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FUNDAMENTAIS DE
FICÇÃO EM LÍNGUA
PORTUGUESA
Patrícia Hoff
Principais autores da
ficção brasileira
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Você conhece bem a literatura brasileira? Sabe apontar e caracterizar
os estilos de época que se sucederam nas nossas letras? Conhece a
produção literária de nossos grandes escritores? Sem dúvida, aprender a
fundo sobre tudo isso é um trabalho que exige muita leitura e a consulta
a inúmeras fontes.
Neste texto, você terá uma introdução a esses temas a partir do estudo
de um panorama da periodização da literatura brasileira e de aspectos
da vida e obra de alguns de nossos principais autores.
(Continuação)
Terceiro grupo:
Castro Alves, o poeta
dos escravos (Curralinho,
atual Castro Alves/BA,
1847 – Salvador/BA, 1871),
autor de Navio Negreiro.
(Continuação)
(Continuação)
(Continuação)
(Continuação)
Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis nasce na cidade do Rio de Janeiro em 21
de junho de 1839. Vive seus primeiros anos no morro do Livramento, filho do
pintor de paredes Francisco José de Assis (um mulato de pele muito escura,
descendente de escravos, mas de pai forro) e da açoriana Maria Leopoldina
Machado da Câmara (uma branca da ilha de São Miguel). Aos 16 anos, se
afasta da família e estreia oficialmente no mundo das letras com o seu primeiro
texto poético (“A palmeira”), publicado na Marmota Fluminense. A partir de
1855, Machado fixa sua carreira no ambiente urbano e passa a se consolidar
como um profissional da imprensa.
Nos anos 1920, ainda em Belo Horizonte, Drummond tem sua primeira
inserção significativa nas letras brasileiras. Contribui para a Revista de An-
tropofagia, na qual publica seu famoso poema “No meio do caminho”, em
julho de 1928 (ANDRADE, 1930):
nesse livro, além de “No meio do caminho”, poemas como “Poema de sete
faces”, “Quadrilha” e “Sentimental”. Já aqui surge o gauche drummondiano,
que irá percorrer toda a sua produção discorrendo com amargor, pessimismo,
ironia e humor sobre o que esse atento observador capta de si mesmo e das
coisas que o rodeiam.
As transformações do mundo ameaçado pela guerra e do Brasil fragili-
zado pela ditadura varguista repercutem na voz mais madura e preocupada
de Sentimento do Mundo, de 1940. Nesse conjunto de poemas, Drummond
observa as tensões cotidianas e se lança a novas dimensões temáticas: a po-
lítica e a social. Tais dimensões amadurecem em Rosa do Povo, de 1954, que
condensa a expressão da sua breve mas intensa militância esquerdista, que
buscava traduzir a esperança nascida da resistência do mundo livre à fúria
nazifascista. É uma expressão direta e transparente, como você pode ler nos
primeiros versos de “A flor e a náusea” (ANDRADE, 1989):
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasce em 7 de novembro de 1901,
no Rio de Janeiro. Órfã de pai e mãe, passa a infância no Rio junto à avó
materna, a viúva açoriana Jacinta Garcia Benevides. Desde cedo tem a vida
marcada pela solidão e pelo silêncio, que se refletem na sua requintada poesia
de ascendência simbolista. É considerada uma das grandes vozes poéticas da
língua portuguesa contemporânea, com seu nome comumente vinculado à
segunda geração do Modernismo brasileiro.
lança a alcunha “Pastora das nuvens”, que acompanha a poeta dali para frente
(MEIRELES, 1939):
Nos livros da década de 1940, como Vaga Música (1944) e Mar Absoluto
(1945), afloram a experiência da escritora nos países que visitou. Seus poe-
mas recebem, além da sabedoria ibérica e da identificação cultural europeia,
elementos do folclore mexicano e da mística de Gandhi.
Em Romanceiro da Inconfidência (1953) e Canções (1956), Cecília se
mantém atenta à riqueza do léxico e dos ritmos portugueses, de metros breves.
