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A trajetória de vida na meia-idade

Os cientistas do desenvolvimento examinam o curso do desenvolvimento


psicossocial da meia-idade de diversas maneiras.
Objetivamente, eles consideram as trajetórias ou caminhos, tal como a busca
de uma carreira na meia-idade por uma outrora tradicional esposa e mãe.
Subjetivamente, eles observam como as pessoas constroem a sua identidade e
a estrutura das duas vidas.

Existem diversos fatores que podem afetar a trajetória de vida, tais como os
caminhos individuais, os papeis profissionais e pessoais, a coorte, o género, a etnia, a
cultura e o nível socioeconómico.

Mudança da meia-idade: abordagens teóricas

Em termos psicossociais, a vida adulta intermediaria já foi considerada um


período relativamente estável. Freud, acreditava que a personalidade está
permanentemente bem formada antes dessa idade.

Em contrapartida teóricos humanistas como Abraham Maslow e Carl Rogers,


viam a meia-idade como uma oportunidade para mudança positiva.

De acordo com Maslow, a realização plena do potencial humano, que ele


chamava de autorrealização, pode vir apenas com a maturidade.

Rogers, afirmava que o funcionamento humano pleno exige um processo


constante, por toda a vida, para conduzir o self em harmonia com a experiência.

Estudos longitudinais, mostram que o desenvolvimento psicossocial envolve


tanto estabilidade (estabilidade psicossocial pela experiência) como mudança (diversos
tipos de mudança).

Modelos de Traço

A pesquisa do modelo de traços de Costa e McCrae, alegava originalmente


continuidade ou consistência da personalidade apos os 30 anos nos agrupamentos do
Big Five- neuroticíssimo, extroversão, abertura para o novo, conscienciosidade e
amabilidade. Agora, reconhece que existe uma mudança mais lenta também durante
os anos da meia-idade e da velhice.
Os Big Five, parecem estar relacionados a diferenças físicas reais nas estruturas
cerebrais dos adultos. Por exemplo:

 Abertura para o novo- regulação da memoria de trabalho, atenção e raciocínio,


incluindo o córtex pré-frontal, medial, e dorso lateral e o córtex parietal
anterior;
 Neuroticíssimo- atividade cerebral e neuronal e a um reduzido volume do
córtex pré-frontal;
 Conscienciosidade- maior volume da circunvolução medio-frontal do córtex
pré-frontal;
 Extroversão- está associada à sensibilidade à recompensa e ao córtex orbito
frontal medial;
 Amabilidade- associa-se à atividade dorso lateral do córtex pré-frontal que tem
sido associada à regulação das emoções;

Outros investigadores, testando uma estrutura de traços semelhante, encontraram


mudança positiva mais significativa durante a meia-idade e a velhice, por exemplo, a
conscienciosidade e a amabilidade tendem a ser mais altas.

Modelos do estágio normativo

Os dois primeiros teóricos do estágio normativo, cujos trabalhos continuam a


fornecer uma estrutura de referência para a maior parte da pesquisa e da teoria do
desenvolvimento na vida adulta intermediaria, são Jung e Erickson.

Carl Jung: Individuação e transcendência

Jung, afirmava que o desenvolvimento saudável da meia-idade requer


individuação, a emergência do self verdadeiro por meio do equilíbrio ou integração
das partes conflitantes da personalidade inteira, incluindo aquelas partes que foram
anteriormente negligenciadas.

Na meia-idade as pessoas voltam as suas preocupações para o self interior,


espiritual. Tanto os homens como as mulheres procuram uma união dos opostos
expressando os seus aspetos renegados.

Duas tarefas difíceis porem necessárias da meia-idade são abrir mão da imagem
jovem e reconhecer a mortalidade. A necessidade de reconhecer a mortalidade exige
uma busca de significado dentro de si mesmos.
As pessoas que evitam esta transição e não reorientam as suas vidas
adequadamente perdem a chance de crescerem psicologicamente.

Erik Erickson: Generatividade vs. Estagnação

Ao contrário de Jung, Erickson descreveu a meia-idade como um movimento


para o exterior. Erickson via os anos em torno dos 40 como a época em que as pessoas
entram no seu sétimo estágio normativo, a Generatividade vs. Estagnação, a virtude
deste estágio é o “cuidado”.

A Generatividade, é a preocupação de adultos maduros em estabelecer e


orientar a próxima geração, perpetuando-se através da influência sobre aqueles que o
sucedem. As pessoas que não encontram uma saída para a Generatividade tornam-se
centradas em si mesmas, autoindulgentes ou estagnadas.

Como surge a Generatividade? De acordo com um modelo, os desejos internos


de imortalidade simbólica, ou uma necessidade de ser necessário, somam-se as
demandas externas para produzir um interesse consciente na próxima geração,
interesse que conduz a compromissos e ações generativas.

