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respeito à complexidade do fenómeno

do desenvolvimento psicológico

Como progrediu o conceito de humano.

desenvolvimento ao longo dos tempos?


Nos tempos correntes sabe-se que o

O desenvolvimento modificou-se há desenvolvimento não para na adultez e

muito pouco tempo. Até a poucas prolonga-se até ao envelhecimento.

décadas atrás a ideia de


Por isso a adultez não tem idade certa
desenvolvimento era associada de
porque esta vai depender do
imediato à infância até a juventude. O
desenvolvimento anterior e esta
desenvolvimento era considerado um
dependente de fatores biológicos e
processo cumulativo com base
sociais.
fundamentalmente biológica- a ideia
O 1º a propor uma visão de
era de uma curva (tipo a de Galls) onde
temos uma fase ascendente (um pico) e desenvolvimento ao longo da vida (que
hoje definimos como desenvolvimento
seguido de uma fase descendente.
normativo) foi Erik Erikson.
A ideia era que o ser humano nasce,
cresce, chega a um ponto máximo de A teoria psicossocial do
expansão do desenvolvimento – a desenvolvimento de Erik
adultez e a seguir entra numa fase que
Erikson
não é mais evolutiva, mas de
decadência até chegar ao O tema central da perspetiva de

envelhecimento e até a morte. Erikson sobre o desenvolvimento do


adulto é o da generatividade.

Esta perspetiva já se começa a


descentrar desta maneira de entender o
desenvolvimento: etapas sim, mas não
dependem estritamente de uma

Nos primórdios da psicologia o correspondência ao desenvolvimento

desenvolvimento do adulto era biológico. É uma perspetiva dinâmica,

caraterizado pela sua estagnação após porque cada etapa é concebida como

a chegada á fase da adultez. Esta visão um processo dialético entre duas

a dada altura foi considerada polaridades antitéticas – por exemplo,

incompleta, não realista no que diz a 1ª infância é confiança básica vs.


Desconfiança
Cada etapa afirma-se na tensão entre Optou por distribuir o desenvolvimento
estes dois polos. Segundo Erikson “a humano em fases. Porém o seu modelo
passagem para a etapa sucessiva detém algumas caraterísticas
depende do tipo de resolução que o peculiares:
próprio encontrou à volta daquele
• Desviou-se do foco da psicanálise
conflito central da etapa anterior”.
e focou-se nas relações sociais
Todos estes conceitos vão desconstruir, • Os estágios psicossociais
pôr em crise, a ideia cumulativa do envolvem outras artes do ciclo
desenvolvimento- não é uma vital além da infância (ampliando
acumulação de skills/competências, a proposta de Freud). Embora não
mas sim um processo que vai entre as exista uma negação da
dinâmicas internas (interiores) do importância dos estágios infantis
sujeito e das condições sociais, (afinal é neles que se dá todo o
ambientais e relacionais do ambiente desenvolvimento psicológico e
dentro do qual o sujeito se desenvolve. motor)
• A cada etapa o individuo cresce a
Erikson começa a construir a sua teoria
partir das exigências internas do
psicossocial do desenvolvimento
seu ego, mas também das
humano, repensando vários conceitos
exigências do meio em que vive,
de Freud, considerando sempre o
sendo, portanto, essencial a
individuo como um ser social, antes de
analise da cultura e da sociedade
tudo, um ser que vive em grupo e sofre
em que vive o sujeito em
a pressão e a influencia deste.
questão
Autores afirmam que o ser humano não
Na sua opinião, a energia que orienta o
se desenvolve sozinho, mas sim porque
desenvolvimento é psicossocial.
encontra um ambiente predisposto,
Defende uma perspetiva psicodinâmica
sobretudo o ambiente familiar e as
que valoriza a interação entre o meio
relações primárias, para o moldar. –
social e a personalidade.
Erikson tem uma visão diferente,
considera importante as condições Cada estágio contribui para a formação
contextuais, ambientais, mas não são o da personalidade total. Como cada
único motor do desenvolvimento criança tem um ritmo cronológico
humano. específico, não se deve atribuir uma
duração exata a cada estádio.

