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FORTALEZA, CE
2022
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RESUMO. O presente trabalho discorre sobre a problemática das rebeliões que ocorrem
dentro do espaço penitenciário. Com o intuito de facilitar o conhecimento e compreensão
sobre a origem desse fenômeno, trataremos na pesquisa acerca do percurso histórico das
rebeliões, as relações intra e extra prisionais e as formas de poder dentro das prisões diante
de bibliografias que explanem sobreo tema. Para o desenvolvimento da coleta e análise
das informações deste trabalho foi adotado como técnica metodológica a revisão
bibliográfica e optou-se por aplicar a revisão narrativa de base qualitativa. O estudo
baseou-se em pesquisas na área do Direito e Segurança pública. Faz algum tempo estão
pesquisando sobre a influência do ambiente prisional acercada personalidade do detendo.
/O estudo confirma que consequentemente esse sistema acaba fortificando não só as
organizações criminosas, mas também o crime em si. É uma realidade com grandes
dificuldades de alterações, pois as facções não tem suas ações paralisadas mesmo com a
prisão da maioria dos seus integrantes, revelando assim o poder que as mesmas exercem
não só nos presídios como também no Estado. A pesquisa em si mostra que a ineficácia
de todo no nosso sistema penitenciário deu abertura para a criação de inúmeras
organizações criminosas que agem de forma sistematizada e distinta dentro deste próprio
sistema. Esses grupos criminosos têm um enorme poder de movimentação bem como
uma facilitação de aprovação entre os detentos. Pode-se perceber que um dos métodos
dos internos lidarem com as imposições institucionais é integrarem às essas organizações
informais, mais conhecidas como facções.
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MARTINS, Maykon Willamy de Albuquerque. O fenômeno das rebeliões prisionais:
uma investigação narrativa. 2022, conclusão do curso superior em Direito da
Universidade Estácio de Sá. FORTALEZA, CAMPUS PARANGABA, 2022.
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INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo principal entender o fenômeno social das
rebeliões prisionais, para tanto abordaremos as relações de poder, tal termo conceituado
por Michel Foucault. O interesse para tal pesquisa surgiu desde a minha vivência como
diretor da Cadeia Pública na cidade de Icó-Ce. E minha participação no projeto de
extensão “MUDA: pela humanização das relações prisionais”, realizado pelos alunos e
professores de psicologia e serviço social da Faculdade Vale do Salgado. Durante as
visitas sistemáticas realizadas durante o projeto, observou-se vários tipos de
reivindicações dos internos a respeito do encarceramento, como: alimentação e água.
Segundo Assis (2013) as rebeliões consistem em motins organizados pelos detentos de
forma violenta, porém esses movimentos consistem em manifestações e reclamações para
o beneficiamento de seus direitos e uma maneira de atrair olhares das autoridades para as
situações desumanas a qual os internos são submetidos dentro da esfera prisional.
Desta forma, verifica-se que algumas rebeliões são apresentadas como um meio
de recusa a fatores do encarceramento, de certa forma são vistas como uma forma de
diálogo ou de pressão e por meio delas os detentos podem ser ouvidos pelas autoridades
e sociedade (GRUNER, 2012).
Braga (2014) relata que diante das adversidades do sistema prisional, um fator que
permanece em evidência é o impacto das rebeliões sobre o governo e sobre a postura dos
encarcerados. Ocorrem geralmente em momentos nos quais o governo se encontra frágil
e com condições desfavoráveis em relação aos reclusos, portanto os cativos aproveitam a
situação delicada do governo e promovem verdadeiras guerras de acerto de contas com
as facções rivais, invadindo os espaços e acertam suas desavenças.
No ano de 2016 o Estado do Ceará vivenciou uma onda de rebeliões que segundo
a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (SEJUS) ocorreram devido a conflitos entre
os encarcerados. Todavia foram ouvidos rumores de que tais rebeliões surgiram por
motivo de reinvindicações por parte dos presidiários frente ao sistema prisional.
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1. REVISÃO DE LITERATURA
A superlotação dos presídios, devido ao número elevado de detentos, é
eventualmente o problema mais preocupante abrangendo as organizações prisionais. As
prisões se encontram cada vez mais sobrecarregadas de pessoas, oferecendo uma parcela
insignificante de dignidade ao encarcerado. Desse modo, as rebeliões que ocorrem podem
ser pensadas como uma estratégia de resistência a algum aspecto do encarceramento.
