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INFÂNCÍÍÍE A —
tÂDOLESCÊNCIA
Jeferson Carlos Bordignon*
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podemos olhar o adolescente por estes pontos de vis- o nosso desenvolvimento é em sociedade, portanto,
ta? Ele será sempre um "aborrecente", envolvido com respondemos às demandas que a cultura nos impõe.
violência e situações de risco, uso de drogas e seus Uma garota ou um garoto, ao serem apontados como
interesses resumem-se à sexualidade? "não sendo mais crianças", deverão elaborar novos
Conforme exposto acima, compreendemos a modos de se comportar nos meios e grupos dos quais
adolescência como uma construção social. Ora, quem fazem parte. Por meios e grupos entende-se: família,
faz a sociedade são todos os sujeitos que fazem parte escola, igreja, clube, cursos, vizinhança, etc.
dela, portanto cabe a nós, pais, educadores e profis- Esse processo não se dá automaticamente e
sionais que convivem com os adolescentes quebrar- nem de uma hora para outra. Ao contrário das mu-
mos e reconstruirmos essas representações negati- danças corporais que, chegada a hora, se impõem, as
vas atribuídas à adolescência. mudanças psicológicas acontecem de maneira mais
Portanto, esperamos ter esclarecido a diferen- cadenciada e complexa. Acredito que agora chegamos
ça básica entre puberdade e adolescência. A puber- ao ponto específico relacionado à préadolescência.
dade referese às mudanças corporais que a pessoa Se já há uma dificuldade (compartilhada inclu-
vai vivenciar entre os 10,11 anos ou um pouco mais, sive pelos pesquisadores que estudam o assunto) de
até os seus 17 ou 18 anos, mais ou menos. Enquanto definir exatamente o que seja a adolescência, ou o
a adolescência refere-se às características psicoló- que seja próprio dela, o que não dizer sobre a pré-
gicas e sociais que a pessoa assume nesta mesma adolescência, ainda mais para quem a está viven-
faixa etária. Ou seja: ambos fenómenos coexistem, ciando. Ou seja, muito rapidamente a pessoa "passa"
pois na nossa cultura a mudança corporal própria de criança a préadolescente, sendo que o próprio
da puberdade é compreendida como sinal de que a termo "préadolescente" já prenuncia que em breve
pessoa "entrou" ou "está" na adolescência. A partir já não se será mais isso, mas outra coisa: o adoles-
disso, as pessoas que convivem com o sujeito em cente propriamente dito.
desenvolvimento passam a enxergá-lo de outra ma- Quando e como acontece a préadolescência?
neira e a exigir deste uma outra postura perante as Aos dez, 11,12 anos? Antes disso? É possível um p r é a -
situações que vivenda. Não se espera de um ado- dolescente mais velho, ou a partir de um certo mo-
lescente que este venha a ter os mesmos compor- mento o sujeito é adolescente, querendo ou não?
tamentos, pensamentos, afetividade e interesses que Essas perguntas permanecem sem resposta
uma criança, por exemplo. porque além dos ritmos individuais de desenvol-
E como isso se passa para a pessoa que está vimento, tanto corporais como psicológicos, serem
se desenvolvendo? Como afirmado anteriormente. muito diferentes, há uma indefinição do que seja um
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comportamento. Vygotski (2006) nos chama a aten-
ção para o fato de que este interesse aberto e despu-
dorado por assuntos relativos ao sexo e ao sexual se
deve justamente ao fato de a criança (pré-adolescen-
te?) estar vivenciando essas mudanças em seu corpo
e não ter uma base para compreendê-las. Ou seja:
trata-se de uma falha pedagógica de nossa sociedade
que não prepara o pré-adolescente (ou criança) para
as mudanças que em breve irá sofrer e nem as au-
xilia a compreender o significado dessas mudanças.
