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o trecho,
bulinações e
alguns afetos
R O G E R I O A L M E I DA
crônicas sobre
o trecho,
bulinações e
alguns afetos
R O G E R I O A L M E I DA
Santarém/PA. 2024
Copyrigth © 2024 by Rogerio Almeida
Revisão
Maria de Nazaré Barreto Trindade
Juliano Almeida
Antropólogo e andante do trecho
Parte I - Trecho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Cabeça de porco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Trecho, afinal, o que seria? . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Trecho: tintas ralas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Rabiscos sobre o Trecho . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Entre a PA 150 e nenhum lugar . . . . . . . . . . . . . . 30
Travessões amazônicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Rabiscos sobre o trecho – Marabá/PA- São Luís/MA. . . 35
A viagem de Assis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Ao pôr do sol no Baixo Amazonas. . . . . . . . . . . . . 40
As águas altas do Tapajós . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Crônica do trecho em tempo decrise e cheia de rios. . . . 45
Entre São Luís e Carajás 20 anos depois. . . . . . . . . . 47
Traços sobre o trecho no natal de 2014 . . . . . . . . . . . 51
Esporão de arraia em pé de arigó. . . . . . . . . . . . . . 56
Feira, chuva, cerveja e dedos de prosa.... . . . . . . . . . . 59
Inusitado cotidiano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Lamentos de um cego no trecho. . . . . . . . . . . . . . 61
Marabá – relatos de pessoas nemtão invisíveis assim. . . . 63
Mundo do açaí - esquálidos apontamentos . . . . . . . . . 66
Não chega aos 25. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Noite de Iansã na Casa de Teuci. . . . . . . . . . . . . . 69
Novo, velho ano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
O bar da Dilma na Feira da 28. . . . . . . . . . . . . . . 73
Léguas e léguas a nos separar, riomar..... . . . . . . . . . . 75
O natal de novembro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
O quintal da senhorinha de Ananindeua. . . . . . . . . . 78
Alenquer. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Os “espertos” do trecho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Os heróis do Bar da D. Neusa . . . . . . . . . . . . . . . 81
Parada de Trecho - Pernambuco, o ex-drogado . . . . . . . 83
Planalto Santareno: notas sobre umavisita à Ipaupixuna. . 84
Pandêmico natal: nada de Roberto Carlosou carnaval. . . 86
Porcas linhas de BR distante. . . . . . . . . . . . . . . . 89
Prosa de Feira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Rua do Ouro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Sobre hidroxicloroquina, malária, Tucuruí e
outras bandidagens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Tailândia, um relato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
Tita, a sapeca de Cachoeira do Arari. . . . . . . . . . . . 102
Uns punhados sobre vida e prosa. . . . . . . . . . . . . . 107
Ver-o-Peso de minhas saudades . . . . . . . . . . . . . . 110
Ver-o-Peso – rascunhos de uma tarde de sábado. . . . . . 114
A encruza Santarém, Altamira e Marabá,para onde?? . . . 116
Esmeralda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Bar do Parque - entre anões, profissionais do
sexo e aposentados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
Cenas de Belém. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Diário de Bordo – Santarém-Marabá sob o
sol inclemente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
Iara, a menina que adora ler. . . . . . . . . . . . . . . . . 130
O autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
Rogerio Almeida 19
Esboço de
apresentação
Parte I
Trecho
Cabeça de porco
Travessões amazônicos
A viagem de Assis
Partida
KM 06 –
Destino –
“Minha vida é andar por este país. Pra ver se um dia descanso
feliz...”
Araguaia-Tocantins
Saque no trecho
Antônio do açaí
Santa Inês
Criança a bordo
São Luís
••••••••
Faz dois meses que Arigó luta com uma ferida no pé es-
querdo, na altura do tornozelo. Esporão de arraia o feriu ao
afrontar o rio Tapajós. Em tempo de seca do rio o cuidado
urge. É comum as arraias nas beiras. Os antigos ensinam que
é necessário zelo no caminhar, e, é aconselhado arrastar os pés
nos beirais dos rios. Desta forma, ao se deparar com o animal,
ele segue em fuga e não ataca o estranho visitante de sua mo-
rada. A tática reside em não pisar o bicho.
A dor é insuportável, contam os agraciados com o esporão.
Falam que dura mais de 24h. Arigó lembra que um colega faz
um mês que não consegue se locomover. Pelo fato de o amigo
não poder se deslocar, o cabra sente-se feliz em poder andar,
mas, tá aperreado com a demora na cura da ferida.
O machucado resulta de uma pescaria em praia de Bel-
terra, no Baixo Amazonas. O negro atarracado, de uns sessenta
verões é uma espécie de “faz-tudo” de um prédio recém-ergui-
do nas proximidades do Mercadão 2000, em Santarém. Arigó
acompanhou um estranho em praia de Belterra, quebrada que
Rogerio Almeida 57
Inusitado cotidiano
O natal de novembro
Docinho, obrigado!
