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GRADUAÇÃO EM DIREITO
FORTALEZA, CE
2022
2
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo principal entender o fenômeno social das
rebeliões prisionais, para tanto abordaremos as relações de poder, tal termo conceituado
por Michel Foucault. O interesse para tal pesquisa surgiu desde a minha vivência como
diretor da Cadeia Pública na cidade de Icó-Ce. E minha participação no projeto de
extensão “MUDA: pela humanização das relações prisionais”, realizado pelos alunos e
professores de psicologia e serviço social da Faculdade Vale do Salgado. Durante as
visitas sistemáticas realizadas durante o projeto, observou-se vários tipos de
reivindicações dos internos a respeito do encarceramento, como: alimentação e água.
Segundo Assis (2013) as rebeliões consistem em motins organizados pelos detentos de
forma violenta, porém esses movimentos consistem em manifestações e reclamações
para o beneficiamento de seus direitos e uma maneira de atrair olhares das autoridades
para as situações desumanas a qual os internos são submetidos dentro da esfera
prisional.
Desta forma, verifica-se que algumas rebeliões são apresentadas como um meio
de recusa a fatores do encarceramento, de certa forma são vistas como uma forma de
diálogo ou de pressão e por meio delas os detentos podem ser ouvidos pelas autoridades
e sociedade (GRUNER, 2012).
Braga (2014) relata que diante das adversidades do sistema prisional, um fator
que permanece em evidência é o impacto das rebeliões sobre o governo e sobre a
postura dos encarcerados. Ocorrem geralmente em momentos nos quais o governo se
encontra frágil e com condições desfavoráveis em relação aos reclusos, portanto os
cativos aproveitam a situação delicada do governo e promovem verdadeiras guerras de
acerto de contas com as facções rivais, invadindo os espaços e acertam suas desavenças.
No ano de 2016 o Estado do Ceará vivenciou uma onda de rebeliões que
segundo a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (SEJUS) ocorreram devido a
conflitos entre os encarcerados. Todavia foram ouvidos rumores de que tais rebeliões
surgiram por motivo de reinvindicações por parte dos presidiários frente ao sistema
prisional.
Sendo assim, com o objetivo de facilitar o conhecimento e compreensão sobre a
origem desse fenômeno, trataremos na pesquisa acercado percurso histórico das
rebeliões carcerárias, as relações intra e extra prisionais e as relações de poder dentro
das prisões diante de uma pesquisa narrativa acerca do tema, o objetivo geral visa
compreender o fenômeno das rebeliões carcerárias diante das relações de poder. O
trabalho estruturara-se em três pontos que são explanados como objetivos específicos,
no primeiro objetivo aborda-se a história e definições acerca do fenômeno das rebeliões
baseado em vários autores e uma discussão sobre esse movimento. No segundo
subtópico será abordado os contextos intra e extra prisional, mencionando a importância
e a influência de cada ambiente no fenômeno das rebeliões. Esse capítulo também relata
como a comunidade está inserida na atividade criminal, atuando como aliada dos chefes
do tráfico. O terceiro caracteriza a formação das facções criminosas e as relações de
poder entre os presos, com base nas leituras feitas sobre as principais organizações
criminosas do país, descrevendo sua formação, breve histórico e as vivências no
universo de prisão.
Para o desenvolvimento da coleta e análise das informações deste trabalho foi
adotado como técnica metodológica, a revisão bibliográfica e optou-se por aplicar a
revisão narrativa de base qualitativa. A coleta de dados dentro da pesquisa ocorrerá na
forma de pesquisas diretas, em situações de bibliografias, documentos diversos, tais
como projetos, relatórios, regulamentos e normas escritas.
Segundo Neves (2012) a pesquisa qualitativa refere-se a um conjunto de vários
métodos interpretativos que propõe retratar e decifrar os componentes de uma
abundância de significados. Tem como objetivo, explicar o sentido dos fenômenos do
mundo social, tratando-se de diminuir o espaço entre teorias e dados, entre cenário e
ação.
A pesquisa bibliográfica busca esclarecer e explicar um tema com suporte em
referências teóricas reproduzidas em livros, artigos, revistas e outros. Busca também,
explorar assuntos científicos a respeito de algum tema (MARCONI E LAKATOS,
2010).
1. REVISÃO DE LITERATURA
A superlotação dos presídios, devido ao número elevado de detentos, é
eventualmente o problema mais preocupante abrangendo as organizações prisionais. As
prisões se encontram cada vez mais sobrecarregadas de pessoas, oferecendo uma
parcela insignificante de dignidade ao encarcerado. Desse modo, as rebeliões que
ocorrem podem ser pensadas como uma estratégia de resistência a algum aspecto do
encarceramento. Essas são consideradas um meio, se não de diálogo, de pressão. Assim,
os internos conseguem ser ouvidos, não raro, até mesmo de fora das prisões (GRUNER,
2012).
