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Aprendizagem

Prof.º Vitor Hugo Loureiro Bruno Costa


Prof.ª Patricia Rossi Carraro

Descrição

A construção epistemológica do conceito de aprendizagem, desde as escolas inatistas e empiristas até as


cognitivistas, com destaque às teorias construtivista e socioconstrutivista devido à importância de ambas
na Educação e Psicologia da Educação.

Propósito

A compreensão da complexidade e da natureza da aprendizagem a partir da revolução cognitiva permite


adequar o entendimento, o diagnóstico e a pesquisa desse construto por parte do psicólogo, educador e de
outros profissionais que lidam com o processo de ensino aprendizagem e todas as suas derivações.

Objetivos
Módulo 1

Os princípios epistemológicos
Analisar os princípios epistemológicos mais discutidos no estudo da aprendizagem.

Módulo 2

As teorias interacionistas da aprendizagem


Identificar as principais teorias interacionistas da aprendizagem.

meeting_room
Introdução
A capacidade de aprendizagem do ser humano é incrivelmente diferenciada das demais espécies. Nossa
história filogenética não nos contemplou com a musculatura mais robusta e flexível, nem nos conferiu asas
ou nadadeiras. No entanto, temos um sistema nervoso sofisticado e plástico que nos permite elaborar
símbolos, pensar de maneira abstrata, manipular informações que não precisam estar diante de nós.
Também somos capazes de construir feitos complexos e que permitem que nos adaptemos a praticamente
qualquer meio, como arte, cultura, economia e política. Mesmo que nossa capacidade mental seja enorme,
nosso desenvolvimento seria muito prejudicado se não tivéssemos a capacidade de aprendizado.

Aprender significa não apenas ampliar nossas possibilidades de sobrevivência no meio, mas também
compartilhar nossos conhecimentos e descobertas com outras pessoas, de dentro ou fora da nossa
comunidade e por diversas gerações. Diante de toda essa complexidade, o tema da aprendizagem humana
é um assunto importante e que movimenta muitos debates entre pensadores desde a Antiguidade até os
tempos atuais.
Iremos, a partir do presente conteúdo, entender as diferentes abordagens teóricas que tentam compreender
a natureza da aprendizagem humana.

1 - Os princípios epistemológicos
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar os princípios epistemológicos mais
discutidos no estudo da aprendizagem.

Ligando os pontos
Você sabe o que é aprendizagem e os fatores envolvidos nesse processo? Saberia orientar os educadores
no contexto escolar? Para entendermos esse conceito na prática, vamos analisar o caso de uma professora
do ensino fundamental.

A professora Vera leciona na turma do 3º ano, do Ensino Fundamental I, na rede particular de ensino de uma
cidade do interior de Minas Gerais. Ela procurou pela psicopedagoga da escola porque estava preocupada
com o desempenho escolar e com o comportamento da aluna Samantha.
Vera comentou que a aluna, de nove anos de idade, era muito tímida, retraída e apresentava algumas
dificuldades para ler e escrever. Na opinião da professora, a garota era pouco inteligente e, como já lecionou
para a mãe dela, acreditava que tinha "puxado" essa característica da mãe, que, na época em que estudava,
possuía sérios problemas de aprendizagem.

Thaís, a psicopedagoga da escola, combinou com a professora que iria observar o comportamento da aluna
em sala de aula e no intervalo com as outras crianças. Além disso, gostaria de olhar os cadernos, as
atividades e também as avaliações que ela já tinha realizado. Posteriormente, chamaria os pais para
conversar e, caso fosse necessário, encaminharia a aluna para uma avaliação com um neurologista e um
psicólogo.

A psicopedagoga também explicou para a professora que a inteligência e a personalidade são influenciadas
por fatores hereditários e ambientais. Eles interagem e influenciam o desenvolvimento. Além disso,
comentou que a maneira pela qual percebemos o mundo, as nossas emoções e as nossas ações resultam
do contexto social que vivenciamos e de todos os aspectos culturais que herdamos.

Essas percepções não resultam somente do ambiente, mas também das características internas da pessoa,
e de seu funcionamento psicológico. Nesse sentido, é correto afirmar que aprender tem uma ligação forte
com os aspectos internos e externos do ser humano.

Após a leitura do caso, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos?

Questão 1

Como você viu no caso, as características inatas herdadas dos pais biológicos ocupam um papel
importante no desenvolvimento da criança. Pensando nesse assunto, de que forma a pessoa
responsável pelo atendimento psicopedagógico pode favorecer o desenvolvimento e o processo de
interação entre os fatores hereditários e ambientais da criança?

Pode intervir no ambiente familiar em que a criança cresce, por meio de técnicas de
A
orientação e psicoterapia direcionadas à família.

Pode apenas contribuir para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem,


B almejando a estimulação das características biológicas herdadas para alcançar o nível
máximo de desenvolvimento.

Pode contribuir com a busca de meios e técnicas socioeducativas que permitam um


C
desenvolvimento favorável e melhorias no processo de ensino-aprendizagem.
Pode orientar em relação aos fatores biológicos que precisam ser tratados, como
D
doenças de ordem física, transtornos e problemas psicossociais.

Pode intervir na assistência parental, nos estímulos motores e na boa alimentação da


E
criança.

Parabéns! A alternativa B está correta.


Ao pensar no desenvolvimento de uma criança, a pessoa responsável pelo atendimento psicopedagógico
deve considerar a combinação da hereditariedade e da experiência de um indivíduo. Assim, por exemplo,
embora a inteligência e o fato de a pessoa ser introvertida ou extrovertida são em parte herdados; a
educação recebida, a influência dos pais, professores, amigos e vizinhos afetará o desenvolvimento da
criança.

Na educação escolar, o psicopedagogo pode orientar os professores quanto a estratégias e metodologias


que possibilitem melhor desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, que potencialize suas
características hereditárias.

Questão 2

Como você notou, a psicopedagoga da escola explicou à professora que fatores internos e externos
impactam na aprendizagem do indivíduo. Pensando nesse assunto, de que forma a psicopedagoga
poderia orientar para uma aprendizagem mais interessante e motivadora?

Sugerir aos professores a realização de cópias, ditados e análise de casos concretos


A
com seus alunos.

Orientar os professores a elaborarem exercícios que contribuam para a memorização e


B
reprodução de informações.

Solicitar que os professores usem metodologias ativas em suas aulas e avaliem seus
C
alunos apenas com testes e provas padronizadas.
Orientar o uso de jogos de regras e brincadeiras para facilitar o processo ensino-
D
aprendizagem.

Orientar o professor a realizar mais aulas expositivas e exercícios para serem feitos em
E
casa.

Parabéns! A alternativa D está correta.


Os jogos, principalmente os de regras, possibilitam o desenvolvimento cognitivo e psicossocial das
crianças. Jogar auxilia na criatividade, desperta o interesse e a fantasia das crianças. Além disso, favorece
a socialização e a compreensão dos limites. Brincar não é somente uma atividade que oferece diversão,
alegria e satisfação, mas também é um fator essencial para a aprendizagem.

É importante lembrarmos de que a utilização de diferentes recursos lúdicos auxilia na formação integral
das crianças. Na era da tecnologia, os educadores não podem esquecer que os brinquedos, por exemplo
os de construção, e as brincadeiras tradicionais são de extrema relevância para o desenvolvimento
cognitivo, social, afetivo e motor das crianças.

Questão 3

A escola é uma das principais instituições de inserção social e desenvolvimento na vida de uma pessoa. Na
escola, professores e alunos realizam diversas atividades educativas formais e não formais que visam ao
pleno desenvolvimento das dimensões físicas, cognitivas e psicossociais. Com base em sua experiência e a
partir do caso apresentado, por que as crianças necessitam interagir com os adultos e com outras crianças
mais experientes? Se você fosse a pessoa responsável pelo atendimento psicopedagógico institucional,
quais orientações daria aos professores para favorecer a aprendizagem das crianças?

Digite sua resposta aqui

Exibir soluçãoexpand_more
A criança vai aprender ao interagir com adultos e outras crianças mais experientes. Sabemos que as
várias interações que a criança terá desde o nascimento ampliarão de maneira gradual as formas de
ela se relacionar com o mundo. Além disso, construirão sentidos para suas ações e experiências. Os
processos cognitivos são construídos de maneira ativa na interação com outras pessoas. O adulto ou
outra criança mais experiente vai auxiliar e mostrar como deve ser o comportamento da criança e a
comunicação em situações interativas.

O papel do professor é primordial nesse processo. Ele deve estruturar condições para que aconteçam
interações entre professor, aluno e materiais de estudo para a obtenção do conhecimento. Por meio
dessas interações, é possível adquirir o saber e o processo histórico-cultural acumulados. Apesar de
sabermos que o indivíduo não aprende somente na escola, ela é responsável pela educação
sistemática do ser humano.

Principais teorias da aprendizagem


Já parou para pensar quantas coisas fazemos naturalmente no nosso cotidiano? Atividades simples e
básicas como caminhar, segurar um objeto e levar líquido ou alimentos à boca são exemplos de ações que
executamos desde a mais tenra idade.

Aprendemos desde muito cedo a desempenhar a mais ampla gama de comportamentos.

