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CRIATIVIDADE
Abril/2019
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APRESENTAÇÃO DOS AUTORES
DANIELA VILARINHO-REZENDE
Possui graduação em Psicologia pela Universidade de Brasília (1985), mestrado em Psicologia pela
Universidade de Brasília (1990), doutorado em Psicologia Educacional pela University of
Connecticut (1999). Realizou pós-doutorado no National Academy for Gifted and Talented Youth
(University of Warwick) (2005) e na Universidade do Minho (2014). Atualmente é professora
titular do Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília. É orientadora de mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação
em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde. Foi professora visitante na University of
Connecticut, em 2009, e realizou estágio sênior na Universidade do Minho, em Portugal, nos anos
de 2009 e 2012. É membro do Executive Committee of the World Council for Gifted and Talented
Children, do Conselho Técnico-científico da Rede Ciência para Educação (CpE) e pesquisadora do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1967), mestrado em
Psicologia - Purdue University (1970) e doutorado em Psicologia - Purdue University (1974). Foi
post-doctoral scholar no Gifted Education Resource institute, Estados Unidos. É professora emérita
da Universidade Brasília, cidadã honorária de Brasília, representante do Brasil no World Council
for Gifted and Talented Children e membro honorário do Conselho Brasileiro para Superdotação.
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Autora de numerosos publicações, incluindo livros, capítulos de livros e artigos em periódicos
especializados de diferentes países. Foi, entre outros: coordenadora do Comitê Assessor de
Psicologia do CNPq; representante do Brasil na Sociedade Interamericana de Psicologia; presidente
da Associação Brasileira para Superdotados (DF); membro da diretoria da Logos Foundation
(USA); professora da Faculdade de Medicina da UFMG e da Universidade Católica de Brasília;
secretária de publicação da revista Psicologia, Ciência e Profissão; editora da revista Psicologia:
Teoria e Pesquisa e editora convidada da Gifted Education International; vice-presidente da
Federação Ibero-Americana do Conselho Mundial para o Superdotado e Talentoso. Participa do
conselho editorial de periódicos científicos de distintos países
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educação. É membro da Associação Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento – ABPD e da
Rede ALAPSIDE – Rede Latino-americana de Psicologia do Desenvolvimento. Participa do
Laboratório de Psicologia Cultural - LABMIS, compondo um grupo de pesquisa do CNPq nesta
área. Desde 2014 vem colaborando como pesquisadora convidada no International Centre for the
Cultural Psychology of Creativity (ICCPC) e no Centre for Culture Psychology, ambos na
Universidade de Aalborg - Dinamarca. A partir de 2017 iniciou parceria de pesquisa com a Webster
University – Genebra – Suíça, junto ao professor Vlad Petre Glaveanu. É pesquisadora associada
no Webster Center for Creativity and Innovation (WCCI). Faz parte do GT Psicologia
Dialógica da ANPEPP.
SOLANGE WECHSLER
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Scholar (Estados Unidos), Personalidad Destacada en las Artes y Ciencias (Venezuela),
Distinguished International Psychologist (Estados Unidos), Honra ao Mérito em Psicologia Escolar
e Menção de Honra em Avaliação Psicológica (Brasil) e Professora Honorária da Universidad
Nacional Federico Villareal (Peru). Participa na diretoria da International Testing Commission
como representante do países Ibero-Latinos. Exerceu o cargo de vice-presidente da Associação
Brasileira de Psicologia Positiva. Presidiu o I e o II Congresso de Criatividade e Inovação. É editora
chefe da revista Estudos de Psicologia (Campinas). Dirige o Laboratório de Avaliação e Medidas
Psicológicas na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
TATIANA NAKANO
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criatividade e editor de três handbooks internacionais, a saber: (1) The Palgrave
Handbook of Creativity and Culture Research (editor, Palgrave, 2016); (2) the Oxford
Handbook of Imagination and Culture (Oxford University Press, 2017, co-editado com
Tania Zittoun), e (3) The Cambridge Handbook of Creativity Across Disciplines
(Cambridge University Press, 2017, coeditado com James C. Kaufman and John Baer).
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SUMÁRIO
Introdução
Mônica Souza Neves-Pereira e Denise de Sousa Fleith 7
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INTRODUÇÃO
modo significativo nas últimas sete décadas. Desde o famoso discurso proferido por
a criatividade receberam apoio institucional de peso que terminou por surtir efeitos
contextos culturais. Uma visão histórica da pesquisa em criatividade (Runco & Albert,
2010) sinaliza como foram criativos os esforços investidos na pesquisa e produção teórica
Hoje, o cenário é diverso. Para além dos pioneiros, com suas pesquisas e propostas
pesquisadores com ideias igualmente criativas e que se espalham, no presente, por todos
fenômeno criativo, com trabalhos elaborados por estudiosos de diversos países. Em sua
última edição (Glaveanu, 2016), o The Palgrave Handbook of Creativity and Culture
EUA, Canadá, Itália, Dinamarca, Finlândia, França, Inglaterra, Suíça, Holanda, Polônia,
Antioquia, Turquia, Austrália, Índia e Singapura. Esse cenário tão diversificado reflete os
esforços iniciais da pesquisa em criatividade e mostra que a área tem potencial para se
desenvolver ilimitadamente.
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Ao consideramos os esforços dos pioneiros na área e as novas contribuições que
para que, no presente e no futuro, os interessados pela área possam compreender quais
convergências entre estes modelos, e, principalmente, qual o estado da arte das teorias
sobre a criatividade.
A palavra teoria tem origem dupla. Em sua versão grega, teoria (Theoreîn)
significa “olhar através de”. Aquele que olha é denominado Theorós (Dicionário
esquema mental, especulação, olhar para algo (Dicionário Etimológico). Não importa
qual a origem, a palavra teoria remete à ideia de alguém observando algo através de uma
determinada janela. Ao abrir-se uma janela para olhar determinado fenômeno, faz-se isso
a partir de posições particulares que permitem uma visão específica a partir deste local.
Se abrirmos outra janela em posição oposta à inicial, a visão será diferente. Essa segunda
que, certamente, será algo bem diferente. Nas ciências humanas, a multiplicidade teórica
ao longo de um curso de vida, não pode ser explicado apenas por um único olhar. Faz
tempo que se advoga uma psicologia plural, que se abra para as profundas diferenças
entre os homens, porém sem perder suas regularidades como espécie. Esse desafio se põe
também para a psicologia da criatividade que, como outras áreas da psicologia, vem
(Valsiner, 2017).
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O livro Teorias da Criatividade objetiva apresentar, mesmo que em escala
clássicos, como teorias emergentes. É um livro com uma proposta inédita em língua
portuguesa, uma vez que não temos, ainda, nenhum material impresso ou publicado com
essa finalidade. Vamos apresentar seis modelos teóricos sobre o fenômeno criativo que
representam muito bem a pesquisa na área. Esforços deste tipo já foram realizados em
psicologia. Kozbelt, Beghetto e Runco (2010) discutem vários modelos teóricos sobre a
(b) psicométricas, (c) econômicas, (d) modelo de estágios e processos componenciais, (e)
cognitivas, (f) problem solving, (g) problem finding, (h) evolucionárias, (i) tipológicas e
(j) teorias de sistemas. Este capítulo aprofunda uma discussão comparativa e traz uma
criativo, decidimos escrever este livro que traz modelos relevantes e que vem orientando
aspectos peculiares a cada teoria. Uma teoria é sempre matizada pela história de quem a
2017). De certa forma, sempre há traços autobiográficos dos autores em suas teorias,
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especialmente na psicologia. Dessa forma, destacamos, também, um pouco da história
dos criadores dos modelos apresentados, como forma de valorizar seus esforços e
(1991, 1992) e Amabile (1983, 1989) criaram teorias que influenciaram inúmeros
modelos. À medida que caminhamos pelos capítulos, vamos nos aproximando das teorias
um modelo em que a ação criativa sai da instância do sujeito e se direciona para a instância
Ocidente o acesso à obra de Vygotsky, por exemplo. Mesmo tendo desenvolvido suas
ideias sobre criatividade no início do século XX, Vygotsky (2009) teve seu trabalho
conhecido nos países ocidentais após os anos 60, quando Michael Cole e James Wertsch
tomaram o caminho de Moscou para realizarem estudos com Luria, parceiro de trabalho
de Vygotsky, e traduziram sua obra para o inglês. No Brasil, as ideias de Vygotsky sobre
é o de história mais recente e vem sendo desenvolvido há oito anos por Glăveanu (2010,
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2014), pesquisador romeno. Esse modelo tem como proposta uma mudança
da criatividade e contribuições das teorias também são apresentados, sempre com ênfase
1 traz a trajetória de Ellis Paul Torrance, considerado o pai da criatividade. Seus estudos
inato. Sua vasta obra envolve numerosas pesquisas, com destaque para os estudos
criativo. Esse modelo inclui uma descrição tanto do processo criativo quanto de
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dirigidas a pais e professores, contribuindo para a disseminação do conhecimento
contextos. A criatividade surge como um diferencial, onde o sujeito criativo age como
alta (muito criativas), gerando lucro e dividendos. O sujeito criativo valoriza sua ideia e
sabe vende-la nos mercados apropriados. Este processo de “valorização de uma ideia
criativa” é muito bem trabalhado pelos autores, uma vez que representa possibilidades de
criativo das instâncias psicológicas para a dimensão social. Ao apontar para a o contexto
tornou-se rapidamente conhecido e vem influenciado a percepção dos atos criativos desde
então.
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Nos capítulos 5 e 6 são apresentadas duas abordagens sociogenéticas. O Capítulo
5 traz a contribuição de Vygotsky e sua visão particular acerca das origens das funções
contemplada por Vygotsky em sua curta vida. Para esse autor, a criatividade surge quando
compreende a criatividade como originada nas interações sociais, por meio das ações do
só pode ser compreendida como fruto de instâncias em diálogos, como o ator, a audiência,
uma ação). Esse último modelo talvez seja o mais recente no escopo da psicologia da
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desenvolvimento, impactos em outros campos do conhecimento e possibilidades para
Mônica e Denise
Referências
Amabile, T. M. (1983). The social psychology of creativity. New York, NY: Springer.
Foundation Press.
Glăveanu, V. P. (2014). Distributed creativity: Thinking outside the box of the creative
Glaveanu, V. P. (2016). (Edt.) The Palgrave handbook of creativity and culture research.
Kaufman & R. J. Sternberg (Edits). The Cambridge handbook of creativity, (pp. 20-
14
v.23, p.1-15.
Runco, M. A. (Ed.). (2014). Theories and Themes: Research, Development, and Practice.
Sternberg, R. J., & Lubart, T. (1991). An investment theory of creativity and its
Sternberg, R. J., & Lubart, T. (1992). Buy low and sell high: An investment approach to
Hall.
Service.
D’Água Editores.
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DIMENSÕES DA CRIATIVIDADE SEGUNDO PAUL TORRANCE
composta pelos pais, Ellie e Jimmie Paul Torrance, e uma irmã (Ellen), quatro anos mais
nova que ele. Viviam em uma fazenda, e como ele relata ao seu biógrafo e colega Millar
(1995), quando seus pais observaram que ele não possuía habilidades para fazendeiro,
decidiram que ele deveria ir para a cidade e começar a estudar. Ressaltou-se bastante nos
Artes pela Mercer University em 1940, obtendo seu mestrado em Psicologia Educacional
1951.
1945, já como psicólogo junto aos veteranos de guerra trabalhou sob a supervisão de
Alexander Wolf, com o qual aprendeu bastante sobre psicoterapia de grupo. Nesta
diversos tipos de testes, como o Rorschach e o Bender. Já em 1947, ficou fascinado com
o trabalho de psicodrama e terapia de grupo realizado por Jacob Moreno em Nova York,
pode ser observada nas suas publicações posteriores nas quais faz bastante uso da técnica
1996).
o cargo de diretor da Survival Research of the U.S. Air Force. Nesta oportunidade
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desenvolveu vários materiais para sobrevivência na selva. Essa experiência foi decisiva
para sua vida, como relata, pois começou a se interessar pela criatividade em situações de
crise ou estresse. Uma grande influência nesse ponto de sua carreira foi Donald Super,
conhecido pelo seu trabalho na avaliação de interesses vocacionais, tendo recebido dele
uma grande ajuda para compreender as habilidades dos melhores pilotos de avião de
guerra. Tais fatos, como relatados por Torrance ao seu biógrafo Millar (1995),
profissional, os quais exerceram grande importância nas suas propostas posteriores para
a estimulação da criatividade.
considerável impacto entre diversos psicólogos e educadores que decidiram então aceitar
estudado. Sem dúvida, esse fato gerou uma uma explosão de pesquisas sobre o tema nas
empiricamente pelo uso da análise fatorial (Guilford, 1968). Nesse modelo, visualizado
quando combinadas, por sua vez, gerariam 120 formas de pensar. A criatividade, segundo
esse modelo, estaria situada como uma operação de Pensamento Divergente (Guilford,
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1979), em contraste com as outras possíveis operações (Cognição, Memória, Pensamento
pensamento divergente, Guilford (1986) propôs que ela poderia ser reconhecida pelos
divergente predomina nas pesquisas até os dias de hoje (Mumford, 2001; Plucker, 2001).
fascinio sobre ele, como relatou ao seu biógrafo (Millar, 1995). Em 1966, Torrance se
solucionar um problema
convencionais.
área verbal quanto na área figural, que foram a base de seus futuros testes em criatividade.
