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Universidade Federal do Ceará

Curso: Letras - Língua Portuguesa


Disciplina: Literatura Portuguesa I
Discente: Marcelo Andrade da Silveira Júnior
Docente: Geraldo Augusto Fernandes
Data: 04/12/2023

ATIVIDADE — BARROCO:

PARTE I
1. Quando e como tem início o Barroco português?
Em Portugal, o Barroco floresceu em um momento singular, permeado pela
colonização do Brasil e pelos conflitos contra os holandeses, ávidos por conquistar
territórios sob o domínio lusitano. A União Ibérica, em conjunto com as contendas
espanholas e a Guerra de Restauração, agravou ainda mais as dificuldades enfrentadas
pelo país, resultando numa profunda crise econômica, política e social.

Durante essa conjuntura, Portugal encontrava-se sob o jugo espanhol, batalhando


fervorosamente por sua independência, a qual somente foi reconquistada em 1640. Em
um contexto mais abrangente, toda a Europa vivenciava uma transição de paradigmas,
entre o humanismo renascentista e o medievalismo religioso.

Um acontecimento marcante nesse período foi o falecimento de Camões em 1580,


quando Portugal passou a ser dominado pela Espanha, situação que se prolongou por
seis décadas.

O Barroco em Portugal, assim como em outros países, constituiu-se como uma


expressão artística que espelhava as tensões e as transformações sociais, políticas e
religiosas da época. Essa corrente estética primou por uma complexidade fascinante,
enaltecendo a profusão de detalhes, a exuberância e os contrastes notáveis. Temas
como a efemeridade da vida, o conflito entre o sagrado e o profano, a dualidade
intrínseca do ser humano e a transitoriedade do poder foram amplamente explorados,
conferindo uma identidade única a essa manifestação artística.

2. Quando termina?
A era Barroca termina em 1756, ano em que foi fundada a Arcádia Lusitana,
marcando o surgimento do Arcadismo ou Neoclassicismo literário, caracterizado por
um retorno aos valores e referências da antiguidade greco-romana.

3. Qual a origem do Barroco português (e europeu?)


O Barroco teve origem no contexto histórico e cultural da Europa, especialmente no
século XVII. O termo "barroco" vem da palavra portuguesa "barroco", que significa
"pérola irregular". Essa noção de irregularidade e exuberância estética também se
reflete na literatura barroca.
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O Barroco teve início na Itália, durante o final do século XVI, e se espalhou por outros
países europeus, incluindo Portugal. Na Itália, um dos principais marcos da Literatura
Barroca foi a publicação do poema épico "A Jerusalém Libertada" (Gerusalemme
liberata), de Torquato Tasso, em 1581. Essa obra incorporou elementos como a emoção
intensa, o jogo de contrastes e a grandiosidade retórica, que se tornaram características
do Barroco.

O Barroco português foi influenciado principalmente pelo Barroco espanhol e italiano,


assim como ocorreu nas outras formas de expressão artística. Os escritores portugueses
da época buscaram adaptar essas influências ao contexto e a sensibilidade lusitana,
criando uma produção literária singular.

Um dos principais representantes do Barroco literário em Portugal foi Padre António


Vieira. Ele ficou conhecido por seus sermões, que abordavam temas religiosos e
políticos com uma linguagem rebuscada, cheia de metáforas, antíteses e figuras de
linguagem elaboradas. Os sermões de Vieira são considerados uma das maiores
realizações da prosa barroca em língua portuguesa.

4. Quais os poetas mais influentes do Barroco espanhol?


No Barroco espanhol, os poetas mais influentes foram Quevedo, Góngora, Cervantes,
Lope de Vega, Calderón, Tirso de Molina, Gracián e Mateo Alemán. Esses escritores
contribuíram significativamente para a literatura do século XVII, e seu trabalho foi
assimilado pelo resto da Europa a partir da segunda metade do século XVI.

Podemos destacar também que, no Barroco português, alguns dos poetas mais
influentes foram Padre Antônio Vieira, Padre Manuel Bernardes, Francisco Manuel de
Melo, Francisco Rodrigues Lobo, Sóror Mariana Alcoforado e Antônio José da Silva.
Os poetas portugueses contribuíram para a literatura barroca em Portugal, cada um
com seu estilo e temáticas específicas, enriquecendo a tradição literária do país nesse
período.

