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04/03/2013
Por Rodolfo A. M. Ambiel
Disponível em: http://www.ibapnet.org.br/?
cd=71&titulo=a_necessidade_da_avaliacao_psicologica_de_criancas
São muitas. Por exemplo, a criança não é responsável por si mesma, o que torna necessário o
contato com seus pais ou responsáveis legais e pode gerar ansiedade sobre o que o psicólogo
irá contar para eles. Outra especificidade é que ela pode estar em diferentes etapas do
desenvolvimento, cognitivo, emocional, motor, o que devemos levar em consideração quando
nos comunicamos com ela e quando escolhemos técnicas para avaliá-la. A leitura, por
exemplo, pode ser um requisito para a aplicação de testes de autorrelato. Outro aspecto,
ainda, é a necessidade de materiais e estrutura física específicos. São necessários uma caixa de
brinquedos, com jogos, uma família de bonecos, material de papelaria, entre outros. Também
são necessários testes específicos para diferentes fases do desenvolvimento e um ambiente
que permita que a criança se expresse na linguagem dela e ao mesmo tempo seja de fácil
limpeza, por exemplo. Há outras especificidades que estão associadas ao próprio motivo da
avaliação. Por exemplo, casos de abuso sexual em que a avaliação da criança é permeada
tanto pela necessidade de obter informações (tanto para o diagnóstico quanto para
providências legais) quanto pela necessidade de preservar a intimidade e a integridade física e
psicológica da criança, isto é, de não “revitimizá-la” com perguntas contundentes e invasivas.
Mesmo que não seja em casos tão graves, os pais ou responsáveis sempre têm a ver com os
sintomas e podem se situar em qualquer ponto entre a abertura à colaboração ou resistência
extrema. Por tudo isso, pode-se perceber que a avaliação psicológica infantil tem
características bastante próprias em todos os sentidos.
Ainda são muito poucos para as necessidades e os estudos de validade geralmente são
realizados com populações específicas. São necessários, por exemplo, mais escalas de
desenvolvimento com estudos psicométricos, testes neuropsicológicos, cognitivos (para
avaliação de outras funções além da inteligência), testes de personalidade, entre outros
construtos. Além disso, há necessidade de estudos psicométricos e de padronização para as
diferentes regiões brasileiras, cuja diversidade cultural é imensa. Nesse sentido, WISC III, por
exemplo, foi validado com crianças da cidade de Pelotas-RS. Ótimo que tenha sido, de alguma
forma, validado no Brasil. Os autores dos estudos brasileiros e a editora proporcionaram um
grande avanço em relação à edição anterior. Mas, como utilizá-lo em outras regiões,
especialmente norte e nordeste, com escalas verbais que sabidamente têm grande influência
cultural? Além disso, é preciso, por exemplo, desenvolver testes que envolvam
heteroavaliação, isto é, além da obtenção de respostas por parte da própria criança, os
instrumentos também podem colher informações por parte de pessoas que convivem com ela,
como pais e professores, por exemplo. Enfim, é preciso reconhecer que muito se avançou na
área da testagem psicológica, mas também que muito ainda há por fazer.
Bem, as técnicas principais, além da testagem, são observações e entrevistas. Com crianças, é
imprescindível a realização de entrevista com um adulto responsável por ela, ou que possa
fornecer informações sobre a criança. Há muitas técnicas de entrevista, que devem ser
escolhidas de acordo com a necessidade de cada caso. Uma das mais comuns é a anamnese,
que tem por objetivo fazer um levantamento detalhado da história da criança. Essa história
começa mesmo antes da criança nascer, com informações sobre sua concepção, gravidez e
parto, por isso, é comumente realizada com os pais, responsáveis, ou com quem possa
fornecer essas informações. Mas além das entrevistas, muitas vezes são empregadas
observações naturalísticas. Por exemplo, no contexto clínico tradicional há a “hora do jogo
diagnóstica”, que consiste em observar (ainda que essa observação possa ser participativa) a
criança em atividades lúdicas. Por isso, são oferecidos brinquedos e materiais de interesse da
criança (como papéis, lápis de cor, etc.) para que ela escolha e desenvolva uma atividade, com
ou sem a participação do psicólogo. Em outros casos, essa observação pode ser realizada no
próprio ambiente da criança, como a escola, instituições, em casa. De qualquer forma, a
observação situacional pode trazer boas informações sobre o funcionamento psicológico da
criança. Além disso, é sempre bom lembrar que pode ser necessária a avaliação de aspectos
não-psicológicos e que, portanto, devem ser realizadas por outros profissionais, como
médicos, fonoaudiólogos, entre outros, com os quais o psicólogo deve estar em contato,
preferencialmente para a realização de um trabalho em conjunto.
São muitos e variados. Na verdade, esses construtos não diferem muito dos adultos, embora
alguns possibilitem diagnósticos predominantemente na infância, como dislexia, déficit de
atenção e hiperatividade, que têm um grande impacto no desempenho escolar. Mas,
dependendo da queixa, pode ser necessário avaliar alguns entre uma variedade muito grande
de construtos. Podem ser processos psicológicos mais básicos como atenção, memória e
diversos tipos de raciocínio; ou quadros mais complexos, como dislexia, transtorno do déficit
de atenção com ou sem hiperatividade, entre outros. Podem ser construtos mais relacionais,
como habilidades sociais, apego, estilos parentais, bullying; construtos relacionados ao humor
(como a depressão), características de personalidade (como a dependência, o antissocial,
entre outros), etc. Além disso, por vezes, é necessário avaliar o contexto mais social em que a
criança vive, condições de negligência parental. Acho que não é possível especificar o que é
avaliado, pois isso varia em função do caso. O psicólogo deve estar capacitado para identificar
um conjunto de variáveis (construtos), cuja avaliação é relevante para cada caso.
São vários desafios, há muito que se fazer. Como disse anteriormente, os instrumentos
disponíveis atualmente para utilização ainda são muito escassos e os que existem são
deficitários em termos de validade e padronização. Então, é preciso validar instrumentos para
uma variedade de construtos bem mais ampla do que a existente atualmente, é necessário
validar instrumentos já existentes ou novos para contextos diferentes, como para crianças com
necessidades especiais, por exemplo. É necessário desenvolver instrumentos de avaliação
mediados pelo computador, que são altamente atrativos para as crianças e incluem
possibilidades mais vantajosas em relação ao formato lápis-papel. Algumas dessas vantagens é
a possibilidade de trabalhar com movimento, contagens de tempo automatizadas (mais
precisas) e também com um cenário visual mais atrativo para o público infantil. Também há
necessidade de padronizar instrumentos para as diferentes realidades sociais, econômicas e
culturais encontradas nas diferentes regiões do país. A região norte, por exemplo, ainda é
muito negligenciada quando se padroniza um instrumento.
8. Uma de suas linhas de pesquisa referem-se à avaliação da emoção de crianças. O Dr. poderia
contar um pouco esses estudos? Em que sentido eles podem auxiliar na prática da avaliação
clínica infantil?