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Desenvolvimento Humano

Puberdade, adolescência e desenvolvimento

O que é puberdade?

A puberdade é um fenômeno que pode ser compreendido de diversas formas.


Podemos compreende-la como um fenômeno biológico, tal como a aceleração e
depois desaceleração do crescimento esquelético; alteração da composição corporal
como resultado do crescimento esquelético e muscular; levando, principalmente no
sexo masculino, a aumento de força e resistência; desenvolvimento das gônadas,
órgãos de reprodução e caracteres sexuais secundários; combinação de fatores, não
plenamente compreendidos, que modula a atividade dos elementos neuroendócrinos,
etc.

Puberdade também pode ser compreendida como um processo fisiológico de


maturação hormonal e crescimento somático que torna o organismo apto a se
reproduzir”

Além desse mecanismo fisiológico, outros fatores influenciam o início da puberdade: a


genética, as questões ambientais, nutricionais e étnicas.

Qual a idade para iniciar a puberdade?

Determinar o início da puberdade é um desafio, pois, como vimos, tal evento, por ser
complexo, envolve inúmeros fatores. Esse início varia de pessoa para pessoa.
Um exemplo sobre a influência do ambiente no início da puberdade é a desnutrição.

Diversas pesquisas sugerem influência de fatores genéticos em um tipo específico de


puberdade precoce: a Puberdade Precoce Central. É fundamental compreender que o
aparecimento de caracteres sexuais secundários antes dos oito anos de idade deve ser
investigado.

Nesse caso, o encaminhamento ao profissional médico é necessário para descartar, ou


confirmar, questões de saúde importantes, inclusive tumores.

Em contraposição, há outro fenômeno que merece atenção: a puberdade tardia, que


se caracteriza pela ausência de menstruação (amenorreia primária) aos 14 anos
juntamente com a ausência de caracteres sexuais secundários, ou, ainda, ausência de
menstruação aos 16 anos de idade.
Agora, quando ocorre de forma saudável, a puberdade anuncia a despedida da fase
infantil rumo à vida adulta.

A puberdade não é adolescência, embora as duas comumente caminhem juntas e


representem uma significativa fase de transição.

A questão adolescente diz respeito aos impasses do sujeito que, no anseio de se


desprender de suas referências familiares, confronta-se com os enigmas da
sexualidade
e com as incongruências da organização social da qual participa.

Como apontado anteriormente, a adolescência – diferente da puberdade – não é uma


fase inerente à condição humana, ou seja, não é um período biologicamente
determinado. Ao longo dos séculos sua compreensão sofreu inúmeras interferências
socioculturais.

A Síndrome Normal da Adolescência, Segundo KNOBEL, 1981

1) “a busca de si mesmo e da identidade”

2) a “tendência grupal”, ou seja, a necessidade de pertencimento e identificação com


seus pares, transferindo ao grupo parte da dependência que era, então, atribuída à
família, configurando-se como importante processo de transição para a construção de
sua identidade adulta.

3) “necessidade de intelectualizar e fantasiar”, para dar conta das perdas promovidas


por esta etapa da vida e, desta forma, o adolescente se refugia em seus pensamentos,
em um processo intenso de intelectualização e fantasia, como defesa do que está
deixando para trás, buscando controlar os impulsos promovidos pelo id;

4) “crises religiosas, que podem ir desde o ateísmo mais intransigente até o misticismo
mais fervoroso”

5) “deslocalização temporal, onde o pensamento adquire características de


pensamento primário”, ou seja, o adolescente apresenta dificuldades em discriminar
suas urgências como por exemplo: a prova de amanhã pode esperar, mas a roupa da
festa, que acontecerá daqui três meses, é urgente.

6) “evolução sexual manifesta” no qual, a medida em que aceita sua genitalidade, o


adolescente inicia a busca pelo parceiro sexual de forma tímida, mas intensa.

7) “atitude social reivindicatória”, que podem ser a consolidação de seus


pensamentos, ou seja, as intelectualizações e fantasias inconscientes.
8) “contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta”, ou seja, certa
instabilidade que faz parte do que o autor denominou uma ‘normal anormalidade’, e
acrescenta que, quando o adolescente é extremamente rígido em sua conduta, isto é
um sinal de um adoecimento mental, porque uma adolescência saudável pressupõe o
trânsito por diferentes comportamentos e ações.

9) “separação progressiva dos pais”

10) “constantes flutuações de humor e estado de ânimo”, relacionadas à forma como


o adolescente vivencia e elabora seus lutos infantis.