O desenvolvimento ao longo da
vida foi sugerido pela primeira vez por
ele (1950/60).
A nova perspetiva de Baltes interatividade indivíduo-cultura e entre
os níveis e tempos das influências.
- o desenvolvimento como equilíbrio
dialético entre ganhos e perdas Debate

Baltes veio reforçar as intuições de Quais são os indicadores /critérios da


Erikson considerando que o processo de condição adulta do ponto de vista
desenvolvimento não é linear, nem uma psicológico?
acumulação de competências, mas sim
• Autonomia e independência do
um processo constante de ganhos ou
ponto de vista económico e
perdas. E que se torna ainda mais
assumir responsabilidades (ex.
evidente na idade adulta e no
tomar decisões e capacidade de
envelhecimento.
descentração) para os próprios
Assim, o adulto e o idoso não são atos; capacidade de assumir as
aqueles que perderam capacidades, mas suas ideias e ser menos
sim aqueles que diminuem algumas manipulado do ponto de vista do
competências e funções, mas que pensamento
podem ganhar outras. – por exemplo, • Tema da estabilidade
num adulto, a memoria de trabalho (emocional)- maturidade afetiva
vai-se tornando menos eficaz, porém • Pensamento formal (abstrato e
mantem a memoria de longo-prazo. projetar planos para o futuro).
Além disso o adulto adquire um • Capacidade de ponderação
pensamento mais complexo (sabedoria) (maturidade afetiva).
• Desenvolver um sentido de
Os ganhos também podem ser
responsabilidade de compromisso
transformações.
que implica a durabilidade das
relações.

Paul Baltes criou o paradigma do • Capacidade de leitura

desenvolvimento ao longo de toda a introspetiva (capacidade de

vida, mais conhecido teoricamente meta-análise das diferenças).

como Lifespan, ou ciclo vital. Ou seja, o


Resumindo: Erik Erikson
desenvolvimento como um processo
contínuo, multidimensional e O que se dedicou a estudar?

multidirecional de mudanças
• Uma matriz psicodinâmica com
organizadas por influências genético-
carater freudiano
biológicas e socioculturais de natureza
normativa e não-normativa, marcado
por ganhos e perdas concorrentes e por
Qual o tema central da sua perspetiva? Depende fundamentalmente da
interconexão com a faixa etária/fase da
• Generatividade (processo
vida da juventude e da transição para a
intrínseco de crescimento)
vida adulta. Nós temos um processo de
Como é o desenvolvimento para Erikson? transição para a vida adulta que é cada

• Existe uma distinção das fases vez mais prolongado,


independentemente dos fatores
do desenvolvimento
etários/biológicos, mas dependente de
• O desenvolvimento biológico não
fatores sociais e psicossociais.
depende de uma facha etária
específica. Autonomia- não tanto em sentido
• Perspetiva dinâmica cada etapa é económico, mas sobretudo psicológico.
concebida como um processo Se olharmos para os
dialético de tensão entre dois adolescentes/jovens quando é que se
polos. Para passar à etapa pode dizer maioritariamente na nossa
sucessiva, é necessário a cultura, que alcançam esta condição?
resolução de um conflito central
 Somos autónomos/independentes
da etapa anterior.
relativamente a algum outro
• Assim, o desenvolvimento não é
sujeito ou contexto.
só uma acumulação de skills.
Em termos de desenvolvimento
humano, este pauta-se sempre dentro
A”autonomia/responsabilidade" das relações primárias (família) e

como indicador da adultez depois no que diz respeito à cultura a


que pertence.
Responsabilidade- capacidade para
Estes são os dois fatores que
assumir compromissos
acompanham o desenvolvimento
A adultez não corresponde a uma idade
Por exemplo: numa cultura diferente da
padrão, como se pensava antes. Há
europeia ou ocidental, teríamos marcos
muita dificuldade em estabelecer um
muito diferentes – o casamento no
marco claro do ponto de vista
brasil (américa latina) acontece muito
psicossocial para indiciar o início desta
mais cedo do que na Europa, é um
fase da vida – isso não depende da
marco da autonomia de transição para
adultez em si mesma, ou seja, da
a vida adulta
possibilidade de a definir e saber
reconhecer os indicadores de início, Os fatores relacionais, relativos às
mas depende em geral de todo o relações de proximidade (com a família)
desenvolvimento anterior. as relações primárias e os fatores
relativos à cultura que pertence devem abarcar despesas habitacionais,
(culturais) contribuem para o alimentação, limpezas, etc)
desenvolvimento.
Outro indicador de adultez –
A autonomia é um processo, neste infertilidade
momento histórico sobretudo a partir
 Quando se decide ter um filho
dos anos 1970/80, que não se alcança
quando a curva da fertilidade
em todas as áreas da vida ao mesmo
biológica está em decadência
tempo e que tem progressões não
compreende-se que é mais
lineares – podemos, por exemplo, do
provável que a infertilidade seja
ponto de vista cognitivo/intelectual e
uma consequência (ex:
afetiva (relações) podem-se estabilizar
engravidar aos 40)
ou pelo menos acontecer na
adolescência, em termos de faixa etária
ronda os 15/16/17 anos com uma
 Cada vez mais prolongada
tendência a ser cada vez mais precoces
 Cada vez menos linear
– fala-se de crianças “adultizadas”.
Enquanto que a autonomia do ponto de Fatores associados:

vista económico e eventualmente na


- Há uma tendência muito maior a sair
capacidade de assumir uma vida adulta,
mais tarde do contexto familiar.
de ser autossuficiente do ponto de
- A ida para a universidade: 1ª
vista das próprias necessidades
experiência que proporciona a saída do
primárias (ser capaz de viver sozinho,
seio familiar, é cada vez mais de
responsabilizar-se pela própria vida
proximidade – optam por irem para
sem ter necessidade de recorrer para o
faculdades mais próximas de casa
apoio dos adultos/pais) pode acontecer
(devido ao aumento do número de
muito tarde, e pode perdurar mesmo
universidades nos anos 90 em Portugal)
depois de outros marcos que poderiam
ser ligados a adultez, como após o - Os pais tornaram-se cada vez mais
casamento => e recorrem também ao protetores => tendem a estender a
apoio logístico e afetivo da família de infância dos filhos cada vez mais tempo
origem mesmo tendo um trabalho e para “aproveitar” /gozar da infância dos
uma casa (uma vida bastante filhos; a mentalidade dos pais muda
autónoma) não por necessidade mas radicalmente e começam a pensar os
sim por escolha, por uma serie de filhos como não sendo capazes
vantagens relativas que isso confere
- o numero reduzido de filhos por
(por exemplo, ao morar com os pais não
família
Estas transformações sobre a pois pode ser prolongado e acontecem
autonomia real vs. autonomia coisas importantes.
percebida dependem das
Na década de 80, começa-se a usar uma
transformações sociais, económicos
forma diferente de indicar as etapas do
que transformam o estilo de vida e as
desenvolvimento humano. Assim, por
expectativas.
exemplo, a fase da juventude desdobra-
se em 3 sub etapas:

• etapa da juventude (20-25/20


anos) => esta etapa começa cada
vez mais tarde pois há uma
tendência de prolongamento da
adolescência.

• Jovens adultos (30-40 anos)

• Adultos jovens (40-50 anos)

Chegamos aos 50 anos e ainda não


temos um conceito de adultez
desenvolvido. Se compararmos com
Autonomia económica critérios, estilos de vida indicadores

 Ter acesso ao mundo do trabalho sociodemográficos, uteis e utilizados

 O tempo de vida ativa do ser até aos anos 50 e 60, chocamos com

humano adulto alargou-se critérios totalmente diferentes. Eram

imenso, acontece cada vez mais considerados adultos a todos os efeitos,

tarde muito mais cedo, a adultez coincidia de

 As pessoas estudam até cada vez forma geral com 2 indicadores: O

mais tarde – o tempo de estudo ingresso no mundo do trabalho e a

foi prolongado pelo governo constituição do núcleo familiar. Era um


evento que poderia ocorrer do ponto de
A palavra transição ocupou o lugar do
vista jurídico já com 18 anos, mas era
conceito “fases”. Neste momento a
permitido aos menores de 18 anos com
“fase” que tem uma conotação mais
16 anos já de poder constituir família. E
estática e é também vista como um
mesmo o que já eram as leis do mundo
período que se sucedo ao outro, deixou
de trabalho, tinham uma
lugar à transição, que vem de transitar
regulamentação daquilo que era
e tem mais a ver com o movimento –
considerada a idade de aprendizagem,
que em si, o movimento, é significativo,
atividades sem formação académica,
técnicas ou artesanais, etc. Neste
momento com 18 anos falamos ainda autonomia e desvinculação se dão cada
de adolescentes (adolescência tardia). vez mais tarde. E do ponto de vista
Reconhecemos um estatuto social ao social têm uma posição muito
jovem cada vez mais tarde, e cada vez subordinada.
mais abrangido por indicadores que têm
mais cariz formativo ou de socialização
informal.

Transição da vida ativa para a


reforma

Aos 50 anos percebemos que nos resta


muito pouca vida ativa – 16 anos até a
reforma (65/66anos). Há uma
progressiva saída do mercado de
trabalho. Não temos adultos
propriamente ditos, mas passamos
desta progressiva chegada á adultez de
imediato à reforma- que continua a ser
o ponto de separação da vida adulta
para o envelhecimento. Só falamos de
velhice (palavra em desuso) por volta
dos 70 anos e é normalmente
considerada como consequência do
decaimento físico e cognitivo.

Tem a ver com o fenómeno do


alargamento da esperança média de
vida nos países ocidentais – há muitos
fenómenos que influenciam, tal como
as melhores condições gerais de vida,
acesso aos cuidados generalizados e
preventivos de saúde, melhores
condições habitacionais e económicas.

Começa-se se a falar nas últimas


décadas de adultos emergentes (entre os
30-40 anos), porque não são definidos
totalmente adultos? Porque a

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