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A TRAJETÓRIA DE PESQUISA EM CRIATIVIDADE
anos de 1978 a 1984 como professor. Nessa época, decidiu pesquisar mais sobre o seu
aluna, tendo assim encontrado a sua grande parceira. Com Pansy ele desenvolveu vários
projetos, tendo o seu grande destaque no programa de Future Problem Solving Bowl
problemas futuros. Esse programa foi depois estendido para uma participação
Solving, 2018) é fascinante, e envolve os alunos de uma maneira intensa e criativa (como
vivenciado pela primeira autora deste capítulo). As escolas que querem participar do
de ação. Após um ano de trabalho, cada escola seleciona um grupo de alunos para
juri da própria faixa etária da criança. Ao ao final todas as apresentações são premiadas
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com certificados ou lembranças da universidade no sentido de encorajar o pensamento
criativo.
1966, seus próprios testes, indo além da proposta de Guilford, sendo designada A
Torrance Tests of Creative Thinking – TTCT (verbal and figural forms). Para construir a
e outros grupos de profissionais que primavam pela produção criativa. Depois, concebeu
tarefas (testes) cuja resolução implicaria no recurso aos processos cognitivos semelhantes
A escolha das atividades que compuseram a bateria foi feita de modo a ajustá-las
a um amplo leque de idades, desde o pré-escolar ao adulto (Torrance, 2008), de modo que
as habilidades por ela avaliadas poderiam prever as realizações criativas, de forma mais
(Runco, Millar, Acar & Cramond, 2010). Para reduzir a percepção de que se trata de um
teste e evitar a ansiedade perante uma situação de avaliação, os itens são designados por
(Kim, 2011).
2011), tanto no contexto internacional (Baer, 1993; Eysenck, 1999; Kim, 2011; Silvia,
Winterstein, & Willse, 2008) quanto no nacional (Nakano, 2005; Nicolas, 1999;
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Wechsler, 2004a, 2004b; Wechsler & Nakano, 2002; Zanella & Titon, 2005), tendo sido
traduzido para mais de 35 idiomas (Millar, 2002). O TTCT também são os instrumentos
2012), tendo sofrido cindo revisões na forma de cotação desde a sua publicação: 1966,
1974, 1990, 1998 e 2008 (Kim, 2011). Já em 1981, as publicações com seus testes, com
(Torrance, Dogan & Horng, 1981). Importante destacar que nenhuma alteração foi feita
apropriados para indivíduos de diversas culturas. Isso se deve à natureza dos estímulos,
bem gerais, que permitem ao indivíduo responder de acordo com seus conhecimentos
culturais (Torrance & Ball, 1990). Como vantagens, ainda podem ser citadas as enormes
resultados das pesquisas que indicaram sua validade preditiva em diferentes grupos
cada atividade envolve um tipo diferente de pensamento, contribuindo com uma faceta
características das pessoas criativas. Torrance (1966) argumenta que as duas formas do
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criativo (Kim, 2011). No caso em que houver a necessidade de uma reaplicação do
instrumento, Torrance elaborou duas formas para cada teste (forma A e forma B).
criativo, as quais ele chamou de “forças criativas” (Torrance & Safter, 1999), que são as
seguintes:
1. Fluência ou aptidão para produzir um grande número de ideias, sem que haja
redor.
autor passou a demonstrar a sua insatisfação com a limitação dos conceitos utilizados
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para avaliar a criatividade nos seus testes, uma vez que, devido ao fato de seguirem as
A partir desse estudo o autor decidiu publicar as mudanças que deveriam ser
figural para quatorze fatores, ao invés dos quatro propostos inicialmente. Com isso,
serem avaliados também os aspectos emocionais (Torrance & Safter, 1999; Wechsler,
2004a, 2008).
Elaboração) são avaliadas por tabelas comparativas de acordo com o nível educacional
da criança. Os indicadores emocionais, por sua vez, são avaliados por presença ou
ausência, no número máximo de 3 pontos para cada uma delas, que são as seguintes:
nos títulos.
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na literatura. Muitas das técnicas de solução criativa de problemas utilizam
coisas, e não somente à mera percepção delas. Pode estar claramente expresso
olhá-las sob diferentes pontos de vista tem sido considerada como uma
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Combinações: é representada por meio da síntese de elementos a fim de formar
uma imagem coerente. Nas pessoas criativas ela aparece na percepção de que
duas ou mais figuras podem ser conectadas, permitindo usá-las com liberdade
estímulo.
Títulos Expressivos: a pessoa criativa faz uso do título como forma de não se
sua ideia, abstraindo e indo além da mera descrição. No teste figural, os títulos
do teste figurativo. Esse instrumento é composto por seis atividades, sendo que as três
primeiras são baseadas em uma mesma imagem. Na primeira atividade deve-se fazer
perguntas acerca da imagem. Na segunda deve-se adivinhar possíveis causas para explicar
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melhorá-lo. A quinta atividade consiste em inventar usos diferentes para um objeto e na
Deve ser destacado que nos primeiros estudos de Torrance, o seu teste de
foi percebida em nosso trabalho (Wechsler, 1982) sob sua orientação. Assim sendo,
avaliar a criatividade de duas outras formas: movimentos e sons. Assim sendo, elaborou
Creatively with Sounds and Words (Torrance, Katena, & Cunnington, 1986). As
e o What Kind of Person are You (Khatena & Torrance, 1976). Apesar desses testes serem
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INFLUÊNCIA DOS TESTES DE TORRANCE NAS PUBLICAÇÕES
BRASILEIRAS
realizações criativas na vida real (Wechsler, 2006). Também foram elaboradas tabelas
2004b). Com base no modelo de criatividade de Torrance, foi validado para crianças
brasileiras o Teste Figural de Criatividade Infantil (Nakano, Wechsler, & Primi, 2011).
Esses testes foram aprovados pelo Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos
foi feita por Nakano e Wechsler (2007). Os resultados apontaram que no período de 1984
a 2006, os testes de Torrance foram os instrumentos utilizados por 46% das dissertações
contexto educacional (1995-2009) foi feita por Silva e Nakano (2012) nas bases de teses
Torrance eram os testes mais utilizados para avaliar a criatividade em diferentes níveis.
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APLICAÇÕES DO MODELO TEÓRICO NO CAMPO DA PSICOLOGIA E
DEMAIS CIÊNCIAS
Torrance focou seu interesse de estudo na psicologia educacional. Ainda que seus
testes tenham se tornado as mais importantes medidas de criatividade, eles não foram
desenvolvidos somente com esse propósito. O próprio autor sugeriu alguns usos mais
que os testes venham sendo usados, mais frequentemente para a avaliação da criatividade,
Torrance inicialmente planejou que eles tivessem sua utilidade no sentido de fornecer
bases para o ensino individualizado, por meio da identificação das características bem
desenvolvidas e aquelas que precisariam de estimulação, sem que o escore total fosse
2001). Do mesmo modo, tais testes têm sido utilizados na identificação de estudantes com
estudantes identificados, especialmente aqueles que não obtêm destaque nos testes de
inteligência.
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Deve ser ressaltado que o TTCT parece ser boa medida, não somente para a
(Kim, 2006). Segundo Primi et al. (2013), vários são os méritos desse instrumento, sejam
A criatividade por Torrance é vista como um processo e não algo estático. Esse
tipo de compreensão da criatividade implica que ela pode ser mudada ou desenvolvida
novas hipóteses, quebra dos padrões e promoção de mudanças (Torrance & Safter, 1999).
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Tal definição parte da premissa de que quando uma pessoa criativa detecta um erro ou
não encontra a solução esperada, sente uma tensão e busca reduzi-la. Para isso, trata de
buscar diferentes formas que levem à resolução do problema (Pérez, 2005). A definição
TORRANCE
entre outras). Em seu modelo, importante papel é destinado à motivação, fator que
fases de desenvolvimento humano. Para ele, na criança, três seriam os principais períodos
em que a criatividade parece ter um declínio (Torrance, 1968). O primeiro deles ocorreria
a ser confrontada com um mundo estruturado, com numerosas regras que guiam a
aprendizagem (Lubart, 2007). Por tal motivo, não deveria ser surpresa o fato da
criatividade infantil ser afetada, visto que a criança passaria por uma fase de adaptação às
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O segundo período ocorreria entre 9 e 10 anos. Neste período, as escolas tendem
observa-se que ao redor do 5o ano (antiga 4a série) do ensino fundamental já existe uma
queda no pensamento criativo das crianças, chamada por Torrance de Fourth Grade
A terceira queda na criatividade ocorreria por volta dos 13 anos, ocasião em que
uma segunda baixa na criatividade é notada. Provocada por uma série de mudanças no
vê diante da necessidade de uma nova adaptação, sendo tal período marcado pela pressão
dos pares e do desenvolvimento de sua identidade (Lubart, 2007). Sem dúvida, como
salientou Torrance (1979), esse decréscimo pode existir ou não em diferentes níveis
Segundo Torrance, o objetivo de uma aula criativa seria encontrar o Satori, termo
realização no mais auto grau que permite chegar ao “aha” da descoberta (Torrance, 1979).
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É para a obtenção do estado de Satori que Torrance delineou o seu modelo, demonstrando
que o encontro criativo não será súbido, mas sim, acontecerá depois de estudo,
No Modelo de Incubação para o Ensino existem três estágios que devem ser
trabalhados, cada um deles com atividades a ser desenvolvidas para atingir metas
futuro).
qualquer disciplina. A aplicação para a área de leitura mereceu um livro do autor sobre
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maneiras de encorajar a criatividade na sala de aula (Torrance, 1970). Também no nosso
país, Bighetti (1995) demonstrou que as crianças aprendiam e se interessavam mais pela
Torrance e Myers (1976) afirmaram que “em nosso próprio trabalho sempre
alunos melhoraram de forma notória e, algumas vezes, espetacular, sua habilidade para
dar soluções originais e úteis aos problemas” (p. 98). Esses resultados apontam, segundo
os autores, para a importância das estratégias criativas serem incentivadas nas escolas,
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criatividade na escola e questionando a visão tradicional do aluno ideal que impede ao
professor reconhecer talentos em sua sala da aula. Publicou vários artigos sobre o tema,
inclusive uma escala The ideal people checklist (Torrance, 1975), questionando as
deveriam basear-se nas suas características positivas, ou creative strengths, tais como:
que o ensino criativo deveria ser baseado em estratégias direcionada para o hemisfério
direito cerebral, que trabalha com as informações de modo sensorial, intuitivo, global,
esquerdo, que prioriza informações de modo lógico, racional, verbal, sequencial. Assim
Mourad, 1979). Desenvolveu também uma escala para avaliar o modo preferencial de
basearam nos seus estudos longitudinais iniciados com a amostra que ele coletou em
1950. Ele realizou o seguimento dessas pessoas após 7 anos e 22 anos, demostrando que
seus testes podiam predizer a quantidade e a qualidade da produção criativa na vida real
(Torrance, 1972a, 1972b, 1980). Após 30 anos, ele decidiu avaliar quais eram as
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características das pessoas que se destacavam na sua amostra, denominadas The
Beyonders, “aqueles que vão além”. Desenvolveu também uma escala The Beyonder
Beyonders:
2) Tolerar erros.
3) Amar o trabalho.
7) Ser diferente.
internacional. Segundo seu biógrafo, ele publicou cerca de 1.871 trabalhos, sendo 88
livros, 256 capítulos de livros, 538 manuais, testes e entrevistas, 162 artigos em revistas
entre as quais o prêmio Arthut Lipper Award of the World Olympics of the Mind, Award
Association for Gifted Children, Odysssey of the Mind Creative Award, Life Achievement
in Education and Creativity Researcher, e foi eleito membro da Who’s who in the World
perfil de Paul Torrance, e conferem a sua autodescrição como “Aquele que vai além” - A
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Quando aposentou, como Emeritus Professor, e como sugestão de seus ex-alunos,
decidiu organizar o Torrance Center of Creative Studies, em 1984, para guardar seu
enorme arquivo de pesquisas sobre criatividade nas mais diferentes áreas e faixas etárias.
Esse local, agora renomeado de Torrance Center for Creativity and Talent Development
criativo, assim como para dar suporte a organizações nacionais e internacionais que se
encontra representado em seus testes, uma série de críticas a esses instrumentais podem
ser encontradas na literatura científica. Elas envolvem desde questões relacionadas aos
seus usos práticos, às suas evidências de validade (notadamente preditivas), bem como
detalhada a seguir.
A primeira crítica envolve os usos que têm sido feitos, tradicionalmente, dos
testes. Ainda que eles venham sendo usados, mais frequentemente para a avaliação da
interpretação equivocada de seus objetivos. Isso porque essa bateria costuma ter seus
testes identificados como uma medida de criatividade, ainda que os mesmos não tenham
sido projetados para apenas medir a criatividade, mas sim para servir como ferramenta
para valorização desse construto. Entretanto, esses instrumentos têm sido utilizados como
era de que os dados resultantes dos instrumentos fornecessem bases para um ensino
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individualizado. O próprio autor não recomendou que os índices criativos gerados pelo
criatividade.
