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TEXTOS

FUNDAMENTAIS
DA LITERATURA
UNIVERSAL

Luara Pinto Minuzzi


Revisão técnica:

Gabriela Semensato Ferreira


Licenciatura em Letras
Mestrado em Letras

M668t Minuzzi, Luara Pinto.


Textos fundamentais da literatura universal / Luara
Pinto Minuzzi. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
206 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-172-3

1. Literatura universal. I. Título.

CDU 82-7

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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UNIDADE 3
O realismo: Flaubert e
uma nova composição da
realidade, Madame Bovary
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as características do Realismo e contrastá-las com as do


Romantismo.
 Relacionar a obra Madame Bovary com as características do Realismo
e com o contexto histórico de Flaubert.
 Analisar trechos do romance Madame Bovary.

Introdução
Gustave Flaubert escreveu um livro que causou uma grande comoção
na época da sua publicação. O escritor chegou a ser acusado na justiça
francesa por supostamente ter concebido um romance obsceno, que
ofendia a moral pública e os bons costumes. Esse romance era Madame
Bovary, de 1856.
Neste capítulo, você vai descobrir que história esse romance conta
e qual é o motivo de ele ter sido tão polêmico no século XIX. Também
vai relacionar essa obra e outras de Flaubert com as características do
Realismo, que serão contrastadas com as do Romantismo, escola artística
que veio logo antes.

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120 O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary

Flaubert e o Realismo francês


Gustave Flaubert nasceu em 1821 e morreu em 1880, na França. As obras
desse escritor são consideradas realistas. Mas você sabe exatamente o que é o
Realismo e quais são as suas características? O que faz de uma obra artística
seja uma pintura, um livro, uma escultura realista? Para você compreender o
que é o Realismo, é importante que conheça o contexto histórico no qual essa
escola artística surgiu e floresceu.
O Realismo teve início na segunda metade do século XIX, na França, e
se opôs ao Romantismo, escola que veio logo antes. No Romantismo, o foco
é o sujeito e a realidade não é tomada como algo objetivo: a realidade é sub-
jetiva, pois a interpretação dessa realidade vai depender de quem a observa.
Na literatura romântica, por exemplo, se um personagem está contente, vai
descrever uma natureza alegre, cheia de vida e de cores. Por outro lado, se ele
está sofrendo, a natureza vai acompanhar o seu estado de espírito, ganhando
contornos lúgubres, cores sombrias, aspecto de desolação.
No Realismo, esse subjetivismo é negado e a realidade exterior é tomada
como algo objetivo. A grande busca dos escritores realistas era a represen-
tação mais fiel possível do real. Se, no Romantismo, havia idealização, no
Realismo, esse idealismo é deixado de lado. Se for necessário apresentar
fatos e acontecimentos não muito agradáveis aos olhos do público, o artista
realista apresentará. Se a realidade for desagradável, é isso o que precisa ser
mostrado, porque é a realidade que tem de ser mostrada.

Apesar de esses movimentos apresentarem características opostas, é importante que


você compreenda que a divisão entre eles não é uma divisão precisa. A categorização
da arte em diferentes escolas, como o Romantismo, o Realismo ou o Naturalismo, é
uma forma de organizar a produção artística e de facilitar a nossa compreensão do
passado. No momento em que esses artistas viviam, por outro lado, esses limites não
eram tão estanques: muitos escritores Realistas, por exemplo, escreveram romances
românticos no início das suas carreiras.
Em períodos de transição entre uma escola e outra, igualmente conviviam artistas
com tendências realistas ou românticas. Portanto, não acredite que, quando começa
o Realismo, automaticamente acaba o Romantismo, ou que um escritor realista não
possa apresentar uma ou outra característica do Romantismo nas suas obras — as
coisas nunca acontecem de forma tão simples e fácil na realidade.

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Agora você vai analisar e comparar dois quadros. O primeiro quadro é


do pintor romântico inglês William Holman Hunt. O seu título já é bastante
revelador: “O pastor galante” (Figura 1). A pintura é de 1851. O segundo, uma
cena realista, foi pintado por Hubert von Herkomer, artista alemão, em 1885.
O seu nome é “Tempos Difíceis” — o que é igualmente sugestivo (Figura 2).

Figura 1. “O pastor galante”, William Holman Hunt.


Fonte: Pintura do romantismo (2017).

Figura 2. “Tempos Difíceis”, Hubert von Herkomer.


Fonte: Hubert von Herkomer (2009).

