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Psicologia e

pedagogia
Cordeiro, Carolina Thomaz
SST Psicologia e pedagogia / Carolina Thomaz Cordeiro
Ano: 2020
nº de p.: 10 páginas

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Psicologia e pedagogia

Apresentação
Psicologia e Pedagogia são consideradas ciências modernas, o que pode soar
contraditório, uma vez que as primeiras investigações nos remetem aos filósofos
gregos da Antiguidade. Psicologia e Pedagogia têm origem na Filosofia e, até o início
do século XIX, não havia uma separação entre essas ciências. Segundo Nogueira
e Leal (2018, p. 34), “a linha que separa as histórias da Pedagogia e da Psicologia
da história da Filosofia é frágil e tênue, tamanho o vínculo que as imbrica em uma
espécie de simbiose, que as confunde até os séculos XVIII e XIX”.

Desde a origem da ciência psicológica na Alemanha, no século XIX, cujo principal


representante foi Wilhelm Wundt, a Psicologia buscou compreender as diferenças
entre os sujeitos, estudando, principalmente, o comportamento humano. Esses
estudos contribuíram sobremaneira com a educação no que se refere às reflexões
sobre atenção, inteligência, desenvolvimento e aprendizagem.

Psicologia e pedagogia
Vamos iniciar o nosso estudo pelas definições de Pedagogia e Psicologia. A
palavra Pedagogia tem origem grega e é composta pelos termos paidós, ageain
e logos. Ela refere-se ao ensino das crianças e compreende um conjunto de
princípios e métodos pautados na Filosofia e em algumas ciências humanas
(como a Psicologia). Já Psicologia, também de origem grega, deriva da união
das palavras psyché e logos. Ao dar significado ao estudo da mente ou da alma,
ela também pode ser definida como a ciência que estuda o comportamento e os
processos mentais do ser humano.

Ao estudar o desenvolvimento humano, a Psicologia utiliza-se de diversas teorias e


metodologias que buscam compreender como ocorre o processo do ciclo vital.

Tais teorias estão apoiadas por concepções de homem, de mundo,


de desenvolvimento, que não se exime da história do tempo que as
constituem, seja por fortalecê-las ideologicamente, seja para questioná-
las e propor uma nova visão. Teorias que se propuseram a compreender o

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ser humano, concentrando-se nos aspectos mentais, cognitivos, afetivos,
psicossexuais, com relevância na interação ambiente-sujeito, ainda que
de maneira distinta. (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014, p. 36).

Piaget e Wallon compreendem o desenvolvimento humano e o dividem em estágios.


Sigmund Freud (1856-1939) também distingue cinco fases durante o ciclo vital, as
quais vamos descrever de forma breve na sequência.

Ao debruçar-se sobre o estudo do desenvolvimento humano, bem como


sobre a constituição da mente, Freud ampara-se em sua teoria acerca
da evolução da Psicossexualidade. Ele defendia que a base de todo
comportamento, ou seja, sua determinação, está na mente, no psiquismo.
Acreditava, pois, que a motivação humana tem uma base biológica, as
chamadas pulsões inatas, que se referem a fontes internas de estimulação
corporal. (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014, p.122).

Atenção
A questão sexual, na teoria freudiana, não está ligada ao ato sexual
em si, mas às diferentes formas de prazer reconhecidas em áreas
diferentes do corpo de acordo com cada fase do desenvolvimento.

O fundador da Psicanálise destacou-se pelo papel que atribuiu ao inconsciente,


construindo sua teoria da personalidade defendendo que o comportamento se deve
a processos mentais dos quais frequentemente o indivíduo não tem consciência.

Freud desenvolveu um modelo topográfico da mente fazendo analogia com um


iceberg. Na superfície, localiza-se o consciente, onde ocorrem os pensamentos que
acessamos de forma imediata; mais abaixo está o pré-consciente, onde se concentra
o que pode ser recuperado pela memória com alguma facilidade; e, finalmente, o
inconsciente, a parte submersa do iceberg, mas que ocupa a maior parte da mente e
que apesar de não ser acessível a qualquer momento, influencia sobremaneira nossa
personalidade, motivação e comportamento.

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Vejamos no quadro a seguir o desenvolvimento psicossexual segundo Sigmund
Freud.

Desenvolvimento psicossexual de Freud

Fase Descrição
Do nascimento até mais ou menos o segundo ano de vida. O prazer está
Oral localizado na boca. O primeiro objeto de prazer do bebê é o seio materno.
Nesta fase não há a distinção do eu-outro.

