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RELAÇÕES PRECOCES:

“É linda, é a cara do pai, pesa mais de 3 quilos e meio e mede 50 centímetros”. Poucos
minutos depois de nascer, os bebés são já estrelas fotografadas, filmadas e elogiadas
nas redes sociais. Embora com dimensões dentro da média e totalmente adoráveis, os
dois bebés de termo em questão parecem pequeninos e frágeis. Sozinhos não
conseguiriam sobreviver. São, por isso, muito dependentes dos cuidadores.

Na verdade, todos os seres humanos quando nascem são biologicamente inacabados.


Ao contrário de outros mamíferos (por exemplo, a vaca, que tem um tempo de
gestação semelhante ao dos seres humanos e vê os seus bezerros em pé poucas horas
depois de nascerem), os bebés humanos desenvolvem as duas capacidades e
competências muitos lentamente após o nascimento.

A presença e influencia dos outros e as primeiras interações, as relações precoces,


terão um papel fundamental neste processo de construção do eu.

Somos biologicamente sociais e, por isso, desde o nascer até ao morrer, estamos
predispostos para interagir socialmente e criar laços com os outros. Trata-se de uma
necessidade adaptativa que nos acompanha ao longo de toda a vida e se inicia com os
cuidadores sob a forma de vinculação.

Na perspetiva das relações precoces, a vinculação é o laço afetivo recíproco que se


estabelece entre a criança e uma pessoa especifica (a figura de vinculação), em direção
à qual a criança se dirige em busca de sustento, apoio e proteção. Une ambos – criança
e cuidador – num determinado espaço e perdura no tempo, expressando-se através de
reações que procuram manter a proximidade com a figura de vinculação (os
comportamentos de vinculação). É a vinculação que tornará possível a exploração do
mundo e a construção da sensação de segurança, sendo, portanto, essencial ao
desenvolvimento pessoal e social do individuo. O sustento e a satisfação das
necessidades de subsistência, só por si, não serão suficientes ao desenvolvimento
integral daquilo que nos caracteriza com seres humanos.

São quatro as características que distinguem as relações precoces de vinculação de


outras interações sociais:
 A procura de proximidade.
 A noção de base de segurança.
 O comportamento de refúgio.
 A angústia e o protesto face à separação involuntária.

Para o bebé acabado de nascer, a vinculação não é, todavia, automática ou instintiva. É


um processo de aprendizagem que se consolida progressivamente, como resultado de
uma relação recíproca.

Atualmente, sabemos que os recém-nascidos são indivíduos ativos com bastante mais
competências do que durante muito tempo se supôs: comunicam, veem, ouvem e
reagem de forma muito mais complexa do que imaginamos. De facto, os bebés
humanos são capazes, desde muito cedo, de discriminar e reconhecer os rostos, as
vozes e o odor dos que dele cuidam e de responder aos estímulos com emoção. Uma
parte importante destas competências é, alias, muito anterior ao nascimento. Por
exemplo, experiências de estimulação sensorial realizadas com fetos de 7 meses
parecem demonstrar que este são capazes de responder à luz, ao som e ao toque,
fazer escolhas entre estímulos distintos e reagir de forma diferenciada.

A nível sensorial, e ao contrário do que se acreditava, os recém-nascidos apresentam


um conjunto de características que facilitam a sua relação com o mundo e o
estabelecimento de vínculos.

Relação precoces: relação recíproca que tem por base o conjunto de comportamentos
(chorar, sorrir, vocalizar, agarrar e gatinhar) que nos primeiros tempos de vida
permitem estabelecer a ligação afetiva entre a criança e quem dela cuida.

Vinculação: conceito proposto por J. Bowlby para designar a necessidade básica


(independente de outras necessidades como, por exemplo, a alimentação) de ligação
do bebé à mãe e desta ao bebé, e que se expressa por um conjunto de
comportamentos característicos da espécie. Hoje o conceito foi alargado e abrange
qualquer comportamento que permita à pessoa, criança ou adulto, aproximar-se ou
manter a proximidade das suas figuras preferenciais ou privilegiadas. É um importante
elemento organizador da atividade socioemocional.
Historicamente, a atenção prestada à criança, enquanto individuo com características
próprias, distinto do adulto, bem como ao seu desenvolvimento social, foi mínima.

Contrariando aquela que vinha a ser a tendência até então, alguns investigadores
começaram, na primeira metade do seculo XX, a interessar-se pelas questões ligadas à
infância e ao desenvolvimento da criança. Em particular, nas primeiras décadas do
seculo passado, os aspetos relacionados com os designados efeitos de
institucionalização começaram a ser estudados pelos especialistas, preocupados com
os dados da separação precoce e as consequências da educação de crianças pequenas
em situações de coletividade, isto é, separadas da família.

Apesar destes esforços pioneiros, a primeira teoria consistente acerca da vinculação


precoce surgir apenas nas décadas de 1950 e 1960 e foi proposta por John Bowlby.

Em 1948, Bowlby foi contratado pela OMS para elaborar um estudo sobre crianças que
tinham sofrido privação de cuidados maternos durante a segunda guerra mundial
devido à evacuação, destruição dos lares ou desaparecimento e morte dos seus
cuidadores. No relatório que elaborou, Cuidados Maternos e Saúde Mental, o
investigador referia a abundância de factos que demonstram as consequências da
privação de cuidados maternos: relações afetivas futuras superficiais, ausência de
concentração intelectual, incapacidade de se relacionar socialmente com os outros,
inexistência de reações emocionais, comportamentos desviantes e delinquência, entre
outras.