Há também conhecimentos que adquirimos de maneira mais organizada e estruturada e que demandam
interações com outras pessoas, por exemplo com nossos familiares e professores. Tais conhecimentos são
importantes não apenas para o desenvolvimento individual de cada um de nós, mas também para o nosso
desenvolvimento social e cultural.

Evidentemente, a aprendizagem não é uma habilidade exclusiva dos seres humanos, podendo ser observada
em outros animais. Por exemplo, polvos podem aprender a se locomover em um labirinto, utilizando
características espaciais para reconhecer se passaram por determinado trecho anteriormente.
Elefantes são animais muito inteligentes, capazes de armazenar informações por muitos anos e de
aprenderem novos e complexos comportamentos, como pintar. Pintam tão bem quanto uma criança, mas
não são capazes de emitirem esse comportamento por vontade própria ou de produzirem algo realmente
inovador e criativo, independentemente da idade.

No entanto, o ser humano apresenta uma capacidade maior e mais complexa de discriminar sequências
ordenadas de estímulos e solucionar problemas abstratos. Os conhecimentos desenvolvidos pelos
indivíduos humanos permitem que a sua comunidade, e até mesmo outras, possam obter benefícios para si
e para gerações futuras.

A escrita, astronomia, arquitetura, culinária, agricultura são apenas alguns exemplos de ferramentas
complexas e responsáveis pela facilitação da adaptação do homem ao ambiente e que só se tornam viáveis
pela capacidade humana de aprendizagem. Pense como seria o mundo e a vida humana se fosse preciso
redescobrir ou reinventar a maioria das tecnologias que as pessoas utilizam cotidianamente, geração após
geração. É bem provável que a adaptação ao ambiente seria muito mais restrita e desafiadora. A
aprendizagem é um importante processo que permite o desenvolvimento ontogenético e filogenético do ser
humano.

Compreender a natureza da aprendizagem não é simples e tem instigado diversos pensadores ao longo de
toda a história na busca pela definição desse construto. Historicamente, há teorias que defendem que a
aprendizagem é fruto de influências externas, outras defendem que questões internas direcionam o
desenvolvimento do indivíduo.

esenvolvimento ontogenético e filogenético


A filogênese, ou o desenvolvimento filogenético, representa toda a evolução de determinada espécie. Já a
ontogênese representa todas as transformações que um indivíduo experiencia desde a sua concepção até
chegar à vida adulta.

Ainda segundo algumas teorias, é a interação entre o indivíduo e o meio social que possibilita a aquisição de
novos conhecimentos. Independentemente da escola, muitos autores concordam que a aprendizagem tem
um papel crucial na sobrevivência e na adaptação do organismo ao meio, proporcionando a aquisição
duradoura de comportamentos e cognições.

O objetivo deste estudo não é trazer uma única definição sobre aprendizagem, uma vez que essa seria uma
proposta um tanto limitante para um construto tão complexo e importante. Além de apresentar algumas das
teorias que explicam por diferentes vieses como ocorre a aprendizagem dos seres humanos, deseja-se que
o aluno leitor seja capaz de debater acerca das seguintes questões:

Como a aprendizagem acontece?


Qual é a função da aprendizagem?

Concepções da aprendizagem: empirista, racionalista ou


inatista e interacionista
O estudo da aprendizagem na Psicologia busca compreender como ocorre a aquisição do conhecimento
pelo ser humano e, para tal, é necessário recorrer a autores e referenciais teóricos que contribuam com uma
importante diversidade de conceitos. Existem basicamente três concepções teóricas sobre o processo de
aprendizagem: algumas teorias direcionam seu foco de análise a aspectos internos, outras a aspectos
externos, e há aquelas que compreendem a origem do conhecimento graças à interação direta do sujeito
com o ambiente.

Inicialmente, é importante discutir duas escolas antagônicas que protagonizaram importantes discussões
sobre o desenvolvimento do conhecimento humano e ainda hoje influenciam pensadores: o empirismo e o
racionalismo ou inatismo. Essas duas vertentes o ajudarão a compreender grande parte das concepções
teóricas atuais acerca da aprendizagem. Vamos entendê-las melhor a seguir:

Empirismo expand_more

O empirismo, que no século XVII teve como principal teórico o filósofo John Locke (1632-1704), é
fundamentado na ideia de que o homem aprende a partir das experiências que vivencia desde o
nascimento até a morte por intermédio de seu sistema sensorial. Essa concepção pode ser melhor
compreendida pela alusão à “tábula rasa”, na qual o homem nasceria completamente vazio de
saberes e, a partir da interação com o meio, iria pouco a pouco “preenchendo-se” de experiências.
Portanto, o processo de aquisição do conhecimento se daria a posteriori, dependendo apenas das
experiências sensoriais. Como poderíamos conceber o mundo sem visão, tato, olfato, paladar e
audição?

Autores empiristas dos séculos XVI e XVII, como Jonh Locke, Francis Bacon (1561-1626), David
Hume (1711-1776) e Thomas Hobbes (1588-1679), preconizaram o que conhecemos como
empirismo moderno. Eles defendiam a ideia de que as percepções sensoriais que acumulamos
sobre o mundo formam os nossos conhecimentos e a aprendizagem se daria pelas experiências
com o meio. Deveria ser o papel da educação, portanto, conduzir as pessoas às experiências “mais
adequadas”, buscando um objetivo único e correto?

A tese empirista é de que o ser humano não tem uma fonte de conhecimento em si que não a
experiência dos sentidos (MARKIE, 2004).

John Locke (1632-1704)

Racionalismo ou inatismo expand_more

Na contramão dessa escola, encontra-se o racionalismo ou inatismo, o qual afirma que a fonte de
todo o conhecimento humano é a razão e que as experiências sensoriais não são suficientes para
desenvolver a capacidade cognitiva de um indivíduo. Pelo contrário, para os racionalistas, o saber
construído pela experiência é falho e pode conduzir a pessoa a conclusões erradas. Tal corrente de
pensamento defende que o ser humano já nasce com as características necessárias para defini-lo e
que o conhecimento se dá por relações de dedução e indução. Isso significa dizer que temos
naturalmente a capacidade de, partindo de premissas amplas e verdadeiras, obtermos uma
conclusão particular (dedução) e de detectar no ambiente premissas específicas para chegar a
conclusões amplas (indução).

O racionalismo moderno contou com pensadores como René Descartes (1596-1650), Baruch
Espinoza (1632-1677) e Gottfried Leibniz (1646-1716). Esses autores defendiam que o conhecimento
se dava a priori, portanto, mesmo considerando que informações sensoriais cheguem o tempo todo
ao organismo, somente por meio do raciocínio formal e complexo poderemos conceber novos
conhecimentos acerca do mundo. No contexto da aprendizagem, seguindo essa visão, podemos nos
perguntar: O educador deve simplesmente permitir que o aluno busque alcançar as respostas às
suas perguntas, pela reflexão e pelo raciocínio lógico? Algumas proposições em uma área específica
conhecemos apenas pela nossa intuição; outras são cognoscíveis por serem deduzidas de
proposições intuídas (MARKIE, 2004).

René Descartes (1596-1650)

Os estudos epistemológicos sobre a aprendizagem humana foram marcados por uma nova concepção
teórica chamada de interacionismo. Os dois autores mais proeminentes dessa concepção teórica foram
Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934), os quais, embora nunca tenham se encontrado,
chegaram a conclusões muito compatíveis e que se afastam das escolas epistemológicas mais tradicionais
até então.
O interacionismo é a concepção teórica que defende que o conhecimento é fruto da interação entre o
indivíduo e o ambiente que o cerca. Desse modo, o homem não nasce com conhecimento inato, tampouco
irá desenvolvê-lo por meio das experiências sensoriais apreendidas no ambiente, e sim a partir da interação
entre os dois.

Nessa concepção, o ser humano não é entendido como detentor natural do conhecimento nem como uma
“tábula rasa” que será preenchida ao longo do contato com as experiências.

Para a teoria de Piaget, chamada de construtivismo, é possível afirmar que o ser humano nasce com certas
capacidades cognitivas, no entanto elas se desenvolvem por interação com o meio. À medida que uma
criança se depara com um problema novo, isso gera um desequilíbrio que somente será reajustado após a
solução deste. Para Piaget, a aprendizagem se daria por meio de assimilações e acomodações, ou seja, ao
se deparar com um novo estímulo, a mente deveria se reestruturar para assimilá-lo como um novo
conhecimento. Portanto, o construtivismo compreende a aprendizagem como uma relação ativa do
organismo com o ambiente, em que, diante de novos desafios, esquemas cognitivos são desenvolvidos para
assimilar novos conhecimentos.

Segundo a proposta da teoria histórico-cultural, formulada por Vygotsky, a aquisição do conhecimento só


seria possível em meio à interação social dos indivíduos. Assim como Piaget, Vygotsky também acreditava
na ideia de que não seria possível um desenvolvimento puramente inato ou por consequências sensoriais.

O autor desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento proximal, compreendido como a distância entre
o nível potencial de desenvolvimento e o nível de desenvolvimento real. Esse conceito defende que em todo
indivíduo há um potencial de aprendizagem e que a interação com outros indivíduos facilitaria a aquisição
de conhecimento.

