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Inclusão educacional:

conceitos e prática
Costa, L. D.;
Inclusão educacional: conceitos e prática / Autor: Larissa
Daniela Costa
Local: Florianópolis, 2020.
SST
nº de p.: 11 páginas

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Inclusão educacional:
conceitos e prática

Apresentação
Neste momento você poderá compreender como a aprendizagem se dá e como
ela pode ser eficaz quando são considerados os princípios psicológicos. Para isto,
estudaremos as teorias psicológicas contemporâneas aplicadas à educação.

Veremos que os crescentes desafios da sociedade atual exigem que os


profissionais ligados à educação conheçam os processos do desenvolvimento
humano e entendam a natureza da aprendizagem significativa. A formação desses
profissionais deve torná-los agentes de transformação social, com capacitação e
habilidades para lidar com os diferentes contextos educativos.

Inclusão educacional
Conhecemos como inclusão escolar o movimento que busca e luta por igualdade
de direitos àqueles que por alguma razão ficaram à margem do que os dispositivos
educacionais, sustentados pelos discursos científicos, consideram fora do que foi
balizado como “normal” ao desenvolvimento.

Dazzani (2010, p. 365) afirma:

Originalmente, a expressão educação inclusiva surgiu na luta de


profissionais da área de educação especial e na reivindicação do ingresso
de alunos, chamados de portadores de necessidades educativas especiais
(antes chamados de portadores de deficiência) nas escolas regulares, e
não apenas nas escolas especiais. (DAZZANI, 2010, p. 365)

Quando você lê o termo inclusão escolar, quem vem à sua mente? Quem queremos
incluir? Falamos de pessoas com deficiência, pessoas com necessidades
especiais. Mas, quem faz parte dessas categorias? Será que somente aqueles que
são considerados pessoas com deficiência estão expostos a práticas excludentes
na/da escola?

Pensar o ambiente escolar como propício a ações de inclusão é considerá-lo


também um meio que provoca e mantém exclusões e sofrimentos. Não falaremos

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apenas daqueles que estão legalmente amparados pela categoria “necessidades
especiais”. Falaremos também do fenômeno conhecido como fracasso escolar,
das dificuldades de aprendizagem e de alguns transtornos relacionados ao
desenvolvimento e aprendizagem. E, finalmente, abordaremos o bullying, que pode
ser praticado não somente com aqueles que apresentam déficits, mas também com
os que são percebidos como “diferentes” dos demais.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015) define como pessoas com
necessidades especiais aquelas que possuem limitação ou incapacidade nas
categorias listadas a seguir.

• visual:

cegueira, baixa visão.

• física:

alteração de parte do corpo humano que resulte em comprometimento físico.

• auditiva:

perda auditiva parcial ou total.

• intelectual:

desempenho intelectual abaixo da média, limitações nas atividades de


comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, saúde e segurança, dentre
outras.

• múltipla:

associação de duas ou mais deficiências.

Segundo Fávero (2013), a educação oferecida às crianças especiais no Brasil


tem seguido dois caminhos distintos. As escolas especiais/especializadas que
atendem às crianças a partir de suas dificuldades e limitações apresentam-se como
uma possibilidade de reforço ao ensino regular. Nesse modelo, a escola funciona

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como uma “redoma” que segrega no âmbito escolar aqueles que pertencem à
categoria especial, reforçando essa diferença. Com isso, os alunos são privados da
convivência com outras crianças que não possuem tais condições estigmatizadas
socialmente.

Há escolas regulares que oferecem ensino com a possibilidade de que as crianças


especiais recebam apoio profissional especializado e convivam no mesmo ambiente
que outras crianças que não apresentam as mesmas condições que a sua.

