2007. Síntese de “Teorias de Aquisição de Linguagem, de Ronice Muller de Quadros e Ingrid Finger” Teorias de Aquisição de Linguagem, de Ronice Muller de Quadros e Ingrid Finger é uma obra que oferece um enfoque acerca das principais características de algumas importantes abordagens teóricas tidas como norteadoras das pesquisas em aquisição da linguagem. Segundo as autoras, os primeiros estudos realizados de forma mais sistemáticos foram denominados de Estudos de diários ou Biografias de Bebês, que resultaram de registros diários feitos pelos pais, das modificações na fala da criança em um determinado tempo, tendo como objeto de análise o desenvolvimento cognitivo geral e não somente linguístico , embora também haja uma grande contribuição linguística. Devido ao fato de o objetivo da Psicologia, por possuir uma abordagem Comportamentalista, ser observar padrões de comportamento de muitas crianças, em oposição aos estudos de diários, que tinham como objetivo acompanhar uma mesma criança por um longo período. A análise com diversos indivíduos foca em aspectos pontuais da aquisição, em momentos específicos do processo em crianças com idades diferenciadas, o que tornou possível a observação e a pesquisa detalhada de padrões linguísticos na fala da criança. A primeira teoria abordada pelas autoras, trata-se de “A Aquisição da inguagem na perspectiva behaviorista (1957)”, que apresenta a aprendizagem da linguagem como um processo passivo de imitação da fala dos adultos, combinado ao esforço positivo quando há acerto e de esforço negativo quando existe erro. Nessa teoria, o ambiente exerce um papel fundamental, pois a criança não desenvolve a linguagem por ela mesma, o que significa que ela necessita de fatores externos para que seu desenvolvimento aconteça. A segunda teoria analisada é “Paradigma gerativista de aquisição da linguagem”, que trata dos elementos básicos dos pressupostos inatos da aquisição da linguagem a partir de um ponto de vista Gerativista (Chomsky e outros), que tem como ideia central o fato de que os seres humanos são dotados, desde o seu nascimento, de uma disposição inata, específica para a linguagem, denominada Gramática universal, que consiste em um conjunto de restrições linguísticas capazes de determinar as formas que a língua humana podem possuir, sendo responsável por guiar a aquisição de uma ou mais línguas pela criança através da interação com o ambiente linguístico, o que pode explicar a capacidade da criança em adquirir uma língua complexa tão rapidamente. Já a terceira, Epistemologia Genética e a aquisição da linguagem (1959), de Jean Piaget, deixou extensa pesquisa sobre a relação entre linguagem e pensamento nas crianças. Observou que a criança constrói a linguagem de forma ativa. Para Piaget, o único equipamento com o qual a criança nasce é um forte instinto de aprender e de compreender o mundo e um cérebro adaptado de forma única para extrair padrões e resolver problemas. A linguagem é mais um dos desafios que a criança enfrenta e resolve ao longo de seu crescimento, o que torna necessário que o estudo seja feito no contexto do desenvolvimento social e intelectual geral da criança. A quarta teoria, Interacionismo em aquisição da linguagem – De Lemos (1982), gira em torno da ideia de que a relação criança-linguagem-outro é fundamental para a aquisição da linguagem. Ele não se alinha, portanto, e não deve ser alinhado, a um pensamento psicológico sobre interação. O interacionismo é linguístico e de reconhecimento da ordem da língua. Na quinta Abordagem conexionista de aquisição da linguagem – Finger traz à luz princípios de que o cérebro humano processa informações através de redes neurais, assim os conexistas postulam que a língua é aprendida através deste mecanismo. Dessa forma, todo tipo de aprendizagem resulta da construção de padrões associativos, que são reforçados ou enfraquecidos em resposta a padrões de regularidade no input. Assim sendo, não há conhecimento inato pré-determinado das estruturas que compõem. A aprendizagem ocorre como resultado de mudanças graduais na força