O sistema carcerário no País se encontra arruinado. A instabilidade e as
situações subumanas que os detentos vivem é de extrema crueldade. As unidades
prisionais se transfiguram como depósitos humanos, nos quais a superlotação gera
agressão sexual entre presos, concebe a proliferação de doenças graves, as drogas são
apreendidas progressivamente, e o consideravelmente o mais categórico, apontado
como o mais forte, domina o mais fraco (ASSIS, 2013).
O sentido das rebeliões vem sofrendo mudanças no decorrer dos anos, ou seja,
elas não possuem os mesmos propósitos de antes, que estava relacionado ao desejo de
transformação da sociedade, alteração essa que se configura como um olhar mais atento
para as inúmeras necessidades dos internos, ou um momento que os detentos podiam
expressar suas queixas. As rebeliões ocorrem geralmente em períodos nos quais a
ordem governamental em referência aos reclusos fica comprometida e fragilizada, sendo
usadas pelos cativos como um verdadeiro acerto de contas entre as facções rivais. Os
cárceres aproveitam do clima tenso do Estado e invadem os espaços para que possam
acertar as suas desavenças (BRAGA, 2014).
Sendo assim, o presente estudo busca compreender o fenômeno das rebeliões a
partir de uma reflexão narrativa.
quantidade de presos mortos, pela forma em que a polícia realizou a invasão e pelo
desequilíbrio das forças de segurança para com os presos (BORGES, 2016).
Segundo Willer (2017) no dia 18 de fevereiro de 2001, o Estado de São Paulo
vivenciou a maior rebelião da história, comandada por uma das maiores organizações
criminosas infiltrada nos presídios paulistas, conhecida como o Primeiro Comando da
Capital (PCC), foram atingidos 29 presídios, nos quais foram promovidas grandes
rebeliões como represália pela transferência de alguns detentos considerados chefes dos
grupos. Os agentes penitenciários e familiares de detentos, homens, mulheres e crianças,
foram feitos reféns. O dia escolhido foi estratégico, era um domingo, dia de visita em
todos os presídios do Estado. A “megarrebelião”, como ficou conhecida pela imprensa,
foi um acontecimento marcante para o sistema penitenciário.
Essa foi originada de dentro dos presídios, controlada por internos através de
aparelhos celulares, entre outros meios. A entrada dos aparelhos telefônicos nas
instituições prisionais ocorre em algumas situações com o auxílio dos funcionários, os
quais são responsáveis pela vistoria de todos aqueles que entram e saem dos presídios
(MAIA,2012).
Diante do contexto, os detentos põem regras de uma resolução própria, a qual
tem princípios que são característicos, regimentos que reinam dentro das prisões e que
apresentam reflexos fora do ambiente prisional. Por intermédio de um poder visível, as
facções têm se mostrado cada vez mais associadas, crescentes e difíceis de serem
combatidas (SALLA,2010).
uma ligação direta com grupos faccionistas que exercem poderes e estabelecem
lideranças dentro da penitenciária, associando as participações no meio externo e
interno aos presídios (JÚNIOR, 2014).
O exercício das organizações criminosas é sinalizado pelo terror, instituído a
todas as pessoas, em especial nas maiores capitais do país, sendo considerado uma
prática rotineira de terrore vulnerabilidade. Os resultados de seus serviços são
avassaladores, principalmente pela criação de um estado relacionado ao Estado
Democrático, ou seja, uma situação jurídica ligada diretamente as normas e os direitos
fundamentais, é aquele no qual os representantes são submissos as leis que já foram
decretadas e afetam a todas as camadas da população (MAIA, 2012).
O Estado, a frente deste perfil de delinquência, encontra-se, de certa forma fraco,
uma vez que não oferece mecanismos eficientes e suficientes para combater o excesso
de violência, a iniciar por erros políticos de segurança pública e expandindo-se até a
falta de um modelo penal distinto para o crime organizado. Na maioria das vezes, as
associações criminosas se encontram muito mais equipadas do que os próprios policiais,
que invadem as casas da comunidade na tentativa de recompor a ordem pública com
armamentos precários e munições insuficientes (MAIA, 2012).
O agente penitenciário, sempre transita pelos lados de dentro e de fora das
penitenciárias, tratando-se de um intermediário de informações. Através deste método,
as penitenciárias, se englobam com as cidades, sob a condição de interações sociais
(SABAINI, 2012).
