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A TEORIA DO APEGO:
BREVE HISTÓRICO E FUNDAMENTOS
1 ColaboradordeBowlby. (N .E.)
A TEORIA DO APEGO NO CONTEXTO DA PRODUÇÃO CIENTIFICA 13
eia de uma unidade biológica formada pelo par mãe/ criança, a qual
seria depois desfeita para dar lugar ao que ele denomina de "engan-
chamento a distância", isto é, uma relação de amor não simbiótica
(Roudinesco; P lon, 1998; Guedeney; Guedeney, 2006).
Para Hermann (1976), a vida humana comporta tanto um instin-
to de agarramen to quanto um instinto de exploração do ambiente,
sendo cada um, simultaneamente, antagônico e complementar ao
outro. No entanto, os objetivos desse autor diferiam enormemente
das metas traçadas por Bowlby ao longo de sua traj etória intelectual,
já que o psicanalista húngaro se empenhava somente em garantir a
continuidade do freudismo, elaborando modelos matemáticos para
apoiar a Psicanálise em dados biológicos. Por esse motivo, os traba-
lhos de Hermann influenciaram enormemente outros psicanalistas,
tais como Melanie Klein (Roudinesco; Plon, 1998).
Vê-se que a Etologia fornece a Bowlby referências essenciais, visto
que, por seu intermédio, ele pôde demonstrar a função adaptativa dos
comportamentos d e apego. Nfas, q ual seria, de fato, a importânc ia
desse novo olhar para a ciência psicológica? A resposta a essa questão
exige considerar que Charles Darwin j á havia elaborado a proposta
de estender ao desenvolvimento humano um olhar evolucionista
em duas de suas publicações.2 ~1as, especificamente no campo da
P sicologia, foi somente a partir dos estudos de Bowlby, inspirados
em Darwin, que tomou corpo uma interpretação integrada e cien-
tificamente consistente de um fenômeno básico e característico do
homo sapiens sapiens: a formação do laço social (Carvalho; Politano;
Franco, 2008).
Van der Horst e Van der Veer (201O), historiadores da Teoria do
Apego, afirmam, contudo, que os resultados oriundos de inúme-
ras pesquisas etológicas na verdade apenas possibilitaram a Bowlby
reforçar um posicionamento cientifico que ele já havia assumido e
defendido perante a Sociedade Britânica de Psicanálise.
3 Bowlby (t 969).
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do corpo da mãe, faz com que o colo nessa posição se tome mais
aconchegante para a criança, transmitindo-lhe segurança e conforto
(Harris; Almerigi, 2005).
Na década de 1970, Palmqvist (1975), pesquisador da Universi -
dade de Copenhagen, visando verificar os efeitos do som das batidas
de coração de um adulto no ganho de massa corpórea de bebês, acom-
panhou 175 crianças nascidas em uma mesma maternidade, situada
no subúrbio da capital da Dinamarca. Palmqvist dividiu as crianças
em dois grupos. No grupo experimental, 92 recém-nascidos foram
expostos ao som das batidas de coração de um adulto 12 horas por dia,
em um período de seis dias seguidos. No grupo controle, 83 crianças
não foram expostas a essa mesmo estimulação. Não foi encontrada uma
diferença significativa no aumento de peso dos bebês dos dois grupos.
Contudo, Tomaszycki e cols. (1998) correlacionaram a preferência
de filhotes de macacos Rhesus pela mama esquerda da mãe à hipótese
do batimento cardíaco, ou seja, por ouvir, desde a gestação, o som do
batimento cardíaco da mãe, o filhote, ao nascer, buscaria - pelo meca-
nismo de imprinting- esseestímulo auditivo. Tal preferência decresce
ao longo das cinco primeiras semanas de vida desses animais. Para a
pesquisa, foram observados 41 pares mãe-filhote criados em cativeiros
do Yerkes Regional Primate Research Center, em Lawrenceville, nos
Estados Unidos. Esses pares foran1 acompanhados nas seis semanas
subsequentes ao parto da mãe. As observações eram feitas três vezes
por semana, com duração de uma hora para cada sessão. Verificou -se,
também, que, quando andavam nos ambientes abertos do cativeiro,
as genitoras carregavam seus filhotes Rhesus com o braço esquerdo.
Decerto o apego em simios apresenta suas especificidades, mas, mesmo
em ambientes naturais, os macacos Rhesus crescem sob os cuidados
maternos, estabelecendo uma relação de grande proximidade com
suas genitoras. Contudo, na puberdade, as fêmeas mantêm o apego
à figura materna, permanecendo em seu grupo de origem, enquanto
os machos rompem o vínculo estabelecido com suas mães, migrando
para outros grupos sociais (Suomi, 2005).
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