Questão: Os adolescentes de uma tribo indígena vivenciam as mesmas questões


adolescentes de quem vive nos centros urbanos?

Os rituais de passagem são extensamente pesquisados nas ciências humanas e sociais,


pois marcam o curso de uma condição para outra, geralmente vinculada à aceitação de
novos papéis sociais. O que se observa, em nosso sistema, é uma desvalorização, ou
subversão, desses eventos.

Manzanera, Torralba (2002) investigaram o impacto do consumo de drogas sobre a


vida do adolescente e seu desenvolvimento psicossocial. Eles perceberam o
crescimento da valorização [...] do consumo de substâncias como álcool e cocaína [...]
como um ritual de passagem da adolescência à juventude.

Antigamente o que marcava o ritual de passagem da puberdade para a vida adulta era
o casório, quando o indivíduo saía de sua casa para viver com seu cônjuge. Mas isso já
não é mais válido porque atualmente muitos jovens se casam e continuam na casa dos
pais, ou não se casam, ou não têm filhos.

Ademais, se considerarmos os estudos de Ariès (1981) compreenderemos que, até o


século XVII, as crianças eram retratadas como “miniadultos”, pois não havia, segundo
ele, uma particularidade infantil, uma consideração diferenciada para essa etapa da
vida, muito menos, entre essa e a vida adulta.

Não havia descontinuidade nem ruptura durante o desenvolvimento das crianças, pois
elas podiam conviver com os adultos em suas atividades, fossem ligadas ao trabalho
ou à vida sexual.

Enquanto a puberdade é compreendida como um momento de importante


transformação biológica, a adolescência se configura enquanto construção social,
vinculada à cultura de determinada sociedade.

O sujeito-adolescente busca, por meio de seus questionamentos e inquietações,


consolidar sua própria identidade. Esse período, conhecido como um momento de
afastamento familiar, promove sentimentos dúbios de liberdade e solidão. Muitas das
características dessa fase encontram explicação nos estudos neurológicos. O cérebro
do adolescente, ainda em processo de maturação e desenvolvimento, não pode
responder
semelhantemente ao de um adulto.

Apesar de ser um período de possibilidades libertadoras, em relação à infância, a


adolescência é também um tempo de luto, de elaboração da perda do corpo infantil e
da vivência emocional e física deste novo corpo em potencial. Além disso, as regras
externas e a pressão social demandam desses sujeitos, atitudes paradoxais que, ora os
colocam no lugar de crianças, ora os colocam no lugar de adultos.

Questão: Em tempos de revelações das intolerâncias (religiosas, étnicas, partidárias,


sexuais) como as famílias têm educado seus adolescentes?

Hoje em dia, com tantas tecnologias disponíveis, é esperado que a adolescência esteja
virtualmente conectada. No entanto, apesar de ser esperado, é necessário que os
adultos estejam ao lado das descobertas que os adolescentes fazem. Não se trata de
recomendar vigilância, até porque o adolescente necessita de espaço, mas de estar ao
lado para orientar.

Há uma forte atuação dos neurônios espelhos responsáveis, em parte, pela imitação
do comportamento entre os adolescentes. Além disso, há uma necessidade de ser
aceito pelo grupo e um profundo medo de ser rejeitado.

O cérebro, neste ciclo, sofre um processo de amadurecimento que começa nas partes
mais primitivas para, então, chegar ao córtex frontal responsável, entre outras
funções, pela tomada de decisões – o que pode levar aos inúmeros questionamentos.

- A importância da prática esportiva

O isolamento do adolescente pode se configurar como um movimento necessário ao


fortalecimento do ego para o enfrentamento das próximas etapas da vida. Mas, com a
ausência de rituais de passagem, em nossa sociedade, o que se observa são
adolescentes desesperançados em relação ao futuro

1.2 Compreensões teóricas sobre a adolescência

Ao longo de sua vasta obra, Freud não apresentou uma teorização sistemática acerca
da adolescência, porém trouxe contribuições importantes sobre as consequências
psíquicas oriundas da puberdade que, por sinal, foram se modificando de forma
significativa no decorrer de suas formulações.
Quando nasce a sexualidade, segundo a psicanálise freudiana?

Em seu texto denominado Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), Freud
afirma que, já na infância, podemos observar uma escolha objetal, que se caracteriza
fortemente na puberdade. Para ele, essa escolha significa que o “conjunto das
aspirações sexuais orienta-se para uma única pessoa, na qual elas pretendem alcançar
seus objetivos”

Dessa forma, prossegue ele, a escolha de objeto ocorre em dois momentos: o


primeiro, entre os dois e cinco anos de idade; e o segundo, na puberdade – momento
no qual conclui-se o desenvolvimento sexual.