Ainda que já estejamos avançando quase 20
anos no século XXI, propostas de educação que tra-
tem do tema da sexualidade ainda são vistas como
afronta a tradições religiosas e barradas por políticos
ligados setores mais conservadores. Exemplos do tipo
podem ser verificados na história recente de nossa
política. O resultado são crianças, adolescentes e pré-
adolescentes completamente desorientados quanto às
mudanças pelas quais estão passando em seus cor-
pos e em seu psiquismo.
Numa era globalizada com acesso quase irres-
trito à internet, o risco de um pré-adolescente sanar
sua curiosidade sobre o sexo e sexualidade em sites
pornográficos é muito alto. O conteúdo dessas páginas
não educa sobre o sexo, pois as situações ali regis-
tradas, embora exibam sexo explícito, são simulações
que nada ou muito pouco tem a ver com o sexo real.
O interesse e o sucesso estrondoso que músicas funk
com conteúdo sexual explícito fazem entre os jovens
pode ser explicado também como uma falha na edu-
cação sexual de nossos pré-adolescentes.
Portanto, é extremamente necessário orientar
àqueles que vivenciam as mudanças corporais, psi-
cológicas e de interesses (ou que em breve irão v i -
venciá-las) sobre os significados do sexo e da sexua-
lidade: que na nossa sociedade não servem apenas a
É nesse ínterim que, de repente, a puberdade se fins reprodutivos (como seria de se esperar do sexo
impõe: o corpo começa a mudar E a mudança ocor- entre animais), mas são maneiras de vivenciar e de-
re bem no momento em que a criança (ou préado- monstrar afeto, prazer e carinho. Que é necessário
lescente) está absorta no mundo do conhecimento: prevenirse de gravidezes indesejadas e também de
aprendendo cada vez mais sobre o mundo e socieda- doenças sexualmente transmissíveis não menos inde-
de em que vive. É o momento em que, psicologicamen- sejadas, que é necessário haver respeito e cumplici-
te, o intelecto está em evidência, se desenvolvendo a dade entre as pessoas envolvidas no ato sexual. Que
todo vapor e assumindo prioridade em relação a ou- é necessário haver acima de tudo responsabilidade
tros processos psíquicos. É então que o corpo muda. com o próprio corpo e sentimentos, assim como com
Com o corpo, mudamse aos poucos os interesses, o corpo e sentimentos do (a) parceiro(a).
vem a curiosidade sobre o que está acontecendo. Concluindo: também quando o assunto é desen-
"Será que com meus/minhas colegas está acontecen- volvimento, o melhor caminho é sempre a educação.
do também?". E é por volta dos 11 aos 13 anos, o come-
* Jeferson Carlos Bordignon é psicólogo e mestre em psicologia pela
ço da puberdade, que o adolescente vai se interessar
Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Tem como principal
abertamente por conteúdos relacionados ao sexo e ao
objeto de estudo e trabalfio a adolescência, tendo publicado pesquisas
sexual, se referindo a estes assuntos muitas vezes de e materiais de apoio sobre o tema, além de ter atuado com o público
maneira despudorada. adolescente em diversas instituições. Atualmente trabalha como
Estes comportamentos são mal vistos, em ge- professor na APAE de Mogi Mirim e na Escola Trianon (que oferece
ral, por pais e professores que lidam cotidianamen- cursos técnicos) em Campinas. Além disso, atende clinicamente,
te com pré-adolescentes (são crianças ou já adoles- é assistente técnico em processos judiciais e revisor de textos
centes?), que acabam repreendendoos pelo "mal académicos. E-mail: jefersoncbordlgnon@gmaii.com
G R A N D E S T E M A S DO C O N H E C I M E N T O
ESCOLA E
AUTOESTIMA
O desenvolvimento da 'TOS
personalidade durante Is '
o período, escolar
CONSTRl|ÇAO
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A construção socià
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conceito de adolescèrlla
INTERCAlipaD
CULTURAtI
Sair de casa e viver e\k:^i
outro país cria iwas..; f
perspectivas pessoais
ÁLCOOLE
^ DROGAS
S O período de autoâfirmação
^ é crítico para lidar com os
2 desafios dos vícios e da
aceitação social