Visto a importância dos dois autores e a complexidade de suas teorias para o entendimento da
aprendizagem humana, veremos com mais profundidade cada uma delas no módulo 2.

Algumas perspectivas teóricas sobre a aprendizagem


As abordagens psicológicas apresentam maneiras diferentes de interpretar a subjetividade humana e o
modo como adquirimos novas informações e novos comportamentos. A seguir, serão apresentadas
algumas teorias que tiveram bastante proeminência na compreensão do processo de aprendizagem ao
longo do século XX.

Behaviorismo ou comportamentalismo
O behaviorismo é a abordagem da Psicologia que se utiliza de premissas e métodos de outras ciências
naturais para entender os princípios gerais do comportamento animal. Surgiu nos Estados Unidos no início
do século XX e teve John Watson (1878-1958) como fundador, dando origem a um período reconhecido
como behaviorismo metodológico. Anos depois, outro importante autor, chamado Burrhus F. Skinner (1904-
1990), aprimorou a análise do comportamento contribuindo para a compreensão de comportamentos
complexos, período reconhecido como behaviorismo radical.

Atenção!
É importante salientar que o entendimento dos behavioristas sobre a aprendizagem humana era pautado no
associacionismo, isto é, descendia da concepção empirista de que a atividade mental. Portanto, para essa
abordagem, a aquisição do conhecimento é desenvolvida pela associação de informações oriundas das
experiências sensoriais do ambiente.

O behaviorismo metodológico de Watson reavalia os fundamentos mentalistas e defende que a Psicologia


seja considerada uma ciência natural, cujo objeto de estudo seja o comportamento. Isso quer dizer que o
behaviorismo metodológico passa a desconsiderar as reflexões acerca da natureza dos processos internos
para analisar como os comportamentos se originam e se mantêm.

Watson aprofundou seus estudos sobre o comportamento a partir das descobertas realizadas pelo
fisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936). Inicialmente, Pavlov estudava o papel de certas enzimas no
processo de digestão de cachorros. Ele inseria tubos esterilizados nas glândulas salivares de cães, que
salivavam sempre quando lhes era apresentado algum alimento. Pavlov chamou isso de reflexo. No entanto,
após algum tempo, percebeu que as ampolas coletoras tinham seus níveis de saliva aumentados antes
mesmo da apresentação do alimento, bastando que os animais ouvissem os passos do pesquisador ou que
a luz do laboratório fosse acesa. Pavlov percebeu, então, que novos reflexos podem ser aprendidos caso
sejam associados a reflexos naturais.

Para Watson, debruçado nos estudos pavlovianos acerca dos comportamentos reflexos, todo animal,
incluindo os seres humanos, nasce com um repertório de comportamentos simples oriundos da história
evolutiva de sua espécie. Esses comportamentos simples são fundamentais para a sobrevivência e
adaptação desse organismo no ambiente. Assim, uma alteração no ambiente, a qual chamamos de
estímulo, elicia um comportamento no organismo, chamado de resposta. Além disso, a partir desses
reflexos inatos, todo animal seria passível de aprender novos comportamentos, inclusive respostas
emocionais.

Resumindo
O behaviorismo metodológico, portanto, defende que o processo de desenvolvimento de novos
comportamentos, aqui chamada de condicionamento respondente, seria a chave para se entender a
aprendizagem humana.

A série de imagens abaixo explica o processo envolvido no desenvolvimento de um novo comportamento


por meio de condicionamento respondente.

Aumentar a salivação ao visualizar a logo de uma lanchonete, estocar alimentos em casa diante da ameaça
de uma catástrofe, recusar-se a entrar em um automóvel após sobreviver a um acidente grave envolvendo
carros, esses e muitos outros exemplos podem ser explicados pela teoria do comportamento respondente,
já que podem ser derivados de associações entre situações e reflexos. No entanto, apenas pelo viés do
condicionamento respondente é difícil de se explicar comportamentos mais complexos, como pintar uma
obra de arte, falar uma ou mais línguas ou mesmo pensar. Para sanar essa brecha, Skinner propôs a teoria
do reforço e o condicionamento operante.

Skinner protagonizou o behaviorismo radical, o qual defende que a mente, tal como
uma série de processos internos, não existe senão pela associação de
comportamentos. Em outras palavras, todos os eventos do organismo, internos ou
externos, podem ser entendidos como comportamento.
Diferentemente do comportamento respondente, em que um estímulo (S) elicia uma resposta (R), no
paradigma operante é certo afirmar que um comportamento emitido espontaneamente (resposta) gera uma
consequência no ambiente (estímulo), e essa consequência favorecerá ou não que aquele comportamento
se repita.

Exemplo

Imagine uma pessoa bem-humorada que está em um ambiente cheio de desconhecidos e começa a fazer
comentários engraçados. Se ninguém rir de seus comentários ou não derem a mínima atenção para o que a
pessoa esteja falando, qual a chance de esse comportamento se repetir? Ao passo que se todos rirem e
acolherem a pessoa, as chances de esse comportamento se manter são bem maiores.

Para Skinner, o comportamento é influenciado em três níveis:

Nível filogenético

Diz respeito aos comportamentos oriundos de uma história de seleção natural da espécie. Por
exemplo, o choro de um bebê com fome tende a se repetir, pois tem como consequência ser
alimentado.

Nível ontogenético

Está relacionado aos comportamentos desenvolvidos pela própria relação do organismo com
o ambiente ao longo de sua história de vida. Um exemplo seria sempre dormir envolto em um
cobertor, uma vez que isso lhe traz bem-estar e a tendência de esse comportamento se repetir
é grande.
Nível cultural

Diz respeito aos comportamentos característicos de determinado grupo social e que são
ensinados aos próximos descendentes. Por exemplo, falar baixo e manter o distanciamento
social são comportamentos muito comuns e valorizados entre os japoneses.

Os comportamentos operantes seriam explicados, portanto, pelas teorias do reforço e da punição. O reforço
é toda consequência que aumenta a probabilidade de um dado comportamento ocorrer. Os reforços
operantes podem ser de dois tipos: positivo e negativo.

Reforço positivo

Ocorre quando há adição de um estímulo, resultando no aumento da frequência do comportamento.


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Reforço negativo

É caracterizado pela retirada de um estímulo aversivo, resultando no aumento da frequência do


comportamento.

Já a punição ocorre quando a consequência do comportamento emitido é a apresentação de um estímulo


que reduza a probabilidade de esse comportamento ser repetido.

A punição positiva ocorre quando um estímulo aversivo é adicionado, reduzindo a probabilidade de


repetição desse comportamento. Broncas e violência física são exemplos comuns de punição positiva que
alguns pais aplicam em seus filhos quando querem que determinados comportamentos não se repitam.
Já a punição negativa é quando se retira um estímulo reforçador do ambiente para reduzir a frequência de
um comportamento.

Aqui, um exemplo prático seria quando os pais de um adolescente retiram sua mesada até que ele pare de
se envolver em brigas.

Segundo a teoria da análise comportamental, um novo comportamento seria integrado ao histórico do


organismo a partir do conceito de modelagem. A modelagem consiste de um processo de reforçamento
diferencial de aproximações sucessivas com objetivo de se aprender um comportamento fim. A partir do
conceito de modelagem, Skinner acreditava que seria possível explicar o desenvolvimento de quaisquer
comportamentos no repertório do indivíduo.

Exemplo
Um exemplo disso seria a linguagem entendida por Skinner como comportamento verbal: antes de saber
falar, a criança pequena apenas balbucia sons que não têm sentido claro logo de início. Porém, à medida
que os adultos ao redor reforçam positivamente pequenos acertos da criança, os sons mais corretos são
aprendidos por ela e aprimorados a cada repetição até que a palavra correta seja emitida. Um possível
caminho na aprendizagem da palavra “papai” pode ser representado por: (tatá) -> (cacá) -> (cai cai cai) ->
(papá) -> (papai).

Teoria cognitiva do processamento da informação


A partir de 1950, um movimento científico e interdisciplinar combinando perspectivas de várias áreas do
conhecimento, dentre elas a Psicologia, a Linguística, a Computação e a Antropologia, foi batizado de
Revolução Cognitiva e gerou as bases do que viria a ser a Ciência Cognitiva. Os estudos nas áreas de
computação e inteligência artificial envolviam o desenvolvimento e aprimoramento de questões
relacionadas à retenção e ao processamento de informações, à resolução de problemas e decodificação de
linguagem. Para os cognitivistas, se tais construtos poderiam ser estudados cientificamente em um pedaço
de metal, por que não o fariam com seres humanos?

Saiba mais

Enquanto o behaviorismo surgiu promovendo severas críticas ao mentalismo, aos estudos sobre processos
internos da consciência e até mesmo ao conceito psicanalítico de inconsciente, os autores cognitivistas
eram ferrenhos críticos dos behavioristas.

Para as ciências cognitivas, os processos internos mentais, característicos da experiência psicológica,


seriam fruto do processamento das informações que chegam ao organismo pelos meios internos e
externos. Antes considerados imersos na metafísica e na subjetividade, os processos mentais
conquistaram espaço entre os acadêmicos graças à “metáfora computacional”, buscando encontrar as
respostas na atividade cerebral, principalmente no que diz respeito ao processo de aprendizagem e
aquisição de conhecimento.

