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"A linguagem, segundo estudiosos, é uma função inata que permite ao indivíduo simbolizar o

seu pensamento e decodificar o pensamento do outro. Através dela facilita-se a troca de


experiências e conhecimentos, interferindo na percepção da realidade.

A origem da linguagem é resultado de um processo de socialização  do ser humano, que é


estimulado pelo meio em que se vive, no qual ocorre a adequação dele e a transformação,
proporcionando associações das diferentes áreas sensitivas, perceptivas e motoras.

O pensamento precede a linguagem, que também é considerada outra forma de pensamento.


A etapa das imagens mentais precede a primeira palavra da criança. As imagens mentais,
segundo estudiosos, são cópias ativas da realidade que é organizada pelo cérebro.

É de extrema importância que fique bem esclarecido que ao fazer referência da palavra
imagem a primeira coisa que vem em mente são as imagens, porém não se restringe aos
modelos visuais, considera-se também as auditivas, somestésicas, cinestésicas, etc

Na medida em que a criança se desenvolve e aprende sobre os indivíduos, linguagem e objetos


de forma simultânea, logo em seguida esse se modifica devido à linguagem que sofre algumas
influências de outras aquisições.

Primeiramente, se desenvolve a compreensão por volta dos 3 meses, quando a criança já


apresenta compreensão das situações e em seguida a expressão. São processos
independentes, porém na aquisição do vocabulário, do ponto de vista interno permitida pela
expressão, faz com que a compreensão se desenvolva mais.

Por Elen Cristine Campos Caiado

Graduada em Fonoaudiologia e Pedagogia"

Veja mais sobre "Linguagem e pensamento" em:


https://brasilescola.uol.com.br/fonoaudiologia/linguagem-pensamento.htm

As relações que ocorrem entre pensamento e linguagem é o assunto que


iremos ver nesse artigo. Para termos pequenas noções acerca desses
assuntos, irão fazer uma pequena viagem, através das reflexões de três
teóricos: Vygotsky, Whorf e Luria.

Antes, porém, vejamos o relato que Romanelli, um apaixonado sobre o tema.


Alguns anos atrás, um casal de professores americanos teve a ideia de
comparar na prática a educação de um bebê humano e de um animalzinho. E
para que a comparação fosse fiel, no dia que a filha deles nasceu, eles foram
ao zoológico e adotaram um filhote de chimpanzé fêmea. As duas foram
educadas absolutamente iguais, passo a passo, e como se tratava de um
trabalho científico, bem-documentado, eles foram percebendo que, logo de
início, a chimpanzé batia em quilômetros o bebê humano.

Enquanto o bebê humano não fazia senão mexer os pezinhos, a chimpanzé já


se “virava” sozinha, sentava à mesa, colocava o guardanapo em volta do
pescoço. Mas à medida que o tempo foi passando, enquanto o bebê humano
começou a falar a chimpanzé emitia apenas alguns sons emocionais
característicos.

Quando o bebê começou a pedir água, por exemplo, a diferença se tornou


marcante entre ele e a chimpanzé.

A evolução nos diz que um dia o homem começou a falar e essa é a grande
diferença entre o humano e os animais. O desenvolvimento de áreas nervosas
e tecidos nervosos do cérebro capazes de preparar o que nós chamamos de
ideia, e a transferência dessas idéias para a forma da palavra oral, é o
momento crucial […] (1985, p. 101).

A visão de Vygotsky sobre pensamento e linguagem


Iniciemos, depois dessa incursão feita por Romanelli, nossos estudos sobre
pensamento e linguagem, a partir das considerações feitas por Vygotsky
(1962).

Interessado em estudar a linguagem enquanto constituídora do sujeito,


Vygotsky enfocou seus estudos na relação que ocorre entre pensamento e
linguagem, atribuindo-lhe a devida importância no processo evolutivo humano.

Diferentemente do pensamento vigente na época, dominado pela visão de


Piaget que afirmava que as estruturas da linguagem não eram dadas pelo
meio, encontrando-se preestabelecidas desde o nascimento, Vygotsky
entendia que a relação entre pensamento e linguagem originava-se no
desenvolvimento e evoluía, ao longo dele, num processo dinâmico.

Segundo ele, pensamento e linguagem possuem, tanto na filogênese quanto


na ontogênese, raízes genéticas distintas, mas que se sintetizam
dialeticamente no desenvolvimento.

O processo de evolução da linguagem


Inicialmente, o pensamento se desenvolve sem a linguagem, ou seja, os
primeiros balbucios das crianças são formados sem o pensamento e objetivam
atrair a atenção dos adultos, caracterizando a função social da fala, desde o
início.

Considera que há um estágio pré-linguístico no desenvolvimento e um estágio


pré-intelectual no desenvolvimento da fala, e que por um determinado período,
esses processos se desenvolvem de forma independente.