Dessa forma, podemos problematizar a postura adotada pelas instituições de ensino


regular. Esse “não” ratificado diariamente, ao fechar suas portas e não receber
esses alunos, além de ir de encontro a um direito da criança, confirma a inabilidade
e inadequação da escola em relação a essa demanda. Não falamos apenas de
deficiências físicas incapacitantes. Como veremos posteriormente, podemos
identificar dificuldades da escola em lidar com o diferente, ainda que essa diferença
seja mais sutil. Assim, reiteramos a importância dessas discussões no processo
formativo do futuro professor.

Alterações do desenvolvimento
humano
Com a democratização da educação, no século XIX, percebemos também a
homogeneização dos processos educativos. De um lado, as escolas com seus
projetos político-pedagógicos, seus conteúdos a serem lecionados; de outro,
os alunos, que devem estar preparados para aprender. Contudo, o processo de
aprendizagem é complexo, seu sucesso depende de outros fatores, além das
habilidades cognitivas do aluno e da didática docente.

Como bons cartesianos, ao elegermos um objeto de interesse para estudá-lo,


criamos categorias e classificações, o que facilita a empreitada científica. Ao passo
que criamos categorias, instituem-se especialidades responsáveis por elas. A
educação não foge a essa regra.

Como você já viu até aqui, o desenvolvimento humano é estudado por muitos
autores como um trajeto a ser percorrido. Todos nós começamos o deslocamento
no nascimento e temos uma rota a seguir. Contudo, existem várias circunstâncias
que podem facilitar ou dificultar esse percurso, concorda? Desde a vida intrauterina,
a criança está exposta a fatores de risco e fatores de proteção, os quis poderão

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interferir no seu desenvolvimento. Essas interferências ambientais tendem a
aumentar ao longo desse desenvolvimento. Você precisa atentar que, ainda que o
destino seja o mesmo (todos nós deveríamos envelhecer), esse processo não é igual
para todos, tampouco é linear.

Existem, sim, habilidades que devem ser adquiridas em determinada faixa etária,
capacidades que sejam desenvolvidas e aprimoradas. Contudo, o que não podemos
é exigir que todos sigam o mesmo percurso, da mesma forma. Cada criança possui
sua história. Cada aluno possui seu ritmo, suas habilidades. É com essas diferenças
que você vai lidar em sala de aula. Não são apenas os alunos com deficiência que
divergem desse padrão.

Essas variações no desenvolvimento e na aprendizagem podem ter como


consequências desde uma dificuldade de aprendizagem a um transtorno do
desenvolvimento. As limitações decorrentes de transtornos do desenvolvimento
podem acometer os aspectos neurológicos, emocionais, comportamentais,
linguísticos. A Psicologia, ao produzir conhecimento sobre o desenvolvimento e o
processo de aprendizagem, produz descrições e estratégias de tratamento.

Dificuldades de aprendizagem
Na literatura científica, a expressão “dificuldade de aprendizagem” tem sido
compreendida por alguns autores como uma deficiência apresentada em
determinada área. Santrock (2010) aponta os critérios que sinalizam para esse
diagnóstico.
Critérios para diagnosticar a deficiência de aprendizagem

QI superior ao que
caracteriza a deficiência
intelectual

Deficiência de
aprendizagem

Não apresentar outro


Dificuldade significativa
transtorno que cause
em uma área acadêmica
a dificuldade

Fonte: Adaptada de Santrock (2010).

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O professor apresenta-se como uma figura essencial na identificação inicial de uma
possível dificuldade de aprendizagem. Ele poderá recorrer aos pais para certificar-se
de que essa dificuldade não é uma consequência de outros transtornos (como uma
depressão) ou da ocorrência de algum evento significativo. A família, por sua vez,
pode recorrer a profissionais especializados, para que seja feito o diagnóstico ou o
encaminhamento necessário. A dificuldade de aprendizagem, por sua vez, poderá ter
como consequência o fracasso escolar, que discutiremos a seguir.

