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PSICOPEDAGOGA CLÍNICA

E-book
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
NA ALFABETIZAÇÃO INFANTIL.
PORQUÊ ELAS ACONTECEM?

marilia_savia
INTRODUÇÃO
No contexto escolar as dificuldades
de aprendizagem no processo de
alfabetização infantil são muito
comuns e vem sendo questionadas
junto aos professores e comunidades
acadêmicas, e as causas podem estar
relacionadas desde a fatores
externos, que podem ser: a baixa
condição socioeconômica, déficit
sensorial, problemas cognitivos,

professor, entre outros.


O processo de alfabetização é
muito desafiador para as
crianças e é normal que
encontrem dificuldades pelo
caminho.
Principalmente se o método de
ensino utilizado não fizer
sentido para elas.

Da mesma forma, fatores relacionados à


família e ao contexto sócio cultural
também podem influenciar na
aprendizagem.
A alfabetização é essencial para
o desenvolvimento de
conhecimentos e habilidades de
linguagem.

O processo inclui a
compreensão de textos, análise
de informações, criação de
significado e uso da linguagem.

Tornar-se alfabetizado é mais


que adquirir conhecimento, mas
saber aplicar as habilidades
aprendidas.
As crianças precisam se sentir
confiantes e confortáveis com a
metodologia usada pela escola
na alfabetização.

Se não fizer sentido para elas,


não aprendem!

O professor deve analisar essas


questões antes de apontar a
causa das dificuldades de
aprendizagem como algo
inerente à criança.
O diagnóstico de cada
dificuldade apresentada pelas
crianças deve ser realizado por
profissionais especializados e
experientes, em uma equipe
multiprofissional que garanta
também o planejamento e a
intervenção apropriada,
objetivando tratar e minimizar
os efeitos de tais distúrbios
sobre a vida escolar da criança.
2. O QUÊ É ALFABETIZAÇÃO?

A alfabetização é definida
como o processo de
aprendizagem onde se
desenvolve a habilidade de ler
e escrever de maneira
adequada e a utilizar esta
habilidade como um código de
comunicação com o seu meio
(SOARES, 2007).
É o processo onde os educadores
procuram dar mais atenção
durante o período de educação
inicial escolar, através do
desenvolvimento das atividades
da alfabetização, que envolvem
o aprendizado do alfabeto e dos
números, a coordenação motora
e a formação de palavras, sílabas
e pequenas frases (SOARES,
2020.)
Através destas tarefas, o
indivíduo consegue adquirir a
habilidade de leitura, de
compreensão de textos e da
linguagem de maneira geral,
incluindo a operação de
números, que são
competências necessárias para
avançar aos níveis escolares
seguintes.
A alfabetização consegue
desenvolver também a
capacidade de socialização do
indivíduo, uma vez que
possibilita novas trocas
simbólicas com a sociedade,
além de possibilitar o acesso a
bens culturais e outras
facilidades das instituições
sociais (SOARES, 2020).
É muito comum que o fracasso
escolar seja atribuído a questões
políticas, socioeconômicas e
familiares, e o que podemos notar é
que, na maioria das vezes, o
problema recai sobre o aluno, ou
seja, atribui-se ao aluno a culpa por
não conseguir adaptar-se ao
contexto educativo e metodológico
escolar. No entanto, uma questão
que geralmente é deixada em
segundo plano é o fato de que
muitos alunos chegam às escolas
com uma bagagem de valores,
experiências e de vivências
que se chocam com as práticas mais
tradicionais de ensino.
Isso explicaria porque a escola não
consegue mais obter os resultados
desejados.
Quando se fala em dificuldade de
leitura e escrita, principalmente
durante o processo de
alfabetização, é de extrema
relevância que sejam analisadas as
situações em que a criança se
inicia, certificando se que esta, já
adquiriu, o necessário
desenvolvimento, emocional, físico,
intelectual, bem como, todas as
habilidades indispensáveis para
que haja condições de
aprendizagem.
Quando o ato de aprender se
torna algo dificultoso, é
necessário que seja feita uma
minuciosa análise do aluno. O
educador não pode deixar de
considerar que o aluno é um
ser social, que possui sua
própria identidade, cultura
valores e linguagem peculiar,
aos quais, sempre deve se
atentar principalmente para
evitar que estas características
os impeçam de auxiliar a
criança no processo de
educação.
De acordo Telles (2017), deve
ser desenvolvido dentro da
unidade escolar o
autoconhecimento do aluno, e
esta, deve ser a principal
preocupação do professor.
Somente possuindo uma
autoimagem positiva que a
criança terá um bom
desempenho escolar, esta é a
melhor maneira do aluno ser
independente e manter suas
relações sociais.
2.1 Diferenças entre
dificuldade de aprendizagem
x transtornos de
aprendizagem