(2011) e Glaveanu (2010), por exemplo, questionam a capacidade preditiva que os testes
desses instrumentos: (a) ênfase em aspectos como novidade e originalidade, os quais vêm
das ideias; (b) crença de que os instrumentos podem prever o potencial criativo nos mais
realizações criativas na vida real (em torno de 0,20 e 0,30); (d) uso de tarefas que não
envolvem problemas da vida real, baseadas em contextos e tarefas artificiais, que pouco
preditiva mostra-se bem menor do que aquelas que fazem uso deste tipo de problema
(média de 0,30 contra 0,49); e (e) problemas relacionados à validade discriminante das
De acordo com Glaveanu (2010), o próprio Torrance teria afirmado que um alto
resultado nas habilidades avaliadas em seus testes não garantiria à pessoa, por si só, a
como motivação, seriam necessárias para que uma realização criativa na idade adulta. A
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instrumental, notadamente a preditiva. Runco, Millar, Acar e Cramond (2010) apontam
que o tipo de realização criativa avaliada pelos testes de Torrance limita-se à criatividade
lacunas têm sido apontadas pelos pesquisadores nos estudos sobre criatividade (Nakano
& Primi, 2014). Como exemplo podemos citar a importância de estudos que visem a
desenvolvimento de pesquisas que tenham como objetivo principal examinar como essas
pesquisas futuras podem ser apontadas. Especialmente em relação ao teste figural, o qual
compostas por uma ampla variedade normativa (Kim, 2006). Do mesmo modo,
recomenda-se que os testes passem por uma revisão em relação à lista de respostas não
originais, uma vez que desde 1984 (quando foram revisadas pela última vez), uma série
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Outra importante lacuna refere-se a estudos que busquem investigar o modelo de
mais atuais (tais como Teoria de Resposta ao Item - TRI, modelo de equações estruturais
Cattell-Horn-Carroll, por sua vez, definem a criatividade como fator de segundo estrato
(Schneider & McGrew, 2012), relacionada com a recuperação em longo prazo (Glr). Essa
proposta, sem dúvida, limita criatividade à concepção de associação entre ideias. Estudos
construto que pode ser observado, e avaliado, de forma válida e precisa. Dessa maneira,
conseguiu retirar o termo criatividade do limbo da subjetividade para demonstrar que era
possível identifica-la e encorajá-la. Sem dúvida cabe a ele o termo “Pai da Pesquisa em
Criatividade”.
Torrance foi mais que um pesquisador e professor. Sem dúvida foi um visionário
e um mentor muito querido por todos seus alunos (caso da primeira autora deste capítulo).
O seu grande talento não era apenas como pesquisador e educador, mas realmente um
amigo e um sábio ao seu lado. A sua influência e carinho ao lidar com alunos deixou uma
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marca indelével em todos que puderam desfrutar os inestimáveis momentos de sua
companhia e orientação.
Referências
NJ: Erlbaum.
Beghetto, R. A., Plucker, J. A., & MaKinster, J. G. (2001). Who studies creativity and
Jr. (Eds.), The ninth mental measurements yearbook (pp. 1631–1632). Lincoln, NE:
http://www.fpspi.org/what-is-fpspi/
Glaveanu, V.P. (2010). Principles for a cultural psychology of creativity. Culture &
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Diego: CA: EDITS/ Knapp.
Guilford, J. P. (1986). Creative talents: Their nature, users and development. Buffalo,
NY: Bearly.
Kaufman, J. C., Plucker, J. A., & Russell, C. M. (2012). Identifying and assessing
30, 60-73.
Khatena, J., & Torrance, E. P. (1976). Creative perceptions inventory: Something About
Kim, K.H. (2011). The APA 2009 Divison 10 Debate: Are the Torrance Tests of Creative
Thinking still relevant in the 21st century? Psychology of Aesthetics, Creativity and
Kim K. H., Cramond B., & Bandalos D. L. (2006). The latent structure and measurement
used for inclusion into gifted programs. Journal of Education of the Gifted, 34, 742-
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41
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46
O MODELO COMPONENCIAL DE CRIATIVIDADE DE TERESA AMABILE
Daniela Vilarinho-Rezende
sociais no processo criativo. Nas últimas quatro décadas, Amabile realizou tanto
sociais?
criatividade, já nos anos 70, trouxeram insight às suas ideias a respeito do fenômeno. Em
1983, Amabile publicou o livro The Social Psychology of Creativity, no qual apresenta o
47
Ela possui formação em química, no nível de graduação, e mestrado e doutorado
(MBA), bem como em cursos sobre gerência da criatividade, liderança e ética. Seu foco
de pesquisa atualmente tem sido a psicologia do dia a dia do trabalho, em especial como
carreira.
De acordo com Amabile (1996a), “um produto ou resposta será julgado como
criativo na medida em que (a) é novo e apropriado, útil, correto ou de valor para a tarefa
em questão, e (b) a tarefa é heurística e não algorítmica” (p. 35). Essa definição enfatiza
a necessidade da tarefa ser do tipo aberta, que possibilite múltiplas respostas, ao invés
daquela que permite apenas uma solução. Além disso, a resposta ou produto é criativo na
medida em que é considerado criativo por pessoas familiarizadas com o domínio no qual
ele foi produzido (Amabile, 2012). Nesse sentido, o produto tem que ser tanto original
quanto útil.
existem aquelas que podem ser tanto uma quanto outra, dependendo do contexto em que
se inserem, bem como aquelas que somente podem ser algorítmicas ou heurísticas. Por
exemplo, se a tarefa é montar um carro cujo modelo-planta já existe, trata-se de uma tarefa
Existe, no entanto, tarefas que somente podem ser caracterizadas como heurísticas
como, por exemplo, descobrir a cura para uma doença até então incurável, como, por
48
exemplo, a AIDS, ou reverter a situação de uma pessoa que ficou paraplégica em
relação a ela. Assim, pode ser que a tarefa de resolver um problema complexo de
matemática avançada seja uma tarefa algorítmica para um estudante que já tem
para outro estudante que precisa desenvolver algoritmos para encontrar a solução. Dessa
forma, por definição, uma tarefa de criatividade não pode decorrer de algoritmos
que:
e estilo pessoal. Se nós mudarmos essa perspectiva dispositiva para uma que
O modelo proposto por Amabile (1983, 1988, 1989, 1996a) propõe explicar como
49
criativo. Essa autora ressalta constituir o seu modelo uma teoria compreensiva que inclui
externo que têm influência na criatividade (Amabile & Mueller, 2008). Grande ênfase,
Amabile, envolve três componentes que interagem entre si: (a) habilidades de domínio,
(b) processos criativos relevantes, e (c) motivação (Amabile & Pillemer, 2012; Collins &
Amabile, 1999; Conti, Coon, & Amabile, 1996). Segundo Amabile, esses componentes
exerce influência crucial sobre cada um deles em todas as etapas do processo criativo,
atuando como um quarto componente do modelo (Amabile & Mueller, 2008; Amabile &
Tighe, 1993).
nível de expertise em uma área, tais como talento em um domínio particular em que o
possam ser considerados inatos (como, por exemplo, boa memória auditiva para
vácuo, mas estão alicerçadas em um amplo conhecimento da área em que se está atuando.
Conforme assinala Starko (1995), é necessário ter muito conhecimento sobre uma área de
que as tais habilidades são efetivas para o domínio de forma geral e não apenas para uma
50
tarefa específica.
estilo de trabalho, estilo cognitivo que facilita a adoção de novas perspectivas a respeito
traços de personalidade. Tais elementos influenciam no uso que se faz das habilidades de
domínio. Por exemplo, analisar uma informação sob diferentes pontos de vista, ou
concentrar por longos períodos de tempo, dedicação ao trabalho, alto nível de energia,
por Amabile (1988, 1996a) são quebra de padrões usuais de pensamento, quebra de
alicerçado em princípios heurísticos tais como: (a) torne o familiar estranho, (b) gere
hipóteses, use analogias, investigue incidentes paradoxais, e (c) brinque com suas ideias.
Esse componente é influenciado por treinamentos realizados pelo indivíduo nos quais são
51
que favorecem a produção criativa, ressaltam-se a autodisciplina, persistência,
Amabile, esses estilos e traços podem ser desenvolvidos ao longo do curso de vida.
domínio, por maior que seja, ou de processos criativos relevantes possa compensar
plenamente a falta de motivação apropriada para realizar uma atividade. E ainda que um
alto grau de motivação apropriada pode compensar uma dificuldade em um dos dois
intrínseca, em que a pessoa se engaja na tarefa por interesse, prazer, satisfação e desafios
dedica a uma atividade pelas recompensas externas a ela relacionadas. De acordo com
Amabile (1989), “não existe tal coisa chamada ‘atividade intrinsecamente interessante’.
Uma atividade pode ser intrinsecamente interessante para uma pessoa em particular, em
Por alguns anos, a motivação extrínseca foi vista como deletéria à criatividade,
intrínseca, favorecendo o processo criativo (Amabile, 1987, 1996a; Amabile & Pillemer,
52
Duas formas de motivação extrínseca foram identificadas. A primeira é a
sinergética que envolve ter sua criação reconhecida, ser sensível à opinião de outros
acerca de seu trabalho, julgar o sucesso de sua produção comparando-a com o de outras
outro ganho externo como notas, metas e salários. Essa última forma de motivação,
segundo Amabile (1996a), inibe o potencial criativo da pessoa. Esse componente é o que
profissional e ainda que algumas pessoas tendem a ser mais consistentemente focadas em
motivadores intrínsecos, ao passo que outras tendem a ser mais consistentemente fixadas
em motivadores extrínsecos.
geradas.
de originalidade/novidade da resposta.
53
4. O nível e o tipo de motivação não somente determina se o indivíduo irá se
processo.
de criatividade ocorre quando a área de justaposição entre os três elementos é maior, isto
apresenta características cognitivas e estilos de trabalho que são importantes nessa área e
criatividade. Nesse caso, o indivíduo apresentará pouco interesse em tarefas futuras que
sejam parecidas com a atividade anterior, a não ser que incentivos exteriores (motivação
são altos e os dos processos criativos relevantes baixos, o resultado não será original, mas
o conhecimento e o envolvimento com a atividade farão com que o sujeito, por meio de
54
habilidades de domínio forem baixas, o indivíduo apresentará pouco conhecimento e seus
proposto por Amabile (1996a) Para a autora, os aspectos sociais têm um impacto
trabalho, Amabile (1995b, 1999) identificou fatores que estimulam a criatividade e que
deveriam ser incorporados como práticas gerenciais. São eles: autonomia ou liberdade no
recompensas que envolvem o interesse intrínseco pelo trabalho e estrutura suficiente para
(1983, 1996a), esse processo inclui cinco estágios O primeiro estágio é denominado
específico como tendo valor para ser solucionado (estímulo interno). O problema a ser
resolvido pode também ser apresentado por outra pessoa (estímulo externo). Caso o
indivíduo tenha um nível alto de motivação intrínseca pela tarefa, esse interesse será
55
produção de ideias, soluções ou produtos, momento em que o indivíduo constrói ou
Amabile (1996a), uma ideia não pode permanecer apenas na mente do indivíduo que a
produziu, caso contrário, nenhum produto observável será gerado. É necessário que o
criador comunique sua ideia ou produto de alguma maneira. A ideia produzida deve ser
ainda testada. Neste sentido, o indivíduo faz uso de suas habilidades de domínio para
avaliar a extensão em que o produto ou resposta será criativa, útil, correta e de valor para
com relação à resposta, com base na avaliação do estágio anterior. Caso a resposta ou
forma, caso a resposta gerada tenha sido considerada um fracasso total, o processo
também é finalizado. Por outro lado, se a resposta produzida é parcial, ou seja, representa
56
essencial que o indivíduo se sinta motivado para dar continuidade ao trabalho ou reiniciá-
finalizado. É importante ressaltar ainda que esses estágios não ocorrem, necessariamente,
dessas três dimensões que a expressão criativa terá mais chances de florescer. Por isso, é
ao de trabalho:
57
situação pode ser encontrada no ambiente de trabalho no caso de chefes que
atividade apenas para obter uma recompensa, esta pode ter um efeito positivo
que está sendo observado enquanto realiza uma tarefa, pois tal procedimento
(1989), embora isso seja um fato corriqueiro da vida, tais situações podem
minar a criatividade.
58
Cultivar a autonomia e independência, enfatizando valores ao invés de regras.
Isso não significa dizer que os pais devam ser permissivos. Ao invés de regras,
fazer isso? ”, “De que outra forma podemos fazer isso? ”, “Vamos criar tantas
modelos para seus filhos. Pais de criança criativas tendem a se sentir seguros
positivos e/ou os negativos. Ao invés de o pai ou a mãe dizer “se você tirar
invés de ser vago na sua avaliação, seja específico, detalhe os pontos fortes
e/ou fracos.
59
Oportunizar experiências especiais. Os alunos irão perceber que a criatividade
criatividade segue os seguintes princípios: (a) os alunos devem ser aprendizes ativos, e,
pressão devem estar ausentes; (c) professores são recursos, não são deuses e,
consequentemente, não são perfeitos; (d) os alunos devem se sentir à vontade para discutir
problemas abertamente com seu professor e colegas; (d) cooperação é sempre preferível
em sala de aula; (f) os alunos são merecedores de respeito e afeto; e (g) experiências de
gerenciais que promovem a criatividade. São elas: (a) desafio, (b) liberdade, (c) recursos,
suporte organizacional. O quesito desafio foi identificado como o mais eficaz para
expertises, habilidades e anseios, podendo, assim, buscar o casamento ideal que combine
60
eficaz, as pessoas potencializam suas experiências e suas habilidades de pensamento
No que diz respeito à liberdade, Amabile afirma que a chave para a criatividade é
porém, não necessariamente aos fins (objetivos estratégicos), muito embora isso não
queira dizer que os subordinados não devam participar das discussões sobre definições
equipes e, tendo autonomia para decidir como executá-las, maiores são as probabilidades
de elevação da criatividade das pessoas. Tão importante quanto à clareza na definição dos
agir como “donos do negócio”, vendo-se como atores e não meros expectadores, além de
Quanto aos recursos, Amabile (1998, 1999) destacou os dois principais que afetam
a criatividade: tempo e dinheiro, sendo que um dos grandes desafios dos gerentes é
um prazo eventualmente exíguo para cumprir uma meta muito importante pode fazer com
que essa pressão seja encarada como um grande desafio e, por conseguinte, contribuir
uma solução inovadora. No entanto, se não existe um motivo claro ou justificável para o
efeito pode ser o contrário, ou seja, desmotivar as pessoas a lutarem pelo atingimento do
61
objetivo, quer resultante do descrédito nos gestores, quer em decorrência de estresse e
projeto, tomar decisão a esse respeito também requer muita habilidade dos gestores, uma
vez que a liberação de recursos acima do necessário não aumenta a criatividade e, por
outro lado, se insuficientes pode diminui-la, uma vez que parte dos esforços das pessoas
estarão voltadas para fazer com que esses recursos sejam suficientes e, não muito
Outro ponto que requer muita atenção e capacitação dos gerentes está relacionado
e úteis.
dos demais membros. A conjugação desses fatores contribui não só para a melhoria da
pensamento criativo. Para que seja possível montar uma equipe com essas características,
capaz de avaliá-los nos mais diferentes aspectos, desde o conhecimento, passando pela
62
capacidade de relacionamento, nível de colaboração, competência para identificar e
Relativo ao incentivo do gestor, Amabile (1998, 1999) alerta que, mesmo pessoas
ambiente de trabalho acolhedor e, também, de saber que o produto de seus esforços é útil
e apreciado pela direção da empresa. Na ausência dessas condições, elas podem até se
apresentação de ideias e sugestões; são transparentes quando uma ideia não agrega valor,
porém, mesmo nesses casos, não agem de forma a inibir que essa pessoa volte a dar novas
sugestões; buscam motivos para que as ideias apresentadas possam ser colocadas em
prática, em vez de procurar argumentos para justificar o porquê de as ideias não poderem
ser utilizadas.
