Você está na página 1de 40

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, APRENDIZAGEM

E COMPORTAMENTO

1
Sumário

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, APRENDIZAGEM E


COMPORTAMENTO......................................................................................................1

NOSSA HISTÓRIA..............................................................................................2

1. A APRENDIZAGEM.................................................................................3

1.1 Características do processo de aprendizagem.............................................3


2. PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM 5

3. PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E DA


APRENDIZAGEM.......................................................................................................7
4. DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONCEITOS BÁSICOS E
PRINCIPAIS CONCEPÇÕES........................................................................................15

5. TEORIAS SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO.....................16


6. EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET....................................21
7. TEORIA DA MEDIAÇÃO DE VYGOTSKY......................................28
8. TEORIAS DA APRENDIZAGEM..........................................................34

8.1 Watson e o behaviorismo.........................................................................34


8.2 Teoria da aprendizagem cognitiva............................................................36
8.3 Teoria da aprendizagem fenomenológica.................................................37
9. REFERÊNCIAS....................................................................................38

1
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um


grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação
e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer
serviços educacionais em nível superior.

O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua
formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos,
técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e
propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras
normas de comunicação.

Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de


forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no
atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma
das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade.

2
1. A APRENDIZAGEM

Aprendizagem é um processo inseparável do ser humano e ocorre quando há


uma modificação no comportamento, mediante a experiência ou a prática, que não
podem ser atribuídas à maturação, lesões ou alterações fisiológicas do organismo. Do
ponto de vista funcional é a modificação sistemática do comportamento em caso de
repetição da mesma situação estimulante ou na dependência da experiência anterior com
dada situação. De acordo com as proposições das teorias gestaltistas é um processo
perceptivo, em que se dá uma mudança na estrutura cognitiva. Para que haja a
aprendizagem são necessárias determinadas condições:

• Fatores Fisiológicos - maturação dos órgãos dos sentidos, do sistema


nervoso central, dos músculos, glândulas etc.;

• Fatores Psicológicos - motivação adequada, autoconceito positivo,


confiança em sua capacidade de aprender, ausência de conflitos emocionais
perturbadores etc.;

• Experiências Anteriores - qualquer aprendizagem depende de


informações, habilidades e conceitos aprendidos anteriormente.

1.1 Características do processo de aprendizagem

• Processo dinâmico - A aprendizagem é um processo que depende de intensa


atividade do indivíduo em seus aspectos físico, emocional, intelectual e social. A
aprendizagem só acontece através da atividade, tanto externa física, como também, de
atividade interna do indivíduo envolve a sua participação global.

• Processo contínuo - Todas as ações do indivíduo, desde o início da infância, já


fazem parte do processo de aprendizagem. O sugar o seio materno é o primeiro
problema de aprendizagem: terá que coordenar movimentos de sucção, deglutição e
respiração. Os diferentes aspectos do processo primário

3
de socialização na família, impõem, desde cedo, a criança numerosas e complexas
adaptações a diferentes situações de aprendizagem. Na idade escolar, na adolescência,
na idade adulta e até em idade mais avançada, a aprendizagem está sempre presente.

• Processo global - Todo comportamento humano é global; inclui sempre


aspectos motores, emocionais e mentais, como produtos da aprendizagem. O
envolvimento para mudança de comportamento, terá que exigir a participação global do
indivíduo para uma busca constante de equilibração nas situações problemáticas que lhe
são apresentadas.

• Processo pessoal - A aprendizagem é um processo que acontece de forma


singular e individualizada, portanto é pessoal e intransferível, quer dizer ela não pode
passar de um indivíduo para outro e ninguém pode aprender que não seja por si mesmo.

• Processo gradativo - A aprendizagem sempre acontece através de situações


cada vez mais complexas. Em cada nova situação uns maiores números de elementos
serão envolvidos. Cada nova aprendizagem acresce novos elementos à experiência
anterior, sem idas e vindas, mas em uma série gradativa e ascendente.

• Processo cumulativo - A aprendizagem resulta sempre das experiências


vividas pelo indivíduo que servem como patamar para novas aprendizagens. Ninguém
aprende senão, por si e em si mesmo, pelo auto modificação. Desta maneira, a
aprendizagem constitui um processo cumulativo, em que a experiência atual se
aproveita das experiências anteriores.

4
2. PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA
APRENDIZAGEM

Figura: 01

A Psicologia do Desenvolvimento é a área da Psicologia que se ocupa do estudo


das mudanças que ocorrem com o ser humano ao longo de sua vida. Sabe-se que as
mudanças na vida do ser humano ocorrem desde sua concepção até o final de sua vida,
essas mudanças ocorrem em vários aspectos, tais como cognitivos, físico, afetivo.
Além disso, esses aspectos são determinados geneticamente e também sofrem influência
direta do contexto social em que o indivíduo está inserido.

Nesta primeira unidade, você terá acesso a algumas das principais abordagens
teóricas acerca do desenvolvimento humano. O estudo do desenvolvimento humano tem
seu início com as publicações de Darwin acerca das suas discussões sobre a evolução da
humanidade por meio da seleção natural, dando suporte para estudos posteriores.

Mesmo que no início os estudos consideravam apenas o desenvolvimento


infantil.

5
Atualmente, temos muitas discussões sobre quais as mudanças que ocorrem na
vida do ser humano ao longo de seu desenvolvimento até o fim de sua vida.

O homem está sempre em desenvolvimento, e é importante para profissionais


que lidam com os aspectos educacionais terem conhecimento sobre quais as mudanças
que ocorrem no decorrer da vida do homem, bem como algumas características que
permanecem estáveis.

Ao longo do desenvolvimento, o sujeito lida com questões que remetem à


aprendizagem, que depende tanto de aspectos do indivíduo, ou seja, os fatores
biológicos determinados geneticamente, bem como dos fatores do contexto em que ele
está inserido. Neste aspecto, também serão abordadas algumas teorias que procuram
explicar o processo de aprendizagem dos indivíduos.

Com o desenvolvimento do sujeito, esta cria elementos que lhe permitem


absorver conhecimento, e com isso a aprendizagem ocorre de maneira mais satisfatória.
Ao absorver conhecimento sobre elementos científicos que lhes são ensinados, há o
conhecimento de si próprio e este autoconhecimento é essencial para a constituição do
sujeito.

A subjetividade humana permite ao sujeito se reconhecer como alguém no


mundo e refletir sobre seu papel como um sujeito ativo no contexto em que vive. A
influência do contexto encontra suporte na teoria Sócio histórica de Vygotsky que
apresenta os aspectos do desenvolvimento e da aprendizagem do sujeito influenciados
pelas características do ambiente, bem como da ação do sujeito sobre esse ambiente,
como um sujeito ativo.

Considerando todos estes pontos, o desenvolvimento humano, sua aprendizagem


bem como sua ação sobre o ambiente em que vive, o ser humano possui ainda uma
característica que é exclusivamente humana e a diferencia dos demais animais. Essa
característica é a linguagem, principal canal de comunicação entre as pessoas e que tem
papel importante no processo de aprendizagem, visto que a linguagem tem relação
direta com o pensamento e o desenvolvimento cognitivo. Além disso, o
desenvolvimento da linguagem fornece subsídios para a formação do pensamento e do
caráter do ser humano, enquanto ser social.

6
3. PRINCIPAIS CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E
DA APRENDIZAGEM

O Campo do Desenvolvimento e da Aprendizagem é vasto quando se tenta


compreender os aspectos que envolvem a vida do ser humano. No entanto, alguns
autores se dispuseram a estudar esses aspectos e assim instituir maneiras específicas de
se trabalhar com as crianças de uma forma que se possa colaborar com o seu
desenvolvimento típico, bem como garantir uma aprendizagem satisfatória ao longo de
sua vida nos aspectos escolares.

O desenvolvimento humano ocorre desde os primórdios da humanidade, mas o


aspecto científico do homem só passou a ser estudado por volta do século
XIX. Em 1877, Charles Darwin publica um artigo baseado em algumas anotações que
fez de seu filho durante os primeiros anos de sua vida, iniciando assim os estudos
científicos sobre o desenvolvimento humano. A partir disto, os autores se ocupam em
compreender o homem mediante o “estudo científico de como as pessoas mudam, bem
como das características que permanecem razoavelmente estáveis durante toda a vida”
(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p. 47).

