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Desenvolvimento Psicossocial na Vida Adulta Intermediária

A trajectória de vida na meia-idade

Como os cientistas do desenvolvimento abordam o estudo do desenvolvimento psicossocial na


vida adulta intermediária?

Os cientistas do desenvolvimento examinam o curso do desenvolvimento psicossocial da meia-


idade de diversas maneiras. Objectivamente consideram as trajectórias ou caminhos, tal como a
busca de uma carreira na meia-idade por uma outrora tradicional esposa e mãe. E não só
observam como as pessoas constroem sua identidade e a estrutura de suas vidas (MOEN &
WETHINGTON, 1999).

O desenvolvimento nos anos da meia-idade deve ser visto na perspectiva de todo o ciclo de vida,
mas os padrões do começo da vida não são necessariamente projecções para os padrões da
maturidade (LACHMAN & JAMES, 1997). E existem diferenças entre o início e o final da
meia-idade. Pode-se estabelecer a distinção das preocupações de uma pessoa de 40 anos com as
de uma de 60. Hoje, naturalmente é difícil dizer de trajectória de vida, e caracteriza-la. Mas, aos
40 anos, algumas pessoas se tornam pais pela primeira vez, e outras se tornam avós. Aos 50,
algumas pessoas estão iniciando novas carreiras, e outras estão se aposentando precocemente.
Além disso, as vidas não progridem isoladamente. Os caminhos individuais se cruzam com os
caminhos dos membros da família, dos amigos, de conhecidos e de desconhecidos. O trabalho e
os papéis pessoais são interdependentes, e esses papéis são afectados pelas tendências na
sociedade.

Geração, género, etnia, cultura e nível socioeconómico podem afectar profundamente o curso da
Vida. A trajectória de uma mulher com uma carreira na meia-idade pode ser muito diferente da
de sua mãe, que dedicou tempo integral à família. A trajectória desta mulher também pode ser
diferente da de uma mulher jovem graduada de hoje, que embarca em uma carreira antes do
casamento e da maternidade.

Sua trajectória muito provavelmente teria sido diferente, também, tivesse ela nascido homem, ou
tivesse sido muito pobre ou com pouca educação para aspirar a uma carreira, ou tivesse ela
crescido em uma sociedade altamente tradicional. Todos esses factores, e outros mais, fazem
parte do estudo do desenvolvimento psicossocial na meia-idade.

Mudanças da meia-idade: abordagens teóricas

O que os teóricos têm a dizer sobre a mudança psicossocial na meia-idade?

Em termos psicossociais, a vida adulta intermediária já foi considerada um período relativamente


estável. Freud (1906-1942) acreditava que a personalidade está permanentemente bem formada
antes dessa idade. Em contrapartida, teóricos humanistas como Abraham Maslow e Carl Rogers
viam a meia-idade como uma oportunidade para mudança positiva. De acordo com MASLOW
(1968), a realização plena do potencial humano, que ele chamava de auto-realização, pode vir
apenas com a maturidade. ROGERS (1961) afirmava que o funcionamento humano pleno exige
um processo constante, por toda a vida, para conduzir o Self em harmonia com a experiência.

Estudos longitudinais mostram que o desenvolvimento psicossocial envolve tanto estabilidade


como mudança (FRANZ, 1997; HELSON, 1997). Mas que tipos de mudanças ocorrem e o que
as causam? Diversas teorias buscaram responder essa pergunta:

Modelos do Estágio Normativo

Os dois primeiros teóricos do estágio normativo, cujos trabalhos continuam a fornecer uma
estrutura de referência para a maior parte da pesquisa e da teoria do desenvolvimento na vida
adulta intermediária, são Carl G. Jung e Erik Erikson.

Carl G. Jung: Individuação vs transcendência: O psicólogo suíço Carl JUNG (1933/53/69/71)


afirmava que o desenvolvimento saudável da meia-idade requer individuação, a emergência da
self verdadeira por meio do equilíbrio ou integração das partes conflituantes da personalidade,
incluindo aquelas partes que foram anteriormente negligenciadas. Até aproximadamente os 40
anos, afirma Jung, os adultos estão concentrados nas obrigações com a família e com a sociedade
e desenvolvem aspectos da personalidade que os ajudarão a alcançar objectivos externos. As
mulheres enfatizam a expressividade e a educação; os homens são primariamente orientados à
realização. Na meia-idade, as pessoas voltam suas preocupações para o self interior, espiritual.
Tanto os homens como as mulheres buscam uma união dos opostos expressando seus aspectos
anteriormente renegados.

Duas tarefas difíceis, porém necessárias, na meia-idade são abrir mão da imagem jovem e
reconhecera mortalidade. De acordo com Jung (1966), a necessidade de reconhecer a
mortalidade exige uma busca por significado dentro de si mesmo. Esse movimento de
interiorização pode ser inquietante.

Contudo, as pessoas que evitam essa transição e não reorientam suas vidas adequadamente
perdem a chance de crescer psicologicamente.