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122 O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary

As duas pinturas retratam locais semelhantes: o campo, um lugar afastado da


cidade. A forma de representar esse lugar, porém, é completamente diferente.
Você deve reparar no idealismo que cerca a primeira pintura, romântica: o
pastor não é qualquer pastor, mas um pastor galante, um pastor apaixonado,
aparentemente feliz com a sua amada. Além disso, ele não é um homem bruto,
mas uma alma delicada, que galanteia a jovem. As cores do quadro são alegres,
e os dois personagens parecem satisfeitos e felizes por estarem nesse contexto
simples, em meio à natureza e aos animais.
Já a segunda pintura, realista, retrata, como o título aponta, uma realidade
difícil. Pelas ferramentas deixadas no chão, no canto inferior da pintura, é
possível dizer que essas pessoas também trabalham no campo, como nosso
pastor galante. Aqui, contudo, elas estão tristes e parecem cansadas. Pelas
sacolas que carregam, provavelmente estão se mudando. Você pode pensar
no motivo dessa necessidade de mudança: eles possuíam terras e a seca os
obrigou a deixá-las? Trabalhavam para um fazendeiro que os demitiu? Os
personagens, provavelmente o pai, a mãe e o filho, ainda estão distantes uns
dos outros, como se já não tivessem forças para se ajudar. Apenas a criança
aparece quase atirada no colo da mãe, como que exaurida da caminhada. As
cores do quadro são mais apagadas, acompanhando o sentimento passado pelo
que é retratado. Nesse quadro, não há espaço para idealização: a realidade
nua e crua é apresentada.
A partir dessa pintura, você deve atentar para dois pontos: o contexto
histórico do final do século XIX e essa busca dos realistas por representar e,
até mesmo, copiar a realidade.
Primeiro, em relação ao contexto histórico, você já observou que a pintura
de Hubert von Herkomer mostra camponeses que estão se mudando para
algum outro lugar. Pelos seus semblantes, essa mudança não é positiva nem
foi motivada por uma escolha, mas, provavelmente, por uma necessidade ou
por uma obrigação.
Entre a metade do século XVIII e o início do XIX, havia ocorrido a Revo-
lução Industrial, primeiramente na Inglaterra, espalhando-se posteriormente
pela Europa. A produção artesanal foi substituída para uma produção com
máquinas, muito mais rápida e eficaz. Por outro lado, muitas pessoas perderam
os empregos, que foram substituídos pelo uso de maquinaria. Isso provocou
um enorme êxodo rural — talvez os camponeses da pintura façam parte desse
movimento do campo para as cidades. A diferença entre as classes também
aumentou: de um lado, havia poucas pessoas com muito dinheiro e, de outro,
muitas pessoas com pouquíssimo dinheiro.

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Eram esses fatos que o Realismo procurava retratar fielmente. Dessa forma,
você pode notar que esse movimento se preocupou bastante com as questões
sociais e possuía uma forte tendência à crítica dos valores estabelecidos: eles
criticavam a forma como a burguesia vivia; criticavam o casamento como
instituição; criticavam uma vida levada apenas pelas aparências e o artifi-
cialismo das relações; apresentavam, em contraste, a forma como as pessoas
mais humildes viviam.
Em segundo lugar, você precisa entender o que os realistas concebiam por
copiar a realidade. Nesse sentido, há um conceito que é chave para a compre-
ensão dessa questão: mimesis. Esse conceito é importante para a literatura desde
Aristóteles (2008), que explica, na sua obra Poética, que a mimesis é a represen-
tação do mundo sensível. Algumas palavras ou expressões que se relacionam
com a mimesis são mímica, imitação, representação ou ato de se assemelhar.
O teórico francês Antoine Compagon, na obra O demônio da teoria: li-
teratura e senso comum, explica a busca pela mimesis como a ambição dos
escritores de “[...] relatar de maneira cada vez mais autêntica a verdadeira
experiência dos indivíduos, divisões e conflitos opondo o indivíduo à expe-
riência comum” (COMPAGNON, 2006, p. 107). Nesse excerto, é importante
destacar os adjetivos autêntica e verdadeira para qualificar essa representação
da realidade ambicionada pelos realistas. Aqui, não conta tanto a forma como
o personagem se sente e como sente, consequentemente, o mundo ao seu
redor. O que conta mais é o que existe independentemente de opiniões e de
subjetivismos — o que conta é a realidade objetiva.
Nesse sentido, uma corrente filosófica foi bastante importante para a cons-
tituição do Realismo: o Positivismo. O Positivismo surgiu na França, no século
XIX, e os seus principais pensadores e idealizadores foram Augusto Comte e
John Stuart Mill. Para eles, o conhecimento científico é a única forma válida
de se conhecer a realidade. Eles se preocupavam em encontrar tendências e leis
para os fenômenos naturais e procuravam ser sempre o mais objetivo possível.
Dessa forma, você pode perceber as semelhanças entre o que os positivistas
afirmavam e a busca dos realistas pela representação fiel da realidade.
Se a realidade não é idealizada, os personagens dos textos literários ro-
mânticos igualmente não são. Assim, os protagonistas não são heróis solares e
imaculados — eles não são perfeitos e não possuem apenas sentimentos elevados
de bondade e amor pelo próximo. Eles são heróis problemáticos e complexos.
Eles também podem se constituir como seres insignificantes e medíocres. Tudo
depende de qual realidade é retratada no romance. Além do herói, a figura
da mulher, tomada como angelical no Romantismo, não é mais idealizada,
aproximando-se de possíveis mulheres reais, com qualidades e defeitos.