As facções se articularam em termos organizacionais, principalmente com a
construção de estratégias internas e externas de comunicação, manipulação e controle.
Da mesma forma que se proliferaram dentro dos presídios, esses grupos ampliaram-se
para fora de tais instituições, encontrando apoio na comunidade, no mercado de tráfico
de drogas e em várias entidades estatais. Internamente, as organizações criminosas
controlam os recursos ilegais que giram dentro das prisões, por exemplo, armas de fogo
e drogas e exercem ainda grandes influências nas decisões políticas tomadas na parte
externa dos presídios (BRAGA, 2014).
Os limites do crime extrapolam as demarcações territoriais extra muros já
alcançados e delimitados, com um desenvolvimento estratégico ocupam o sistema
prisional no qual aliciam e conquistam reclusos para se tornarem aliados e assim
realizarem as atividades intra muros, estabelecidas pelas facções com o objetivo de fixar
permanentemente a bandeira de sua facção. Este atual modelo de hostilidade faz com
que a instituição penitenciária se transforme em um cenário de conflitos entre
associações criminosas que visam o domínio e o poder, com rápida e vasta reverberação
no país, onde a sociedade acompanha tudo sem ter a possibilidade de agir (JÚNIOR,
2014).
No que se refere aos chefes do tráfico, esses mantêm uma relação de respeito,
apadrinhamento e consideração para com os moradores das favelas, porventura dos
ensinamentos adquiridos com outros presos políticos, ou seja, sujeitos reclusos que
exerceram cargos administrativos no Estado e que possuem poderes aquisitivos são
influenciadores das ideias dos líderes do tráfico que exercem poder nas favelas.
Atualmente os chefes do tráfico lideram através do sistema do terror, não comandam
somente às pessoas diferentes ao seu convívio, mas, identicamente, àqueles que residem
na comunidade. Esse comando é exercido através de ameaça, impedindo seja qual for o
conflito interno pelo poder e proporcionando o apoio destes moradores, por intercessão
do medo, aos seus fundamentos (MAIA, 2012).
Além da solidariedade ofertada à comunidade unida por laços de afinidade
construídos a partir das origens sociais e também na atividade criminal, essa prática cria
relações de dependência que concede uma reciprocidade traçada por gratidão, mas
também por uma dívida na qual todos aqueles que se filiam ao grupo sabem que de
qualquer forma poderá ser cobrada. O momento e a moeda pelos quais os benefícios
terão de ser retribuídos não são antecipadamente especificados, mas sabe-se pelas regras
rígidas estabelecidas por seus superiores que o pagamento terá que ser feito quando e
como solicitado, sendo a mais dura das penas, a execução (MATOS, 2012).
Sendo assim, o meio a ser capturado não está somente dentro dos
compartimentos de um presídio, há o momento de dominar as áreas urbanas, lugares
estratégicos e importantes da cidade para a negociação de drogas; as desavenças e
especulações de poder não se reúnem mais em disputas entre facções rivais. O Estado e
a comunidade são os mais recentes e disputados alvos, instalando-se uma “guerra” não
explicita entre o Estado civil e o poder paralelo dos traficantes (MAIA, 2012).
ANÁLISE E DISCURSÃO
Segundo Braga (2014), em seu estudo “A Identidade do preso e as leis do
cárcere”, relata que as rebeliões ocorrem geralmente em períodos nos quais a ordem
governamental em referência aos reclusos fica comprometida e fragilizada, sendo
usadas pelos cativos como um verdadeiro acerto de contas entre as facções rivais.
Diante disso, pode- se perceber que as rebeliões muitas das vezes surgem através
da busca de facções pelo poder dentro dos presídios, demarcação de territórios fora das
penitenciárias e o controle das regiões de vendas de drogas nas ruas.
Stochero (2017), em sua notícia publicada no Jornal Folha de São Paulo,
intitulada como “ENTENDA: o que a disputa nacional entre facções tem a ver com a
barbárie no presídio do Amazonas”, descreve que a rebelião foi gerada pela quebra da
parceria entre as facções que dominam o comércio de drogas no Rio de Janeiro, o
Comando Vermelho (CV), e em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Com as consequentes desavenças entre as mesmas pelo controle do comércio nacional
de entorpecentes é marcada por especialistas como a principal justificativa que levou a
facção Família do Norte (FDN) a matar 56 internos supostamente membros do PCC no
Complexo Penitenciário Anísio Jobim, na capital amazonense.
