Você está na página 1de 8

Relaçõ es Precoces

0 - INTRODUÇÃO
O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de Psicologia B, leccionada pelo
docente Eduardo Pereira, que solicitou a elaboração de um trabalho subordinado ao
tema “Relações Precoces”.

 Relações precoces são as primeiras interações entre a criança e quem cuida dela


(mãe, pai, educadora...). Têm um papel fundamental no desenvolvimento do bebé até
a chegada da construção final do eu.

Quando falamos em relações precoces inevitavelmente falamos também em


desenvolvimento social. Estas relações e todas as que desenvolvemos ao longo da
vida explicam o que pensamos, sentimos e aprendemos. Deste modo as relações
precoces são fundamentais na construção das relações com os outros e na
construção do EU.

Assim, este trabalho tem como principal objectivo adquirir e aprofundar conhecimentos
dentro desta temática, Relações Precoces, e servir como instrumento de avaliação á
disciplina de Psicologia B.

A estrutura do trabalho encontra se organizada numa breve introdução, seguida de


três subtemas: O que são as relações precoces; A estrutura da relação do bebé com a
mãe; O papel as relações precoces no tornar-se humano; finaliza com uma reflexão
crítica sobre o mesmo assunto.

Psicologia B 3
Relaçõ es Precoces

1 - O QUE SÃO AS RELAÇÕES PRECOCES


Todos os seres humanos nascem inacabados, ou seja, é depois do nascimento que
estes desenvolvem as suas capacidades.

Como referido anteriormente, as relações precoces são as primeiras interações


entre a criança e quem cuida dela (mãe, pai, educadora...). Durante a gravidez, à
medida que o bebé se desenvolve dentro do ventre materno, o corpo da
mãe/portadora muda por completo. Mas os nove meses de gravidez não servem
apenas para dar tempo ao feto de crescer, ganhar peso e, assim, nascer saudável.
Este é também um período de oportunidade para a mãe e a família se prepararem
para a chegada de mais um elemento, assumirem novos papéis e, deste modo, se
conectarem ao novo ser.

Segundo Chiesa “O vínculo é um processo sútil, que proporciona uma troca profunda,
muito além da transmissão de nutrientes entre a mãe e o bebé” Porém, atualmente,
diz-se que vinculação é qualquer comportamento de proximidade entre o bebé e a
pessoa que cuida do mesmo e não só da mãe e do bebé. Pois a noção de figura de
vinculação tem sido progressivamente redefinida, ultrapassando hoje largamente a
figura da mãe e, mais ainda, da mãe biológica. É susceptível de se tornar figura de
vinculação qualquer pessoa (homem ou mulher) que se envolva numa interacção viva
e duradoura com o bebé. A ideia, veiculada pelas primeiras teorias da vinculação, de
que as mulheres estariam por natureza mais inclinadas para criar os filhos e
estabelecer laços afectivos com os bebés do que os homens foi progressivamente
posta em causa e abandonada.

Estas mudanças de paradigma são importantes para todos os homens, mulheres e


crianças, pois questionam a incapacidade de os homens serem cuidadores
qualificados e a ideia de maternidade como essência feminina, inibidora da
prossecução e compatibilização de um projecto de carreira e realização profissionais.
As crianças podem vincular-se a múltiplas figuras e o seu desenvolvimento não está
dependente do sexo dos cuidadores, mas da qualidade do afeto.

Apesar de os bebés nascerem inacabados estes são indivíduos com características


precoces específicas, como é o caso da visão, da audição, do olfacto, do paladar e do
tato, mas também possuem comportamentos como o sorriso, choro e as vocalizações
que já fazem parte da vinculação precoce. Porém, muitos destes comportamentos e
características já ocorrem durante a gestação.

Psicologia B 4
Relaçõ es Precoces

Por exemplo, o desenvolvimento das papilas gustativas inicia-se às 8 semanas de


gestação, e às 12 semanas já se sente e responde ao toque em todo o organismo.
Mas a preocupação mais recorrente dos pais é se o feto ouve quando falam com ele
ou quando põem música perto da barriga. A resposta é sim, o feto consegue identificar
sons dentro do ventre materno.

