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Desenvolvimento e Intervenção na Infância e na Adolescência

Aula 1 – 15.09.22
Desenvolvimento humano
 Conceito chave
 Algumas ideias: processo de mudança, multidimensional, plurideterminado, o
desenvolvimento implica ganhos.
 O processo de desenvolvimento é:
o Dinâmico – transformativo e integrativo
o Longo
o Multidimensional
o Plurideterminado
o Comporta diferenças individuais
o Complexo
 Século XX – Concepções fortes do desenvolvimento
o O desenvolvimento contempla a mudança desenvolvimental – de acordo
com essas correntes, essas mudanças ocorriam até o final da
adolescência.
o Paul Bates – muda essa concepção e introduz a ideia de que o
desenvolvimento pode ocorrer ao longo de todo o período de vida.
 Perspectiva Life-Span
 O processo de desenvolvimento implica perdas (ex.
declínio cognitivo), contudo, os ganhos acabam
suplantando essas perdas.
 Não são as perdas que geram o desenvolvimento.
 O sujeito continua a se desenvolver porque há ganhos em
todas as etapas.
 Lembrar que nem todas as mudanças resultam no desenvolvimento – as
mudanças desenvolvimentais ocorrem no sentido da evolução e trazem
prosperidade, ocasionando um acúmulo de ganhos.
 O desenvolvimento é um processo dinâmico – tem a mudança na sua gênese.
o Transformativo e integrativo.
 Há mudanças em todas as dimensões – essas dimensões são interdependentes.
o As dimensões acabam tendo implicações em outras dimensões – ex.:
dificuldade cognitiva pode interferir na capacidade social do sujeito.
 Egocentrismo não é sinônimo de egoísmo.
o Egocentrismo: está inserido na dimensão cognitiva çrc– trata-se de uma
incapacidade de se colocar no lugar do outro.
o Fase pré-operatória (Piaget – 3 a 6 anos).
 O atraso no desenvolvimento não é necessariamente global – pode ocorrer
somente em uma das dimensões.
 Quanto mais cedo ocorre a intervenção, mais eficiente ela é – neuroplasticidade.
 O contexto, o potencial genético e a interação entre ambos vão influenciar no
processo de desenvolvimento do sujeito.

O binômio desenvolvimento e intervenção


Desenvolvimento –processo multidimensional
 Olhar para o sujeito como um todo.
o Deve-se olhar para o sujeito como um todo – não se deve analisar as
dimensões individualmente.
 Apesar de um determinado problema de desenvolvimento parecer circunscrito a
uma determinada dimensão, deve-se olhar para o todo.
o Deve se verificar se:
 As dificuldades em uma determinada dimensão afetam em outras.
 As dificuldades são um reflexo e/ou uma consequência de
problemas que originalmente eram observados em outras
dimensões.

Processo plurideterminado
 Identificar fatores de desenvolvimento implicados em uma determinada
situação.
 Avaliar o desempenho e as competências do indivíduo.
 Analisar os contextos de desenvolvimento em causa, assim como as relações que
o individuo estabelece com as pessoas que o constituem.
 Modificar a dinâmica das relações que o sujeito estabelece com as outras
pessoas tais como a dinâmica dos ambientes.
 Otimizar as condições de funcionamento dos contextos de desenvolvimento
potencializando as oportunidades de ocorrência de mudança desenvolvimental.
 Importância da sociedade e da cultura em que o sujeito se insere – esses fatores
também influenciam o desenvolvimento.
o É indispensável equacionar os problemas em função do significado
social e cultural dos comportamentos.
 A consulta psicológica e psicoterapia também constituem contextos de
desenvolvimento.
o Funcionamento pessoal mais adaptativo.
o Sujeito como agente e capaz de gerar mudança desenvolvimental.

Diferenças individuais
 O processo de desenvolvimento apresenta mudanças que são comuns a um
grupo de sujeitos, contudo, o seu ritmo é variável.
 Não se deve avaliar a normalidade do desenvolvimento com base na idade. Há
períodos que se constituem como norma para o aparecimento de determinada
função ou comportamento.
o As idades apontadas como referência devem ser vistas como limites
móveis.
 O desenvolvimento é normativo.
o Apesar de ser normativo, não deixa de abarcar as características
idiossincráticas.
o As mudanças ocorrem em um período, não em um momento do
desenvolvimento.
o Período normativo.
o Os diferentes fatores irão determinar se a mudança desenvolvimental vai
ocorrer mais cedo ou mais tarde.

Processo longo: a intervenção é pertinente em qualquer momento do ciclo da vida.


Obs.: Lembrar que há uma série de teorias explicativas do desenvolvimento humano. A
intervenção deve se basear em um modelo teórico de intervenção.
 Erro educacional fundamental:
o Colocar o foco naquilo que ainda não foi feito/alcançado.
o Orientação mais negativa.
o Esse fenômeno pode decorrer de expectativas mal ajustadas.
o Ex.: Quando um trabalho é bem-feito por um aluno – o professor diz
“não tenho nada a acrescentar”; poderia destacar os pontos positivos.

Aula 2 – 22.09.22
Desenvolvimento: teorias e modelos
Relembrando Erikson – Teoria do Desenvolvimento Psicossocial
 Erikson era filiado a psicanálise.
 Foi um dos primeiros modelos a adotar uma perspectiva life-span-
 Erikson se inspirou em um princípio epigenético da embriologia – tudo cresce
em função de um plano de base, a partir do qual se erguem partes em uma
sucessão contínua no tempo e no espaço, formando um todo em funcionamento.
 Formação da identidade:
o Processo complexo e que acompanha o ciclo de vida do sujeito.
o Processo psicossocial – construção biológica, a organização pessoal da
experiência e o meio cultural dão significado, forma e continuidade
à existência do sujeito.
 8 estágios – tarefas desenvolvimentais que o sujeito deve cumprir. Conflitos
normativos.
o Estágios se sucedem de forma ordenada a partir de um plano de fundo
comum e em um sentido de uma complexidade crescente.
o Cada estágio corresponde a um período cronológico específico e envolve
a aquisição de um estilo consistente de organização da experiência,
importante para a construção identitária.
 A teoria não explica como essa tarefa deve ser realizada.
 2 polos – positivo x negativo. Cada etapa é caracteriza por um conflito
normativo que se manifesta de forma bipolar.
o Formas distintas de se resolver o conflito.
o Se o sujeito experimenta majoritariamente o polo positivo, alcança-se a
virtude.
 A resolução do conflito em cada um dos estágios é independente da resolução do
estágio anterior.
o A qualidade de resolução de um conflito depende da qualidade com que
foi resolvido o conflito anterior.
 Virtude: capacidade de sintetizar as alternativas concorrentes – representa um
ganho no processo de formação de identidade.
 Pequena infância (0 aos 18M)
o Confiança x desconfiança – esperança
 Primeira infância (18M aos 3A)
o Autonomia x vergonha/dúvida – poder
o É o momento em que a criança começa a ter consciência de si própria.
o Aprendizagem social – regulação.
 Idade do Jogo (3-6A)
o Iniciativa x culpabilidade – intencionalidade
 Idade Escolar (6-11A)
o Realização x inferioridade – competência
 Adolescência
o Identidade x confusão de identidade – fidelidade
 Jovem adulto
o Intimidade x isolamento – amor
 Maturidade
o Geratividade x estagnação – tomar a cargo
 Velhice
o Integridade x desespero - sabedoria

Obs.: a teoria de Erikson permite abarcar uma série de outras teorias -funciona como
um grande contentor; convergência de vários modelos do desenvolvimento.