No início dos estudos sobre o desenvolvimento humano, os responsáveis por esta


tarefa consideravam que o desenvolvimento ocorria apenas na fase da infância.
Atualmente, a maioria dos cientistas do desenvolvimento reconhece e estuda o
desenvolvimento ao longo da vida do sujeito, tendo seu fim apenas com o final da vida
do mesmo. É o que se conhece pelo desenvolvimento do ciclo da vida, pois não basta
apenas entender como se dá este desenvolvimento durante a infância, mas também
como ele continua a ocorrer durante a fase adulta e atualmente, o estudo científico do
envelhecimento faz parte deste campo vasto que busca a compreensão cada vez mais
detalhada da vida do ser humano.

Em todos os campos de estudo sobre o ser humano, há que se considerar as


diferenças de pensamentos e abordagens que tentam cada um de sua maneira explicar
tais fenômenos. No campo do desenvolvimento, a história se encarrega de mostrar como
as discussões evoluíram ao longo do tempo. Mas o que intriga a todos é a relação entre
os aspectos individuais do sujeito versus os

7
aspectos do ambiente. O que influencia mais no desenvolvimento humano? Seria suas
características individuais, sua personalidade, seus aspectos biológicos? Ou seria os
aspectos do ambiente, o contexto em que este sujeito vive que teria maior poder de
influência sobre sua vida?

Mas chegar a uma conclusão não é simples, por isso as diversas abordagens
teóricas existem atualmente para que cada uma possa contribuir a sua maneira para a
compreensão do desenvolvimento humano. O que há de consenso entre estas
abordagens são as etapas em que o desenvolvimento ocorre, cada uma com suas
nomenclaturas específicas, porém indicando basicamente as mesmas fases do ciclo vital.

Griggs (2009) apresenta um conjunto de estágios que considera ser bastante


usado principalmente por psicólogos desenvolvimentistas, cada um desses estágios seria
constituído por diferentes mudanças biológicas, cognitivas e sociais. Estas fases seriam:
Pré-natal (da concepção ao nascimento); primeira infância (do nascimento aos 2 anos);
Infância (2 aos 12 anos); Adolescência (12 aos 18 anos); Idade adulta jovem (18 aos 40
anos); Idade adulta média (40 aos 65 anos); e Idade adulta tardia (acima de 65 anos).
Vale ressaltar que essas idades são apenas idades médias, significando que cada pessoa
irá passar por essas fases de desenvolvimento em idades específicas para a sua
realidade. Ou seja, essa seria a ordem de desenvolvimento que ocorre com todas as
pessoas, a direção é a mesma para todos, o que muda é o tempo de mudança de uma
fase para outra. Cada indivíduo irá ter seu tempo de desenvolvimento, uns mais rápidos,
outros nem tanto.

O período pré-natal e a primeira infância é a fase da vida do ser humano que vai
desde a concepção até os 2 anos de idade. Essa é uma fase em que as mudanças ocorrem
não só para o feto, e em seguida a criança, mas há uma mudança na vida de todos os
envolvidos no fato. O desenvolvimento pré-natal se divide em três estágios: germinal,
embrionário e fetal.

Após a concepção, tanto fatores ambientais quanto genéticos irão influenciar o


desenvolvimento. Mas como o ambiente influencia o desenvolvimento? Por meio do
ambiente da mãe, ou seja, tudo o que a mãe faz pode influenciar de alguma forma o
desenvolvimento do feto. O uso de bebidas

8
alcoólicas, drogas e todos os comportamentos chamados comportamentos de risco
podem de alguma forma prejudicar o desenvolvimento sadio da criança. Os principais
riscos que uma criança corre neste caso são, entre outros, o retardamento mental e
anormalidades faciais (GRIGGS, 2009).

A idade da mãe também é um fator a ser considerado no caso de uma gravidez.


Existem alguns problemas relacionados à idade da mãe. Uma gravidez antes dos 15
anos, ou acima dos 40 anos pode levar a uma prematuridade, baixo peso. A
prematuridade pode ocasionar em problemas pulmonares da criança, pois os pulmões
não se desenvolvem adequadamente, além de uma prematuridade também no sistema
digestivo e imunológico.

Logo ao nascerem, as crianças apresentam apenas movimentos reflexos, ou seja,


os chamados automatismos primários, em que não há controle sobre os movimentos.
Alguns destes movimentos têm características que garantem a sobrevivência da criança,
tais como a sucção e a respiração, que são respostas não aprendidas, mas são
indispensáveis. Os demais movimentos reflexos tendem a desaparecer em poucos meses
de vida.

Durante a infância a criança aprende a controlar os movimentos, aprende a


sentar, a engatinhar e enfim a andar. O desenvolvimento sensorial/perceptual depende
do desenvolvimento do cérebro. Se as trajetórias visuais não se desenvolvem no período
de bebê, a visão fica permanentemente perdida. As redes neurais que são utilizadas
ficam mais fortes, já as que não são utilizadas são eliminadas.

Figura: 02

9
As mudanças que ocorrem ao longo do tempo podem ser entendidas de duas
formas, uma quantitativa e outra qualitativa. As mudanças quantitativas durante o
desenvolvimento são aquelas que correspondem às mudanças numéricas ou de
quantidade como, por exemplo, o peso e a altura da pessoa, aquilo que se pode mensurar
ao longo do tempo. Já as mudanças qualitativas são aquelas que ocorrem no nível de
estrutura ou organização. São marcadas pelo surgimento de novos mecanismos
(cognitivos, por exemplo) que permitem à criança se adaptar aos novos desafios que lhe
são impostos (BELSKY, 2010).

Concomitante ao estudo do desenvolvimento humano há que se considerar os


aspectos da aprendizagem que ocorrem principalmente a partir das mudanças no sujeito.
Direta ou indiretamente, as tradicionais áreas da Psicologia da Educação têm estudado e
pesquisado situações que possam ser relacionadas à aprendizagem. Pode-se considerar
como Teorias da Aprendizagem os diversos modelos existentes que procuram explicar o
processo de aprendizagem nos indivíduos.

Apesar da existência de diversas teorias que se ocupam de explicar o processo de


aprendizagem, as que apresentam maior destaque atualmente na educação são as teorias
desenvolvidas por Jean Piaget e Lev Vygotsky. A Epistemologia Genética desenvolvida
por Piaget foi desenvolvida por meio da experiência com crianças desde o nascimento
até a adolescência, tendo como premissa o fato de que o conhecimento é construído a
partir da interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas existentes (PIAGET,
1974). Já os estudos de Vygotsky se baseiam na dialética das interações do sujeito com
o outro e com o meio para que possa ocorrer o desenvolvimento sócio cognitivo
(VYGOTSKY, 1999).

A teoria cognitiva de Piaget é baseada em dois de seus interesses, a filosofia e a


biologia, supondo assim que o desenvolvimento cognitivo se originava da adaptação da
criança ao seu ambiente, e assim buscando promover sua sobrevivência por meio da
tentativa de aprender sobre seu ambiente. Isso transforma a criança em alguém que
busca o conhecimento e a compreensão do mundo, mas com uma característica
importante para Piaget, que é o fato da criança operar sobre este mundo.

10
O conhecimento da criança é organizado como esquemas, que são estruturas
indispensáveis para o conhecimento das pessoas, objetos, eventos entre outras coisas.
Sendo assim, estes esquemas permitem que o ser humano organize e interprete as
informações sobre o mundo. Na memória do ser humano (memória de longo prazo)
existem esquemas para conceitos como livros ou cachorros; esquemas para eventos,
como ir a um restaurante; e esquemas para ações, como andar de bicicleta.

Apesar de Vygotsky e seus seguidores considerarem que a estrutura dos estágios


desenvolvida por Piaget seja correta, há que se considerar uma diferença básica entre
estes dois autores. Para Piaget a estruturação do organismo ocorre antes do
desenvolvimento, já para Vygotsky, o desenvolvimento das estruturas mentais
superiores é gerado a partir do processo de aprendizagem do sujeito (PALANGANA,
2001).

Os aspectos sociais da abordagem de Vygotsky são claros e diretos. A


aprendizagem ocorre com as outras pessoas, sejam os pais, os professores ou as pessoas
mais próximas da criança. Para este autor, a cultura influencia tanto quanto os processos
do desenvolvimento cognitivo infantil, pelo fato de que o desenvolvimento acontece
dentro deste contexto cultural.

No geral, o que se entende por aprendizagem é a capacidade que o sujeito


apresenta, no seu dia a dia, de dar respostas adaptadas às solicitações e desafios que lhes
são impostos durante sua interação com o meio. Atualmente, a aprendizagem é
compreendida como um processo global, dinâmico, contínuo, individual, gradativo e
cumulativo. De acordo com as características escolares, há a necessidade de que o aluno
seja um processador ativo da informação que lhe é transmitida, não basta apenas ser um
receptor passivo do conhecimento, o aluno precisa decodificar o que lhe é ensinado e
assim absorver este conhecimento. De acordo com Papalia, Olds, Feldman (2006) são
duas as principais teorias da aprendizagem: o Behaviorismo e a Teoria da aprendizagem
social, mas pode-se considerar o Construtivismo também como uma das mais
importantes atualmente.