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos


neuropsiquiátricos relacionados ao desenvolvimento mais conhecidos e discutidos,
e tem como consequência dificuldades de aprendizagem. É caracterizado pela tríade
desatenção, hiperatividade e impulsividade. A criança com TDAH tem dificuldades
em manter-se concentrada em atividades que demandem muito tempo e energia
mental – sendo muitas vezes considerada preguiçosa pelos leigos. Em relação
à hiperatividade: demonstra-se com as “baterias sempre recarregadas”; gosta de
atividades que envolvam alto gasto de esforço físico; apresenta muita dificuldade
com as atividades desenvolvidas na escola que demandem que a criança fique
sentada em sua cadeira, em silêncio.

Se algumas crianças que têm o desenvolvimento dentro do que se considera


comum à idade já apresentam dificuldades de adaptação, imagine o sofrimento
que as crianças com TDAH sentem ao serem exigidas tamanha “quietude”! A
característica relacionada à impulsividade pode ser reconhecida a partir de alguns
comportamentos apresentados, tais como: dificuldade em esperar e antecipar-se
à pergunta.

Fracasso escolar
Você acredita que permitir que uma criança com algum tipo de deficiência/limitação
seja matriculada na escola garante sua inclusão? A ação de abrir as portas da
escola para o ingresso, pura e simplesmente, não aponta para nenhum avanço, nem
comprometimento da escola em relação a essa problemática.

A escola tem o compromisso de ser facilitadora do processo de aprendizagem dos


seus alunos, ao pensar e possibilitar estratégias de ensino que alcancem essas
necessidades.

O fracasso escolar também mantém uma estreita relação com os processos


avaliativos, os quais servem como “argumentos” para embasar o que conhecemos

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como fracasso escolar. Dessa forma, mais uma vez, queremos atentar para a
responsabilidade da escola na criação e manutenção desses “lugares”.

Enquanto professor e componente da escola, qual seu comprometimento com a


manutenção desses lugares? O fenômeno “fracasso escolar” poderá englobar não
somente os alunos que apresentam dificuldades/transtornos ou necessidades,
mas também aqueles que fogem ao “padrão” que a escola estipula pelos currículos,
conteúdos programáticos, metodologias. Todos aqueles que não conseguem ter um
bom rendimento trazem consigo o rótulo de “aluno que fracassa”.

Muitas vezes, a escola se exime da sua responsabilidade e mantém-se como lugar


excludente, além de ressaltar e culpabilizar o aluno por não alcançar aquilo que se
espera dele. Quais estratégias você pode pensar para promover o sucesso do aluno?
Qual a interlocução entre as necessidades dele e as da escola?

No próximo tópico, tentaremos conceituar o que a literatura como transtornos de


aprendizagem e entender um pouco mais sobre o bullying.

Transtornos de aprendizagem
e bullying
Os transtornos de aprendizagem estão relacionados às desordens do
desenvolvimento e podem abranger determinadas fases (aquisição de habilidades
novas) ou estarem relacionados ao desenvolvimento dessas novas “capacidades”
(fala, escrita, grafia, aritmética).

O Manual Estatístico e Diagnóstico de Doenças Mentais (DSM-5) nomeia transtorno


a/o disfunção/sofrimento/comprometimento que cause prejuízo ao indivíduo
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2015). É comum que os transtornos
de aprendizagem sejam diagnosticados na infância, mas isso não significa que
adultos não os apresentem. Várias disciplinas científicas estudam esses déficits:
Fonoaudiologia, Psicopedagogia, Pedagogia. É importante salientar que esses
déficits são considerados transtornos de aprendizagem, desde que seja comprovada
ausência de comprometimentos neurológicos e sensoriais.

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A seguir, serão listados alguns dos principais transtornos que as crianças podem
apresentar.

• disgrafia:

falha na aquisição ou desenvolvimento da escrita.

• disortografia:

dificuldade em simbolizar corretamente a linguagem oral, a criança escolhe


erroneamente as letras quando vai escrever.

• dislexia:

dificuldade para entender como letras e sons formam palavras.

