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VYGOTSKY E A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

1. Nasceu na Bielo Rússia em 1896 e faleceu em 1934 com 37 anos, vítima da tuberculose. Sua
família era de origem judaica e era o segundo de oito filhos.
2. Diferentemente de Piaget que não foi educador, ele se preocupa com a educação, com a escola,
com o professor, com a intervenção pedagógica.
3. Um conceito importante de Vygotsky são os seus planos genéticos de desenvolvimento que
passam a idéia de que o mundo psíquico não está pronto, não é inato. Mas também não é visto
como um pacote pronto. A sua psicologia, como a de Piaget, é interacionista.
4. Propõe 4 planos que caracterizariam o desenvolvimento psicológico: filogênese (historia da
espécie humana), ontogênese (história do individuo da espécie), sócio gênese (história cultural do
meio cultural onde o sujeito está inserido), microgênese (aspecto microscópico do
desenvolvimento)

4.1 Filogênese: é a história de uma espécie animal. Define limites e possibilidades de


desenvolvimento psicológico pois temos capacidade de fazer determinadas coisas e não temos para
fazer outras. Há coisas que o homem faz e outras que não faz. A gente anda mas não voa, por
exemplo.
- Enfim, há características do corpo que vão servir de fundamento para o funcionamento psicológico.
E uma das características mais importantes da espécie humana é a plasticidade do cérebro que se
adapta a circunstâncias diferentes. A nossa espécie é menos pronta ao nascer. Dependendo do
ambiente o cérebro vai se adaptando e funcionando de determinado jeito.

4.2 Ontogênese: se refere ao desenvolvimento de um indivíduo de determinada espécie que nasce, se


desenvolve, se reproduz e morre. Está fortemente ligado a filogênese pois estes dois são de natureza
muito biológica. Dizem respeito a pertinência do homem à espécie. Por ser membro de determinada
espécie passa por um percurso específico e não outro. Por exemplo, a criança fica deitada, engatinha
e depois é capaz de ficar ereta.

4.3 Sóciogênese ou história cultural: se refere a história da cultura em que o sujeito está inserido,
ou seja, às formas de funcionamento cultural que definem de certa forma o funcionamento
psicológico. A cultura é alargadora das potencialidades humanas. Exemplo: o homem anda mas não
voa. Mas graças a cultura hoje voa porque criou avião.

- Cada cultura organiza o desenvolvimento de maneira diferente. Exemplo: a puberdade é um


fenômeno biológico. Todos os seres humanos passam pela puberdade, amadurecem sexualmente,
etc... Mas a puberdade é compreendida historicamente de formas diferentes em cada cultura.

Exemplos:

a) o conceito de adolescente é cultural embora assentado em conceito biológico que é a puberdade.


Na nossa cultura a adolescência é um período cada vez mais estendido. Por exemplo, o indivíduo
pode morar com os pais até 30 anos e ter uma relação de adolescente.

b) a categoria terceira idade é própria da nossa cultura. Há instituições que cuidam dessa idade, tem
produtos de mercado especiais para ela.... Não diz respeito ao envelhecimento do corpo e sim à
forma como a cultura olha o idoso.

4.4 Microgênese: diz respeito que ao fato de que cada fenômeno psicológico tem a sua própria
história. Exemplo: primeiramente uma criança não sabe amarrar o sapato, depois aprende a amarrar o
sapato. Entre o saber e o não saber algo aconteceu e um tempo passou. Como a criança aprendeu a
amarrar o sapato, este processo é a microgênese do aprender a amarrar o sapato. O interessante é que
a microgênese é a porta aberta dentro da teoria para o não determinismo pois a biogênese e
ontogênese de certa forma estão imersas em um determinismo biológico atrelado as possibilidades da
espécie. Na sóciogênese há também um certo determinismo pois a cultura define por onde o ser
humano pode se desenvolver, dá limites e possibilidades históricas de desenvolvimento. Contudo, a
microgênese revela que cada um tem a sua singularidade, cada um tem a sua história que é diferente
do outro porque as experiências são diferentes. Há fatos que a cada momento vão definindo a
singularidade de cada sujeito.

5. Signos: A relação que o homem tem com o mundo é feita de forma MEDIADA por instrumentos
e por signos.

a) por instrumentos: o homem se relaciona com as coisas do mundo usando ferramentas. Exemplo:
para cortar o pão eu uso a faca.
b) por signos: como os instrumentos pode se demonstrar de forma concreta como no caso das
imagens que existem nos banheiros para identificar o feminino e o masculino. Mas não é de natureza
instrumental. Não age diretamente sobre as coisas e sim de forma simbólica.
- Mas há os signos internalizados pelos quais há a possibilidade d representação mental.