Essas são consideradas um meio, se não de diálogo, de pressão. Assim, os internos
conseguem ser ouvidos, não raro, até mesmo de fora das prisões (GRUNER, 2012).
O sistema carcerário no País se encontra arruinado. A instabilidade e as situações
subumanas que os detentos vivem é de extrema crueldade. As unidades prisionais se
transfiguram como depósitos humanos, nos quais a superlotação gera agressão sexual
entre presos, concebe a proliferação de doenças graves, as drogas são apreendidas
progressivamente, e o consideravelmente o mais categórico, apontado como o mais forte,
domina o mais fraco (ASSIS, 2013).
O sentido das rebeliões vem sofrendo mudanças no decorrer dos anos, ou seja,
elas não possuem os mesmos propósitos de antes, que estava relacionado ao desejo de
transformação da sociedade, alteração essa que se configura como um olhar mais atento
para as inúmeras necessidades dos internos, ou um momento que os detentos podiam
expressar suas queixas. As rebeliões ocorrem geralmente em períodos nos quais a ordem
governamental em referência aos reclusos fica comprometida e fragilizada, sendo usadas
pelos cativos como um verdadeiro acerto de contas entre as facções rivais. Os cárceres
aproveitam do clima tenso do Estado e invadem os espaços para que possam acertar as
suas desavenças (BRAGA, 2014).
Sendo assim, o presente estudo busca compreender o fenômeno das rebeliões a
partir de uma reflexão narrativa.
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ensinamentos adquiridos com outros presos políticos, ou seja, sujeitos reclusos que
exerceram cargos administrativos no Estado e que possuem poderes aquisitivos são
influenciadores das ideias dos líderes do tráfico que exercem poder nas favelas.
Atualmente os chefes do tráfico lideram através do sistema do terror, não comandam
somente às pessoas diferentes ao seu convívio, mas, identicamente, àqueles que residem
na comunidade. Esse comando é exercido através de ameaça, impedindo seja qual for o
conflito interno pelo poder e proporcionando o apoio destes moradores, por intercessão
do medo, aos seus fundamentos (MAIA, 2012).
Além da solidariedade ofertada à comunidade unida por laços de afinidade
construídos a partir das origens sociais e também na atividade criminal, essa prática cria
relações de dependência que concede uma reciprocidade traçada por gratidão, mas
também por uma dívida na qual todos aqueles que se filiam ao grupo sabem que de
qualquer forma poderá ser cobrada. O momento e a moeda pelos quais os benefícios terão
de ser retribuídos não são antecipadamente especificados, mas sabe-se pelas regras rígidas
estabelecidas por seus superiores que o pagamento terá que ser feito quando e como
solicitado, sendo a mais dura das penas, a execução (MATOS, 2012).
Sendo assim, o meio a ser capturado não está somente dentro dos compartimentos
de um presídio, há o momento de dominar as áreas urbanas, lugares estratégicos e
importantes da cidade para a negociação de drogas; as desavenças e especulações de
poder não se reúnem mais em disputas entre facções rivais. O Estado e a comunidade são
os mais recentes e disputados alvos, instalando-se uma “guerra” não explicita entre o
Estado civil e o poder paralelo dos traficantes (MAIA, 2012).
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ANÁLISE E DISCURSÃO
Segundo Braga (2014), em seu estudo “A Identidade do preso e as leis do cárcere”,
relata que as rebeliões ocorrem geralmente em períodos nos quais a ordem governamental
em referência aos reclusos fica comprometida e fragilizada, sendo usadas pelos cativos
como um verdadeiro acerto de contas entre as facções rivais.
Diante disso, pode- se perceber que as rebeliões muitas das vezes surgem através
da busca de facções pelo poder dentro dos presídios, demarcação de territórios fora das
penitenciárias e o controle das regiões de vendas de drogas nas ruas.
Stochero (2017), em sua notícia publicada no Jornal Folha de São Paulo, intitulada
como “ENTENDA: o que a disputa nacional entre facções tem a ver com a barbárie no
presídio do Amazonas”, descreve que a rebelião foi gerada pela quebra da parceria entre
as facções que dominam o comércio de drogas no Rio de Janeiro, o Comando Vermelho
(CV), e em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC). Com as consequentes
desavenças entre as mesmas pelo controle do comércio nacional de entorpecentes é
marcada por especialistas como a principal justificativa que levou a facção Família do
Norte (FDN) a matar 56 internos supostamente membros do PCC no Complexo
Penitenciário Anísio Jobim, na capital amazonense.