Erik Erikson: Generatividade versus estagnação: ao contrário de Jung, que via a meia-idade
como um momento de interiorização, Erikson descreveu-a como um movimento para o exterior.

Erikson via os anos em torno dos 40 como a época em que as pessoas entram em seu sétimo
estágio normativo, generatividade versus estagnação. Generatividade, como definiu Erikson, é a
preocupação de adultos maduros em estabelecer e orientar a próxima geração, perpetuando-se
através da influência sobre aqueles que o sucedem. As pessoas que não encontram uma saída
para a generatividade tornam-se centradas em si mesmas, auto-indulgentes ou estagnadas
(inactivas ou sem vida). A virtude desse período é o cuidado: “um compromisso amplo no
sentido de cuidar das pessoas, dos produtos e das ideias com as quais a pessoa aprendeu a se
importar” (ERIKSON, 1985:67).

Generactividade, uma preocupação em orientar a geração mais jovem, pode ser expressa por
meio do treinamento ou do aconselhamento. A generatividade pode ser o segredo para o bem-
estar na meia-idade.
O self na meia-idade: problemas e temas

Quais são as questões relacionadas à identidade que afloram durante a vida adulta
intermediária?

Agora eu sou uma pessoa completamente diferente da que eu era 20 anos atrás”, disse um
arquitecto de 47 anos enquanto seis amigos, todos na faixa dos 40 e dos 50 anos, concordavam
vigorosamente com a cabeça. Muitas pessoas sentem e observam a ocorrência de mudanças na
personalidade na meia-idade. Não importa se olhamos para as pessoas de meia-idade de forma
objectiva, em termos de seus comportamentos externos, ou de forma subjectiva, em termos de
como elas descrevem a si próprias, é inevitável o surgimento de determinados problemas e
temas. Será que existe a chamada crise da meia-idade? Como a identidade se desenvolve na
meia-idade? Homens e mulheres mudam da mesma maneira? O que contribui para o bem-estar
psicológico? Todas essas questões giram em torno do self.

Existe a crise da meia-idade?

Mudanças na personalidade e no estilo de vida que ocorrem dos 40 aos 45 anos são
frequentemente atribuídas à crise da meia-idade, um período supostamente stressante
desencadeado pela revisão e reavaliação da própria vida. A crise da meia-idade foi conceituada
como uma crise de identidade; também já foi chamada de segunda adolescência. O que a traz,
disse ELLIOTT Jaques (1967), o psicanalista que criou o termo, é a consciência da mortalidade.
Muitas pessoas agora percebem que não poderão realizar seus sonhos de juventude ou que a
realização deles não lhes trouxe a satisfação que esperavam. Elas sabem que, se desejam mudar
de direcção, devem agir rapidamente. LEVINSON (1978, 1980, 1986, 1996) acreditava que o
tumulto é inevitável quando a pessoa luta com a necessidade de reestruturar a sua vida.

Esta revisão da meia-idade pode ser um momento de balanço geral, gerando novas descobertas
sobre si mesmo e estimulando correcções no projeto e na trajetória da própria vida. Junto com o
reconhecimento da finitude da vida, a revisão da meia-idade pode trazer arrependimento por ter
falhado em alcançar um sonho ou a consciência clara dos prazos evolutivos – limites de tempo
para, digamos, a capacidade de gerar um filho ou fazer as pazes com um amigo ou um membro
da família distante (Heckhausen, 2001; Heckhausen, Wrosch e Fleeson, 2001; Wrosch e
Heckhausen, 1999).
Se um momento decisivo se tornará uma crise pode depender menos da idade do que das
circunstâncias e recursos pessoais do indivíduo. Pessoas com neuroticismo elevado são mais
propensas a vivenciar crises da meia-idade (Lachman, 2004). Pessoas com resiliência do ego – a
capacidade de adaptar-se flexível e desembaraçadamente às possíveis fontes de estresse – e que
têm um senso de domínio e controle são mais propensas a atravessar a meia-idade com sucesso
(Heckhausen, 2001; Klohnen, 1996; Lachman, 2004; Lachman e Firth, 2004). Para pessoas com
personalidades resilientes, mesmo eventos negativos, tais como um divórcio não desejado,
podem se transformar em trampolins para um crescimento positivo (Klohnen et al., 1996; Moen
e Wethington, 1999).

DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE
Embora Erikson tenha definido a formação da identidade como a maior preocupação da adolescência,
ele notou que a identidade continua a se desenvolver. De fato, alguns cientistas do desenvolvimento
veem o processo de formação da identidade como a principal preocupação adulta (McAdams e de
St. Aubin, 1992). Examinemos as teorias e pesquisas atuais sobre desenvolvimento da identidade,
particularmente na meia-idade.
Relacionamentos na meia-idade
Relacionamentos consensuais
Relacionamentos com filhos maduros
Outros laços de parentesco

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