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Relações precoces

Trabalho realizado por:


Filipa Brás nº12
e
Sandra Almeida nº27
12ºB
Indice:
 Introdução
 Relações precoces
 Vinculação
 Caracteristicas precoces
 A estrutura da relação do bebé com a mãe
 Papel das relações precoces no tornar-se humano
 Conclusão
 Webgrafia e bibliografia

Introdução
Contrariamente aos outros mamíferos, o homem é um ser prematuro, eternamente
inacabado, e esta prematuridade remete-nos para a neotenia, ou seja, o nome dado à
propriedade, em animais, da retenção na idade adulta de características típicas de sua forma
jovem. Os bebés humanos desenvolvem-se muito lentamente e, por essa razão a interação
com os outros é determinante para a sua sobrevivência, sendo assim, as relações precoces
que ocorrem nos primeiros anos de vida da criança, têm um papel fundamental neste
processo de construção do eu.
Durante todo o século XX, foram diversos os investigadores que contribuíram para a
compreensão da natureza e da importância do processo de vinculação precoce. Sendo assim,
com a realização deste trabalho vamos ficar a conhecer e dar a conhecer alguns destes
investigadores como John Bowlby, que desenvolveu a primeira teoria consistente sobre
vinculação precoce, Harry Harlow, que demonstrou a necessidade inata de conforto de
contacto e Mary Ainsworth, que caracterizou três padrões distintos de vinculação precoce.
Para além destes investigadores vamos ficar a conhecer os estudos sobre o papel das
relações precoces no tornar-se humano de René spitz, que identificou enfermidades que
resultaram da privação afetiva precoce, e de Emmy Werner, que coordenou um estudo que
revelou a capacidade de resiliência.
Posto isto, afinal o que se pode intender por relações precoces? E qual o papel destas?
É o que vamos tentar explicar ao longo do trabalho, bem como, de que forma a vinculação
tem um papel importante no desenvolvimento humano.

Relações precoces
As relações precoces que ocorrem nos primeiros anos de vida da criança, consistem
na presença e na influência dos familiares cuidadores ou terceiros. Estas relações são
responsáveis pela construção do nosso eu, que é formado pelo que pensamos, sentimos e
aprendemos. Como somos biologicamente sociais, desde o nascer até ao morrer, estamos
pré-dispostos para interagir socialmente e criar laços com os outros. Trata-se de uma
necessidade adaptativa que nos acompanha ao longo de toda a vida e se inicia com os
cuidadores sobre a forma de vinculação.

Vinculação
Assim sendo, na perspetiva das relações precoces, a vinculação é um laço afetivo
recíproco que se estabelece entre a criança e uma pessoa especifica (figura de vinculação),
em direção à qual a criança se dirige em busca de sustento, apoio e proteção. Deste modo, a
vinculação é um processo aprendido e não instintivo que une a criança e o cuidador num
determinado espaço e perdura no tempo, expressando-se através de reações que procuram
manter a proximidade entre ambos (comportamentos de vinculação). Posto isto, é a
vinculação que torna possível a exploração do mundo por parte da criança e a construção de
um ambiente de segurança, sendo, portanto, essencial ao desenvolvimento pessoal e social
do individuo.
Contudo existem quatro características que distinguem as relações precoces de
vinculação de outras interações sociais, são elas a procura de proximidade, a noção de
base de segurança, o comportamento de refúgio e a angústia e o protesto face à
separação involuntária.
Posso ainda referir que a vinculação, apesar de precoce, não é inata, é antes aprendida
e consolidada ao longo do tempo. Para isso a criança comunica desde cedo com os seus
cuidadores.
Atualmente sabe-se que o bebé humano tem muito mais competências do que durante
muito tempo se supôs, pois comunicam, veem, ouvem e reagem de forma muito mais
complexa do que imaginamos. De facto, os bebés humanos são capazes desde muito cedo de
discriminar e reconhecer os rostos, as vozes e o odor dos que dele cuidam e de responder aos
estímulos com emoção.