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Diante de uma realidade visível, pode-se ver na mídia desde o final de 2016, vários
presídios superlotados, intensificando assim guerras entre as facções originando a morte
de vários internos com destaque aos presídios os dos estados do Amazonas e de Rondônia.
Borges (2016), em seu artigo “Usos da memória: entre a história do tempo presente e a
história pública” tem como finalidade definir o massacre do Carandiru, como um marco
simbólico na história do sistema penal brasileiro e a instituição do massacre como
metáfora para novas tragédias.
Todo o percurso histórico do Carandiru remete à uma atualidade de um passado
muito presente. Além de recolher internos, o mesmo era referência em estudos científicos
acerca dos delitos e das penas. Tornou-se o Complexo Penitenciário com a finalidade de
tratar o problema da superpopulação carcerária do estado, mas tal finalidade favoreceu
acontecimento de várias rebeliões. Diante disso torna-se mais fácil questionar as
circunstancias atuais do sistema penitenciário brasileiro, intensificando uma lembrança
de um massacre como metáfora diante do acontecimento novas tragédias tão parecidas.
No segundo ponto do referencial teórico deste estudo “Os contextos intra e extra
prisional e suas influências nas rebeliões” aborda a dominação de outros territórios, fora
da dinâmica do ambiente prisional, ou seja, dominar ruas, favelas e comunidades. Braga
(2014), em seu estudo “A identidade do preso e as leis do cárcere” que tem por objetivo
analisar como as demandas institucionais e as regras do cárcere afetam e conformam o
indivíduo preso associado ao processo de prisionização.
Ela alega que as facções se articularam em termos organizacionais, principalmente
com a construção de estratégias internas e externas de comunicação, manipulação e
controle.
Diante do exposto as mesmas se proliferaram dentro dos presídios, esses grupos
ampliaram-se para fora de tais instituições, encontrando apoio na comunidade, no
mercado de tráfico de drogas e em várias entidades estatais. Mostrando assim poder e
dominação dentro da massa carcerária e exercem ainda grandes influências nas decisões
políticas tomadas na parte externa dos presídios.
Dessa forma, os limites do crime ultrapassam as demarcações territoriais extra
muros, pois como relata Júnior (2014) no estudo “Crise no sistema penitenciário e o
Panóptico” relata que a realidade carcerária, não se reduz somente com o aumento de
reclusos em pequenas celas e sim uma abrangência maior com as facções que atuam nas
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lideranças dentro do sistema prisional do país, organizando ações internas e externas, com
total liberdade.
O autor ressalta que os chefes das facções aliciam e conquistam reclusos para se
tornarem aliados e assim realizarem as atividades intra muros, estabelecidas pelas facções
com o objetivo de fixar permanentemente a bandeira do grupo. Este atual modelo de
hostilidade faz com que a instituição penitenciária se transforme em um cenário de
conflitos entre associações criminosas que visam o domínio e o poder.
Maia (2012) no estudo referente “A origem do crime organizado no Brasil:
conceito e aspectos históricos” descreve em seus objetivos com intuito de simplificar o
conhecimento e analise do crime organizado brasileiro através de duas facções criminosas
brasileiras.
De fato, no que se refere aos chefes do tráfico, esse mantém uma relação de
respeito, apadrinhamento e consideração para com os moradores das favelas. Atualmente
os chefes do tráfico lideram através do sistema do terror, não comandam somente às
pessoas diferentes ao seu convívio, mas, identicamente, àqueles que residem na
comunidade. Esse comando é exercido através de ameaça para aquisição direta pelo
poder. Sendo assim, o meio a ser capturado não está somente dentro dos compartimentos
de um presídio, há o momento de dominar as áreas urbanas.
No terceiro tópico deste estudo “Formação das facções criminosas e relações de
poder” sob a ótica do poder conquistado e desenvolvido dentro do sistema penitenciário
pelas facções criminosas. Novais (2012) em seu estudo “Organizações criminosas
contemporâneas: aspectos conceituais e tipologia penal” tem como objetivo analisar
aspectos relevantes das facções criminosas hodiernas e seu tratamento jurídico penal.
O mesmo menciona que o surgimento e as características das relações de poder
dentro do fenômeno das rebeliões estão ligados de certo modo ao “Cangaço”, que é
apontado como um antecedente das primeiras organizações criminais brasileiras. Diante
disso para compreender aspectos atuais ligados as facções, se faz necessário questionar-
se acerca da evolução do crime organizado.