É comum que as crianças no


início da fase escolar
apresentem algumas
dificuldades na aprendizagem,
as quais podem estar
relacionadas as mudanças de
hábitos ou de rotina
(CARVALHO; CRENITTE; CIASCA,
2007).
Normalmente as dificuldades
fazem parte de uma fase de
adaptação da criança frente
as novas atividades, porém se
essas dificuldades persistirem
ocasionando um atraso no
desempenho da criança, uma
investigação deve ser
realizada a fim identificar as
causas ou fatores que estão
comprometendo a
aprendizagem da criança.
É necessário que a criança
com dificuldade de
aprendizagem receba uma
atenção especial do
educador, a fim de tentar
identificar a causa ou o
problema que interfere na
aprendizagem.
Dificuldade de aprendizagem, é
um termo genérico para
descrever a defasagem de
aprendizado na aquisição de uma
ou mais competências, mas sem
uma causa evidente.
Em compensação os
transtornos de aprendizagem
referem-se a problemas
relacionados a deficiências
sensoriais e intelectuais que
dificultam o processo de
aprendizagem (GIROTTO;
OLIVEIRA, 2015).
Geralmente a dificuldade de
aprendizagem é causada
por algum acontecimento
ou situação frustrante,
como a mudança de escola,
troca de professor, chegada
de um irmão, óbito de um
familiar próximo,
desentendimentos
familiares, separação dos
pais entre outros, de modo
que se torna necessário
pesquisar os motivos que
influenciam negativamente
o desempenho da criança
(OLIVEIRA, 2015).
Porém quando as dificuldades
de aprendizagem são
persistentes e acompanham o
histórico da criança por muito
tempo, sem motivos evidentes
e em várias áreas do
conhecimento, muito
provavelmente é que está tenha
um transtorno de
aprendizagem, aonde existe um
comprometimento de ordem
neurológica que por sua vez
ocasiona uma dificuldade no
desenvolvimento sensorial e
intelectual da criança.
Considera-se, portanto um
problema de aprendizagem
como um sintoma, no sentido
de que o não aprendizado, ou a
dificuldade no processo de
aprender não se configura um
quadro permanente, mas sim
entra numa variedade peculiar
de comportamento nos quais se
destaca como sinal de
descompensação. Desse modo
nenhum fator é determinante
para o seu surgimento, pois ele
é acionado pela fratura
contemporânea de uma série de
concomitantes, ou razões que
podem ser investigadas e
explicadas.
Segundo Pain (1983, 2010), um
sintoma deve ser entendido como um
estado particular de um sistema que,
para equilibrar-se necessita adotar
esse tipo de comportamento que
mereça um termo positivo, mas que
caracterizamos como não
aprendizagem. Assim, pois, a não
aprendizagem não constituiu o
contrário de aprender, já que como
sintoma está cumprindo uma função
positiva tão integradora quanto a
primeira, porém com a outra
disposição dos fatores que intervêm.
Nesse alcance, o termo
dificuldade de aprendizagem,
não engloba as crianças com
cegueira, surdez ou aquelas
com deficiências: motoras,
intelectual, transtornos mentais
e emocionais ou até mesmo as
que sofrem por desvantagens
ambientais, culturais ou
econômicas.
No entanto, de acordo com Pain (1983,
p. 95) alguns problemas específicos de
aprendizagem não são resultados de:
falta de capacidade intelectual, déficits
sensoriais primários, privação cultural,
falta de continuidade na assistência a
aulas ou problemas emocionais.
Entretanto estas condições podem
acompanhar, desencadear ou agravar
um problema nas áreas de
aprendizagem. Existem fatores próprios
ao ambiente, ao meio social, cultural,
emocional, orgânicos e específicos que
intervém para o surgimento de um
baixo rendimento escolar.
Uma criança que apresenta
dificuldades de aprendizagem e
não consegue aprender com os
métodos com os quais a maioria
das crianças aprendem apesar de
ter bases intelectuais apropriadas
para aprendizagem, necessita de
apoio mais diretivo, seja da família,
dos professores ou de um
psicopedagogo para sanar tais
dificuldades.
Alguns fatores podem alterar a
condição de aprendizagem, seja
da criança, do adolescente, jovem
ou adulto. Os fatores orgânicos –
para aprendizagem é
fundamental a integridade
anatômica e do funcionamento
daqueles órgãos que estão
envolvidos na recepção dos
estímulos do meio, assim como
dos processos que asseguram a
coordenação com o sistema
nervoso central.
Em primeiro lugar para Pain
(1983), é imprescindível revisar
tanto a capacidade auditiva como
visual. A hipoacusia e a miopia
costumam aparecer como
causadora de dificuldades
escolares. No entanto, estas
perdas sensoriais, não são de
origem das dificuldades específicas
de aprendizagem.
É importante pesquisar os
aspectos neurológicos, pois
devemos conhecer as condições
do sujeito diante das demandas da
aprendizagem.
Já nos fatores específicos, de acordo
com a autora - encontramos certo
tipo de transtorno na área da
adequação perceptiva motora.
Apesar de parecerem possuir origem
orgânica, não existe possibilidade de
comprovação. Estes transtornos
afetam o nível de aprendizagem da
linguagem, da sua articulação, da
leitura e escrita.
Aparecem em inúmeras pequenas
falhas como, por exemplo, a
alteração da sequência percebida,
dificuldade para contrair imagens
claras de fonemas, sílabas e
palavras.
Podemos encontrar também
dificuldades na análise e síntese
dos símbolos, na capacidade
sintática e na atribuição
significativa. Muitos problemas de
aprendizagem encontram-se
relacionados com uma
indeterminação da lateralidade.
Devemos ter claro a norma e o
uso da mão direita. A pessoa
destra nas extremidades e no olho
apresenta grafia mais uniforme e
harmônica. A criança canhota é
forçada a uma decodificação
precoce.
O caso se complica ainda mais quando
existe uma lateralidade cruzada, ou
seja, quando os olhos e as mãos não
apresentam uma lateralidade comum
(PAIN, 1983). Para os fatores
emocionais - devemos levar em
consideração que, tanto a relação que
o aprendiz tem com a família, quanto a
que estabelece em sala de aula (com
professores e colegas) é primordial
para estabelecimento de segurança
deste, nas práticas de leitura e escrita.
É quase unanimidade o
reconhecimento por docentes,
pedagogos e psicólogos que os
aspectos emocionais podem
interferir negativamente nos
processos de aprendizagem.
Quando queremos explicar porque
aprendem aqueles que conseguem
aprender, geralmente nos
remetemos às explicações das
teorias cognitivas. É comum,
afirmarmos que essa criança
aprende porque é inteligente e não
raramente dissemos que aprende
porque é amada e muito apoiada
por seus pais e/ou professores. Se
pensarmos somente em operações
centrais da inteligência como
classificar ou ordenar; podemos
perceber a importância dos
aspectos emocionais na
aprendizagem desse sujeito.
A criança é capaz de realizar
classificações de cor ou tamanho e
ordenações de menor a maior ou
vice-versa sempre e quando tenha
capacidades cognitivas para fazê-lo,
mas, além disso, quando sentir-se
pertencente a uma classe; sou filho
de tais pessoas, sou mulher, sou
homem e se sinta como única e
distinta, ou diferenciada de outras, só
assim poderá desenvolver estas
operações lógicas. Existem certas
crianças que apresentam um
bloqueio total em relação à
lectoescrita. Em alguns casos pode
ser considerada a hipótese de
resistência à aprendizagem como
forma de castigo dos pais ou como
resultado de uma excessiva pressão
por parte destes.
Há crianças superprotegidas que
resistem ao crescimento; a lectoescrita
representa uma forma de crescimento,
de maturidade, de tornar-se
independente (PAIN, 1983).