Generatividade, idade e gênero

A Generatividade é especialmente proeminente durante a meia-idade porque


as demandas de trabalho e família durante este período requerem respostas
generativas. Pais que são generativos tendem a ser mais envolvidos na educação dos
seus filhos.

A Generatividade não se limita á meia-idade. A idade em que os indivíduos


alcançam a Generatividade varia, assim como a sua força num determinado momento,
alem disso algumas pessoas tendem a ser mais generativas do que outras, por
exemplo, as mulheres tendem a relatar níveis mais altos de Generatividade do que os
homens.

Formas de Generatividade

Como o desafio central da meia-idade, a Generatividade pode ser expressa não


apenas por meio de cuidados paternos, mas também através de ensino ou
aconselhamento, produtividade ou criatividade e autogeraçao ou
autodesenvolvimento. Ela tende a estar associada ao comportamento pró-social,
podendo se estender a várias esferas do mundo.
O legado de Jung e de Erikson: Vaillant e Levinson

As ideias e observações de Jung e de Erikson insipararam os estudos


longitudinais de George Vaillant e Daniel Levinson. Ambos descreveram as maiores
mudanças ocorridas na meia-idade, desde a luta ocupacional aos 30 anos à
reavaliação, e muito frequentemente a drástica reestruturação da vida aos 40, à
suavização e relativa estabilidade aos 50.

-Vaillant

Como Jung, Vaillant, relatou uma diminuição de diferenciação de género na


meia-idade e uma tendência do homem a ficar mais tenro e expressivo. Vaillant,
reproduziu o conceito de interiorização de Jung. Bernice Neugarten, observou uma
tendência a introspeção semelhante na meia-idade, a que ele chamou interioridade.

Também estudou o relacionamento entre Generatividade, idade e saúde-


mental. Aos 50 anos, os homens mais bem ajustados são os mais generativos.

-Levinson

Como Jung, o homem de Levinson na meia-idade é menos obcecado com a


realização pessoal e mais preocupado com os relacionamentos, e mostra
Generatividade ao se tornar mentor de pessoas mais jovens.

Para Levinson, a transição para a vida adulta intermediaria era suficientemente


estressante para ser considerada uma crise.

O momento dos eventos: o relógio social

De acordo com o modelo dos eventos, o desenvolvimento da personalidade


adulta depende menos da idade do que de eventos importantes da vida. A meia-idade
frequentemente traz uma reestruturação de papeis sociais.

Para as coortes representadas pelos primeiros estudos do estagio normativo, a


ocorrência e o momento desses eventos importantes eram razoavelmente previsíveis.
Hoje, os estilos de vida são mais diversificados, e as fronteiras da vida adulta
intermediaria tornaram-se menos claras, “apagendo as antigas definições do relogio
social”.
Quando a vida da mulher girava em torno da concepçao e da educação dos seus
filhos, o fim do ciclo reprodutivo tinha um significado diferente doq eu tem agora,
quando tantas mulheres de meia-idade ingessam na força de trabalho.

O desenvolvimento da personalidade depende menos da idade do que de


eventos de vida importantes. Os estilos de vida hoje são mais diversos e o relógio social
tornou-se mais “fluido”.

Existe a crise da meia-idade?

Mudanças na personalidade e no estilo de vida que ocorrem dos 40 aos 45 anos


são frequentemente atribuídas à crise da meia-idade, um período stressante
desencadeado pela revisão e reavaliação da própria vida. A crise da meia-idade foi
conceituada como uma crise de identidade, e aquilo que a traz de acordo com Jaques,
é a consciência da mortalidade. As pessoas apercebem-se que se querem mudar de
direção tem de agir rapidamente.

Levinson, acreditava que o tumulto é inevitável quando a pessoa luta com a


necessidade de reestruturar a sua vida. Entretanto, o termo crise da meia-idade é
agora considerado uma representação imprecisa do que a maioria das pessoas vivencia
na meia-idade.

Algumas pessoas na meia-idade podem vivenciar crises ou tumultos, mas


outras sentem-se no auge das suas capacidades. No entanto, a meia-idade ainda que
possa ser stressante, não é mais stressante do que outros estágios de vida

Aparentemente, a meia-idade é apenas um dos momentos decisivos da vida-


transições psicológicas que envolvem mudanças ou transformações significativas na
perceção do significado, propósito ou direção da própria vida, podendo ser
desencadeados por eventos da vida, mudanças normativas ou por uma nova
compreensão da experiência passada, seja ela positiva ou negativa, podendo ser
stressante.