Para as ciências cognitivas, os processos internos mentais, característicos da experiência psicológica,


seriam fruto do processamento das informações que chegam ao organismo pelos meios internos e
externos. Antes considerados imersos na metafísica e na subjetividade, os processos mentais
conquistaram espaço entre os acadêmicos graças à “metáfora computacional”, buscando encontrar as
respostas na atividade cerebral, principalmente no que diz respeito ao processo de aprendizagem e
aquisição de conhecimento.

As empresas de tecnologias já disponibilizam de inteligências artificiais (IA) hipercomplexas. Um exemplo é


a IA que consegue aprender sozinha a jogar xadrez e video game. Pode parecer pouca coisa, mas a
complexidade das funções cognitivas exigidas para isso é enorme.

A psicologia cognitiva tem por objetivo investigar o funcionamento da cognição e dos


processos cognitivos subjacentes ao comportamento.
Isso significa dizer que a psicologia cognitiva se interessa em compreender como ocorre o processamento
da informação e interpretação da realidade.

Veja o processamento da informação desde a captação das informações sensoriais via estruturas
receptoras, passando pela interpretação dessas informações nervosas pelo encéfalo e a conclusão do
processo:

Nessa abordagem, a aprendizagem se dará pela aquisição do produto final da informação processada,
levando o organismo a adquirir novos comportamentos, conhecimentos e habilidades por um período
estável e longo. Somos bombardeados por diversas informações o tempo todo, mas para aprendermos algo
novo as estruturas do sistema nervoso central e periférico necessitam atuar em conjunto para interpretar os
dados de entrada e gerar um resultado.

Todo esse processo complexo e veloz estimulará diversas vias neurais.

Sempre que estímulos iguais ou parecidos se colocarem no ambiente, tais vias serão acionadas novamente.
As vias neurais mais estimuladas e reforçadas tendem a se manter estáveis, armazenando as informações
daquela resposta por um período longo. Esse é um resumo aproximado de como ocorre a aprendizagem a
nível neural analisada pelas ciências cognitivas.

Para os cognitivistas, a aprendizagem é o processo envolvido na aquisição da informação, enquanto a


memória consiste na capacidade de armazenar informações e evocá-las no futuro. Portanto, memória
permite manter o resultado do que foi aprendido.
Uma via neural, ou seja, um conjunto de neurônios interligados na transmissão de uma informação nervosa,
é recrutada ao executarmos um comportamento ou um pensamento, por exemplo. O processo de
aprendizagem de um novo conhecimento envolve o engajamento de várias vias neurais. Quanto mais essas
vias são estimuladas, mais aprendizagem será consistente e cristalizada como memória de longo prazo.

Teoria da aprendizagem significativa

A teoria da aprendizagem significativa foi elaborada pelo psicólogo da educação estadunidense David P.
Ausubel (1918 – 2008). O estudioso era crítico ferrenho do sistema de ensino de sua época e dos métodos
empregados na educação de crianças e jovens. Dedicou sua carreira acadêmica para encontrar novas
estratégias educacionais que fossem mais qualificadas e eficientes e que deixassem de lado os abusos
físicos e psicológicos comuns nas escolas antigas. Com base nisso, não fica difícil compreender por que as
contribuições de Ausubel para o estudo da aprendizagem tiveram grande aplicação nas escolas.

Ausubel seguiu os preceitos do cognitivismo e entendia a aprendizagem como a organização e integração


da informação à estrutura cognitiva do indivíduo. Segundo o autor, para ocorrer adequadamente, a
aprendizagem deve fazer sentido para o indivíduo e envolver a interação coerente entre as informações e os
conceitos que já fazem parte da estrutura cognitiva da pessoa. Assim, aprendizagem significativa diz
respeito a conferir significado aos novos conhecimentos, assim como conferir aos conhecimentos já
existentes novos significados ou maior estabilidade cognitiva.

Imagine uma turma de alunos de graduação em Psicologia. Em determinada aula, o professor começa a
explicar um assunto novo, trazendo comparações com conceitos da física quântica. Para os alunos que já
fizeram outras graduações e que porventura já tenham estudado física quântica, talvez faça sentido e
facilite a aquisição daquele novo conhecimento. Mas para os alunos que nunca leram ou estudaram sobre
isso, essa pode se tornar a pior aula do semestre, pois tal comparação torna muito difícil ou até mesmo
impossível compreender os conceitos mais importantes da matéria.

Logo, para que ocorra a aprendizagem significativa, deve haver pontos-chave que
facilitarão que o indivíduo conecte o que já sabe com os novos conhecimentos.
Segundo Moreira (2012), a estrutura cognitiva é um sistema conceitual do indivíduo formado por
subsunçores, os quais são unidades de conhecimentos prévios que o auxiliarão no processo de aquisição
de novos conhecimentos. Essa estrutura cognitiva é formada por dois processos importantes:

Diferenciação progressiva
Confere novos significados a determinado subsunçor.

Reconciliação integradora
Tem por objetivo conferir dinamismo à estrutura cognitiva, corrigindo inconsistências e integrando
significados

Saiba mais
Uma contribuição prática de Ausubel foi o emprego dos mapas mentais para facilitação do processo de
aprendizagem em sala de aula. Apresentar graficamente a integração das informações sobre um assunto
facilita o aprendizado.

Teoria Social Cognitiva


O psicólogo canadense Albert Bandura (1925 - atual) é um dos psicólogos mais influentes do último século.
Sua teoria trouxe grandes contribuições à psicologia social e à psicologia clínica. É possível encontrar
autores que avaliam a Teoria Social Cognitiva como uma conexão entre as teorias behaviorista e
cognitivista.

Bandura não descartou completamente a teoria behaviorista de aprendizagem por modelagem e pela via
respondente. Ele parte da ideia de que o ser humano é capaz de aprender uma gama formidável de
informações a nível emocional, comportamental e cognitivo, o que não poderia ser explicado apenas pela
experiência direta como defendiam os behavioristas, mas também pela observação da experiência vivida
por outras pessoas.

Para Bandura, a capacidade de observação e interpretação dos seres humanos


facilita a aprendizagem de comportamentos simples e complexos por meio da
experiência de terceiros.

Os estudos iniciais sobre a aprendizagem social de Bandura foram conduzidos com crianças e adultos para
compreender a reprodução de comportamentos agressivos pela observação. Desse modo, crianças eram
divididas em três grupos e expostas a filmes diferentes: no primeiro filme, adultos eram reforçados após
agredirem bonecos; no segundo, os adultos eram punidos; e no terceiro, não havia consequências. Ao final
dos filmes, as crianças eram direcionadas a salas com brinquedos, e aquelas que foram expostas ao filme
em que os adultos agressores eram recompensados tendiam a emitir mais comportamentos agressivos
contra o boneco.

Ditados como “tal pai, tal filho” ou “filho de peixe, peixinho é” não foram criados por acaso. O aprendizado
por observação tem uma importância crucial para a nossa espécie. Imagina se tivéssemos de viver cada
uma das experiências de dor e sofrimento que vemos outras pessoas passando?

Diferentemente da teoria skinneriana de aprendizagem por modelagem, a teoria de aprendizagem social é


baseada no conceito de modelação. Segundo esse conceito, grande parte dos nossos comportamentos é
aprendido observando modelos.

Não se trata de pura imitação, pois o processo de modelação é ativo e importante para o repertório de
comportamentos do indivíduo. Normalmente, elegemos como modelos pessoas que estão em um patamar
de maior relevância, observando e avaliando os comportamentos que devemos repetir, pois serão úteis ou
valorizados pela comunidade. Também aprendemos quais comportamentos não devemos reforçar por
serem danosos ou pouco práticos.

Ao observarmos um modelo, o comportamento que buscamos implementar ao nosso repertório pode ser
reforçado de duas maneiras: por reforço vicário ou por reforço direto.

Reforço vicário

Ocorre quando o próprio modelo é recompensado, motivando o aprendiz a executar aquele


comportamento.
close

Reforço direto
Ocorre quando o próprio aprendiz é recompensado pela emissão do comportamento.

Ainda é possível falar de dois subprocessos referentes ao reforço direto:

Autossistema

Permite ao aprendiz avaliar a execução de seu comportamento e as consequências disso.

Autoeficácia

Corresponde à capacidade de uma pessoa se organizar e planejar suas ações para atingir
metas.

Existem quatro processos subjacentes à aprendizagem por observação (BANDURA, AZZI, & POLYDORO,
2009):

Atenção expand_more

Antes de iniciar o processo de modelação, é importante focar a atenção para o modelo a ser
observado. Há pessoas que tendem a atrair mais a atenção para si para servirem de modelo. Status
social, familiares diretos, repertório bem-sucedido de comportamentos são fatores que tendem a
atrair mais atenção.

Retenção expand_more

Todo conteúdo observado nos modelos deve ficar armazenado na memória. Para Bandura, é
importante levar em consideração as informações sensoriais, emocionais e cognitivas que obtemos
a partir da observação do modelo, pois é uma maneira de, por exemplo, refletir sobre o
comportamento antes de colocá-lo em prática.

