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“É linda, é a cara do pai, pesa mais de 3 quilos e meio e mede 50 centímetros”. Poucos
minutos depois de nascer, os bebés são já estrelas fotografadas, filmadas e elogiadas
nas redes sociais. Embora com dimensões dentro da média e totalmente adoráveis, os
dois bebés de termo em questão parecem pequeninos e frágeis. Sozinhos não
conseguiriam sobreviver. São, por isso, muito dependentes dos cuidadores.
Somos biologicamente sociais e, por isso, desde o nascer até ao morrer, estamos
predispostos para interagir socialmente e criar laços com os outros. Trata-se de uma
necessidade adaptativa que nos acompanha ao longo de toda a vida e se inicia com os
cuidadores sob a forma de vinculação.
Atualmente, sabemos que os recém-nascidos são indivíduos ativos com bastante mais
competências do que durante muito tempo se supôs: comunicam, veem, ouvem e
reagem de forma muito mais complexa do que imaginamos. De facto, os bebés
humanos são capazes, desde muito cedo, de discriminar e reconhecer os rostos, as
vozes e o odor dos que dele cuidam e de responder aos estímulos com emoção. Uma
parte importante destas competências é, alias, muito anterior ao nascimento. Por
exemplo, experiências de estimulação sensorial realizadas com fetos de 7 meses
parecem demonstrar que este são capazes de responder à luz, ao som e ao toque,
fazer escolhas entre estímulos distintos e reagir de forma diferenciada.
Relação precoces: relação recíproca que tem por base o conjunto de comportamentos
(chorar, sorrir, vocalizar, agarrar e gatinhar) que nos primeiros tempos de vida
permitem estabelecer a ligação afetiva entre a criança e quem dela cuida.
Contrariando aquela que vinha a ser a tendência até então, alguns investigadores
começaram, na primeira metade do seculo XX, a interessar-se pelas questões ligadas à
infância e ao desenvolvimento da criança. Em particular, nas primeiras décadas do
seculo passado, os aspetos relacionados com os designados efeitos de
institucionalização começaram a ser estudados pelos especialistas, preocupados com
os dados da separação precoce e as consequências da educação de crianças pequenas
em situações de coletividade, isto é, separadas da família.
Em 1948, Bowlby foi contratado pela OMS para elaborar um estudo sobre crianças que
tinham sofrido privação de cuidados maternos durante a segunda guerra mundial
devido à evacuação, destruição dos lares ou desaparecimento e morte dos seus
cuidadores. No relatório que elaborou, Cuidados Maternos e Saúde Mental, o
investigador referia a abundância de factos que demonstram as consequências da
privação de cuidados maternos: relações afetivas futuras superficiais, ausência de
concentração intelectual, incapacidade de se relacionar socialmente com os outros,
inexistência de reações emocionais, comportamentos desviantes e delinquência, entre
outras.
Anos mais tarde, Bowlby desenvolveu um segundo estudo, desta vez centrado sobre
crianças que, por terem tuberculose, tinham sido sujeitas a internamentos prolongados
em meio hospitalar. As conclusões a que chegou, baseado nos vários estudos
realizados, alteraram consideravelmente as crenças mantidas até então a propósito do
papel da primeira relação afetiva.
Bowlby foi alvo de diversas críticas, nomeadamente por ter sobrevalorizado o papel da
mãe e subvalorizado o contributo do pai para as relações afetivas precoces. Apesar das
muitas objeções e das revisões que sofreu ao longo do tempo, a teoria da vinculação
de Bowlby, enriquecida com as experiências de Harry Harlow e de Mary Ainsworth,
continua a ser uma das mais abrangentes e influentes sobre a vinculação precoces.
Esta nova forma de perspetivar a criança e de compreender as suas necessidades de
afeto contribuiu para a alteração profunda de atividades e comportamentos em
relações à primeira infância e também para a remodelação e humanização de diversas
instituições (creches, orfanatos, prisões, hospitais, etc).
Foi Harlow quem forneceu o primeiro suporte empírico para a teoria de Bowlby. Nas
décadas de 1950 e 1960, Harlow e a sua equipa observaram e registaram o
desenvolvimento social de macacos criados em situação laboratorial.
A manipulação experiencial mais utilizada pela equipa de Harlow foi o isolamento total
ou parcial de macacos durante os primeiros tempos de vida. Das diversas investigações
realizadas, ficaram célebres ou estudos com mães substituídas de arame e de algodão.