2.2 O QUE SÃO TRANSTORNOS DE


APRENDIZAGEM?

Dificuldade de aprendizagem é um termo


geral que se refere a um grupo
heterogêneo de transtornos
manifestados por dificuldades
significativas na aquisição e uso da
escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou
habilidades matemáticas (HUDSON,
2021).
Estes transtornos são intrínsecos ao
indivíduo, supondo-se que são devido à
disfunção do sistema nervoso central, e
podem ocorrer ao longo do ciclo vital.
Podem existir junto com as dificuldades
de aprendizagem, problemas nas
condutas de autoregulação, percepção
social e interação social, mas não
constituem por si próprias, uma
dificuldade de aprendizado.

Ainda que as dificuldades de aprendizado


possam ocorrer concomitantemente com
outras condições incapacitantes como,
por exemplo, transtornos emocionais
graves ou com influências extrínsecas
(tais como as diferenças culturais,
instrução inapropriada ou insuficiente),
De acordo com o DSM-V, o transtorno
específico da aprendizagem é um
transtorno do neurodesenvolvimento
com uma origem biológica que é a
base das anormalidades no nível
cognitivo as quais são associadas com
as manifestações comportamentais. A
origem biológica inclui uma interação
de fatores genéticos, epigenéticos e
ambientais que influenciam a
capacidade do cérebro para perceber
ou processar informações verbais ou
não verbais com eficiência e exatidão.
Atualmente, acredita-se na origem dos
Transtornos de Aprendizagem a partir de
distúrbios na interligação de informações
em várias regiões do cérebro, os quais
podem ter surgido durante o período de
gestação.

