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Índice

1.Introdução .................................................................................................................................... 3

2.Teorias do desenvolvimento psíquico .......................................................................................... 4

2.1.Desenvolvimento psíquico da criança, dos 0 a 16 anos Segundo Sigmund Freud ................... 4

2.2.Desenvolvimento psíquico da criança, dos 0 a 16 anos Segundo Jean Piaget .......................... 6

2.3. Desenvolvimento psíquico da criança, dos 0 a 16 anos Segundo Vygotsck e Leontiev ......... 9

2.4.A visão do Desenvolvimento Infantil ..................................................................................... 10

2.5. Desenvolvimento Cognitivo segundo Alexei Nikolaevich Leontiev (1903-1975)................ 11

2.6.Características dos Períodos de Desenvolvimento Psíquico segundo Leontiev ..................... 12

2.7.Desenvolvimento psíquico do adulto ...................................................................................... 16

3.Conclusão................................................................................................................................... 18

4.Bibliografia ................................................................................................................................ 19
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1.Introdução

O estudo do desenvolvimento psíquico é uma área fundamental na psicologia que busca


compreender as mudanças emocionais, cognitivas e sociais que ocorrem ao longo da vida de um
indivíduo. Ao longo dos anos, diversos teóricos contribuíram com diferentes perspectivas e
abordagens para compreender esse processo complexo. Este trabalho tem como objectivo
explorar as teorias do desenvolvimento psíquico, desde a infância até a idade adulta, abordando
as contribuições de Sigmund Freud, Jean Piaget e Lev Vygotsky, bem como de seu colaborador
Alexander Lúria.

Como método, Para alcançar esse objectivo, usei uma revisão da literatura académica,
abordando os principais conceitos, princípios e pesquisas em cada área de estudo. Serão
comparadas e contrastadas as perspectivas de Freud, Piaget, Vygotsky e Leontiev, visando
identificar pontos de convergência e divergência entre suas teorias.
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2.Teorias do desenvolvimento psíquico

A forma de pensar o desenvolvimento humano tem se dado de diferentes maneiras ao longo da


história da Psicologia desde sua fundação por Willhem Wundt em 1816. Esta ciência, em seu
processo de construção no seio de intensas transformações económicas, políticas e sociais, tem
gerado múltiplos enfoques e, por conseguinte, diferentes visões sobre o homem em sua
constituição física, mental e afectivo-social.

A esse respeito, Palacios (2005) destaca a amplitude, a flexibilidade e o pluralismo como marcas
da Psicologia Evolutiva contemporânea. Não é por acaso, o amplo leque de abordagens que
detém o seu olhar sobre o desenvolvimento, levando-nos a perceber a complexidade do mesmo.

Neste sentido, apresentaremos a síntese das principais teorias psicológicas que versaram sobre o
tema, dando ênfase, em cada uma delas, ao período da adolescência.

2.1.Desenvolvimento psíquico da criança, dos 0 a 16 anos Segundo Sigmund Freud

Sigmund Freud nasceu em 1856, em Freiberg (actual Tchecoslováquia) e mor- reu em 1939.
Viveu grande parte de sua vida na Áustria, em uma época mar- cada por conflitos constantes na
transição do feudalismo ao capitalismo; por rupturas de concepções filosóficas e ideológicas e
pelo florescimento das universidades, das pesquisas científicas e das artes. Nesse cenário,
formado em medicina e actuando na área da neurologia, Freud desenvolveu a psicanálise a partir
de seus trabalhos clínicos, com pacientes histéricas.

Em sua teoria psicossexual, Freud descreve 5 fases do desenvolvimento psíquico da criança que
são:

A fase oral: corresponde ao período de 0 a 1 ano e tem como característica a satisfação