A supervisão que favorece a criatividade deve ser exercida como uma espécie de
guia, agindo o supervisor como um mentor e não como um capataz controlador e punidor.
O gestor deve incentivar seus subordinados a correrem riscos, ver os erros cometidos
pessoas se engajem nos projetos, mas sim, dar bônus pelo trabalho concluído com alta
qualidade e criatividade.
63
Por último, o suporte organizacional também impacta na questão da criatividade
algumas chefias.
promover a troca de conhecimentos, tem maior chance de êxito ao encarar a questão sob
diferentes ângulos.
dinheiro que tenham por objetivo encorajar as pessoas a serem criativas. Na visão dela, o
efeito é quase sempre o contrário, pois as pessoas tendem a imaginar que estão sendo
reconhecimento autêntico, por parte da empresa, ao bom trabalho realizado é vital para a
de caráter político ou impor a autoridade pelo medo, pois estas são sem dúvidas, formas
a busca por alunos ou funcionários mais brilhantes, devem criar oportunidades para
ativo do indivíduo, bem como tarefas desafiadoras, uma vez que criatividade depende não
& Pillemer, 2012; Amabile & Platt, 2016). Destaca-se, por exemplo, que existem poucos
criatividade. Sugere-se também que, nas próximas pesquisas, seja dada maior ênfase ao
feedback que ocorre na etapa de avaliação de resultados do processo criativo, tendo por
a utilização de feedbacks para se identificar como proceder para que essas novas ações
sejam diferentes daquelas anteriormente praticadas, também com o objetivo de fazer com
ambiente de trabalho sobre a criatividade individual, ela reconhece que o fez em um nível
muito amplo e, por conseguinte, recomenda que novos estudos explorem o papel do
comportamento inovador das empresas. Enfim, como essas pressões institucionais podem
influenciar tanto na criatividade individual quanto das equipes de trabalho. Nesta mesma
linha, recomenda que mais pesquisas poderiam ser realizadas no sentido de identificar as
65
intrínseca e na criatividade pessoal. Uma possível explicação pode ser a visão de que as
referidas tarefas fazem parte de um todo e, portanto, são importantes para o êxito geral da
organização.
adequado a um dos estágios do processo criativo está mais relacionado à fonte específica
gerados pelos tipos de motivação? Ficam, portanto, algumas sugestões para estudos
Leituras Recomendadas
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Brasília.
68
A TEORIA DO INVESTIMENTO EM CRIATIVIDADE DE ROBERT
outros investidores. Ao se comportar de forma ousada, ele assume perdas no curto prazo
apostando em “carteiras” que nenhum outro apostou, para em outro momento de alta,
passar adiante e recomeçar o ciclo.
Um conceito similar pode ser utilizado para descrever a atividade da pessoa
engajada em uma iniciativa criativa. Como uma mercadoria avaliada por baixo pelos
investidores, uma nova ideia produzida por uma pessoa criativa é, frequentemente,
subavaliada por outras pessoas. Quem produz a inovação, contudo, valoriza sua ideia, ou
seja, ‘investe’ naquela ideia ou produto. Já que a ideia não é valorizada por outros, o
posteriormente com outro padrão valorativo que é agregado pelo fator “criatividade”. É
parte, uma decisão pessoal de comprar baixo e vender alto no mundo das ideias. Pessoas
criativas, como bons investidores, geram ideias que, naquele contexto, não são
Então, uma vez que suas ideias tenham obtido alguma aceitação, os indivíduos criativos
69
Para Sternberg e Lubart (1991, 1995), criatividade envolve a inter-relação entre a
do pensamento criativo.
criatividade da seguinte forma: “Nós descrevemos um produto como criativo quando ele
é (a) novo; e (b) apropriado. Esses dois elementos são necessários para a criatividade”
(Sternberg & Lubart, 1995, p. 11). Com relação ao primeiro aspecto, esses autores
esclarecem que:
produtos que outras pessoas tendem a criar. Um produto pode ser novo em graus
Um produto deve também ter uma função, deve ser uma resposta apropriada a
alguma questão, deve ser útil. Existe uma variação de adequação que vai do
restrições de problemas. Algo que é novo, mas não se encaixa nas restrições do
70
Diferentemente de alguns autores que consideram o potencial para gerar produtos
como aquela que, efetivamente, gera produtos criativos. Para esses autores, possuir o
HABILIDADES INTELECTUAIS
comportamento criativo: (1) habilidade sintética, (2) habilidade analítica e (3) habilidade
prática.
percebê-los sobre um novo ângulo, gerar ideias que são novas, de alta qualidade ou
não é significativa, relacionar a informação nova com a antiga de uma nova maneira e
pode ser verificada, em parte, por meio de testes de inteligência convencionais. Ela
permite a análise das limitações ou pontos fortes da ideia e sugere maneiras de melhorá-
la.
Gerar ideias é apenas um dos requisitos para a criatividade, mas reconhecer que
existe um problema, definir esse problema, alocar recursos para lidar com ele e avaliar o
valor das possíveis soluções, reconhecendo quais são as melhores e quais podem ser
descartadas são, também, aspectos importantes para esse processo. Para ser criativa, a
71
Sternberg e Lubart (1995) elencam algumas competências analíticas que são
muitos negócios foram à falência por não terem sido detectados os sinais
mais inteligentes tendem a gastar mais tempo para planejar a longo prazo
sem muita reflexão. Para ser criativa, a pessoa deve se permitir gastar um
resolvê-lo.
outras pessoas sobre o valor das próprias ideias. Em geral, essa é uma
72
Sternberg e Lubart (1995) consideram uma série de fatores a fim de vender uma
ideia com sucesso: (a) fazer uma apresentação de alta qualidade da ideia; (b) desenvolver
uma network para localizar pessoas chaves que possam estar interessadas na ideia ou
ajudar de alguma maneira; (c) conhecer seu mercado, com vistas a avaliar como sua ideia
possa se ajustar e em que momento deverá ser apresentada; (d) apontar os benefícios de
sua ideia; e (e) perceber sua ideia do ponto de vista dos “compradores”, compreendendo
a imagem que você está projetando e o que sua ideia significa para o potencial comprador.
CONHECIMENTO
sob o qual o processo intelectual opera. Para ser criativo em um determinado campo, é
necessário que a pessoa tenha conhecimento desse campo. Falta de conhecimento em uma
área pode levar a pessoa a reinventar a roda. É preciso saber o estado atual da área, o que
foi realizado, o será realizado. Mas quanto conhecimento deve ser adquirir até se estar
conhecimento é uma faca de dois gumes: Por um lado, para avançar em uma área,
devemos aumentar nosso conhecimento sobre ela. Por outro lado, o conhecimento pode
próprias ideias. A pessoa pode se tornar tão acostumada a ver as coisas de uma certa
maneira que começa a ter problemas para realmente vê-las ou imaginá-las de outra
maneira diferente. Muitas vezes, pessoas que possuem o maior conhecimento em uma
conhecimento informal, como aquele que você adquire da convivência com a sua família,
do seu trabalho, por estar em um relacionamento, por assistir a filmes, conversar com
ESTILOS DE PENSAMENTO
Estilos de pensamento não representam uma habilidade intelectual, mas sim uma
forma particular de uso de nosso pensamento. Sternberg (1997) elenca três estilos
e criar suas próprias regras, fazer as coisas a sua maneira e estabelecer e definir seu
presente nas pessoas que gostam de implementar ideias com estruturas claras e definidas,
para sua execução estejam claramente delineados. O estilo judiciário é comum em pessoas
que têm preferência por emitir julgamentos e avaliar pessoas, que se sentem confortáveis
em julgar e avaliar projetos de outras pessoas e que não se omitem em expressar suas
opiniões com relação aos outros. Pessoas com o estilo judiciário tem uma predileção
comparar, analisar pessoas, períodos históricos, teorias etc. Quando adultos, ocupam
cargos como juiz, crítico de arte ou música, avaliador de programas, consultores, analistas
de sistemas etc.
74
PERSONALIDADE
disso, as disposições com as quais você pode nascer interagem com o ambiente para
disponibilidade para correr riscos. Para a pessoa produzir algo realmente criativo, algo
que faça diferença no mundo ou em seu contexto social, ou mesmo em um nível pessoal,
não se contenta com um único produto ou ideia de sucesso. Ele busca ir adiante apesar
das pressões externas e internas para ele permanecer como está. Tolerância à ambiguidade
sujeito compra em baixa e vende em alta, pode haver momentos em que ninguém acredita
nele. Por isso, é essencial que ele tenha crença em si mesmo e tenha coragem para lutar
por aquilo que acredita. Isso pode de fato fazer a diferença no e com o trabalho criativo.
75
MOTIVAÇÃO
que leva alguém à ação” (p. 236). Para os autores, tanto a motivação intrínseca quanto a
motivação extrínseca se torna mais significativa em um momento final, em uma fase mais
AMBIENTE
de regras e valores, sendo que alguns desses contextos fomentam a criatividade enquanto
outros a destroem. É da interação da pessoa com seu contexto envolvente que surge a
criatividade.
ato criativo ocorre (Sternberg & Grigorenko, 1997). Pode-se ter todos os recursos internos
necessários para pensar criativamente, entretanto, sem um ambiente que seja favorável e
maneiras: (a) o grau em que favorece a geração de novas ideias, (b) a extensão com que
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sternberg e Lubart (1995) enfatizam que nem todos os elementos de cada um dos
atributos citados são relevantes para a criatividade, devendo cada um ser visto de forma
76
integrada com os demais e nunca de forma isolada. Embora existam limites para seu uso,
conhecimento, pois tem sido utilizada extensivamente nas mais diversas áreas, como no
limites, evidencia-se o fato de que o investidor financeiro tem seus ganhos baseados no
necessário de cada recurso, sem o qual não é possível sermos verdadeiramente criativos.
O alto nível de um determinado recurso, por exemplo, pode compensar o baixo nível de
um outro A criatividade exige uma decisão deliberada de otimizar e utilizar esses recursos
em nossas vidas.
valor histórico: é a instituição em que foi fundado, há mais de 100 anos, o primeiro
77
Como você começou a se interessar por criatividade?
treinamento nesse domínio (desenho, pintura, etc.). Durante meus estudos de graduação,
interessado pelos tópicos que fiz para concluir um bacharelado em psicologia. No nível
essa época. Minha pesquisa tem examinado a criatividade em crianças e adultos em vários
significado no contexto.
abordagem teórica que já havia sido aplicada à inteligência em que Bob Sternberg estava
assim, quando começamos a trabalhar sobre criatividade havia, obviamente, mais do que
assim, o trabalho inicial foi um pouco para descobrir quais seriam os componentes, que
78
tipo de componentes e como eles poderiam interagir juntos para produzir vários níveis de
Darwin e assim por diante? Alguns afirmavam que era a mesma coisa, outros afirmavam
que era diferente, e percebemos que com a abordagem componencial e sua combinação
interativa, esse modelo levaria a níveis mais altos, porque seria uma combinação única de
componentes. No entanto, mais uma vez, a ideia era que esse modelo componencial, era
um pouco uma extensão, e havia outro trabalho também sendo realizado na criatividade
componencial não era muito entusiasmante. Era preciso alguma espécie de cola para
mantê-lo unido, para torná-lo mais cativante, interessante e significativo. E então surgiu
metáfora é muitas vezes uma boa maneira de pensar sobre um fenômeno e trazer aspectos
nesse mundo, do mundo da metáfora para o tópico que você quer estudar. Então
investimento. Então, nós desenvolvemos juntos para ver as diferentes facetas do mundo
Foi Bob Sternberg. Ele percebia o ser criativo como um ato, uma decisão, de forma
a colocar sua energia em um projeto e isso era, em si, um investimento pessoal. Essa foi
79
Quais são os pontos mais relevantes da Teoria do Investimento?
conjunto de componentes maior do que várias outras teorias que tentam prever diferenças
individuais e desempenho. Eu acho que o que é novidade sobre isso é a extensão ao qual
tentamos focar nos dois (diferenças individuais e desempenho). Olhamos para efeitos de
interação que levam a componentes que interagem e que levam a um nível muito alto de
criatividade. Nós pensamos sobre essa questão e, meio que um pouco, da adaptação do
uma conexão maior com a realidade cotidiana. Não que os outros não sejam
correlacionados, eles são, mas acho que nas salas de aula comuns quando você não pensa
espontâneo.