Anos mais tarde, Bowlby desenvolveu um segundo estudo, desta vez centrado sobre
crianças que, por terem tuberculose, tinham sido sujeitas a internamentos prolongados
em meio hospitalar. As conclusões a que chegou, baseado nos vários estudos
realizados, alteraram consideravelmente as crenças mantidas até então a propósito do
papel da primeira relação afetiva.

Bowlby foi alvo de diversas críticas, nomeadamente por ter sobrevalorizado o papel da
mãe e subvalorizado o contributo do pai para as relações afetivas precoces. Apesar das
muitas objeções e das revisões que sofreu ao longo do tempo, a teoria da vinculação
de Bowlby, enriquecida com as experiências de Harry Harlow e de Mary Ainsworth,
continua a ser uma das mais abrangentes e influentes sobre a vinculação precoces.
Esta nova forma de perspetivar a criança e de compreender as suas necessidades de
afeto contribuiu para a alteração profunda de atividades e comportamentos em
relações à primeira infância e também para a remodelação e humanização de diversas
instituições (creches, orfanatos, prisões, hospitais, etc).

Foi Harlow quem forneceu o primeiro suporte empírico para a teoria de Bowlby. Nas
décadas de 1950 e 1960, Harlow e a sua equipa observaram e registaram o
desenvolvimento social de macacos criados em situação laboratorial.

A manipulação experiencial mais utilizada pela equipa de Harlow foi o isolamento total
ou parcial de macacos durante os primeiros tempos de vida. Das diversas investigações
realizadas, ficaram célebres ou estudos com mães substituídas de arame e de algodão.

Harlow separou da mãe algumas crias de macacos com pouco tempo de vida. Depois
colocou-as em jaulas, sós, com exceção de duas mães substituídas: uma feita de
madeira forrada com esponja e coberta por algodão; outra feita de arame. Embora a
alimentação estivesse associada às mães substituídas de arame, os macaquinhos
preferiam (muito mais) as mães substitutas feitas de tecido macio. As experiências de
Harlow permitiram demonstrar a necessidade inata do conforto de contacto.

Harlow e os seus colaboradores analisaram o desenvolvimento destas crias até à vida


adulta, identificando e registando as consequências socioafetivas do isolamento social
precoce.

As vidas de primatas, cujos primeiros tempos de vida decorreram em situação de


isolamento – com contacto exclusivo com mães inanimadas - revelaram
comportamentos socioafetivos perturbados quando posteriormente colocadas em
contacto com indivíduos da mesma espécie. Harlow chamou síndrome de isolamento
ao conjunto de perturbações geradas pela privação social.

As consequências são progressivamente gravosas para privações sociais totais durante


os 3, 6 e 12 primeiros meses de vida.

Privação específica Consequências no desenvolvimento associadas à síndrome de


isolamento
Isolamento total durante os 3 Reações de medo e de fuga ao serem colocados em conjunto com outros
primeiros meses de vida indivíduos criados normalmente. Alguns macacos morreram de anorexia,
mas a maioria sobreviveu, aprendendo e adaptando-se à nova situação.
Isolamento total durante os 6 Os jovens isolam-se, são incapazes de interagir, abraçam-se e embalam-se
primeiros meses de vida a si mesmos, mostram reações de terror e, ao contrário dos primeiros,
revelam-se inábeis para aprender e para se adaptarem à nova situação. Ao
chegarem à adolescência, estes animais tornam-se extremamente
violentos em relação aos indivíduos da sua espécie, inclusivamente em
relação às suas próprias crias, que chegam a agredir até à morte
Isolamento total durante os O isolamento por um período equivalente a cerca de 5 anos de vida de
12 primeiros meses de vida uma criança humana resulta em apatia e indiferença completa em relação
aos outros indivíduos, ou seja, em ausência de qualquer comportamento
de interação social, positivo ou negativo.

Ainda que as descobertas da equipa liderada por Harlow tenham derivado de


pesquisas realizadas com macacos, os seus resultados podem ser relativamente
generalizados aos seres humanos, dado que o mesmo tipo de psicopatologias
(embalar-se, abraçar-se, mutilar-se, incapacidade para interagir com os demais, por
exemplo) pode ser observado em crianças cujo desenvolvimento careceu de cuidados
maternos. De forma geral, as conclusões resultantes destes estudos vieram dar razão
às teorias de Bowlby.

Também os estudos de Ainsworth, demonstraram a pertinência das propostas de


Bowlby.

Durante nove meses, Ainsworth estudou, no Uganda, um grupo de 28 crianças não


desmamadas, com idade entre 1 e 24 meses. Observou e registou o comportamento
dos bebés, o seu processo de desenvolvimento e respetivas aquisições, bem como os
cuidados maternos e as interações mãe-filho. Contatou o papel ativo da criança na
relação de vinculação e a capacidade dos bebés para discriminar e hierarquizar as
diversas figuras de vinculação.
Para Ainsworth, a figura de vinculação fornece à criança uma base de segurança, a
partir da qual é possível a exploração do meio sem ansiedade.