Mais ou menos dos dois aos quatro anos. Nesta etapa, há um reconhecimento
Anal do corpo e a criança transfere o prazer para outras partes, o que reflete em
atividades como o ato de reter e expelir urina e/ou fezes.

Aproximadamente dos quatro aos seis anos. Fase em que ocorre a descoberta
Fálica do corpo e órgãos genitais, marcada por toques e estimulação, bem como pela
diferenciação dos sexos.

Mais ou menos dos seis aos 11 anos de idade. Período intermediário em que
Latência as pulsões e os interesses são transferidos para atividades como brincar,
praticar esportes e estudar.

Corresponde à adolescência e idade adulta, a partir dos 12 anos


Genital aproximadamente. Ocorre um despertar sexual, como resultado das mudanças
biológicas e psicológicas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Um importante conceito na teoria freudiana no tocante à Educação é o de


transferência, um dos primeiros fenômenos observados por Freud, ao perceber que
todos os seus pacientes desenvolviam por ele sentimentos de grande intensidade,
fossem eles afetuosos ou hostis.

Reflita
Lembre-se de sua trajetória escolar, sua relação com os professores
e os conteúdos apresentados. Você consegue perceber a
importância de Freud para a Educação?

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Teorias da psicologia da
aprendizagem
Outra concepção com origem na Filosofia e com implicações na Educação é o
Behaviorismo ou Comportamentalismo, cujo principal representante é Skinner
(1904-1989). Muito mais do que notar que o ambiente pode influenciar as pessoas,
Skinner desenvolveu experimentos em seus estudos de análise do comportamento.
Utilizando ratos em caixas, ele pôde verificar que o sujeito também muda o ambiente
e nele opera.

Reflita
Em um experimento, havia uma barra de ferro que, ao ser
pressionada, oferecia água ou alimento aos ratos. Num primeiro
momento, o acontecimento era por acaso, mas, posteriormente, os
ratos associavam que sempre que apertassem a barra receberiam
água ou alimento. De modo semelhante, a caixa também
aplicava choques, ao ser apertada uma barra. Nesse caso, no
condicionamento operante, o rato agiu sobre o meio, trouxe uma
resposta/satisfação de uma necessidade e a probabilidade de que
o comportamento se repetisse (receber mais água) ou extinguisse
(não mais receber o choque). As consequências que se seguiram
após o recebimento da água ou choque são chamadas, na teoria,
de reforçadores positivos ou negativos.

A teoria comportamental foi utilizada por muito tempo pela Pedagogia e pela
Educação, por elas compreenderem a importância dos condicionamentos e reforços
na busca pela eficácia da aprendizagem na escola.

Paralelamente ao Behaviorismo, temos a escola da Gestalt, a qual desenvolveu uma


teoria da percepção. Antes de descrevermos esta teoria, responda o que você vê na
figura a seguir:

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Gestalt

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Possivelmente você deve ter visto duas pessoas, uma de frente para a outra, ou
um castiçal branco, não é verdade? Mas o que você viu primeiro? Será que todas
as pessoas tiveram a mesma percepção inicial que você teve? Por que há essa
diferenciação? Essas são algumas questões que mobilizaram teóricos de uma
escola da Psicologia denominada de Gestalt. O que significa essa palavra?

Os principais representantes desta abordagem foram Max Wertheimer (1880-


1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940), estudantes de
Filosofia e Psicologia na Universidade de Berlim. Seus estudos, baseados na
psicofísica, tinham como principal preocupação a compreensão da percepção e da
sensação no movimento, ou seja, identificar os processos psicológicos presentes
na ilusão de ótica quando uma pessoa percebe um estímulo diferente do que está
diante de si (forma).

Reflita
Uma professora utilizará exemplos e atividades que envolvem o
plantio e colheita para o ensino de ciências do meio em que vivem,
considerando o solo e as plantações (como um todo) na explicação
das partes e como esta acontece. Cabe, ainda, que a professora
sugira que cada discente explique como funciona em sua casa.

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David Ausubel e Carl Rogers focaram seus estudos na aprendizagem significativa e o
ensino centrado no aprendiz. Na linha oposta à dos behavioristas, surge a concepção
de ensino e aprendizagem de Ausubel (1918-2008). Pouco divulgado no Brasil, o
autor ficou conhecido pelo conceito de aprendizagem significativa o que para ele
quer dizer ampliar e reconfigurar ideias já existentes na estrutura mental e com isso
ser capaz de relacionar e acessar novos conteúdos.

A teoria de Ausubel leva em consideração a história do sujeito e ressalta o papel do


professor na proposição de situações que favoreçam a aprendizagem.