Eu acho que a recepção foi bastante positiva. Quando ele apareceu pela primeira
vez, não acho que tenha gerado tanto interesse, mas, na verdade, era um pouco semelhante
à teoria de Mark Runco, sobre criatividade, que também tinha o que chamamos de
perspectiva psicoeconômica. Assim, de fato, quando você olha para sua teoria ou para seu
teste, descobre que há alguns ingredientes, alguns recursos ou fatores, mas nem todos os
fatores ambientais que entram em jogo. Então, isso nos levou a fazer um trabalho mais
80
Hoje em dia, adultos e crianças são mais ou menos criativos do que eram no
passado?
avaliar a criatividade. Além disso, agora a criatividade é um assunto mais popular, então
os educadores estão começando a olhar mais para o tópico. Eu acho que existem muitas
iniciativas para promover a criatividade nas escolas, mas estas continuam sendo tentativas
enfrentam atualmente?
se são grupos, são animais. Outro grande desafio é como lidar com o relacionamento que
as pessoas podem ter entre criatividade e mídia eletrônica, porque pode ser uma espécie
provavelmente, apenas leva as pessoas a pensar de uma certa maneira ou clicar nos
mesmos websites. Website número 1, website número 2 que leva as pessoas a clicarem
mesma ferramenta pode ser usada com adolescentes, embora as normas sejam diferentes.
81
Nós também trabalhamos o Creative Profile que nos permite medir o potencial criativo
em adultos para comparar com o trabalho, uma classificação na qual as pessoas podem
Penso que existe, obviamente, uma tendência a estudar ou falar sobre a questão
ainda não li nenhum artigo em que pudesse encontrar uma posição única e clara, então
acho que ainda está em debate. E outra coisa em que estamos trabalhando é sobre
vestígios do processo criativo. À medida que as pessoas trabalham, tentamos rastrear suas
configurar os ambientes de teste para que pessoas de diferentes países possam se conectar
em seu idioma.
é tão difícil encontrar, no Brasil, cursos e/ou disciplinas nas universidades que
Essa é uma pergunta que muitas pessoas estão tentando descobrir a resposta. Os
professores tendem a se interessar pelo tópico, dizem que gostam de ensinar criatividade
ou ensinar as crianças a serem mais criativas, mas não temos um programa que possa
82
treinar professores, mesmo como uma forma de educação continuada. Quando estão nas
manter a ordem na sala de aula. Não é só o Brasil. É realmente todo um mundo acadêmico
que tem seus limites no treinamento de pessoas para fazer coisas que são idiossincráticas.
superdotação criativa?
vida real. Essas realizações criativas são o sinal do talento criativo. A superdotação
criativa é um alto nível de potencial criativo, pode ser definida por um corte, como dois
desvios padrão acima da norma da população para potencial criativo, ou definido por
outros pontos de corte, como os dez por cento superior do potencial criativo.
Olhando a Teoria do Investimento nos dias de hoje, o que você faria diferente?
Eu acho que a teoria ainda tem relevância, e nós ainda a usamos, como uma
estrutura que nos ajuda em pesquisas. Bem, em retrospecto, algumas das maneiras de
medir certas variáveis ou certos fatores poderiam ser otimizados, mas também não tenho
certeza se temos uma tendência a interagir com pessoas que são como neurocientistas
tentando medir a atividade cerebral, olhando uma imagem na parede. É uma pergunta
difícil.
83
Referências
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Sternberg, R. J., & Lubart, T. (1991). An investment theory of creativity and its
Sternberg, R. J., & Lubart, T. (1992). Buy low and sell high: An investment approach to
Sternberg, R. J., & Lubart, T. (1995). Defying the crowd: Cultivating creativity in a
84
O MODELO SISTÊMICO DA CRIATIVIDADE DE MIHALY
CSIKSZENTMIHALYI
Mônica Souza Neves-Pereira
Denise de Souza Fleith
motivação que o levou à produção de uma obra tão diversa foi, sem sombra de dúvida, a
Fiume que, após a Segunda Guerra Mundial, foi anexada ao território Croata. De
seu pai, que era diplomata. Ainda adolescente, Csikszentmihalyi experimentou o drama
ser tão cruéis em tempos de guerra? Essas e outras questões perturbaram sua primeira
década de vida. Sua família, originária da Hungria, foi praticamente destruída na guerra.
Seus dois irmãos mais velhos foram assassinados, assim com um avô e uma tia muito
querida. Seu pai teve que abandonar o país de origem da família por questões políticas.
Ele mesmo viveu por um tempo refugiado na Itália distante dos familiares que lhe
restaram. Esse contato tão precoce com a dor e o sofrimento causou impacto profundo
em sua vida e em sua obra, levando-o a questionar o que motivava seres humanos a
85
... (a minha) tinha sido uma infância típica de meio de século para aquela parte do
mundo (Europa): sem sentido, brutal e confusa. A guerra ainda não tinha
terminado, mas poucos questionavam: como foi que isso aconteceu? Como
p. 65)
Deve haver algo muito profundo, algo que ainda não compreendemos e que tenha
Neste mesmo período, por um acaso, caiu em suas mãos um livro de Jung
não só para a psicologia, algo que ele nem sabia que existia, mas para a possibilidade de
estudar e escrever sobre as emoções humanas. Sua mãe também exerceu papel importante
jesuíta que primava por uma visão de homem originada nos diálogos entre ciência e
religião e que chegou a ser professor de um de seus irmãos, quando moravam na Itália.
Ao longo do exílio familiar, durante a guerra, sua mãe iniciou a tradução de um livro de
86
Deste ponto em diante, desenrola-se a história de um pesquisador criativo e
imigra para os EUA onde inicia seus estudos em psicologia, concluindo seu doutorado,
pesquisador em criatividade, cujos estudos até hoje constam da literatura da área. A busca
por um objeto de estudo passou a ser o objetivo do recém doutor que se negou a atender
infância e adolescência retornaram em sua vida adulta, direcionando seu trabalho para
tipo: como viver uma vida melhor? Vivenciando forte influência da psicologia humanista
dos anos 60, com foco nos processos de saúde, felicidade e autorealização humana,
Csikszentmihalyi constrói um sentido comum que atravessa sua produção de modo geral:
felicidade do homem.
criatividade se relaciona com o que nos interessa, o que nos motiva e que vale à pena. O
87
Guilford, nos anos 50, que pedia por mais estudos na área da psicologia da criatividade,
estudos investigando o processo criativo. Essa decisão não foi aleatória. Ela surgiu de um
fato que, segundo o autor, facilitaria seu desempenho como pesquisador do tema: suas
telas bem avaliadas por alguns pares, em seus tempos difíceis como sobrevivente de
guerra. Em sua vida adulta, como pesquisador de uma universidade americana, esta
experiência pessoal abriria as portas para sua primeira pesquisa que objetivava
faixa dos 20 anos, buscou entender por que alguns deles produziram obras que ao longo
do tempo foram consideradas criativas ao passo que outros não. Partindo de um olhar
interpretativo, Csikszentmihalyi analisou, por meio de imagens das produções dos alunos
pintura acerca das obras produzidas foi introduzida neste estudo inicial, quase como um
prenúncio das futuras ideias que dariam origem ao modelo sistêmico da criatividade. Com
emocionais se destacaram como obras com melhor elaboração e avaliação pelos pares
pessoais como personalidade, motivação intrínseca e valores, por exemplo, não eram
88
Estava aberto o caminho para a construção do modelo sistêmico da criatividade,
assim como toda a obra de Csikszentmihalyi. Seus longos anos como professor da
sociologia, consolidaram seu preparo pessoal e científico que lhe permitiram construir
livros com tradução para o português, dentre eles: Aprender a Fluir, A Descoberta do
explorar algumas questões relativas ao tema antes de uma definição conceitual. Para
compreender os estados emotivos do ser humano fez com que, muito cedo, ele percebe-
reflexões, criatividade estava sempre vinculada às coisas boas e interessantes que uma
pessoa pudesse vivenciar, como: inventar, inovar, fazer diferente, descobrir, gerar coisas
novas, originais ou mesmo geniais. Um outro aspecto que sempre tornou a criatividade
permitia uma sensação existencial única, repleta de prazer e bem-estar. Esta sensação foi
bem explorada pelo autor por meio do conceito de flow, que faz parte do processo criativo
e que será explorado adiante. Criatividade se relacionava aos estados emocionais que
causada pelo homem a si mesmo e aos seus semelhantes, situação que ele já tinha
89
experimentado em sua infância. O objeto de estudo encontrou a motivação do autor e o
sistêmico, que emerge das interações entre indivíduo, audiência e contexto social. A
em sua origem, dinâmica e desenvolvimento. De acordo com Alves (2012): “Um sistema
é uma construção mental de uma organização contendo uma coleção de objetos inter-
relacionados em uma dada estrutura perfazendo um todo (uma unidade) com alguma
conceito de sistemas abriu as portas para uma análise estrutural e dinâmica do ato criativo,
de outras pessoas que vão avaliar o ato criativo, inserindo-o, ou não, na cultura. Ao situar
criação. O indivíduo genial, dotado de talentos não é mais o foco da expressão criativa.
Para que um sistema opere, garantindo sua funcionalidade, é necessário que as partes se
mantenham em equilíbrio. Para haver criatividade não basta haver um indivíduo, seja ele
genial ou não. É necessário que haja uma sinergia entre várias instâncias que ultrapassam
contexto social e com o campo de expertises de uma área, que vão promover um
criativo. O sujeito que cria, de acordo com o Modelo Sistêmico, está submetido ao
sistema; ele depende de seus pares para ter seu trabalho reconhecido como criativo e
de encantamento e prazer que toma o sujeito em processo de criação. Essas sensações têm
a ver com a própria tradução da palavra para o português: flow significa fluidez, fluxo,
prática ou ação, já são conhecidas, porque o processo de fazer ou criar gera a sensação de
fluidez.
habilidades em enfrentá-los. Em estado de flow, nós sabemos que somos capazes de fazer
completamente concentrado naquilo que se faz, sem que ocorra qualquer tipo de
91
6. Medo de falhar não ocorre quando se experimenta flow. Isso acontece pela
profunda concentração na tarefa, pelo intenso envolvimento do sujeito com sua obra que
atua como um antídoto em relação ao medo do fracasso. Esse medo pode aparecer depois,
envolvida em seu trabalho que se esquece da tarefa contínua de proteção ao ego que
realizamos o tempo todo. É comum ver pessoas emergindo da experiência de flow com
uma percepção de si mesmo muito favorável e positiva, como se esta vivência tivesse
sem se perceber.
9. Atividade em realização se torna autotélica, ou seja, não há uma razão para que
ela seja realizada, a não ser o simples fato de realiza-la pelo prazer que advém disso
sujeito. Criar e obter reconhecimento sobre sua criação deixou de depender do talento,
Uma vez pronto, o resultado da criação, produto material ou simbólico, tem que
convencer uma audiência de experts que vão facilitar seu ingresso no domínio
sociocultural, ou não. Uma vez aceito pelo campo, esse produto pode não ser bem
desejado pelo indivíduo que o criou. Muitas vezes, o momento histórico é desfavorável
92
para determinado tipo de produto criativo; por outras vezes, é o tempo cronológico que
vai impedir a assimilação da criação, que pode ter chegado atrasada para causar impacto
boa parte dos esforços criativos. O cenário se torna bem mais complexo e múltiplas
fenômeno que não pode ser investigado, prioritariamente, a partir do sujeito que cria.
Questionar o que é criatividade, para o autor, é tão relevante quanto perguntar “onde está
um agente, que é o sujeito humano, mas também não há como ignorar que entre esse
interferências que são de ordem externa e que pertencem a outros cenários, como a
Criatividade, como já dito, emerge de um sistema que opera por meio de três
grandes instâncias, a saber: (1) um campo; (2) um domínio e (3) o sujeito. Na figura
93
Figura 1. Modelo Sistêmico da Criatividade (Csikszentmihalyi, 1999a, p. 315).
algum domínio, que selecionam o que é produzido pelos sujeitos, em diferentes áreas do
produção de trabalhos criativos” (Gardner & Wolf, 1994, p. 57). O campo pode ser
reconhecer que o indivíduo não trabalha no vácuo; cada ação deve ser julgada pelos pares
94
e o coletivo. O campo pode ser reativo e inibir a produção criativa ou ser pró-ativo e
Uma vez formado por especialistas, o campo é a instância social que define o que é
engana, cometendo erros notórios, como bem retrata a história de Van Gogh, que teve sua
obra ignorada por absoluta falta de condições do campo para compreendê-la em seu
que as mensagens culturais são criadas e canalizadas para os sujeitos por processos de
percebeu seu papel constitutivo no ato criativo. Fechando o ciclo, temos o sujeito, ou a
pessoa, que é o agente do ato criativo. É a pessoa quem vai traduzir para o campo as
influências recebidas no domínio em forma de produtos novos. Esses produtos, uma vez
considerados criativos, tem força para modificar o sistema como um todo e gerar
(Csikszentmihalyi, 2014a).
sua perspectiva, para que o ato criativo ocorra, uma série de práticas, crenças e valores
devem ser transmitidos do domínio para o indivíduo. O indivíduo pode, por meio da
Entretanto, essa produção ou variação no domínio deve ser selecionada e aprovada pelo
95
cadeia, uma etapa nesse processo (Csikszentmihalyi, 1996). Criatividade não ocorre
dentro da cabeça das pessoas, mas é fruto da interação entre os pensamentos do indivíduo
... é uma simplificação conveniente. Ela satisfaz nossa predileção antiga por
prévio, sem a rede social e intelectual que estimulou seus pensamentos, e sem o
confusa ou, especialmente, sem importância, as chances de ser assimilada pelos alunos
indivíduo tem acesso a muitas fontes de informação. Interesse e curiosidade podem ser
e promova muitas oportunidades. Altas expectativas, seja por parte da família, da escola,
96
precoce e a oportunidade de se engajar em um domínio específico são fatores essenciais
ao desenvolvimento da criatividade.
importante ainda que o potencial e interesse dos jovens sejam reconhecidos por um
membro mais velho do campo, que poderia atuar como um mentor. Seu papel seria o de
da criatividade.
eles realmente amam e a fazerem uma imersão nesse domínio. Para que isso aconteça, os
como eles podem “contaminar” seus alunos por esse sentimento; o currículo deve levar
Quanto a se ter uma vida mais criativa, Csikszentmihalyi (1996) faz algumas
recomendações:
97
2. Tente se surpreender por alguma coisa a cada dia.
emergentes.