Os momentos decisivos frequentemente envolvem uma revisão e reavaliação


introspetiva de valores e prioridades, esta revisão da meia-idade pode ser um
momento de balanço geral, gerando novas descobertas sobre si mesmo e estimulando
correções no projeto e na trajetória da própria vida. Junto com o reconhecimento da
finitude da vida, a revisão da meia-idade pode trazer arrependimentos por ter falhado
em alcançar algum sonho ou a consciência clara dos prazos evolutivos- limites de
tempo nos eventos de vida.
Se um momento decisivo se tornara uma crise pode depender menos da idade
do que das circunstâncias e recursos pessoais do individuo. Pessoas com
neuroticíssimo elevado são mais propensas a vivenciar crises da meia-idade. Pessoas
com resiliência do ego, e que tem um senso de domínio e controlo são mais propensas
a atravessar a meia-idade com sucesso.

Desenvolvimento da identidade

Susan Whitbourne: Os processos da identidade

De acordo com a teoria do processo de identidade (TPI), a identidade é


constituída de perceções acumuladas do self. A perceção de características fificas,
capacidades cognitivas e traços da personalidade é incorporada a esquemas da
identidade- esquemas que os indivíduos usam para interpretar as suas experiências.

As pessoas interpretam as suas interaçoes com o ambiente por meio de dois


processos, semelhantes aos descritos por Piaget, para o desenvolvimento cognitivo: a
assimilação e a acomodação.

A assimilação da identidade é uma tentativa de manter um sentido consciente


de self em face de novas experiencias que não se ajustam a um esquema existente.

A acomodação da identidade, é o ajuste do esquema para se adequar a novas


experiencias.

A assimilação da identidade tende a manter a continuidade do self, a


acomodação tende a causar a mudança necessária.

O uso excessivo da assimilação ou da acomodação não é saudável. As pessoas


que assimilam constantemente (identidade assimilativa) são inflexíveis e não
aprendem com a experiencia. As pessoas que se acomodam constantemente
(identidade acomodativa) são fracas e altamente vulneráveis à critica. O mais saudável
é o equilíbrio da identidade, que permite que uma pessoa mantenha um sentido de
self estável enquanto se ajusta aos esquemas do self para incorporar novas
informações, tal como os efeitos do envelhecimento.

Generatividade e identidade
Erikson considerava a Generatividade um aspeto da formação da identidade.
Aqueles que realizam a sua identidade são mais saudáveis psicologicamente e
apresentam o maior nível de Generatividade.

Altos níveis de Generatividade andam de mãos dadas com uma maior


segurança sobre as suas identidades e com um senso de confiança nas suas
capacidades, e, uma vez estabelecida a Generatividade parece abrir caminho para
desfechos da vida positivos.

A generatividade é afetada por papeis sociais e os seus momentos. Alcançar a


generatividade na meia-idade tende a melhorar a saúde psicológica. Ser voluntário ou
politicamente ativo é uma expressão de generatividade comunitária.

Psicologia Narrativa: a identidade como uma história de vida

O campo da psicologia narrativa, considera o desenvolvimento do self como um


processo continuo de construção da própria história- uma narrativa dramática para
ajudar a dar sentido a vida e ligar o passado e o presente com o futuro. O
desenvolvimento dessa história oferece à pessoa uma “identidade narrativa”. De facto,
alguns psicólogos narrativos consideram a própria identidade um roteiro ou história
internalizada. As pessoas seguem o roteiro que elas próprias criaram a medida que
expressam as suas identidades por meio de ações. A meia-idade é uma época para
revisar a própria historia de vida.

Adultos altamente generativos tendem a construir roteiros de generatividade.


Esses roteiros frequentemente exibem um tema de redenção, ou libertação do
sofrimento, e estão associados com bem-estar psicológico.

Metas da narrativa da história de vida

o Exploratória:
- Metas visando um entendimento maduro de si mesmo;

o Intrínseca:
- Metas visando o bem-estar e/ou a felicidade
- Os roteiros de generatividade dão um “final feliz” à vida;
- A “historia do compromisso”: Uma meta para aliviar o sofrimento dos
outros
Identidade de género e os papeis de género

Como Erikson observou, a identidade esta intimamente ligada aos papeis e


compromissos sociais. A mudança de papeis e relacionamentos na meia-idade pode
afetar a identidade de género, oh homens de meia-idade são mais abertos em relação
aos sentimentos, mais interessados em manter relacionamentos íntimos e mais
generosos, características tradicionalmente rotuladas como femininas, enquanto que
as mulheres de meia-idade tornam-se mais assertivas, autoconfiantes e orientadas a
realização, características tradicionalmente rotuladas como masculinas.

Jung considerava essas mudanças parte do processo de individuação ou


equilíbrio da personalidade.

Bem-estar psicológico e saúde mental positiva

Saude mental, não e apenas a ausência de doença mental. Saude mental


positiva envolve um sentido de bem-estar psicológico que anda de mãos dadas com
uma perceçao saudável de si mesmo. Esse sentido subjetivo de bem-estar, ou de
felicidade, é a avaliação de uma pessoa da sua própria vida.