do prazer pela boca e sua extensão (lábios e língua). Os objectos para satisfação desses
desejos são alimentos, o seio da mãe, o dedo, a chupeta, entre outros. Uma característica
das crianças nessa fase é levar tudo o que pegam para a boca. No decorrer do
desenvolvimento da criança, a obtenção de prazer pela via oral deixa de ter papel central,
no entanto, nunca deixamos de buscar a satisfação de desejos e de necessidades pela
boca, como podemos observar pelo prazer de fumar, beber, beijar, declamar poesia, fazer
discursos e, de forma mais agressiva, morder, prova que a fase oral não desaparece
totalmente. (SHIRAHIGE, HIGA, 2004, p. 28).
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A fase anal, que ocorre aproximadamente entre 1 ano e meio e 3 anos, tem o ânus, recto,
esfíncteres e o períneo como fontes principais de satisfações. A sensação de prazer ou
desprazer está associada à expulsão (defecação) ou retenção das fezes. O prazer advém
também da manipulação delas. São considerados substitutos prazerosos para as fezes, a
massa de modelar, o barro, a massa de pão, entre outros. (SHIRAHIGE, HIGA, 2004, p.
28-29).
Assim como a fase oral, a fase anal não se encerra totalmente aos 3 anos, podendo-se
observar seus resquícios ao longo de toda a vida.
Os autores trazem exemplos relacionados à maneira como os adultos administram sua
vida económica, no caso de uma tendência à expulsão, quando se tornam generosos, ou à
retenção, quando se tornam avarentos. A passagem pela fase anal é extremamente
importante para o desenvolvimento da criança, pois, ao aprender o controlo de esfíncteres
(fezes), a criança aprende também a controlar seus impulsos.
A fase fálica, que ocorre por volta de 3 a 6 anos, define-se pela descoberta do prazer
pelos órgãos sexuais. O desejo de ver os órgãos genitais de colegas e de exibir os
próprios são manifestações características da fase fálica, assim como o desejo de
manipulação dos órgãos genitais (SHIRAHIGE, HIGA, 2004, p. 29).
Um fato bastante estudado pela teoria psicanalítica que ocorre nessa fase do
desenvolvimento psicossexual é a ocorrência de um padrão típico de comportamento
denominado Complexo de Édipo, que se caracteriza por uma relação triangular entre
filho, pai e mãe: Trata-se de uma relação de amor que tem como objecto o progenitor do
sexo oposto – mãe no caso do menino; pai no caso da menina – e impulsos de rivalidade
e ciúme do progenitor do mesmo sexo (SHIRAHIGE, HIGA, 2004, p. 30).
Ao passar pelo complexo de Édipo, a criança internaliza as normas sociais da proibição
do incesto.
Fase da latência: (6 aos 12 anos) é o período em que a libido permanece voltada para
actividades que não tem um carácter sexual. É o que Freud denominou de sublimação.
Deste modo, brincadeiras, exportes, artes e actividades escolares ganham um papel de
destaque na vida da criança. Coincide com o ingresso da criança no ensino fundamental,
no qual ela pode se destacar em actividades de natureza física ou intelectual, dada a
concentração de energia libidinal que ali se forma. A partir do início da puberdade, com
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todas as transformações orgânicas e hormonais ocorridas, meninos e meninas retornam


aos interesses de ordem sexual. Agora, a sexualidade é genital, e não fálica, estando
voltada para as relações exteriores à família. Pode ser um período de muitos conflitos,
gerando fenómenos que muitos denominam de síndrome da adolescência
(ABERASTURY e KNOBEL, 1981), posto que há um retorno dos sentimentos e desejos
recalcados no inconsciente no período da latência.

Dessa forma, ao entender que não pode se relacionar com os pais, a criança passa a se identificar
e admirar o progenitor do sexo oposto, suspendendo temporariamente seus desejos sexuais e
entrando no período de latência, que vai dos 6 aos 12 anos em média. O período de latência é
importante para que a criança aprenda, desenvolva ou consolide alguns papéis sociais com o
genitor do mesmo sexo. Na adolescência, até a fase adulta, a pessoa entra na fase genital, quando
há o ressurgimento dos desejos sexuais dirigidos a outras pessoas fora do contexto familiar
(PAPALIA, OLD, FELDMAN, 2006).

Fase genital: (dos 11-12 anos em diante):Estágio final do desenvolvimento sexual –


começa com a puberdade e a capacidade para a verdadeira intimidade. Neste período, que
tem início com a adolescência, há uma retomada dos impulsos sexuais, o adolescente
passa a buscar, em pessoas fora de seu grupo familiar, um objecto de amor. A
adolescência é um período de mudanças no qual o jovem tem que elaborar a perda da
identidade infantil e dos pais da infância para que pouco a pouco possa assumir uma
identidade adulta. Os conflitos internos típicos das fases anteriores atingem aqui uma
relativa estabilidade conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite
enfrentar os desafios da idade adulta.