Para Hudson (2021), O desenvolvimento


cerebral do feto é um fator importante
que contribui para o processo de
aquisição, conexão e atribuição de
significado às informações, ou seja, da
aprendizagem.
Dessa foram, qualquer fator que possa
alterar o desenvolvimento cerebral do feto
facilita o surgimento de um quadro de
Transtorno de Aprendizagem, que
possivelmente só será identificado quando
acriança necessitar expressar suas
habilidades intelectuais na fase escolar.
Existem fatores sociais que também são
determinantes na manutenção dos problemas de
aprendizagem, e entre eles o ambiente escolar e
contexto familiar são osprincipais componentes
desses fatores.
Quanto ao ambiente escolar, é necessário
verificar a motivação e a capacitação da equipe
de educadores, a qualidade da relação
professor-aluno-família, a proposta pedagógica,
e o grau de exigência da escola,que, muitas
vezes, está preocupada com a competitividade e
põe de lado a criatividadede seus alunos.

Em relação ao ambiente familiar, famílias com


alto nível sociocultural podem negar a existência
de dificuldades escolares da criança. Há também
casos em que a família apresenta um nível de
exigência muito alto,com a visão voltada para os
resultados obtidos, podendo desenvolver na
criança um grau de ansiedade que não permite
um processo de aprendizagem adequado.
2.3 Quais são os transtornos de
aprendizagem?
Tanto o CID-10, como o DSM-V apresentam
basicamente três tipos de transtornos
específicos: o Transtorno com prejuízo na
leitura, o Transtorno com prejuízo na
matemática, e o Transtorno com prejuízo na
expressão escrita. A caracterização geral destes
transtornos não difere muito entre os dois
manuais.

Transtorno da leitura: é conhecido como


dislexia, que tem a definição segundo Hudson
(2019), como um defeito de aprendizagem da
leitura caracterizado por dificuldades na
correspondência entre símbolos gráficos, as
vezes mal reconhecidos, e fonemas muitas
vezes, mal identificados. É comum que a dislexia
venha acompanhada pela disortografia que é
um transtorno caracterizado por dificuldades de
aprendizagem e desenvolvimento nas
habilidades da escrita.
O DSM-V classifica como critérios
diagnósticos para o Transtorno da
Leitura:
• Leitura de palavras de forma
imprecisa ou lenta e com esforço (p.
ex., lê palavras isoladas em voz alta, de
forma incorreta ou lenta e hesitante,
frequentemente adivinha palavras.
• Dificuldade para compreender o
sentido do que é lido (p. ex., pode ler o
texto com precisão, mas não
compreende a sequência, as relações,
as inferências ou os sentidos mais
profundos do que é lido).
Transtorno da Matemática:
Segundo Pimentel & Lara (2013) é
importante destacar que são
poucas as literaturas brasileiras
que discutem o transtorno de
aprendizagem na Matemática, por
isso a relevância de investigar e
pesquisar teóricos que se
destacam nesse campo da
educação.
De acordo com o DSM – V o Transtorno
Específico da Aprendizagem com
prejuízo na Matemática envolve o senso
numérico, memorização de fatos
aritméticos, precisão ou fluência de
cálculo e precisão no raciocínio
matemático.
E acrescenta em nota que:
discalculia é um termo alternativo
usado em referência a um padrão de
dificuldades caracterizado por
problemas no processamento de
informações numéricas,
aprendizagem de fatos aritméticos e
realização de cálculos precisos ou
fluentes. Se o termo discalculia for
usado para especificar esse padrão
particular de dificuldades
matemáticas, é importante também
especificar quaisquer dificuldades
adicionais que estejam presentes,
tais como dificuldades no raciocínio
matemático ou na precisão na
leitura de palavras. (DSM-V, p. 67).
Transtorno da Expressão escrita: Os
transtornos de aprendizagem relacionada
a escrita são manifestados de diferentes
maneiras, seja pela troca de letras ou
ordem delas ao escrever uma palavra,
erros na conversão/transcrição de
símbolos e sons e até mesmo atraso na
percepção visual para posterior conversão
(CASAL, 2013; ZUCOLOTO e SISTO, 2002).