Emotividade, personalidade e idade

Muitos estudos encontraram um declínio medio gradual nas emoções negativas


(raiva e medo) durante a meia-idade e depois dela, embora as mulheres relatassem
emotividade ligeiramente mais negativas do que os homens em todas as idades.

De acordo com os achados, a emotividade positiva aumenta, em média, entre


os homens, mas cai entre as mulheres na meia-idade e então aumenta
acentuadamente para ambos os sexos, mas especialmente nos homens na vida tardia.
Estas tendências gerais na emotividade positiva e negativa parecem sugerir que, à
medida que as pessoas envelhecem, elas tendem a ter aprendido a aceitar o que lhes
ocorre e a regular as suas emoções efetivamente.

Apenas a saúde física teve um impacto consistente na emotividade nos adultos


em todas as idades, mas dois outros fatos, o estado civil e a educação, tiveram
impactos significativos na meia-idade. As pessoas casadas nesta fase da vida tendiam a
relatar emoções mais positivas e menos emoções negativas do que as não casadas.
Pessoas com educação superior também relataram mais emoções positivas do que
emoções negativas.

Sabe-se também que o bem-estar subjetivo está relacionado a dimensões da


personalidade identificadas pelo modelo dos cinco fatores. Em particular, pessoas que
tem baixo neuroticíssimo, alta extroversão e alta conscienciosidade tendem a ser mais
felizes.

Satisfaçao com a vida e idade

A maioria dos adultos de todas as idades, de ambos os sexos e de todas as raças


relatam estar satisfeitos com as suas vidas. Uma razão para esse achado geral de
satisfação com a vida é que as emoções positivas associadas com memorias agradáveis
tendem a persistir, enquanto os sentimentos negativos associados com memorias
desagradáveis tendem a desaparecer.

O apoio-social (amigos e cônjuge) e a religiosidade são contribuintes


importantes para a satisfação com a vida. Igualmente importantes são determinadas
dimensões da personalidade (como a extroversão e a conscienciosidade), a qualidade
do trabalho e do lazer e sentir-se grato ou reconhecido.

Embora uma maioria de adultos mais velhos relate níveis crescentes de


satisfação com a vida à medida que envelhecem, este certamente não e o caso para
todos os adultos. Há mudanças do desenvolvimento que podem ser descritas como
uma curva em U, a satisfação para com a vida atinge o seu pico por volta dos 65 anos, e
depois diminui lentamente.

A maioria das pessoas relata estar satisfeita com a vida, independente da idade.
Emoções positivas de memórias agradáveis tendem a persistir. Emoções negativas de
memórias desagradáveis tendem a esvair-se.

Bem-estar social

A qualidade dos relacionamentos percecionados de uma pessoa com outras


pessoas: vizinhança e comunidade.

Carol Ryff: As múltiplas dimensões do bem-estar

Carol Ryff, desenvolveu um modelo que inclui seis dimensões de bem-estar e


uma escala de autoavaliação para medi-lo, o Inventário do Bem-estar de Ryff.
De acordo com Ryff, pessoas psicologicamente saudáveis tem atitudes positivas
em relação a si mesmas e aos outros. Elas tomam as suas próprias decisões e regulam
o seu comportamento, escolhem ou moldam ambientes compatíveis com as suas
necessidades. Ela tem objetivos que tornam as suas vidas significativas e lutam para
explorar e desenvolver a si próprias o máximo possível.
As cinco dimensões do bem-estar social

Generatividade e bem-estar
As pessoas bem ajustadas são geralmente mais generativas:

 Líderes em organizações e comunidade


 Responsáveis pelos outros: trabalho e na família
 Preocupados e envolvidos em atividades de caridade

Desenvolvimento Psicossocial na Velhice


Cada vez mais se reconhece que a vida adulta tardia é um tempo de
crescimento potencial. Um estagio de desenvolvimento com as suas próprias questões
e tarefas especiais. É um período em que as pessoas podem reavaliar as suas vidas,
concluir o que ficou pendente e decidir como melhor canalizar as suas energias e
passar o tempo que lhe resta.

Erik Erikson: Questões e tarefas normativas


De acordo com os teóricos dos estágios normativos, o crescimento depende da
execução das tarefas psicológicas de cada fase da vida de modo emocionalmente sadio.
Para Erikson, a conquista culminante da vida adulta tardia é o senso de
integridade do ego, ou integridade do self, conquista fundamentada na reflexão sobre a
própria vida. No oitavo e ultimo estagio do ciclo de vida, integridade do ego vs.
Desespero, os adultos mais velhos tem de avaliar e aceitar as suas vidas para poderem
aceitar a morte.
A partir dos resultados dos sete estágios anteriores, lutam para conquistar um
senso de coerência e totalidade, em vez de se entregar ao desespero por sua
incapacidade de reviver o passado de forma diferente. As pessoas bem-sucedidas nesta
tarefa final de integração adquirem o entendimento do significado das suas vidas
dentro da ordem social mais ampla. A virtude que podem desenvolver é a sabedoria,
um interesse informado e imparcial pela vida em si diante da morte.
Sabedoria, para Erikson, significa aceitar a vida que se viveu sem ter
arrependimentos, sem ficar preso ao que podia ter sido.
Quando não ocorre resolução desta crise, a pessoa fica em desespero e com
medo da morte.

