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fichacorrida.wordpress.com/2014/09/
O escritor Ricardo Lísias acerta em cheio ao dizer que o goleiro Aranha não age como um brasileiro
típico. Para Lísias, as etapas para a resolução de conflitos no Brasil seguem um percurso habitual: o
incidente, a tensão, os famigerados “panos quentes” e a resolução pelo afeto. Nesse sentido, não é
raro, também, que aquele que cometa um crime – ou mesmo uma agressão considerada menor –
arrependa-se depois, chore e, compungido, prometa nunca mais reiterar o erro. Ocorre, assim, uma
inversão de papeis, o agressor transforma-se em vítima e a vítima, quando não aceita abraçar
aquele que a ofendeu, é configurada como vilã da história.
No caso do goleiro Aranha, o roteiro foi mais ou menos esse. Além disso, boa parte da mídia torcia
pelo encontro da torcedora arrependida com o arqueiro do Santos para encerrar, de maneira
folhetinesca, mais um episódio da propalada e harmônica democracia racial brasileira. Gilberto
Freyre estaria, mais uma vez, certo e tudo voltaria ao seu lugar. Mas a bola bateu na trave. Aranha
não aceitou as desculpas, não levou gol e saiu de cabeça erguida sob os apupos da torcida tricolor.
Certa vez, fiz uma pesquisa, com uma aluna do Serviço Social, sobre a violência, no âmbito
familiar, e os resultados aproximam-se das etapas aduzidas no “caso Aranha”. Os estágios pelos
quais passam os que praticam e sofrem atos violentos, em uma relação conjugal, podem ser
resumidos em três fases: a acumulação das tensões, o episódio das agressões e a conduta
arrependida. Depois do arrependimento, por parte do agressor, a vítima nutre a esperança de uma
mudança de comportamento o que, com frequência, não ocorre. Dessa forma, o ciclo se repete até
a vítima resolver, finalmente, rompê-lo.