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TIPOS ESPECÍFICOS DE

AVALIAÇÃO
Profª. Larissa Maria Lourenço Roberto de Albuquerque
AVALIAÇÃO PROSPECTIVA:
O EXAME PRECOCE DA CRIANÇA

• É necessário esclarecer, de início, que a avaliação prospectiva, quando se trata de


contexto psicológico, e inclusive realizada o mais precocemente possível, é
concebida sempre em termos probabilísticos.

• Há necessidade, em muitos casos, de realizar avaliação o mais cedo possível,


acompanhada da oportuna intervenção, dando prosseguimento à atenção psicológica
a esses primeiros anos, que são formadores da personalidade e ainda mais
vulneráveis às mais diversas alterações.
MODELO DE AVALIAÇÃO-
INTERVENÇÃO

• O modelo baseia-se em uma perspectiva de articulação cruzada dos


procedimentos de avaliação com os de intervenção. À medida que é
possível constatar os resultados da avaliação, vão sendo formuladas e
aplicadas as estratégias de intervenção decorrentes, e seus resultados,
por sua vez, consequentemente avaliados, configurando-se, desse modo,
a continuidade de cruzamentos recíprocos nas sucessivas fases em que
esses processos (avaliação e intervenção) se desenvolvem, até a
conclusão do estudo.
• A primeira etapa compreende a identificação daqueles aspectos que chamam mais a
atenção no desenvolvimento da criança, segundo observação direta do mesmo e dos
dados fornecidos pelos seus familiares.

• A segunda etapa caracteriza-se pela exploração mais abrangente e organizada de


dados avaliativos, concretizando-se por ações mais sistematizadas de intervenção.
• A terceira etapa, a conclusiva, é onde se integram os dados coletados e
interpretados e de onde derivam as ações terminais da intervenção e o
desenvolvimento de estratégias mais efetivas de autogestão dos familiares e de auto-
estimulação por parte da criança.
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO E DE
INTERVENÇÃO

• Entrevistas de anamnese e de seguimento, com roteiros especificativos dos itens


objeto de estudo, incluindo não somente os aspectos comumente empregados
(antecedentes, distúrbios de comportamento, etc.), mas também os fatores de risco e
os de proteção, as manifestações de “resiliência”, os “sinais de alerta” e os
indicadores com possível qualidade preditiva.
• Observação participante, também denominada “Hora do Jogo”,
destinada ao rapport, com a criança e a mãe, e também para obter uma
primeira impressão do desenvolvimento daquela e da atitude desta
última frente ao filho.

• Escalas de desenvolvimento.
• Técnicas projetivas, aplicáveis à primeira infância e à idade pré-escolar, a partir de
dois anos de idade. Destacam-se entre essas técnicas os Jogos Estruturados, de Lynn
(1980). Trata- se de um instrumento atrativo para essas idades, constituído de
dramatizações em cenas montadas com bonecos e outros brinquedos, que permitem
à criança representar o quotidiano. As cenas são apresentadas mediante a modalidade
de histórias incompletas, para serem completadas pela criança em forma
dramatizada.

• Tais atividades lúdicas de “faz-deconta” estimulam o seu expressivo envolvimento


nas mesmas, facilitando assim a expressão de seus desejos e ansiedades em função
do quotidiano.
• Avaliação do ambiente de convivência da criança. Desse grupo de procedimentos,
destacam- se aqueles de avaliação do contexto familiar, mediante Visita Domiciliar, e o
referido às creches, o Inventário Cumulativo sobre Estimulação Ambiental (ICEA).

• A Visita Domiciliar, previamente organizada, mediante roteiro próprio (Carpentieri, 1994),


constitui um efetivo recurso para o psicólogo constatar, in loco, as condições da criança no
seio de seu lar e as características socioafetivas e físicas desse ambiente.
“SINAIS DE ALERTA” E INDICADORES COM
PROBABILIDADES PROSPECTIVAS

• Tais comportamentos, como já referidos, constituem possíveis indícios da evolução


de quadros clínicos, cuja detecção, especialmente em crianças pequenas, vem
determinar ações de prosseguimento, tendo em vista alcançar um pleno processo
evolutivo na infância e em outras etapas evolutivas.

• Destaque-se que os “sinais de alerta” e os indicadores não têm valor diagnóstico; são
“avisos” para seguir observando e estimulando convenientemente o comportamento
da criança.
• O uso de escalas de observação do desenvolvimento infantil, como a que
se apresenta, pode ser um procedimento auxiliar de importância para
determinar os “sinais de alerta” ou os indicadores que podem chegar a
ser preditivos de deficiência mental, autismo, dificuldades sensoriais
e/ou motoras, entre outros.
• Como ilustração, citam-se dois exemplos de um conjunto de “sinais de
alerta”, com acompanhamento comprovado, durante vários anos, do
processo evolutivo de dois casos. O primeiro refere-se a um possível
prognóstico de deficiência mental, cujos “sinais de alerta” foram
detectados por meio de uma avaliação psicológica realizada quando a
examinanda contava com um ano de idade (caso publicado, com prévia
licença de seus familiares e com dados pessoais simulados, em 1975)
• quadro convulsivo iniciado aos 4 meses de idade, hipotonia generalizada
e rigidez nas extremidades, precário nível de balbucio, associado à
superproteção, permissividade e passividade por parte dos pais. Como
foi constatado recentemente (1999), a examinanda é portadora de clara
deficiência mental, não podendo ser alfabetizada, mas apresenta
linguagem coloquial suficiente para o cotidiano e independência nos
hábitos de cuidado pessoal.
• Os atendimentos clínicos com crianças e adolescentes são consideravelmente,
complexos. Pois, é relevante ponderar, durante a conceituação de caso, os
parâmetros contextuais, culturais. Para isso, torna-se necessário um dinamismo de
interação contínua, por vezes lúdica, que apresenta inúmeros desafios ao profissional
de saúde mental. Neste sentido, para além do mapa ou da estratégia de trabalho
geral, o terapeuta deve mostrar criatividade e flexibilidade diante dos vários
imprevistos que venham a se apresentar
• A Paciente/cliente H.P.A., uma criança, sexo feminino, 10 anos, aluna do 3º ano do ensino
fundamental, acompanhada pela mãe.