5. Quais os dois modos de conhecimento desenvolvidos durante o Barroco?


Explique resumidamente cada um deles.
O cultismo (gongorismo) e o conceptismo (quevedismo).

Em suma, o cultismo, também chamado de gongorismo, caracteriza-se pela valorização


da forma e da imagem poética, explorando recursos como o jogo de palavras, o uso de
metáforas, hipérboles, analogias e comparações. Esse estilo do Barroco busca expressar
a angústia e a inquietação diante da falta de fé, revelando-se como uma manifestação
complexa e elaborada.

Por outro lado, o conceptismo, ou quevedismo, destaca-se pela valorização do conteúdo


e dos conceitos. Por meio de um raciocínio lógico e agudo, promove o jogo de ideias,
utilizando-se da parábola com uma finalidade mística e religiosa. O conceptismo
explora as questões filosóficas e existenciais, buscando transmitir uma mensagem
profunda por meio de uma forma literária sofisticada.

PARTE II
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1. Leia o poema abaixo e responda às questões:

FRANCISCO RODRIGUES LOBO (1579-1621)


Dedicou-se a vários tipos de poesias, como a Lírica, com redondilhas, sonetos e
epístolas de influência clássica. Escreveu várias novelas pastoris como: A Primavera, O
Pastor Peregrino e O Desenganado. É considerado um continuador de Camões, Sá de
Miranda e Bernardim Ribeiro, ou seja, como se estivesse dando continuidade ao trabalho
deles.

Fermoso Tejo meu, quão diferente


Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente


A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente!

Já que somos no mal participantes,


Sejamo-lo no bem. Oh, quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!

Mas lá virá a fresca Primavera:


Tu tornarás a ser quem eras dantes,
Eu não sei se serei quem dantes era.

a) Qual a forma, a métrica e o esquema rimático do poema?


O poema é um soneto, cuja métrica segue o padrão tradicional em português, com versos
decassílabos. O esquema rimático utilizado é ABBA ABBA CDC DCD.

b) Na 1ª estrofe, o poeta usa um recurso musical na repetição de fonemas. Que


recurso é esse. Demonstre copiando as palavras.
Na 1ª estrofe, o poeta usa um recurso musical na repetição de fonemas. Que
recurso é esse. Demonstre copiando as palavras.
O recurso musical utilizado pelo poeta na repetição de fonemas é a aliteração. Ele
repete os fonemas /v/ e /t/ nas palavras "vejo", "vi", "vês", "viste", "vejo",
"triste", "vi", "vista" e "viver".

c) Qual a figura retórica mais usada pelo poeta?


A figura retórica mais utilizada pelo poeta é a antítese, que consiste em apresentar ideias
contrastantes. Por exemplo, as oposições entre "Turvo te vejo a ti, tu a mim triste" e
"Claro te vi eu já, tu a mim contente"; e também entre "Já que somos no mal
participantes" e "Sejamo-lo no bem".

d) O soneto enquadra-se no cultismo ou conceptismo?


Cultismo.

e) Qual o tema do soneto?

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O tema do soneto pode ser interpretado como a passagem do tempo e as mudanças que
ocorrem tanto no ambiente natural (representado pelo rio Tejo) quanto na vida do eu
lírico.

f) Qual seu conteúdo?


A relação entre o eu lírico e o Rio Tejo. Através de uma linguagem lírica e melancólica, o
poeta expressa uma profunda reflexão sobre a passagem do tempo e a transitoriedade da
vida.

O Rio Tejo, símbolo poderoso e imponente da natureza, personifica a dualidade da


existência humana. No primeiro verso, o eu lírico ressalta a diferença entre a visão atual e
a lembrança do passado. O rio, antes límpido e claro, é agora turvo e sombrio. Essa
mudança é contrastada com a perspectiva do eu lírico, que antes se encontrava contente,
mas agora está triste.

A metáfora da "grossa enchente" que altera a natureza do rio pode ser interpretada como
uma metáfora da passagem do tempo e das mudanças inevitáveis que ocorrem na vida.
Assim como o Tejo sofre transformações, o eu lírico também é afetado por experiências
que modificam sua visão de mundo. O poeta expressa a nostalgia de um passado mais
sereno e, ao mesmo tempo, a incerteza em relação ao futuro.