Produção expand_more

Diz respeito ao automonitoramento da execução do novo comportamento.

Motivação expand_more

Tem por objetivo tornar a aprendizagem mais consistente.

video_library
Teorias da aprendizagem
Neste vídeo, o especialista Lincoln Poubel discursa sobre as diferentes teorias e concepções de
aprendizagem e suas implicações.

Outras teorias de aprendizagem


Veja um breve relato sobre outras teorias da aprendizagem:

Teoria biológica expand_more


As teorias biológicas, partindo de uma concepção inatista-maturacionista, projetam o
desenvolvimento humano como um processo de desdobramento, isto é, espera-se que a criança
passe por uma sequência definida de estágios de desenvolvimento em determinado período. O
ambiente até pode exercer alguma influência no seu desenvolvimento, mas a aprendizagem não se
dá de maneira direta. Logo, entende-se que esse desenvolvimento se desdobra por fatores genéticos.
Sendo assim, a aprendizagem será consequência do próprio amadurecimento biológico.

O teórico proeminente nessa abordagem foi Arnold Gesell (1880-1961) que, inclusive, estabeleceu
normas que tinham por objetivo analisar se a criança estava seguindo seu desenvolvimento dentro
de um padrão adequado. Segundo essa abordagem, haveria uma explicação genética e hereditária
para características de comportamento, desenvolvimento de habilidades matemáticas e
desenvolvimento da linguagem.

Teoria psicanalítica expand_more

As teorias da aprendizagem baseadas na Psicanálise dão enfoque à satisfação de necessidades, as


quais diferem em função do nível de desenvolvimento da criança. Esse desenvolvimento ocorre a
partir de mudanças progressivas na personalidade, à medida que a criança busca satisfazer as
necessidades daquele período. Quanto ao desenvolvimento dessa estrutura de personalidade, havia
uma diferença entre os pensamentos de Sigmund Freud (1856-1939) e Erik Erickson (1902-1994).
Enquanto Freud acreditava que a estrutura básica da personalidade do indivíduo se estabelece
durante os primeiros cinco anos de vida, Erikson defendia que o desenvolvimento é um processo que
se estende por toda a vida, postulando estágios de desenvolvimento da infância à velhice.

As teorias psicanalíticas enfatizam o papel dos fatores inatos no desenvolvimento. As necessidades


são inatas, e a maneira de solucioná-las irá afetar o desenvolvimento. O papel da aprendizagem no
desenvolvimento acaba por ser minimizado em favor da resolução de necessidades.
No próximo módulo, discutiremos mais a fundo sobre duas abordagens de grande importância para a
compreensão da aprendizagem e que receberam grande destaque no século passado: a teoria de Jean
Piaget e de Lev Vygotsky.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Analise as proposições abaixo.

I - O cognitivismo rompe com a psicologia comportamental, por considerar que a abordagem científica
adequada será do processamento da informação e como esta é codificada, interpretada e utilizada.

II - O cognitivismo demonstra os processos envolvidos na aprendizagem como resultado da construção


de esquemas de representações mentais.

III - A psicologia cognitiva é o estudo de como as pessoas percebem, aprendem, lembram-se de algo e
pensam sobre as informações.

Marque a alternativa CORRETA.

A Somente a afirmativa I é correta.

B Somente a afirmativa I é correta.

C Somente a afirmativa III é correta.


D Somente a afirmativa II é falsa.

E Somente a alternativa I é falsa.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A psicologia cognitiva entende a aprendizagem como resultado da aquisição da informação


processada. A afirmativa I está correta, pois fala sobre o rompimento do movimento cognitivista com
os analistas do comportamento, uma vez que aqueles defendem a aprendizagem como a consequência
do processamento da informação captada interna e externamente ao organismo. A afirmativa III
também está correta, pois aborda alguns dos principais objetos de estudo da psicologia cognitiva:
como decorrem os processos de pensamento, percepção e aprendizagem. Já a afirmativa II não está
correta, pois a ideia de esquemas de representações mentais foi trabalhada na teoria piagetiana.

Questão 2

(FEPESE - 2019 - Prefeitura de Xaxim - SC - Psicólogo) A aprendizagem é um processo que busca ser
explicado por diversas correntes. As teorias da aprendizagem que a definem pelas suas consequências
comportamentais e enfatizam as condições ambientais como forças propulsoras da aprendizagem são
denominadas de

A teorias do condicionamento.

B abordagens significativas.

C teorias cognitivistas.

D correntes humanistas.

E abordagens construtivistas.
Parabéns! A alternativa A está correta.

A teoria do condicionamento diz respeito ao behaviorismo, o qual entende a aprendizagem como fruto
das consequências da interação entre o indivíduo e o ambiente. A aprendizagem significativa defende
que o indivíduo aprende quando uma informação nova se relaciona substancialmente a conhecimentos
previamente organizados na sua estrutura cognitiva. As correntes humanistas focam na autorrealização
do indivíduo, valorizando os aspectos cognitivos, afetivos e motores. As teorias cognitivistas entendem
a aprendizagem como o resultado do processo de codificação da informação captada pelos órgãos
sensoriais acerca do meio externo. As abordagens construtivistas compreendem a aprendizagem como
um processo ativo de aquisição do conhecimento, portanto considera o papel das capacidades
orgânicas e socioambientais no desenvolvimento.

2 - As teorias interacionistas da aprendizagem


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as principais teorias Interacionistas da
aprendizagem.
Ligando os pontos
Você conhece os estudos de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo? Saberia orientar os
educadores no contexto escolar? Para entendermos essa proposta na prática, vamos analisar o caso de
uma psicopedagoga que trabalha numa escola cuja proposta pedagógica está fundamentada na
perspectiva teórica piagetiana.

A psicopedagoga de uma escola particular da educação básica convidou três professoras, as quais
lecionam em anos diferentes, para desenvolverem uma atividade.

As professoras Elizabeth, Letícia e Sandra teriam que apresentar dois problemas aos seus alunos. O objetivo
era verificar na prática o funcionamento intelectual da criança em determinado estágio do desenvolvimento
cognitivo proposto por Jean Piaget.

Os alunos da professora Elizabeth eram da educação infantil e tinham três anos de idade. Já os da
professora Letícia eram do ensino fundamental I e tinham oito anos de idade. Por último, os alunos da
professora Sandra, com treze anos, cursavam o ensino fundamental II.

Após as explicações da psicopedagoga, as professoras se reuniram com seus alunos e apresentaram duas
atividades. Na primeira atividade, as crianças foram solicitadas a empilhar 15 figuras, de modo que em cada
pilha todas fossem da mesma cor. Na outra atividade, foram lidas 10 histórias e cada uma descrevia o
comportamento de uma pessoa. Desse modo, foi solicitado às crianças que dissessem se a pessoa
descrita era ou não um herói. As professoras queriam saber quais atividades seriam resolvidas por quais
crianças.

As professoras constataram que as crianças de três anos encontraram dificuldades nas duas atividades,
pois não compreendem ainda os conceitos relacionados ao processo de classificação. As crianças de 8
anos resolveram a atividade 1, mas encontraram dificuldades em aplicar os princípios de classificação a
conceitos abstratos, como no "ser o herói". Já os adolescentes de treze anos resolveram as duas atividades.

Após a leitura do caso, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos?

Questão 1

Como você viu, a perspectiva teórica de Jean Piaget considera que, no desenvolvimento humano, há
diferentes situações: uma forma de pensar, de agir e certa solução podem parecer que estão totalmente
corretas em determinado estágio de desenvolvimento e incoerentes em outro. Pensando nesse
assunto, como o papel de psicopedagogo pode auxiliar os professores a estimularem o
desenvolvimento intelectual das crianças?
Propondo aos professores que incentivem seus alunos à participação ativa da
A aprendizagem: elaborar e fazer perguntas, propor soluções a situações-problema e
encorajar a realização de pesquisas.

Sugerindo que o professor seja apenas o transmissor do conhecimento e o aluno o


B
receptor passivo.

Auxiliando o professor a priorizar e utilizar somente fórmulas. Além disso, é necessário


C
incentivar a memorização de conceitos.

Expondo aos professores que, para uma aprendizagem ter sentido, a exposição das
D ideias e das opiniões dos alunos são inadequadas para o desenvolvimento da
aprendizagem.

Explicando aos professores que incentivar os alunos a relacionarem o que é aprendido


E na escola com outras experiências, obtidas em outros contextos sociais, é prejudicial à
aprendizagem.

Parabéns! A alternativa A está correta.


Várias são as orientações que um psicopedagogo pode oferecer ao professor para o desenvolvimento
intelectual do educando. O professor não deve apenas transmitir um conteúdo, sem estimular os alunos a
dialogarem sobre o ele. O professor deve incentivar constantemente o raciocínio lógico dos seus alunos
em atividades, as quais exijam soluções de problemas. Além disso, ele precisa ser um mediador entre o
aluno e o conhecimento, elaborando situações para uma aprendizagem que proporcione desafios
intelectuais ao discente.