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124 O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary

O Realismo se manifestou em diferentes tipos de arte. Na pintura, vários


foram os que se destacaram ao tentar retratar a vida dura de algumas pessoas.
Os franceses Édouard Manet, Gustave Courbet (Figura 3) e Honoré Daumier
são alguns exemplos de pintores de destaque dessa época. Sobre o último,
é interessante referir que trabalhava como balconista em uma livraria, e as
pessoas que atendeu ao longo da vida serviram de inspiração para o seu tra-
balho como artista. Portanto, os retratados por Daumier são pessoas comuns,
das mais variadas origens.

Figura 3. “Os quebradores de pedras”, Gustave Courbert.


Fonte: Gustave Courbet (2017).

Na arquitetura e na escultura, também há alguns artistas e obras impor-


tantes. No teatro, destacam-se nomes como o do francês Alexandre Dumas,
com a obra A dama das Camélias; do norueguês Henrik Ibsen, com peças
como Casa de Bonecas e Espectros; do russo Máximo Gorki, autor de Ralé
e Os pequenos burgueses. A crítica ao casamento, à forma como a burguesia
vivia, ao tratamento dispensado às mulheres ou às pessoas pobres são alguns
dos temas das suas obras.
Na literatura, podem ser citados como importantes realistas europeus os
franceses Gustave Flaubert e Honoré de Balzac; o português Eça de Queirós e
o inglês Charles Dickens. No Brasil, o Realismo também foi muito importante,
e Machado de Assis, com os seus textos irônicos e críticos da sociedade da
época, é o expoente, ganhando fama e importância internacionais.
O romance Madame Bovary, de Flaubert, é considerado o marco do Rea-
lismo no século XIX. Nas suas cartas, endereçadas a amigos, você descobre o

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quanto ele colocava de esforço e trabalho em cada obra, escrevendo e reescre-


vendo cada texto inúmeras vezes. O seu desejo de perfeição e o seu trabalho
minucioso com a linguagem podiam lhe custar muito tempo e esforço, mas
resultaram em grandes obras para a posteridade. Agora você vai passar ao
estudo desse escritor e da sua obra.

A obra de Flaubert: Madame Bovary


Flaubert, como você já sabe, foi um dos mais destacados escritores do Realismo
(Figura 4). O seu pai era cirurgião-chefe em um hospital onde Flaubert e os
seus irmãos passaram muito tempo durante a infância. Já na época escolar,
Flaubert mostrou a sua tendência para a literatura. Ele dirigiu o semanário
da escola, cujo nome era “Arte e progresso” — aqui você já pode notar a se-
melhança com um dos lemas do Positivismo, “ordem e progresso”, e perceber
as influências do escritor.

Figura 4. Gustave Flaubert.


Fonte: Gustave Flaubert (2007).

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126 O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary

O escritor iniciou os estudos em Direito, mas não se interessou pelo assunto


e acabou desistindo do curso. Alguns dos seus amores renderam livros: Élisa
Schlésinger, paixão da adolescência, serviu de inspiração para, pelo menos, dois
romances escritos durante a sua juventude, Memórias de um louco e Novembro.
A sua vida, porém, foi dedicada à literatura e à escrita e reescrita das suas
obras. Entre as mais importantes, ao lado de Madame Bovary, encontra-se
Educação Sentimental. Flaubert iniciou a escrita dessa obra na década de
1840, mas a versão definitiva só foi publicada em 1869 — portanto, foram
quase 30 anos de trabalho em cima desse texto.