Em condições normais, quando aprende a gatinhar e adquire certa autonomia motora,


a criança inicia pequenas expedições, usando o adulto significativo como base para
explorar o meio ambiente que a rodeia. De tempos a tempos retorna à figura de
vinculação para se certificar da sua presença. Se se magoar ou assustar, a exploração é
interrompida e a criança procura rapidamente a proximidade e o conforto da figura de
vinculação. Deste modo, comportamento de vinculação e comportamento exploratório
são conceitos interdependentes. ´

De volta aos Estados Unidos, Ainsworth retomou de forma mais sistemática os estudos
do Uganda e desenvolveu, com 26 famílias de Baltimore, uma experiência designada
situação estranha. Tratava-se de ativar, em crianças entre os 12 e os 18 meses,
comportamentos representativos da vinculação, induzindo ansiedade ligeira pela
partida e regresso repetidos da figura de vinculação.

Estas situação experimental incluía diversos elementos geradores de ansiedade:

 Separação da figura de vinculação.


 Exploração de um local estranho.
 Interação com uma pessoa desconhecida.
 Reunião com a figura de vinculação.

O procedimento implicava observar o bebé, a mãe (ou quem a substituísse) e um


adulto amistoso (mas desconhecido da criança) numa sala de brinquedos de um
laboratório.

1. A mãe e o bebé passam tempo sozinhos num local estranho e a criança explora
o ambiente.
2. Quando a criança está adaptada ao local, um desconhecido entra na sala e
junta-se à mãe e ao bebé.
3. Neste momento, a mãe parte, deixado o bebé sozinho com o adulto amistoso,
mas desconhecido.
4. Pouco tempo depois, a mãe regressa à sala e o estranho parte.
5. De seguida, a mãe deixa também a sala, ficando a criança entregue a si mesma.
6. Estando a criança sozinha, o desconhecido reentra na sala.
7. Por fim, a mãe retorna à sala e o adulto amistoso deixa o espaço.

No decorrer destes sete momentos, a criança experimenta crescente ansiedade e,


progressivamente, maior necessidade de proximidade com a figura de vinculação.

A forma como as crianças lidaram com essa necessidade e as estratégias encontradas


forneceram indicações sobre a qualidade da relação de vinculação. De acordo com o
equilíbrio existente entre o comportamento exploratório do bebé e as suas reações à
figura de vinculação e ao estranho, foi possível distinguir três padrões distintos:

 Vinculação insegura.
 Vinculação segura.
 Vinculação evitante.

Vinculação insegura:
Comportamento exploratório Comportamento de vinculação
Fica inconsolável na separação
Releva ansiedade durante toda a Mostra aproximação/hostilidade na
experiência. reunião

Vinculação segura:
Comportamento exploratório Comportamento de vinculação
Brinca e é amistoso com o estranho na Protesta com a saída e procura conforto
presença da figura de vinculação com a chegada da figura de vinculação
Amistoso = amigável

Vinculação evitante:
Comportamento exploratório Comportamento de vinculação
O comportamento não é afetado pela
chegada da figura de vinculação
O comportamento não é afetado pela Reprime os sentimentos e a necessidade
partida da figura de vinculação de vinculação.
INFLUÊNCIA ENTRE INDIVIDUOS:

O que explica que as pessoas modifiquem as suas crenças? Em que consiste a


obediência?

A 16 de março de 1968, em plena guerra do Vietname (que opôs a República do


Vietname, ou Vietname do Sul, aos Estados Unidos), centenas de civis,
maioritariamente mulheres e crianças, foram executados por militares norte-
americanos na aldeia de M~y Lai sob o comando do tenente Calley. Antes de serem
mortas, algumas das vítimas foram violadas, torturadas e espancadas. Vários corpos
foram também mutilados. Quando, em 1970, 25 homens da companhia responsável
pelo massacre foram indicados por crimes de guerra, defenderam-se afirmando que
«estavam a cumprir ordens».

Definição de obediência: Tendência para modificar o comportamento no sentido de


responder pela submissão a uma ordem que provém de um poder legítimo.

Pode qualquer um de nós obedecer a ordens insanas e cruéis? Os psicólogos acreditam


que sim.

É neste contexto que se inscreve a experiência de Stanley Milgram, um estudo que


revelou que um grupo de norte-americanos, aparentemente normais e saudáveis,
estava disposto a eletrocutar um inocente com dificuldades em memorizar pares de
palavras.

No rescaldo da Segunda Guerra Mundial, durante a década de 1950, alguns psicólogos


sugeriram que os alemães t8inham certas características de personalidade que os
tornavam particularmente suscetíveis a cometer atrocidades. Milgram, pelo contrário,
acreditava que fora a situação de guerra e a compulsão para obedecer (e não as
disposições naturais dos alemães) que tornaram possível a crueldade nazi. Defendia
ainda que a maioria de nós, se expostos ao mesmo contexto, teria um comportamento
semelhante. Para provar a sua hipótese, Milgram estudou, em laboratório, até onde
são capazes de ir pessoas normais que se limitam a obedecer. No estudo original, um
dos mais controversos da história da psicologia, participaram 40 sujeitos com idades
compreendidas entre os 20 e os 50 anos.