2 - A ESTRUTURA DA RELAÇÃO DO BEBÉ COM A MÃE

A vinculação é a tendência dos bebés para nos primeiros tempos de vida


permanecerem junto da “mãe”, deste modo estabelecem laços positivos com o
progenitor ou com o adulto de que dependam. As relações estabelecidas com o meio
e com as pessoas que rodeiam o bebé são cruciais para lhe assegurar um devido
desenvolvimento e sobrevivência: abrigo, conforto, segurança etc. Esta relação
manifesta-se pelo choro, pela fome, pelo riso etc. A importância desta relação será
precisamente o asseguramento do bebé de que está vinculado a alguém que se
importa com ele e que zela pela segurança do mesmo, com isto será estruturada uma
sexualidade, uma regulação emocional e diferentes interações sociais positivas.

A Investigação de Bowlby

Nascido em Londres, Inglaterra, a 26 de Fevereiro de 1907, John Bowlby foi um


psicólogo que desenvolveu variadas investigações entre as histórias da infância e as
alterações do comportamento, desenvolveu a teoria da Vinculação baseada em dois
artigos que o influenciaram na compreensão das relações na família. Esta teoria teve
como objetivo estabelecer a importância das relações precoces entre os progenitores
e as crianças. A teoria surge em 1958 quando Bowlby e Harry Harlow publicam dois
artigos que acidentalmente se complementam pois embora com propósitos distintos
ambos serviram para provar o mesmo: “A proximidade física do progenitor é uma
necessidade inata, primária, essencial ao desenvolvimento mental do ser humano e ao
desenvolvimento da sociabilidade”. A investigação de Bowlby procurou esclarecer a
importância das relações precoces entre progenitores e crianças, onde concluiu que a
separação dos pais tem efeitos negativos no desenvolvimento psicológico e físico das
crianças, de modo a que a vinculação dos progenitores responde essencialmente às
questões de proteção e socialização. Bowlby desenvolveu também a “Teoria do
Apego” onde entendeu que o ser humano se aproxima das pessoas de maneira
instintiva para conseguir criar vínculos que lhes possam ser úteis. Exemplo disto é
mais uma vez o bebé, a criação vincular que tem com o seu progenitor funciona
especialmente devido à necessidade que ele tem do progenitor, vejamos o exemplo,

Psicologia B 5
Relaçõ es Precoces

se o bebé não se consegue alimentar sozinho, ele vai depender do progenitor para o
alimentar e para lhe “encontrar” alimento e desta forma cria um apego para com o
mesmo.

Outras Investigações:

Para além de Bowlby, várias foram as pessoas que se mostraram interessadas neste
ramo das investigações, Mary Ainsworth foi uma psicóloga norte americana conhecida
pela sua investigação na teoria do apego, “A Situação Estranha”, “A Situação
Estranha” foi uma investigação usada para estudar os bebés e de que forma é que
eles equilibram a sua necessidade de apego e autonomia em diferentes níveis de
stress. Nesta investigação, a investigadora colocava uma mãe e o filho com cerca de
um ano de idade numa sala com brinquedos para que o bebé pudesse brincar e
observava as interações de ambos antes e depois da introdução de uma pessoa
desconhecida na sala. A situação estranha incluia momentos em que a mãe saia da
sala e deixava o bebé com o desconhecido, para logo regressar.

Para Ainsworth, a informação mais relevante sobre o vínculo mãe-filho não era
proveniente da reação do bebé quando a mãe saía, mas de como reagia ao seu
regresso, e sugeriu que as reações do bebé depois de voltar a reunir-se com a mãe
indicam três modelos ou tipos de apego.

Vinculação segura: cerca de 70% dos bebés dos estudos de Ainsworth apresentaram
este tipo de apego, em que eles utilizavam a mãe como base segura a partir da qual
faziam explorações. Mostravam mal-estar se a mãe saía da sala, mas brincavam
tranquilamente, inclusive na presença de um desconhecido, sempre que a mãe não
estivesse acessível.