• discalculia:

dificuldade em aprender/fazer operações aritméticas e trabalhar com


símbolos matemáticos.

Veja que há outra problemática que pode estar presente na escola: o bullying.

Bullying
O termo bullying é originário da língua inglesa “bully”, que significa “valentão,
agressor”. Esse fenômeno conhecido como bullying é relativamente novo, mas
devemos considerar que essa prática é antiga. Então, o que mudou? Mudou a forma
de lidarmos com essas práticas, ao considerá-las como algo que merece atenção e
assistência, sobretudo na escola.

Alguns pesquisadores têm adotado os termos agressor/vítima para abordar


as pessoas envolvidas. Meier e Rolim (2012) afirmam que a prática de bullying
apresenta algumas características.

• É intencional! O agressor/autor tem como objetivo, com a sua ação, provocar


um sofrimento na vítima.
• Há repetição, ou seja, a ação tem uma determinada frequência.

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• A vítima vivencia o bullying como algo que traz sofrimento físico e/ou psíqui-
co.
• A pessoa que pratica bullying tem mais poder (status, força, altura etc.) que
sua vítima.

A vítima de bullying pode ser escolhida por estar relacionada a alguma temática já
discutida nos tópicos anteriores, mas também podem ser alvo os que são tímidos,
aqueles que não têm muitas amizades, que falam pouco, que são “minoria” em sala
etc. Já dá pra você perceber que o agressor escolhe a vítima criteriosamente, pois
ele tem a intenção de causar sofrimento mesmo.

Dessa forma, podemos pensar no bullying como o causador de um efeito dominó:


quais outras peças podem ser “atingidas” quando ele é acionado? Podemos pensar
que a vítima apresenta um sofrimento psíquico muito grande, já que na maioria das
vezes ela sofre só. Nesse caso, a família e a escola não conseguem escutar essa
demanda, pois a vítima se fecha. Com isso, pode haver diminuição no rendimento
escolar, faltas, depressão e até mesmo culminar em suicídio (MEIER; ROLIM, 2012).

É importante que toda a escola esteja atenta para a promoção de ações que
permitam a escuta dessas demandas veladas, tanto da vítima (seu silêncio) quanto
do autor (a agressividade exacerbada).

Fechamento
Estudamos a inclusão educacional e relacionamos essa temática a discussões atuais
que não se limitam à problemática da oferta de educação especial para pessoas com
necessidades específicas.

Pensar em inclusão escolar é admitir que o contexto educacional, além de promover


crescimento, pode ser um lugar de promoção de sofrimento psíquico. A escola,
como uma representação micro do que é macro (sociedade), deve proporcionar que
a criança conviva com as diferenças. A manutenção de expressões que reforçam as
dificuldades pode, também, reforçar práticas excludentes.

Abordamos também como os transtornos de aprendizagem surgem como


categorias que pretendem dar conta das peculiaridades que fogem “às regras”. Por
fim, apresentamos o bullying como uma possível ação excludente que pode ser
desenvolvida na escola.

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Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM5: Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

BRASIL. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.146, de 6 de julho
de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência). Brasília, DF, 6 jul. 2015. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 01 abr. 2020.

DAZZANI, M. V. M. A psicologia escolar e a educação inclusiva: Uma leitura crítica.


Psicol. cienc. prof. [on-line], v. 30, n. 2, p. 362-375, 2010. Disponível em: http://www.
scielo.br/pdf/pcp/v30n2/v30n2a11.pdf. Acesso em: 01 abr. 2020.

FÁVERO, E. A. G. O direito à diferença na igualdade de direitos. In: MANTOAN, M. T. E.


(Org.). O Desafio das Diferenças nas Escolas. Petrópolis: Vozes, 2013.

MEIER, M; ROLIM, J. Bullying sem blá blá blá. Curitiba: InterSaberes, 2012.

SANTROCK, J. W. Psicologia Educacional. Porto Alegre: Grupo A, 2010.

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