De acordo com o pensamento dos autores behavioristas, a conduta do sujeito é


passível de observação e mensuração. O início dos trabalhos desta

11
abordagem ocorreu com John Watson (1878-1958) e Ivan Pavlov (1849-1936), porém o
estabelecimento dos princípios e da Teoria são creditados à Burruhs Skinner (1904-
1990), fato que representa uma renovação do comportamentalismo watsoniano. Uma
das pesquisas mais notável de Skinner é a respeito dos diferentes programas de reforço
que foram desenvolvidos a partir da “Caixa de Skinner”, em que o papel necessário do
reforço no comportamento operante foi demonstrado a partir das experiências com a
pressão na barra pelo rato, que recebia comida toda vez que dava a resposta correta.
Mas Skinner deixou claro que o reforço do mundo real nem sempre é consistente ou
contínuo, no entanto, a aprendizagem ocorre e os comportamentos persistem, ainda que
reforçados só intermitentemente (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

Para esta Teoria os comportamentos do ser humano são aprendidos, e com isso,
o aspecto da aprendizagem passa a ter grande importância. O ambiente passa a ter um
papel fundamental, pois o homem passa a ser produto do meio. No aspecto do ensino,
ao se seguir as características do Behaviorismo, é preciso preparar e organizar as
contingências de reforço que irão facilitar a aquisição dos esquemas e dos diferentes
tipos de condutas desejadas. Esse planejamento e organização das contingências ficaria
a cargo do professor. As pesquisas comportamentais concentram-se na aprendizagem
associativa, em que se forma uma ligação mental entre dois fatos. Dois tipos de
aprendizagem associativa são o condicionamento clássico e o condicionamento
operante (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

Para Skinner (2006), a principal característica do condicionamento clássico é


que uma pessoa ou um animal aprende uma resposta reflexiva a um estímulo que
originalmente não a provocava, depois que o estímulo é repetidamente associado a
outro que provoca a resposta. Este tipo de aprendizagem foi descrito inicialmente a
partir dos estudos de Pavlov em seus estudos com cães, que aprendiam a salivar quando
ouviam uma sineta que tocava na hora da alimentação.

O autor coloca ainda que, no caso do condicionamento operante, um


comportamento originalmente acidental (por exemplo, o sorriso), torna-se uma resposta
condicionada, ou seja, o sujeito aprende com as consequências de

12
“operar” sobre o ambiente. A partir dos estudos com ratos e pombos, Skinner afirmava
que os mesmos princípios poderiam ser aplicados aos seres humanos. Com isso, chegou
à conclusão de que o sujeito tende a repetir uma resposta que foi reforçada, e ao
contrário, tente a suprimir uma resposta que foi punida.

crianças aprendem comportamentos sociais a partir da observação e imitação de


modelos. Tem como seu principal representante Albert Bandura (1925), e pode ser
considerada uma forma de comportamentalismo menos extrema que a de Skinner, que
reflete e reforça o impacto do interesse renovado pelos fatores cognitivos. Outra
diferença é que a Teoria da Aprendizagem Social considera o aprendiz como sujeito
ativo, com isso, a pessoa atua sobre o ambiente, e em até certo ponto, cria o ambiente
(BANDURA; POLYDORO; AZZI, 2008).

A abordagem de Bandura estuda o comportamento tal como é formado e


modificado em situações sociais, ou seja, na interação com outras pessoas. Reconhece a
importância da cognição, consideram as respostas cognitivas às percepções, em vez de
respostas basicamente automáticas ao reforço ou à punição, como centrais para o
desenvolvimento.

Essa imitação realizada pelas crianças no processo de aprendizagem depende do


que elas percebem que é valorizado em sua cultura. Nem sempre o reforço está
presente, e a criança pode aprender determinado tipo de comportamento na ausência de
reforço diretamente vivenciado. Com isso, aprende--se pela observação do
comportamento e das consequências deste comportamento de outra pessoa.
Consequentemente, esta capacidade de aprender pelo exemplo supõe a aptidão de
antecipar e avaliar consequências apenas observadas em outras pessoas e ainda não
vivenciadas.

As pesquisas de Bandura sobre a auto eficácia trouxeram discussões sobre uma


forma de as pessoas enfrentarem as situações cotidianas. Esse auto eficácia seria o
sentido de autoestima ou de valor próprio de um sujeito, a sensação de adequação e
eficiência em tratar dos problemas da vida. Sujeitos com alto eficácia elevada
apresentam a capacidade de lidar com todos os eventos de sua vida, eles esperam
superar obstáculos e, como resultado,

13
buscam desafios, perseveram e mantêm um alto nível de confiança em sua aptidão
para ter êxito (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

A terceira das teorias aqui abordadas é o Construtivismo, que é compreendido


como a corrente teórica da educação que explica como a inteligência humana se
desenvolve. Neste ponto, suas discussões são construídas partindo do princípio de que o
desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre indivíduo e
meio.

É uma teoria que surge a partir dos estudos da Epistemologia Genética de Jean
Piaget e da Teoria Sócio--histórica de Lev Vygotsky. Estas influências levaram à crença
de que o homem não nasce inteligente, mas que também não é um sujeito passivo no
mundo. Mesmo sendo estimulado pelo meio externo, o homem é capaz de agir sobre
estes estímulos para construir e organizar o seu próprio conhecimento. Quanto mais ele
age sobre o meio, mais elaborada será sua organização cognitiva (COLL; SCHILLING,
2004).

De acordo com a teoria piagetiana, para conhecer os objetos, o sujeito tem que
agir sobre eles e, por conseguinte, transformá-los: tem que deslocá-los, agrupá-los,
combiná-los, separá-los e juntá-los. Neste sentido, o conhecimento não é nem uma cópia
interior dos objetos, ou acontecimentos do real, nem meros reflexos desses objetos e
acontecimentos que se imporiam ao sujeito.

Partindo deste princípio, a aprendizagem é considerada uma constante busca do


significado das coisas. Esse significado é construído a partir da globalidade e das
partes que constituem aquilo que se quer conhecer. Como ponto fundamental de
aprendizagem, aprender é construir o seu próprio significado e não encontrar respostas
certas dadas por outra pessoa.

14
4. DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONCEITOS
BÁSICOS E PRINCIPAIS CONCEPÇÕES

Prezado aluno, são muitas as discussões acerca do desenvolvimento humano.


Algumas abordagens teóricas serão apresentadas nesta apostila, na tentativa de lhe
proporcionar um conhecimento básico acerca de cada uma delas. Isso se faz necessário
para que fique claro as diferenças e as semelhanças entre cada uma delas. Em cada uma
destas abordagens um autor se destaca como principal representante, a partir desta
referência sua compreensão fica mais nítida acerca do que se trata uma abordagem ou
outra.

Para facilitar a compreensão dessas abordagens, serão apresentadas, teorias de


dois autores que na atualidade são muito discutidas também no contexto escolar. Uma
delas é a Epistemologia Genética de Jean Piaget, e a outra é a Abordagem Histórico-
social de Lev Vygotsky, esta segunda com destaque para o processo de mediação que
deve ser realizado principalmente pelo professor durante o processo de aprendizagem.

Basicamente, a Epistemologia Genética de Piaget consiste em uma síntese de


teorias já existentes, o apriorismo e o empirismo. A partir disto, considera que o
conhecimento é resultado da interação do sujeito com o meio em que habita, ou seja,
este conhecimento depende tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua
relação com os objetos externos. Já Vygotsky apresenta conceitos com os signos e os
instrumentos que são construções da mente humana que estabelecem uma relação de
mediação entre o homem e a realidade.

Espero que com estes pontos que serão abordados nesta disciplina, você, caro
aluno, possa compreender melhor alguns aspectos acerca do desenvolvimento humano,
principalmente os conceitos-chave presentes nas Teorias de Piaget e Vygotsky. Creio
que isto irá levá-lo a uma reflexão acerca de sua prática profissional, a partir dos
referenciais teóricos aqui presentes.

15
5. TEORIAS SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO

As diversas teorias existentes sobre o desenvolvimento humano se ocupam por


explicar como o ser humano vive de acordo com algumas características específicas que
o acompanham ao longo da sua vida. Muitas delas apresentam um estudo do
comportamento humano baseado em estágios, determinando assim as mudanças que
ocorrem em determinadas idades.

