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O AUTISMO NUMA PERSPECTIVA

HUMANISTA:
UMA ABERTURA PARA O OUTRO

Professor: Bruno de Morais Cury


Acadêmicos: Renan Willian Velho da
Silva e Thiago de Paiva Campos
 Minha confiança é no
processo pelo qual a
verdade é descoberta,
alcançada e
aproximada. Não é uma
confiança na verdade já
conhecida ou formulada
(Carl Ransom Rogers)
A visão que será apresentada é
nova, pouco divulgada, e, não
menos, polêmica, mas,
considerando que não existe uma
origem definida para o autismo,
sentimo-nos à vontade para dizer de
nossa crença e conseqüente “tese”.
 “Não há regras científicas aqui; não
há um sistema de fatos,
previamente dados, que mapeará
todo o caminho, para nós. Estamos
sempre nos movendo na direção de
territórios novos’’ (Midgley, 1991).
Medicina x Humanismo
 De acordo com a Psiquiatria Médica, o
autismo é uma inadequação no
desenvolvimento que tem início em crianças
até os três anos de idade e se manifesta por
toda a vida. É incapacitante, com graves
distúrbios emocionais (psíquicos), levando o
indivíduo a um isolamento, ou seja, um
distanciamento do mundo e das pessoas,
resultando em uma falta de comunicação.
Medicina x Humanismo
A maioria dos indivíduos autistas
carece de espontaneidade, iniciativa
e criatividade na organização de
seu tempo de lazer e tem
dificuldade em aplicar
conceitualizações em decisões no
trabalho. (CID-10. 1993)
Tendência Atualizante
 “Qualquer ser humano
carrega em sua própria
natureza, em potencial,
a capacidade de se
reconhecer e de
compreender a si
mesmo, para alcançar a
sua satisfação e a
eficácia necessária ao
seu desenvolvimento e
ao seu funcionamento
adequados”.
Relação
 Lopes (2005) citando Rogers (1977)
diz que este nos ensina que é a
partir de uma relação humana
dotada de certas condições
favoráveis a aceitação de si e ao
pleno desenvolvimento que um
processo de mudança interna,
visceral pode se instaurar.
Relação
 Nesse tipo de relação, deve acontecer um
encontro profundo onde me aproximo o mais
possível do fluxo experiencial daquela
pessoa que ali está, a fim de oferecer-lhe
uma compreensão empática desse vivido.
Assim, é preciso confiar na sabedoria
advinda desse encontro. Lopes ainda precisa
o pressuposto para que um trabalho com
crianças seja possível:
A criança
 “A criança é uma pessoa em
desenvolvimento. Possui em si todos os
instrumentos que a possibilita evoluir e
desenvolver-se e uma tendência a
utilizar tais instrumentos, desde que lhe
sejam dadas condições favoráveis para
tanto. Estrutura sua identidade na
relação afetiva com os adultos de
referência”.
A criança
 Nos primeiros anos de vida, sua
principal via de relação com o outro e
experimentação do mundo é
basicamente o corpo e a comunicação
não-verbal. Diferencia-se do adulto não
em status, mas em experiência e
consciência de vida, percepção de si
mesmo e do mundo. (LOPES, 2005)
O autismo numa perspectiva
humanista – uma abertura para o
outro
 RESUMO
Este trabalho pretende compreender as
necessidades especiais em uma diferente
perspectiva, considerando os aspectos afetivo-
emocionais no desenvolvimento humano e
aplicando estes princípios numa Instituição em
Barbacena/MG. Propõe, ainda, como ajudar estas
pessoas a encontrarem novas possibilidades de
crescimento e melhores condições relacionais.
Objetivos
 Melhorar a vivência, a comunicação e o
relacionamento interpessoal em indivíduos que
apresentam necessidades especiais, através de
práticas terapêuticas como ludo e musicoterapia.
Procura focar o bem estar emocional da criança e
o intuito é propiciar um espaço de escuta
diferenciada que possibilite a compreensão de suas
atitudes.
Justificativa
 Estudos desta natureza destinam-se a
confirmar hipóteses levantadas nesta mesma
Instituição, no período de agosto de 2007 a
agosto de 2008, onde os resultados serão
apresentados a seguir. Na ocasião, o estágio
foi iniciado por dois estagiários que se
preocuparam em como tornar melhores
estas crianças.
Metodologia--Amostra
Metodologia
 A amostra foi composta por três crianças da
Escola de Educação Especial da cidade de
Barbacena-MG. A idéia do projeto surgiu a
partir de vínculo com a música e dos
benefícios que ela trouxe na comunicação
com o ambiente, com as pessoas e com os
próprios estagiários.