Perspectiva Ecológica do Desenvolvimento de Bronfenbrenner


 Ecologia do Desenvolvimento Humano: sujeito em desenvolvimento é uma
entidade dinâmica que penetra progressivamente no meio em que reside e o
reestrutura.
 Desenvolvimento: processo pelo qual a pessoa em desenvolvimento adquire uma
concepção mais ampla, diferenciada e valida do ambiente ecológico. O sujeito se
torna mais motivado e mais capaz de se envolver em atividades que revelam
suas propriedades, sustentam ou reestruturam aquele ambiente em níveis
semelhante ou maior de forma e de conteúdo.
 Ambiente ecológico: série de estruturas encaixadas, uma dentro da outra.
o Microssistema
o Mesossistema
o Exossistema
o Macrossistema
o Cronossistema

Dentro desse enquadramento teórico, a relação entre o sujeito e o meio é bidirecional,


sendo caracterizada pela reciprocidade.
 Meio ambiente: não se restringe a um único ambiente único e imediato. Inclui
as interconexões entre os vários ambientes, tais como as influências externas de
meios mais amplos.
 O que importa para o comportamento e para o desenvolvimento é o
ambiente conforme ele é percebido.
 Transições ecológicas: ocorrem sempre que a posição do sujeito no meio
ambiente é alterado em função de uma mudança de papel, ambiente ou ambos.
 Validade desenvolvimental: demonstra que ocorreu desenvolvimento humano.
Deve-se estabelecer que uma mudança produzidas nas concepções e/ou
atividades foi transferida para outros ambientes e outros momentos.

Perspectiva Organizacional do Desenvolvimento


 Fundamentada na teoria organísmica de Werner e na sua concepção de
desenvolvimento:
o Desenvolvimento como um processo que envolve mudanças estruturais.
Essas mudanças decorrem de um princípio ontogênico – mudanças são
evolutivas e ocorrem em um a única direção.
o A ocorrência do desenvolvimento pressupõe níveis crescentes de
diferenciação, articulação e integração hierárquica. Por exemplo, à
medida que um comportamento se torna mais diferenciado passa a estar
sob o controle de centros de regulação superior.
 As sucessivas reorganizações qualitativas ocorrem dentro e entre os sistemas –
biológico, emocional, comportamental e social.
 Processo de desenvolvimento – fatores internos e externos.
o Esses fatores interagem para determinar os resultados desenvolvimentais
nas várias tarefas. As trocas entre o individuo e os contextos de vida
dirigem e (re)direcionam o seu curso de desenvolvimento.
 Uma adaptação bem-sucedida = integração adaptativa dentro e entre os vários
domínios (biológico, emocional, comportamental e social).
o Permite que o sujeito domine os desafios e as exigências
desenvolvimentais com os quais se confronta no presente e promovendo
a sua adaptação futura.
 A qualidade da integração dentro de um sistema em um determinado momento
do desenvolvimento tem implicações no presente e no futuro, ao gerar eventuais
lacunas, déficits ou atrasos.
 Estruturas precoces de organização do indivíduo – incorporadas em estruturas
posteriores.
o Processo sucessivo de integração hierárquica.
o Essas estruturas que são englobadas não desaparecem. Podem
permanecer presentes, apesar de não serem proeminentes.
 A presença das supracitadas estruturas precoces permite possível que elas
apareçam através da reativação de experiências particulares em tempos de
stress/crise.
 Competência prévia – proporciona uma organização mais adequada dos vários
sistemas/domínios. Logo, oferece de modo probabilístico uma maior
possibilidade para que o sujeito tenha recursos adaptativos a sua disposição e
consiga manejá-los quando se depara com as novas exigências
desenvolvimentais.
 Psicopatologia do desenvolvimento – macroparadigma.
 Como os fenômenos psicopatológicos começam a se formar e que percurso irão
tomar?
 Desenvolvimento da psicopatologia.
 Trajetórias não adaptativas têm raiz no desenvolvimento – por que houve um
desvio do percurso normativo?
 Permite identificar os primeiros fatores de risco – prevenção e intervenção
precoce.

Contexto da família
 1ª etapa Erikson
 Como a vinculação influencia na capacidade de autorregulação
(emocional/comportamental) da criança?
 Autorregulação possui um longo percurso de desenvolvimento.
o É um processo inicialmente heterorregulado.
o Durante muitos anos é corregulado.
o A corregulação ocorre até o final da adolescência.
o Adulto emergente – autonomia é autorregulação.
 Implica um maior autoconhecimento.
 Vinculação é o contexto onde ocorre o desenvolvimento da autorregulação.
 A vinculação por si só não é garantia de que haverá a aquisição da
autorregulação.
o Quais são esses “ingredientes vitais”?

Vinculação e desenvolvimento da criança – ao longo do primeiro ano de vida, a mãe e


o bebê aprendem a jogar a vida em conjunto. Muitos desafios surgem e exigem que as
partes joguem de maneira sincronizada, o que envolve uma série de mecanismos vitais.
 Vinculação – assegurar a sobrevivência.
 Os bebês nascem com um sistema comportamental que tem como objetivo
protegê-los do perigo – comportamentos de vinculação.
 Ao longo do primeiro ano de vida, o bebê estabelece uma relação privilegiada
com uma figura que lhe proporciona cuidados básicos – figura de vinculação.

Relembrando: vinculação
 Ligação que é uma necessidade humana – a sua principal função é garantir a
sobrevivência.
 Figura de vinculação: pessoa a quem o bebê se liga.
 Relação de vinculação: persiste mesmo quando o ser deixa de ser totalmente
dependente.
 Relação de vinculação é centrada na regulação da segurança – é centrada por
uma figura que procura proteção (vinculada) e por uma outra (de vinculação)
que fornece a segurança. Logo, trata-se de uma relação assimétrica.