O Romanceiro da Inconfidência, em especial, constitui um livro singular na
produção ceciliana, no qual a perfeição formal se coloca a serviço do gosto
mais popular. A obra repropõe o motivo da civilização do ouro e dos dia-
mantes, contando a história de Minas, que vai dos inícios da colonização, no
século XVII, até a Inconfidência Mineira, revolta ocorrida em fins do século
XVIII na então Capitania de Minas Gerais. Os 85 poemas (enumerados como
“romances”), em grande parte dedicados ao destino dos heróis do levante
mineiro, evidenciam um eu lírico que se alinha ideologicamente ao lado do
oprimido contra o opressor, ao lado do povo escravo contra os governantes,
denunciando o sistema colonial que favorece a exploração dos desvalidos. Veja
alguns belos versos do “Romance XXIV ou Da Bandeira da Inconfidência”
(MEIRELES, 1965):
Cecília Meireles também fez uma saborosa contribuição à literatura infantil. Desse
espectro, Ou Isto ou Aquilo (1964) se destaca. O livro reúne poemas elaborados de um
modo que privilegia o olhar e os sentimentos da criança. Nos textos, Cecília aborda
a dificuldade de fazer escolhas, tanto em relação aos assuntos menores do cotidiano
quanto na dimensão mais ampla, dos caminhos da vida.
Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasce em 27 de junho de 1908, na cidade de Cor-
disburgo, Minas Gerais. Filho de um pequeno comerciante estabelecido na
Ainda que tenha o “sertão” de Minas como o ambiente de suas histórias, é um equívoco
tomar Rosa apenas pelo seu regionalismo. Nas palavras de Stegagno-Picchio (2004,
p. 605), “[...] além de ser um extraordinário inventor de linguagem, ele é também
inventor de histórias paradigmáticas apresentadas em roupagem regionalista, mas
que de repente se elevam à universalidade, revelando a sua natureza de apólogo e
fascinando o leitor.”. Em sua maciça obra, Rosa trata como assuntos muitas coisas da
“travessia” humana pela vida, esse trânsito pelas extremidades – entre a alegria do ser
e do conhecer e a angústia do não ser e do incognoscível.
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá
de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na vara, vai não
volta, vai varando...
Sertão é o sozinho
Algumas das ousadas combinações de som e de forma que recheiam a obra roseana,
entre termos e frases, são: essezinho, semblar, agarrante, maravilhal, gavioão, cavalanços,
deslei, desfalar, o ferrabrir dos olhos, a brumalva do amanhecer, a bala beijaflorou, os cavalos
aiando gritos, eu era um homem restante trivial, etc.
Clarice Lispector
Clarice Lispector nasce em 10 de dezembro de 1920, na cidade de Cheche-
lnyk, na então Ucrânia soviética. Nascida judia, sua família se vê obrigada
a emigrar em decorrência da perseguição econômica e cultural a judeus no
tempo da Guerra Civil Russa. Em 1922, ainda criança, vem para o Brasil
com os pais, que se estabelecem em Recife. Aos 14 anos de idade, em 1934,
se transfere com a família para o Rio de Janeiro, onde Clarice faz o curso
colegial. Em 1943, enquanto estuda direito no Rio, escreve o seu primeiro
romance, Perto do Coração Selvagem, que é recusado pela editora José
Olympio. Publica-o, no ano seguinte, pela editora A Noite e recebe pela obra
o Prêmio Graça Aranha. Ainda em 1944, vai com o marido, o diplomata
Maury Gurgel, para Nápoles, na Itália, onde Clarice trabalha em um hospital
da Força Expedicionária Brasileira. De volta ao Brasil, escreve O Lustre,
que sai em 1946. Depois de longas estadas na Suíça e nos Estados Unidos
e do nascimento de Pedro e Paulo, a escritora se separa do marido e se fi xa
de vez no Rio de Janeiro, indo morar com os filhos em um apartamento no
Leme. Começa a ganhar maior notoriedade a partir da publicação de A Maçã
no Escuro, de 1961, se tornando depois disso um dos nomes da literatura
nacional que mais têm atraído o interesse do público e da crítica nacional
e internacional.
Durante toda a sua obra, Clarice se mantém fiel às suas conquistas formais.