Traços de Personalidade na Velhice

Medindo estabilidade e mudança na vida adulta tardia


Numa população, a estabilidade de longo prazo, ocorre nos níveis médios de
vários traços. É improvável que pessoas hostis, em média, tornem-se muito mais
amigáveis com a idade, e as pessoas otimistas provavelmente continuarão
esperançosas.
Entretanto, existe uma mudança continua na vida adulta tardia, com o tempo,
ocorre uma diminuição do neuroticíssimo, aumentos de autoconfiança, acolhimento
caloroso e estabilidade emocional, e aumentos de conscienciosidade acompanhados
por declínios na vitalidade social e abertura para o novo.
As diferenças relativas entre indivíduos, tornam-se cada vez mais estáveis por
um período e depois atingem o ponto máximo. Alguns pesquisadores acreditam que
isso acontece por volta dos 30 anos, outros acreditam que ocorre aos 50 e aos 70 anos.
A melhor maneira de definir a estabilidade da personalidade na vida adulta
tardia é como algo relativamente consistente, moldado tanto pela genética quanto pela
escolha ativa de uma posição, mas ainda sujeito as influências continuas de um mundo
biológico e social em transformação.

A personalidade como previsor da emotividade, saúde e bem-estar


A personalidade é um forte previsor de emotividade e bem-estar subjetivo,
mais forte em muitos aspetos que as relaçoes sociais e a saúde.
Num estudo longitudinal, emoções negativas autorrelatadas, tais como a
inquietude, tédio, infelicidade e depressão, diminuíram com a idade. Ao mesmo
tempo, a emotividade positiva, tendeu a permanecer estável até a velhice e depois
declinou aos poucos.
Uma possível explicação para esse quadro de um modo geral positivo vem da
teoria da seletividade sócioemocional: à medida que as pessoas envelhecem, elas
tendem a procurar atividades e outras pessoas que lhes proporcionem gratificação
emocional. Alem disso, a grande habilidade dos adultos mais velhos de controlar as
suas emoções talvez explique o porquê de eles serem mais felizes.

Dois traços dos Big Five, a extroversão e o neuroticíssimo, demonstram a


relação. Pessoas com personalidade extrovertida tendem a reportar altos níveis de
emoção positiva inicialmente e estão mais propensas do que as outras a manter a sua
positividade ao longo da vida.
Pessoas com personalidade neurótica tendem a reportar emoções negativas, e
não positivas, e tendem a se tornar ainda menos positivas a medida que envelhecem.
Pessoas altamente neuróticas que se tornam mais neuróticas a medida que
envelhecem apresentam taxas de sobrevivência baixas. Diferentemente, constatou-se
que a conscienciosidade prevê uma boa saúde e mortalidade.

O Bem-estar na vida adulta tardia

Enfrentamento (coping) e saúde-mental


Enfrentamento (coping) é o pensamento ou comportamento adaptativo que
visa reduzir ou aliviar o stress resultante de condições prejudiciais, ameaçadoras ou
difíceis. É um importante aspeto da saúde mental.
Duas das abordagens teóricas ao estudo do enfrentamento, são: as defesas
adaptativas e o modelo de avaliação cognitiva.

-George Vaillant: as defesas adaptativas


De acordo com três estudos prospetivos, um fator importante de previsão é o
uso de defesas adaptativas maduras no enfrentamento de problemas em fases
anteriores da vida.
Aqueles que na velhice apresentaram melhor adaptação psicossocial foram os
mesmos que quando adultos jovens, haviam usado defesas adaptativas maduras como
altruísmo, humor, ersistencia, antecipação e sublimação (redirecionando emoções
negativas para atividades produtivas).
De acordo com Vaillant, essas defesas adaptativas podem mudar a perceçao das
realidades que as pessoas são incapazes de modificar, podendo ser elas inconscientes
ou intuitivas.
-Modelo de avaliação cognitiva
No modelo de avaliação cognitiva, com base em continuas avaliações da sua
relação com o ambiente, as pessoas escolhem estratégias adequadas de
enfrentamento para lidar com situações que sobrecarregam os seus recursos normais.
O enfrentamento inclui qualquer coisa que um individuo pense ou faça para se
adaptar ao stress, independentemente de como isso funcione. A escolha da estratégia
mais adequada exige uma continua reavaliação da relação entre a pessoa e o
ambiente.