Nesse contexto, a expressão "Já que somos no mal participantes, / Sejamo-lo no bem"
revela uma busca por equilíbrio e esperança. O poeta reconhece que tanto ele quanto o rio
são afetados pelas adversidades da vida, mas deseja que ambos possam compartilhar
também momentos de felicidade. Há uma aspiração por uma harmonia entre o ser humano
e a natureza, uma união na experiência do bem.

O poema encerra-se com a menção à "fresca Primavera", símbolo de renovação e


esperança. O Rio Tejo pode recuperar sua antiga beleza, mas o eu lírico não tem certeza se
ele próprio será capaz de recuperar a serenidade e a identidade perdida.

Em suma, o trata da transitoriedade da vida, das mudanças inevitáveis e das flutuações


emocionais que afetam tanto o indivíduo quanto a natureza. O poeta expressa a melancolia
diante dessas transformações, mas também busca encontrar um equilíbrio e uma conexão
entre o eu lírico e o mundo ao seu redor. É um convite à reflexão sobre a efemeridade da
existência e a busca por uma harmonia interior em meio às constantes mutações.

2. Leia o poema abaixo e responda às questões:

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SÓROR VIOLANTE DO CÉU (1602-1693)
Era uma mulher com uma sensibilidade especial, que caminhou ao lado de uma das
maiores vozes da Literatura feminina de seu tempo Sóror Mariana Alcoforado. Com 28
anos entrou para um convento dominicano de N.S. da Rosa produziu a poesia profana,
passional e ardente que tinha imagens sutis, que de momento era de difícil compreensão,
mas de grande força dramática e lírica.

Amor, se uma mudança imaginada


É com tanto rigor minha homicida,
Que fará, se passar de ser temida,
A ser, como temida, averiguada?

Se só por ser de mim tão receada,


Com dura execução me tira a vida,
Que fará, se chegar a ser sabida?
Que fará, se passar de suspeitada?

Porém, já que me mata, sendo incerta,


Somente o imaginá-la e presumi-la,
Claro está, pois da vida o fio corta.

Que me fará depois, quando for certa,


Ou tornar a viver para senti-la,
Ou senti-la também depois de morta.

a) Qual a forma, a métrica e o esquema rimático do poema?

O poema é um soneto, cuja métrica segue o padrão tradicional em português, com versos
decassílabos. O esquema rimático utilizado é ABBA ABBA CDE CDE.

b) Na 3ª estrofe, a poeta usa “o fio corta”. A que passagem mitológica a poeta pode
estar se referindo?
A poeta pode estar se referindo a passagem mitológica que retrata a presença
simbólica das Moiras (ou Parcas), aquelas que, de acordo com a tradição, controlam
o curso da vida humana. Essa referência evoca a imagem da Moira que, com seu
gesto sagrado, corta o fio da existência no momento preciso da morte. Nesse sentido,
a poeta contempla a figura mítica que, com seu poder inescrutável, determina o
destino de cada indivíduo e decide o momento derradeiro em que a jornada terrena
chega ao seu fim.

c) O soneto enquadra-se no cultismo ou conceptismo?


O soneto apresenta características mais próximas do cultismo. Há um cuidado com a
forma e a expressão poética refinada, com uso de imagens sutis e jogos de palavras,
explorando a linguagem de maneira elaborada.

d) Qual o tema do soneto?


O tema principal do soneto é o amor e suas consequências, que podem ser tanto
devastadoras, ao infligir sofrimento extremo, quanto dotadas de uma força dramática e
lírica incomparável. A poetisa explora as diversas facetas do sofrimento provocado pelo
amor e reflete sobre o poder desse sentimento em afetar tanto a vida quanto a morte.

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e) Qual seu conteúdo?
A poeta inicia questionando as consequências de uma mudança imaginada em seu amor.
Ela retrata essa mudança como uma assassina impiedosa, capaz de despertar temores
profundos em seu coração. A incerteza é apresentada como um fator sufocante, capaz de
tirar-lhe a própria vida. A medida que a suspeita se transforma em conhecimento concreto,
a poetisa nos leva a refletir sobre o que ocorrerá quando a verdade se tornar inescapável.

