal. A criança (a quem nominei “Ana”) tem 9 anos, é diagnosticada com TOD
(Transtorno Opositivo-Desafiador) e está cursando o quarto ano do ensino
fundamental em um colégio particular do Setor Marista.
Materiais/Instrumentos
Os materiais utilizados durante a entrevista com a responsável foram:
duas folhas A4 e 1 caneta, termo de autorização, roteiro estruturado para
entrevista e celular para gravar a entrevista.
Para a aplicação das provas piagetianas foram utilizados folhas A4 em
branco e lápis grafite para desenhos, além dos materiais específicos de cada
prova: 1) dois copos transparentes pequenos, um copo transparente fino e
comprido, jarra com água; 2) massinha de modelar; 3) duas retas de papel de
aproximadamente 12 cm x 1 cm, 4 setas de papel com 1cm de espessura; 4)
dois quadrados de 20 cm x 30 cm de cartolina verde, 8 casinhas coloridas
impressas em papel, duas vaquinhas coloridas de plástico; 5) dois quadrados e
dois círculos grandes de cartolina azul, dois quadrados e dois círculos
pequenos de cartolina vermelha; 6) dois quadrados de cartolina vermelho, dois
quadrados de cartolina azul e dois círculos de cartolina azul, todos do mesmo
tamanho; 7) 10 bonecas pequenas coloridas à mão, 10 camas de bonecas
pequenas de papel; 8) dois relógios com trinta minutos de diferença entre um e
outro.

Procedimento

O critério de seleção da criança foi com base no referencial de faixa


etária da terceira infância, entre 7 e 11 anos. A partir disso procurou-se
crianças que fossem próxima à irmã mais nova da entrevistadora. O contato foi
feito com a mãe pessoalmente, dentro da escola da criança.
A entrevista foi realizada no período da noite, onde estavam presentes a
mãe e a criança. A mãe assinou o termo de consentimento e respondeu
perguntas do roteiro sobre os dados da gestação, sono, alimentação,
desenvolvimento psicomotor, manipulação, escolaridade, sexualidade,
sociabilidade, doenças e ambiente familiar e social.
As provas de Piaget foram realizadas em outro encontro, no fim de
semana na parte da tarde na casa de Ana. A aplicação dos testes aconteceu
no espaço de estudo da criança, onde foi utilizada uma mesa redonda para
organizar os materiais das respectivas provas, que duraram cerca de 10
minutos.

Resultados e Discussão

 Gestação
“Não estava esperando aquela notícia, mas aceitei como um
presente de Deus” – Gravidez não planejada.
“Meu parto não foi natural, embora eu quisesse muito né. Mas
minha filha resolveu virar o bumbum bem na hora H. Acho que nosso
vínculo poderia ter sido maior se tivemos feito o parto natural, como
planejado.”

O parto é também um momento relevante para a formação do vínculo


mãe-bebê. Os cuidados perinatais hospitalares influenciam essa relação. A
ligação materno-infantil bem sucedida tem sido descrita como a capacidade da
criança para despertar e ser reativa ao comportamento de tomar conta de sua
mãe. Segue-se, então, que o produto mais bem sucedido de um parto é um
recém-nascido desperto, alerta e reativo e uma mãe na mesma condição.
(Sameroff, 1978, p. 977).

 Sono

“Ela é tranquila desde que nasceu, mas tem que ter alguém junto
né? Porque o pai acostumou mal a menina.”

“Ela já fez xixi na cama durante a noite quando a irmã dela nasceu,
acho que queria atenção.”

As crianças que não dormem o suficiente (…) ficam ativas mais do que
normal e têm dificuldades em estar atentas e em comportarem-se
adequadamente, sendo muitas vezes mal diagnosticadas de hiperativas”
(Soares, 2010, pág.12).