 Estratégia de enfrentamento: focalizado no problema vs. focalizado na


emoção
 O enfrentamento focalizado no problema implica o uso de
estratégias instrumentais, ou orientadas para a ação, com o
objetivo de eliminar, administrar ou mitigar uma condição
estressante. Esse tipo geralmente predomina quando uma
pessoa prevê uma oportunidade real de mudar a situação.

 O enfrentamento focalizado na emoção é voltado para o


“sentir-se melhor” administrando a resposta emocional a uma
situação de stress para aliviar o seu impacto físico ou psicológico.
Esse tipo de enfrentamento tende a predominar quando uma
pessoa chega a conclusão de que pouco ou nada pode ser feito
no que diz respeito aquela situação especifica (útil para perdas
ambíguas).
A pesquisa pode distinguir dois tipos de enfrentamento
focalizados na emoção, proativo (busca de apoio social e
confronto dos sentimentos) e passivo (evitação e negação).

Diferenças de idade na escolha de estilos de enfrentamento


Adultos mais velhos tendem a usar mais o enfrentamento focalizado na
emoção. Geralmente o enfrentamento focalizado na emoção e menos adaptativo do
que o enfrentamento focalizado no problema. Quando não há solução disponível,
talvez seja o mais adaptativo controlar as emoções desagradáveis ou negativas. Alem
do mais, quando ambos os enfrentamentos são usados conjuntamente, isso permite
uma variedade mais ampla e mais flexível de resposta a eventos stressantes.

O modo como a pessoa enfrenta as provações e atribulações da vida esta


relacionado a várias consequências importantes para a saúde. As pesquisas sugerem
que o enfrentamento adaptativo está relacionado a saúde por meio dos hormônios do
stress. Aqueles que usam estratégias de enfrentamento focalizadas no problema e
procuram apoio social diante de eventos stressantes apresentam níveis de cortisol mais
baixos ao longo do dia.

A religião ou a espiritualidade afetam a saúde e o bem-estar?


A religião torna-se cada vez mais importante para muitas pessoas a medida que
elas envelhecem. Esta, parece ter um papel determinante de apoio para muitos idosos.
Possíveis explicações incluem o apoio-social, o encorajamento para levar estilos de vida
saudáveis, a perceção de uma medida de controlo sobre a vida através da oração, a
criação de estados emocionais positivos, a redução do stress e a fé em Deus como
forma de interpretação dos infortúnios.

Assim, a religião e a espiritualidade positiva estão relacionadas com o bem-


estar geral, com as funções psicológicas, com a satisfação conjugal e com a saúde.

Modelos de envelhecimento “bem-sucedido” ou “ideal”


Com o crescente numero de idosos ativos e saudáveis, houve uma mudança no
conceito de envelhecimento. O envelhecimento bem-sucedido, ou ideal, em grande
parte substituiu a ideia de que o envelhecimento resulta de processos inevitáveis e
intrínsecos de perda e declínio. Algumas pessoas podem envelhecer com mais sucesso
do que outras.

Vários estudos identificaram três componentes principais do envelhecimento


bem-sucedido:
1. Anulação da doença ou de incapacidade relacionada à doença;
2. Manutenção elevada das funções psicológicas e cognitivas;
3. Engajamento constante e ativo em atividades sociais e produtivas;

Os idosos bem-sucedidos tendem a ter apoio social, emocional e material, o


que contribui para a saúde mental; e enquanto permanecem ativos e produtivos não se
consideram velhos.

Teoria do desengajamento (descomprometimento) vs. Teoria da atividade


De acordo com a teoria do descomprometimento envelhecer geralmente
comporta uma redução gradual no envolvimento social e maior preocupação consigo
mesmo. Já de acordo com a teoria da atividade, quanto mais ativos permanecem os
idosos, melhor envelhecem.

A teoria do descomprometimento foi uma das primeiras teorias influentes da


gerontologia. Os seus proponentes entendiam o desengajamento como uma condição
universal do envelhecimento. Eles defendiam que a decadência do funcionamento
físico e a consciência da proximidade da morte resultam numa gradual e inevitável
suspensão dos papeis sociais, e como a sociedade deixa de providenciar papeis uteis
para os adultos da terceira idade, o descomprometimento é mútuo.
Acredita-se que o descomprometimento deve ser acompanhado pela
introspeção e apaziguamento das emoções.

A teoria da atividade, em oposição, associa a atividade com a satisfação de


viver. De acrodo com essa teoria, nos somos o que fazemos. Como as atividades
tendem a ser vinculadas a papeis e a conexões sociais, quanto mais ativos
permanecermos nesses papeis, mais satisfeitos provavelmente estaremos. As pessoas
qie envelhecem bem mantem o máximo possível de atividades e encontram
substitutos para os papeis perdidos. A retenção das principais identificações com
papeis sociais é um fator de proteçao para o bem-estar e a saúde mental.
No entanto, a teoria da atividade, é considerada muito simplista.