6. Para manter seu interesse em uma tarefa, atividade ou área, aumente seu nível
de complexidade.
14. Escolha um domínio que atenda aos seus interesses. Para isso é necessário
Para Csikszentmihalyi (1996), “se você não aprender a ser criativo na sua vida
pessoal, as chances de contribuir [ou promover mudanças] para a cultura caem para
98
como a biologia, a sociologia, a antropologia, e vice-versa. Pessoas e contextos
sobre a criatividade não foge à regra. Os diferentes modelos teóricos que buscam
outras áreas. Csikszentmihalyi, por exemplo, buscou em Ludwig von Bertalanffy, biólogo
austríaco que criou a Teoria Geral dos Sistemas (Alves, 2012), elementos para seu modelo
encontramos trabalhos sobre as relações entre flow e a experiência no esporte (Jackson &
encontraram campo fértil para florescer (Berman & Davis-Berman, 2005; Custodero,
2002; Csikszentmihalyi & Hunter, 2003); (b) a motivação humana em suas várias nuances
99
(Csikszentmihalyi & Getzels, 1973) como fenômeno humano intimamente relacionado
aos estados de bem-estar, felicidade e ações produtivas com potencial de benefício para
2003; Fleith & Alencar, 2005, Neves-Pereira & Branco, 2015; Pinheiro & Cruz, 2009)
produções teóricas.
Modelo Sistêmico é a criatividade “Big C”, aquela que modifica a existência humana,
mesmo que em diferentes escalas. Criatividade, para Csikszentmihalyi, ter que gerar
impacto cultural. A opção por esta orientação justifica a existência do Campo, instância
de obras e produtos a serem inseridos nos contextos socioculturais. Ao decidir por essa
Imaginação Criativa”. Vygotsky (2009) estava convencido de que o adulto era bem mais
desenvolver, o que significa olhar para esta etapa de vida com atenção. Já na perspectiva
de Csikszentmihalyi (1996) não é possível ser criativo na infância, como dito a seguir:
100
Crianças podem se mostrar bastante talentosas, mas elas não podem ser criativas
mudar modos de pensar, o que, por sua vez, demanda expertise sobre os antigos
(Sawyer et al., 2003; Vygotsky, 2009). Ser criativo na infância, na perspectiva do Modelo
Sistêmico, é um mito, uma idealização da criança construída por nossa sociedade que
nessa linha de pensamento, não é possível dizer que crianças tenham produções e/ou
ações criativas que impactem um contexto social ou o campo (Sawyer et al., 2003),
portanto, crianças não são criativas. Porém, nenhum pesquisador que trabalhe com
criativa aflore com vigor na vida adulta. Isso pressupõe, ou mesmo deixa pistas, de que
criatividade ordinária, aquela que vivenciamos no dia a dia, que não modifica cenários
101
históricos, mas, na maioria dos casos, permite aos sujeitos (crianças, jovens, adultos e
(Kaufman & Beghetto, 2009) é de extrema importância para a vida humana. Ela impacta
desconhecidas na teoria e na prática por inúmeros grupos culturais que habitam nosso
suas diversas instâncias, mas desconsidera aspectos centrais para uma visão da
(com o sujeito no centro do processo da criação) para uma perspectiva Copérnica (onde
participantes). Criatividade passa a ter origem nos contextos sociais e deles depende para
existir, sobreviver e modificar o mundo. Sai de cena a figura do sujeito genial e entra a
figura do agente da criatividade, que atua tanto individualmente como em grupo e que
102
Leituras Recomendadas
DF: EdUnB.
Referências
Abuhamdeh, S., & Csikszentmihalyi, M. (2012). The importance of challenge for the
Berman, D. S., & Davis-Berman, J. (2005). Positive psychology and outdoor education.
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Csikszentmihalyi, M., & Hunter, J. (2003). Happiness in everyday life: The uses of
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Susan Jackson, S., & Csikszentmihalyi, M. (1999). Flow in sports: The keys to optimal
D’Água.
106
O MODELO DA IMAGINAÇÃO CRIATIVA DE LEV VYGOTSKY
das funções psicológicas humanas criando solo fértil para que inúmeras teorias
impactos gerados, na psicologia e na educação, por suas ideias de cunho social e histórico.
pensada como uma função psicológica que se desenvolve por meio de um sistema que
sujeitos em seus cursos de vida (Neves-Pereira, 2018; Smolka, 2010; Vygotsky, 2009).
107
na qual o sujeito, a cultura e os contextos de desenvolvimento passam a coconstituir a
cultural atuando como pano de fundo nos processos de desenvolvimento humano. Após
Steiner, & Marjabovic-Shane, 2010; Glăveanu, 2014, 2015; Sawyer, 1995; Sawyer, John-
ampliando suas ideias, outros trabalhando diretamente com seu legado. Sem Vygotsky,
entretanto, este olhar sobre a criatividade, que começa a se fortalecer, não poderia existir.
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
vivenciadas por ele, e por seus pares, na Rússia no início do século XX. Lev Semyonovich
Vygodsky, que teve o sobrenome posteriormente mudado para Vygotsky, nasceu no dia
Bielarus. Oriundo de uma família judia, culta e dotada de posses materiais, Vygotsky e
sua família viveram em Gomel grande parte de sua vida, incluindo a infância e
adolescência. Ele e seus irmãos foram instruídos por preceptores e iniciados no letramento
fosse praticante de sua tradição. Vygotsky foi uma criança precoce intelectualmente. Há
ainda muito jovem, sempre com amigos mais velhos do que ele (Van der Veer & Valsiner,
1999).
108
A Revolução Russa de 1917 alcança Vygotsky, com 21 anos, já tuberculoso e
engajado em seus estudos e projetos intelectuais. Nesse mesmo ano, ele se forma em
origens religiosas. Ao longo de sua vida, Vygotsky teve que lidar com situações de
preconceito em relação aos judeus por parte da sociedade russa. Eles não podiam ser
servidores públicos, muito menos ocupar os melhores cargos de trabalho. Ser advogado
permitia, a Vygotsky, não só alcançar ascensão social como permissão para morar em
qualquer lugar do seu país, já que os judeus também sofriam retaliações com relação aos
espaços de moradia. Para além dessa primeira formação, Vygotsky realizou profundas
idiomas, dentre eles o Esperanto, o que lhe permitiu ler boa parte da produção científica
Conhecido por seu carisma como orador, Vygotsky retornou a Gomel, após sua
encontros e eventos científicos e artísticos que o destacaram como pessoa relevante para
a vida cultural e intelectual da cidade. Ele mesmo proferiu inúmeras palestras, cativando
um grande público encantado com o brilhantismo de suas ideias sobre a arte, a estética, a
ele (Van der Veer & Valsiner, 1999), incluindo os textos iniciais do livro Psicologia
descoberta aos 20 anos em uma crise severa que quase lhe custou a vida, Vygotsky ainda
levou algum tempo para mudar-se para a capital e dar início a uma nova etapa de sua vida
109
profissional. Seu casamento com Roza Smekhhova, em 1924, marca sua ida para Moscou
onde seu trabalho encontra solo para frutificar (Van der Veer & Valsiner, 1999).
qual a psicologia não detinha, ainda, espaço privilegiado. Sua trajetória, como área
mas também por intensa atividade cultural, seja na esfera da criação artística, seja
reconhecimentos que tiveram seu ápice com o Prêmio Nobel recebido por Pavlov, em
1904 (Rey, 2013). As ideias psicológicas começaram a ser trabalhadas, no cenário russo,
por meio de pesquisadores que introduziram temas pontuais no contexto das ciências
por Sechenov, ainda no final do século 19; (2) a criação do primeiro laboratório de
de bases teóricas positivistas) e (3) Pavlov, que, com seu prestígio científico e político,
110
disseminou crenças de que a psicologia científica só poderia se sustentar a partir de
abordagens experimentais das atividades nervosas superiores, tornando suas ideias sobre
de maior prestígio social e político, tanto filósofos como pedagogos discutiam, à época,
era um filósofo com forte interesse nos estudos sobre a consciência, fenômeno impossível
impacto em Chelpanov que, ao retornar a Moscou, deu início a uma nova perspectiva de
a partir dos modelos alemães e americanos, que representavam o que havia de melhor em
Kornilov tomou seu lugar. Kornilov (1879-1957) era um psicólogo soviético, discípulo
111
objetivava compreender os sistemas de reações que constituem o comportamento
humano. O convite feito a Kornilov para dirigir o instituto, que passou a se chamar
recebidas por Chelpanov, por parte do governo soviético, que o considerava muito
idealista e pouco prático (Van der Veer & Valsiner, 1999). Kornilov, ao tomar o lugar de
seu mestre, inicia uma profunda reforma na instituição, trazendo vários psicólogos para
fazerem parte do grupo. Luria foi convidado no ano de 1923. Vygotsky seria convidado
mais tarde. Foi no porão desse instituto que Vygotsky foi morar com Roza e sua primeira
A PSICOLOGIA DE VYGOTSKY
desvelar não somente o seu contexto de vida na Rússia do início do século XX, mas é
qualitativo dado pelo homem em sua trajetória ontogenética tem sua origem no fenômeno
da nossa espécie foi catapultado para um nível superior, inigualável na escala filogenética.
como o homem tornou-se cultural ao tentar lidar com a experiência vivida e com o caos
que a natureza nos presenteia a todo instante: por meio da criação de instrumentos
112
inexorabilidade e imprevisibilidade da experiência da vida, em que recursos semióticos
são requeridos para a explicação de si mesmo e para a organização do mundo à sua volta
cultura, que representa um construto central na formulação desse modelo teórico. Para
construído pelo homem, seja por meio da utilização de ferramentas ou do uso de signos.
herdada pela espécie homo sapiens, mas sim um processo construído no encontro entre
O homem se diferenciou das outras espécies animais em seu trajeto ontogenético porque
De acordo com Oliveira (1995): “o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação
com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico
113
Vygotsky compreendia que o homem, em sua longa jornada de desenvolvimento,
construiu, como espécie, uma ontogênese particular quando comparada com outros seres
vivos (Vygotsky & Luria, 1996). Ao diferenciar-se das outras espécies animais e construir
novas categorias psicológicas inéditas, até então, no cenário natural. A este repertório
Essa trajetória, porém, não surgiu do nada. No reino animal, existe funcionamento mental
em vários níveis. Leontiev (1978) discute esse tema e apresenta argumentos consistentes
que apoiam a tese de que características de pensamento estão presentes no mundo animal,
animal.
que o sujeito humano passa a atuar instrumentalmente sobre a natureza, mediado por suas
formal, entre outras. Tal repertório de ações é qualitativamente superior aos processos
114
inserir-se no mundo da cultura e das relações, o antropoide ascendeu ao patamar humano,
inovadores conceitos, entre os quais destacaremos aqueles que nos parecem fundamentais
funções psicológicas superiores. Seu argumento central é o de que toda a ação humana é
mediada. A mediação é o processo que caracteriza a relação do homem com mundo - com
não nos outorga o atributo de humanidade, embora seja indispensável. São necessários,
humano, para que nos tornemos “humanos”. Neste sentido, a mediação é uma experiência
vivida pelo homem em sua imersão no mundo da cultura concomitante com sua atuação
115
manifesta na interação com o outro por meio de uma atividade colaborativa em dois
uma vez que leva em consideração o que o sujeito já consolidou e sabe fazer sem ajuda
imitação na aprendizagem. Para além de suas hipóteses iniciais, podemos inferir que os
levando o sujeito a vivenciar, com a ajuda da sua imaginação ou do relato de outra pessoa,
o que não se viu e não se experimentou de maneira direta. A imaginação criativa, nesta
pela experiência anterior da pessoa, que vai do insight até a sua expressão no ato ou
produção criativa.