78 Amazônia: crônicas sobre o trecho, bulinações e alguns afetos
Alenquer
Os “espertos” do trecho
Vou espiar o rio Tocantins, que nesta época do ano toma a ci-
dade. Respiro fundo. E sigo para o ponto de ônibus. Pego uma
espiga de milho verde. Matuto sobre as incertezas.
faz tudo que ele não gosta. “Ela pagou tatuagem para o meu
menino. Para eu ficar mais chateado, também bancou um brin-
co”, narra contrariado o “pé inchado”.
Na verdade o menino não é filho biológico. Trata-se de
um sobrinho. Pernambuco rememora que a irmã foi embu-
chada por um vocalista da banda de forró Mastruz com Leite.
“Minha irmã é negra do beiço virado. Não quis a criança e eu
fiquei”, recorda entre mais um punhado de lágrimas. Segundo
ele o rapaz de 21 anos faz faculdade.
Por conta das inúmeras quedas e toucas que comete por
conta do álcool, o filho balbuciou que tinha saudade quando ele
usava somente a pedra. Segundo Pernambuco, o menino disse
que ele fumava e dormia. Agora cai e dorme na rua, e o rapaz
tem de apanhá-lo. Pernambuco é filho da pequena Trindade.
Ex-distrito de Ararapina. “Olha, eu poderia tá bem. Minha
família é bem lá. Primos já foram prefeitos. Mas, não quero
voltar”, narra o migrante.
Quase meio dia. Os fregueses ganham o rumo. O bar fica
vazio. Carecão fecha para o almoço, e só abre segunda. Um aper-
to de mão sela a nossa despedida. Até outro retorno a Marabá. O
trindadense dá as costas e segue rumo a Transamazônica.
Prosa de Feira
Rua do Ouro
Tailândia, um relato
Homem, confesso
Vencido
Chorei
No Canela Fina, chorei
Tudo por conta do pé na bunda que levei
110 Amazônia: crônicas sobre o trecho, bulinações e alguns afetos
Esmeralda
Cenas de Belém
Parte II
Bulinações
Maldito professor
A menina dança
Brava travessura
Pano pouco
Vento do desassossego
A irmã do táxi
Parte III
Afetos
Alguém mandou
Delza 9.0
A Mira partiu
Não tinha nem pai nem mãe. Oscilou entre São Luís e
Belém. O Ver-o- Peso o aninhou. Assim se fez malandro. Indo
e voltando. Um doutor honoris em sobrevivência. Pouco mais
de um metro e setenta. Uns 90 quilos. Cabelos encaracolados.
Quase sempre em desalinho. Cantarolava samba de raiz sem
nunca completar uma letra.
Sempre usava camisa de manga comprida, apesar do calor de
Belém. Talvez para ocultar as cicatrizes das brigas em que se me-
teu. Era claro. E sempre andava armado com um lenço para enxu-
gar o suor que escorria da testa. Vendeu de tudo. Não sei se a alma.
Rogerio Almeida 165
Naqueles dias
Seis da manhã
Pomares
O autor
Nasceu sob o signo de Virgo em São Luís/MA. Desde
o fim da década de 1990 mora no estado do Pará, residin-
do em várias cidades, entre elas: Marabá, Belém, Ananindeua
e Santarém. A condição precária de trampo possibilitou que
ele conhecesse outras regiões do estado, a exemplo do Marajó,
Xingu e o Baixo Tocantins, e a delicada região do Bico do
Papagaio, na condição de prestador de serviços como educa-
dor ou como colaborador de ONGs. Além do Pará e estados
fronteiriços, conviveu com a garoa de São Paulo por um ano.
A lavra que ora se apresenta resulta destas andanças. Ao me-
nos, o que conseguir registrar e zelar ao longo dos anos. É
graduado em comunicação social (UFMA), possui mestrado
em planejamento do desenvolvimento (NAEA/UFPA), com
dissertação laureado com o Prêmio NAEA/2008, e doutorado
em Geografia Humana/USP. É professor do curso de Gestão
Pública e Desenvolvimento Regional, na Universidade Fe-
deral do Oeste do Pará (Ufopa). Gosta de samba, maracatu,
bumba meu boi e outros batuques.
Nos derradeiros dias tem empenhado esforços em pro-
dução de ensaios. Em 2022 foi laureado com menção honrosa
em concurso nacional do Instituto Moreira Salles (IMS), e um
segundo é finalista em concurso internacional promovido pela
Fundação Res Publica, Lisboa. Ambos possuem como foco a
Amazônia. Email: araguaia_tocantins@hotmail.com
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