Questão 2

A abordagem interacionista pode impactar significativamente o desenvolvimento da criança. A partir da


situação apresentada no caso, de que maneira o psicopedagogo pode auxiliar a criança a construir
novos conhecimentos?

A
Possibilitar que a escola atue como reprodutora de conhecimentos e de procedimentos,
bem como de técnicas que já foram desenvolvidas.

Mostrar que os espaços culturais e o conhecimento já sistematizados pelo homem


B
contribuem apenas de maneira parcial ao processo ensino-aprendizagem.

Orientar os professores a ajudarem as crianças a pensar mais sobre as coisas, em vez


C de simplesmente tomar consciência de que elas existem. Além disso, é importante que
os professores estimulem sempre o prazer pelo aprender.

Explicar que os diálogos das crianças com adultos e colegas mais experientes apenas
D
proporcionarão mudanças insignificantes nos contextos de aprendizagem.

Mostrar aos professores que oferecer verdades prontas aos alunos é a única forma de
E reforçar a importância do ensino formal e do conhecimento acumulado ao longo do
tempo.

Parabéns! A alternativa C está correta.


Se a escola valorizar o fato de que a criança constrói, gradativamente, novos conhecimentos e também
novas formas de pensar, essa instituição poderá dar mais destaque ao processo de aprendizagem do
aluno. É fundamental que o aluno seja capacitado a elaborar o conhecimento que ele deseja. O professor
precisa incentivar os alunos a exporem suas maneiras de pensar e de perceber as situações. O estudante
também precisa considerar os aspectos que outros discentes valorizam, pois os indivíduos pensam e
possuem pontos de vista, ideias e opiniões diferentes e próprias de outras experiências.

Questão 3

Você já sabe que a relação professor e aluno é muito importante para o processo ensino-aprendizagem.
Dessa forma, a concepção interacionista vai favorecer a formação do docente e uma prática profissional
mais criativa e rica em possibilidades de ação. Com base em sua experiência, por que o professor ocupa um
papel fundamental na formação do aluno? Se você fosse psicopedagogo institucional, quais orientações
ofereceria aos professores para eles auxiliarem o aluno a pensar de forma autônoma?
Digite sua resposta aqui

Exibir soluçãoexpand_more

A aprendizagem não ocorre sozinha, ou é por meio de uma pessoa, ou de um material, ou também a
partir de uma situação. Considera-se que, para aprender, o professor ajude, mesmo que inicialmente, o
aluno a pensar com autonomia. Assim, o fato de perguntar, escutar, explorar, participar de discussões,
dentre outras ações podem ser utilizadas pelo professor e aluno de forma participativa e
complementar, levando, assim, a construção do conhecimento pelas trocas, diálogos e interações
comunicativas.

O estudante precisa ter a parceria de alguém mais experiente que o perceba em diversos momentos
de aprendizagem e que também o auxilie a evoluir para níveis mais elevados de conhecimento, de
maneira crítica e reflexiva. Essa pessoa deve oferecer desafios e provocá-lo cognitivamente, ou seja,
intelectualmente. Dessa forma, o aluno constrói, gradativamente, novos sentidos, competências e
conhecimentos.

As teorias construtivista e sociointeracionista de Piaget


e Vygotsky
Vimos no primeiro módulo algumas perspectivas teóricas sobre a aprendizagem. Agora, iremos discutir a
definição, as características gerais, as diferenças e as semelhanças entre a teoria da epistemologia
genética, de Jean Piaget, e a teoria histórico-cultural, de Lev Vygotsky.

Os dois autores contribuíram muito para a compreensão do desenvolvimento humano e como ocorre a
aprendizagem. Há, com certa frequência, uma comparação entre os dois teóricos no sentido de afirmar que
as teorias tratam do mesmo assunto ou que o modelo teórico de Vygotsky seria um ótimo complemento à
teoria de Piaget. Certamente, há algumas semelhanças e um hipotético debate entre esses dois grandes
pensadores teria contribuído para maiores avanços ou sanaria algumas dúvidas. Contudo, eles nunca se
conheceram pessoalmente. Ambas as teorias entendem que o sujeito exerce protagonismo no seu próprio
processo de aprendizagem. Elas concordam acerca do aspecto ativo do indivíduo, e não o entendem como
um ser passivo à espera de uma engrenagem genética a impulsionar seu desenvolvimento e aprendizagem.

Relembrando
Piaget e Vygotsky buscavam entender como ocorre o desenvolvimento da inteligência. Para Piaget, o foco
da análise deve ser como ocorre o processo de construção ativa do conhecimento pela criança. Ao passo
de que Vygotsky se interessava em saber como os fatores sociais e culturais poderiam influenciar no
desenvolvimento do conhecimento.

Teoria construtivista
Jean Piaget (1896-1980) nasceu na Suíça e sua área de formação originalmente era em Ciências Biológicas,
e não em Psicologia, como muitos imaginam. Ao longo de seus estudos, mudou o foco de interesse da
Biologia para o desenvolvimento intelectual das crianças. Devido às suas pesquisas e aos seus trabalhos
com crianças, Piaget é muitas vezes confundido como tendo sido um psicólogo infantil ou pedagogo. Na
verdade, seu trabalho não tinha como finalidade a predição de comportamentos ou pensar em maneiras de
otimizar o processo de aprendizagem infantil, e sim era pautado na descrição sistemática do
desenvolvimento intelectual da criança. Pode-se dizer que Piaget era um epistemólogo genético, ou seja,
investigador que busca compreender a gênese do pensamento humano.

Em seus trabalhos como biólogo, Piaget observava que seres vivos, independentemente de sua
complexidade, adaptam-se às mudanças do ambiente. A todo momento, lidamos com mudanças no
ambiente, às quais devemos nos adaptar. Piaget não separa mente e corpo e entende que a atividade
intelectual segue as mesmas premissas do desenvolvimento biológico. Portanto, tanto a atividade
intelectual quanto a biológica são parte de um processo total que possibilita ao organismo adaptar-se ao
ambiente e organizar suas experiências.

Adaptação e organização são processos complementares e importantes para o


desenvolvimento e a aquisição de conhecimento.
Para compreendermos melhor o que significa os processos de adaptação e organização, é necessário
apresentar quatro conceitos básicos da teoria de Piaget: esquema, assimilação, acomodação e
equilibração.

Esquema expand_more

Esquema foi o termo utilizado por Piaget para descrever uma estrutura cognitiva responsável por
conferir estabilidade às respostas. Esquemas, portanto, funcionam como estruturas armazenadoras
das nossas experiências na mente, permitindo que o processo de adaptação e o de organização
ocorram. Piaget tinha consciência de que os esquemas se tratavam de um conceito hipotético, logo
não havia como demonstrar a existência de estruturas físicas no sistema nervoso que exercessem
tal função. Os esquemas têm o papel de processar os estímulos que entram no organismo.

Quanto mais esquemas o indivíduo, possuir melhor será sua capacidade de organizar as
informações e de assimilá-las. Obviamente, o número de esquemas que possuímos quando crianças
é muito inferior ao que temos depois de adultos, e isso acontece porque aprendemos novos
conceitos a todo momento. O que permite adquirimos novos esquemas são os processos de
assimilação e acomodação.

Esquema: Carro

Informações sensoriais:

Tem 4 rodas.

Desloca-se sobre a terra.

É pesado.

"Carrega” pessoas na parte de dentro.

Solta fumaça.
Assimilação expand_more

A assimilação é o processo cognitivo de integrar uma nova informação perceptiva, motora ou


conceitual a um esquema ou repertório comportamental já existente. Toda vez que uma criança, ou
mesmo um adulto, se depara com uma informação nova e desconhecida, precisará adaptar esse
novo input aos seus esquemas preexistentes. Mas é válido salientar que a assimilação não gera
necessariamente a mudança do esquema, apenas irá ampliá-lo.

Imagine uma criança que possui um esquema para reconhecer e nomear seu “carrinho”: quatro
rodas, portas laterais, vidros em todos os lados e um círculo interno que ajuda a virar as rodas
dianteiras (volante). Ao visualizar pela primeira vez em sua vida um caminhão de brinquedo, ela pode
chamá-lo de “carrinho”, porque suas informações foram compatíveis ao esquema preexistente. Ela
ampliou seu esquema, mas não agregou um novo conhecimento.

O aumento de um esquema não configura que uma nova aprendizagem foi concluída. Às vezes, o
indivíduo se depara com uma informação nova e tenta assimilá-la a estruturas esquemáticas já
existentes. Isso significa que tentamos interpretar ou avaliar uma nova situação com o que
dispomos de informações aprendidas anteriormente. Todavia, nem sempre isso é possível, uma vez
que, se não houver um esquema adequado, a informação não terá como ser encaixada. Se
explicarmos sobre função do segundo grau para uma criança que ainda está assimilando a tabuada
de cinco, provavelmente ela não conseguirá compreender por não ter estrutura cognitiva necessária
para receber esse conhecimento.

Acomodação expand_more

Para solucionar um problema o indivíduo pode criar um novo esquema ou adaptar um esquema já
existente para acomodar a nova informação. Acomodação é, portanto, a construção de uma nova
estrutura cognitiva ou adaptação de uma já existente para que o novo conhecimento seja assimilado.
No processo de assimilação, o indivíduo adequa a informação aos seus esquemas disponíveis. Já na
acomodação, é necessário construir um novo esquema ou ajustar um antigo para assimilar.
Assimilação é um processo passivo; acomodação é um processo ativo.