O gerador de choques de Milgram produziu resultados inesperados. Um grupo de 40


psiquiatras predisse que menos de 5% dos participantes seria capaz de administrar
choques de 300 volts, mas a verdade é que todos os participantes atingiram este nível.

O estudo de Milgram foi amplamente discutido e replicado, continuando a ser,


compreensivelmente, uma das mais celebres experiências em psicologia.

Pesquisas subsequentes mostraram o seguinte:


Fator Consequências
Proximidade da vítima Quanto mais perto se encontrarem de uma vítima em
sofrimento, menos os sujeitos obedecem.
Proximidade da autoridade Quanto mais afastada se encontrar a autoridade que dá
ordem, menos os sujeitos obedecem.
Contexto institucional A realização da experiência em contextos distintos revelou
ligeiras oscilações na obediência.
Pressão para o conformismo Se os seus pares forem obedientes, o sujeito tenderá a
tornar-se mais obediente.
Se os seus pares forem rebeldes, o sujeito tenderá a tornar-
se menos obediente.
Papel da pessoa que dá as ordens As pessoas tendem a obedecer mais a autoridades que são
percebidas como legitimas.
Traços da personalidade Não se observou correlação significativa entre traços de
personalidade e obediência.
Diferença cultural A tendência para a obediência parece ser transcultural,
embora existam pequenas variações de cultura para cultura.
Atitudes e ideologias As pessoas religiosas revelaram ser mais obedientes do que
as não religiosas.

Através do seu estudo, Milgram demonstrou a tendência para não resistir às exigências
da autoridade, mesmo sabendo que estas são incorretas ou eticamente condenáveis.
Os sujeitos totalmente obedientes só pararam de administrar os choques quando o
experimentador ordenou.

Os seres humanos são socializados, desde cedo, para serem obedientes. Sentimo-nos
compelidos a cumprir ordens de figuras de autoridade mesmo quando eles entram em
conflito com os nossos valores morais. As pessoas fazem o que lhes ordenam que
façam.
Na sequência dos resultados das pesquisas desenvolvidas por Milgram, um outro
psicólogo social, Philip Zimbardo, propôs-se descobrir como é que as pessoas comuns
se comportariam se fossem colocadas no papel de autoridades com poder
discricionário. Para tal, desenvolveu uma polémica experiência, a experiência da prisão
de Standford.

Experiência da prisão de Stanford


Em 1971, um grupo de psicólogos sociais da Universidade de Standford, liderados por Zimbardo, realizou
uma experiência que ficou conhecida como a experiência da prisão de Standford. A experiência pretendia
estudar os efeitos psicológicos da vida numa prisão e, para tal, Zimbardo selecionou 24 voluntários do
sexo masculino. Todos eles eram alunos da Universidade de Standford, norte-americanos e canadianos,
sem historial de problemas psicológicos, abuso de drogas ou atividades criminosas. Foram divididos, de
uma forma totalmente aleatória, entre reclusos e guardas e encarcerados numa prisão construída na
cave da universidade. Recebiam 15 dólares por dia.
1- Os voluntarios 2- A detenção
24 estudantes universitários do sexo masculino, Sem aviso prévio, os suspeitos começaram por ser
provenientes da classe média entre os 18 e os 24 surpreendidos, um a um, em suas casas, acusados,
anos, foram selecionados e divididos em dois informados dos seus direitos legais, revistados e
grupos: guardas e reclusos. Cada um dos grupos algemados, sendo depois conduzidos a uma
tinha nove elementos mais três de reserva. esquadra rela. Por fim, foram vendados e
encarcerados numa prisão construída na cave da
universidade.
3- A humilhação 4- Os prisioneiros
Já na prisão, os jovens foram revistados, Revoltados com o tratamento, os prisioneiros
uniformizados (com uma bata e sem qualquer amotinaram-se. Os guardas acabam por usar a
roupa interior), acorrentados pelos pés e colocados violência para pôr fim à rebelião, sendo
em celas, onde eram chamados pelo número, especialmente duros para o líder da revolta. Um
vigiados em permanência e punidos pelos guardas. dos prisioneiros dá sinais de esgotamento
Eram também sucessivamente revistados, despidos emocional e tem de ser libertados. Aumentam os
e sujeitos a desinfestação. castigos e as tarefas humilhantes.
5- Ponto final na experiência
O comportamento dos guardas torna-se cada vez mais sádico, especialmente durante a noite, quando
acreditavam que as câmaras estavam desligadas. Alguns guardas pareciam afetivamente desfrutar do
poder de que dispunham, embora nenhum dos testes de personalidade que lhes tinha sido previamente
aplicado fosse capaz de predizer este comportamento. Três prisioneiros têm colapsos. A experiência
prevista para 15 dias termina ao fim de 6 dias. Quando, em 2003, foram conhecidos os abusos
perpetrados por soldados norte-americanos em Abu Ghraib, uma prisão situada em 30 Km a oeste de
Bagdad (Iraque), o paralelo com a experiência de Zimbardo foi inevitável.

Se Milgram mostrou o poder de uma autoridade individual, Zimbardo revelou a força


das instituições para transformar boas pessoas em indivíduos capazes de cometer
atrocidades. A experiência da prisão de Standford permite compreender como é que as
situações sociais deformam as identidades pessoais e descrever um importante
fenómeno associado ao modo como os grupos influenciam o comportamento
individual, a desindividuação.