Vinculação e (auto)rregulação
 Bebês apresentam mais do que uma figura de vinculação. Contudo, eles
manifestam preferência por uma figura de vinculação (monotropia), o que
implica uma hierarquia das figuras da vinculação.
 Essa hierarquia é definida por uma série de fatores:
o Tempo dispendido na prestação de cuidados.
o Qualidade dos cuidados.
o Investimento emocional.
o Presença repetida na vida do bebê.
 Os comportamentos de vinculação se organizam em um sistema
comportamental de vinculação.
o Os comportamentos se organizam em função do objetivo, mas variam ao
longo do desenvolvimento, tornando-se cada vez mais complexo.
 A necessidade de proximidade com a figura de vinculação depende das
circunstâncias:
o Condições da criança.
o Presença/ausência de estímulos ameaçadores.
o Acessibilidade e disponibilidade da mãe.
 Lembrar que ao longo do primeiro ano de vida, através das interações com os
seus cuidadores, os bebês constroem modelos internos de vinculação
o Esses modelos são construídos a partir das interações repetidas com os
seus cuidadores.
o Os modelos são internamente organizados como representações
generalizadas sobre o self, sobre as figuras de vinculação e sobre as
relações.
o Funcionam como guias para a interpretação das experi~encias e para a
orientação dos comportamentos de vinculação.
 O sistema comportamental da vinculação envolve componentes cognitivos e
emocionais e integra a motivação da criança para se separar da figura de
vinculação e explorar o meio.

 Basw segura: para promover a exploração do meio; fundação.


 Safe haven: retorno; a criança precisa internalizar a ideia de que os cuidadores
estarão presentes e disponíveis, caso necessário.
 Kerns et al, 2015
o Estudo do impacto diferencial dos pais como base segura e refúgio
seguro no ajustamento escolar e no coping de crianças com idades entre
os 10 e os 14 anos.
o Associação moderada entre ser base segura e refúgio seguro para cada
um dos progenitores.
o A força da associação de uma vinculação segura ao bom ajustamento
escolar e boa capacidade de coping é similar para mãe e para o pai.
o Não obstante as crianças reconhecerem ambos os cuidadores como
importantes figuras de vinculação, os resultados revelaram um padrão de
preferência da mãe como refúgio seguro e do pai como base segura.
 Componentes essenciais da vinculação:
o Procura de proximidade
o Base segura
o Refúgio seguro.
 3 aspectos relevantes para a regulação da proximidade com a figura de
vinculação:
o Comportamento (não) responsivo dessa figura
o Conflito entre o sistema de medo e o sistema de exploração
o Papel da figura de vinculação na regulação mútua.
 Comportamento de prestação de cuidados parentais:
o Surge como complementar do comportamento de vinculação
o O comportamento da figura de vinculação está organizado em um
sistema comportamental de prestação de cuidados:
 Função é a proteção do bebê.
 Associação com emoções fortes, responsáveis pela regulação.
 A gama de comportamentos varia conforme o contexto, a idade,
as características e as experiências da figura parental e da criança.
 A ativação desse sistema se traduz por vigilância, monitorização
dos sinais provenientes das várias fontes de informação,
organização das várias percepções e seleção de uma resposta.
 Isabel Soares – sentimento de segurança, do ponto de vista do desenvolvimento,
está baseado em experiências repetidas.
o Medo e ansiedade foram aliviados de forma adequada repetidamente
pelas intervenções da figura de vinculação – criança foi capaz de retomar
a sua exploração ao meio.
o Figura de vinculação = base segura para a criança.
 A vinculação não é unívoca.
 A figura de vinculação é o cuidador primário, não sendo este necessariamente a
mãe biológica.
 Essa ligação não garante que haverá uma boa relação que favorecerá a
autorregulação.
 Vinculação – tem vários estilos
o Uma vinculação segura – boa heterorregulação.
 Monotropia – hierarquia das figuras de vinculação.
 A relação de vinculação deve persistir.
 Relações de vinculação:
o Mais prolongadas.
o Há uma necessidade dessa relação – a ausência/perda dessa figura de
vinculação causa muito sofrimento.
 O papel da vinculação, com o passar do tempo, deixa de ser tão ativo e passa a
ser mais representacional.
 As relações de vinculação podem ser estabelecidas em todas as fases da vida,
com características distintas.
 Ex.: par amoroso – relação simétrica; interdependência.
 Water e Cummings (2000): base segura como construto organizador.
o “A secure base from which to explore close relationships”
o Importante – deve se estender a relação de vinculação para além do
período da infância e enfatizar as mudanças correspondentes nos
comportamentos dos cuidadores é fundamental para se compreender a
vinculação.
 Base segura – construto organizador.
 Vinculação – fundamental para se compreender os efeitos das
experiências precoces, os mecanismos subjacentes a estabilidade
e a mudança e a relevância da socialização na vinculação.

Mecanismos e princípios reguladores da relação de vinculação


Como se operacionaliza na prática uma boa relação de vinculação?
o Sintonia, disponibilidade, responsabilidade, rotina.
 Sintonia – atenção, por parte da mãe, aos sinais do bebê.
o A sintonia é fundamental no contexto de qualquer relação.
o Entendimento mútuo das sensações e emoções.
o Harmonia
 Sincronia – ajustamento, ritmo.
 Sintonia >>>> Sincronia – 2 mecanismos fundamentais.
 A sintonia está no cerne do início do desenvolvimento de uma boa relação.
 Não é possível validar o outro sem a sintonia.
o Emoções – experiência subjetiva de um acontecimento.
 A partir da sintonia, podemos nos ajustar ao ritmo do outro.
 Modelos de funcionamento internos que codificam estratégias de regulação
atuam em níveis abaixo do limiar da consciência.
 A autorregulação se desenvolve no contexto da regulação mútua entre os
sistemas parental e da criança.
o A coordenação das expressões afetivas em interações face a face facilita
a transição de uma regulação mútua para a autorregulação.
 Sincronia entre mãe e bebê nas interações aos 3 meses de idade e uma resposta
rápida, por parte da mãe, durante a sincronização, está relacionada com o
surgimento de mecanismos de autorregulação/autocontrole aos 2 anos de idade.
 A capacidade a criança de estar em sincronia evoluiu ao longo do tempo,
sobretudo, durante o primeiro ano de vida.
o 0 meses: reconhecimento dos sinais do bebê e ativação de
comportamentos de ligação por parte do cuidador,
o 3 a 6 meses: coordenação de comportamentos do bebê e dos pais através
do olhar, da vocalização, do afeto, do toque, dos movimentos corporais,
da proximidade.
 Esta coordenação, muitas vezes, envolve defasamentos temporais
entre os estímulos e a resposta.
 Sincronia pode ser diática (cuidador-bebê) e triática (bebê-mãe-
pai).
o 9 meses: estados afetivos do bebê e dos pais começam a ter uma
influência mútua. Exploração conjunta de objetos é uma oportunidade
para se testar a sincronia. Defasamentos temporais na sincronia são
menores.
o 1 ano em diante: uso de símbolos (linguagem, jogo simbólico)
complexifica as interações e desafia os ritmos sincronizados. Importância
particular da sincronia dos afetos e os componentes não verbais da
relação.
 Matha Bronson, 2001
o A criança que interage ativamente com o ambiente e de forma crescente
vai gerando hipóteses cada vez mais corretas sobre o funcionamento do
mundo.
o O interesse em entender a forma como o seu mundo está organizado e a
construção de modelos da realidade começa a partir do momento em que
a criança começa a interagir com o ambiente social e físico. Vai se
tornando mais forte com a experiência.
o Estudos sugerem que o cérebro está desenhado para detectar
regularidades e padrões, para ligar acontecimentos que ocorrem em
sequência, realizando inferências causais sob as mesmas condições.
 Desde o início, a consciência sensorial do bebê percebe eventos
recorrentes e começa a construir expectativas que irão formar a
base de controle interno e das tentativas autodirigidas para
controlar o ambiente.
 Sensibilidade materna
o Ainsworth – capacidade da figura de vinculação de perceber e avaliar os
sinais e comunicação da criança de modo adequado e responder de forma
contigente e rápida.
o Depende de variáveis sócio contextuais – rede de apoio, relação
conjulgal, fatores socioeconômicos.
 Disponibilidade emocional
 Reciprocidade: é resultante da sincronia da relação e conduz a consciência do
papel de cada um e dos dois nessa mesma relação.
 Consistência: repetição dos padrões de interação ao longo do tempo.
 Previsibilidade:
o Experiências de competência em prever e controlar os vários aspectos do
contexto/ambiente promovem um grande interesse em predizer, controlar
e a confiança para realizar essas ações.
o A regulação efetiva e apropriada das emoções, do comportamento requer
motivação, organização cognitiva e calor, além de relações previsíveis
com os outros.