Uma escolha de objeto entre dois e cinco anos, por exemplo, é quando o menino
“escolhe” sua mãe como um objeto de amor dando início ao Complexo de Édipo, que
será abordado posteriormente.

O verbo “escolher” está entre aspas porque, para Freud, não há uma escolha racional e
consciente. Essa escolha é sempre inconsciente, a partir dos conteúdos que
recalcamos.

Para compreender melhor esse processo é importante registrar que Freud dividiu o
desenvolvimento humano em fases, denominadas por ele como psicossexuais: fase
oral, fase sádico-anal, fase fálica, período de latência e puberdade.

O tema central dessas fases, ou estágios, é a sexualidade. Cada etapa é constituída de


uma (ou mais) zona erógena, ou seja, zona de prazer. Além de serem zonas anátomo-
fisiológicas, elas se constituem enquanto “pontos de eleição das trocas com o meio e,
ao mesmo tempo” solicitam atenção e cuidado por parte de quem cuida. Logo,
demandam “excitações por parte da mãe”, ou de quem realiza a função de
maternagem.

A primeira delas, a fase oral (ou canibalesca), vincula a atividade sexual ao processo de
nutrição do bebê e ocorre entre o nascimento e, aproximadamente, um ano e meio de
idade o prazer sexual está predominantemente ligado à excitação da cavidade bucal e
dos lábios que acompanha a alimentação.

A relação de amor com a mãe é assinalada pelo significado que a criança atribuiu ao
comer. A criança introjeta (registra inconscientemente) as sensações relacionadas a
esse evento (prazerosas ou não).
A grosso modo podemos dizer que esse registro fica arquivado no inconsciente e
influenciará suas escolhas de amor futuras.

Já na segunda fase, nomeada como sádico-anal, iniciamos a vivência da divisão dos


opostos, mas ainda não entre masculino e feminino, e, sim, entre ativo e passivo. A
definição clara entre masculino e feminino ocorrerá, somente, na puberdade.

Essa fase pode ser situada entre dois e quatro anos de idade, aproximadamente e,
nela, o prazer se concentra na saída do tubo digestivo (ânus), no ato de defecar
(expulsar ou reter) e ao valor simbólico das fezes.

Posteriormente à fase sádico-anal, a criança inicia a fase fálica (entre três e cinco anos
de idade). Nessa fase há uma atenção para as questões da sexualidade, que se
concentra na descoberta da diferença entre os órgãos genitais.

Diferentemente da puberdade, “a criança, de sexo masculino ou feminino, só conhece


nesta fase um único órgão genital, o órgão masculino”. Para Freud, as meninas não
sabem da existência de sua vagina e acreditam que o seu órgão sexual irá crescer, o
que ele denominou como “inveja do pênis”, que provoca na menina uma “sensação de
ser lesada, em relação ao menino”.

Do ponto de vista da relação com os pais, um ressentimento para com a mãe, que não
deu o pênis e a escolha do pai como objeto de amor, na medida em que ele pode dar o
pênis ou o seu equivalente simbólico, o filho.

Nessa fase, encontram-se também dois fenômenos fundamentais para a psicanálise: o


Complexo de Édipo e o Complexo de Castração. Comecemos pelo último: a inveja do
pênis, descrita por Freud, vivenciada pelas meninas compõe o complexo de castração,
assim como o medo de perder o falo (função simbólica do pênis), no caso dos meninos.

Esse complexo “proporciona uma resposta ao enigma que a diferença anatômica dos
sexos (presença ou ausência de pênis) coloca para a criança o Complexo de Castração
mantém estreita ligação com o Complexo de Édipo.

Vamos entender: o Complexo de Édipo é um “conjunto organizado de desejos


amorosos e hostis que a criança sente em relação aos pais.

Esse desejo é inconsciente e abre um triângulo amoroso. Freud desenvolveu suas


primeiras teorias sobre esse complexo a partir da relação do menino com sua mãe e
sustentou que o mesmo aconteceria com a menina em relação ao pai.

Ainda, para Freud, o Complexo de Édipo se divide em positivo e negativo. O complexo


positivo se daria quando a criança deseja o genitor do sexo oposto e rivaliza com o
genitor do mesmo sexo.