Segundo os psicólogos sociais, este fenómeno ocorre quando as pessoas, inseridas em


grupos ou multidões, perdem a sua individualidade, deixando de estar autoconscientes
e de seguir padrões pessoais de regulação da conduta. Pessoas desindivudadas alteram
radicalmente o seu comportamento e fazem em grupo coisas que, provavelmente, não
fariam se estivessem sozinhas.

Um bom exemplo disso é o comportamento das multidões. Tumultos de claques


desportivas, saques após desastres naturas ou em situações de guerra e outros
comportamentos semelhantes são resultado de processos de desindivuduação. A
excitação, o anonimato e a difusão de responsabilidade estão frequentemente
associados a este fenómeno. Livres do sentimento de culpa, vem ao de cima o lado
mais obscuro da nossa natureza.

A normalização, o conformismo e a obediência são processos que explicam a influencia


social numa perspetiva em que a pressão de uma maioria ou de uma autoridade
produz uma mudança no comportamento de um individuo. A história da humanidade
revela-nos, contudo, uma outra faceta do comportamento e da influência social, já que
a mudança a todos os níveis (social, cultural, político, económico, por exemplo) foi
amiúde desencadeada por atitudes e comportamentos que não respeitaram o que
socialmente estava estabelecido como correto e desejável, isto é, como norma. Foi o
inconformismo de alguns seres humanos que transformou (e transforma todos os dias)
o modo como nos concebemos e o mundo em que vivemos.

Existem, então, diversas circunstâncias sociais em que a minoria gera conflito em torno
da norma aceite pela maioria, procurando a emergência de uma nova norma. Estas são
situações de inovação, de criação de uma nova norma por uma minoria. O
inconformismo, ou seja, a não adesão a uma norma defendida por uma maioria, é
parte integrante da inovação.

PROCESSOS DE RELAÇÃO ENTRE OS INDIVIDUOS E OS GRUPOS:

Como é que nos relacionamos com os outros e com os diferentes grupos sociais?

Se simplificarmos as relações sociais em dois sentidos claramente opostos, podemos


pensar as interações com os outros em termos positivos (atração) ou negativos
(agressão).

Falamos em atração interpessoal quando a avaliação cognitiva e afetiva que o eu faz


do outro orienta o comportamento do primeiro no sentido da proximidade ao
segundo. Esta avaliação traduz-se numa preferência e num gostar de partilhar a
realidade pessoal num contexto de relação. Pelo contrário, referirmo-nos a agressão
interpessoal quando estamos face a um comportamento que visa essencialmente o
prejuízo: o eu age de modo a causar danos físicos ou psicológicos ao outro, existindo
uma intenção negativa de destruição.

Na base destas relações, positivas ou negativas, encontram-se três fenómenos muito


estudados na psicologia social: estereótipos, preconceitos e discriminação.

Com certeza já reparaste em expressões exageradas como «os alemães são frios», «os
franceses são românticos», «os italianos são barulhentos», «os brasileiros gostam de
samba e futebol», «os homens são infiéis» ou «as mulheres são conflituosas». Os
estereótipos correspondem precisamente a generalizações relativamente constantes
como estas. São esquemas cognitivos que elaboramos sobre as qualidades e
características das pessoas de um determinado grupo ou categoria às quais associamos
um tom afetivo favorável ou desfavorável. São simplificadores e apressam as perceções
e julgamentos sobre o outro.

Um conjunto de estereótipos recorrente na nossa sociedade, e particularmente


resistente à revisão, é o dos estereótipos de género, que podemos dividir em dois
níveis:

 Estereótipo de papeis de género: crenças solidamente partilhadas a propósito


das atividades apropriadas para homens e mulheres. Por exemplo, as
afirmações «Na minha opinião, os rapazes têm maior aptidão para a prática
desportiva» e «No meu entender, as raparigas têm menos sucesso na
engenharia» expressam estereótipos de papeis de género.
 Estereótipos de traços de género: generalizações relativas a características
psicológicas que diferencialmente se atribuem a homens e mulheres. Por
exemplo, as afirmações «Penso que as raparigas são mais sensíveis do que os
rapazes» e «Na minha opinião, as raparigas são mais organizadas que os
rapazes» expressam estereótipos de traços de género

Estereótipo: categoria favorável ou desfavorável que é partilhada por um grupo social


ou cultural e que se refere a características pessoais, especialmente a traços de
personalidade ou a comportamentos.

Estereótipos de género relativamente comuns


Os homens são… As mulheres são…
 Independentes  Dependentes
 Racionais  Emocionais
 Dominantes  Submissas
 Decididos  Indecisas
 Seguros  Inseguras
 Aventureiros  Medrosas
 Rebeldes  Dóceis
A maioria dos estereótipos são generalizações precipitadas sem qualquer
fundamentação empírica. Apesar disso, os seus efeitos fazem-se sentir.

Estudos recentes demonstram que os indivíduos que sentem que o seu


comportamento pode confirmar um estereotipo negativo, como «as raparigas são
piores a matemática do que os rapazes», apresentam pior desempenho. Este
fenómeno está associado ao processo da profecia autorrealizavel e é conhecido como
ameaça do estereotipo. Por exemplo, quando homens e mulheres fazem um teste
sobre o qual foram informados não existirem diferenças sexuais nos resultados, os
desempenhos são idênticos. Todavia, se as mulheres forem previamente informadas de
que os homens costumam sair-se melhor o seu desempenho resulta significativamente
pior que o dos homens.