Aula 3 – 29.09.22
Feedback da primeira tarefa
 Importância de sugerir ações concretas.
 A previsibilidade vem da repetição – especificar quando se deve realizar uma
determinada ação.

A autorregulação emocional está contida dentro da inteligência emocional – essa


aprendizagem ocorre no contexto da vinculação.
Heterorregulação e corregulação.

Mecanismos e principais reguladores


1. Sintonia
2. Sincronia
3. Reciprocidade
4. Consistência
5. Previsibilidade

Obs. Posição de amamentar o bebê – geralmente as mães pegam a criança do lado


esquerdo.
 Os batimentos cardíacos são ouvidos durante a gestação – forma de dar
continuidade a vida intrauterina.

Introdução de novos mecanismos


6. Permissão: oferecer condições para a exploração da autonomia.
7. Estabelecimento de limites: criar fontes de regulação (comportamental,
emocional e cognitiva) externa para que a criança possa ir internalizando.
8. Coerência: manter a lógica das fontes de regulação e ser praticante dessa mesma
lógica.

Lembrando: 1ª infância – Erikson (18 meses a 3 anos) = autonomia x vergonha


Idade do jogo (3 a 6 anos) – iniciativa x culpabilidade
Piaget – termos cognitivos:
 Até os 18 meses – inteligência sensório-motora
 A ligação com o mundo é feita através dos sentidos
 Inteligência pré-operacional
o Representação interna do mundo físico – noção de uma representação de
mim – identidade.

A criança quer fazer o mesmo que os adultos – afinar o seu eu. Isso pode ocorrer através
das birras.
A expressão da individualidade ocorre em um contexto social regido por normas.
Nesse âmbito, o estabelecimento de limites é fundamental para mostrar como essa
criança pode expressar a sua individualidade.
Corregulação parental é necessária para atender as necessidades básicas da criança e
para gerir os seus estados emocionais, guiar seu comportamento e ensinar sobre as
regras sociais.
9-18 meses: criança desenvolve a capacidade de controle, que permite que ela:
 Seja cumpridora e/ou obediente diante das solicitações dos pais.
 Iniba as ações indesejadas (automonitorização)
 Ganhe consciência do que é aceitável ou não para os pais-

Permissão – autonomia; passar a ser uma intenção da criança.


 Lembrar que a base segura oferece condições para que ocorra a exploração.
 O adulto deve ter consciência dessa necessidade de autonomia e deve promovê-
la com algum controle.
Estabelecimento de limites
 Fontes de regulação externa
 Heterorregulação
 Deve haver regras e expectativas claras acerca dos comportamentos que devem e
dos que não devem ser desempenhados pelas crianças.
 Psicanálise – contenção.
Coerência
 A imitação é um poderoso mecanismo de aprendizagem – lembrar da
aprendizagem social.
 Tendo isso em vista, não podemos exigir algo e não faze-lo – os pais devem ser
o maior exemplo de conduta.
O comportamento não verbal funciona como um canal de comunicação antes da
linguagem.
A criança procura uma validação da mensagem fonética a partir das ações – a coerência
aqui é fundamental para não confundir a criança.
Regular o comportamento da criança.
A compreensão não é imediata – Piaget (inteligência pré-operatória)
 Representativa
 Egocentrismo – influência nas birras.
o Descoberta do eu – representação mental.

Kochanska – formação da consciência


 Consciência – função enquanto sistema orientador interno da emergência
gradual e manutenção da autorregulação.
 Possui 2 componentes:
o Emoções morais
o Conduta moral

18 meses: idade em que a criança começa a manifestar a capacidade de internalizar as


estratégias de corregulação que os pais utilizam.
 Controle pelo esforço.
 Internalização das estratégias empregadas pelos pais.
2 anos: surgimento do autocontrole – relacionado com a capacidade de suspender ou
adiar um comportamento em função de um pedido verbal, conseguindo corresponder à
expectativa social na ausência de monitorização externa.
 Progressão para a autorregulação, dependente de um pensamento representativo
e evocativo.
 Teste do Marshmallow

A corregulação feita pelo cuidador vai ajudar a criança no processo de aprendizagem da


autorregulação. Assim, o comportamento parental desempenha um papel relevante no
desenvolvimento da capacidade de autorregulação.
O comportamento parental e o estilo parental são um ponto fundamental na
corregulação.
A figura de vinculação desempenha esse papel de contentora – o controle vai se
modificando.
Os limites não podem limitar a expressividade da autonomia da criança, mas deve-se
assegurar a regulação comportamental e emocional sempre que a criança não a
conseguir exercer (contenção/figura de vinculação contentora).
Estratégias comuns que facilitam a autorregulação: orientação positiva, recíproca entre
os pais e a criança é um fator crítico no desenvolvimento da consciência a da
autorregulação autônoma.
MRO (Mutually responsive orientation): construto utilizado para nos referirmos rá
elações entre pais e filhos que podem ser descritas como cooperativas, de confiança,
recíprocas e marcadas pelos sentimentos positivos.
 Dois componentes principais:
o Cooperação entre pais e filhos.
o Responsividade e afetividade positiva.
Mecanismos de aprendizagem
 Condicionamento clássico
 Condicionamento operante
o Reforço
 Positivo
 Negativo
o Punição
 Positiva
 Negativa
 Aprendizagem vicariante – “children see, children do”
 Atenção (positiva ou negativa)
o Necessidade de pertencimento.
o O foco na criança é fundamental.
o Ignorar um comportamento pode levar a sua extinção.
 Explicação – ferramenta superpoderosa.
o A criança trabalha com as suas emoções e com as suas funções mais
cognitivas – mobiliza ambos os hemisférios.
o Ajuda a racionalizar os acontecimentos.
o Educar com as duas partes do cérebro.