Harlow separou da mãe algumas crias de macacos com pouco tempo de vida. Depois
colocou-as em jaulas, sós, com exceção de duas mães substituídas: uma feita de
madeira forrada com esponja e coberta por algodão; outra feita de arame. Embora a
alimentação estivesse associada às mães substituídas de arame, os macaquinhos
preferiam (muito mais) as mães substitutas feitas de tecido macio. As experiências de
Harlow permitiram demonstrar a necessidade inata do conforto de contacto.
De volta aos Estados Unidos, Ainsworth retomou de forma mais sistemática os estudos
do Uganda e desenvolveu, com 26 famílias de Baltimore, uma experiência designada
situação estranha. Tratava-se de ativar, em crianças entre os 12 e os 18 meses,
comportamentos representativos da vinculação, induzindo ansiedade ligeira pela
partida e regresso repetidos da figura de vinculação.
1. A mãe e o bebé passam tempo sozinhos num local estranho e a criança explora
o ambiente.
2. Quando a criança está adaptada ao local, um desconhecido entra na sala e
junta-se à mãe e ao bebé.
3. Neste momento, a mãe parte, deixado o bebé sozinho com o adulto amistoso,
mas desconhecido.
4. Pouco tempo depois, a mãe regressa à sala e o estranho parte.
5. De seguida, a mãe deixa também a sala, ficando a criança entregue a si mesma.
6. Estando a criança sozinha, o desconhecido reentra na sala.
7. Por fim, a mãe retorna à sala e o adulto amistoso deixa o espaço.
Vinculação insegura.
Vinculação segura.
Vinculação evitante.
Vinculação insegura:
Comportamento exploratório Comportamento de vinculação
Fica inconsolável na separação
Releva ansiedade durante toda a Mostra aproximação/hostilidade na
experiência. reunião
Vinculação segura:
Comportamento exploratório Comportamento de vinculação
Brinca e é amistoso com o estranho na Protesta com a saída e procura conforto
presença da figura de vinculação com a chegada da figura de vinculação
Amistoso = amigável
Vinculação evitante:
Comportamento exploratório Comportamento de vinculação
O comportamento não é afetado pela
chegada da figura de vinculação
O comportamento não é afetado pela Reprime os sentimentos e a necessidade
partida da figura de vinculação de vinculação.
INFLUÊNCIA ENTRE INDIVIDUOS:
Através do seu estudo, Milgram demonstrou a tendência para não resistir às exigências
da autoridade, mesmo sabendo que estas são incorretas ou eticamente condenáveis.
Os sujeitos totalmente obedientes só pararam de administrar os choques quando o
experimentador ordenou.
Os seres humanos são socializados, desde cedo, para serem obedientes. Sentimo-nos
compelidos a cumprir ordens de figuras de autoridade mesmo quando eles entram em
conflito com os nossos valores morais. As pessoas fazem o que lhes ordenam que
façam.
Na sequência dos resultados das pesquisas desenvolvidas por Milgram, um outro
psicólogo social, Philip Zimbardo, propôs-se descobrir como é que as pessoas comuns
se comportariam se fossem colocadas no papel de autoridades com poder
discricionário. Para tal, desenvolveu uma polémica experiência, a experiência da prisão
de Standford.
Existem, então, diversas circunstâncias sociais em que a minoria gera conflito em torno
da norma aceite pela maioria, procurando a emergência de uma nova norma. Estas são
situações de inovação, de criação de uma nova norma por uma minoria. O
inconformismo, ou seja, a não adesão a uma norma defendida por uma maioria, é
parte integrante da inovação.
Como é que nos relacionamos com os outros e com os diferentes grupos sociais?
Com certeza já reparaste em expressões exageradas como «os alemães são frios», «os
franceses são românticos», «os italianos são barulhentos», «os brasileiros gostam de
samba e futebol», «os homens são infiéis» ou «as mulheres são conflituosas». Os
estereótipos correspondem precisamente a generalizações relativamente constantes
como estas. São esquemas cognitivos que elaboramos sobre as qualidades e
características das pessoas de um determinado grupo ou categoria às quais associamos
um tom afetivo favorável ou desfavorável. São simplificadores e apressam as perceções
e julgamentos sobre o outro.
Se te for pedido que enuncies preconceitos comuns nas situações sociais do quotidiano
(dos quais já fores espectador ou vítima), é provável que te ocorra de imediato o
racismo. Esta forma de preconceito, que esta na origem da discriminação racial,
pressupõe a crença que os membros de uma dada categoria étnica têm características
distintas e que essas diferenças de algum modo os tornam inferiores ou superiores face
a outros grupos.
Como deve ser do teu conhecimento, a biologia moderna e, em especial, a genética
das populações vieram mostrar que as raças, como realidade natural, não existem.
Com efeito, todos os grupos humanos partilham a mesma genealogia, na medida em
que descendem, como apontam os dados arqueológicos e genéticos, de uma única
população.