Exemplo: se encontro uma mesa não me relaciono com ela somente de forma física. Ela me remete a
uma coisa de natureza simbólica que está dentro da minha cabeça que é o conceito de mesa, a idéia
de mesa, a palavra mesa, a imagem mesa. Seja qual for a forma de representação, há uma
representação das coisas do mundo que está dentro de mim que não são o próprio mundo, são
representações do mundo. Tal fato é algo tipicamente humano.

- Linguagem e signos: A capacidade de representação simbólica se dá através da cultura na qual o


indivíduo está inserido. Ela oferece o material necessário e a língua, a linguagem, é um dos principais
materiais para a representação simbólica.

- Há duas funções básicas da linguagem:

1) Comunicação: A linguagem nasce como forma de comunicação e acontece também no mundo


animal. Ex. O choro do bebê é também uma forma de comunicação.
2) Pensamento generalizante: a língua se encaixa com o pensamento. Há a relação entre pensamento
e linguagem. O uso da linguagem implica um ato de classificação. Quando nomeio, eu classifico.
Exemplo: quando digo “cachorro”, eu o distingo de outras categorias, pois não é um gato, não é uma
ave....

- Para Vygotsky o pensamento e linguagem têm relação muito forte. Não nasce com o sujeito, não
aparece pronto, mas se desenvolve ao longo do desenvolvimento psicológico.

a) Na filogênese: existe linguagem e pensamento porém separados. A função comunicativa da


linguagem é somente através de sons, gestos. A inteligência funciona no plano prático, concreto.
Exemplo: o chipanzé é capaz de agir ativamente sobre o ambiente através de uma inteligência prática
que não tem componente simbólico. A criança pequena age de forma semelhante ao chimpanzé sem
mediação simbólica.
b) Porém, em determinado tempo do desenvolvimento psicológico, pensamento e linguagem se
vinculam e não vão se separar mais. O homem passa a se comunicar pela linguagem e a sua
inteligência passa a ser abstrata. Passa a funcionar em plano simbólico. Por isso, o homem pode ser
capaz de criar, imaginar, recuperar coisas do passado. Então tem um pensamento, inteligência de
natureza simbólica.

- Pensamento e palavras: o pensamento não se expressa somente com palavras. É por meio dela que
ele passa a existir. A língua está fora da criança quando esta nasce. Nasce em um contexto falante. A
criança se apropria da língua na sua cultura de fora para dentro. Então, o primeiro uso da linguagem
é a fala socializada, a fala da criança com os outros, para os outros, só do lado de fora dela. É na
interface dela com o outro que aparece a língua. E o ponto de chegada mais desenvolvido da
linguagem é o discurso interior (o fato de incorporamos o sistema simbólico em nosso aparato
psicológico). As coisas começam fora e acabam internalizadas.

- Fala egocêntrica: entre o que acontece fora e o que acontece dentro ocorre um momento que
Vygotsky chama de “fala egocêntrica”. Por volta de 3 e 4 anos a criança fala sozinho, fala alto. Este
fenômeno foi identificado por Piaget. Vygotsky se apropria da idéia de Piaget para discuti-la. Mas a
usa com concepção bem diferente. Para Piaget a fala egocêntrica é indicador de que o
desenvolvimento está saindo de dentro do sujeito e indo para fora. Para Vygotsky a existência da fala
egocêntrica indica que a fala vem de fora e está sendo posta para dentro.

6. Desenvolvimento e aprendizagem: O desenvolvimento humano se dá de fora para dentro. A


aprendizagem é importante nos rumos do desenvolvimento pois este é promovido pela aprendizagem.
- Para Vygotsky o sujeito se desenvolve porque ele aprende. A aprendizagem puxa o
desenvolvimento do sujeito. O caminho do desenvolvimento está em aberto. Como a cultura vai
definir por onde o sujeito vai e também como a especificidade de cada sujeito vai ser definida na sua
interface com o mundo, nas suas experiências de aprendizagem, nos seus procedimentos
microgenéticos, então, o fato de aprender é que vai definir por onde o desenvolvimento vai se dar.