Procedimentos
 O objetivo foi estudar o caráter evolutivo do
afeto, sociabilidade, responsabilidade,
reorganização da estrutura psíquica e
linguística, considerando os limites
biológicos e psicodinâmicos das crianças
observadas. Para tanto, os estagiários iam
duas vezes por semana à Instituição e
ficavam em torno de 1 hora e meia com as
crianças.
Procedimentos
 Foram utilizados diversos instrumentos
musicais e tipos de música, incluindo a
clássica, onde foi alcançado diversos
resultados bem como observações e
intervenções enriquecedoras que nos
motivou a levar o trabalho adiante.
Resultados e discussão
 A experiência vivenciada com as três
crianças da Instituição em Barbacena/MG –
João, Paula e Raquel (nomes fictícios),
mostrou o quão eficaz a musicoterapia
aliada à nossa crença de desenvolvimento
humano pode ser. As três crianças citadas
acima possuem (possuíam?) diagnósticos
diferentes e não finalizados pela Instituição,
mas, são vistas pela mesma como crianças
com características autistas
Resultados e discussão
 As habilidades sócio-afetivas, responsivas de
caráter linguísitico, psicomotoras e entendimento
simbólico do ambiente familiar e institucional
mostraram-se bem além do esperado por nós. A
evolução de João foi mais trabalhosa e nos exigiu
mais, desde a retirada do espelho da sala onde
eram realizados os encontros até a mudança de
ambiente desta mesma sala para o pátio. Neste
período em que ficamos no pátio, João não se
mostrou mais agressivo, o que facilitou o
segmento do projeto.
Resultados e discussão
 No decorrer dos encontros seguintes fomos
observando as evoluções que foram relatadas
pelos professores e diretores de Raquel, que se
mostrava mais solta e mais alegre. Paula começou
a esboçar palavras e a falar algumas como papai,
vovó e estava mais afetiva com os estagiários.
João estava mais agressivo, o que nos preocupou
muito e que nos fez procurar outras pessoas que
trabalhavam diretamente com as crianças para
podermos obter mais informações sobre como
eram seus comportamentos com os monitores, o
que foi extremamente válido.
Meu filho, meu mundo
 Uma história
também real,
representada
pelo filme “Meu
filho, meu
mundo” (EUA,
1979) ajudou a
fundamentar
nosso trabalho.
Meu filho, meu mundo
 O casal Barry e Samahria Kaufman no
início dos anos 70, ouviram dos
especialistas que não havia esperança de
recuperação para seu filho Raun,
diagnosticado com autismo severo e um
QI abaixo de 40. Decidiram, porém,
acreditar na ilimitada capacidade humana
para a cura e o crescimento, e puseram-se
à procura de uma maneira de aproximar-
se de Raun.
Meu filho, meu mundo
 Foi a partir da
experimentação intuitiva e
amorosa com Raun, há cerca
de 30 anos atrás, que eles
desenvolveram o Programa
Son-Rise que hoje é utilizado
em todo o mundo.
Meu filho, meu mundo
 Raun se
recuperou de
seu autismo
após 3 anos e
meio de
trabalho
intensivo com
seus pais.
Meu filho, meu mundo
 Raun cursou uma
universidade
altamente
conceituada e agora
trabalha no Autism
Treatment Center of
América, fundado por
seus pais em
Massachusetts, nos
EUA.
Programa Son-
Son-Rise
 Desde a recuperação de Raun,
milhares de crianças utilizando o
Programa Son-Rise têm se
desenvolvido muito além das
expectativas convencionais,
algumas delas apresentado
completa recuperação.
Programa Son-
Son-Rise
 O Programa Son-Rise é centrado na
criança (ou no adulto com autismo). Isto
significa que o tratamento parte do
desenvolvimento inicial de uma
profunda compreensão e genuína
apreciação da criança, de como ela se
comporta, interage e se comunica,
assim como de seus interesses.
Programa Son-
Son-Rise
 O Programa Son-Rise descreve isto como
o “ir até o mundo da criança”, buscando
fazer a ponte entre o mundo convencional
e o mundo desta criança em especial.
Com esta atitude, o adulto facilitador vê a
criança como um ser único e maravilhoso,
não como alguém que precisa “ser
consertado”, e pergunta-se “como eu
posso me relacionar e me comunicar
melhor com essa criança?”
Programa Son-
Son-Rise
 Quando a criança sente-se
segura e aceita por este
adulto, maior é a sua
receptividade ao convite para
interação que o adulto venha
a fazer. (Fonte: Site
Inspirados pelo autismo)
Programa Son-
Son-Rise
A visão convencional do
autismo é a de uma condição
permanente e irreversível. O
autismo é visto como uma
tragédia e as crianças são
vistas como defeituosas e com
a necessidade de conserto.