2.2.Desenvolvimento psíquico da criança, dos 0 a 16 anos Segundo Jean Piaget

Nesta seção, iremos nos ater à teoria piagetiana, que reúne o arcabouço teórico construído por
Jean Piaget e seus seguidores. Jean Piaget nasceu em 1896, na Suíça).

e morreu em 1980. Biólogo de formação, dedicou seus estudos à epistemologia (estudos


filosóficos sobre a origem do conhecimento) e à psicologia. O grande foco de suas pesquisas foi
o desenvolvimento cognitivo, sua preocupação era compreender como as crianças pensam,
constroem conhecimento e apreendem as informações do mundo em cada faixa etária. Por isso,
ateve seus estudos sobre a inteligência.
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Para esse autor, as crianças contribuem activamente para a aprendizagem e o desenvolvimento,


ou seja, as crianças não são meras receptoras de informações, mas constroem o seu
conhecimento a partir da acção.

Ao longo do seu crescimento e desenvolvimento e a partir da interacção com o meio, a criança


vai construindo estruturas cognitivas que permitem a ela se adaptar às situações cotidianas para
sobreviver (SHAFFER, KIPP, 2012).

Para Piaget, as estruturas cognitivas que temos vão mudando e aprimorando ao longo do ciclo de
vida. Isso se deve tanto aos processos maturacionais (evolução biológica do corpo humano que
permite a aquisição de determinado conhecimento), quanto às experiências que temos ao longo
da vida (SOUZA FILHO, 2008). Baseado nesse pressuposto, Piaget desenvolveu os estágios do
desenvolvimento cognitivo, que vão caracterizar as especificidades da inteligência da criança em
cada faixa etária. Eles são divididos em: sensório-motor (0 a 2 anos); pré-operatório ou pré-
operacional (2 a 7 anos); operatório concreto ou operacional concreto (7 a 11 anos) e operatório
formal ou operacional formal (11 anos em diante). A cada mudança de estágio, há uma mudança
qualitativa da inteligência e, necessariamente, todas as crianças vão passar por todos os estágios
sequencialmente, pois cada estágio é pré-requisito para se avançar para o outro.

1. Sensório-motor (0 a 2 anos): Uso das capacidades sensoriais (paladar, olfacto, visão,


audição e tato) e motoras para explorar o ambiente e adquirir um entendimento básico
sobre ele. Uma fase da comunicação pré- verbal. Inteligência prática em que a criança se
comunica e se desenvolve pela acção. Desenvolve o conceito de causalidade.
 Principais aquisições: desenvolvimento de habilidades que lhe permitem
conhecer e agir intencionalmente no ambiente: reconhece pessoas, segura
objectos. Esse conhecimento prepara a criança para aprender a falar, pois, sem
aprender a reconhecer o ambiente, ela não teria o que falar.
2. Pré-operatório (2 a 7 anos): A criança já tem uma estrutura cognitiva que lhe permite
falar e nomear os objectos, agindo no mundo não só pela acção, mas, também, pela
representação. As crianças usam simbolismos, (imagens e linguagem) para representar e
entender vários aspectos do ambiente. Elas respondem a objectos e eventos de acordo
com o que parecem ser. O pensamento é egocêntrico, isto é, a criança pensa que todos
vêem e percebem o mundo como elas.
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 Principais aquisições: as crianças tornam-se imaginativas e criativas em suas


brincadeiras. Têm a capacidade de representar mentalmente e pela acção aquilo
que percebem. Gradualmente, passam a reconhecer que outras pessoas nem
sempre percebem o mundo como elas.
3. Operatório concreto (7 a 11 anos): As crianças adquirem e usam operações cognitivas
(actividades mentais que compõem o pensamento lógico).
 Principais aquisições: as crianças não são mais enganadas pelas aparências.
Tornam-se mais proficientes em inferir motivos, observar o comportamento dos
outros e as circunstâncias em que ocorrem.
4. Operatório formal (11 anos em diante): O pensamento é sistemático e abstracto.
 Principais aquisições: pensamento lógico não está mais restrito ao observável, o
que as tornam capazes de pensar sobre o pensamento, criar hipóteses.

No período sensório-motor, por volta dos 9 meses, a criança começa a compreender a


causalidade, ou seja, aprende que o universo tem algumas leis objectivas, por exemplo, descobre
que se soltar um objecto de determinada altura, ele cai, por isso, mesmo que você devolva o
objecto para ela, a criança tende a soltá-lo novamente.