O negativo, por sua vez, ocorre de forma inversa e a criança ama o progenitor do
mesmo sexo e tem ciúmes e rivaliza com o progenitor do sexo oposto.
Após a fase fálica, então, a criança inicia um período de latência (entre 6 anos de idade
até a puberdade), no qual dirige as pulsões sexuais para outros objetos, como o
aprendizado (escolar).

Para Freud, durante o período de latência, a criança “aprende a amar outras pessoas
que a ajudam em seu desamparo e satisfazem suas necessidades, e o faz segundo o
modelo de sua relação de lactente com a ama e dando continuidade a ele”

O que o autor quer dizer é que o encontro com o seio materno, na tenra idade, se
configurará como um modelo de relação amorosa. O registro desta experiência, no
inconsciente, movimentará o sujeito em busca de seu objeto externo de amor.

Ao dar início ao período da puberdade, o indivíduo revive o Complexo de Édipo, mas


de forma invertida. Em qual sentido? Quando criança, o Complexo de Édipo
possibilitou a identificação com o genitor (ou genitora), mas, agora, o sujeito deslocará
esse amor a um objeto externo.

É no desenrolar deste complexo que se definem as escolhas de objeto sexual e o


posicionamento em relação ao seu próprio sexo a partir dos modelos que estão
disponíveis para identificação.

Os meninos tomam o pai como modelo e as meninas percebem na mãe seu modelo;
cada um deles se enamorando do progenitor do sexo oposto. Com a consciência da
proibição do incesto e da incapacidade sexual infantil, a criança irá abandonar esse
amor impossível.

A adolescência de ambos os sexos mostra que através de um tortuoso processo de


separação entre pais e filhos se faz o parto de um sujeito sexuado e desejante. Só que,
para isso, ele precisou descobrir, paradoxalmente, o quanto depende de que alguém o
deseje. Assim, no processo de se tornar independente da família, cada um se descobre
escravo para sempre do amor que o constituiu.

Portanto, para a psicanálise freudiana, a sexualidade não se inicia na puberdade, mas


se constitui enquanto processo evolutivo, vivenciado de diversas formas, desde o
nascimento.

Caminhando um pouco na contramão da família Freud encontramos Otto Rank (1884 –


1939). Inicialmente, Rank era um discípulo amado de Sigmund Freud, mas à medida
em que avança sobre seus estudos a respeito do trauma de nascimento, o rompimento
se torna inevitável.

Apesar de nunca ter abandonado o status de analista freudiano, Rank subverte a teoria
de seu mentor, centrada no complexo de édipo, afirmando que a matriz da angústia
psíquica é a separação biológica entre o bebê e sua mãe.

Mas outro ponto que separa a teoria de Rank das descobertas freudianas é que ele
compreendia a natureza humana como “produtiva e criadora e não como reprimida e
neurótica”

O principal conceito teórico de Rank é a ‘vontade’, que se configura como “um fator
positivo, uma força que ativamente forma o eu e modifica o ambiente”. Esclarecendo,
Rank descreve ‘vontade’ como sendo “uma organização positiva e uma integração que
guiam o eu, e que utiliza de forma criativa os instintos e, ao mesmo tempo, os inibe e
os
controla”, sendo assim, no período de latência, “a vontade individual
encontra a social”.

Knobel (1981), a partir das ideias de sua colega, afirma que o


adolescente vivencia três lutos:
A) O luto pelo corpo infantil perdido, base biológica da adolescência, que se impõe ao
indivíduo que não poucas vezes tem que sentir suas mudanças como algo externo,
frente ao qual se encontra como espectador impotente do que ocorre no seu próprio
organismo;

B) o luto pelo papel e identidade infantis, que o obriga a uma renúncia da dependência
e a uma aceitação de responsabilidades que muitas vezes desconhece;

C) o luto pelos pais da infância, os quais persistentemente tenta reter na sua


personalidade, procurando o refúgio e a proteção que eles significam, situação que se
complica pela própria atitude dos pais, que também têm que aceitar o seu
envelhecimento e o fato de que seus filhos já não são crianças, mas adultos, ou estão
em vias de sê-lo.

Segundo o autor, o adolescente vivencia instabilidades e desiquilíbrios extremos,


configurando-se no que ele denominou de ‘síndrome normal da adolescência’, ou seja,
“uma entidade semipatológica [...] que é perturbada e perturbadora para o mundo
adulto, mas necessária [...] para o adolescente, que neste processo vai estabelecer sua
identidade, sendo este um objetivo fundamental deste momento da vida”

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