Esses movimentos resultam em um cenário de opressão e violência observados
dentro dos presídios brasileiros, pelos quais são considerados locais prolíferos para
implantação destas organizações criminosas, os criminosos atuam sobre o discurso da
“irmandade” e da autoproteção. A população carcerária vira peça de dominação dos
líderes destas facções, que regem o crime dentro e fora dos presídios.
No primeiro tópico do referencial teórico desse estudo “Um breve percurso
histórico sobre as rebeliões carcerárias”, Willer (2017) expõe que uma das maiores
organizações criminosas do país, especificadamente do estado de São Paulo organizou
uma grande rebelião que atingiu 29 presídios do estado, como represália pela
transferência de alguns detentos considerados chefes dos grupos.
Segundo dados da Associação Brasileia de Inteligência (ABIN) (2017) o início
do ano de 2017 trouxe consigo um novo ponto de uma história antiga. O massacre de
mais de 100 detentos chamou atenção para as rebeliões de facções criminosas dentro de
presídios brasileiros e expôs a instabilidade do sistema penitenciário nacional. Diante do
exposto, parte o seguinte questionamento: Seria a superlotação um dos motivos para
originar uma rebelião?
Segundo os últimos dados divulgados em 2014 pelo Sistema Integrado de
Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça (Infopen), o Brasil chegou à marca
de 607,7 mil presos. Desta população, 41% aguarda por julgamento atrás das grades. Ou
seja, há 222 mil pessoas presas sem condenação.
Esse cenário nos revela uma situação bastante delicada em que os internos são
expostos à tamanha violência, diante disso abre diversas oportunidades para que o crime
organizado atue, fazendo assim as suas próprias modificações dentro da esfera prisional.
A superlotação é resultado de falta de políticas públicas voltadas para esse tipo de
problema, e acaba por fim, mantendo presos provisórios junto com condenados.
A superlotação é um dos maiores problemas dos presídios no Brasil, tal
resultado é demonstrado de acordo com os dados de 2014 do Departamento
Penitenciário Nacional (Depen) mostram o crescimento gradual da população carcerária
no Brasil. Em 2004, o país tinha 336 mil presos. Dez anos depois, esse número quase
dobrou, com 622 mil, sendo 584,7 mil em prisões estaduais, 37,4 mil em carceragens de
delegacias e 397 nas quatro prisões federais em funcionamento no país. A quantidade de
vagas, porém, não acompanha o crescimento. Em 2014, o número de vagas era 371,8
mil.
Diante de uma realidade visível, pode-se ver na mídia desde o final de 2016,
vários presídios superlotados, intensificando assim guerras entre as facções originando a
morte de vários internos com destaque aos presídios os dos estados do Amazonas e de
Rondônia.
Borges (2016), em seu artigo “Usos da memória: entre a história do tempo presente e a
história pública” tem como finalidade definir o massacre do Carandiru, como um marco
simbólico na história do sistema penal brasileiro e a instituição do massacre como
metáfora para novas tragédias.
Todo o percurso histórico do Carandiru remete à uma atualidade de um passado
muito presente. Além de recolher internos, o mesmo era referência em estudos
científicos acerca dos delitos e das penas. Tornou-se o Complexo Penitenciário com a
finalidade de tratar o problema da superpopulação carcerária do estado, mas tal
finalidade favoreceu acontecimento de várias rebeliões. Diante disso torna-se mais fácil
questionar as circunstancias atuais do sistema penitenciário brasileiro, intensificando
uma lembrança de um massacre como metáfora diante do acontecimento novas
tragédias tão parecidas.
No segundo ponto do referencial teórico deste estudo “Os contextos intra e extra
prisional e suas influências nas rebeliões” aborda a dominação de outros territórios, fora
da dinâmica do ambiente prisional, ou seja, dominar ruas, favelas e comunidades. Braga
(2014), em seu estudo “A identidade do preso e as leis do cárcere” que tem por objetivo
analisar como as demandas institucionais e as regras do cárcere afetam e conformam o
indivíduo preso associado ao processo de prisionização.
Ela alega que as facções se articularam em termos organizacionais,
principalmente com a construção de estratégias internas e externas de comunicação,
manipulação e controle.
Diante do exposto as mesmas se proliferaram dentro dos presídios, esses grupos
ampliaram-se para fora de tais instituições, encontrando apoio na comunidade, no
mercado de tráfico de drogas e em várias entidades estatais. Mostrando assim poder e
dominação dentro da massa carcerária e exercem ainda grandes influências nas decisões
políticas tomadas na parte externa dos presídios.
Dessa forma, os limites do crime ultrapassam as demarcações territoriais extra
muros, pois como relata Júnior (2014) no estudo “Crise no sistema penitenciário e o
Panóptico” relata que a realidade carcerária, não se reduz somente com o aumento de
reclusos em pequenas celas e sim uma abrangência maior com as facções que atuam nas
lideranças dentro do sistema prisional do país, organizando ações internas e externas,
com total liberdade.