Características precoces
A nível sensorial, ao contrário do que se acreditava, os recém-nascidos apresentam um
conjunto de características que facilitam a sua relação com o mundo e o estabelecimento de
vínculos. Apesar de relativamente míope a visão exerce um papel importante, pois aos três
meses o bebé já distingue o rosto do seu cuidador. Relativamente à audição, a partir das
vinte semanas o bebé consegue reagir a sons, conseguindo reconhecer a voz das suas mães à
nascença. Agora de acordo com o olfato, os recém-nascidos têm este sentido fortemente
apurado conseguindo aos três dias de vida diferenciar o cheiro da sua mãe e distinguir odores
agradáveis de desagradáveis. Em relação ao paladar os recém-nascidos conseguem
distinguir diferenças subtis de paladar. Por fim o tato é o primeiro e o mais importante meio
de comunicação entre os adultos e o bebé.
Mas mais do que um mero recetor, o bebé é um comunicador que exerce um papel
ativo sobre os seus cuidadores. As suas reações cativam os adultos e desencadeiam
comportamentos de vinculação. Nas primeiras semanas de vida o bebé já sorri, chora e
imite vocalizações.
Posto isto, estes comportamentos favorecem a proximidade com a figura de vinculação
e predispõem os adultos a prestar cuidados à criança.

A estrutura da relação do bebé com a mãe


JOHN BOWLBY (1907-1990)
Só no seculo XX é que se começou a estudar seriamente questões
ligadas à infância e ao desenvolvimento da criança. Posto isto, John
Bowlby desenvolveu um estudo que visava compreender os efeitos da
privação de cuidados maternos na criança. Concluiu que a privação de
cuidados maternos tem consequências futuras importantes, pois estas
crianças terão maior probabilidade de estabelecer relações afetivas
superficiais, serem menos concentradas e revelarem incapacidade de se relacionarem
socialmente com os outros. Mais tarde, Bowlby desenvolveu outros estudos com crianças
separadas da família por questões de saúde, mas chegou a conclusões semelhantes. Assim
sendo, foi alvo de várias críticas principalmente por ter sobrevalorizado o papel da mãe e
subvalorizado o contributo do pai para as relações afetivas precoces.

HARRY HARLOW (1905-1981)


No entanto, as experiências de Harry Harlow e Mary Ainsworth
completaram o estudo de Bowlby fornecendo-lhe fundamentação
empírica e ampliando-lhe a teoria da vinculação.
Harlow foi o primeiro suporte empírico para a teoria de Bowlby. A
partir de 1957, Harlow realizou experiências com macacos Rhesus que,
apesar de serem mais maduros após o nascimento do que os bebés
humanos, possuíam igualmente várias emoções bem como a
necessidade de cuidados maternais.
Posto isto, Harlow separou alguns bebés macacos das suas mães 6 a 12 horas após o
nascimento, dando-lhes duas mães substitutas (uma feita de Madeira forrada com uma
cobertura macia e a outra feita de arame). Alguns macacos recebiam o leite da mãe de arame,
enquanto outros recebiam-no da mãe de tecido. Mesmo quando a alimentação era assegurada
pela mãe de arame, o macaco passava grande parte do tempo agarrado à mãe de tecido e era
a ela que recorria quando assustado. Os macacos que cresceram com as mães artificiais
ficavam aterrorizados quando eram colocados em situações novas sem a presença da mãe de
tecido. Assim, Harlow concluiu que a necessidade e procura de contacto corporal e
proximidade física são mais importantes do que necessidade de alimentação, o que parece
revelar uma necessidade inata de conforto de contato. Mais tarde, Harlow analisou o
desenvolvimento destas crias e registou as consequências socioafetivas do isolamento social
precoce. Os macacos que participaram nesta experiência e que estiveram em contato
exclusivo com mães inanimadas, revelaram comportamentos sócioafetivos perturbados
quando colocados em contato com indivíduos da mesma espécie, aos quais Harlow designou
por síndrome de isolamento.
Assim sendo, as consequências são progressivamente gravosas para privações sociais
totais durante os 3, 6 e 12 primeiros meses de vida, manifestando-se do seguinte modo:

Isolamento total aos 3 primeiros meses de vida:


- Reações de medo e de fuga ao serem colocados juntamente com os outros macacos; alguns
morreram de anorexia, no entanto outros sobreviveram e conseguiram aprender e adaptar-se
à nova situação.
Isolamento total aos 6 primeiros meses de vida:
- Os jovens isolavam-se; não conseguiam interagir abraçavam-se e embalavam-se a si
mesmos; mostravam-se às vezes aterrorizados; estes não conseguiam aprender nem se
adaptar à nova situação; quando chegavam à adolescência mostravam-se animais
extremamente violentos em relação aos outros macacos, inclusive às suas crias chegando a
agredi-las até à morte.
Isolamento total aos 12 primeiros meses de vida:
- O isolamento por um período equivalente a 5 anos de vida de uma criança humana resulta
em apatia e indiferença completa com os outros macacos, ou seja, ausência de qualquer
comportamento de interação social, positivo ou negativo.
Posto isto, pode-se chegar à conclusão, que as consequências retiradas desta experiência
podem ser relativamente generalizadas aos seres humanos, dado que o mesmo tipo de
psicopatologias (embalar-se, abraçar-se, mutilar-se, incapacidade para interagir) pode ser
observado em crianças cujo desenvolvimento careceu de cuidados maternos. De forma geral,
os resultados destes estudos vieram dar razão às teorias de Bowlby.

MARY AINSWORTH (1913-1999)


Também os estudos de Ainsworth, demonstraram a pertinência das propostas de
Bowlby.
Assim sendo, Ainsworth estudou, no Uganda, 28 crianças com
menos de 2 anos, registando os seus comportamentos e aquisições.
Segundo a investigadora, a criança desenvolve uma base de segurança
que lhe é fornecida pela sua figura de vinculação. Assim, crianças com
uma boa estrutura de vinculação tendem a explorar melhor o mundo
que as rodeia porque se sentem seguras. Sabem, por exemplo, que se se
magoarem podem recorrer ao conforto e proteção da figura de
vinculação.
Ainsworth, quando regressa aos Estados Unidos, retoma de forma mais sistemática os
estudos do Uganda e desenvolveu, com 26 famílias de Baltimore, uma experiência designada
situação estranha. Esta experiência, consiste em ativar em crianças entre os 12 e os 18
meses, comportamentos representativos da vinculação, introduzindo ansiedade ligeira pela
partida e regresso repetidos da figura de vinculação.
Esta situação experimental, incluía diversos elementos geradores de ansiedade, entre
os quais, a separação da figura de vinculação, a exploração de um local estranho e a
interação com uma pessoa desconhecida.
O procedimento implicava observar o bebé, a mãe (exemplo de figura vinculação) e
um adulto amigável (mas desconhecido para a criança), numa sala de brinquedos de um
laboratório.
1) Mãe e bebé passam tempo sozinhos num local estranho e a criança explora o ambiente
2) Quando a criança está adaptada ao local, um desconhecido entra na sala e junta-se à
mãe e ao bebé
3) Neste momento, a mãe sai, deixando o bebé sozinho com o adulto a brincar
4) Pouco tempo depois, a mãe regressa à sala e o estranho sai
5) De seguida, a mãe deixa também a sala, ficando a criança sozinha
6) A criança está sozinha e o desconhecido volta a entrar na sala
7) Por fim, a mãe volta à sala e o adulto amigável deixa o espaço

Posto isto, com esta experiência da situação estranha, Ainsworth registou


comportamentos muito distintos, reveladores da qualidade das relações precoces. A forma
como uma criança é colocada num ambiente estranho reage e explora o mundo que a rodeia
depende da base de segurança que encontra na sua figura de vinculação. Deste modo, ao
analisar-se a reação à situação estranha e a forma como a criança recorre à proteção da figura
de vinculação, pode-se chegar há conclusão da existência de 3 padrões distintos: a
vinculação insegura, a vinculação segura e a vinculação evitante. Na vinculação insegura
a criança revela ansiedade ao explorar o desconhecido, fica inconsolável ao separar-se da
figura de vinculação e mostra hostilidade quando ela regressa. Relativamente, à vinculação
segura a criança explora o meio desconhecido na presença da figura de vinculação, protesta
pela sua saída e procura conforto quando ela regressa. Por fim, na vinculação evitante, o
comportamento da criança não é afetado pela chegada ou saída da figura de vinculação, pois
reprime os sentimentos e a necessidade de conforto.

Sendo assim, podemos concluir que esta experiência demonstrou que a vinculação é
determinante na infância e fundamental para a qualidade das relações futuras.