(Liberali & Fuga, 2018; Moran & John-Steiner, 2003; Vygotsky, 1999) defende que cada
pessoa vivencia a realidade como uma experiência única e particular. Ao mesmo tempo
em que essa experiência é afetada pelo meio social que circunda a pessoa, a pessoa
116
unidade. Desta forma, perejivanie é como um prisma refratário do coletivo que afeta a
maneira como o sujeito percebe, sente e vivencia o social e se transforma por meio dele.
criativa.
imaginação e fantasia. Nesse sentido, a perejivanie é tanto a experiência única que move
& John-Steiner, 2003; Vygotsky, 2009) como também a reação estética que sua obra
fantasia não são dois processos separados entre si, mas, essencialmente, o mesmo
117
DEFINIÇÃO DE CRIATIVIDADE
homem, nas quais se inclui a criatividade, são originadas no palco sócio-histórico, a partir
Sua saúde precária o avisava, de modo intermitente, que seu tempo produtivo tinha sido
algumas posturas teóricas de Vygotsky sobre o fenômeno criativo, que muito podem
como função psicológica superior, construída nas interações entre homem e cultura,
mediada por outros elementos sociais, mas com algumas características próprias. Para
Existe em grande quantidade nas grandes tempestades, com seus raios e trovões,
outros vão irradiar a mesma energia só que de maneira suave, discreta. A energia
71-72)
aptidão inata do ser humano ou sua relação com dons ou talentos criativos. Em uma leitura
o sujeito está inserido. O homem nasce com um repertório orgânico e estrutural para o
processos orgânicos que serão indispensáveis para nosso desenvolvimento futuro, mas
essa herança não garante nossa adaptação e sobrevivência na natureza. Sem modelos
119
sujeito agente do ato criativo. Sua expressão criativa individual reflete a influência do
coletivo, da dimensão social, na qual ele, como agente, apenas exteriorizou o desejo,
torna-se uma opção sem sentido. A criatividade não está somente nessas instâncias, não
contextos de desenvolvimento do sujeito passam a ter caráter determinante, uma vez que
a criação passa a ser vista como resultado de interações complexas entre os elementos
concepção vulgar que julga a criatividade como atributo de alguns poucos iluminados,
interação do sujeito com seu ambiente, impulsionado nesse percurso pelos processos de
elemento formador dessa mesma cultura. Surge como uma via de mão-dupla em que se
atividade criadora do homem que faz dele um ser projetado para o futuro; um ser que
sistema que ele denominou de “imaginação criativa”. Há, entretanto, discussões que
apontam para uma visão de criatividade mais diversificada, especialmente por parte dos
2018).
Vygotsky (1999, 2009) lança mão de conceitos chaves de sua psicologia, como
(1999), uma atividade muito próxima da brincadeira do faz de conta infantil, que encerra
A arte opera como uma técnica social da emoção porque, por meio da imaginação,
significados culturais, que vão imergir em uma dada cultura e modificar seus sistemas de
tanto o artista quanto a sua audiência cria suas próprias interpretações, vivenciando uma
experiência estética única e dinâmica que se modifica ao longo do tempo. Sendo assim, a
transformação humana e do mundo. Por isso, não existe uma oposição entre imaginação
1999).
este fosse uma reprodução do passado. A atividade criativa é, assim, o que faz a
122
interpretação da realidade feita pelos sujeitos e depende, diretamente, das experiências do
A imaginação está ligada à emoção. Ela retira fragmentos da realidade e, por meio
da criança; (2) a imaginação torna-se uma função psicológica superior quando se associa
função psicológica tipicamente humana, pois não se evidencia esse fenômeno no mundo
animal, Vygotsky procurou discutir seu processo de desenvolvimento até alcançar o status
com uma estrutura mais complexa que a simples imaginação. É relevante, para
Em seus primeiros anos de vida, quando a brincadeira do faz de conta domina seu
universo lúdico, observamos a expressão criativa a partir das interações com outras
crianças, mediadas por brinquedos, por elementos simbólicos e pelo próprio ato de
brincar. Ao brincar com carrinhos e bonecas, a criança demonstra sua síntese criativa de
123
situações reais, porém transformadas de acordo com seus desejos e necessidades internas.
criação de novos elementos, não vivenciados pelo sujeito, por meio da união e/ou fusão
pois corresponde aos anseios humanos de projeção no futuro, buscando soluções para
situações do presente ou atendendo a desejos pessoais. Dessa forma, todo ato criativo
se, então a base estrutural que permitirá a expressão criativa do sujeito, caracterizando-se
124
2009), a fala interna é que funcionará como mecanismo de elevação da imaginação ao
status de função superior no psiquismo humano. Do mesmo modo que regula as funções
mentais humanas, a fala interna vai regular a expressão da imaginação, colaborando nas
fala assume papel relevante neste processo, como destaca Vygotsky (Smolucha, 1992a):
a fala da criança, como base psicológica de sua comunicação com o meio que a
considerando-se que esse é o momento ideal para se fantasiar sobre a vida. Encontramos,
como consenso, o fato de que é na infância que a imaginação ocorre com maior
intensidade na vida do sujeito humano. Ao crescer, esse mesmo sujeito terá que abrir mão
desse prazer, pois necessitará lidar com situações concretas e práticas, que lhe exigirão
Vygotsky (Smolucha, 1992a, Vygotsky, 2009) vai propor uma reavaliação desse
conceito, afirmando que a imaginação está mais vinculada à realidade concreta do que se
125
pensa. Tal vínculo ocorre a partir de dois modos específicos: (1) a imaginação se constrói
essencial da atividade criativa, que tem como uma de suas funções tornar o indivíduo apto
a se adaptar ao contexto histórico em que vive. De fato, parece óbvio que qualquer
matéria prima de construção dos produtos imaginativos. Com relação ao segundo ponto,
e, portanto, ponto de partida para a construção de estratégias e/ou produtos que vêm
não passa de fruto vivo e tenro de um processo imaginativo. Se esses produtos também
têm origem na imaginação, são também obras coletivas, pois o sujeito que cria não
constrói sua obra sozinho, mas sim a partir das interações que vivencia em sua
e curiosidades com relação ao mundo real de modo bem mais simplificado do que o
adulto. Sua relação com o mundo ainda não adquiriu a complexidade que caracteriza as
mesma realidade. Suas questões existenciais são primárias, suas dúvidas básicas são
relativamente simples, até mesmo porque seu processo de desenvolvimento cognitivo está
em pleno andamento nessa etapa de sua vida, não permitindo ainda formulações
intrincadas sobre o mundo. Por essas razões, a imaginação infantil é pouco favorecida
126
quando comparada à do adulto, contrariando o senso comum que credita a esse momento
destaca o sujeito que cria como uma planta dotada de potencial, que poderá crescer se um
contexto social e um tempo histórico for favorável ao seu desenvolvimento. Esse sujeito
vai dar vida aos seus processos imaginativos, vai cristalizar sua imaginação por meio de
sua obra, mas esse fenômeno não é mérito exclusivo dele. Em cada etapa do seu processo
criativo encontraremos inúmeros coautores que atuam como participantes ativos da nova
produção, só que de modo silencioso e discreto. Mesmo na obra dos grandes gênios e
ideias semelhantes.
homem.
objetos concretos que davam suporte ao jogo infantil, dando lugar à imagens e
novas nuances e dão origem à fantasia. A fantasia no adolescente é voltada para a esfera
caráter mais subjetivo. Por meio da fantasia, ele vive outras realidades, mas também
transcendem ao jogo infantil, adquirindo a mesma função da obra de arte para o produto.
a criatividade na adultez. Para ele, é na fase adulta que a criatividade vai operar mais
ao longo da infância e adolescência mobiliza associações mais ricas frente aos problemas
da vida, ensejando uma produção objetiva e subjetiva que não somente responde ao
presente, mas que extrapola para o futuro. Isso se deve à complexidade do pensamento
abstrato, da razão que se encontra com a imaginação, tornando ainda mais fértil as
disponíveis para o ato criativo (Moran & John-Steiner, 2003). Para Vygotsky (1991), o
128
adulto é capaz de superar seus próprios sentimentos e extrapolar suas experiências de
da criatividade, que permanece ainda centrada no sujeito criativo, seus processos e seus
produtos. Essa possibilidade de expansão teórica abre portas para uma abordagem
abençoados, seu estudo não deve se restringir a uma visão reducionista nem a uma única
fenômeno criativo quando o situa em sua dimensão de função mental superior, fruto da
interação homem & cultura, sem privilégios para ninguém, pois sendo universal é, por
dinâmica dos processos internos, estimulados por nossa plasticidade neural, mas que
também são impressões da realidade externa, que vão mudar ativamente a qualidade da
de natureza política (Toassa, 2016). Parte dessa crítica parece ter sido forjada durante a
129
“Grande Quebra” stalinista (1929-1932), levando Vygotsky e seus colaboradores a
conviverem com uma persistente ameaça de investigação por comissões estatais. Como
assinala Toassa (2016), boa parte dessas acusações eram injustas e equivocadas e
ocidentais que eram vistas como ecletismo, contrarrevolução ou fascismo. Para os seus
posição acrítica de Vygotsky frente à psicologia burguesa ou ocidental; (b) uma defesa
por Vygotsky, que envolviam, entre outros fatores, a seleção de crianças com desempenho
abaixo ou acima da média para escolas especiais, que foram duramente combatidas por
2016).
130
histórico-cultural de Vygotsky à época, não propiciando o continuum de suas ideias nas
contemporânea, como um pensador que esteve muito à frente de seu tempo e que
desenvolvimento humano. Como assinalam alguns autores (Prestes, 2014; Toassa, 2016),
há uma retomada dos escritos de Vygotsky e de seus colaboradores nos últimos anos,
como uma forma de fomentar o continuum interrompido de sua obra e propor uma
CRIATIVIDADE
1992a). Com isso, e em virtude, de seu tempo de vida tão curto, há muitas pistas deixadas
para o avanço de pressupostos que nos sevem como desafios para pensar o
Com relação aos aspectos teóricos, parece que o nexo que torna possível descrever
o fluxo criativo ao longo do curso de vida são as emoções, que ora se deslocam em um
continuum do jogo infantil à fantasia do adolescente, em forma de arte de si, até chegar à
obra de arte que é uma extrapolação do sujeito e da cultura. Esse processo que,
131
e sociais do indivíduo na sociedade, que é um meio de equilibrar o homem com o mundo
nos momentos mais críticos e responsáveis da vida. “Sem a nova arte, não haverá o novo
Nesse sentido, seria possível pensar em perejivanie como um ato criativo de si,
como experiência permeada por flow ou suplício, que se constitui no limiar do ser e vir a
ser como ato criativo de si, dos símbolos e dos objetos que vão constituir a própria
relação com o outro, com os símbolos e artefatos culturais. Os processos que acontecem
experiências das crianças por meio de mediações intencionais, que fujam da reprodução
Desta forma, olhar o mundo por meio da lente da psicologia histórico-cultural ajuda-nos
emergem da experiência cotidiana de ser e estar e apreender o mundo, como uma obra de
Glăveanu, V. P. (2014). Distributed creativity: Thinking outside the box of the creative
49(3), 165-180.
133
Sawyer, V. John-Steiner, S. Moran, R. J. Sternberg, D. H. Feldman, J. Nakamura,
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135
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D´Água Editores.
136
PSICOLOGIA CULTURAL DA CRIATIVIDADE
dos estudos da criatividade. Como proposta teórica, ela surge dos esforços de
pesquisadores que vem olhando para o fenômeno criativo de posições, até então, pouco
experimentadas. Tal ousadia se reflete no árduo exercício que tem sido feito nos últimos
para o campo. Dentre os pesquisadores que vêm se dedicando a esse tema, destacamos
Vlad Petre Glăveanu, Alex Gillespie e Jaan Valsiner. Todos são professores em diferentes
periódicos dedicados a publicações na área, tanto na Europa como nos Estados Unidos.
Suas ideias começam, agora, a espalhar-se por outros continentes (Glăveanu, Branco, &
falarmos de uma única psicologia cultural da criatividade. Ao invés disso, o que estamos
buscando desenvolver cada vez mais são abordagens psicológicas culturais sobre a
criatividade, cada uma delas baseadas em teorias socioculturais (como por exemplo, o
engloba uma série de princípios (Glăveanu, 2010a, Glăveanu et al., 2019), a saber:
invés de uma visão usual de criatividade como fenômeno que ocorre na mente
pelo estudo das ideias criativas em si. O seu enfoque recai sobre as maneiras
sociomateriais.
criativa.
1
O conceito de Wonder pode ser compreendido como uma vivência particular de encantamento em que a
pessoa se percebe, subitamente (ou não) diante de um campo expandido de possibilidades passíveis de
engajamento ou ação por parte da pessoa. Wonder vincula o sujeito à ação criativa a partir das
possibilidades que surgem e são percebida. Funciona como um gatilho que emerge favorecendo o ato
criativo. Affordance diz respeito às relações entre cultura, significados e apropriação destes significados
pelos sujeitos. Surge das interações entre sujeitos, objetos culturais, crenças e valores sociais, na linha do
tempo cronológico, e que definem ou impedem caminhos para a criatividade. Criar, em certa medida, é
romper affordances.