A dualidade entre o medo e a inevitabilidade é explorada de forma magistral. A poeta


compreende que mesmo a mera imaginação da mudança amorosa já lhe causa uma morte
em vida, um corte no fio da existência. Ela indaga sobre o que ocorrerá quando a certeza se
estabelecer: se voltará a viver para experimentar essa certeza dolorosa ou se, mesmo após
a morte, continuará a sentir sua presença marcante.

A poeta aborda a intensidade das emoções amorosas e a angústia que acompanha a


incerteza e a possibilidade da perda. Ela mergulha no dilema entre a vida e a morte,
explorando as nuances da experiência amorosa em toda a sua complexidade.

3. Leia o poema abaixo e responda às questões:

FRANCISCO MANUEL DE MELO - (1608-1666)

Nasceu em Lisboa de família nobre no dia 23 de Novembro de 1608. Começou muito novo
a frequentar a corte, cursou Humanidades no Colégio de Santo Antão e dedicou-se ao
estudo da Matemática, pois pensava seguir a carreira das armas. Militou na Marinha e,
depois de um naufrágio que sofrera, estabeleceu-se na corte de Madrid. Em 1639 comandou
um regimento na Flandres e lutou contra os Holandeses. Em 1641, encontrando-se em
Londres, aderiu à causa da independência em Portugal, regressando ao reino onde, depois
de receber a comenda da Ordem de Cristo, é acusado e preso por conivência no assassinato
de Francisco Cardoso. Será na prisão que escreverá as suas melhores obras. É considerado
um dos mais importantes autores do Barroco em Portugal. Escreveu em português e
castelhano.

Eis aqui mil caminhos: Porventura


Qual destes leva a gente ao povoado?
Todos vão sós: só este vai trilhado;
Mas se, por ser trilhado, me assegura?

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Não: que desd'o princípio há que lhe dura
Do erro este costume, ao mundo dado;
Ser aquele caminho mais errado,
O que é de mais passage e fermosura.

Em fim não passarei, temendo a sorte?


Também, tanto temor é desconcerto:
A quem passar avante, assi lhe importe.

Que farei logo, incerto em mundo incerto? –


Buscar nos Céus o verdadeiro Norte,
Pois na terra não há caminho certo.

a) Qual a forma, a métrica e o esquema rimático do poema?

O poema é um soneto; sua métrica segue o padrão tradicional do soneto em português, com
versos decassílabos. O esquema rimático é ABBA ABBA CDC DCD.

b) Interprete o conteúdo do poema.


O eu lírico se encontra diante de uma encruzilhada simbólica, representada pelos "mil
caminhos", e se questiona sobre qual deles leva ao destino desejado, ao "povoado"
almejado. O eu lírico observa que todos os caminhos se apresentam desprovidos de
companhia, exceto um que já foi trilhado por outros. No entanto, ele hesita em confiar na
segurança que o caminho já percorrido pode oferecer. Existe uma desconfiança em relação
as escolhas estabelecidas, pois reconhece-se que esse costume de seguir caminhos já
conhecidos é uma prática arraigada no mundo, mesmo que seja o mais errado, mas
possuindo uma aparência sedutora.

Surge então uma dúvida na mente do eu lírico: deveria evitar arriscar-se e permanecer
onde está, com receio do que a sorte possa lhe reservar? Porém, o poeta percebe que esse
medo excessivo é um desequilíbrio emocional, que não conduz a uma resposta concreta.
Assim, é apresentado o questionamento crucial: diante da incerteza que permeia o mundo,
qual será o melhor curso de ação?

A resposta proposta pelo eu lírico é buscar a orientação no céu, simbolizando uma busca
por algo maior e transcendental. A verdadeira direção a seguir não pode ser encontrada na
terra, pois não há um caminho certo e definido. A ideia é que é preciso buscar orientação
em princípios mais elevados, em valores espirituais e universais, a fim de encontrar uma
rota verdadeira e significativa na existência.

c) O soneto enquadra-se no cultismo ou conceptismo?


O soneto enquadra-se mais no conceptismo. O eu lírico utiliza uma reflexão filosófica sobre
os caminhos da vida e a incerteza do destino. Não há tanto foco no jogo de palavras
elaborado ou na linguagem requintada típicos do cultismo.

d) Qual o tema do soneto?


A incerteza da vida e a busca por um caminho verdadeiro. O eu lírico reflete sobre as
várias opções de caminhos disponíveis e a dúvida sobre qual deles seguir para alcançar seu
destino desejado.
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