A grande discussão que gira em torno das explicações acerca do


desenvolvimento humano é justamente sobre as questões biológicas e as questões do
ambiente. Ou seja, é o ambiente que determina o desenvolvimento do sujeito? Ou são
suas características genéticas que moldam as principais características e traços de
personalidade? É o grande ponto, natureza (biologia) versus criação (ambiente)
(BELSKY, 2010).

Sobre as teorias mais estudadas acerca do desenvolvimento humano podem-se


citar, de acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), as Teorias Psicanalíticas, as
Teorias Comportamentalistas/Behavioristas, as Teorias Cognitivas e as Teorias
Humanistas.

A perspectiva Psicanalítica é responsável pelo estudo do inconsciente, que seria


o responsável pelas forças que motivam o comportamento humano. Seu principal
representante e criador da Psicanálise foi Sigmund Freud (1856- 1939), que tinha o
objetivo, por meio da abordagem terapêutica, de fazer o paciente compreender os
conflitos emocionais inconscientes (NASIO, 1995).

Para explicar o desenvolvimento humano a partir dos atributos da Psicanálise,


Freud apresenta algumas fases do seu chamado Desenvolvimento Psicossexual.
Acreditava que a personalidade do sujeito era formada nos primeiros anos de vida,
momento em que conflitos inconscientes emergem na vida da criança. Esses conflitos
ocorrem entre seus impulsos biológicos inatos e as exigências da sociedade em que ele
está inserido (GRIGGS, 2009).

São cinco as fases apresentadas pelo autor, fase oral (do nascimento aos 12-18
meses), fase anal (12-18 meses aos 3 anos), fase fálica (3 a 6 anos), fase de latência (6
anos até puberdade), e a fase genital (puberdade até fase adulta).

16
Dentre estas, as três primeiras eram consideradas cruciais para o desenvolvimento da
personalidade humana. Cruciais porque neste momento é essencial que a criança receba
gratificações adequadas, pois ao receber pouca ou excessiva gratificação há a
possibilidade de desenvolver uma fixação na fase correspondente. Esta fixação é
compreendida como uma interrupção no desenvolvimento que pode aparecer na
personalidade adulta.

A personalidade, segundo Freud, era composta por três instâncias psíquicas, o id,
o ego e o superego. A busca pela satisfação imediata, presente principalmente nos
recém-nascidos, ocorre porque nesta fase o que governa o psíquico do sujeito é o id. Já
o ego representa a razão ou o senso comum, e este irá se desenvolver por volta do
primeiro ano de vida, esta razão se ocupa em satisfazer as necessidades do id desde que
sejam aceitáveis para o superego, que se desenvolve aproximadamente aos 5 ou 6 anos.
O grau elevado de exigência do superego pode levar o sujeito a se sentir culpado caso
suas demandas não sejam atendidas. O método psicanalítico de Freud influenciou muito
a psicoterapia atual, que ainda segue seus princípios com propriedade (PAPALIA;
OLDS; FELDMAN, 2006).

Como já abordado anteriormente sobre o Behaviorismo, este é o principal


representante das Teorias Comportamentalistas. Skinner, discípulo de Watson, se ocupa
do papel de explicar a ação voluntária do ser humano, desde a formação de suas
primeiras palavras até o domínio de matemática superior, por meio do condicionamento
operante. Neste processo, as respostas que são recompensadas (ou reforçadas) são
aprendidas, já as respostas que não são reforçadas tendem a desaparecer ou se extinguir
(BAUM, 1999).

Watson desejava uma psicologia objetiva, uma ciência do comportamento que só


lidasse com atos comportamentais que eram possíveis de serem observados, possíveis
de serem descritos em termos de estímulo e resposta. Como trabalhava com animais,
queria aplicar suas descobertas também nos seres humanos.

Considerando o reforço como responsável pelas respostas aprendidas, este é um


fenômeno desenvolvi mental poderoso para o bem e para o mal. A explicação para isso
pode ser encontrada em qualquer situação da vida

17
cotidiana. Basta observar como uma pessoa age após receber um elogio. Após o elogio
(que neste caso é o reforço) a tendência é de que a pessoa continue com o
comportamento que a levou a receber o elogio.

Porém, pode-se falar ainda em modificação do comportamento, ou terapia


comportamental, que é um exemplo de condicionamento operante utilizado para
eliminar um comportamento indesejável ou promover um comportamento positivo. Esta
modificação de comportamento pode ser eficaz quando aplicada em crianças com
necessidades especiais.

O retorno da Psicologia aos aspectos da consciência humana por volta da metade


do século XX, caracteriza-se pelo início das discussões sobre a Psicologia Cognitiva,
que tem em Jean Piaget (1896-1980) um de seus representantes mais característicos, por
meio de seus estudos acerca do desenvolvimento infantil em termos de estágios
cognitivos (BELSKY, 2010).

A Perspectiva Cognitiva se preocupa com os processos de pensamento e com o


comportamento que reflete tais processos. Com isto se diferencia do
comportamentalismo em vários pontos. Um deles é o fato de que os cognitivistas se
concentram no processo do conhecimento, e não na simples resposta a estímulos. As
respostas, no caso dos cognitivistas, são usadas como fontes para a inferência dos
processos mentais que as acompanham. Outro ponto de diferenciação corresponde ao
interesse dos psicólogos cognitivistas pela forma como a mente estrutura ou organiza a
experiência. Por último, de acordo com a perspectiva cognitiva, o indivíduo organiza
ativa e criativamente os estímulos recebidos do ambiente (SCHULTZ; SCHULTZ,
2009).

De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo do ser humano inicia com


uma capacidade inata desse de se adaptar ao ambiente.

Esse desenvolvimento ocorre por meio de estágios qualitativamente diferentes,


que são: Sensório-motor (do nascimento aos 2 anos); Pré-operatório (2 a 7/8 anos);
Operatório-concreto (8 a 11 anos); e Operatório-formal (11 anos a toda idade adulta).

Os aspectos específicos da teoria Piagetiana serão melhor discutidos em tópicos


posteriores.

18
No final do século XX, os teóricos considerados neon piagetianos começaram a
incorporar alguns elementos da teoria de Piaget à abordagem de processamento de
informações. Com isso, concentraram-se em conceitos, estratégias e habilidades
específicas, ou seja, acreditam que as crianças se desenvolvem cognitivamente ao se
tornarem mais eficientes no processamento de informações.

As teorias humanísticas surgiram por volta de 1960, como resposta à abordagem


psicanalítica determinista e à abordagem psicológica comportamental que eram as
principais teorias que fundamentavam as pesquisas naquela época. Assim, a abordagem
humanística se centra nas motivações positivas de nossas ações e desenvolvimento,
especialmente o crescimento pessoal (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

Os principais pontos desta abordagem são a ênfase na experiência consciente; a


crença na integralidade da natureza e da conduta do ser humano; a concentração no livre
arbítrio, na espontaneidade; e o estudo de tudo o que tenha relevância para a condição
humana. A partir disto, há uma atenção especial aos fatores internos na personalidade
como sentimentos, valores e esperanças. Os representantes mais característicos desta
abordagem são Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers (1902-1987) (HALL;
CAMPBELL; LINDZEY, 2000).

Maslow se preocupava em compreender as elevadas realizações que os seres


humanos são capazes de alcançar, desencadeando assim em uma teoria da personalidade
em que o sujeito se concentra na motivação para crescer, para se desenvolver e realizar
o eu a fim de concretizar de modo pleno suas capacidades e potencialidades humanas. A
partir de seus estudos, identificou uma hierarquia de necessidades, ou seja, uma ordem
das necessidades que motivam o comportamento humano. A partir desta hierarquia as
pessoas só podem empenhar-se para atender necessidades superiores depois que
satisfizerem necessidades básicas (GRIGGS, 2009).

O ponto de partida é a necessidade mais básica (necessidade fisiológica), que


considera a busca pelo alimento como necessária, apesar dos riscos, para que em
seguida se preocupe com o próximo nível de necessidades, que é a

19
necessidade de segurança. Ao satisfazer a necessidade de segurança o sujeito fica apto a
buscar amor e aceitação (necessidade de afiliação e amor), consequentemente há a
busca pela satisfação da estima e realização, sendo aceito e reconhecido pelo outro. Por
fim, o sujeito vai em busca de autorrealização, que segundo Maslow, as pessoas que
conseguem satisfazer esta última necessidade, possuem alta percepção da realidade,
aceitam a si mesmas e aos outros. Além disso, características como espontaneidade,
criatividade e grande capacidade de resolução de problemas estão presentes nas pessoas
que atingem alto grau de autorrealização (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

Considerando a constante satisfação de necessidades, fica evidente a visão de


Maslow baseada no estudo de pessoas saudáveis. O que não ocorre com Rogers, que
formula suas discussões a partir de sujeitos emocionalmente perturbados. Com isto, seus
estudos levaram-no a ser conhecido pela terapia centrada na pessoa ou terapia centrada
no cliente, que se concentra em uma única motivação avassaladora, semelhante ao
conceito de autorrealização de Maslow. No entanto, para Rogers, cada pessoa possui
uma tendência inata para atualizar as capacidades e potenciais do eu.