Mecanismos e principais reguladores - continuação


1. Sintonia
2. Sincronia
3. Reciprocidade
4. Consistência
5. Previsibilidade
6. Permissão
7. Estabelecimento de limites
8. Coerência
9. Reforço
10. Afeto incondicional
11. Reparação
12. Reconhecimento das emoções

Reforço
 Valor do reforço – reforçar uma determinada característica.
 É fundamental valorizar o esforço e o percurso.
 O reforço deve ser genuíno.
 Aumenta a probabilidade de uma resposta voltar a ocorrer.

Afeto incondicional
 Não é função de um comportamento ou do desempenho.
 Cuidado com as chantagens emocionais – a retirada ou a presença do afeto não
devem ser usadas como estratégias para controle do comportamento.
 O amor que a criança percebe que os pais sentem por ela não é em função do seu
comportamento ou do seu desempenho.
 Estudos analisaram os efeitos da utilização da estima condicional (parental
conditional regard – PCR).
Reparação
 Representa a resolução de stress, negatividade ou defasamento gerado durante
uma interação que decorre em uma determinada relação.
 Ponto fundamental e basilar em uma vinculação segura
 Recuperação da sintonia.
 Garante que o afeto é incondicional.
 Garante que é um mecanismo crucial através do qual as crianças internalizam
competências de regulação.

Reconhecimento das emoções


 Identificar as próprias emoções, nomeá-las e reconhece-las nos outros.
 Não devemos inibir o que sentimos – as crianças devem se sentir confortáveis
para sentirem o que estão sentindo.
 Os adultos não devem esconder o que estão sentindo – há momentos em que
precisamos da corregulação dos outros.
Resumindo: mecanismo e o que promovem
1. Sintonia e sincronia – ligação e respeito
2. Reciprocidade – consciência de si e motivação
3. Consistência – confiança
4. Previsibilidade – segurança
5. Permissão – autonomia
6. Estabelecimento de limites – autocontrole
7. Coerência – autoconfiança
8. Reforço – autoestima/motivação
9. Afeto incondicional – autoestima
10. Reparação – segurança/regulação
11. Reconhecimento das emoções – autoconhecimento e empatia

Aula 4 - 13.10.22
Aspectos normativos do controle esfincteriano e perturbação de eliminação
(Enurese)

“Teachable moments” – decorrem da interação, são espontâneos, constituem grandes


oportunidades de ensino de determinadas competências; corregulação; potencial de
aprendizagem emocional.

Controle esfinceteriano e perturbação de eliminação


 O período normativo de aquisição do controle esfincteriano ocorre entre os 2 e 4
anos.
 É uma importante tarefa de desenvolvimento – autonomia da criança.
o Envolve a participação ativa da criança e da família.
 Requisitos:
o Neuro muscular – implica certo grau de desenvolvimento biológico.
 O sistema nervoso e muscular devem estar suficientemente
desenvolvidos.
 Os bebês urinam de 12-16 vezes por dia.
 2 anos – reconhecimento das sensações associadas à bexiga cheia.
 2 a 4 anos – reconhecimento da necessidade de urinar e de reter a
urina por alguns minutos.
Até os 4/5 anos a criança é capaz de iniciar o ato de urinar
voluntariamente seja qual for o volume de urina na bexiga.
 É preciso que haja o reconhecimento da sensação de bexiga
cheia.
o Cognitivos – a criança deve ser capaz de entender o que é esperado dela,
o que é pedido, deve estar consciente do ato e deve manifestar as suas
necessidades. Deve aguentar até se sentar no vaso.
o Afetivo: a criança deve estar afetivamente disposta a colaborar.

Enurese:
Micção involuntária e frequente (mais do que uma vez por semana) em uma idade em
que já deveria ter ocorrido a aprendizagem do controle dos esfíncteres.
Constitui uma perturbação de eliminação – encoprese é o equivalente para as fezes.
Micção involuntária e frequente.
Para que haja o diagnóstico de enurese, não deve haver outras condições que possam
causar essa micção.

Critérios do DSM:
 Eliminação repetida de urina na cama ou na roupa, voluntária ou involuntária.
 O comportamento deve ser clinicamente significativo relativamente a frequência
e a duração.
o Deve se manifestar no mínimo duas vezes por semana durante pelo
menos 3 meses consecutivos ou está associado a um sofrimento
clinicamente significativo ou prejuízo em áreas do importantes do
sujeito.
 Está associado a um sofrimento significativo.
 Afeta outras áreas importantes do funcionamento do sujeito.
 Critério da idade – idade cronológica mínima é de 5 anos – ou nível de
desenvolvimento equivalente.
 O comportamento não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substãncia ou
aos efeitos de outra condição médica.

Tipos de enurese – formas em que se manifestam


1. Noturna – mais frequente, até os 11 anos é mais comum em meninos.
2. Diurna – mais comum nas meninas.
3. Mista – menos frequente e mais resistente ao tratamento e apresenta maior
probabilidade de recaída.

Além disso, a enurese pode ser classificada de acordo com a possibilidade da criança ter
ou não adquirido o controle esfincteriano.
 Primária – controle esfincteriano nunca foi aprendido.
 Secundária – a enurese se manifesta depois da aprendizagem.

Obs.: a classificação é dupla – são 2 critérios envolvidos.

Etiologia
Fatores genéticos
 Enurese noturna primária - pais com enurese têm mais chances de ter filhos com
enurese.
 Os padrões de sono podem intervir – dificuldade de acordar.
 Baixa produção de hormônio antidiurético.

Causas orgânicas
 Associadas à enurese noturna
o Baixa produção de hormônio antidiurético.
o Falha no padrão de sono.
o Apneia obstrutiva do sono
 Associadas à enurese diurna
o Incontingência de urgência – vontade de fazer xixi mesmo com a bexiga
não cheia; sensação de bexiga cheia.
o Adiamento da micção

Determinantes psicológicos
 Falha na aprendizagem do controle sobre o ato de urinar.
 Aprendizagem prematura do asseio.
 Aprendizagem tardia e pouco sistemática do asseio.
 TDAH e impulsividade.
 Acontecimentos de vida e ansiedade.
 Atitude dos pais diante da enurese dos filhos.

Aprendizagem do asseio
Fezes:
 A criança deve estar sentada em segurança – isso ocorre por volta dos 9,10
meses.
 12 meses – a criança já é capaz de defecar. Toma consciência do ato de defecar e
compreende o que está fazendo.
 15-18 meses: reforço positivo – os outros ficam felizes quando defeco no lugar
certo.

Urina
 A criança deve ter adquirido o controle postural (andar e se desolocar com
facilidade) – ocorre entre os 15 e os 18 meses.
 A criança deve ter consciência de que a bexiga está cheia e de que a pode
esvaziar quando quiser.
o Durante o dia: 12-18 meses.
o Durante a noite: 2 anos e meio e 3 anos.
 Até os 5/6 anos podem ocorrer acidentes noturnos.

O que se deve fazer?