Segundo Bosi (2006, p. 452), a escrita clariceana tem por características o uso
intensivo da metáfora incomum, a entrega ao fluxo da consciência e a ruptura com o
enredo factual e cronologicamente linear. As personagens vivenciam a exacerbação
do momento interior, até o ponto em que a própria subjetividade é que entra em
crise. Mas Clarice vai além do nível psicológico, o qual opera na identificação
do eu com a realidade. Sem tal possibilidade de identificação, as personagens
clariceanas vivem continuamente no labirinto da memória e da autoanálise. Elas
são aprisionadas pela opacidade da linguagem, que torna impossível o equilíbrio
pleno entre o objeto e a sua representação, inclusive a representação do próprio ser.
Assim, a elevação da linguagem em Clarice adquire ares existencialistas, pondo as
coisas em perspectivas que vão além da realidade palpável, dando um salto para
o metafísico. Como exemplo, você pode considerar o emprego do verbo “ser” e
de construções sintáticas anômalas que obrigam o leitor a repensar as relações
convencionais praticadas pela própria linguagem. Observe o que Clarice escreve
no fim de A Paixão Segundo G.H. (LISPECTOR, c1964):
ALECRIM, M. A confusão na família de Cecília Meireles. IstoÉ, São Paulo, 16 dez. 2011.
Disponível em: <http://istoe.com.br/183103_A+CONFUSAO+NA+FAMILIA+DE+CEC
ILIA+MEIRELES/>. Acesso em: 08 jun. 2017.
ANDRADE, C. D. A rosa do povo. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 1989.
ANDRADE, C. D. Alguma poesia. [S.l.]: Pindorama, 1930.
ASSIS, M. Ressurreição. Rio de Janeiro: Garnier, 1905.
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 43. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
ESTANTE VIRTUAL. João Guimarães Rosa. Rio de Janeiro, c2017. Disponível em: <https://
www.estantevirtual.com.br/autor/joao-guimaraes-rosa>. Acesso em: 08 jun. 2017.
FEIX, G. Este livro gratuito conta a história de 18 brasileiras incríveis. São Paulo: M de
Mulher, 2017. Disponível em: <http://mdemulher.abril.com.br/cultura/livro-gratuito-
-a-memoria-feminina/>. Acesso em: 08 jun. 2017.
JOBIM, J. L.; SOUZA, R. A. Iniciação à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Téc-
nico, 1987.
LISPECTOR, C. A maçã no escuro. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Álvaro, 1970.
LISPECTOR, C. A paixão segundo G.H.: romance. Rio de Janeiro: Rocco, c1964.
LISPECTOR, C. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
LIVRARIAS CURITIBA. Escritoras brasileiras do século XIX vol II: Edunisc. Curitiba, c2017.
Disponível em: <http://www.livrariascuritiba.com.br/escritoras-brasileiras-do-seculo-
-xix-vol-ii-edunisc-lv269153/p>. Acesso em: 08 jun. 2017.
LOJA DO IMS. [Uma pedra no meio do caminho]. Rio de Janeiro, c2017. Disponível em:
<http://lojadoims.com.br/ims/imscapas/28180221.jpg>. Acesso em: 08 jun. 2017.
MAGNANI, G. Cronos da crônica; Machado de Assis | estréia. [S.l.]: Literatortura, 2012.
Disponível em: <http://literatortura.com/2012/06/cronos-da-cronica-machado-de-
-assis-estreia/>. Acesso em: 08 jun. 2017.
MEIRELES, C. Mar absoluto: e outros poemas. Porto Alegre: Globo, 1945.
MEIRELES, C. Nunca mais... e poema dos poemas. São Paulo: Global, 2015.
MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Letras e Artes, 1965.
MEIRELES, C. Viagem: poesia. Lisboa: Império, 1939.
PENSADOR. [Carlos Drummond de Andrade]. Matosinhos: 7Graus, c2005-2017. Disponível
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ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
ROSA, J. G. Primeiras estórias. 50. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2011.
ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
STEGAGNO-PICCHIO, L. História da literatura brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2004.
Leituras recomendadas
MUZART, Z. L. (Org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. Florianópolis: Mu-
lheres, 1999-2004. 2 v.
VERISSIMO, E. Breve história da literatura brasileira. São Paulo: Globo, 1995.