Segundo uma pesquisa feita pela A DW Brasil através de informações obtidas pela
pastoral carcerária do Estado de São Paulo, publicada no jornal O POVO em janeiro de
2017, identificou que há no mínimo 83 organizações criminosas no País, o maior número
tem atuação estadual e local.
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ajuda para que o mesmo se sinta seguro dentro da unidade. Outra observação importante,
é que se o interno não fazia parte de nenhuma facção, no momento em que o detento
adentra no presídio, o mesmo é induzido a isso, pois ele acaba por depender delas para
ter as mínimas garantias de vida, como assistência médica, assistência de jurídica,
material, entre outras.
No estudo de Assis et al (2012) sobre “Objetivo das prisões, ressocialização ou
punição?” apresenta como referência a visão de uma entidade constituída pelos internos
com um conjunto de regras que lhe é específico, objetivando fundamentar a princípio o
destaque do acrescentamento de poder sobre os demais, os internos que se destacam nessa
sociedade são aqueles considerados os mais fortes ou os mais poderosos.
O estudo confirma que consequentemente esse sistema acaba fortificando não só
as organizações criminosas, mas também o crime em si. Se faz necessário que a prisão
reeduque o interno e não somente tire o delinquente da sociedade. Todavia nesse ponto
podemos elencar um questionamento: O que fazer se o criminoso é retirado da facção do
morro e é colocado na mesma facção dentro do presídio? Uma vez que o Estado pouco
se manifesta para esse tipo de situação.
Perante o exposto, os grupos criminosos agem visando atingir não só o estado
como também os funcionários das penitenciárias, segundo as informações do Jornal O
GLOBO, a morte da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, 37 anos, que exercia suas
funções em um presídio federal, em maio deste ano, foi encomendada pelo Primeiro
Comando da Capital (PCC). Segundo o noticiário, essa é a terceira morte de funcionário
de presídios federais ordenada pelo PCC, que tem monitorado trabalhadores. O Ministério
Público do Paraná afirmou que a intenção da facção seria de intimidar os agentes
penitenciários e demais funcionários, relatam também que o regime das penitenciárias
federais é considerado "opressor" pelo PCC.
Mediante o exposto, a pesquisa em si mostra que a falta de coordenação do nosso
sistema penitenciário deu abertura para a criação de inúmeras organizações criminosas
que agem de forma sistematizada e distinta dentro deste próprio sistema. Esses grupos
criminosos têm um enorme poder de movimentação bem como uma facilitação de
aprovação entre os detentos. É uma realidade com grandes dificuldades de alterações,
pois as facções não tem suas ações paralisadas mesmo com a prisão da maioria dos seus
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integrantes, revelando assim o poder que as mesmas exercem não só nos presídios como
também no estado.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise sobre o fenômeno
das rebeliões carcerárias diante das relações de poder. Além disso, também permitiu uma
pesquisa bibliográfica a respeito do tema para obtenção de dados plausíveis sobre o
contexto histórico das rebeliões, correlatar os cenários intra e extra prisional e analisar
sobre as relações de poder no sistema penitenciário.
Braga (2014) vem pesquisando há aproximadamente três anos, sobre a influência
do ambiente prisional sobre a personalidade do detendo. Pode-se perceber que um dos
métodos dos internos lidarem com as imposições institucionais é integrarem às essas
organizações informais, mais conhecidas como facções. Esses grupos, são representados
por líderes, que de alguma forma, são vistos como meios de força coletiva, onde o detento
se alia para fugir da personagem em que o sistema lhe inclui.
Dessa forma, através das pesquisas o presente trabalho buscou alcançar os seus
objetivos dentro dos estudos na esfera da segurança pública. Independentemente de
caracterizarem oposições do sistema e desprenderem o indivíduo de algumas medidas
institucionais, os grupos faccionistas dominam os seus integrantes dentro de seu exclusivo
controle. Ao pertencer à essas organizações não faz do interno um ser livre e so leva ao
fortalecimento da mesma.
Deste modo, espera-se que esse estudo venha contribuir e possa servir de base
para outras pesquisas relacionadas ao tema citado, pois o mesmo desperta cada vez mais
atenção da sociedade e requer melhor compreensão no que consiste esse fenômeno social.
REFERÊNCIAS
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