Entre o Behaviorismo e a Psicanálise, surge a teoria rogeriana como uma terceira


via no meio do século XX. As ideias do norte-americano Carl Rogers (1902-1987)
para a educação são uma extensão de sua teoria como psicólogo, na qual opõe-se
às concepções e práticas dominantes nos consultórios e nas escolas. Carl Rogers
acreditava que as pessoas só aprendem aquilo de que necessitam ou o que querem
aprender. Sua atenção recaiu sobre a relação aluno-professor, segundo o qual
deve ser baseada na confiança e destituída de noções de hierarquia. A pedagogia
rogeriana, entretanto, não significa abandonar os alunos a si mesmos, mas dar apoio
para que caminhem sozinhos.

A psicologia na formação de
professores
da educação especial
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
visa garantir o acesso de crianças, jovens e adultos ao ensino regular, tendo como
público-alvo a inclusão de alunos com deficiência, transtorno do espectro autista ou
superdotação.

Suas diretrizes tratam também de assegurar o atendimento educacional


especializado (AEE), bem como capacitar os profissionais da educação para
qualificar o atendimento, envolver a família e a comunidade nas ações escolares
e propiciar a interlocução de diferentes setores ligados às políticas públicas em
educação.

Durante muito tempo, a Psicologia no contexto escolar foi utilizada apenas para
separar e classificar os alunos de acordo com o seu desempenho e/ou suas
dificuldades. Felizmente, devido a recentes mudanças políticas e sociais, as

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contribuições da Psicologia para a Educação foram ampliadas, colaborando para
a evolução dos processos de aprendizagem e a interação entre aluno, professor e
escola, adquirindo uma função preventiva e direcionada às funções individuais e
necessidades de desenvolvimento específicas na construção do conhecimento.

Educar uma criança, ensiná-la, evitando perturbações em seu


comportamento, exige do adulto, além de amor e dedicação, o conhecimento
das características infantis em cada fase do desenvolvimento: seus
interesses, necessidades, motivações e possibilidades. Para ensinar
uma atividade a uma criança precisa-se saber como a criança é, se
está madura para aquela atividade, como poderá ser motivada, quais
os melhores meios de ensiná-la e de tornar duradoura a aprendizagem.
(BARROS, 2007, p. 10).

Independentemente dos distúrbios de aprendizagem que a criança apresente, sejam


eles de nascença ou advindos de um fato mais adiante em seu crescimento, todas
as crianças sofrem influências que interferem em seu desenvolvimento intelectual e
escolar, seja ele bom ou ruim.

As subetapas da infância apresentam grande influência nos aspectos neurológicos,


cognitivos, familiares e sociais, pois é nessa fase que a identidade da criança
está sendo formada. Sendo assim, conhecer tais influências permitirá com que
enxerguemos seu impacto nas demais fases do desenvolvimento humano e em seus
processos de aprendizagem.

Piletti, Rossato e Rossato (2014) pontuam o quão essencial é a intensificação


da relação do sujeito com as experiências humanas, que lhe possibilitarão a
transformação e o desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores:
linguagem, memória, criatividade e imaginação. Diante dessas considerações,
devemos atentar para o fato e a importância que as experiências humanas e o
contato com a cultura produzem na infância e repercutem ao longo de toda a vida
de uma pessoa. Com isso, os vínculos que se estabelecem entre professores e
alunos são fundamentais para que o convívio promova o desenvolvimento e uma
aprendizagem significativa, assim como as interações com pais, família, pessoas
próximas e o bebê ou a criança.

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Fechamento
Ao concluir o estudo deste material, devemos ter em mente que o desenvolvimento
humano é bastante complexo e possui inúmeras visões, as quais se complementam
e não se contrapõem. O que hoje em dia a Neurociência afirma sobre o processo
de aprendizagem assemelha-se muito ao que os teóricos do desenvolvimento
estudados durante esta disciplina nos mostraram por caminhos diversos.

Como disciplina da grade curricular da Pedagogia, a Psicologia agrega valor e


conhecimento à formação do professor, uma vez que lhe permite entender como
se dá o processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, apresentando
as características comuns das diferentes fases do ciclo de vida, bem como as
particularidades de cada indivíduo que precisam ser respeitadas.

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Referências
BARROS, C S G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2007.

BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na


Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, DF, jan. 2008.

NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os


pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. Curitiba: InterSaberes, 2018.

PILETTI, N.; ROSSATO, S. M.; ROSSATO, G. Psicologia do Desenvolvimento. São


Paulo: Contexto, 2014.

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