No estágio pré-operatório, a linguagem é o tema central na teoria piagetiana, pois para ele, a
linguagem é o que permite a socialização e a comunicação da inteligência. Nesse estágio, a
linguagem começa a ser verbalizada com a aquisição da fala, e isso só é possível devido às
experiências anteriores de contacto e reconhecimento de objectos que a criança desenvolveu no
estágio anterior, o sensório-motor (CARRARA, 2004; LA TAILLE, 2004).

Uma característica do pensamento pré-operatório é a irreversibilidade. Por exemplo, se você fala


para uma criança de 5 ou 6 anos que a distância entre sua casa e a escola é de 2 km, ela grava
essa informação, mas se você inverter a pergunta e questioná-la sobre a distância entre a escola e
a sua casa, ela não saberá responder. Outro exemplo é em relação à conservação de volume. Ao
mostrar para a criança duas massinhas de modelar com o mesmo formato e a mesma quantidade
e perguntar se os dois objectos são iguais, se têm a mesma quantidade, a criança vai responder
que sim. Mas, se você pegar as mesmas massinhas na frente da criança e mudar o formato de
uma delas e perguntar novamente se tem a mesma quantidade de massinha, ela responderá que
não, pelo fato de as massinhas estarem em formatos diferentes.
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No estágio operatório concreto, as crianças conseguem operar mentalmente alguns


conhecimentos e informações. É por isso que alguns conteúdos escolares mais complexos, como
as contas de divisão e multiplicação, começam a ser ensinados apenas após os 7 anos de idade.

2.3. Desenvolvimento psíquico da criança, dos 0 a 16 anos Segundo Vygotsck e Leontiev

Vygotsky define o desenvolvimento psíquico como um processo activo de aquisição da cultura


humana através da linguagem, na interacção com outras pessoas. A linguagem aparece, assim,
como forma de representação das coisas e dos fenómenos do mundo real. Ao adquirir a cultura
humana a criança assimila conhecimentos sobre as coisas e os fenómenos, aprende a realizar
actividades e acções respectivas, formando assim habilidades, aptidões, bem como
comportamentos. Neste sentido, o social tem importância fundamental no desenvolvimento
psíquico do indivíduo.

Vygotsky reconhece os estágios de desenvolvimento do pensamento de Piaget sem, no entanto,


aceitar sua determinação puramente biológica e os respectivos limites absolutos de idade.

(Crain, 1992:199) refere que Vygotsky considera que a aquisição de conhecimentos espontâneos
do dia- a-dia não conduz ao desenvolvimento do pensamento puramente abstracto e teórico. É
preciso recordar que as generalizações a partir da actividade prática com os objectos, a partir de
vivências do dia-a-dia caracterizam o pensamento concreto. O pensamento puramente abstracto e
teórico caracteriza-se por generalizações de características mais essenciais das coisas e
fenómenos e suas relações.

Note-se que Piaget considera que o pensamento formal surge por volta dos 11/12 anos, isto é,
aparece consoante a idade. Contudo, para Vygotsky, o pensamento puramente abstracto e teórico
não só depende da aprendizagem, como também das condições sócio- históricas de vida do
indivíduo.

Por condições sócio históricas entende se aqui o desenvolvimento socioeconómico, o contexto


em que o indivíduo está inserido, as formas de vida. Tomemos o exemplo das características do
pensamento que a seguir se apresenta.
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2.4.A visão do Desenvolvimento Infantil

O desenvolvimento infantil é visto a partir de três aspectos: instrumental, cultural e histórico.

 O aspecto instrumental refere-se à natureza basicamente mediadora das funções


psicológicas complexas. Não apenas respondemos aos estímulos apresentados no
ambiente, mas os alteramos e usamos suas modificações como um instrumento de nosso
comportamento. Exemplo disso é o costume popular de amarrar um barbante no dedo
para lembrar algo. O estímulo o laço no dedo objectivamente significa apenas que o dedo
está amarrado. Ele adquire sentido, por sua função mediadora, fazendo-nos lembrar algo
importante.
 O aspecto cultural da teoria envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a
sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em crescimento enfrenta, e os tipos de
instrumento, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe para dominar
aquelas tarefas. Um dos instrumentos básicos criados pela humanidade é a linguagem.
Por isso, Vigotsky deu ênfase, em toda sua obra, à linguagem e sua relação com o
pensamento.
 O aspecto histórico, como afirma Luria, funde-se com o cultural, pois os instrumentos
que o homem usa, para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento, foram
criados e modificados ao longo da história social da civilização. Os instrumentos
culturais expandiram os poderes do homem e estruturaram seu pensamento, de maneira
que, se não tivéssemos desenvolvido a linguagem escrita e a aritmética, por exemplo, não
possuiríamos hoje a organização dos processos superiores que possuímos.