Figura 5. Ilustração da edição de 1905 de


Madame Bovary desenhada por Alfred de
Richemont.
Fonte: Madame Bovary (2017).

Já a escrita de Madame Bovary, o seu mais famoso romance, levou quatro


anos e meio e 3.831 folhas manuscritas para ser finalizado (Figura 5). O ro-
mance foi primeiramente publicado em partes na revista Revue de Paris, no
ano de 1956. Na história Emma Bovary, uma jovem bonita que deseja levar uma
vida igual à das histórias que lê nos seus livros românticos, casa-se com um
homem mais velho, Charles Bovary. O seu cotidiano ao lado do marido, que,
apesar de amá-la muito, não parece ter muitos atrativos aos olhos da mulher,

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é entediante e enfadonho. Esse tédio não é quebrado nem com o nascimento


da sua filha — para tentar escapar dessa situação, Emma inicia um caso com
Rodolphe e, depois, com o jovem Léon. Junto com os casos, Emma começa a
gastar dinheiro que não possui sem qualquer controle. Ao final do romance,
vê-se obrigada a pedir empréstimos para os amigos para pagar as dívidas junto
aos credores. Desesperada com toda a sua situação, a mulher comete suicídio.
Agora você deve tentar imaginar como esse romance foi recebido na época
da sua publicação, levando em consideração que se trata de uma mulher que
comete adultério em uma sociedade extremamente repressora. As pessoas
consideraram realmente um escândalo, e Flaubert foi, inclusive, parar na
justiça por causa da história de Emma — foi processado pela Sexta Corte
Correcional do Tribunal de Sena por ter tratado de temas tão contrários à
moral e aos bons costumes, como o adultério.
Aqui, portanto, você já pode perceber uma das características do realismo
discutidas anteriormente: a crítica social. Flaubert observou a sociedade na qual
vivia e transformou a sua visão crítica do casamento e da posição da mulher em
um romance. A personagem que dá nome à obra, Emma Bovary, também não
é aquela mulher idealizada do romantismo — apesar de a personagem ler os
livros românticos e desejar viver uma vida que nem a dessas narrativas. Emma
é uma mulher com problemas: o seu casamento não é bem aquilo com que ela
havia sonhado e, no lugar de tentar consertá-lo ou, até mesmo, terminá-lo, ela
tem relações extraconjugais. A jovem ainda gasta dinheiro descontroladamente,
um dinheiro que ela não possui. Apesar disso, Emma não é retratada como uma
pessoa má ou como o diabo em pessoa — ela é simplesmente humana.
Um comentário de Alfred Pinard, o advogado imperial que apresentou a
acusação contra Flaubert e contra Madame Bovary, a respeito da narrativa
do romance é muito revelador: “Sim, o sr. Flaubert sabe embelezar suas pin-
turas com todos os recursos da arte, mas sem a cautela da arte. Não há nele
nenhuma gaze, nenhum véu, é a natureza em toda a sua nudez, em toda a
sua crueza!” (PINARD apud FLAUBERT, 2010, p. 438). Como você já viu,
mostrar a realidade como ela é era justamente um dos objetivos do Realismo.
Se, para Pinard, ele estava tecendo uma enorme crítica ao romance, outros
veriam esses defeitos como grandes qualidades.
Há uma cena no romance muito famosa. Apesar de longa, vale a pena
lê-la, pois foi uma das passagens que mais causou furor entre as pessoas na
época da publicação. A “cena do fiacre”, como ficou conhecida, inclusive foi
cortada quando da publicação na revista. Flaubert a acrescentou novamente
quando publicou a narrativa em forma de livro. Observe o trecho atentamente
para compreender a causa de tanta comoção:

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128 O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary

— Aonde o senhor deseja ir? Perguntou o cocheiro.