Exemplo: o jogo infantil de papéis, a brincadeira de faz de conta. Importante porque possibilita o
desenvolvimento justamente por conta da relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Nesta
brincadeira, jogo de papéis, a criança está transitando pelo mundo do imaginário mas ao mesmo
tempo está obedecendo a regras. Se vai brincar de escolinha, faz isto sendo regida pelas regras de
uma escola. A imposição de regras vem do funcionamento da cultura, traz para dentro do mundo da
criança as regras do mundo dos adultos. Por isto, no brinquedo a criança se relaciona com o
significado das coisas e não com os próprios objetos. Há um descolamento do imediato fazendo com
que a criança se relacione com o mundo do significado e desta forma com o mundo simbólico.

7. Piaget x Vygotsky:

a) Para Piaget o desenvolvimento se dá de dentro para fora (motor endógeno de desenvolvimento), é


por se desenvolver que o sujeito é capaz de aprender. Para Vygotsky, como já vimos, o sujeito se
desenvolve porque aprende.
b) Diferentemente de Piaget, não aceita a possibilidade de existir uma seqüência universal de estágios
cognitivos. Para ele, os fatores biológicos preponderam sobre os sociais apenas no início da vida das
crianças mas as oportunidades que se abrem para cada uma delas são muitas e variadas. Destaca em
sua teoria as formas pelas quais as condições e as interações humanas afetam o pensamento e o
raciocínio.

8. Zona de desenvolvimento proximal ou potencial:


- O desenvolvimento deve ser olhado de maneira prospectiva e não retrospectiva isto é deve ser
olhado para frente, para aquilo que não aconteceu. Normalmente nos referimos ao que está
consolidado, ao que já passou (Exemplo: esta criança já aprendeu a escrever). Mas a intervenção
pedagógica vai ser sobre o que está para acontecer.
- estas idéias tomam corpo através do seu conceito de zona de desenvolvimento proximal ou
potencial. Para explicar esta zona ele trabalha com dois outros conceitos:

a) fala num nível de desenvolvimento real que é onde a criança já chegou, o tal do desenvolvimento
passado que é retrospectivo.
b) Na outra ponta teríamos o nível de desenvolvimento potencial, aquilo que a criança ainda não tem
mas está próximo de acontecer. Sabemos que está próximo porque a criança consegue se relacionar
com determinados objetos não de forma autônoma ainda mas com a intervenção do outro com mais
experiência. Se não faz sozinha algo mas faz com ajuda, tal fato significa que pertence a um plano de
desenvolvimento que está próximo de se consolidar. A chamada zona de desenvolvimento proximal
está justamente localizada entre aquilo que está pronto e aquilo que está presente em semente. Define
aquelas funções que ainda não amadureceram mas estão em processo de maturação, que estão
presentemente em estado embrionário e por isso permite a intervenção pedagógica.

- É importante observar que o conceito de zona de desenvolvimento proximal ou potencial não é um


conceito instrumental. Não teria sentido o professor entrar em uma sala de aula para medir ou
identificar a zona proximal dos alunos. Este conceito ajuda a entender o desenvolvimento, mas é
muito flexível e muito complexo, não sendo visível na prática. Em cada momento de
desenvolvimento de uma criança eu teria uma zona. Numa classe de 40 alunos eu poderia ter 40
zonas proximais porém em movimento pois cada vez que eu falo uma coisa eu estaria alterando a
zona de cada aluno.

9. Intervenção pedagógica: O sujeito é influenciado pela cultura, pelo ambiente, pelo social, pelos
outros, mas é ativo, interage, dialoga, impõe significados, traz a sua própria história e subjetividade e
seus modos de ver o mundo.
- Mas é importante observar que a influência do ambiente não se dá de forma passiva. O sujeito
absorve informação de um ambiente que está estruturado pela cultura. Por exemplo, um bebê
brincando num berço, está brincando em um ambiente estruturado pela cultura pois é num berço, com
determinados brinquedos, etc...
- Para Vygotsky a intervenção ativa de outras pessoas é essencial no desenvolvimento do sujeito pois
a criança já nasce num mundo social e, desde o nascimento, vai formando uma visão desse mundo
através da interação com adultos ou crianças mais experientes. A construção do real é medida pelo
interpessoal antes de ser internalizada pela criança.
- Por isto, a intervenção pedagógica é essencial. O sujeito não se desenvolveria sem intervenção
deliberada de outras pessoas na vida dele. Interferir no desenvolvimento é importante na definição do
desenvolvimento. A escola então é fundamental. É diferente se desenvolver numa sociedade sem
escola e em outra com escola.

Tópicos elaborados pelo prof. Laerte a partir de palestra em vídeo da professora Marta Khol
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=2qnBE_8A6Fk

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