Se o primeiro objetivo dos estereótipos é o de simplificar e organizar o meio social, eles


servem, quase sempre, para justificar a discriminação de pessoas e grupos e gerar
preconceitos.

Os preconceitos são atitudes negativas em relação a pessoas ou grupos. Compreendem


uma componente afetiva (que pode ir da leve ansiedade ao ódio), uma componente
cognitiva (que envolve crenças sobre os indivíduos ou grupos, incluindo estereótipos) e
uma componente comportamental (por exemplo, a predisposição para reações
negativas em relação a indivíduos ou grupos, como a discriminação e a violência).

Preconceito: atitude negativa que predispõe para agir desfavoravelmente em relação a


uma pessoa com base na sua pertença a uma determinada categoria.

Discriminação: tratamento diferencial concebido a uma dada pessoa ou grupo. Trata-


se, frequentemente, da manifestação comportamental do preconceito. Envolve
tratamento desfavorável, hostil e ofensivo.

Se te for pedido que enuncies preconceitos comuns nas situações sociais do quotidiano
(dos quais já fores espectador ou vítima), é provável que te ocorra de imediato o
racismo. Esta forma de preconceito, que esta na origem da discriminação racial,
pressupõe a crença que os membros de uma dada categoria étnica têm características
distintas e que essas diferenças de algum modo os tornam inferiores ou superiores face
a outros grupos.
Como deve ser do teu conhecimento, a biologia moderna e, em especial, a genética
das populações vieram mostrar que as raças, como realidade natural, não existem.
Com efeito, todos os grupos humanos partilham a mesma genealogia, na medida em
que descendem, como apontam os dados arqueológicos e genéticos, de uma única
população.

Como adquirimos preconceitos? Como nos tornamos racistas? Quais as consequências


do racismo no modo como nos percecionamos?

Em 1939, numa época em que o racismo era, não apenas parte da rotina, mas também
um preconceito institucionalizado, dois psicológicos, Kenneth Clark e Mamie Clark,
propuseram-se estudar os efeitos psicológicos da segregação racial na autoestima das
crianças norte-americanas negras (isto é, no valor que atribuíam aos elementos da
representação de si mesmas), criando, para esse efeito, na década de 1940, uma
situação experimental que ficou conhecida como teste da boneca.

O teste consistia em exibir a um grupo de criança norte-americanas negras, entre os 3


e os 7 anos, quatro bonecas, todas com características muito idênticas, à exceção da
cor da pele, que variava entre o branco e negro.

Kenneth e Mamie Clark começaram por pedir às crianças que, individualmente,


identificassem a cor da pele das bonecas e apontassem aquelas com a qual mais se
assemelhavam. Depois de realizarem esta tarefa com sucesso, as crianças eram então
convidadas a responder a questões como: De qual das bonecas gostas mais? Com qual
delas gostarias de brincar? Qual das bonecas tem uma cor mais bonita? Qual das
bonecas parecem má? Invariavelmente, as crianças manifestaram clara preferência
pelas bonecas brancas e rejeição pelas negras, o que foi interpretado pelos psicólogos
como uma forma indireta de autorrejeição. Este teste tem sido replicado várias vezes,
em vários países, sempre com resultados semelhantes.

Estas observações conduziam a uma importância questão: como aprendem as crianças


a ser racistas? A esta interrogação Kenneth e Mamie Clarck responderam:
internalizando e repetindo as condutas racistas dawuelas que as cercam.

Não nascemos racistas. Por volta dos 3 anos, as crianças estão etnicamente
conscientes e pronta para formarem preconceitos. Nos EUA da década de 1930, as
crianças brancas, e mesmo as negras, mostraram preferência pelo branco e rejeição do
negro.

Quem ensina as crianças a odiar e a temer um membro de outra etnia? A segregação e


as influências sociais dos seus familiares, educadores e pares, bem como os mass
media levam as crianças a interiorizar atitudes racistas.

Estereótipos e preconceitos são processos sociais próximos e muitas vezes associados,


mas não são exatamente o mesmo.

Os estereótipos derivam, predominantemente, do processo cognitivo da categorização


e, como vimos, correspondem a representação constantes, consistentes e uniformes,
partilhadas com maior ou menos adesão pelos elementos de um grupo, relativamente
a determinadas características simplificadoras. Já os preconceitos são atitudes que nos
predispõem categoria. Se o objeto que avaliamos fizer parte dessa categoria, então
teremos um preconceito em relação a ele. Por seu lado, a discriminação (no sentido
negativo, que é aquele que aqui nos interessa) é normalmente a manifestação
comportamental injuriosa que tem por base uma avaliação desfavorável.

Consideremos o exemplo da comunidade cigana, a minoria mais discriminada da


Europa, presente em Portugal há mais de cinco seculos e da qual fazem parte, por toda
a Europa estima-se, 6 milhões de pessoas (no nosso país, a população cigana ronda 40
mil a 60 mil pessoas).