A responsabilidade da mudança era atribuída à pessoa, característica presente


também na psicanálise ortodoxa, assim, Rogers considera que as pessoas podem alterar
consciente e racionalmente seus pensamentos e comportamentos indesejáveis, tornando-
os desejáveis (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

Após a apresentação sucinta de algumas teorias que se ocupam por explicar o


desenvolvimento humano, neste momento serão abordadas duas teorias que são as mais
utilizadas no contexto escolar para se trabalhar com os processos de desenvolvimento e
aprendizagem do sujeito. Serão apresentados os principais conceitos e características da
Epistemologia Genética de Piaget e da Teoria da Mediação de Vygotsky.

Neste contexto, a aprendizagem deve ser vista como a atividade de indivíduos ou


grupos humanos, que mediante a incorporação de informações e o desenvolvimento de
experiências promovem modificações na personalidade e

20
na dinâmica do grupo, as quais revertem na transformação daquela realidade, e não a
análise do problema apresentado pela criança como fato isolado ou descontextualizado.

Iremos ver também como o desenvolvimento e a aprendizagem são fatores que


dependem tanto de elementos internos quanto externos ao ser humano. A aprendizagem
depende da articulação de fatores internos e externos ao sujeito (os internos referem-se
ao funcionamento do corpo como um instrumento responsável pelos automatismos,
coordenações e articulações); do organismo: a infraestrutura que leva o indivíduo a
registrar, gravar, reconhecer tudo que o cerca por meio dos sistemas sensoriais,
permitindo regular o funcionamento total do desejo; entendido como o que se refere às
estruturas inconscientes representa o motor da aprendizagem e deve ser trabalhada a
partir da relação que com ela estabelece; das estruturas cognitivas, representando aquilo
que está na base da inteligência, [...], da dinâmica do comportamento, que diz respeito à
realidade que o cerca. Os fatores externos são aqueles que dependem das condições do
meio que circunda o indivíduo.

6. EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET

A teoria genética apresenta sua característica de estudo da aprendizagem de uma


forma peculiar, diferente dos estudos clássicos da aprendizagem. Piaget se envereda
pelo campo da psicologia com o objetivo de estudar as questões epistemológicas,
buscando responder as dúvidas acerca do conhecimento humano.

A Epistemologia Genética é definida como uma disciplina que estuda os


mecanismos e os processos mediante os quais o sujeito passa dos estados de menor
conhecimento para os estados de conhecimentos mais avançados (PIAGET, 1979).

Na tentativa de explicar o desenvolvimento intelectual, parte da ideia que atos


biológicos são atos adaptativos ao meio físico na tentativa de manter o

21
equilíbrio. De acordo com este pensamento, o desenvolvimento intelectual age do
mesmo modo que o desenvolvimento biológico.

Segundo Piaget: A infância é considerada como um período particular do


processo de formação do pensamento, que só se completa na idade adulta. Em sua
concepção conhecer é organizar, estruturar e explicar a realidade a partir daquilo que se
vivencia nas experiências com os objetos do conhecimento. No entanto, experiência não
é a mesma coisa que conhecimento, pois a inserção de um objeto de conhecimento num
sistema de relações ocorre por meio da ação do indivíduo sobre o objeto (apud
FONTANA; CRUZ, 1997, p.45).

A inteligência pode ser considerada como o resultado da experiência do


indivíduo, é por meio da experiência que ele simultaneamente incorpora o mundo
exterior e o vai transformando, isto é, o indivíduo transforma-se. De acordo com a teoria
piagetiana, a criança passa por mudanças qualitativas desde o estágio inicial de uma
inteligência prática (sensório-motor) até o pensamento formal, lógico dedutivo, que se
inicia a partir da adolescência.

De acordo com seus estudos, Piaget postula que as mudanças que ocorrem com o
sujeito entre a primeira infância e a adolescência, ocorrem por estágios qualitativamente
diferentes. Durante a passagem por esses estágios, há também uma continuidade básica
no desenvolvimento cognitivo, o prazer e a busca pelo aprendizado colaboram para este
desenvolvimento. Basicamente, este crescimento mental do ser humano ocorre por meio
de mecanismos de Adaptação que são a Assimilação e a Acomodação.

A Assimilação é o mecanismo de ajustamento do mundo às capacidades


individuais e às estruturas cognitivas existentes no sujeito; assim ocorre a Acomodação,
que corresponde à mudança do pensamento para que ele se encaixe no mundo em que o
sujeito vive (BELSKY, 2010).

Para Wadsworth (1997, p.19), assimilação é um “processo cognitivo pelo qual


uma pessoa integra a um novo dado perceptual, motor ou conceitual nos esquemas ou
padrões de comportamento já existentes”. A criança tenta adaptar esses novos eventos
ou estímulos nos esquemas que ela possui naquele momento. Assim, assimilação é uma
parte do processo pelo qual o indivíduo cognitivamente se adapta ao ambiente e o
organiza. Dessa forma, esse processo

22
de ampliação ou modificação de esquemas (assimilação), ele chama de acomodação,
embora estimulado pelo objeto, é também possível graças à atividade do sujeito para
elaboração de novos conhecimentos.

Em outras palavras, a construção do conhecimento só é possível a partir do


momento em que ocorrem ações físicas (ou mentais) sobre objetos que provocam certo
desequilíbrio ao ser humano, resultando assim em Assimilação. No entanto, pode
ocorrer ainda Acomodação e Assimilação dessas ações que produzirão esquemas ou
conhecimento. A experiência prática é fundamental nesta Teoria, visto que o
aprendizado do sujeito se dá pelo seu contato e suas ações sobre o mundo. Ou seja, o
desenvolvimento cognitivo pode ser considerado um produto dos esforços das crianças
para compreender e atuar sobre seu mundo (PIAGET, 1974).

As estruturas cognitivas que são modificadas por meio dos processos de


Assimilação e Acomodação são chamadas de esquemas. É por meio desses esquemas
que os sujeitos intelectualmente se adaptam e organizam o meio em que vivem. A
utilização desses esquemas ocorre para se processar e identificar a entrada de estímulos,
ou seja, diferenciá-los e generalizá-los.

Exemplo disso é a inteligência, pois ela é assimilação, por permitir o indivíduo


incorporar os dados da experiência. É também acomodação, pois os novos dados
incorporados acabam por produzir modificações no funcionamento cognitivo da pessoa.
Ao mesmo tempo em que, por meio do processo de assimilação/acomodação, o
indivíduo adapta-se ao meio (elaborando seu conhecimento sobre ele) e seu próprio
funcionamento cognitivo vai se estruturando, se organizando. Uma das primeiras
formas de organização cognitiva é o esquema.

Estes esquemas são irreversíveis. Portanto, quando o indivíduo executa uma


ação no sentido de ida, não tem consciência de que pode efetivamente executar essa
mesma ação no sentido de volta (FARIA, 1995). É por meio dos esquemas de ação que
a criança começa a conhecer a realidade, assimilando- a e atribuindo-lhe significações.
Quando pega a mamadeira, ela a relaciona a seu esquema “pegar” e atribui-lhe o sentido
de um objeto “que se pega”. Mas a criança também aplica à mamadeira o esquema
“sugar”. Essas assimilações

23
provocam transformações nos esquemas “pegar” e “sugar”, à medida que eles são
acomodados ao objeto mamadeira.

A criança, ao nascer, é dotada de reflexos, que possibilitam ao bebê lidar com o


ambiente, e vão sendo assimilados pela criança. A assimilação provoca uma
transformação dos reflexos, que gradativamente.

vão se diferenciando e se tornando mais complexos e flexíveis, ou seja, ao


nascer a criança desencadeia reflexos como de sucção e o de preensão, logo passando
para reflexos mais complexos, onde se dá o processo de esquemas de ação, tais como:
pegar, puxar, sugar, empurrar etc.

O desenvolvimento contínuo dos esquemas se dá no sentido de uma adaptação


cada vez mais complexa e diferenciada da realidade. Para Piaget (apud WADSWORTH,
1997), o processo de desenvolvimento depende de fatores ligados à maturação da
experiência adquirida pela criança em seu contato com o ambiente, de um processo de
autorregulação conhecido por equilibração.