— Onde você quiser! Disse Léon, empurrando Emma para dentro da
carruagem.
E a pesada máquina pôs-se a caminho.
Desceu a rua Grand-Pont, atravessou a praça des Arts, o cais Napoléon,
a Pont Neuf e deteve-se de repente diante da estátua de Pierre Corneille.
— Continue! Disse uma voz que saía do interior. O carro partiu novamente
e, deixando-se levar pelo declive a partir da encruzilhada La Fayette,
entrou a galope pela estação da estrada de ferro.
— Não, em frente! Gritou a mesma voz.
O fiacre saiu do portão gradeado e, tendo em breve chegado à alameda,
foi trotando suavemente no meio dos grandes olmos. O cocheiro enxugou
a testa, pôs o chapéu de couro entre as pernas e dirigiu a carruagem para
fora das alamedas laterais, à beira d’água, perto da relva.
Ela foi andando ao longo do rio, no caminho de sirga recoberto de calhaus
ásperos e por muito tempo pelos lados de Oyssel, mais além das ilhas.
Porém, repentinamente, lançou-se com um salto através de Quatremares,
Soteville, a Grande-Chaussée, a rua d’Elbeuf e parou pela terceira vez
diante do Jardin des Plantes.
— Vá em frente! Exclamou a voz com ainda maior fúria.
E retomando logo sua corrida, ela passou por Saint Sever, pelo cais dos
Curandiers, pelo cais dos Meules, mais uma vez pela ponte, pela praça
do Champs-de-Mars e atrás dos jardins do hospital, onde alguns velhos
de casaco preto passeavam ao sol ao longo de um terraço coberto por
heras verdes. Subiu novamente o bulevar Bouvreuil, percorreu o bulevar
Cauchoise, em seguida todo o Mont-Riboudet até a encosta de Deville.
Voltou; e então, sem direção nem destino, ela vagabundeou ao acaso. Foi
vista em Saint-Pol, em Lescure, no monte Gargan, na Rouge-Mare e na praça
do Gillard-bois; na rua Maladrerie, na rua Dinanderie, diante de Saint-Romain,
Saint-Vivien, Saint-Maclou, Saint-Nicaise, — diante da Alfândega, — na
Basse-Vieille — Tour, na Trois-Pipes e no cemitério monumental. De tempos
em tempos, o cocheiro, em seu assento, lançava olhares desesperados às
tabernas. Não compreendia que furor de locomoção levava tais indivíduos a
não quererem deter-se. Procurava fazê-lo, algumas vezes, e logo ouvia atrás
de si exclamações de cólera. Então fustigava ainda mais seus dois matungos
cobertos de suor, mas sem preocupar-se com os solavancos, esbarrando
ora aqui ora acolá, sem se preocupar, arrasado e quase chorando de sede,
de cansaço e de tristeza.

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O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary 129

E no porto, em meio aos carroções e aos barris, e nas ruas, nos marcos
das encruzilhadas, os burgueses esbugalhavam os olhos assombrados
diante daquela coisa tão extraordinária na província, uma carruagem com
os estores fechados e que aparecia assim continuamente, mais fechada
do que um túmulo e sacudida como um navio.
Uma vez, pela metade do dia, em pleno campo, no momento em que o sol
dardejava seus raios com maior força contra as velhas lanternas prateadas,
uma mão nua passou sob as pequenas cortinas de fazenda amarela e
lançou pedaços de papel, que se dispersaram no vento e caíram mais
longe como borboletas brancas num campo de trevos vermelhos floridos.
Mais tarde, pelas seis horas, a carruagem deteve-se numa ruazinha do
bairro Beauvoisine e uma mulher desceu, caminhando com o véu abai-
xado e sem virar a cabeça (FLAUBERT, 2010, p. 304-306).

Duas pessoas andando de carruagem. Qual é o problema? Por que o público


ficou tão chocado com essa cena?
A questão é que aqui importa muito mais o que não foi dito do que o que
está propriamente escrito. A cena descreve Léon e Emma entrando em uma
carruagem e a carruagem andando por quase um dia inteiro. Como sabemos
disso? O narrador não dá essa informação pronta, mas afirma: “uma vez, lá
pela metade do dia”, “quando o sol dardejava seus raios com maior força”.
Isso nos leva a crer que, ao meio dia, os dois já estavam andando pela cidade
dentro do fiacre. Depois, no último parágrafo, é dito ao leitor que a carruagem
finalmente para às seis horas da tarde. Portanto, pelo menos do meio-dia às
seis horas da tarde, Emma e Léon ficaram juntos dentro da carruagem.
Há outros dois aspectos que reforçam essa ideia do longo tempo no qual
os dois permanecem rodando com a carruagem. Um se constitui nas reações
do cocheiro: ele está cansado, sua, tem sede e fome. Ele olha com sofreguidão
para as tavernas, onde poderia matar um pouco da sede e da fome, mas os
seus passageiros não permitem paradas. Ele só está nesse estado por ter sido
obrigado a trabalhar por tantas horas seguidas.
O outro é a extensa lista dos locais por onde eles passam: Grand-Pont,
Quatremares, Soteville, Champs-de-Mars, Mont-Riboudet, Saint-Pol e o
bairro Beauvoisine são apenas alguns poucos exemplos dos lugares citados
no trecho. Pode até parecer um pouco cansativo essa enumeração de tantas
praças, monumentos e ruas, mas essa longa lista não está lá à toa, tem um
importante propósito — o de que o leitor tenha uma sensação similar à do
cocheiro, de exaustão, ou à das pessoas que observam esse fenômeno inusitado
em uma cidade pequena. Ela também evidencia o fato de Emma e Léon não