A categoria «cigano» está frequentemente associada, nas representações sociais, a


características como «ladrão», «subsídio-dependente» ou «violento» para as quais se
adota, neste caso específico, um tom indubitavelmente negativo (estereotipo
negativo). As opiniões e crenças que a maioria dos europeus tem relativamente a
«ciganos» predispõem-nos para avaliar desfavoravelmente as pessoas que se incluem
nesta categoria (preconceito). Por sua vez, esta inclinação conduz, muitas vezes, à
manifestação de um comportamento que se caracteriza pelo tratamento baseado no
desprezo e na humilhação dos indivíduos incluídos na categoria em causa
(discriminação).
A discriminação dos ciganos é comum, por exemplo, no memento em que procuram
emprego ou uma casa para arrendar, mas acontece também noutras situações, sendo
uma realidade quotidiana para estas pessoas em diversos países europeus.

Em meados da década de 50 do seculo XX, o psicólogo norte-americano Gordon


Allporyt criou uma escala, hoje conhecida como escala de Allport (ou escola de
preconceito e discriminação de Allport). Esta escala é um instrumento eficaz para
determinar o grau de hostilidade existente numa dada sociedade face a um grupo e foi
dividida em cinco níveis sucessivos: antilocução, esquiva, discriminação, ataque físico e
extermínio.

No primeiro nível, antilocução (discurso contra ou difamação verbal), desenvolve-se o


discurso depreciativo dirigido a um dado grupo ou individuo. Surgem as conhecidas
“piadinhas” (racistas, xenófobas, homofóbicas, machistas, etc), que só aparentemente
são inofensivas, pois alimentam o preconceito e legitimam-no. Aparece também
algumas expressões de ódio e de incitamento à discriminação.

No segundo nível, esquiva (evitamento ou afastamento), o grupo ou individuo alvo de


preconceito é mantido fisicamente separado, promovendo-se o seu isolamento e
exclusão.

No terceiro nível, discriminação, um individuo ou grupo é marginalizado, sendo-lhe


negada a igualdade de acesso a oportunidades, bens e serviços. A discriminação visa
prejudicar o outro, impedindo-o de atingir metas, obter educação, emprego, etc.

No quarto nível, ataque físico, falamos dos chamados crimes de odio, ou seja, de todos
os crimes motivados pelo preconceito, em razão, nomeadamente, da pertença a uma
determinada etnia, origem nacional ou territorial, orientação sexual, género, religião,
ideologia, condição social ou deficiência física ou mental. Os indivíduos ou grupos-alvo
passam então a ser vítimas de vandalismo, de destruição de bens ou de ataques
violentos contra a integridade física dos seus membros. O crime de odio não se dirige
exclusivamente à pessoa que dele é vítima, envia também uma mensagem a todo um
grupo ou categoria, a de que não são pessoas bem-vindas e não estão seguras.

No quinto e último nível, extermínio, estamos perante a forma mais grave de


expressão do preconceito. Inclui-se aqui o genocídio e/ou o etnocídio.
Apesar de, como pudemos observar, as atitudes preconceituosas estarem
frequentemente associadas a comportamentos discriminatórios, não é obrigatório que
assim seja. Isto é, uma pessoa pode ter preconceitos e não discriminar (por exemplo,
um patrão pode não ter nada contra funcionários que usem piercings, as não os
contratar por achar que podem ser prejudiciais ao negócio).

ESTEREÓTIPOS
O estereótipo entende-se como uma imagem interposta entre o indivíduo e a
realidade, imagem essa com carácter subjetivo e pessoal, cuja formação assenta no
sistema de valores do indivíduo. É considerado como uma generalização falsa e
reveladora de falta de conhecimento, apenas modificável por uma educação que
consciencialize a pessoa da ausência de fundamento dos seus juízos, mas há autores
que o consideram uma construção sócio-cognitiva neutra e uma forma de
conhecimento aceitável e prática, embora não muito precisa, que se substitui
frequentemente ao conhecimento real.

Os estereótipos possuem um significado cognitivo: revelam uma perceção


simplificada da realidade resultante de um processo de seleção da informação
(categorização). Os estereótipos têm também um significado afetivo, isto é, baseiam-se
em juízos de valor guiados por sentimentos favoráveis ou desfavoráveis. Por último, os
estereótipos possuem um significado social: são construções da natureza das relações
intergrupos com o objetivo de facilitar a compreensão dos acontecimentos sociais
complexos, justificar as ações coletivas dirigidas a determinados grupos sociais e criar
ou manter diferenciações valorizadas positivamente de um grupo em relação a outro
grupo – o grupo de pertença em relação ao grupo dos outros.