O autor ressalta que os chefes das facções aliciam e conquistam reclusos para se
tornarem aliados e assim realizarem as atividades intra muros, estabelecidas pelas
facções com o objetivo de fixar permanentemente a bandeira do grupo. Este atual
modelo de hostilidade faz com que a instituição penitenciária se transforme em um
cenário de conflitos entre associações criminosas que visam o domínio e o poder.
Maia (2012) no estudo referente “A origem do crime organizado no Brasil:
conceito e aspectos históricos” descreve em seus objetivos com intuito de simplificar o
conhecimento e analise do crime organizado brasileiro através de duas facções
criminosas brasileiras.
De fato, no que se refere aos chefes do tráfico, esse mantém uma relação de
respeito, apadrinhamento e consideração para com os moradores das favelas.
Atualmente os chefes do tráfico lideram através do sistema do terror, não comandam
somente às pessoas diferentes ao seu convívio, mas, identicamente, àqueles que residem
na comunidade. Esse comando é exercido através de ameaça para aquisição direta pelo
poder. Sendo assim, o meio a ser capturado não está somente dentro dos
compartimentos de um presídio, há o momento de dominar as áreas urbanas.
No terceiro tópico deste estudo “Formação das facções criminosas e relações de
poder” sob a ótica do poder conquistado e desenvolvido dentro do sistema penitenciário
pelas facções criminosas. Novais (2012) em seu estudo “Organizações criminosas
contemporâneas: aspectos conceituais e tipologia penal” tem como objetivo analisar
aspectos relevantes das facções criminosas hodiernas e seu tratamento jurídico penal.
O mesmo menciona que o surgimento e as características das relações de poder
dentro do fenômeno das rebeliões estão ligados de certo modo ao “Cangaço”, que é
apontado como um antecedente das primeiras organizações criminais brasileiras. Diante
disso para compreender aspectos atuais ligados as facções, se faz necessário questionar-
se acerca da evolução do crime organizado.
Segundo uma pesquisa feita pela A DW Brasil através de informações obtidas
pela pastoral carcerária do Estado de São Paulo, publicada no jornal O POVO em
janeiro de 2017, identificou que há no mínimo 83 organizações criminosas no País, o
maior número tem atuação estadual e local.
Muitas dessas associações usam siglas de identificação, porém nem todas
apresentam uma hierarquia organizada, e muitas são passageiras, pequenas e
desorganizadas. As mais conhecidas são, PCC – Primeiro Comando da Capital, tem o
domínio de 45% em trajetos internacionais do tráfico e tem atuação em todas as 27
unidades da federação, CV – Comando Vermelho controla 35% do tráfico de drogas no
país e com forte atuação, além do Rio de janeiro, em Roraima, Rondônia, Acre, Pará,
Amapá, Tocantins, Maranhão, Ceará, Bahia, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato
Grosso do Sul, Mato Grosso do Norte e Distrito Federal, a FDN - Família do Norte
comanda 20% do tráfico de drogas no Brasil exercendo poder nas regiões Manaus,
Roraima e Rio Grande do Norte.
Mediante os dados destacados pode-se verificar que a força para o surgimento
dessas facções está ligada diretamente ao tráfico ilícito de drogas e entorpecentes,
dentro e fora dos presídios. Portanto, quem domina os pontos estratégicos das unidades,
também controla uma região fora do presídio associada ao tráfico de drogas,
estabelecendo um círculo vicioso a partir da seleção dos internos para ingressarem no
grupo, anexando-os na marginalização.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise sobre o
fenômeno das rebeliões carcerárias diante das relações de poder. Além disso, também
permitiu uma pesquisa bibliográfica a respeito do tema para obtenção de dados
plausíveis sobre o contexto histórico das rebeliões, correlatar os cenários intra e extra
prisional e analisar sobre as relações de poder no sistema penitenciário.
Braga (2014) vem pesquisando há aproximadamente três anos, sobre a influência
do ambiente prisional sobre a personalidade do detendo. Pode-se perceber que um dos
métodos dos internos lidarem com as imposições institucionais é integrarem às essas
organizações informais, mais conhecidas como facções. Esses grupos, são representados
por líderes, que de alguma forma, são vistos como meios de força coletiva, onde o
detento se alia para fugir da personagem em que o sistema lhe inclui.
Dessa forma, através das pesquisas o presente trabalho buscou alcançar os seus
objetivos dentro dos estudos na esfera da segurança pública. Independentemente de
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