Programa Son-
Son-Rise
 As pessoas do Inspired by
Autism Consulting (Inspirados
pelo Autismo Consultoria)
adotam uma perspectiva bem
diferente – uma de esperança e
crença em possibilidades
ilimitadas.
Programa Son-
Son-Rise
 Nós temos observado que o autismo
não precisa ser uma condição para toda
a vida, e que crianças com autismo
sentem-se motivadas para aprender e
interagir quando são oferecidos a elas
ambientes físicos e sociais otimizados.
Eles fazem, ainda, uma interessante
associação de ações baseadas em
crenças:
Inspirados pelo Autismo
Consultoria
 (...) se adotamos a crença de que o autismo
é uma condição permanente e irreversível,
esta crença direcionará nossas ações.
Guiados por esta crença, faz sentido que não
tentemos reverter o autismo, mas apenas
administrá-lo. Isto explica o porquê de tantas
abordagens de tratamento focarem no
manejo de comportamentos e ensino de
habilidades básicas de auto-ajuda ao invés
de trabalharem com a essência da questão –
o desejo por interação social.
Programa Son-
Son-Rise
 Os fundadores do Programa Son-Rise,
Barry e Samahria Kaufman, escolheram
intencionalmente acreditar em algo
diferente em relação ao autismo de seu
filho. Eles decidiram acreditar que era
possível aproximar-se dele apesar de
ser tão introspectivo, e de não
possuírem nenhuma “evidência” como
suporte para esta crença.
Barry e Samahria Kaufman
 Eles decidiram acreditar assim mesmo.
As ações que se seguiram após esta
decisão formaram as técnicas e
atitudes do que hoje é chamado
Programa Son-Rise. Os resultados
observados por eles ajudaram a
fortalecer a crença na reversibilidade do
autismo, e eles passaram a trabalhar
com outras crianças.
Barry e Samahria Kaufman
A questão não é
saber qual
perspectiva está
certa, mas qual
perspectiva é a
mais útil.
Conclusão
 De acordo com Lopes (2005), é a partir
das relações afetivas que a criança vai
estabelecendo com as pessoas
significativas, com os objetos e com o
mundo que ela vai constituindo sua
forma de existência atual que,
conseqüentemente lhe dirá da sua
existência quando adulta.
Conclusão
 Segundo Margareth Mahler (1977), o
desenvolvimento psicológico da
criança, é o que vai fazer com que ela
saia gradativamente de seu mundo
interior, de uma relação de
dependência e simbiose, para uma
relação de autonomia e individuação
em direção ao mundo exterior.
Raun K. Kaufman
 “Ter esperança apenas
ajuda, nunca causa
danos. Quando eu fui
diagnosticado com
autismo de grau severo,
meus pais decidiram
ver possibilidades onde
outros não viam
nenhuma saída, e foi
essa perspectiva que
possibilitou minha
recuperação completa”
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
Bruscia, Kemaeth E – Definindo Musicoterapia – Tradução Marisa Velloso
Fernandes Conde – 2 ed, RJ, Enelivros: 2000.
LOBO, E.C. Psicopatologia: uma visão humanista. Trabalho apresentado na V
Jornada da Clínica de Psicologia da PUC MG (08/10/96) e no IV Encontro Mineiro de
Psicologia Humanista (25/10/96).
 LOPES, J. S. O atendimento à criança: uma proposta Humanista relacional.
Palestra apresentada no na Semana de Psicologia do Unicentro Newton Paiva, 2005.
 MAHLER, Margaret S. O nascimento psicológico da criança. Rio de Janeiro,
Zahar Editores, 1977.
 MIDGLEY, M – Can’t We Make Moral Judgements? N.Y.:St. Martin’s Press 1991.
 ROGERS, Carl. R. & KINGET, G. Marian. Psicoterapia e Relações Humanas:
teoria e prática da terapia não-diretiva .2a. ed. Belo Horizonte, Interlivros, 1977.
 CID-10 1993
 DSM-IV-TR 2004
 Inspirados pelo autismo. Disponível em:
 <http://autismoemfoco.googlepages.com/programason-rise> Acesso em: 01 Maio.
2008.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
AXLINE, VIRGÍNIA MAE, Ludoterapia - a dinâmica interior da criança. Belo
Horizonte: Interlivros, 1984
 LAPIÉRRE, A. & AUCOUTURIER, B. Fantasmas corporais e práticas psicomotoras.
São Paulo: Ed. Manole, 1984.
 LAPIERRE, A. Da psicomotricidade relacional à análise corporal da relação. Curitiba:
Ed. UFPR, 2002.
 LAPIERRE, A. & LAPIERRE, A. Educação vivenciada. V. I – Os contraste. V. II -
Associação de contrastes, estruturas e ritmos. VIII – As

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