Em 1939, numa época em que o racismo era, não apenas parte da rotina, mas também
um preconceito institucionalizado, dois psicológicos, Kenneth Clark e Mamie Clark,
propuseram-se estudar os efeitos psicológicos da segregação racial na autoestima das
crianças norte-americanas negras (isto é, no valor que atribuíam aos elementos da
representação de si mesmas), criando, para esse efeito, na década de 1940, uma
situação experimental que ficou conhecida como teste da boneca.
Não nascemos racistas. Por volta dos 3 anos, as crianças estão etnicamente
conscientes e pronta para formarem preconceitos. Nos EUA da década de 1930, as
crianças brancas, e mesmo as negras, mostraram preferência pelo branco e rejeição do
negro.
No quarto nível, ataque físico, falamos dos chamados crimes de odio, ou seja, de todos
os crimes motivados pelo preconceito, em razão, nomeadamente, da pertença a uma
determinada etnia, origem nacional ou territorial, orientação sexual, género, religião,
ideologia, condição social ou deficiência física ou mental. Os indivíduos ou grupos-alvo
passam então a ser vítimas de vandalismo, de destruição de bens ou de ataques
violentos contra a integridade física dos seus membros. O crime de odio não se dirige
exclusivamente à pessoa que dele é vítima, envia também uma mensagem a todo um
grupo ou categoria, a de que não são pessoas bem-vindas e não estão seguras.
ESTEREÓTIPOS
O estereótipo entende-se como uma imagem interposta entre o indivíduo e a
realidade, imagem essa com carácter subjetivo e pessoal, cuja formação assenta no
sistema de valores do indivíduo. É considerado como uma generalização falsa e
reveladora de falta de conhecimento, apenas modificável por uma educação que
consciencialize a pessoa da ausência de fundamento dos seus juízos, mas há autores
que o consideram uma construção sócio-cognitiva neutra e uma forma de
conhecimento aceitável e prática, embora não muito precisa, que se substitui
frequentemente ao conhecimento real.
PRECONCEITOS
Foi Gordon Allport (1954), num trabalho sobre o preconceito, quem traçou as linhas
fundamentais que definem as principais perspetivas de análise do preconceito na
atualidade.
Para Allport, o preconceito pode ser definido como uma atitude hostil (antipatia)
contra um indivíduo, simplesmente porque ele pertence a um grupo desvalorizado
socialmente.
De acordo com esta definição, e pelo fato de existirem vários grupos socialmente
desvalorizados, temos tantos tipos de preconceito quantas pertenças a grupos
minoritários na estrutura de poder (exemplos, preconceito contra as mulheres ou
sexismo, preconceito contra os homossexuais ou homofobia, preconceito contra os
velhos ou ageísmo, preconceito contra pessoas gordas, preconceito contra pessoas
com deficiências físicas e/ou mentais, preconceito contra os nordestinos no Brasil ou
contra os ciganos em Portugal, etc.). Dentre as várias formas possíveis de preconceito
existe uma peculiar, que se dirige a grupos definidos em função de características
físicas ou fenotípicas supostamente herdadas: trata-se do preconceito racial ou, para
alguns autores, preconceito étnico. Allport (1954) define o preconceito étnico como
uma antipatia baseada numa generalização falha e inflexível, que pode ser sentida ou
expressa e que pode ser dirigida a um grupo como um todo ou a um indivíduo porque
ele faz parte daquele grupo.
Jones (1972), por seu lado, define o preconceito como “o julgamento prévio (pré-
conceito) negativo dos membros de uma raça ou uma religião, ou dos que
desempenham qualquer papel social significante, que se mantém mesmo que os
factos o neguem”. O comportamento normalmente associado a este tipo de
julgamento é designado por discriminação. Na perspetiva do modelo de Allport
(1954), os preconceitos devem-se à generalização ou processo de categorização e à
hostilidade.
Diz ainda Allport (1954) que a expressão do preconceito através da hostilidade pode
assumir diferentes graus de intensidade:
1. verbalização negativa – as pessoas limitam-se a verbalizar os seus próprios
preconceitos entre amigos ou com estranhos, por exemplo, sob a forma de anedotas;
2. evitamento – as pessoas evitam o contacto com membros do grupo que
hostilizam;
3. discriminação – os membros do grupo hostilizado são alvo de diversas formas de
exclusão.
4. ataque físico – violência física contra grupos ou pessoas (skinheads, etc.);
5. exterminação – linchamentos, genocídio étnico.
Conceito de discriminação:
É um comportamento que prejudica ou desfavorece uma pessoa por ela pertencer a
um grupo sobre o qual existem sentimentos negativos.