Vygotsky afirma que, por volta dos dois anos de idade ocorre o encontro entre
o pensamento e a fala, surgindo um novo tipo de organização linguístico-
cognitivo. A partir desse encontro, o pensamento se torna verbal e a linguagem
racional. A criança passa, então, a entender o propósito da fala e ao sentir a
necessidade das palavras, busca apreender os signos, descobrindo a função
simbólica da palavra.

Para ele, a relação entre pensamento e linguagem deve ser visto como um
processo vivo, pois o pensamento surge a partir das palavras. Além disso, essa
relação não é algo já formado e constante, mas nasce ao longo do
desenvolvimento e se modifica.

Segundo Vygotsky, as relações que ocorrem entre pensamento e linguagem


não podem ser apreendidas sem a compreensão da natureza psicológica da
fala interior, de estrutura e processo divergente da fala exterior.

A fala interior vista dessa forma, não é exatamente uma fala, mas uma
atividade intelectual e afetivo-volativa, que possui formação específica, leis
próprias e que mantêm conexões com outros tipos de atividades de fala.
Caracteriza-se por ser uma fala para si mesmo. Uma fala que se interioriza em
pensamento.

Diferentemente, a fala exterior caracteriza-se por ser para os outros, sendo a


tradução do pensamento. Ou seja, é a sua materialização e objetivação.

Para Vygotsky, a fala egocêntrica possui um papel fundamental na atividade da


criança, sendo um estágio transitório na evolução da fala oral para a interior.
Essa evolução, para ele, se processa de uma fala exterior para uma fala
egocêntrica e desta a uma interior, ou seja, do social para o individual.

Vygotsky apontou três propriedades da fala interior:

1. O predomínio do sentido de uma palavra sobre seu significado, a partir do


contexto em que surge. O sentido da palavra é alterado pelas situações em
que se insere e pela mente da pessoa que a utiliza;
2. A aglutinação: combinação de palavras para expressar idéias complexas;
3. O modo pelos quais os sentidos se combinam e unificam, sendo que uma única
palavra pode ter vários sentidos.
Exemplo: Em um ponto de ônibus, duas moças conversam e ouve-se, de uma
delas, o seguinte enunciado: “Fui com meu gato no cinema ontem”. Onde gato
tem o sentido de namorado, pois é evidente que animais não são aceitos em
cinemas.

Observe agora, outro enunciado, produzido por uma criança, em uma clínica
veterinária: “Doutor, pode dar uma olhada no meu gato? Ele está doente”. Aqui,
o significado que se pode atribuir a gato é o de animal, pois obviamente,
veterinários não atendem pessoas.

A diferença de significação do léxico gato é dada pelo contexto, no qual ele


ocorre.

O impacto da linguagem do desenvolvimento mental


Segundo Vygotsky, a linguagem é um fator fundamental para o
desenvolvimento mental da criança, pois exerce uma função organizadora e
planejadora de seu pensamento, além de ter uma função social e comunicativa.

É através da linguagem que a criança interage com o conhecido já produzido e


com o mundo que a rodeia, apropriando-se da experiência acumulada pela
humanidade, no decorrer de sua evolução.

Além disso, é através dessa interação social, promovida pela linguagem que a
criança, de acordo com Vygotsky, constrói sua própria individualidade.

Outra hipótese sobre as relações entre pensamento e linguagem foi


desenvolvida por Whorf (1956) e ficou conhecida como hipótese whorfiana ou
hipótese Sapir- Whorf.

A hipótese whorfiana (Whorf, 1956), também, denominada de hipótese da


relatividade e determinismo lingüísticos, afirma que as línguas diferentes
influenciam o pensamento de maneiras diferentes. Entretanto, essa idéia existe
desde o início da Filosofia.

Desta forma, voltamos um pouco no tempo, e trazemos uma afirmação anterior


sobre esse assunto, feita por Sapir.

Os seres humanos não vivem isolados no mundo objetivo, nem no mundo da


atividade social, como ordinariamente se entende, mas, estão à mercê da
língua, que se tornou o meio de expressão de sua sociedade. É grande ilusão
imaginar que alguém se adapta à realidade essencialmente sem o uso da
língua, e que esta é apenas um meio incidental de solucionar problemas
específicos de comunicação ou de reflexão.

O fato é que o mundo real é, em larga extensão, inconscientemente construído


sobre os hábitos linguísticos do grupo. […] Nós vemos e ouvimos, e temos
outras experiências tão largamente porque os hábitos linguísticos da nossa
comunidade nos predispõem as certas escolhas de interpretação (apud
Mandelbaum, 1958, p. 162)

Assegurando que toda experiência é influenciada pela língua que se fala, Sapir
levanta algumas observações interessantes. A afirmação de Sapir avança, com
Whorf (1956), na direção do Determinismo Linguístico, cujo postulado é o de
que a língua pode determinar a cognição, e da Relatividade Linguística, que
afirma ser o determinismo relativo à língua que se fala.