O papel das relações precoces no tornar-se humano


RENÉ SPITZ (1887-1974)O estilo de vinculação de cada pessoa marca o
modo como ela constrói e dinamiza as suas relações consigo mesma e
com os outros ao longo da vida. São também inúmeras as fontes que nos
dão provas que a privação de afeto na primeira infância pode ter efeitos
duradouros e devastadoras no desenvolvimento.
René spitz, psicanalista, foi um dos responsáveis pelo estudo sobre o
papel das relações precoces para o desenvolvimento infantil. Segundo ele
a carência de cuidados maternos, de ternura, de relações interpessoais e de
comunicação eram a principal causa das elevadas taxas de mortalidade e de morbilidade
entre as crianças recolhidas em instituições.
Deste modo, Spitz identificou duas doenças que ocorrem por privação afetiva precoce
depois de se terem estabelecido vínculos.
A depressão analítica que é um estado depressivo precoce que ocorre em bebés a
partir dos 6 meses, em consequência da rutura na relação com o agente maternante.
Caracteriza-se por sintomas como atonia afetiva, inercia motora, entre outras
consequências psicossomáticas.
O síndrome de hospitalismo que ocorre pela rutura duradoura precoce da relação
afetiva com o agente maternante nos primeiros 18 meses. Este afastamento perturba o
desenvolvimento global (físico, psicológico e intelectual) e desencadeia sentimentos de
abandono, desamparo e medo.

Os efeitos depressivos da síndrome de hospitalismo são devastadores e ocorrem


sequencialmente:
No primeiro mês de separação, a criança abandonada chora e procura proximidade e
conforto junto de outros seres humanos.
No segundo mês de separação, o choro continuo vais dando progressivamente lugar ao
lamento e ao gemido. A criança perde peso e o seu desenvolvimento psicomotor é
interrompido.
No terceiro mês de separação, a criança evita o contacto humano e a atividade motora,
passa longas horas deitada (marasmo) e sofre de insónias.

Posto isto, estas patologias demostram que as relações precoces são fundamentais para
desencadear um sentimento de segurança e autonomia e que este é promotor de
representações positivas de si mesmo e dos outros. As relações precoces afetam, pois, a
autoestima e o desenvolvimento de relações duradouras e gratificantes ao longo da vida.
Sendo assim, investigações recentes confirmam que o desenvolvimento do córtex pré-frontal
é diferente em crianças negligenciadas pelos cuidadores.

EMMY WERNER (1929-)


No entanto, se é verdade que relações precoces débeis prejudicam o desenvolvimento
da criança e a sua vida futura, não devemos negligenciar a capacidade
das crianças vencerem este quadro. Esta consciência deu origem à
utilização do conceito de resiliência em psicologia, que significa a
capacidade de resistência à destruição e a possibilidade de
reconstrução de si mesmo sob circunstâncias desfavoráveis.
A resiliência, enquanto capacidade de adaptação positiva a
situações humanas ou naturais adversas, engloba dois conceitos
fundamentais: fatores de risco, no qual se podem incluir os fatores
centrados na criança, como uma patologia, ligados à configuração familiar, como a violência
doméstica e socioambientais, como a pobreza e por outro lado, fatores de proteção, isto é,
os recursos pessoais, familiares ou extrafamiliares que atenuam ou neutralizam o impacto do
risco e permitem fazer face à situação, nomeadamente saber e poder procurar ajuda.
Um dos estudos pioneios mais citado quando falamos em resiliência deve-se à
psicóloga Emmy Werner, pois esta realizou um estudo com crianças que tiveram infâncias
repletas de fatores de risco, e constatou que um terço delas conseguiu superar as
adversidades recorrendo a fatores de proteção e tornando-se um adulto competente, integrado
e afetuoso. Em todos os casos de sucesso, havia um elemento em comum, pois todos tinham
tido o apoio de um adulto, familiar ou não, o tutor de resiliência.
Conclui-se assim, que a resiliência não se constrói no interior de cada pessoa nem é o
resultado exclusivo da influência do meio, mas o resultado da combinação de ambos.

Conclusão:
Com a realização deste trabalho podemos concluir que as relações precoces são
fundamentais para o ser humano, permitindo-lhe a formação da sua entidade e personalidade,
sendo organizadoras da saúde mental e elementares para o bem-estar psicossocial e também
que o caráter inacabado do Homem não é, portanto, a sua fragilidade, mas a razão da sua
força.

Webgrafa e bibliografia
 https://issuu.com/marinasantos/docs/3_1_rela__es_precoces
 http://www.resumos.net/psicologia.html
 Manual- Psicologia B “Nós” 12º ano

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