Vinculação evitante: cerca de 15% dos bebés apresentaram este tipo de apego. Estes
bebés pareciam indiferentes à mãe e apenas reagiam quando esta deixava a sala.
Consolavam-se tanto com o desconhecido como com a mãe.

Vinculação insegura: os restantes 15% dos bebés apresentavam este tipo de apego.
Mostravam receio perante o desconhecido, inclusive na presença da mãe. Quando
esta saía da sala davam provas de intenso mal-estar, mas continuavam aborrecidos e
resistiam ao contacto com ela quando regressava.

Segundo Ainsworth o tipo de apego é maioritariamente definido pela sensibilidade da


mãe, uma mãe sensível é uma mãe que entende as necessidades do bebé e que

Psicologia B 6
Relaçõ es Precoces

deste modo consegue responder às mesmas, desenvolvendo com o mesmo uma


relação de vinculação segura.

3 - O PAPEL, AS RELAÇÕES PRECOCES NO TORNAR-SE


HUMANO

Como já abordamos anteriormente, o bebé humano vem equipado com um sistema


de comportamento instintivos que lhe permite estabelecer uma relação privilegiada
com a figura de vinculação. Esta experiência precoce de sociabilidade interfere no
comportamento e na saúde mental dos indivíduos nos mais variados domínios e nos
diferentes momentos do seu desenvolvimento, pois, tal como a investigação tem
mostrado, o estilo de vinculação de cada pessoa marca o modo como ela constrói e
dinamiza as suas relações consigo mesma e com os outros ao longo da vida. Por
outro lado, são também inúmeras as fontes que nos dão provas de que a privação de
afeto na primeira infância pode ter efeitos duradouros e devastadores no
desenvolvimento.

Um dos pioneiros no estudo sobre o papel das relações precoces para o


desenvolvimento infantil foi René Spitz. Para este psicanalista, a carência de cuidados
maternos, de ternura, de relações interpessoais e de comunicação eram a principal
causa das elevadas taxas de mortalidade e de morbilidade entre as crianças
recolhidas em instituições.

Em 1946, Spitz identificou duas enfermidades que ocorrem por privação afectiva
precoce depois de se terem estabelecido vínculos. A depressão anaclítica (resultante
de privação afectiva parcial) e a síndrome de hospitalismo (consequência de privação
afectiva total e duradoura). Quando falamos em depressão anaclítica referimo-nos a
um estado depressivo precoce que ocorre em bebés a partir dos 6 meses de vida
como consequência de rutura na relação com o agente maternante devido a
separação ou negligência. Já a síndrome de hospitalismo decorre da rutura total e
duradoura da relação afectiva precoces durante os primeiros 18 meses de vida.

Diversos estudos clínicos recentes parecem também confirmar que o alheamento e


negligência nos cuidados parentais podem gerar consequências traumáticas, tornando
a criança vulnerável a transtornos futuros.

Depois de décadas de pesquisa centrada nos riscos, na vulnerabilidade e na


psicopatologia, é na década de 1980 que ocorre uma mudança de paradigma e se
introduz, em psicologia, o conceito de resiliência. Ser resiliente prossupõe, por um

Psicologia B 7
Relaçõ es Precoces

lado, resistência à destruição e, por outro lado, capacidade para reconstruir e


reconstruir-se sob circunstâncias desfavoráveis. A resiliência, enquanto capacidade de
adaptação positiva a situações humanas ou naturais adversas, engloba dois conceitos
fundamentais: factores de risco (no qual se podem incluir os factores centrados na
criança, como na patologia; ligados à configuração familiar, como a violência
doméstica; e socio ambientais, como a pobreza) e factores de protecção, isto é, os
recursos pessoais, familiares ou extrafamiliares que atenuam ou neutralizam o impacto
do risco e permitem fazer face à situação, nomeadamente saber e poder procurar
ajuda.

Não há resiliência se não houver factores de protecção. Estes factores alternativos


incluem, por vezes, aproximação a um tutor de resiliência, uma pessoa que passa a
fazer parte da vida da criança, como um professor atento ou um vizinho protector,
alguém disponível que se cruza no seu caminho e com quem ele cria um vínculo.