das conexões das redes através das vivências, estímulos e experiências. Na sexta teoria, “O desencadeamento (boostrapping) da sintaxe numa abordagem psicolinguística para a aquisição da linguagem”, Letícia Sicuro Corrêa considera que o bebê percebe, analisa e representa o sinal acústico da fala desde seus primeiros contatos com o material linguístico. Ele inicia o processamento sintático de enunciados linguísticos, relacionando palavras, morfemas e outros elementos da língua que se apresentam em sequências. Compondo estruturas hierárquicas com relações semânticas e assim identificando as propriedades especificas da gramática da língua em aquisição. Na sétima e última teoria apresentada, “Evolução das pesquisas em aquisição da linguagem oral monolíngue no Brasil”, Leonor Scliar-Cabral aborda a evolução dos estudos em aquisição da linguagem oral no Brasil. DIAS, Fernanda. O Desenvolvimento Cognitivo No Processo De Aquisição De Linguagem. Letrônica, Porto Alegre, dez. de 2010. Síntese de “O Desenvolvimento Cognitivo No Processo De Aquisição De Linguagem, De Fernanda Dias” O desenvolvimento cognitivo no processo de aquisição de linguagem, de Fernanda Dias, é uma obra que traz um enfoque teórico sobre o papel da linguagem dentro das linhas cognitivistas. A autora conceitua linguagem, baseada no construtivismo, como uma forma de representação, uma vez que permite ao sujeito evocar objetos ausentes, valorizando o aspecto sensório-motor. Ela traz os elementos básicos que configuram os estudos, com base no pressuposto behaviorista de Jean Piaget, mencionando que a linguagem nasce da interiorização dos esquemas sensórios-motores produzidos pela experimentação ativa da criança. Para ressaltar que há uma elaboração constante de novas estruturas, menciona Zorzi (2002), que afirma que a linguagem será construída mediante a interação entre criança e meio, mostrando-se como um reflexo das capacidades cognitivas, e que nesse processo de construção a pequena criança passa por uma série de mudanças, no que se refere ao surgimento do simbolismo e a maneira como esta relaciona-se com o mundo. A fonoaudióloga, enfatiza a teoria Piagetiana, a fim de relacionar desenvolvimento linguístico e pensamento, ressaltando a necessidade de se abordar o processo evolutivo que este último percorre. Segundo ela, Piaget considera que as crianças não herdam capacidades mentais prontas, apenas o modo de interação com o ambiente, e que desta forma as atividades intelectuais visam à adaptação do sujeito ao ambiente, sendo uma construção gradativa. A autora destaca a importância dos estudos sobre a Epistemologia Genética, de Piaget, para a teoria do desenvolvimento cognitivo, uma vez que investiga as origens e formas mais elementares do conhecimento, possibilitando a compreensão sobre os diversos níveis das estruturas através do Método Clínico proposto pelo teórico. Nesse sentido, ressalta que ele buscou compreender o pensamento enquanto uma ação internalizada, num processo que envolve dois mecanismos distintos: a assimilação e a acomodação. Na assimilação, o indivíduo incorpora o objeto enquanto meio de conhecimento, e depois transforma sua estrutura anterior para incorporar o objeto já assimilado, no processo de acomodação. Assim, ao enfatizar que a teoria Piagetiana percebe o desenvolvimento cognitivo construído a partir do biológico (reflexos inatos do bebê), conclui que Piaget entendia o cognitivo como uma adaptação, que organiza a função de estruturar o universo do indivíduo, relacionando os pensamentos e os objetos, uma vez que a capacidade cognitiva irá construir mentalmente as estruturas capazes de serem aplicadas às do meio. Para explicar sobre a construção das capacidades mentais, a autora cita os estágios do desenvolvimento cognitivo, onde cada nível é um período onde o pensamento e comportamento infantil é caracterizado por uma forma específica de conhecimento e raciocínio. Dividem-se em; sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal, sendo que destaca apenas os dois primeiros como marcos fundamentais no período inicial