A disortografia é um transtorno de
aprendizagem da escrita caracterizado
pela escrita incorreta das palavras, o que
impossibilita a sua compreensão. A escrita
disortográfica apresenta vários erros
estruturais e organizacionais,
comprometendo de maneira significativa
a aprendizagem dos alunos (CASAL, 2013;
SANTOS, 2014).
Os alunos que apresentam este transtorno,
ao escrever, “fogem” dos padrões da
escrita, por meio de erros de origem
ortográfica ou morfológica. Estes erros são
admissíveis até o 3° ano do Ensino
Fundamental, pois neste período ocorre os
primeiros contatos com a escrita e suas
regras.

Outro tipo de transtorno específico da


escrita é a disgrafia, caracterizada pela
escrita ilegível das palavras. Assim como a
disortografia, a disgrafia começa a ser
percebida a partir do 3° ano do Ensino
Fundamental, visto que até este período é
aceitável que ocorram erros ortográfico,
conforme afirma Paiva (2011, p. 13) “Até as
três primeiras séries é normal que as
crianças façam confusões ortográficas, pois
os sons e palavras impostas ainda não são
dominados por elas”.
” A disgrafia é, na maioria das vezes,
menosprezada por ser relacionada
meramente como “letra feia”, sendo
atribuída a descaso ou descuido. Porém é
preciso ficar atento, sobretudo no
período inicial de aquisição da escrita,
para conseguir identificar quando a letra
incompreensível representa mais do que
desatenção e passa ser considerada como
um transtorno para poder intervir de
maneira precisa e correta (SAMPAIO,
2004).
Segundo Telles et al. (2017, p.67) no caso
da disgrafia, é importante o diagnóstico
precoce a fim de orientar os profissionais
da educação e os pais sobre esse distúrbio
de aprendizagem que muitas crianças
sofrem, sendo muitas das vezes, rotuladas
como relaxadas e preguiçosas por
possuírem uma “letra feia”, provocando
baixa autoestima, desmotivação, entre
outros problemas.

As crianças disgráficas são aquelas que


apresentam dificuldades no ato motor da
escrita, tornando a grafia praticamente
indecifrável e isso não compromete o
intelectual, do contrário, geralmente os
disgráficos são crianças muito inteligentes,
sua dificuldade está na escrita, pois ela
não consegue recordar da grafia da letra
para escrever.
A disgrafia é constatada quando,
mesmo após intervenções, seja com
mudança de metodologias ou
recursos, o aluno ainda apresentar as
mesmas dificuldades. Este transtorno
não se correlaciona com aspectos
intelectuais, sendo assim alunos com
este transtorno são, em geral, muito
inteligentes (PAIVA et al., 2011). A
escrita ilegível das letras na disgrafia
é decorrente da falta de coordenação
motora (grossa e fina) para realizar
os movimentos de preensão e
pressão.
Conforme afirma Telles et al. (2017, p. 68)
“A principal causa da disgrafia é a falta de
coordenação motora. As funções do cérebro
que estão preocupadas com a tradução de
ideias em palavras, por escrito das crianças
que tem este transtorno, não são executadas
de forma correta”. Devido à falta de
domínio/controle motor, os alunos com
disgrafia costumam relatar que sentem dor
ao escrever, por aplicar muita força para
segurar e apoiar o lápis/caneta no papel e
fazer o contorno das letras.

Além da falta de motricidade, a escrita


disgráfica é também caracterizada pela
faltade lateralidade, organização espacial e
temporal e incapacidade de estabelecer
uma relação entre aspectos visuais e
motores simultaneamente (MAGALHÃES,
2015).
3 CONCLUSÃO
A alfabetização é um processo onde
ocorre a aprendizagem da leitura e
escrita, levando a criança a uma
interpretação crítica e a novas formas
de compreender o uso da linguagem. É
crucial esclarecer que esse processo não
ocorre da mesma forma para todos, que
as crianças aprendem de maneira e
tempo diferente. A escrita é a
contribuição para a evolução humana,
pois é através dela que é possível ter
conhecimento através do registro de
fatos e assim estabelecendo a
construção do pensamento.
As dificuldades podem ocorrer por
muitas razões, dentre elas problemas
sociais, emocionais ou déficits cognitivos,
problemas na vida escolar tais como
capacitação do professor ou propostas
pedagógicas.

A leitura é a percepção crítica e reflexiva,


para que ocorra a modificação do
contexto, sendo talvez a observação do
escrito ou falado.
É fundamental que o professor tenha um
olhar atento ao aluno que não aprende,
buscando metas e estratégias
pedagógicas para que sejam superados
os obstáculos e se não atingir o resultado
esperado, seja feito um trabalho em
parceria com a psicopedagoga clínica e
equipe multidisciplinar.
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