Teoria da continuidade
A teoria da continuidade enfatiza a necessidade das pessoas manterem uma
conexão entre o passado e o presente. Nessa perspetiva, a atividade é importante não
por si mesma, mas à medida que representa a continuação de um estilo de vida e
ajuda os adultos mais velhos a manter um autoconceito semelhante ao longo do
tempo. Para idosos que sempre estiveram ativos e envolvidos pode ser importante
manter um elevado nível de atividade. Embora, nos idosos, o fato de permanecer ativo
geralmente esteja ligado ao bem-estar, os níveis anteriores de atividade também são
importantes.

O papel da produtividade
Alguns pesquisadores concentram-se na atividade produtiva, quer seja
remunerada ou não, como a chave para envelhecer bem. Tanto o número de atividades
produtivas quanto o tempo despendido nessas atividades estão relacionados ao bem-
estar subjetivo e a sentimentos de felicidade.
A atividade social e produtiva tem relação com a felicidade autoavaliada, com o
melhor funcionamento físico, uma chance menor de vir a morrer seis anos depois
(maior longevidade), e um maior nível de felicidade autoavaliada.
Algumas pesquisas sugerem que a participação frequente em atividades de
lazer pode ser tao benéfica a saúde e ao bem-estar quanto a participação e atividades
produtivas, embora esse efeito possa ser maior para as mulheres. É possível que
qualquer atividade regular que expresse e intensifique qualquer aspeto do self possa
contribuir para o envelhecimento bem-sucedido.

Otimização seletiva com compensação


De acordo com Baltes, o envelhecimento bem-sucedido envolve otimização
seletiva com compensação (OSC). Esse modelo descreve estratégias que possibilitam
as pessoas adaptar-se ao equilíbrio mutável do crescimento e declínio ao longo da vida.
Na velhice os recursos são cada vez mais dirigidos para a manutenção da saúde
e a administração de perdas. Na vida adulta tardia, a OSC pode capacitar os adultos a
poupar recursos selecionando uma número de atividades ou metas mais significativas
e concentrar os seus esforços; otimizar ou aproveitar ao máximo os recursos que
dispõe nessas atividades; e compensar as perdas mobilizando recursos com formas
alternativas de atingir as suas metas.

As mesmas estratégias de administração da vida são aplicadas ao


desenvolvimento psicossocial. De acordo com a teoria da seletividade sócioemocional
de Cartensen, os adultos mais velhos tornam-se mais seletivos quanto aos contactos
sociais, restringindo-os aos amigos e familiares que melhor correspondam as suas
necessidades correntes de satisfação emocional.
O uso da OSC esta associado a um desenvolvimento positivo e com maior bem-
estar.

Questões praticas e sociais relacionadas ao envelhecimento


Aposentar-se consiste na mais penosa decisão de estilo de vida que as pessoas
têm de tomar a medida que se aproximam da vida adulta tardia. Essa situação afeta a
sua situação financeira e o seu lado emocional, tanto quanto o modo como elas
passam o tempo e se relacionam com a familiar e amigos. A necessidade de fornecer
apoio financeiro a inúmeros idosos aposentados também tem serias implicações para a
sociedade.
Trabalho e aposentadoria
Para muitos adultos a aposentadoria é um “fenómeno de muitas fases que
compreende múltiplas transições do “trabalho” renumerado para o não renumerado”.
Somente 40% desses adultos mais velhos que param de trabalhar quando estão na
faixa dos 50 a 60 anos param deifinitivamente, o restante volta a trabalhar, meio-
periodo ou integral, antes de deixarem o mercado de trabalho.

A reforma é um fenómeno relativamente recente, a reforma compulsiva foi


praticamente proibida. Os principais fatores para a reforma são a saúde e as condições
financeiras.

Como a idade afeta a atitude perante o trabalho e o desempenho?


Antes da crise económica de 2007, as pessoas que continuavam a trabalhar
apos os 65 anos gostavam do seu trabalho e não o consideravam excessivamente
stressante. Elas tendiam a ser mais instruídas a ter melhor condições de saúde do que
aquelas que se aposentavam mais cedo. No entanto, a mudança na situação
económica significou que agora muitos trabalhadores mais velhos são forçados a
trabalhar não porque querem, mas por causa da situação financeira e dos custos cada
vez mais altos da assistência medica.
Contrariamente aos estereótipos relativos a velhice, os trabalhadores de mais
idade são muitas vezes mais produtivos que os mais jovens, embora possam ser mais
lentos, estes são mais cuidadosos, confiáveis, responsáveis e económicos com o tempo
e materiais.