Assim, para Vigotsky, a história da sociedade e o desenvolvimento do homem caminham juntos


e, mais do que isso, estão de tal forma intrincados, que um não seria o que é sem o outro.

Com essa perspectiva, é que Vygotsky estudou o desenvolvimento infantil. As crianças, desde o
nascimento, estão em constante interacção com os adultos, que activamente procuram incorporá-
las as suas relações e a sua cultura. No início, as respostas das crianças são dominadas por
processos naturais, especialmente aqueles proporcionados pela herança biológica. É através da
mediação dos adultos que os processos psicológicos mais complexos tomam forma. Inicialmente,
esses processos são intrapsíquicos (partilhados entre pessoas), isto é, só podem funcionar durante
a interacção das crianças com os adultos. À medida que a criança cresce, os processos acabam
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por ser executados dentro das próprias crianças intrapsíquicos. É através desta interiorização dos
meios de operação das informações, meios estes historicamente determinados e culturalmente
organizados, que a natureza social das pessoas tornou-se igualmente sua natureza psicológica.

Todos os movimentos e expressões verbais da criança, no início de sua vida, são importantes,
pois afectam o adulto, que os interpreta e os devolve à criança com acção e/ou com fala. A fala
egocêntrica, por exemplo, foi vista por Vygotsky como uma forma de transição entre a fala
exterior e a interior. A fala inicial da criança tem, portanto, um papel fundamental no
desenvolvimento de suas funções psicológicas.

Para Vygotsky, as funções psicológicas emergem e se consolidam no plano da acção entre


pessoas e tornam-se internalizadas, isto é, transformam-se para constituir o funcionamento
interno. O plano interno não é a reprodução do plano externo, pois ocorrem transformações ao
longo do processo de internalização. Do plano inter-psíquico, as acções passam para o plano
intra-psíquico. Considera, portanto, as relações sociais como constitutivas das funções
psicológicas do homem. Essa visão de Vygotsky deu o carácter interacionista à sua teoria.
Vygotsky deu ênfase ao processo de internalização como mecanismo que intervém no
desenvolvimento das funções psicológicas complexas. Esta é reconstrução interna de uma
operação externa e tem como base a linguagem. O plano interno, para Vygotsky, não preexiste,
mas é constituído pelo processo de internalização, fundado nas acções, nas interacções sociais e
na linguagem.

2.5. Desenvolvimento Cognitivo segundo Alexei Nikolaevich Leontiev (1903-1975)

Conforme já foi referido anteriormente, a Psicologia de Piaget vê o desenvolvimento como um


fenómeno de maturação e o ambiente social como estimulador da descoberta e desenvolvimento
do pensamento, chegando a apresentar os estágios deste desenvolvimento sequenciados, com
limites estritos de idade.

Por seu lado, Vygotsky apresenta uma teoria de desenvolvimento cognitivo que destaca a
interacção do biológico com o social no desenvolvimento cognitivo, com destaque para o papel
da aprendizagem no desenvolvimento das formas do pensamento, negando, assim, os limites
absolutos de idade do surgimento dos estágios de desenvolvimento.
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Leontiev retoma as concepções de desenvolvimento de Vygotsky e define desenvolvimento


psíquico como modificações psíquicas quantitativas e qualitativas graduais, progressivas de
fenómenos psíquicos inferiores, simples para o surgimento de fenómenos psíquicos superiores e
complexos. Leontiev (1975: 502) explica as causas do desenvolvimento psíquico do seguinte
modo: as forças motrizes do desenvolvimento psíquico que actuam mutuamente são o lugar que
é ocupado pelo indivíduo na sociedade entre as pessoas, as condições de vida, as exigências que
a sociedade lhe coloca, o carácter da actividade que realiza e o nível de desenvolvimento
alcançado em cada momento.