 Bebê deve ser mudado frequentemente para que conheça o prazer de estar seco.
 Entre os 12 e os 15 meses: habituá-lo a ver o bacio e a sentar-se nele durante
alguns minutos.
 Entre os 15 e os 20 meses: fazer com que a criança urine com uma certa
regularidade para educar o esvaziamento da bexiga.
 Tentar obter o asseio durante a noite só depois que a criança ter conseguido o
controle durante o dia.
o Logo que a criança tenha conseguido o asseio diurno, deve-se começar a
levantá-la uma vez por noite, despertando-a totalmente para que o ato
seja consciente. Essa ação deve ser feita uma hora e meia depois de se
deitar.
 Reforçar – encorajar os sucessos.
 Modelar (shaping) – ensinar o bebê, enquanto ele ainda está no bacio, a mímica
de fazer força, que ele imitar aos poucos.
 Habituar os meninos a urinarem em pé.
 Aceitar os acidentes até os 3,4 anos.

É fundamental olhar o contexto da enurese – em alguns casos os fatores podem ser


contextuais, o que não justifica o diagnóstico.
Importância do reforço positivo nas situações em que a criança consegue acertar.
Criança pode participar da limpeza para aprender os custos.
Modelar o comportamento – mímica, mostrar como os irmãos fazem, usar bonecos.
 Ocorre muito no contexto das creches – ver como as outras crianças fazem.
É normal a criança ter curiosidade de mexer nas fezes.

Prevalência
A enurese noturna diminui com a idade.
 7 a 30% aos 5 anos.
 3-5% nos rapazes e 2% nas meninas aos 10 anos.
 2% aos 12-14 anos.

25% dos casos de enurese são tipo noturna e secundária.


As taxas de enurese diurna são menores do que as de enurese noturna.
É mais comum em famílias maiores de menores níveis socioeconômicos e em crianças
que vivem em instituições.

Avaliação
Deve-se conhecer e explorar a natureza do problema.
 Início dos sintomas.
 Tipo de enurese – primária/secundária; diurna/noturna.
 Frequência das micções.
 Local onde ocorre.
 Existência de encoprese.
Ter em conta os critérios de diagnóstico.
Classificar a enurese.
Descobrir onde ocorre – contexto.
Pesquisa detalhada de como a aprendizagem do asseio foi conduzida pelos cuidadores
Anamnese: investigar com detalhes os horários de higiene da criança, tal como da
família.
Avaliação das atitudes dos pais e da família em relação ao problema e das respostas
diante da situação.
Avaliar a forma como a criança percepciona as micções involuntárias, como
percepciona as reações da família, como a enurese interfere no seu funcionamento
diário nos seus vários contextos.
Averiguar a existência de eventuais problemas de comportamento.
Estabelecer uma linha de base das micções.
Diminuir a ansiedade dos pais e da própria criança, explicando o mecanismo da enurese
e da grande probabilidade de cura espontânea.
A criança deve ter um papel ativo na consulta para aumentar a sua adesão no
tratamento.

Enurese – tratamento
Estratégias de intervenção comportamental
 Durante o dia:
o Treino de retenção de urina.
o Interrupção do jato.
 Durante a noite:
o Automonitorização das micções noturnas.
o Reforço positivo pelos pais do comportamento desejado.
o Conselhos:
 Levar a criança ao banheiro antes de dormir.
 Nas primeiras noites – pais devem acordar a criança regularmente
(de duas em duas horas) para que ela vá no banheiro.

Registro semanal das noites secas

Terapêutica condicionante por alarmes


Pipi-Stop (Enuresis Alarm)
 Utilizar preferencialmente em crianças com idade superior a 8 anos.
 Duração média dos tratamento: 8-16 semanas para se obter resultados.
 A taxa de cura é de 70% com recaídades de 10% a 40%.
o Após uma recaída, um novo período de tratamento é eficaz na maioria
dos casos.
 A decisão de usar o alarme também deve ser uma escolha da criança.
o O aparelho deve ser de boa qualidade.
o A criança deve dormir sozinha.
o A criança não deve ter medo do aparelho.
 A pele deve ser observada todos os dias – ao primeiro sinal de irritação da pele
ou de perturbação psicológica o tratamento deve ser suspenso.
 Para propor a utilização do alarme deve se ter noção do custo do aparelho ou do
aluguel.

Terapia com medicamentos: Imipramina


 Efeito rápido, mas transitório.
o Grande parte das criança apresentam recaídas após interromper o uso do
medicamento.
 Deve ser utilizado apenas por motivos socias e por períodos curtos.
 Pode provocar reações diversas e pode ser tóxico em caso de sobredosagem
acidental.

Aula 5 - 20.10.22
Consulta psicológica: contexto de intervenção e de desenvolvimento
 Também é um contexto de desenvolvimento.
 Os contextos de intervenção também são contextos de desenvolvimento.
 Processo de adaptação – a intervenção tem como objetivo torna-lo mais
adaptativo
o Recuperação de trajetórias adapatativas.
 A intervenção deve abarcar sujeitos importantes para a criança.
 Promoção da autonomia – capacidade de autorregulação.
 Ser independente ≠ ser autônomo.
 A autonomia possuí uma série de facetas e dimensões.
o Cognitiva: não se deixar levar pelos pensamentos, capacidade de
apresentar, defender os nossos ideais, expressar pontos de vista.
 O grau de ajuda varia conforme o sujeito e as suas questões apresentadas.

Entrevista clínica
 Avaliação multimétodo
 A entrevista é um componente fundamental.
 Obtenção de informação sobre o sujeito – usada para avaliar o funcionamento
em diferentes níveis (emocional, cognitivo, comportamental...) e para decidir
sobre a necessidade e tipo de intervenção.
 Pressupostos:
o Comportamento varia de acordo com o contexto e com as relações.
o Deve-se recorrer a diferentes informadores.
o A consulta psicológica é um contexto estranho – 1º contato. Logo, esses
comportamentos podem não corresponder aos comportamentos normais
da criança no seu meio natural.
o O ideal seria observar a criança e a sua família em contexto natural –
entrevistas conjuntas.
o A estrutura e o conteúdo variam conforma o informador e os objetivos da
entrevista.
Obs.: entrevistas conjuntas – necessidade de falar com vários informadores que fazem
parte da vida da criança.
 O acordo pode ser baixo – isso também constitui informação relevante.
 Pode haver mais variáveis contextuais que explicam o funcionamento da
criança.
 Estrutura e conteúdo variam.

4 momentos da entrevista
 Entrevista inicial
 Entrevista com os pais
 Entrevista com a criança
 Entrevista de devolução de informação

Entrevista inicial
 Identificar de quem parte o pedido de consulta – quem sinalizou a razão que traz
a criança?
 Ajuda a identificar potenciais informadores.
 Esclarecer o motivo/razão da consulta.
o É fundamental explorar esse motivo com todas as partes envolvidas.
o A criança/o adolescente deve ter um papel ativo.
 Fomentar uma aliança – sintonia.
o A consulta é um contexto de corregulação.
o Deve-se construir um espaço de confiança/seguro.