de aquisição da linguagem. O primeiro período abrange do zero aos dois anos de idade, e segundo Dole (2000), nessa etapa a criança soluciona seus problemas de ação a partir de esquemas e da organização real conforme um grupo de estruturas espaço- temporais e causais. Já o segundo estágio de desenvolvimento intelectual ocorre dos dois aos sete anos de idade, é onde acontece a passagem do plano de ação para o plano de representação, que é caracterizado pelas primeiras condutas simbólicas e pelo aparecimento da linguagem, da brincadeira simbólica e da imitação. Para salientar a aquisição da linguagem na teoria de Piaget, Dias menciona a respeito do brincar simbólico que juntamente com a linguagem aparece na evolução infantil relacionada à capacidade de representar, de evocar fatos e objetos ausentes, como já foi constatado. Por fim, a autora realiza reflexões críticas acerca da Epistemologia Genética, ressaltando sua relevância para os estudos sobre o desenvolvimento cognitivo e sua relação com a linguagem. Finaliza considerando que a linguagem está relacionada aos progressos da inteligência sensório-motora e ao aparecimento do simbolismo, e que esta é um meio de interação entre relação e construção do conhecimento. Síntese do texto “A fala do bicho homem e a fala dos outros bichos” (Sem referência explícita no texto) Para explicar a especificidade das línguas humanas, o autor faz uma comparação entre o falar humano e os sistemas de comunicação dos animais. Menciona que a fala humana é bem mais que um sistema de comunicação, porque nós podemos fazer várias outras coisas com a linguagem além de simplesmente comunicar alguma informação para outros seres. Essa flexibilidade e versatilidade, de acordo com Lyons (1987), se devem à presença, em alto grau, de basicamente quatro propriedades: a arbitrariedade, a dualidade, a descontinuidade e a produtividade. Esta última é enfatizada pelo fato de distinguir os sistemas de comunicação humana de outros animais, porque qualquer pessoa é capaz de montar frases novas com base em elementos (e regras de combinação) conhecidos, e também compreender sinais assim construídos. Ele menciona que de forma geral, o sistema de comunicação animal, há a ausência de recursividade, e que há um conjunto fixo de mensagens que podem ser transmitidas, normalmente desencadeadas por fatores externos, como algum tipo de perigo, uma fonte de alimento ou um período de acasalamento. A linguagem humana por sua vez, é é independente de estímulos, uma característica ligada diretamente ao conceito de criatividade, ou seja, dado um estímulo de certa natureza, a forma da resposta dos os outros bichos será automática e previsível, mas a nossa não. Em seguida, o autor faz um breve aparato sobre o cérebro humano, mostrando os aspectos anatômicos e fisiológicos deste órgão e que a linguagem tem suporte material em áreas específicas deste. Ao relacionar o desenvolvimento do cérebro e da linguagem na criança, cita Lenneberg (1967), que afirma que o desenvolvimento da linguagem ocorre par a par com o desenvolvimento do cérebro e, quando o crescimento deste órgão estaciona, o mecanismo de aquisição da linguagem também estaciona, não permitindo mais a aquisição de uma língua nova com a mesma rapidez, facilidade e perfeição com que a primeira foi aprendida. Na seção seguinte, ressalta algumas hipóteses sobre como a criança chega a adquirir uma língua perfeitamente, sem instrução específica e numa velocidade espantosa. Na hipótese da imitação, as crianças aprendem imitando o que os adultos dizem. Existe um consenso na literatura da área de que a imitação não faz a criança progredir na aquisição de sua língua materna, mas pode servir de medida para avaliarmos em que estágio do desenvolvimento ela se encontra. Já a hipótese comportamentalista (ou behaviorista), formulada e desenvolvida por Skinner, pressupõe que a criança aprenderia sua língua materna porque seria estimulada positivamente quando produzisse enunciados corretos e negativamente quando os enunciados contivessem algum erro. Resenha do Filme O Garoto