O desenvolvimento psíquico é determinado pelo lugar que o indivíduo ocupa entre os adultos
consoante a idade que possui, as exigências colocadas ao indivíduo e, sobretudo, a actividade de
aprendizagem. Há que notar que o desenvolvimento psíquico não só é contínuo, como também
apresenta uma descontinuidade, isto é, no desenvolvimento verificam-se estágios de
desenvolvimento com características específicas, que compreendem indivíduos de determinados
grupos de idade.

2.6.Características dos Períodos de Desenvolvimento Psíquico segundo Leontiev

1. O período da Primeira Infância (0-1 Anos) A criança nasce com reflexos


incondicionados de alimentação, defesa e orientação. No primeiro mês, começa a formar
reflexos condicionados, tais como a posição para mamar, do analisador acústico,
vestibular, visual e táctil-cutâneo. No fim do segundo mês verificam-se reacções de
orientação para o adulto e reflexos condicionados ligados ao adulto que cuida da criança,
o denominado complexo de animação.
Verifica-se ainda o desenvolvimento da actividade de diferenciação dos estímulos, por
exemplo, a distinção de água pura da doce, alguns cheiros; a criança começa a apalpar
objectos; No quarto mês verifica-se a direcção da mão a objectos, exame de objectos,
acções simultâneas com as duas mãos e com os objectos; A segunda metade do 1º ano
caracteriza-se pelo desenvolvimento da mobilidade através do gatinhar e do andar no fim
do 1º ano. A locomoção vai desenvolver as percepções da criança; Assim como
desenvolve a compreensão inicial da linguagem humana, através da aquisição dos nomes
pelo condicionamento, pronúncia das primeiras palavras.
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2. A Idade Anterior a Pré-Escolar ou Idade da Criança mais Nova (1-3 Anos) No 1º


ano de vida, a criança desenvolve-se com base na acção com os objectos e aquisição da
linguagem no contacto com os adultos. Até ao 1º ano a criança compreende uma série de
palavras. Na primeira metade do segundo ano, a criança já constrói frases de uma
palavra. E na segunda metade aumenta o número de palavras e surgem frases de duas ou
três palavras.

No fim do segundo ano, começa a aprendizagem de regras gramaticais em frases curtas. Já no


fim do 3º Ano a crianças formula frases complexas com quase todas as partes da oração e
conversa muito com os adultos e outras crianças, ao mesmo tempo que desenvolve a sua
memória de fixação e reprodução.

A criança tem uma atenção involuntária, inconstante de pouca duração, movida pela força dos
estímulos. Estas características da atenção influenciam sua vontade.

3. A Idade Pré-Escolar (3-7 Anos) A actividade principal da criança é o jogo. As crianças


realizam jogos de imitação da vida dos adultos, jogos de acção em conjunto, jogos de
regras. Os jogos desenvolvem o conhecimento da realidade, a percepção, a imaginação, a
linguagem, desenvolvem as relações sociais entre as crianças, desenvolvem moralmente
as crianças.

A criança tem como actividade principal o jogo, mas também realiza outras actividades, tais
como o desenho, a modelagem, a construção e o trabalho. O desenho, a modelagem e a
construção passam a ser realizados com um fim previamente colocado pela criança. O seu uso
pedagógico desenvolve habilidades necessárias a aprendizagem escolar. O trabalho aqui diz
respeito a realização de pequenas tarefas em casa na família e trabalho manual no jardim infantil.
As crianças começam a compreender as regras gramaticais e a usá- las de forma activa.

O contacto com os adultos, o jogo conduz a generalizar as características dos objectos e sua
designação por palavras. A memória da criança desenvolve-se acentuadamente e caracteriza-se
por ser involuntária, isto é, a criança fixa facilmente aquilo que chama mais atenção, movimenta-
se, é contrastante, causa vivências emocionais profundas.
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As crianças mais novas idade pré-escolar têm tendência de tirar conclusões sobre as coisas com
base nas funções dos objectos e na maneira de utilizá-los. As mais velhas já são capazes de
definir certos objectos do seu dia-a-dia com base em características gerais.

A criança muda de seu comportamento pela aquisição de regras comportamentais. A criança já é


capaz de cumprir as exigências dos adultos. Isto também se relaciona com a compreensão da
linguagem.