Equilibração expand_more

Por fim, a equilibração diz respeito ao equilíbrio resultante dos processos de assimilação e
acomodação, agindo como mecanismo autorregulatório e tornando a interação entre organismo e
meio mais eficiente. Esse conceito é muito importante, pois trabalha com a ideia de que um estado
de desequilíbrio pode fomentar no indivíduo a motivação necessária para buscar o equilíbrio
novamente. Pense em uma criança que adora desenhar e pratica com afinco tal atividade. Querendo
aprender a desenhar um animal novo pela primeira vez, por exemplo um cavalo, ela talvez precise
criar novos esquemas motores e perceptuais. É possível que ela erre algumas vezes, pois o novo
esquema ainda não está completo, mas a persistência até a assimilação do conteúdo é o que
representa a equilibração.

Para a teoria construtivista de Piaget, a aprendizagem e o desenvolvimento intelectual são decorrentes de


um processo ativo, o qual pode ser representado pela seguinte sequência: um indivíduo, ao ser exposto a
um novo estímulo, tenta encaixá-lo em um esquema já existente. Caso seja bem-sucedido, ele alcançará o
equilíbrio, e o processo é concluído. Mas, se não houver alcançado o equilíbrio, o indivíduo deverá buscar
ativamente acomodar a nova informação, criando ou adaptando um esquema cognitivo. Quando isso ocorre,
conclui-se o processo de assimilação e chega-se ao equilíbrio.

Estágios do desenvolvimento
Como já falado anteriormente, a teoria de Piaget é minuciosa e estruturada. O autor estabeleceu, por
observação, estágios que caracterizariam o desenvolvimento biológico e a capacidade de aquisição de
novos conhecimentos em uma criança. Por conta de características biológicas, em cada estágio, os dados
cognitivos se organizam de uma maneira específica. Não é possível pular ou regressar estágios, toda
criança deve passar pelas mesmas fases.

Vale ressaltar que as idades estabelecidas para cada fase não seguem uma regra
concreta, podendo variar para mais ou para menos.
Segundo esse modelo, o desenvolvimento intelectual é contínuo e constante, sendo os estágios apenas
uma espécie de marcadores para designar o período dentro de um processo muito mais amplo. Outro ponto
importante é entender que a criança desenvolve características cognitivas, afetivas e de socialização de
maneira ativa paralelamente ao amadurecimento de suas estruturas biológicas.

Sabendo disso, vamos conhecer a seguir as fases do desenvolvimento cognitivo e afetivo segundo Piaget
(WADSWORTH et al., 1992).

Sensório motor (0 – 2 anos) expand_more

Formado por 6 subestágios. Inicialmente, a criança é marcada por respostas sensoriais e motoras
reflexas (herança genética). Aos poucos, há organização de percepções, e a criança desenvolve os
primeiros comportamentos voluntários, a consciência dos objetos ao redor e a noção de causa e
efeito de seus comportamentos. Se inicialmente o pensamento da criança é restrito aos objetos do
ambiente, ao final do estágio, ela aprimora seu pensamento simbólico, recordando objetos e pessoas
que não estão no ambiente, além de planejar comportamentos e imaginar o que irá acontecer. Esse
seria o início dos processos mais complexos de pensamento.

Pré-operatório (2 – 6 anos) expand_more

Nesse estágio, a criança adquire a capacidade de elaborar representações internas, o que


futuramente tornará possível o raciocínio lógico. O período também é marcado pelo surgimento da
linguagem oral, mas ainda na forma egocêntrica. Só conseguem focar a atenção em experiências
imediatas, logo o pensamento tende a ser concreto e não reversível.

Operatório concreto (6 – 11 anos) expand_more

Redução do pensamento egocêntrico, ou seja, ela passa a conseguir se colocar no lugar do outro,
surgindo a capacidade moral de cooperação e obediência. O pensamento lógico-matemático surge,
embora ainda dependa de dados da realidade, mas já é possível realizar operações reversíveis. Isso
significa que ela é capaz de perceber constância de volume e quantidade, mesmo que em recipientes
diferentes
Operatório formal (12 em diante) expand_more

Nessa fase, a criança já é capaz de realizar pensamentos hipotéticos-dedutívos. Desenvolve


pensamento abstrato, não precisando mais se apoiar somente em aspectos da realidade. O
egocentrismo tende a desaparecer. Desenvolve maior autonomia com maior capacidade de
socialização.

Os estágios são marcados pelo desenvolvimento de esquemas novos e pela adaptação a esquemas já
existentes. Para o construtivismo, a aquisição de um novo conhecimento ou de uma experiência deve
envolver a assimilação e a acomodação das informações em estruturas cognitivas já existentes ou motivar
o sujeito a construir novos esquemas. E isso caberia a comportamentos, afetos ou pensamentos. A criança,
para Piaget, não nasce como uma tábula rasa, mas, sim, como um organismo que se desenvolve e está
disposto a se adaptar e se desenvolver no meio social e complexo em que vive.

video_library
As fases do desenvolvimento cognitivo e afetivo para
Piaget
Neste vídeo, o especialista Lincoln Poubel resume as principais características e ilustra as diferentes fases
do desenvolvimento cognitivo e afetivo de Piaget.

Teoria socioconstrutivista ou sócio-histórica


Lev Semenovich Vygotsky nasceu em território hoje considerado como Belarus, em 1896. Filho de família
abastada e culta, sempre teve acesso à melhor educação de sua época. Seus pais eram intelectuais, e na
casa da família havia uma biblioteca rica e acessível a todos os filhos e amigos. Era comum que os pais
debatessem com seus filhos sobre diversos assuntos ao longo dos dias. Nesse ambiente de
hiperestimulação intelectual, Vygotsky aprimorou seu conhecimento em diversas áreas acadêmicas, tais
como Direito, Literatura, Filosofia, Psicologia e Neurologia.

Por muito tempo, trabalhou com análise do desenvolvimento infantil e em pesquisas sobre doenças
neurológicas com o intuito de compreender o funcionamento psicológico dos humanos. Deixou uma obra
vastíssima com muitas contribuições à Psicologia e às ciências da educação, mas, infelizmente, faleceu
ainda muito jovem, aos 37 anos de idade.

Em seus trabalhos em Psicologia, Vygotsky tinha um interesse especial por compreender os chamados
“processos mentais superiores”, os quais são típicos do ser humano e responsáveis pelo controle
consciente de comportamentos. Quando nos referimos a processos mentais de maior complexidade,
podemos fazer a seguinte reflexão: é possível ensinar um animal a abrir a porta do banheiro, mas não
podemos esperar que ele, voluntariamente, evite fazer isso para não incomodar uma pessoa que está
tomando banho. Um conceito essencial para a compreensão da obra de Vygotsky é o de mediação, termo
usado para explicar o processo de inserção de um elemento em uma relação entre dois outros fatores (a
interação para de ser direta e passa a ser mediada por determinado elemento).

Exemplo
Quando colocamos os dedos em uma tomada e os retiramos rapidamente por conta da dor sentida pelo
choque, estabelecemos uma relação entre “o choque da tomada” e a “dor”. Mas se quando nos
aproximamos de uma tomada afastamos a mão por recordarmos a dor do choque, então a relação foi
mediada pela lembrança. Isso chama atenção para um fator a mais nas relações, tornando-as mais
complexas para serem analisadas.

Para Vygotsky, a relação do ser humano com o mundo não é direta, mas, sim, mediada. Entre o indivíduo e o
meio, existem dois tipos de mediadores:

Instrumentos
Os instrumentos correspondem a objetos sociais e medeiam a relação entre o sujeito e o ambiente. Muitos
outros animais também utilizam instrumentos, mas só o ser humano os cria com fim específico,
armazenando-os para uso intencional no futuro e os transmitindo para outros membros do grupo e para
outras gerações. Um machado, um martelo ou uma caneta são exemplos de instrumentos.

Signos
Os signos exercem papel análogo ao dos instrumentos, no entanto agem mediando atividade psicológica.
Os signos são orientados para o interior do próprio sujeito e são essenciais para o desenvolvimento das
atividades psicológicas. Para exemplificar, são signos: os números, a linguagem, uma lista de compras, uma
planta arquitetônica ou mesmo o mapa para nos orientar até um destino.

Segundo Vygotsky, os seres humanos não seguem um desenvolvimento linear.

Isso ocorre porque dispomos de meios não naturais para realizar mudanças nos processos psicológicos e
no ambiente: os signos. Nossa espécie utiliza-se dos signos para interagir com o meio, pensar e planejar
ações sem necessitar da presença do real. No entanto, o desenvolvimento e a utilização desses signos não
ocorrem de maneira automática, como um comportamento reflexo. Isso ocorre pela interação com o meio
social no qual o indivíduo está inserido.