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estarem utilizando a carruagem para o seu propósito mais usual, que é o de


levar passageiros de um lugar para o outro. Na verdade, eles não estavam nada
preocupados para onde iriam e, por isso, León responde, logo no início, que
o cocheiro pode ir para onde bem entender. A sua única preocupação era a
de passarem tempo juntos.
Portanto, o narrador chama a atenção para três aspectos: o longo tempo
passado dentro da carruagem, o fato de ela estar completamente fechada, como
um túmulo, e o assombro causado nas pessoas que observam. Como os dois
amantes não tinham um lugar adequado para se encontrarem, optaram por
andar de carruagem durante todo um dia, a fim de terem um encontro amoroso.
Por isso eles precisavam de tempo, as cortinas estavam fechadas e os demais
ficam chocados. Tudo isso era demais para as convenções sociais da época.
Ademais, as respostas encolerizadas dos dois, quando o cocheiro faz menção
de parar, remetem para o desespero dos dois amantes em continuarem juntos.
Por fim, o narrador afirma que “uma mulher desceu, caminhando com o véu
abaixado e sem virar a cabeça”. Se Emma precisou descer com o véu cobrindo
a cabeça, é porque ela não desejava revelar a sua identidade, pois sabia que o
que havia feito não seria bem recebido pela sociedade.
Repare que Flaubert conseguiu dizer tudo isso de uma forma não explícita
— você precisa ler nas entrelinhas para descobrir. Em nenhum momento o
narrador deixa claro o que Emma e Léon estão fazendo na carruagem. Ele
apenas fornece dicas ao longo do trecho que levam o leitor a compreender o
que estava acontecendo. Claro, tudo isso somado às informações que você já
tinha: os dois eram amantes e o marido de Emma não poderia ficar sabendo
disso, o que os obrigava a se esconder.
Mesmo assim, essa cena foi considerada extremamente escandalosa. Apesar
de o narrador não falar, fica bastante óbvio o propósito da viagem dos amantes.
Além disso, você pode pensar que o fato de Flaubert não ter dito com todas
as letras que Emma e Léon estariam tendo um encontro amoroso seja ainda
pior, no sentido de que é a imaginação que precisa preencher as lacunas — e
a imaginação pode ir muito longe, talvez até muito mais longe do que o autor
inicialmente pensou.
Você deve atentar para um último aspecto desse trecho: em vez de descre-
ver a cena dos dois amantes com muitos detalhes, com declarações de amor
apaixonadas, com demonstrações de afeto por parte dos amantes, com beijos
desesperados, não nos é dito nada sobre isso. O leitor sabe por onde o fiacre
passou, por quanto tempo Léon e Emma permaneceram juntos e como o
cocheiro estava cansado. Não é dado destaque para os sentimentos dos dois e
para as suas subjetividades — opta-se por mostrar como essa cena é enxergada

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de fora, como os dois amantes escolheram a viagem de carruagem para evitar


chamar a atenção, mas como a sua escolha acabou virando todos os olhos
justamente para eles por conta da situação inusitada. A descrição do encontro
dos dois é quase seca, sem sentimentos arrebatados, como no Romantismo.
Agora você vai perceber como a contradição das expectativas de Emma
com a realidade da sua vida de casada criam o tom do romance. Primeiro, é
narrada a paixão da mulher pela literatura na sua juventude e todos os seus
sonhos construídos a partir dessas leituras:

Com Walter Scott, mais tarde, apaixonou-se por coisas históricas, sonhou
com arcas, salas da guarda e menestréis. Teria desejado viver em algum
velho solar como aquelas castelãs de longos corpetes que, sob o trifólio
das ogivas, passavam seus dias com o cotovelo apoiado na pedra e o
queixo na mão a olhar um cavaleiro de pluma branca, vindo do fundo
dos campos galopando um cavalo negro (FLAUBERT, 2010, p. 54-55)

O trecho segue enumerando ilustres mulheres nas quais Emma se inspi-


rava, como Joana d’Arc. Aqui, fica bastante claro o ideal de vida que a jovem
desejava: uma vida de princesa, com aventuras e atos heroicos, e com um
príncipe montado em um cavalo a combinar. Contudo, não é isso o que a
vida lhe concede, e a descrição de seu noivo, Charles, no dia do casamento,
já aponta para a futura decepção:

Charles não possuía temperamento brincalhão, não brilhara durante


o casamento. Respondeu de forma medíocre aos ditos picantes, aos
trocadilhos, às palavras de duplo sentido, cumprimentos e atrevimen-
tos que todos se consideraram obrigados a lançar-lhe a partir da sopa
(FLAUBERT, 2010, p. 45).