4. A Idade Escolar Primária (7-10/11 Anos) A idade escolar primária começa com o
ingresso na escola, passando deste modo, o estudo a ser a actividade dominante da
criança. A criança apresenta uma grande vontade de aprender e cumprir com as
exigências do professor. No início a criança estuda para agradar aos pais e cumprir as
exigências do professor.

Pouco a pouco, a criança apercebe-se da importância das notas e estuda para obter boas notas e
evidenciar-se. A aprendizagem da criança baseia-se nos métodos utilizados para a realização de
tarefas escolares. A criança deve partir da análise e síntese de experiências, exemplos concretos,
reais, suas representações para chegar as conclusões, aos conceitos, devido ao facto de possuir
um pensamento empírico ou concreto-lógico.

O pensamento empírico ou concreto-lógico caracteriza-se pelas generalizações baseadas nas


experiências e manipulação de objectos concretos, observação directa e representações.

A criança desenvolve a linguagem. A língua passa a ser objecto de estudo sistemático. A criança
aprende a ler e a escrever, a Gramática e a Ortografia. O desenvolvimento da linguagem oral e
escrita vai provocar mudanças qualitativas na atenção, percepção e pensamento e memória.

A percepção da criança modifica-se na medida em que a criança é conduzida pelo professor a


observar experiências, objectos e fenómenos reais e suas representações, realizar acções e
descrevê- los, para chegar às suas características mais essenciais. A linguagem escrita exige a
ordenação de ideias, o relacionamento de ideias, a análise e a síntese de textos, frases e
parágrafos, o que desenvolve o pensamento lógico.

Actividades específicas de fixação e reprodução de palavras difíceis são realizadas em aulas de


Ortografia. Por outro lado, a criança aprende uma série de conhecimentos científicos novos. As
tarefas são dadas em forma de exercícios para a repetição da matéria estudada.
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5. A Idade Escolar Média ou Adolescência (11-14/15 Anos) A idade escolar média


compreende um período da adolescência que vai dos 11 aos 14/15 anos que é
acompanhado de mudanças de desenvolvimento físico, ligadas à maturação sexual,
provocada pelo funcionamento de glândulas sexuais e consequente surgimento de
características sexuais secundárias e ao crescimento do corpo, caracterizado pelo a
aumento da altura.

O sistema nervoso central desenvolve-se, sobretudo do c ó r t e x cerebral havendo uma maior


diferenciação das células cerebrais bem como aumento de fibras associativas no cérebro. A
actividade principal deste período continua a ser o estudo. O estudo apresenta uma diferenciação
das disciplinas e o ensino é realizado por mais de um professor. Cada disciplina, por sua vez,
caracteriza-se por um sistema de conceitos abstractos, o que vai contribuir para o
desenvolvimento do pensamento lógico em dependência dos métodos utilizado no ensino-
aprendizagem. Os conceitos deverão ser dados a partir da análise pelos adolescentes de
experiências, exemplos concretos, reais, suas representações. A linguagem do adolescente evolui
sob influência da aprendizagem de aspectos mais complexos da língua relacionados com a
Gramática, com a leitura de conteúdos de disciplinas das ciências, o que vai aumentar o seu
vocabulário.

A memória do adolescente é, essencialmente, voluntária e significativa, pois fixa mais o que lhe
interessa e que é por si compreendido. As relações sociais do adolescente se ampliam. Nascem as
primeiras amizades e a inserção em grupos de adolescentes.

6. A Idade Escolar Preparatória ou Juventude Mais Nova (14/15-17-18 Anos) A idade


escolar juvenil compreende um período da adolescência, que vai dos 15 aos 17/18 anos.
Neste período o estudo continua a ser a actividade principal dos adolescentes. É a idade
correspondente ao fim do estudo na escola secundária.

Os adolescentes desenvolvem o pensamento abstracto ligado ao conteúdo de aprendizagem e tipo


de tarefas de aprendizagem e da cultura da linguagem.
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2.7.Desenvolvimento psíquico do adulto

O início da idade vária de pessoa para pessoa e a passagem bem-sucedida para esta fase depende
da resolução satisfatória das crises da infância e adolescência. A idade adulta e o momento em
que a pessoa alcança plena maturidade e o potencial para a satisfação pessoal está em seu pico. A
pessoa deve ser capaz de se adaptar às demandas sempre.