O Equilíbrio é considerado um estado de balanço entre a assimilação e a


acomodação. A equilibração permite que a experiência externa seja incorporada na
estrutura interna (esquemas) (WADSWORTH, 1997). Assim, todas as vezes que em
nossa relação com o meio surjam conflitos, contradições ou outros tipos de dificuldade,
nossa capacidade de autorregulação ou equilibração entra em ação, no sentido de
superá-los.

A Teoria piagetiana sobre o desenvolvimento da criança apresenta períodos ou


estágios definidos, caracterizados pelo surgimento de novas formas de organização
mental. Cada estágio se caracteriza por uma maneira típica de agir e de pensar, ou seja,
a criança passa de um estágio a outro de seu desenvolvimento cognitivo, quando seus
modos de agir e pensar mostram-se insuficientes ou inadequados para enfrentar os
novos problemas que surgem em sua relação com o meio.

São 4 os estágios sequenciais denominados de fases de transição, os quais são


intitulados de Sensório-motor (do nascimento aos 2 anos); Pré- operatório (2 aos 7, 8
anos); Operatório-concreto (8 aos 11 anos); e Operatório-

24
formal (acima de 12 anos). Neste momento, será mostrada uma sucinta apresentação de
cada um desses estágios, de acordo com Coll e Marte (2004).

O estágio Sensório-motor é caracterizado pela construção da primeira estrutura


intelectual, pois a partir dos movimentos reflexos básicos, o bebê começa a construir
esquemas de ação para que possa assimilar mentalmente o meio. O contato com a
realidade física se dá pela manipulação de objetos, e o final desse estágio tem como
característica o desenvolvimento da linguagem.

Nesta fase, as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos


básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas. É um período anterior à
linguagem, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo e dos objetos a sua
volta.

Do nascimento até os 2 anos de idade, aproximadamente, a criança passa do


nível neonatal (marcado pelo funcionamento dos reflexos inatos) para outro em que ela
já é capaz de uma organização perceptiva e motora dos fenômenos do meio. De início, o
corpo da criança reflete o mundo e ainda não se diferencia dele, ou seja, a criança age
sobre o mundo, ela repetidamente chupa o dedo, suga a pontinha da manga da roupa.
São movimentos não intencionais, centralizados no seu próprio corpo, que se repetem
sempre.

A consciência da criança se expande lentamente, conforme suas ações se


deslocam de seu próprio corpo para os objetos. A mão agarra, chega o objeto ao corpo,
a boca que experimenta, empurra-o para longe de si. Os olhos acompanham os
movimentos. Os movimentos ficam mais complexos, mais amplos, como engatinhar,
pôr-se de pé, andar (FONTANA; CRUZ, 1997).

A criança começa a perceber que os objetos, as pessoas, continuam existindo


mesmo quando estão fora do seu campo de visão. Formam-se as primeiras imagens
mentais dos objetos ausentes do meio imediato. São elas que possibilitam o
desenvolvimento da função simbólica, a criança reproduz, imita, representando o jogo
de faz de conta. Ela torna-se capaz de imaginar ações ou fatos sem praticá-los
efetivamente.

Na fase Pré-operatória as percepções das crianças são capturadas por sua


aparência imediata. Este estágio é conhecido como estágio da Inteligência

25
Simbólica, pois a função simbólica na criança é responsável pela capacidade de
substituição do objeto por uma representação. As principais características nesta fase são
uma criança egocêntrica, centrada em sim mesma, e que quer explicação para tudo, a
chamada fase dos “por quês”. Grandes avanços mentais ocorrem pela passagem do
estágio sensório-motor para o pré-operatório.

É neste período que ela se torna capaz de tratar os objetos como símbolos de
outras coisas. O desenvolvimento da representação cria as condições para aquisição da
linguagem, pois a capacidade de construir símbolos possibilita aquisição dos
significados sociais (das palavras) existentes no contexto em que ela vive.

Neste momento, a criança deverá reconstruir no plano da representação aquilo


que já havia conquistado no plano de ação prática. Assim, a diferenciação entre o eu e o
mundo, que já tinha se completado no plano de ação, deverá ser elaborada no plano da
representação. Para Piaget (apud WADSWORTH, 1997, p.65):

Nesse estágio, o primeiro passo para a aprendizagem é a passagem da ação para


o pensamento, a internalização da ação, realizar uma ação mentalmente em vez de
fisicamente. A representação de objetos, pela ordem de aparecimento que são a imitação
diferida, o jogo simbólico, o desenho, a imagem mental e a linguagem falada. Distingue
fantasia do real podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela. As crianças deste
estágio são egocêntricas, elas não conseguem ter outro referencial sem serem elas
próprias.

Ao final do período pré-operatório, o pensamento da criança começa a assumir a


forma de operações concretas. Este estágio é caracterizado pela capacidade das crianças
em raciocinar sobre o mundo de uma forma mais lógica e adulta. É o momento do
aparecimento das noções temporais, espaciais, de velocidade e ordem. Neste momento,
a criança já não depende mais da questão imediata, mas sim do mundo concreto para
abstrair.

A criança torna-se capaz de compreender o ponto de vista da outra pessoa e de


conceitua lizar algumas relações. Portanto, é nessa fase que são estabelecidas as bases
para o pensamento lógico, próprio do período final do desenvolvimento cognitivo. Esse
período tem como marca a aquisição da noção

26
de reversibilidade das ações. Surge a lógica nos processos mentais e habilidade de
discriminar os objetos por similaridades e diferenças. A criança já pode dominar
conceitos de tempo e números.

Essa reversibilidade do pensamento possibilita à criança construir noções de


conservação de massa, volume etc. Assim, por meio das operações, inicialmente só
aplicáveis a objetos concretos e presentes no ambiente, os conhecimentos construídos
anteriormente pela criança vão se transformando em conceitos.

O raciocínio do sujeito chega ao seu ápice no estágio Operatório-Formal, pois


neste momento há a capacidade de olhar além da simples aparência dos objetos. Essa
capacidade dedutiva pode ser observada quando alguém conhecido (por exemplo, a
mãe) coloca uma máscara, a criança sabe que ainda continua sendo essa pessoa
conhecida por detrás da máscara. O pensamento hipotético ocorre de forma correta
também nos adolescentes que já conseguem realizar tarefas de seriação de forma
apropriada, pois adquiriram a capacidade de colocar objetos em ordem crescente, do
menor para o maior.

Para finalizar o pensamento, as estruturas cognitivas do sujeito nesta fase, já


alcançaram seu nível mais elevado de desenvolvimento, tornando-se assim aptas a
aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas.

Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente


passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita a
experimentação mental. Isso implica entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e
raciocinar sobre hipóteses.

O adolescente não tem mais necessidade de estar diante dos objetos concretos ou
de operar sobre eles para relacioná-los. Ele transforma os dados da experiência em
formulações organizadas e desenvolve conexões lógicas entre elas, enfim, é capaz de
pensar sobre o seu próprio pensamento ficando cada vez mais consciente das operações
mentais que realiza ou que pode ou deve realizar diante dos mais variados problemas.
Na teoria de Piaget, a maioria dos alunos pode ser capaz de usar o pensamento
operacional formal em apenas algumas áreas nas quais eles tenham mais experiência ou
interesse.

27
Por se tratar de estágios sucessivos, cada um deles tem como ponto marcante o
aparecimento de uma etapa de equilíbrio, ou seja, uma etapa de organização das ações e
das operações do sujeito, descrita mediante uma estrutura lógico-matemática. Em cada
um desses estágios o equilíbrio só é alcançado após uma etapa de preparação.

A passagem de um estado de menos conhecimento para um estado de


conhecimento mais avançado encontra explicação nos estudos de Piaget quando se
considera a ação educativa. A aprendizagem escolar não é uma recepção passiva do
conhecimento transmitido, mas sim um processo ativo de elaboração, além disso, o
processo de ensino deve favorecer a interação múltipla entre os alunos e os conteúdos
que eles têm de aprender. Com isso, o aluno constrói o conhecimento por meio das
ações efetivas ou mentais que realiza sobre o conteúdo de aprendizagem (COLL;
MARTÍ, 2004).

A partir destas discussões há que se considerar que atualmente, os achados da


Epistemologia Genética principalmente sobre o funcionamento intelectual, continuam
sendo utilizados como referência dos enfoques construtivistas em pedagogia e em
educação.