Charles não é exatamente um homem charmoso ou um príncipe encantado,


e a sua rotina não é cheia de surpresas e aventuras. Ela espera por convites
para bailes que nunca chegam e começa a se desesperar com a rotina, tendo
ataques nervosos:

Mas era sobretudo nas horas das refeições que ela não aguentava mais,
naquela pequena sala do andar térreo, com a estufa que fumegava, a
porta que rangia, os muros que transmudavam, as lajes úmidas; toda a
amargura da existência parecia-lhe servida em seu prato e, com a fumaça
do cozido, ela sentia do fundo de sua alma outras lufadas de enfado.

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132 O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary

Charles comia lentamente; ela mordiscava algumas avelãs ou, então,


apoiada no cotovelo, divertia-se fazendo, com a ponta da faca, alguns
riscos no oleado (FLAUBERT, 2010, p. 89).

Preste atenção na imagem criada aqui: como a rotina é o que leva Emma a
esse estado de apatia, o narrador diz que a sua amargura parecia ser servida no
prato e que, com a fumaça desse cozido de amargura, vinha o cheiro de mais e
mais enfado. Uma das coisas que mais marca a nossa rotina são justamente as
refeições e, portanto, até a comida se reveste de tédio aos olhos de Emma. Até
mesmo a lentidão de Charles ao comer e o brincar de Emma com a faca dão a
sensação de tédio. O leitor é contagiado por essa atmosfera de marasmo e de
tristeza. A decrepitude da casa também não é escondida ou amenizada — é
apresentada em toda a sua crueza ao leitor. Em outros trechos, o narrador ainda
descreve a situação a que chega Emma, sem cuidar de si mesma ou da casa,
sofrendo de distúrbios psicológicos e de um desespero sem fim.
Tudo isso, somado às dívidas que contrai e que não consegue pagar, levam
Emma ao suicídio. A cena da sua morte, após ter tomado veneno, também é
bastante crua:

Seu peito começou logo a arquear rapidamente. A língua saiu-lhe intei-


ramente da boca; os olhos, ao revirarem, tornavam-se brancos como os
globos de uma lâmpada ao se apagarem, a ponto de fazer com que a
julgassem morta, sem a assustadora aceleração das costelas, sacudidas
por uma respiração violenta, como se a alma desse saltos para soltar-se
(FLAUBERT, 2010, p. 401).

Essa não é uma morte tranquila e poética. É uma morte bastante terrível,
e o narrador não poupa o seu leitor dos detalhes mais horrorosos.
A história de Emma Bovary serviu como inspiração para inúmeras criações
artísticas posteriores. Só de produções cinematográficas, é possível contar
mais de cinco. As desventuras dessa personagem ainda foram analisadas
pelo filósofo francês Jules de Gaultier, que criou o termo “bovarismo” para se
referir a uma condição psicológica que torna o sujeito eternamente insatisfeito
com todos os aspectos da sua vida — exatamente como Emma em Madame
Bovary. É também por essa continuidade da obra ao longo do tempo que ela
é considerada um clássico.

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O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary 133