Um dos estudos pioneiros mais citados quando falamos em resiliência deve-se à


psicóloga Emmy Werner. Durante cerca de três décadas, Werner coordenou um
estudo longitudinal que acompanhou 698 crianças no Havai, nascidas no ano de 1955.
Cerca de 30% da população da população estudada nasceu e cresceu em situação de
pobreza extrema e foi criada por famílias marcadas pela discórdia crónica, dissolução,
violência, doença mental e alcoolismo parental, abusos de várias ordens. Apesar dos
riscos a que estavam expostas, Werner constatou que 1 em cada 3 destas crianças
conseguiu superar as adversidades, encontrar factores de protecção e ultrapassar
positivamente as vicissitudes, construindo-se como adulto competente, confiante e
afectuoso.

Como é que estes indivíduos foram capazes de superar a adversidade quando tinham
tanto contra eles? Para além de recursos pessoais e de fontes não oficiais de apoio,
Werner descobriu um aspeto comum a todos a todos eles: sem exceção, todos haviam
usufruído, ao longo do seu desenvolvimento, do apoio irrestrito de um adulto
significativo, familiar ou não, ou seja, do auxílio, afeto e acompanhamento de um tutor
de resiliência.

A resiliência não se constrói apenas a partir do interior de cada um, nem


exclusivamente graças ao meio, mas na interacção estreita entre ambos.

Psicologia B 8
Relaçõ es Precoces

4 – CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho podemos concluir que a vinculação precoce marca o
comportamento futuro do bebé e permite que a criança cresça equilibrada. A forma
como a mãe se relaciona com o bebé contribui para o modo como a criança, o
adolescente e também o adulto se relacionará com ele próprio e com os outros.

A vinculação fornece ao bebé a confiança que ele necessita para explorar o mundo e
tranquiliza-o em situações de stress. Os primeiros anos de vida são os alicerces da
vida futura e qualquer perturbação que ocorra neste período poderá ter repercussões
ao nível da sua saúde mental enquanto indivíduo.

Desta forma, previnem-se precocemente comportamentos de risco e muitas


perturbações mentais da infância e da idade adulta, o que sem dúvida terá reflexos ao
nível da saúde, não só do indivíduo, mas da própria sociedade.

Os momentos de reflexão e análise proporcionados pelo presente trabalho conduziram


á mobilização de conhecimentos adquiridos nesta disciplina.

Psicologia B 9
Relaçõ es Precoces

5 – Web Grafia
https://erikas40.wixsite.com/psicologia/blank-9 (06/01/2023)

https://adriana-psy.webnode.pt/rela%C3%A7%C3%B5es-precoces/caracteriza
%C3%A7%C3%A3o-as-rela%C3%A7%C3%B5es-precoces/ (06/01/2023)

https://www.scielo.br/j/sausoc/a/5GZpvRjD4BBkFJS5qjCNfvy/?lang=pt (06/01/2023)

https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Desenvolvimento/noticia/2015/06/o-vinculo-com-
seu-bebe-comeca-antes-mesmo-de-ele-sair-da-barriga.html (10/01/2023)

https://associacaogravidezeparto.pt/crescer-com-amor-a-importancia-da-vinculacao-precoce/
(10/01/2023)

file:///C:/Users/Francisca%20Garcia/Downloads/12109-39744-1-PB.pdf (10/01/2023)

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2014000100006

https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Desenvolvimento/noticia/2015/06/o-vinculo-com-
seu-bebe-comeca-antes-mesmo-de-ele-sair-da-barriga.html (24/01/2023)

https://www.lusiadas.pt/blog/gravidez-maternidade/gravidez/dentro-para-fora-como-bebe-
percebe-mundo (24/01/2023)

https://www.studocu.com/pt/document/escola-secundaria-de-camoes/psicologia/a-
estrutura-da-relacao-do-bebe-com-a-mae/28921291 (25/01/2023)

6- Bibliografia

Psicologia B 10

Você também pode gostar