Entrevista com os pais


 Descrição objetiva e específica do problema.
o Os cuidadores são informadores privilegiados.
o Deve-se conhecer as circunstâncias em que se manifestam as respostas
mal adaptativas, os acontecimentos que ocorrem antes, durante e depois
do problema.
 Operacionalização do problema
o Fatores de manutenção
o Gravidade – frequência, intensidade (visão quantitativa) e duração.
o Explorar o contexto em que se manifesta.
o Operacionalizar a linguagem dos pais – aferição, descodificação do
discurso para perceber as características do problema e os seus
significados.
 Informação histórica
o Anamnese completa
o Envolve vários domínios
o Funcionamento da criança, há quanto tempo o problema persiste, o que
já foi feito, profissionais que já fizeram intervenções.
o Desenvolvimento da criança, história médica, história da família,
progressão escolar.
 Avaliar as expectativas e os objetivos dos pais.
o Em muitos casos, as expectativas parentais podem constituir o primeiro
alvo de intervenção.
o Os pais podem ter uma visão muito negativa da criança – é fundamental
trabalhar essa questão se ela aparecer.
o A discussão de respostas alternativas apropriadas ajuda a definir
objetivos terapêuticos e a avaliar expectativas parentais.
o Questões acerca de comportamentos adequados podem ajudar os pais a
centrarem-se em aspectos positivos do comportamento.
 Variáveis relacionadas com a família
o Analisar os padrões de interação pais-filhos.
o Contexto das dinâmicas familiares.
o Estilo educativo parental.
o Verificar se o pedido de apoio psicológico se baseia em expectativas
irrealista ou no mal-estar dos pais.
 Determinar o potencial mediacional dos pais.
o Pais como “co-terapeutas”
o Motivações, capacidades...

Entrevistas conjuntas:
 Evita a agressividade, a acusação e a condenação.
 Visão justa e equilibrada do problema
 Permite obter elementos sobre forma como os sujeitos se comunicam.
 Permite observar como os pais respondem aos comportamentos da criança ou
como ela reage diante das suas ordens e questões.

Entrevistas individuais
 Pais podem discutir assuntos impossíveis de tratar na presença dos filhos.
 Filhos podem expressar sentimentos que não expressariam na frente dos filhos.
 Permite clarificar o tipo de atribuições que cada elemento faz relativamente ao
problema.

Entrevista com a criança


 Discussão e esclarecimento sobre os motivos – a criança deve saber o porquê de
estar ali.
o Consulta psicológica representa uma situação ansiógena.
o Em muitos casos, a criança não sabe por que veio a consulta e apresenta
uma visão reduzida dos problemas.
 O psicólogo deve esclarecer o processo e discutir as razões da consulta.
 Criação de uma boa relação e de um espaço seguro.
o Diminuir a inibição, ansiedade e/ou hostilidade.
 Recolher informação sobre a criança e sobre a sua perspectiva dos próprios
problemas e do motivo da vinda à consulta.
o Percepção do problema.
o Modo como a criança se relaciona com um adulto em situação de
interação social.
o Acontecimentos antecedentes e consequentes, acontecimentos internos
(crenças, atribuições, interpretações, medos e preocupações...).
o Avaliar a capacidade da criança de comunicar sentimentos e ações
através de palavras e vocabulário (aptidões verbais e cognitivas).
o Atitude relativamente a escola.
o Identificação de reforços potenciais no decurso da intervenção.
 Áreas de informação – devem ser exploradas com a criança.
o Família
o Amizades
o Escola
o Autoconceito
o Fantasias
o Comportamentos bizarros
 As crianças são subvalorizadas – observam, constroem hipóteses, atribuem
significado.
 Enquadrar e preparar uma avaliação psicométrica.
 A avaliação psicométrica não tem um fim em si mesma.
o É um meio para.
o Esse passo não é obrigatório.
o Entrevista e observação sempre vêm antes da avaliação.
o Entrevista – espaço de observação.
 A entrevista com a criança constitui um importante espaço de observação:
o Relação com os pais.
o Comportamentos de interação.
o Características de linguagem.
o Manifestações fisiológicas ou vegetativas (taquicardia, transpiração,
rubor, palidez...)
o Comportamentos motores
o Atividades orais
o Expressões faciais
o Natureza dos afetos
o Comportamentos visuais
o Memória
o Capacidade de atenção, concentração
o Reação ao fracasso/frustração/situações difíceis.
o Estilo de autoavaliação
 Atitude do psicólogo
o Colocar questões levando em consideração o nível de desenvolvimento
da criança – ajustar as perguntas ao nível de compreensão e de
inteligência da criança.
o Não utilizar termos técnicos.
o Colocar uma questão de cada vez.
o Respeitar o ritmo de resposta da criança.
o Utilizar linguagem adequada ao seu contexto sociocultural.
o Levar em conta os interesses, ideias e sentimentos da criança.
o Não expressar atitudes ou julgamentos negativos.
o Manter uma relação que não seja excessivamente fria ou negativa.
o Manifestar comportamentos reforçadores.

Entrevista de devolução
 A criança não pode ser esquecida nesse processo.
o O psicólogo pode devolver a informação aos pais e a criança, em
conjunto ou separado.
 A linguagem deve ser adequada à família – a terminologia técnica deve ser
usada com cuidado.
 Os aspectos positivos da criança devem ser salientados sempre que possível.
 O modo como o feedback é dado pode constituir uma intervenção.
 A informação deve ser qualitativa – descodificada.
o Os dados podem ser úteis, mas devem ser explicados.
 Os aspectos positivos sempre devem ser salientados.

Aula 6
Desenvolvimento sexual normativo na infância e na adolescência

Sexualidade a partir de uma perspectiva desenvolvimentista:


 É uma forma integrativa de desenvolvimento.
 Implica a intersecção e coordenação de componentes intrapessoais – impulsos,
autoconceito, sentimentos, orientação moral, expectativas interpessoais,
experiências relacionais...
 Varia ao longo da idade, mas é determinada em um momento particular pelas
experiências em faixa etária anterior.

Metodologias:
 Estudos retrospectivos.
 Observação pelos adultos dos comportamentos das crianças.
 Inferência do comportamento normal a partir do comportamento sexual atípico
de crianças.

Atualmente, sabe-se que:


 O comportamento sexual na infância é normal, desenvolvimentalmente distinto e
motivado pelo prazer e pela curiosidade.
 As crianças são naturalmente curiosas sobre os seus corpos e os das outras
pessoas – exploram o seu corpo desde o nascimento, sozinhas ou em
brincadeiras com outras crianças.
 Comportamentos que imitem a sexualidade dos adultos não são frequentes em
crianças.
 Fetos masculinos têm ereções penianas.
 A lubrificação vaginal ocorre desde que a menina nasce.