7. TEORIA DA MEDIAÇÃO DE VYGOTSKY

O interesse de Vygotsky (1896-1934) pela psicologia evolutiva e educação


serviu de base para o desenvolvimento de suas obras que são atualmente referência no
ensino de base Construtivista. Apresenta preocupação com o contexto sociocultural da
criança que é considerado fundamental para o seu desenvolvimento. Não apresenta uma
Teoria orientada por etapas como outros estudiosos do desenvolvimento humano, porém
dá ênfase à experiência, principalmente por considerar o sujeito como ativo no processo
de seu desenvolvimento cognitivo (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

É por meio do contexto histórico, social e cultural que este desenvolvimento


cognitivo ocorre. As chamadas atividades cognitivas básicas ocorrem de acordo com
sua história social. Assim, as habilidades cognitivas e

28
as formas de estruturar o pensamento são resultados das atividades praticadas de acordo
com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo está inserido, e não a partir dos
fatores congênitos.

Vygotsky (1999) não considera apenas um conceito de desenvolvimento, porém


para enfatizar a diferença entre o desenvolvimento relacionado às leis biológicas
(maturação) e o desenvolvimento mental (aprendizagem realizada no cotidiano)
construído da relação eu-contexto social, o autor formula a Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP).

Vygotsky afirmou que as crianças aprendem a utilizar os instrumentos para


pensar proporcionados pela cultura, por meio de suas interações com parceiros mais
habilidosos na zona de desenvolvimento proximal. [...]. As interações na zona de
desenvolvimento proximal permitem que as crianças participem de atividades que lhes
seriam impossíveis de realizar sozinhas, utilizando instrumentos culturais que devem ser
adaptados, eles próprios, a atividades específica em questão (ROGOFF, 2005, p. 51).

A aprendizagem ocorre dentro de uma zona de desenvolvimento proximal, ou


seja, há uma diferença entre o que a criança sabe fazer sozinha e seu nível de
desenvolvimento potencial, que é determinado por meio de resolução de problemas sob
orientação adulta ou em colaboração com seus semelhantes mais capazes
(VYGOTSKY, 1999). Em outras palavras, é a diferença entre os níveis de
desenvolvimento real e potencial. A partir disto, o ideal seria que os professores
trabalhassem de acordo com a zona de desenvolvimento proximal. Em seguida, quando
a criança se tornar mais competente, é chegada a hora de o professor dar ao aluno um
pouco mais de responsabilidade pela direção de uma determinada atividade de
aprendizagem. Diferente de Piaget, que apresenta a ideia de que uma criança ao
explorar o mundo sozinha constrói uma visão de mundo mais adulta, Vygotsky
acreditava que as pessoas é que impulsionavam o crescimento mental.

É na zona de desenvolvimento proximal que a interferência de outros indivíduos


é mais transformadora. Processos já consolidados, por um lado, não necessitam da ação
externa para serem desencadeados, processos ainda nem iniciados, não se beneficiam
dessa ação externa. Para a criança que já sabe

29
amarrar sapatos, por exemplo, o ensino desta habilidade seria completamente sem
efeito, já para um bebê a ação de um adulto que tenta ensiná-lo a amarrar sapatos, é
também sem efeitos, pelo fato de que a habilidade está muito distante do horizonte de
desenvolvimento de suas funções psicológicas. Só se beneficiaria do auxílio na tarefa de
amarrar sapatos a criança que ainda não aprendeu bem a fazê-lo, mas já desencadeou o
processo de desenvolvimento dessa habilidade.

O desenvolvimento humano passa, necessariamente pelo outro, portanto, a


história de cada uma das funções psíquicas é uma história social. Por isso poderíamos
dizer que é por meio dos outros que nos tornamos nós mesmos e esta regra se aplica não
só ao indivíduo como um todo, mas também a história de cada função separadamente.
Isso também constitui a essência do processo do desenvolvimento cultural traduzido
numa forma puramente lógica. O indivíduo torna-se para si o que ele é em si pelo que
ele manifesta aos outros (VIGOTSKI, 1997, p. 105 apud PINO, 2005, p. 66).

O ser humano torna-se a ser humano, de acordo com as explicações de La Taille


(1992), a partir de sua relação com o outro social, assim a cultura passa a fazer parte da
natureza humana por um processo histórico que molda o psicológico do homem,
conforme este se desenvolve. Para o autor, as proposições de Vygotsky nos fazem
entender a natureza dos seres humanos, membros da “espécie biológica que só se
desenvolve no interior de um grupo cultural” (p.24).

A constituição da criança como ser humano é, portanto, algo que depende


duplamente do Outro: primeiro, porque a herança genética da espécie lhe vem por meio
dele, segundo, porque a internalização das características culturais da espécie passa,
necessariamente por ele, como o deixa claro a análise de Vygotsky (PINO, 2005, p.
154).

As relações sociais dos seres humanos, segundo La Taille (1992), são mediadas
por instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente pelos próprios homens, e é a
linguagem humana o instrumento de comunicação e síntese do conhecimento, que nos
diferencia dos outros animais.

30
Segundo Pino (2005), Vygotsky atribui ao signo ou à palavra um meio de
interação fundamental no processo de desenvolvimento da criança, visto que a palavra
ou o signo veiculam significados historicamente produzidos, além de serem
representações e expressões das ideias dos homens, refletem, ainda, a sua relação com o
outro e com a natureza.

Vygotsky sustenta que a união da atividade prática com o signo ou a palavra


constitui ‘o grande momento do desenvolvimento intelectual em que ocorre uma nova
reorganização do comportamento da criança’ (VYGOTSKY, 1994, p. 115 apud PINO,
2005, p. 137).

De acordo com Shaffer (2005), por meio do diálogo que a criança mantém com
as pessoas em diferentes ambientes de convívio, a mesma aprende e descobre novos
princípios, estimulando assim o crescimento cognitivo.

O autor denomina este processo de:

aprendizado do pensamento e participação orientada. [...]. A participação


orientada é um aprendizado de pensamento de modo informal, no qual a
cognição das crianças é moldada à medida que estas façam parte, junto com os
adultos ou participantes mais habilidosos, das experiências do dia-a-dia da
cultura que estão inseridas (p. 249).

Ainda segundo Shaffer (2005), a linguagem do ponto de vista de Vygotsky,


possui papel relevante no desenvolvimento cognitivo da criança, primeiro por ser uma
forma de transmissão de modelos culturais e segundo por ser uma das “ferramentas
mais poderosas de adaptação intelectual em si mesma” (p. 253).

Vygotsky, Luria e Leontief (1998) explicam que o que determina o


desenvolvimento da criança é sua própria condição de vida, ou seja, “os processos reais
desta vida” (p. 63). Assim, pode-se justificar que a criança se desenvolve a partir das
condições do meio, em que está inserida, lhe oferece, por meio de interações que
mantém com o outro por meio do diálogo e a imitação. “Ela assimila o mundo objetivo
como um mundo de objetos humanos reproduzindo ações humanas com eles” (p. 59).

Pesquisadores influenciados pelas ideias de Vygotsky estudam como o contexto


cultural influencia as primeiras interações sociais que podem promover

31
competência cognitiva. No caso, há também a responsabilidade dos pais em criarem um
ambiente doméstico que possa estimular positivamente as capacidades de
processamento de informações dos filhos.

O crescimento cognitivo da criança ocorre como um processo cooperativo. Ela


aprende a partir da interação social, essencial no seu processo de desenvolvimento, as
trocas de experiência e conhecimento vivenciadas constituem uma troca de significados.
Nesta perspectiva, o ser humano se constitui enquanto que na sua relação com o outro,
assim, um conceito importante na teoria é a mediação (pressuposto da relação eu-outro),
que se dá pela possibilidade de interação com signos, símbolos e objetos (VYGOTSKY,
2002).

Figura: 03

No caso do professor, este deve ajustar seu nível de ajuda ao nível de


desempenho da criança, enquanto dirige o progresso da aprendizagem para o nível
superior da sua zona de desenvolvimento proximal. Quando é solicitado

32
para a criança a realização de uma tarefa que aparentemente ela não é capaz de realizar
é que se pode observar este processo de mediação. Esta tarefa específica de resolução de
problema está dentro da zona de desenvolvimento proximal da criança, porém sozinha
ela não consegue resolver.

Neste momento, entra o professor como suporte, que irá dividir a tarefa em
etapas. Durante o processo de mediação o professor age como um andaime, que dará
indicações à criança de como resolver o problema por etapas, consequentemente irá dar
apoio a cada progresso da criança. Após cumprir a tarefa pode-se pedir para a criança
realizá-la novamente, mas com menos ajuda do que antes. O professor constrói este
andaime de apoio que permite a aprendizagem da criança, assim que ela se torna capaz
de realizar a tarefa sozinha, este andaime deixa de ser necessário (GRIGGS, 2009).