Selvagem- François Truffat Oraci Travassos 1 O garoto selvagem, um filme de François Truffat, retrata da história verídica de um garoto entre 11 e 12 anos, encontrado na floresta por caçadores que o capturaram e o levaram ao vilarejo mais próximo com o objetivo de (re)introduzi-lo na sociedade. Seu comportamento demonstra claramente que ele viveu entre animais e que teve que lutar por sua sobrevivência, já que além de não se mover como um bípede, grunhir como animal, não demonstrava compreender a linguagem humana e nem reagia à estímulos. Sua única reação instintiva se dava quando tentava se libertar de seus capturadores. Tal comportamento despertou nas pessoas a ideia de que essa criança possuía algum retardo, alguma patologia ou que fosse surdo. Tal situação só começa a mudar quando um médico se oferece para ajudar no desenvolvimento socio comportamental do garoto, o Dr. Jean Itard. Seu objetivo é basicamente alfabetizar essa criança e ensinar a ela aquilo que o médico julga que qualquer ser humano deva aprender, chegando até mesmo a lhe dar um nome: Vítor. É aí que os obstáculos começam a se apresentar, o garoto ao ver sua essência sendo sobrepujada por algo que foge de sua compreensão, reage da forma que lhe é familiar. Vítor tem sérias dificuldades de aprendizagem, pois mesmo que sua constituição biológica seja humana, toda a sua bagagem comportamental provém do convívio com animais, o que basicamente consiste em tentar inserir em um animal toda uma bagagem cultural, social e comportamental dos seres humanos. Mas por ele biologicamente ser humano, o que ocorre é algo parecido com um processo de colonização que ao final do filme demonstra ter tido pouco sucesso. Pois apesar de o garoto demonstrar ter consciência e memória, mesmo não tendo conseguido desenvolver a fala após, devido a incessante pressão por parte do médico para que o garoto demonstrasse avanços em seu comportamento, ter fugido de casa e retornar depois de algum tempo. O filme em si faz referência às ideias de teóricos como Vigotsky, Piaget, Skinner e Chomsky, embora tais análises sejam totalmente subjetivas. De acordo com Vygotsky, todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história social e acabam se constituindo no produto do desenvolvimento histórico-social de sua comunidade, o que significa que a história do lugar onde Vítor se desenvolveu (a floresta) acabou sendo um fator determinante de sua forma de pensar e agir. Já segundo as ideias de Piaget, o desenvolvimento da linguagem da criança se dá pela capacidade de interação entre ela e o mundo e que essa criança não herda capacidades mentais prontas, apenas o modo de interação com o ambiente. Tal teoria somada à teoria de Vigotsky explica o porquê de mesmo Vítor sendo biologicamente humano, se comportar como um animal. Já para Skinner, a criança só consegue desenvolver o ato da fala a partir da influência externa com base no estímulo-resposta pautado no “certo” e “errado”. Vítor demonstra claramente ter internalizado esse conceito após se rebelar contra o castigo do armário, já que ele sabia que havia respondido adequadamente à uma determinada situação. Na perspectiva de Chomsky, o ser humano já possui em si a capacidade de desenvolver a fala e conseguir realizar o ato, especialmente quando é estimulado a isso. Naturalmente, devido a natureza cinematográfica da obra, não há em momento algum uma aplicação explícita de tais teorias, apenas promove o questionamento e uma análise crítica pessoal do telespectador com base nos conhecimentos que ele possui. Portanto, julgando tais linhas de raciocínio, pode-se afirmar que o filme foi uma representação da teoria aliada à prática de todas as teorias de aquisição de linguagem vistas até aqui e que tais abordagens não devem ser analisadas com um estudo isolado, mas como parte de um todo, já que apesar de que na maior parte do tempo sejam divergentes, em um dado momento do estudo do desenvolvimento da linguagem elas acabam se relacionando entre si. 1 Estudante da disciplina Desenvolvimento da Linguagem, do curso de Pedagogia do CEULS/ULBRA