138
melhor compreendido como uma forma ou qualidade da ação, e que essa ação
139
7) A criatividade contribui para com a sociedade e sua transformação. Por
último, a ação criativa não pode estar desconectada do seu impacto no mundo.
esperamos não apenas apresentá-lo a um público mais amplo, mas também destacar o que
colaboradores ativos nessa área de pesquisa e, para além do nosso compromisso com os
sete princípios já delineados, queremos dar aos leitores uma oportunidade de refletir a
respeito dessa abordagem a partir de outras visões, que às vezes competem com ela, e, às
vezes, corroboram-na. O presente livro, do qual faz parte este capítulo, tem a grande
tentar promover a comunicação de umas com as outras – um objetivo salutar, porém raro
na literatura.
criatividade tem um passado longo e uma história curta. Ela tem um longo passado
quando consideramos o fato de que os seres humanos sempre tiveram um fascínio pelos
atos criativos, uma enorme curiosidade sobre suas origens, os motivos que tornam
140
algumas pessoas mais criativas do que outras, de onde vem a inspiração, entre outras
diferentes raízes em três diferentes períodos dos séculos XX e XXI, tem origem nesse
momento histórico.
criatividade viveu e produziu durante a primeira metade do século XX, mesmo não se
nomes eminentes como Sigmund Freud, John Dewey, George Herbert Mead, Lev
as ações criativas das crianças e as dos adultos. Em ambos os casos, a criatividade surge
experiência que são próprios da expressão artística. Outro grande autor pragmatista, Mead
(1934), concebeu a criatividade como um ato social ao apontar para o fato de que, ao
criarmos, utilizamos a experiência social adquirida a partir dos diferentes papéis que
141
ocupamos na sociedade. Lev Vygotsky (1930/2004) é frequentemente apontado como o
que surgem das interações com os outros, por meio de signos e ferramentas disponíveis
nos diferentes contextos que um indivíduo habita. Por fim, Mikhail Bakhtin (1929/1984),
A segunda onda, aqui definida como a geração das teorias sociais, está
frequentemente associada ao trabalho realizado nas décadas de 1970, 1980 e 1990 pelos
142
Ainda que cada um desses autores tenha expandido a nossa compreensão acerca
da criatividade, pode-se questionar se eles devem ser realmente vistos como pensadores
(Amabile), ou focando suas pesquisas nos criadores eminentes, também chamados “Big
um caráter mais social do que cultural. A perspectiva de uma dimensão social como algo
externo à pessoa é facilmente verificada nos modelos acima citados. A instância social,
nessas abordagens, ora ocupa o centro da experiência do sujeito e/ou hora situa-se na
retaguarda deste mesmo sujeito, como em uma relação figura-fundo. O social influencia,
afeta, mas situa-se à parte do sujeito. Nesse desenho, não há uma dinâmica de constituição
realizados nas duas últimas décadas. A primeira menção a uma psicologia cultural da
criatividade foi feita por Glăveanu no artigo “Principles for a cultural psychology of
foco nas pessoas e produtos isoladamente: surge o conceito de self, o outro e os artefatos
143
como elementos impregnados de cultura. Essa abordagem se desenvolveu com base no
trabalho realizado por Keith Sawyer (1995) e Alfonso Montuori (2003) que enfatizaram
conceitos de (a) diferenças: (b) affordances; (c) estilos; (d) criatividade de vida, entre
(Glăveanu, 2016) buscou criar um diálogo entre distintas maneiras de entender e estudar
coletivo.
DEFINIÇÃO DE CRIATIVIDADE
atribuída dentro da psicologia cultural à questão das definições. Dentro de uma matriz
144
palavras, definir um fenômeno, de certa maneira, significa ter um impacto direto sobre a
não são estáticas. Elas são não apenas dinâmicas, mas também evoluem conjuntamente.
na psicologia concentra sua atenção nos produtos criativos e suas qualidades. Isso é bem
relevante para a perspectiva sociocultural, uma vez que, desde o início, essa definição
habitual reduz processos dinâmicos aos seus resultados estáticos. Em segundo lugar, a
definição “padrão” considera que os produtos criativos são novos e originais, além de
valiosos ou apropriados para a tarefa a ser executada (Runco & Jaeger, 2012). Mas o que
significa considerar menos, ou considerar como não criativo, tudo o que for mais
convencional, ou que não for suficientemente “novo”, categoria que inclui a maior parte
valor? Por um lado, significa reconhecer a criatividade envolvida nas ciências, nas
O fato de que as definições visam incluir algumas instâncias e a excluir outras não é a
questão em si. O que mais importa, para a perspectiva sociocultural, é que: o que estamos
145
excluindo, (as expressões cotidianas da criatividade) é, na verdade, algo essencial para o
pronuncia. Entre elas, como percebeu Stein (1953) desde o início, está o fato de que o
momentos marcados por um determinado tempo. De fato, algo considerado criativo hoje
pode não ser visto como tal no futuro, ou pode não ter sido considerado criativo nas
décadas anteriores. Da mesma forma, algo criativo na Europa pode não ser rotulado como
Pereira, no prelo), estamos agindo sob a ilusão de que tais qualidades são interpretadas
psicologia cultural faz à definição padrão: o sentido da criatividade, tanto na ciência como
para o senso comum, é social e culturalmente construído, e, por isso, depende do seu
como a criatividade.
utilidade, entre outros atributos, só podem se referir a pessoas ou coisas, mas não a
2
Para a psicologia cultural, o conceito de contexto tem suas peculiaridades. Contexto diz respeito a um
lócus de desenvolvimento do qual o sujeito participa em uma experiência única. Cada contexto é fonte de
desenvolvimento, porém marcado por especificidades materiais, simbólicas, socioculturais e pelo tempo
irreversível. Um contexto surge diante dos processos de significação de um sujeito diante da experiência e
configuram experiência única para este sujeito, mesmo quando compartilhado com outros (Valsiner,
2014).
146
nossa relação com o mundo? Como algo que surge a partir do “encontro” entre um sujeito
(self), os outros e a cultura? Esse tipo de entendimento pede um novo tipo de definição,
pessoa que as cria e o seu contexto de formas que são apreciadas como criativas pelos
envolvidos”.
desloca (1) o foco dos produtos para os processos (ação), (2) do indivíduo para as relações
criatividade. A apreciação de que algo é “criativo” continua sendo relevante, mesmo que
MODELO TEÓRICO
Nesse sentido, uma das abordagens teóricas mais populares – a abordagem da cognição
criativa (Finke, Ward, & Smith, 1992) – concebe o processo criativo como uma
147
dos processos cognitivos relevantes que contribuem para cada uma dessas fases.
Premissas semelhantes são compartilhadas por outros modelos bem conhecidos, como o
modelo de variação cega e retenção seletiva (veja Simonton, 2011). Em ambos os casos,
momento seguinte, ela se torna material e social, em outras palavras, ela é expressa e
transformada em objetos ou ações, por sua vez abertos ao julgamento dos outros.
Piaget, 1950), partindo não de mentes isoladas e sim das relações e interações (veja a
culturais, a criatividade é acima de tudo uma forma de fazer ou realizar, e uma forma de
se relacionar com o mundo. Isso não nega a importância do pensamento, das ideias
criativas e do papel dos agentes (vistos como mentes individuais); apenas insere esses
elementos em um contexto mais amplo de ações e interações, dentro de uma rede cultural
realizando o ato de criar como uma extensão dentro do mundo. A criatividade se torna,
motivação do indivíduo). Ela não se opõe aos produtos, mas defende um entendimento
dinâmico desses produtos como objetos em contínua criação e interligados com os seus
processos criativos, como por exemplo: a constante reinterpretação que atribui uma
148
qualidade emergente à criatividade e que só é possível a partir da existência dos produtos
forma dos quatro P’s da criatividade: pessoa, processo, produto e ambiente (no termo
fator externo de ‘pressão’ para a criatividade, pois ele a provê de recursos e integra os
seus resultados de maneira contínua e cíclica. Em terceiro lugar, os quatro P’s não podem
ser estudados isoladamente, apesar de nas décadas subsequentes e até mesmo nos dias
processo criativo, e assim por diante. E qual é a alternativa sociocultural? Com o objetivo
discussão sobre a criatividade, Glăveanu (2013) propôs o modelo dos cinco A’s, incluindo
(1) os atores; (2) a audiência; (3) as ações criativas; (4) os artefatos e (5) as affordances.
criadores não apenas como pessoas, mas também como atores ou agentes
149
a sua tipologia, principalmente em termos sociais, não reconhecem o fato de
algumas ações ou usos, ao invés de outros. A ação criativa não apenas utiliza
affordances.
usar esse modelo em relação aos atores criativos sem se perguntar acerca de
4. Ele considera essa dinâmica de conexão. Por fim, mas não menos importante,
a abordagem dos cinco A’s deve ser entendida à medida que evolui no tempo.
audiência contém o ator criativo por direito próprio. As ações que ligam os
diálogo com as formas convencionais de pensar esse fenômeno, mas ousam ir além. O
150
modelo dos cinco A’s transforma os quatro P’s, mas também abre novos espaços para a
teoria e a pesquisa, que antes não eram percebidos. Por exemplo, o modelo é formado não
apenas por elementos, e sim, primariamente, por relações. É a natureza da ação e das
interações estabelecidas entre os diferentes A’s que importa mais para um psicólogo
cultural. Com esse novo foco, surge uma questão teórica ligada às diferenças incorporadas
a esse modelo. Existem, de fato, múltiplos tipos de diferenças entre os cinco A’s, tais
artefatos novos e antigos, ou existentes. Essas diferenças são um campo fértil para a
criatividade, uma vez que nenhuma ação criativa seria possível, por exemplo, se não
públicos. Em casos hipotéticos como esses, nada de novo poderia surgir, uma vez que
lugar, é preciso perceber que a existência de diferenças é uma condição necessária, mas
não suficiente para que a criatividade ocorra. Por exemplo, a análise de um sujeito (e seu
self) em relação com o outro (com suas diferenças), com suas habilidades e visões de
mundo bastante diferentes não garantirá que eles alcancem uma realização criativa. Isso
se deve ao fato de que as diferenças precisam ser respeitadas, mas também transpostas
em meio à ação criativa. No caso das duas pessoas bastante diferentes, elas precisam estar
em condições de colaborar uma com a outra, o que significa que precisam entender,
respeitar e pôr em prática seus diferentes acervos experienciais. Para que isso aconteça,
cada uma delas deve ter condições de enxergar pela perspectiva da outra (a demanda pela
diferente. O fato de que todos ocupamos diferentes posições sociais, físicas, psicológicas
151
no mundo, cada uma delas associada a algumas perspectivas ou possibilidades de ação, é
crucial para a criatividade. Entretanto, isto é apenas uma premissa. O que torna esta
foco na tomada de perspectiva como processo criativo essencial, ao mesmo tempo social,
Herbert Mead e Mikhail Bakhtin. Mead adota uma visão do mundo como algo
à realidade e é isso que torna as vidas humanas complexas, por vezes difíceis, mas sempre
sempre, as perspectivas de outrem. Mais do que isso, para assimilá-las, precisamos estar
em constante diálogo com as visões e os posicionamentos dos outros. Essa é uma forma
social fundamental de pensar a criatividade e o processo criativo, que vai além das noções
novo vocabulário social e cultural para o processo criativo, nos termos de:
condições de refletir a respeito dessas mudanças (isto é, de ver a própria posição a partir
das posições de outras pessoas, e de entender a própria perspectiva assim como o faria
outra pessoa).
152
Como os modelos socioculturais descrevem a origem e o desenvolvimento da
às interações sociais e aos primeiros usos dos símbolos pela criança, em meio às instâncias
importância crucial para que a criatividade aconteça, então precisamos considerar quando
desenvolvimento, isso implica que quanto mais interagirmos com outras pessoas,
crianças – e, mais adiante, os adultos – vivenciem tanto quanto possível a sua cultura e as
153
A assimilação de suas posições.
CRIATIVIDADE
criatividade, na história humana, temos que lançar nosso foco para os processos de
mesmo extinção. Cada teoria possui seu corpus, instância que agrega histórias,
políticas no caminho dos conhecimentos que produz. Uma teoria é mais do que
uma janela que se abre para olhar um fenômeno. Ela é, especialmente, o resultado
(p. 3)
154
O lugar epistemológico da psicologia cultural da criatividade compreende a
em interações sociais nos mais distintos cenários socioculturais (Glăveanu & Gillespie,
envolve as instâncias do modelo dos Cinco A’s (Glăveanu, 2013) acrescido das marcas
do tempo irreversível e das distintas posições que os sujeitos adotam em suas práticas e
atos de criação. É por meio dessa dança dialética e dialógica que o agente se depara com
affordances que o levam a ações específicas que, por sua vez, geram artefatos múltiplos
que são aceitos ou rejeitados por vários núcleos de audiências. O que torna esse modelo
tempo irreversível e fortemente marcada por aspectos históricos, sociais e culturais, com
permeado por conflitos, justamente por ser um processo humano. Os artefatos podem
surgir, ideias podem ser geradas, agentes podem se deparar com affordances favoráveis,
audiências podem colaborar, mas, mesmo assim, é necessário que esse conjunto de fatores
por carregar uma forte carga de imprevisibilidade, se reveste, muitas vezes, de pouca
pergunta que só pode ser respondida ao analisarmos cada indivíduo em seus processos
155
criativos. É possível encontra regularidades dinâmicas e estruturais na emergência da
sistêmica. Se isso respeita, por um lado, a complexidade da ação criativa, por outro,
também nos leva a sérios desafios, inclusive metodológicos. Algumas questões surgem:
2. Como devemos articular o modelo dos Cinco A’s e as relações entre suas
instâncias?
criatividade com base apenas na qualidade dos produtos criativos é uma tentativa
156
capazes de examinar não só as pessoas ou os produtos, mas também as interações e
(Zittoun & de Saint-Laurent, 2015; Ness & Søreide, 2014; Neves-Pereira & Branco,
(no prelo) utilizaram diversas ferramentas analíticas para avaliar tanto a quantidade como
introduziram análises temporais para considerar, por exemplo, como a qualidade criativa
das ideias muda ao longo do tempo no trabalho com outras pessoas. Mais do que isso,
respostas dos outros diante do surgimento de uma nova ideia. Essa complexa metodologia
geramos ideias criativas de um tipo diferente, mais inclinadas à utilidade prática do que
157
PERSPECTIVAS FUTURAS DA TEORIA
respeito do seu fenômeno de estudo. Por vocação, ela deve gerar conhecimentos úteis,
manifestada, promovida, questionada e, por vezes, proibida. Para alcançar esse objetivo,
os psicólogos culturais não precisam se tornar praticantes, nem converter sua disciplina
Cinco A’s, por exemplo, é muito maior do que uma diferença de vocabulário; ela é uma
mudança que deve nos tornar mais capazes de entender o mundo e nele atuar. Em outras
palavras, ela deve nos ajudar a transformar a realidade, ao invés de estudá-la de forma
(concepções e ações) estão intimamente ligados. Somos todos (criativos) atores no campo
158
tempo, a exclusão de outras. Estamos construindo teorias, métodos e práticas que
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