Os estereótipos de género constituem um bom exemplo de estereótipos e são um


subtipo dos estereótipos sociais, sendo definidos como “um conjunto de crenças
estruturadas acerca dos comportamentos e características particulares do homem e da
mulher”. Estes estereótipos podem estar relacionados com papéis de género ou com
traços de género. Os primeiros designam as crenças sobre atividades tidas como
“típicas” do homem e da mulher e os segundos, as características psicológicas que o
distinguem um do outro. Trata-se, portanto, das crenças sociais sobre o que o homem
e a mulher devem fazer e ser. Ora, estas são indissociáveis umas das outras, já que se
estabelece uma rede de inferências recíprocas entre ambas. Assim, é frequente
ouvirmos dizer, por exemplo, que são as mulheres que cuidam das crianças porque são
mais carinhosas e sensíveis. Assim como se dirá que os estivadores são homens porque
são mais fortes. Estudos citados por António Neto revelam que “o estereótipo
masculino se associava mais às dimensões independência, afirmatividade e
dominância, enquanto o estereótipo feminino aparecia mais ligado às dimensões
submissão, expressividade e orientação para os outros”.
O estereótipo tem uma forte componente afetiva, o que implica sempre uma atitude
favorável ou desfavorável. Como o próprio nome indica, o preconceito "é um conceito
formado antecipadamente e sem fundamento sério ou razoável". Em psicologia social,
designa uma atitude que deriva de pré-julgamentos e que conduz os sujeitos a avaliar
negativa ou positivamente objetos, pessoas ou grupos sociais, sendo mais frequentes
os preconceitos com valência negativa que conduzem à discriminação, à segregação.
No plano cognitivo, o preconceito está ligado a expectativas segundo as quais o grupo
em causa agirá mal no trabalho ou adotará comportamentos criminosos. No plano
afetivo, o preconceito está associado à evitação, à agressividade, à discriminação.

Resumindo: é uma crença que generaliza ou atribui a todos os indivíduos de um certo


grupo características que se podem encontrar somente em alguns (a psicologia social
atualmente considera que os estereótipos são crenças simplificados e falsas). Os
estereótipos negativos têm uma consequência grave: impedem que nós observemos os
indivíduos e temos sempre expectativas negativas sobre eles.

PRECONCEITOS

Foi Gordon Allport (1954), num trabalho sobre o preconceito, quem traçou as linhas
fundamentais que definem as principais perspetivas de análise do preconceito na
atualidade.
Para Allport, o preconceito pode ser definido como uma atitude hostil (antipatia)
contra um indivíduo, simplesmente porque ele pertence a um grupo desvalorizado
socialmente.

De acordo com esta definição, e pelo fato de existirem vários grupos socialmente
desvalorizados, temos tantos tipos de preconceito quantas pertenças a grupos
minoritários na estrutura de poder (exemplos, preconceito contra as mulheres ou
sexismo, preconceito contra os homossexuais ou homofobia, preconceito contra os
velhos ou ageísmo, preconceito contra pessoas gordas, preconceito contra pessoas
com deficiências físicas e/ou mentais, preconceito contra os nordestinos no Brasil ou
contra os ciganos em Portugal, etc.). Dentre as várias formas possíveis de preconceito
existe uma peculiar, que se dirige a grupos definidos em função de características
físicas ou fenotípicas supostamente herdadas: trata-se do preconceito racial ou, para
alguns autores, preconceito étnico. Allport (1954) define o preconceito étnico como
uma antipatia baseada numa generalização falha e inflexível, que pode ser sentida ou
expressa e que pode ser dirigida a um grupo como um todo ou a um indivíduo porque
ele faz parte daquele grupo.

Jones (1972), por seu lado, define o preconceito como “o julgamento prévio (pré-
conceito) negativo dos membros de uma raça ou uma religião, ou dos que
desempenham qualquer papel social significante, que se mantém mesmo que os
factos o neguem”. O comportamento normalmente associado a este tipo de
julgamento é designado por discriminação. Na perspetiva do modelo de Allport
(1954), os preconceitos devem-se à generalização ou processo de categorização e à
hostilidade.

O processo de categorização (cf. Allport, 1954) permite-nos tipificar qualquer


acontecimento singular ou indivíduo, colocá-lo numa categoria específica e agir em
concordância com esta tipificação.
A categorização integra o máximo de informação num conjunto (a mente tem
tendência para categorizar os episódios que nos cercam de modo o mais compacto
possível) e permite-nos identificar rapidamente qualquer objeto relacionado com ela
(qualquer objeto tem marcas ou características que servem de sinal ativador de uma
categoria – quando “vemos” algo ou alguém que possui determinadas características
adstritas a um tipo, tendemos a associá-lo à categoria estabelecida para a sua
interpretação). Esta categorização está também relacionada com uma emoção ou um
sentimento idêntico em todas as experiências ou casos particulares. Por último, as
categorias podem ser mais ou menos racionais, isto é, podem incluir algum elemento
justificável racionalmente, associado a um elemento irracional.

Diz ainda Allport (1954) que a expressão do preconceito através da hostilidade pode
assumir diferentes graus de intensidade:
1. verbalização negativa – as pessoas limitam-se a verbalizar os seus próprios
preconceitos entre amigos ou com estranhos, por exemplo, sob a forma de anedotas;
2. evitamento – as pessoas evitam o contacto com membros do grupo que
hostilizam;
3. discriminação – os membros do grupo hostilizado são alvo de diversas formas de
exclusão.
4. ataque físico – violência física contra grupos ou pessoas (skinheads, etc.);
5. exterminação – linchamentos, genocídio étnico.

Preconceito = atitude negativa


Atitude:
a) supõe uma crença/ estereotipo.
b) supõe sempre uma emoção/sentimento negativo.
c) predispõe para um certo comportamento.

Conceito de discriminação:
É um comportamento que prejudica ou desfavorece uma pessoa por ela pertencer a
um grupo sobre o qual existem sentimentos negativos.

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