Sexualidade dos 0 aos 3 anos


 As crianças começam a explorar o próprio corpo, incluindo genitais.
 O menino descobre o pênis aos 6-8 meses e a menina descobre a vulva entre os
10-11 meses. A atividade genital pode aumentar entre os 15 e os 17 meses.
 Brincadeiras com os órgãos genitais e manipulação pelo prazer para se acalmaer
e confortar.
 As crianças podem querer tocar nas zonas íntimas de outras crianças ou adultos.
 Bebês gostam da nudez.
 Se tiver começado a aprendizagem do asseio – pode demostrar curiosidade pelos
comportamentos dos outros no banheiro.

Sexualidade dos 3 aos 6 anos


 Exibição do corpo – mostra os genitais sem pudor.
 Crianças gostam de ver outras pessoas nuas.
 As crianças tocam e massageiam os genitais em público e em privado (masturba-
se) com as mãos, objetos...
 Podem tentar tocar os genitais de outras pessoas – mãe, pai, irmãos...
 Pode usar palavrões para se referir aos genitais.
 Pergunta sobre os genitais e/ou reprodução.
 Curiosidade em relação ao outro, o que motiva jogos sexuais (mostrar e tocar em
partes íntimas do corpo)
o O jogo – exploratório, espontâneo, pouco frequente, mutualmente
consentido, não coercivo, entre crianças que se conhecem bem e de
idades similares. É divertido e não tem como objetivo provocar
excitação sexual.
 Crianças podem dizer que têm namorado(a).
 Nas brincadeiras – imitam papéis de adulto, sobretudo, os papéis que são
exibidos em público. Possuem pouca noção do comportamento sexual adulto.
 No fim desse período – a noção de gênero já é bem definida.

Sexualidade dos 6 aos 9 anos


 As crianças fazem pergunta sobre genitais, peitos, relação sexual e os bebês,
 Podem procurar livros ou sites sobre assuntos sexuais.
 Uso de palavras impróprias para se referir ao comportamento sexual – podem
contar anedotas.
 Apresentam uma compreensão limitada do comportamento sexual adulto.
 As brincadeiras com crianças do mesmo sexo podem envolver tocar e olhar os
genitais.
 Comparar os genitais com crianças de idade próxima.
 Masturba-se.
 É capaz de mostrar os genitais em locais privados.
 Manifesta curiosidade pelos genitais, nádegas e peitos de outras pessoas.

Sexualidade dos 9 aos 12 anos – período pré-puberdade


 Adrenarca: maturação das glândulas suprarrenais que conduz ao
desenvolvimento dos pelos púbicos e axilares. Leva a mudança do odor corporal
das glândulas sebáceas (início entre os 6 e os 8 anos).
 Primeiros sinais da puberdade/mudanças físicas.
 Começam a evidenciar características sexuais secundárias – perguntar pra
alguém o que diabos é isso.
 Possível aparecimento da menarca e das primeiras ejaculações noturnas.
 Crianças podem começar a manifestar interesse sexual pelos pares de idades
equivalentes – sentimento de atração sexual.
 Começam a fantasiar e experimentar sentimentos novos.
 Revelam um conhecimento mais avançado sobre a sexualidade – palavras
sexuais, falam sobre atos sexuais, olham para corpos nus.
 Procuram informação de natureza sexual
 Ouvem músicas e assistem a filmes com temas sexuais.
 Podem se masturbar em privado por prazer e para sentir o orgasmo.

Sexualidade na adolescência
Puberdade:
 Espermarca (13,5 anos)
 Telarca (8,2 a 12,1 anos) – desenvolvimento das mamas.
 Menarca (12,6 anos)
 Pensamento sexualizado
Mudanças físicas evidentes, incluindo características sexuais secundárias.
Menstruação e ejaculações noturnas.
Manifesta interesse sexual pelos pares de idade equivalente – sentimentos de atração
sexual.
Começam a fantasiar e a experimentar sentimentos novos.
Começam a “namorar” – beijar e trocar carícias.
Revelam um conhecimento mais avançado sobre sexualidade (palavras sexuais, falam
sobre atos sexuais...)
Procuram informação na internet.
Tomam consciência de sua própria orientação.
Manifestam maior vontade de privacidade.
Masturbam-se em privado por prazer e para sentir o orgasmo.
Podem começar a ter interações sexuais com penetração.

O desenvolvimento sexual na adolescência é aqui usado para demostrar a perspectiva


contemporânea que a sexualidade é um elemento normativo do desenvolvimento da
adolescência, sendo fundamentado pela socialização sexual, o surgimento do eu sexual
e do repertório sexual.

Socialização sexual: contextos sociais nos quais o adolescente desenvolve o


conhecimento e as experiências sexuais.
 Cultural sexual familiar/influências parentais.
 Pares e amigos.

Cultural sexual familiar: atitudes de gênero; palavras para denominar os genitais;


exposição à nudez adulta; comportamentos de namoro dos pais; percepção do
comportamento sexual adulto; participação em conversas sobre sexo e reprodução.

Socialização sexual e os amigos:


 Fornecem modelos de atitude e comportamentos sexuais.
 São fontes de informação.
 São fontes de aprovação e desaprovação para comportamentos e atitudes
específicos.
 São potenciais parceiros sexuais.

Eu sexual: subjetividade sexual, identidade, gênero, o desenvolvimento do eu que


imagina o relacionamento sexual e a experiência do prazer sexual.
 Abertura sexual: vontade de experimentar e expressar desejo sexual; controle
sobre as experiências sociais escolhidas, envolvimento com o prazer associado
ao sexo.
 Autoestima sexual: conotações afetivas dos pensamentos, sentimentos e
comportamentos sexuais e a percepção do corpo no contexto sexual.
 Ansiedade sexual: reações negativas à sexualidade – ansiedade, vergonha, culpa.

Repertório sexual: abstinência, masturbação, sexo partilhado.

Barreiras na comunicação entre pais e filhos sobre a sexualidade infantil/saúde


sexual
 Infância = inocência sexual
o Ideia socialmente construída – adultos que definem como a criança deve
se comportar, o que devem saber, quando devem saber e como devem a
aprender a se proteger para preservar essa inocência.
o O maior medo é a de que a criança descubra como se pratica o ato
sexual.
o Visão redutora muito orientada para os aspectos biológicos e para a
reprodução – acaba deixando de lado as percepções de gênero, o bem-
estar físico, a autoconfiança e as emoções.
o A comunicação sobre esses assuntos ocorre apenas como uma reação ao
questionamento da criança, o que torna o conhecimento que ela pode
adquirir muito limitado.
 Dúvidas, receios, e ansiedade relativamente ao melhor momento para iniciar
conversas nesse âmbito, a linguagem adequada e o que dizer.
o Na dúvida, as abordagens tendem a ser conservadoras.
o O conhecimento que os pais possuem em muitos casos é limitado e vago,
gerando transmissão de informação e respostas evasivas, inconsistentes e
pouco esclarecedoras.
o O conhecimento dos filhos acaba por ser limitado – as crianças nunca
deixam de estar expostas á mensagens de teor sexual, que requerem
esclarecimento por parte dos pais.
o A ignorância da criança e a mistificação dessas questões é aproveitada
por abusadores sexuais.

Educação sexual

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