Este processo de mediação ocorre pelo uso de instrumentos e signos. Os


instrumentos utilizados podem ser aqueles que apresentam alguma utilidade prática para
a realização da tarefa, no caso instrumentos físicos. Já os signos são elementos que
lembram ou simbolizam algo, traz um significado implícito. Conhecidos também como
instrumentos simbólicos têm como exemplo a linguagem, que pode ser considerado um
sistema simbólico fundamental em todos os grupos humanos, elaborado ao longo da
evolução humana (VYGOTSKY, 2002).

O componente contextual da teoria vygotskiana remete-se ao fato de que o


desenvolvimento de crianças de uma determinada cultura ou grupo cultural pode não ser
uma norma apropriada para crianças de outras sociedades ou grupos culturais. Isso faz
menção a respeito de que nenhuma teoria de desenvolvimento humano é universalmente
aceita, e nenhuma perspectiva teórica explica todas as facetas do desenvolvimento.

33
8. TEORIAS DA APRENDIZAGEM

As teorias da aprendizagem se caracterizam como uma área bem específica


dentro da psicologia teórica na tentativa de fundamentar como surge a natureza
essencial do processo de aprendizado. Serão apresentadas a seguir as principais teorias
que procuram compreender e explicar o processo de aprendizagem:

Figura: 04

8.1 Watson e o behaviorismo

No início de nosso século, vários psicólogos preocupavam-se em fornecer à


Psicologia foros de ciência. Tal tentativa já havia sido feita pelos adeptos das ideias de
Wundt, criador da Psicologia Fisiológica; nos Estados Unidos, J.B. Watson insistia em
que o corpo voltasse a centralizar os estudos psicológicos e propunha que a Psicologia
mudasse seu foco da consciência para o comportamento. O objetivo de Watson era que
a ciência psicológica se interessasse por indícios publicamente verificáveis, ou seja,
dados abertos à

34
observação de outros, estudados por diversos pesquisadores, que poderiam chegar a
conclusões uniformes.

Watson foi iniciador da escola behaviorista. Ele considerava a pesquisa animal a


única verdadeira, pela sua possibilidade de verificação empírica. Propunha a abolição
dos métodos introspectivos, devido à sua falta de objetividade. Rejeitava o estudo da
consciência e atacava veementemente a análise da motivação em termos de instintos.

Na sua é poca, era frequente admitir que muitos comportamentos fossem inatos
e constituíssem instintos. Watson propôs a tese de que herdamos apenas estrutura física
e alguns reflexos. Três tipos de reação emocional são inatos: medo, cólera e amor; todas
as outras reações emocionais são aprendidas em associação com eles, através de
condicionamento.

Figura: 05

A influência de Watson foi tão grande, que a maioria das teorias que se
seguiram foram behavioristas e, portanto, preocupadas com os fatores puramente
objetivos, baseando-se na pesquisa com animais e preferindo a análise do tipo estímulo-
resposta.

35
8.2 Teoria da aprendizagem cognitiva

Figura: 06

Para John Dewey a aprendizagem deve estar vinculada aos problemas práticos
aproximando-se o mais possível da vida cotidiana dos alunos. À escola cabe preparar
seus alunos para a vida democrática, para a participação social, deve praticar a
democracia dentro dela, dando preferência à aprendizagem por descoberta. Para Dewey,
seis são os passos que caracterizam o pensamento científico:

• tornar-se ciente do problema – É necessário que o problema proposto tenha


significado para o indivíduo. O problema deve ser transformado em uma necessidade
individual que lhe proporcione estímulos suficientes;

• Esclarecimento do problema – Consiste na coleta de dados e informações


sobre o problema proposto. É onde vai se selecionar a melhor forma de atacar o
problema, através dos recursos disponíveis;

• Aparecimento da hipótese – São as possibilidades que surgem para a provável


solução do problema. As hipóteses costumam surgir após um longo período de reflexão
sobre o problema e suas implicações, a partir dos dados coletados na etapa anterior.

36
• Seleção da hipótese mais provável – É o confronto da hipótese com o que se
conhece do problema. Passando de uma hipótese a outra na medida que vão se
mostrando ineficazes para a resolução do problema uma hipótese verifica-se outra;

• Verificação de hipótese - É na prática que acontece a verdadeira prova da


hipótese que será comprovada na ação;

• Generalização – Em situações posteriores semelhantes, uma solução já


encontrada poderá contribuir para a formulação de hipótese mais realista. A capacidade
de generalizar consiste em saber transferir soluções de uma situação para outra.

8.3 Teoria da aprendizagem fenomenológica

As significações produzidas pelos indivíduos são, para teoria fenomenológica,


assim como a teoria cognitiva, acima descritas, e a teoria da gestalt, de grande
relevância para compreensão do processo de aprendizagem. A criança é vista como um
ser que aprende naturalmente. A aprendizagem só acontece a partir do material que se
vincule a experiência do indivíduo. Assim, existem alguns passos que devem para
facilitar a aprendizagem do Indivíduo, a partir de sua própria experiência.

• proporcionar aos alunos oportunidades de pensamento autônomo, criando um


clima de diálogo, que os encoraje a expressar suas opiniões e a participar das atividades
do grupo;

• os alunos devem desenvolver suas atividades em acordo com o ritmo pessoal.


O êxito e a aprovação sendo considerados a partir das realizações individuais;

• oferecer aos alunos a oportunidade de utilizar um impulso universal presente


em todos os seres humanos, no sentido de concretizar suas próprias potencialidades.
Sem podá-los em uma camisa de força, prendendo-os à competição artificial e ao rígido
sistema de notas.

37
9. REFERÊNCIAS

BANDURA, A.; POLYDORO, S.; AZZI, R. G. Teoria social cognitiva:


conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008.

BAUM, W. M. Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

BELSKY, J. Desenvolvimento humano: experienciando o ciclo da vida.


Porto Alegre: Artmed, 2010.

COLL, C.; MARTÍ, E. Aprendizagem e desenvolvimento: a concepção


genético-cognitiva da aprendizagem. In: COLL, C.; MARCHESI, Á.; PALACIOS,
J. et al. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. v. 2.
Porto Alegre: Artmed, 2004, pp. 45-59.

COLL, C.; SCHILLING, C. O construtivismo na sala de aula. 6. ed. São Paulo:


Ática, 2004.

FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harba,


2001.

FARIA, A. R. Desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. 3.


ed. São Paulo: Editora Ática, 1995.

FONTANA, R.; CRUZ, M. N. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo:


Atual,1997.

FREUD S. O ego e o id. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
completas de S. Freud (Jayme Salomão, trad.). Rio de Janeiro: Imago, 2009. pp. 11-83.
(Texto original publicado em 1923).

FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição Standard


Brasileira das Obras Psicológicas completas de S. Freud (Jayme Salomão, trad.). Rio de
Janeiro: Imago, 2009, pp. 121-252. (Texto original publicado em 1905).

GRIGGS, R. A. Psicologia do desenvolvimento. In: GRIGGS, R. A. Psicologia:


uma abordagem concisa. Porto Alegre: Artmed, 2009, pp. 235-272.

38
GRIGGS, R. A. Psicologia do desenvolvimento. In: GRIGGS, R. A. Psicologia:
uma abordagem concisa. Porto Alegre: Artmed, 20 09, pp. 235 -272.

GRIGGS, R. A. Teorias e avaliação da personalidade. In: GRIGGS, R. A.


Psicologia: uma abordagem concisa. Porto Alegre: Artmed, 2009, pp. 273-304.

GRIGGS, R. A. Teorias e avaliação da personalidade. In: GRIGGS, R. A.


Psicologia: uma abordagem concisa. Porto Alegre: Artmed, 2009, pp. 273-3 04.

HALL, C. S.; CAMPBELL, J. B.; LINDZEY, G. Teorias da Personalidade.


4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

LA TAILLE, Y. Piaget, Vygotsky e Wallon: Teorias Psicogenéticas em


Discussão. São Paulo: Summus, 1992.

LURIA, A. R. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

PAPALIA, D.E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento


humano. Porto Alegre: Artmed, 2006.

PINO, A. As marcas do humano: às origens da constituição cultural da criança


na perspectiva de Lev S. Vygotsky. São Paulo: Cor tez, 2005.

SCHULT Z, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. São Paulo:


Cengage Learning, 2009.

SHAFFER, David R. Psicologia do Desenvolvimento: infância e


adolescência. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

VYGOTSK Y, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos


processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

VYGOTSK Y, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem,


desenvolvimento e aprendizagem. 6. ed. São Paulo: Ícone, Ed. da USP, 1998.

YGOTSK Y, L. S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins


Fontes, 1999.

39

Você também pode gostar