O sono é fundamental na vida dos seres humanos, sendo essencial


durante a infância. É de extrema importância que as crianças tenham bons
hábitos de sono e descansem as horas necessárias recomendadas, pois é
indispensável para um bom desenvolvimento cognitivo, físico e emocional
(Soares, 2010; Bouton,1996).

Gottlieb e Mendelson (1990) observaram que o primogênito, nessa faixa


etária, tende a apresentar maior sinal de estresse quando recebe menor apoio
materno já durante o período gestacional. Algumas crianças apresentam uma
variedade de reações e mudanças de comportamento, já no período
gestacional, mostrando-se severamente estressadas, enquanto outras
vivenciam tal momento com grande tranquilidade.

 Alimentação

“Ela mamou por 2 anos. E ela quem decidiu quando parar,


quase morri (risos)”

A Organização Mundial da Saúde recomenda que os bebês recebam leite


materno até os dois anos ou mais associado à alimentação complementar saudável,
sendo exclusivamente até 6º mês de vida. Os lactentes, devido a sua imaturidade
biológica, dependem totalmente de outras pessoas para se alimentar. Essas
pessoas, especialmente as mães, por ser as principais cuidadoras das crianças, têm
papel fundamental na construção do hábito alimentar infantil. Além de decidir o que
as crianças irão comer, elas determinam como a criança será alimentada.
Considerações finais

Ao final, concluiu-se que embora Ana tenha respondido todas as provas


com bastante firmeza e conservado suas respostas afirmando ter
conhecimento do que estava sendo proposto, ela não acertou todas as
questões e se recusou a fazer a última questão (conceito de tempo). As provas
de conservações físicas e espaciais foram respondidas de forma correta pela
criança, refletindo a capacidade de conservação adequada, assim como a de
conceito de número. Nas provas de operações lógicas de classificação, a
mesma respondeu quase tudo de forma correta. Entretanto, errou ao colocar
somente os círculos azuis quando foi pedido que separasse as figuras por
“cor”. Esta última situação demonstra que a criança ainda tem pequenos
resquícios do estágio pré- operatório. Com tudo isso, é possível afirmar que a
criança encontra-se em fase final de transição entre o estágio pré-operatório e
o operatório-concreto, pois demonstra conservação de massa e de quantidade,
como também certa habilidade com inclusão de classes
O presente trabalho possibilitou conhecer melhor os postulados
piagetianos uma vez que conhecê-los por completo exigiria muito mais horas
de pesquisa devido à complexidade dos princípios da teoria psicológica criadas
por Piaget. O uso de metodologia ativa em sala de aula com aplicação prática
de provas piagetianas com sujeitos reais preparou os alunos para atuação no
mercado de trabalho. Portanto esta atividade trouxe um momento único, sendo
levado para além da sala de aula.
Referências

Behrman, R. E. (1992). Nelson textbook of pediatrics (13ª ed.). Philadelphia:


Saunders.
Bouton, J. (1996). Reaprender a Dormir. Lisboa: Dinalivro.
FLAVELL, John H. A psicologia do desenvolvimento de Jean Piaget. São
Paulo: Pioneira, 1975.
Gottlieb, L., & Mendelson, M. (1990). Parental support and firstborn girls’
adaptation to the birth of a sibling. Journal of Applied Developmental
Psychology, 11, 29-48.
PAPALIA, Diane E.; OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento humano. 8ª ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
Sameroff, A. (1978). Necessidades psicológicas da mãe nas interações
materno-infantis precoces. In G. B. Avery (Org.), Neonatologia, fisiologia e
cuidados do recém-nascido. São Paulo: Artes Médicas.
SHAFFER, David R. Psicologia do desenvolvimento: infância e adolescência.
São Paulo: Thomson, 2005.
Smoll, F. L., & Schutz, R. W. (1990). Quantifying gender differences in
physicalperformance: A developmental perspective. Developmental
Psychology, 26, 360-369
Soares, A. (2010). O Sono. Lisboa: Lidel.
Anexos

Você também pode gostar