Um bebê chora quando sente o desconforto que a sensação de fome gera em seu corpo. Isso é uma
resposta automática característica da espécie. Porém, é plausível esperar que uma criança mais velha
pense algo como “acho que vou comer uma maçã agora”. Isso demanda saber utilizar ferramentas
psicológicas internalizadas. Para Vygotsky, a capacidade de utilizarmos ferramentas cognitivas
internalizadas é aprendida apenas pela interação com outras pessoas, as quais irão transmitir esse
conhecimento cultural para o aprendiz.

Zona de desenvolvimento proximal


A teoria socioconstrutivista preconiza que, para se entender o desenvolvimento humano, é necessário
determinar “qual nível de conhecimento o indivíduo assimilou até aqui”. Isso significa determinar que
conhecimentos a pessoa dispõe, facilitando ou não a solução de um problema. Ninguém dispõe de todos os
conhecimentos, mas todos possuímos algum nível de conhecimento e que pode ser aprimorado.

Para se compreender a aprendizagem humana, segundo Vygotsky, é preciso entender dois níveis de
desenvolvimento:

Nível de desenvolvimento real expand_more

Refere-se ao acúmulo de conhecimentos já assimilados. Alguns estímulos que chegam à criança são
compreendidos, e o problema apresentado é resolvido independente. Por exemplo, pedir para uma
criança que já tenha aprendido as quatro operações matemáticas para somar os valores dos itens de
uma compra.

O nível de desenvolvimento real condensa todo o conhecimento que uma pessoa possui e recruta
para solucionar um dado problema que se apresenta. Ela pode chegar à conclusão por conta própria,
independentemente do esforço ou tempo destinado à resposta.

Nível de desenvolvimento potencial expand_more

Diz respeito à capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de terceiros. Há tarefas que uma
pessoa não tem maturidade cognitiva suficiente para resolvê-las. Para tal, considere a criança do
exemplo anterior e passe um problema multiplicação. É provável que um adulto deverá lhe explicar o
assunto.

No nível de desenvolvimento potencial, o conhecimento que o indivíduo possui não é desprezado.


No entanto, para conseguir chegar à resposta buscada, é necessária a intervenção de outro ser
humano. Sem essa interação, o desenvolvimento intelectual e a capacidade de aprendizagem são
prejudicados ou inexistentes.

A zona de desenvolvimento proximal seria a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado
pela capacidade independente de solução de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, quando a
solução da tarefa demanda a ajuda de outrem. Sendo assim, Vygotsky explorou a ideia de que a
aprendizagem é contínua e dinâmica, mas dependente da interação entre os indivíduos e que, sem essa
interação, o amadurecimento de novos conhecimentos será improvável.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(KLC - 2016 - Prefeitura de Mamborê - PR - Psicólogo) O teórico responsável pela abrangente teoria de
desenvolvimento cognitivo infantil, a qual se inicia pela capacidade inata do indivíduo em se adaptar ao
ambiente, de forma a, gradativamente, adquirir maior competência para lidar com ele, por meio de uma
sucessão de estágios qualitativamente diferentes, é:

A Freud.

B Erik Erikson.

C Klein.
D Piaget.

E Vygotsky.

Parabéns! A alternativa D está correta.

Para Piaget, o desenvolvimento tem um caráter ativo e que segue fases pertinentes à maturação
biológica do sujeito e à construção de novos conhecimentos. Já para Vygotsky, a aprendizagem se dá
na interação entre os indivíduos, onde um medeia a aquisição de novos conhecimentos de outro. No
entanto, para Vygotsky opróprio desenvolvimento das capacidades cognitivas estaria sujeito a esse
processo mediado. Para Freud, Erikson e Klein, autores psicanalíticos, a aprendizagem humana, embora
obedeça às fases, será influenciada diretamente pelo funcionamento das estruturas psíquicas de ego,
superego e id, não levando tanto em consideração as estruturas cognitivas por si só.

Questão 2

(FUNIVERSA - 2012 - IFB - Psicólogo) Lev Semenovitch Vygotsky é um dos grandes nomes da psicologia
histórico-cultural. Para o autor, o desenvolvimento humano segue um curso contínuo, mediado pelos
processos de aprendizagem e deles dependente. Nesse sentido, assinale a alternativa correta.

O desenvolvimento acompanha uma sequência predeterminada de eventos mediados e


A
socioculturalmente organizados.

Os processos de aprendizagem ocorrem em planos complementares de interação e


B
participação, nos quais a escolarização tem função secundária.

O homem é criado pelo homem, o que significa que o ser humano vai se tornando
C
homem à medida que se transforma em produto do ambiente em que está inserido.
A peça mais importante a ser estabelecida para a compreensão do desenvolvimento
D
humano é como o indivíduo apropria-se dos instrumentos construídos pela ciência.

A participação em atividades e interações organizadas socioculturalmente deve


E progressivamente ampliar as competências do indivíduo, que inicialmente é guiado até
conseguir uma participação autônoma e autorregulada.

Parabéns! A alternativa E está correta.

É por meio da interação social que o indivíduo aprende e, consequentemente, se desenvolve. O


desenvolvimento não é predeterminado, uma vez que até mesmo as características neuropsicológicas
se desenvolvem mediante estímulos e mediação de outras pessoas mais desenvolvidas e de
determinado conhecimento. Para Vygotsky, o desenvolvimento intelectual do indivíduo só é possível
diante da adequada estimulação e mediação a novos conhecimentos, sendo o ambiente escolar
representado pela figura do educador a principal ferramenta no processo de aprendizagem. No entanto,
é importante salientar que a real aprendizagem ocorre quando o nível de conhecimento previamente
existente não é suficiente para se chegar a uma resposta, necessitando de uma mediação. Assim, não é
apenas a influência do ambiente que irá criar o arcabouço de conhecimentos, mas também a interação
dos conhecimentos primários com o ambiente.

Considerações finais
Vimos ao longo de nosso estudo diversas abordagens psicológicas que tiveram papel fundamental para se
compreender a natureza da aprendizagem por diferentes pontos de vista. Não há uma vertente mais correta
e todas se complementam para termos uma maior noção de como o ser humano experiencia a realidade,
como desenvolve seus comportamentos e emoções, como seus pensamentos e raciocínio podem
influenciar seu desenvolvimento e a importância do meio social e cultural em que vivemos.

Vimos, inicialmente, a importância de se pensar a aprendizagem humana. Em todos os períodos da história,


houve pensadores que se debruçaram para compreender a natureza da aprendizagem, na busca de se
entender a complexidade de desenvolvimento do conhecimento humano. Foram ainda apresentadas as
principais concepções teóricas da aprendizagem que influenciaram as reflexões da Psicologia ao longo do
século XX, os debates entre os racionalistas e empiristas, e como isso influenciou o desenvolvimento de
escolas como o behaviorismo, o cognitivismo, Psicanálise e o interacionismo.

Em seguida, foram apresentadas a abordagem construtivista de Piaget e a socioconstrutivista de Vygotsky.


Para Piaget, a aprendizagem é caracterizada por um processo contínuo e ativo de assimilação, acomodação
e equilibração de novas informações sobre o meio. Já para Vygotsky, a aprendizagem só ocorre por meio de
relações sociais, sendo esses indivíduos os mediadores entre o estímulo do ambiente e o organismo.

Aprendizagem é um construto e, por isso, é importante ser operacionalizada. No entanto, diante de tantas
abordagens sobre o tema, fica claro que a aprendizagem humana é um fenômeno complexo e vasto para se
entender. Se queremos compreender como um ser humano aprende algo, é importante analisarmos seu
comportamento, suas emoções, cognições, sua cultura, seu momento histórico, seu ambiente familiar, sua
estrutura educacional e seus aspectos ontogenéticos.

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Podcast
Neste podcast, o especialista Lincoln Poubel irá comparar as teorias de aprendizagem de Piaget e Vygotsky,
apresentando suas diferenças e semelhanças, assim como as suas implicações práticas.

Referências
BANDURA, A., AZZI, R. G., POLYDORO, S. A. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed,
2009.

MOREIRA, M. A. O que é afinal aprendizagem significativa? Qurriculum, 2012. Consultado na internet em: 28
set. 2021.
NETTO, A. P.; COSTA, O. S. A importância da psicologia da aprendizagem e suas teorias para o campo do
ensino-aprendizagem. Revista Fragmentos de Cultura-Revista Interdisciplinar de Ciências Humanas, v. 27, n.
2, p. 216-224, 2017. Consultado na internet em: 28 set. 2021.

MARKIE, P. Rationalism vs. Empiricism. The Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2004. Publicado em: 19
ag. 2004. Consultado na internet em: 17 de jul. de 2021.

OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento-um processo sócio-histórico. São Paulo:


Scipione. 1993.

SILVA, J. P. M. Psicologia da aprendizagem. Santa Maria: Núcleo de Tecnologia Educacional, 2017 .

DE SOUZA FILHO, M. L. Relações entre aprendizagem e desenvolvimento em Piaget e em Vygotsky:


dicotomia ou compatibilidade? Revista Diálogo Educacional, v. 8, n. 23, p. 265-275, 2008. Consultado na
internet em: 28 set. 2021.

WADSWORTH, B. J.; ROVAI, E.; MALUF, M. R. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. São
Paulo: Pioneira, 1992.

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Taille e aprofunde seu conhecimento sobre o tema de forma muito didática e acessível.

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