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Capítulo VII - Interlocuções entre a clínica e a escola no psicodiagnóstico

interventivo

O psicodiagnóstico interventivo tem como propósito compreender a criança


em seu contexto, e nele está inserido a escola.
É comum a manifestação e o desejo dos pais que os filhos tenham condição
de obter um grau de escolaridade maior que o deles, e é aí que a escola contribui
como possibilidade de mudanças e oportunidades, pois nela, a criança faz
conquistas, amizades, adquire autonomia e se exercita para ser um futuro adulto e
cidadão.
Independente da queixa trazida pelos pais, é comum no processo de
psicodiagnóstico visitar a escola, principalmente se a queixa for relacionada ao
ensino-aprendizagem da criança, sendo importante também para unir o psicólogo
clínico a escola e naturalizar sua atuação, reduzindo os riscos de que toda
problemática infantil está ligada apenas a questões intrapsíquicas, atribuindo
somente a criança por suas dificuldades.
Para ser possível a visita escolar, devemos nos atentar a alguns detalhes,
devendo ser agendada após o primeiro encontro com a criança, e tanto ela quanto
os pais e a escola, além de concordarem, devem ser comunicados quais os seus
objetivos.
Avoglia (2006) propõe que na visita escolar sejam observados aspectos
como: o espaço físico, a higiene do ambiente, a disposição dos espaços como
dentro e fora da sala de aula, a qualidade da alimentação oferecida pela escola,
dentre outros.
Toda informação relacionada à escola contribui para o psicodiagnóstico e o
possível entendimento da queixa.
Souza (2007) costuma iniciar seu contato com a escola solicitando um
relatório e este se constituirá como ponto de partida para a visita escolar
programando a visita guiada por uma professora e um responsável como
coordenador ou diretor e sinaliza que o processo de aprendizagem de uma criança é
da responsabilidade não somente da professora que está com ela dia a dia, mas
também de toda a escola e seu corpo docente.
Durante a visita, devemos tomar alguns cuidados, sendo um deles que a
criança não fique exposta, percebendo que está sendo observada, evitando que seja
taxada como problemática.
É primordial que o psicólogo entreviste a professora, compreenda sua
didática e perceba seus pontos de vista em relação ao aluno, seu comportamento
em sala e seu relacionamento com os demais colegas, e também questionar o quão
envolvidos com a escola são seus pais, de que forma acompanham o
desenvolvimento escolar da criança e se possuem comprometimento com as
reuniões e atividades que a escola propõe para família, como eventos festivos por
exemplo.
O psicólogo também deve ouvir a queixa por parte da escola. As diversas
interpretações a respeito da criança compõem um prisma onde existem
concordâncias, divergências, zonas de harmonia e conflito, que permitirão evoluir na
compreensão da situação trazida pelos pais e fazer futuras intervenções.
Na devolutiva para os pais é importante expressar qual o devido papel da
escola e em qual etapa do processo de aprendizagem a criança se encontra.
Uma forma de perceber qual é a relação aluno-escola é verificando o
caderno, pois nele consta todo conteúdo ministrado em sala, bem como as
atividades realizadas, fornecendo pistas do processo de aprendizagem. Outro
aspecto importante a ser verificado nos cadernos escolares é como a criança
expressa o grau de desenvolvimento das funções executivas (Luria, 1981): lógica,
estratégia, planejamento, resolução de problemas, raciocínio hipotético-dedutivo,
organização, manejo do tempo, memória de trabalho, atenção sustentada e inibição
de impulsos, sendo o exame dos cadernos devendo ser contextualizados no
ambiente em que foi produzido a situação global da criança. A análise dos cadernos
traduzem a maneira da criança ser no mundo.
No processo de psicodiagnóstico interventivo, analisar o material escolar e
visitar a escola pode colaborar na mediação de situações de conflito familiar ou
escolar, ajudando na descoberta de novas estratégias para lidar com as situações
que surgirem.
Muitos pais procuram atendimento psicológico se queixando que o filho não
lê, não escreve, ou escreve e não lê, ou só copia e não desenvolve.
A investigação inicial pode ser realizada por meio de jogos educativos
diversos, que utilizam palavras, sílabas, letras, partindo daí podemos verificar qual o
grau de conhecimento e aprendizagem a criança se encontra. Num segundo
momento realizamos uma avaliação formal com o objetivo de verificar em que fase
de aquisição da escrita e leitura a criança se encontra, tomando por referência os
níveis identificados por Emília Ferreiro (1999), sendo eles: nível pré-silábico,
silábico, silábico-alfabético, alfabético e ortográfico. Nas crianças alfabetizadas é
possível o uso de testes psicopedagógicos específicos.
Ao final do processo, elaboramos um relatório incluindo todas as orientações
e recomendações para os pais e professores sempre no sentido de favorecer a
aprendizagem. E, na devolutiva com a escola, cabe ao psicólogo estabelecer um
diálogo com o professor, buscando estratégias de ensino que se mostrem
adequadas para a criança em questão.
O psicodiagnóstico interventivo permite aos envolvidos uma abertura, onde
podem ser compartilhadas percepções, sentimentos e sensações, que possam
possibilitar e entender a vivência da criança relacionada às questões escolares,
integrando as percepções de todos os envolvidos no processo, implementando
intervenções e construindo novas formas de atuação para o psicólogo.

REFERÊNCIA

ANCONA-LOPEZ, S. Psicodiagnóstico Interventivo: evolução de uma prática. São


Paulo, Cortez, 2013.

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