Entendendo o sistema linguístico


Segundo Whorf todos se organizam e interagem com o mundo de uma forma
particular, devido ao sistema linguístico que temos internalizado em nossas
mentes.

A partir dessa afirmação, algumas considerações podem ser feitas:

1. Um sistema linguístico particular, provavelmente, afeta o meio, pelos quais


vários estímulos são percebidos e os problemas resolvidos;
2. O nível de aquisição de um sistema linguístico interfere na maneira pela qual
são fornecidos os estímulos e resolvidos os problemas;
3. A ausência ou desvio de um sistema lingüístico afeta seriamente a realização
de tarefas cognitivas.

Luria por sua vez, propõe que “a percepção é uma atividade cognitiva bastante
complexa e mediada […], (Carvalho, 2000, p.2), afirmando existir uma relação
muito estreita entre os fenômenos linguísticos e perceptuais, salientando ser a
linguagem mediadora da percepção”.

A influência dos aspectos culturais


Nesta forma, ele concebe que a proposta da mediação da percepção pela
linguagem a qual reflete, por sua vez, aspectos culturais. Configura uma
posição já considerada clássica e, nesse sentido faz referência, dentre outros a
estudos decorrentes da chamada hipótese Sapir-Whorf, para a qual ocorre uma
determinação linguística sobre a percepção […]. Com relação ao
desenvolvimento, Luria (1979) refere-se ao grande papel desempenhado na
percepção da criança pela linguagem e constitui um dos fatos mais importantes
da Psicologia atual (p. 77). (Carvalho, 2000, p. 04)

Para Luria (1976), a natureza sócio-cultural da ação, e, portanto, da percepção,


implicaria na participação da linguagem, na constituição tanto de uma como de
outra. (idem, p. 5).

Sobre pensamento e linguagem, Luria (1987) afirma que a linguagem é um


sistema complexo de códigos, formado no decorrer da história social de uma
comunidade linguística, que designa objetos, características, ações ou
relações, possuindo a função de transmitir informações.

Resultante dessa história, a linguagem transforma-se em um instrumento


importante ao conhecimento humano, pois é a partir da linguagem que o
homem pode “separar o limite da experiência sensorial, individualizar as
categorias dos fenômenos, formularem determinadas generalizações ou
categorias. Pode-se dizer que, sem o trabalho e a linguagem, no homem não
se teria formado o pensamento abstrato ‘categorial”.(Luria, 1987, p. 22)

Desta forma, a linguagem para ele é o meio mais importante no


desenvolvimento e formação dos processos cognitivos e da consciência
humana.

Segundo ele, a palavra não somente pode substituir o objeto e designar a


ação, a qualidade ou a relação, mas também tem o poder de analisar os
objetos, de generalizá-los.

Complementando sua posição, Luria (1987, p.201) afirma que “as origens do
pensamento abstrato e do comportamento categorial. Em que provocam um
salto do sensorial ao racional, devem ser buscadas nem dentro da consciência
nem dentro do cérebro, mas sim fora, nas formas sociais da experiência
histórica do homem”.

Como esse processo era visto na década de 70?


A seguir, apresento de forma resumida as observações voltadas às relações
entre pensamento e linguagem, realizadas até a década de 70, através do
esquema, extraído de Menyuk (1975, p. 14).

Os processos A, B, C e D demonstradas no esquema podem ser assim


explicados:

 A: Os processo sensórios-motores, do sistema nervoso humano, levam ao


desenvolvimento do funcionamento do sistema simbólico primitivo. Por outro
lado, isto leva ao pensamento conceptual e ao uso da linguagem, os quais são
mais ou menos independentes um dos outros. Porém, ao ser adquirido, a
linguagem contribui para o desenvolvimento das “funções mentais superiores”
(Luria, 1962).
 B: Os processos sensório-motores geram o desenvolvimento do funcionamento
simbólico perceptivo e à linguagem. Permanecem separados os estágios
iniciais, mas o uso contínuo da linguagem influencia o desenvolvimento
posterior.
 C: Os processos sensório-motores propiciam o desenvolvimento do
funcionamento simbólico perceptivo que, por sua vez, leva ao uso da
linguagem. Os processos são independentes, porém ocorrem tarefas cognitivas
específicas, nas quais a linguagem é utilizada.
 D: Os processos sensoriais levam ao desenvolvimento do funcionamento
simbólico perceptivo, que gera o uso da linguagem. O uso contínuo da
linguagem possui efeitos no pensamento conceitual e no desenvolvimento das
funções mentais superiores.

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