1. O Realismo foi um importante a) Essa é uma pintura realista,


movimento artístico e cultural porque procura retratar
do século XIX. Sobre ele, um tema cotidiano da
é correto afirmar que: forma mais fiel possível.
a) ficou restrito à literatura, pois b) É possível perceber, pelo
uma das suas marcas era a tema retratado, que o realista
crítica social e, nos livros, os gostava muito da natureza
escritores conseguiam fazer e se sentia conectado
isso muito bem com os seus com ela de forma total.
personagens e tramas. c) As cores alegres das
b) o conceito de mimesis foi frutas apontam para uma
bastante importante no idealização da natureza.
Realismo. Esse conceito se d) A representação de temas
relaciona com a cópia ou com simples e cotidianos aponta
a imitação da realidade. para uma das características do
c) O movimento teve início Realismo: o retorno às origens,
na Inglaterra, pois está como a infância, quando tudo
intimamente relacionado com era muito mais descomplicado.
a Revolução Industrial, que e) Os realistas pintavam
também começou nesse país. naturezas mortas, pois o seu
d) O Realismo foi um movimento lema era “arte pela arte”. Eles
que se opôs radicalmente ao não se preocupavam em
Romantismo, seu predecessor. retratar temas polêmicos ou
e) O movimento teve muita força em criticar a sociedade.
na Europa, mas não cruzou 3. Gustave Flaubert foi um dos
as fronteiras do continente. escritores realistas de maior
2. A pintura abaixo é de um pintor destaque. Sobre a sua vida,
realista francês, Gustave Courbet. é correto afirmar que:
Observe-a atentamente e a) os seus amigos ficavam
assinale a alternativa correta em espantados com a
relação à sua interpretação. rapidez com que Flaubert
escrevia as suas obras.
b) apesar de ter publicado
várias obras, Flaubert
começou a sua carreira de
escritor já na maturidade.
c) Flaubert chegou a iniciar
os estudos em Direito,
mas a sua vocação era
realmente a literatura. Logo
ele largou a faculdade.

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d) Flaubert não costumava usar assinale a alternativa correta.


elementos autobiográficos nas Havia, ao lado, batendo em todos
suas obras. Em compensação, os cantos, a miniatura que Emma
os seus personagens eram lhe dera; seu trajo pareceu-lhe
inspirados em pessoas pretensioso, e seu olhar de revés, do
que ele conheceu. mais lamentável efeito; depois, de
e) A obra de Flaubert não fez muito tanto observar a imagem e de tanto
sucesso na época em que foi evocar a lembrança do modelo,
publicada, sendo valorizada os traços de Emma pouco a pouco
apenas depois da sua morte. confundiram-se em sua memória [...].
4. Sobre um dos romances mais Pegando, então, em um punhado
famosos e mais importantes de cartas, ele divertiu-se durante
de Flaubert, Madame Bovary, alguns minutos em fazê-las cair em
é possível dizer que: cascata de sua mão direita para a
a) a história é narrada pela mão esquerda. Enfim, entediado,
personagem que dá nome entorpecido, Rodolphe recolocou a
ao romance, Emma Bovary. caixa no armário, dizendo a si mesmo:
b) Emma Bovary é uma jovem — Que monte de bobagens!...
que tem os pés no chão. A sua (FLAUBERT, 2010, p. 253)
principal preocupação é com a) O trecho deixa clara a paixão
a falta de dinheiro em casa, de Rodolphe por Emma: o
o que a deixa angustiada. homem pode passar tempos
c) o romance conta a história de apenas olhando para as
uma mulher infeliz no casamento, recordações do amor dos dois.
que procura a felicidade em b) O relacionamento entre um
um caso extraconjugal. Assim, homem e uma mulher é
é dado bastante enfoque aos descrito aqui sem qualquer
sentimentos arrebatados Emma. idealismo ou sentimentalismo.
d) Emma, a protagonista, é c) Nesse trecho, há uma
representada como uma mulher crítica à sociedade da
quase incorpórea, angelical. Esse época, que mostrava um
era o ideal feminino realista. sentimentalismo exacerbado
e) o romance causou muito ao guardar recordações
escândalo na época por de um relacionamento,
narrar a história de uma como cartas e presentes.
mulher que trai o marido. d) A miniatura que Emma deu
5. Analise o seguinte trecho de a Rodolphe é descrita em
Madame Bovary. Nele, o amante pormenor para mostrar ao leitor
de Emma, Rodolphe, abre uma o quanto ela é importante e
caixa onde guarda recordações significativa para o homem.
da moça, assim como de outras e) Rodolphe está entediado
amantes. A caixa contém cartas, e entorpecido, porque
mechas de cabelo, bonecas e está longe de Emma.
outros objetos. Após o analisar,

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O realismo: Flaubert e uma nova composição da realidade, Madame Bovary 135

ARISTÓTELES. Poética. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.


COMPAGNON, A. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Belo Horizonte:
UFMG, 2006.
FLAUBERT, G. Madame Bovary. São Paulo: Globo, 2010.
GUSTAVE COURBET. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
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HUBERT VON HERKOMER. In: Wikipédia. 2009. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Hubert_von_Herkomer_-_Hard_Times.JPG>. Acesso em: 12 ago. 2017.
MADAME BOVARY. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Madame_Bovary>. Acesso em: 12 ago. 2017.
PINTURA DO ROMANTISMO. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.
org/wiki/Pintura_do_romantismo>. Acesso em: 12 ago. 2017.

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esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
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