A vida apos a aposentadoria


A aposentadoria não e um evento isolado, mas um processo de ajuste
dinâmico, uma forma de tomada de decisão. Os recursos pessoais, económicos e
sociorrelacionais, como o apoio do companheiro, ou de amigos, podem afetar o modo
como o aposentado administra essa transição, assim como o seu apego ao trabalho.

Num estudo longitudinal, os homens cuja disposição no trabalho havia sido


baixa tendiam a ficar entusiasmados durante o “período de lua-de-mel”,
imediatamente apos a reforma, mas a continuação estava associada a um aumento dos
sintomas depressivos.
O bem-estar das mulheres não era tao afetado pela reforma, o seu animo era
mais afetado pela qualidade do matrimonio. Tantos nos homens como nas mulheres, o
principal previsor do estado de animo foi o senso de controlo pessoal.
O nível socioeconómico pode também afetar o modo como os
aposentados usam o seu tempo. Um padrão comum, o estilo de vida focalizado na
família, consiste sobretudo em atividades acessíveis e de baixo custo com a família, o
lar e os companheiros: conversar, ver televisão, visitar parentes e amigos, entreter-se
informalmente, jogar baralho ou “fazer o que aparecer”.
Outro padrão é o investimento equilibrado, é típico de pessoas mais instruídas,
que distribuem melhor o seu tempo entre família, trabalho e lazer. Esses padrões
podem mudar com a idade.
O padrão de utilização do tempo na reforma varia tendo em conta diversos
aspetos. Na reforma parece ocorrer:
• Maior ligação com as atividades de lazer
• Investimento equilibrado do tempo
• Estilo de vida focalizado na família

O trabalho voluntariado esta intimamente ligado ao bem-estar durante a


aposentadoria, o voluntariado prevê emotividade positiva, também tende a proteger
contra o declínio do bem-estar associado a perda das principais identificações com
papeis sociais e declínios na saúde mental.

Como os idosos lidam com o aspeto financeiro?

Esquemas de vida
Nos países em desenvolvimento os adultos idosos vivem normalmente com os
filhos adultos e os netos em domicílios multigeracionais, embora esse costume esteja
declinando. Nos países desenvolvidos a maioria dos idosos vive sozinha, ou com o seu
conjugue.
Os esquemas de vida em si não dizem muito a respeito do bem-estar dos idoso.
Por exemplo, viver sozinho não implica necessariamente uma falta de coesão familiar e
de apoio, ao invés pode refletir a boa saúde de um idoso, a sua autossuficiência
económica e o desejo de independência. Pela mesma razão, o fato de morar com filhos
não nos diz nada a respeito da qualidade dos relacionamentos no domicílio.
Relacionamentos pessoais na terceira idade
Os nossos estereótipos sobre a terceira idade geralmente levam-nos a acreditar
que a velhice e um tempo de solidão e isolamento. O trabalho é uma conveniente
fonte de contacto social, as pessoas que se aposentaram a muito tempo tem menos
contactos sociais do que aqueles que ainda trabalham. Em resumo, a rede social de
adultos mais velhos e apenas metade da rede de adultos mais jovens, e a rede social de
adultos mais velhos tende a ser um pouco menor do que a das mulheres.
Entretanto, os adultos mais velhos retém um círculo íntimo de confidentes, e
alem do mais os seus relacionamentos são mais importantes do que nunca para o seu
bem-estar e ajudam a manter a mente e a memoria em pleno funcionamento.

Teorias do contato social e do apoio social


Segundo a teoria do comboio social, os adultos ao envelhecer mantem níveis
de apoio social identificando os membros do seu círculo social que podem ajudá-los e
afastando-se daqueles que não lhes dão apoio. Quando os antigos colegas de trabalho
e amigos se afastam, a maioria dos idosos retém um círculo mais próximo e estável de
comboios sociais: amigos próximos e membros de família com quem eles podem
contar e que afetam fortemente o seu bem-estar.
Identificam membros úteis na rede social, e evitam membros inúteis ou
“tóxicos” na rede.

Uma explicação ligeiramente diferente das mudanças no contacto social vem da


teoria da seletividade sócioemocional. Quando o tempo que lhes resta se torna curto,
os adultos mais velhos escolhem estar com as pessoas e nas atividades que atendem
suas necessidades emocionais imediatas. Idosos passam mais tempo com pessoas que
satisfaçam as suas necessidades emocionais.

Portanto, mesmo que os adultos mais velhos tenham círculos sociais menores
do que os jovens adultos, tendem a ter o mesmo tanto de relacionamentos íntimos e
tendem a ficar muito satisfeitos com estes. Os seus sentimentos para com os velhos
amigos são tao fortes quanto os dos jovens adultos, e os sentimentos positivos em
relação aos membros da família são mais fortes.

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