Depois da puberdade a plasticidade cerebral macroscópica está praticamente encerrada, mas a


microscópica, que tem a ver com as ligações sinápticas e redes neurais continuam dependendo
do uso que se faz do cérebro e a qualidade do sono (Jouvet, 1975; Pimentel-Souza, 1981 e em
impressão, Khalsa, 1997). Apesar da estrutura do cérebro estar basicamente definida, a
capacidade cerebral e orgânica vão depender dos comportamentos e qualidade de vida.

A idade adulta pode ser dividida em três períodos principais: idade adulta inicial ou idade adulta
jovem, idade adulta média e idade adulta tardia ou velhice. Grande parte dos problemas da
psiquiatria relaciona-se aos fenómenos que ocorrem durante a idade adulta: casamento, criação
dos filhos, trabalho, divórcio, doenças e outras fontes de estresse. A idade adulta é um período de
grandes mudanças, às vezes dramática, outras vezes sutis, mas sempre continuadas.

Vários teóricos e abordagens têm contribuído para entender esse processo:

Teoria Psicossocial de Erik Erikson: Erikson propôs uma teoria do desenvolvimento


que abrange toda a vida, enfatizando o papel das crises psicossociais em cada estágio de
desenvolvimento. Na idade adulta, Erikson descreveu três estágios principais:
Intimidade versus Isolamento (20-40 anos): Durante este estágio, os adultos jovens
buscam estabelecer relacionamentos íntimos e compromissos emocionais. A resolução
bem-sucedida desta crise resulta em relacionamentos saudáveis e duradouros, enquanto a
falha pode levar ao isolamento e à solidão.
Generatividade versus Estagnação (40-65 anos): Este estágio se concentra em
contribuir para o mundo através do trabalho, da família e da sociedade. Os adultos
buscam criar e orientar a próxima geração, seja através do trabalho, paternidade ou
voluntariado. A estagnação ocorre quando uma pessoa não consegue encontrar um
propósito ou sentido de contribuição.
Integridade versus Desespero (65 anos em diante): Na velhice, os indivíduos reflectem
sobre suas vidas e buscam encontrar um senso de integridade e aceitação. A integridade é
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alcançada quando uma pessoa pode aceitar sua vida como um todo, com todas as suas
realizações e falhas. O desespero surge quando uma pessoa tem sentimentos de
arrependimento, amargura ou desesperança em relação ao seu passado.
Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget: Piaget descreveu o
desenvolvimento cognitivo em quatro estágios principais, sendo o último estágio,
chamado de "operações formais", relevante para o desenvolvimento do pensamento na
idade adulta. Neste estágio, que geralmente ocorre na adolescência tardia e na idade
adulta, os indivíduos adquirem a capacidade de pensar logicamente sobre conceitos
abstractos, formular hipóteses e considerar múltiplas perspectivas.
Teoria do Desenvolvimento Psicossexual de Sigmund Freud: Freud propôs uma teoria
do desenvolvimento psicossexual em que o desenvolvimento mental é influenciado pelo
desenvolvimento sexual. Na idade adulta, Freud enfatizou o papel das relações íntimas e
da formação do ego, incluindo a capacidade de lidar com os conflitos entre os impulsos
sexuais e as demandas da realidade.
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3.Conclusão

Conclusão enfocando a diversidade teórica e a complementaridade das abordagens:

Ao examinarmos as teorias do desenvolvimento psíquico propostas por Freud, Piaget e


Vygotsky, torna-se evidente a diversidade de perspectivas que oferecem para entender o
crescimento humano. Enquanto Freud se concentra nas influências emocionais precoces e na
dinâmica inconsciente, Piaget destaca a construção activa do conhecimento pela criança, e
Vygotsky enfatiza o papel do contexto social e cultural. Apesar das diferenças, essas teorias se
complementam, fornecendo uma compreensão mais abrangente do desenvolvimento psíquico
desde a infância até a idade adulta.

As teorias do desenvolvimento psíquico têm implicações significativas para a prática clínica,


educacional e social. Ao compreendermos as complexidades emocionais, cognitivas e sociais
que moldam o desenvolvimento humano, podemos adoptar abordagens mais eficazes para
promover o bem-estar e o crescimento pessoal. Por exemplo, os insights de Freud sobre a
importância da infância podem informar intervenções terapêuticas para lidar com traumas
emocionais, enquanto as teorias de Piaget e Vygotsky podem orientar práticas educacionais que
estimulem o desenvolvimento cognitivo e social das crianças.
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4.Bibliografia

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