• Escala de Inteligência Wechesler para Crianças - terceira edição (WISC – III; Wechesler, 2006) - É
um instrumento clínico; Aplicação individual; Avalia capacidade Intelectual de crianças de 6 a 16
anos, 11 meses e 29 dias. É composto por vários subtestes, cada qual medindo aspectos diferentes
da inteligência; O desempenho nesses subtestes é resumido em três medidas compostas: QI verbal,
QI Execução e QI Total. Adicionalmente o WISC - III fornece quatro escores opcionais de índices
fatoriais (F): FI: Compreensão Verbal (CV): que compreendem os seguintes subtestes - Informação
(Inf.); Semelhança (Sem.); Vocabulário (Voc) e Compreensão (Comp.). FII: Organização perceptual
(OP): Completar Figuras (CF); Arranjo de Figuras (AF); Cubos (Cub.) e Armar Objetos (AO). FIII:
Resistência a Distração (RD): Aritmética (Arit.) e Dígitos (Dig.); F IV: Velocidade Processual (VP):
Código (Cód.) e Procurar símbolos (PS).
• Quanto à razão da consulta psicológica: A mãe da cliente apresentou uma carta de
encaminhamento da escola, referindo ao comportamento e fazendo um pedido de
avaliação psicológica para ajudar na metodologia escolar, ressaltando os seguintes
fatores: a aluna apresenta dificuldades de atenção e concentração durante as aulas,
dificuldade para ler, muito quieta, tímida, requisitos baixos de aprendizagem
referente idade e série e o fato de ser repetente no 3º ano do ensino fundamental.
• Quanto aos dados familiares: a família é composta por 05 membros (Mãe, pai, 03 filhos),
sendo a cliente a terceira filha na ordem de filiação, o primeiro (irmão) com 25 o segundo
(irmão) com 22, vivem todos na mesma casa (própria), exceto o mais velho (estudante de
medicina na Bolívia) que frequenta a casa somente nas férias.

• Quanto os antecedentes pessoais: a gravidez não foi planejada, a idade materna quando da
concepção foi aos 29 anos, o parto foi cesariana programada e com anestesia raquiana. Em
relação ao parto foi rápido, não houve complicações.
• Quanto ao desenvolvimento: referente ao sono dormia muito durante o dia e acordava duas
ou três vezes por noite, queixava de cólicas noturnas e agitadas durante o sono, quando
perguntado a mãe sobre o dormir em quarto separado, a mesma referiu que a criança dormiu
até os 09 anos com os pais e que frequentemente ainda ocorre, e atualmente a mãe a faz
dormir, relatando que a criança não consegue dormir sem a presença da mesma.
• Quanto à visão: passou a usar óculos recentemente.

• Quanto ao desenvolvimento oral: relata que costuma ser tímida em ambientes fora do
contexto familiar, porém comunicativa em casa.

• Desenvolvimento sócio afetivo: relatou que é bastante afetiva, porém tem dificuldades de
amigos na escola. Ambiente social e familiar, relação forte de apego com a mãe, pois não
dorme sozinha, pai trabalha vários dias fora, mas possui boa relação e também com os
irmãos.
• Quanto à alimentação, amamentou até os 05 anos, boa sucção e deglutição. Atualmente
ainda faz uso da mamadeira, alimentação pastosa até os 06 meses, alimentação sólida a partir
de um ano, começou alimentar sozinha a partir de um ano de idade e atualmente considera
uma boa alimentação, “come de tudo”. A mãe considerou as condições gerais de saúde da
criança como normal, sem agravos.
• Desenvolvimento escolar: de início houve dificuldades de adaptação à escola,
reclama para fazer as tarefas de casa maior parte das vezes, queixa para se levantar
de manhã para ir à escola, reclamou da última professora dizendo não gostar dela. A
mãe acredita que por ela ser aluna repetente (reprovou no 3º ano) e ligeiramente
forte (acima do peso) para idade, aparenta maior que os outros coleguinhas e, isso
poderia deixá-la desconfortável no ambiente escolar.
PROGNÓSTICO
• A criança durante o acompanhamento psicológico apresentou mudanças significativa
em relação ao comportamento social, o que favoreceu para modificar o seu
rendimento escolar. Portanto, referente às queixas de dificuldades de aprendizagem
percebeu-se a necessidade de um acompanhamento psicopedagogo para trabalhar
especificamente as questões escolares. Assim, a Avaliação Psicológica clarificou a
demanda e norteando uma melhor solução para o caso.
• Já, na entrevista devolutiva foi abordado assuntos relativamente aos excessos de
cuidados da mãe em relação à criança e responsabilizando-a na participação ativa na
rotina da criança, pois, isso implica significativamente na mudança e melhora das
habilidades sociais, melhorando assim a timidez e modelando um comportamento
mais adaptativo. No que diz respeito às dificuldades escolares apresentadas
principalmente na leitura e raciocínio lógico, foi ressaltado para a mãe, a
necessidade da intervenção de um especialista na área, ou seja, um psicopedagogo.

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