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Antropologia e
Educação
2ª EDIÇÃO
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Ministro da Educação Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Aloizio Mercadante Oliva Unimontes
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Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
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João Carlos Teatini de Souza Clímaco Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
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Sandra Ramos de Oliveira
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior Chefe do Departamento de Educação/Unimontes
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narcio Rodrigues da Silveira Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
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Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros -
Unimontes Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
Maria ivete Soares de Almeida Antônio Maurílio Alencar Feitosa
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
O diálogo entre a antropologia e a educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Sociedade, cultura e educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2 Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3 Multiculturalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Educação e diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
A escola e os novos complexos culturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Atividades de Aprendizagem – AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Apresentação
Caro(a) estudante,
A disciplina Antropologia e Educação consiste na reflexão desde o contexto cultural da
aprendizagem, os efeitos sobre a diferença cultural, racial, étnica e de gênero, até os sucessos e
insucessos do sistema escolar.
Os objetivos desta disciplina são: perceber os pontos comuns da relação entre antropolo-
gia e educação, conhecer as contribuições de alguns antropólogos, da antropologia moderna e
contemporânea, sobre questões da educação numa visão mais ampla do termo, propiciar uma
reflexão sobre os sentidos que as culturas dão aos currículos, às diversidades e às relações edu-
cacionais na sociedade contemporânea. Para isso, dividimos o nosso estudo em cinco unidades:
Bons estudos!
9
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Unidade 1
O diálogo entre a antropologia e a
educação
1.1 Introdução
A educação realiza-se no interior da sociedade, composta por diferentes grupos e culturas,
visando certo controle sobre a existência social, de modo a assegurar sua reprodução por formas
sociais coletivamente transmitidas.
A antropologia nasce de relações historicamente constituídas entre os homens e, por sua
natureza, busca compreender o outro diferente de si - de seu mundo de origem, dialogando com
outras formas de conhecimento, tendo por base e pressuposto central o mundo da cultura, as
relações entre os homens e a construção do saber.
O diálogo entre antropologia e educação revela como ponto comum a “cultura”, entendida
como instrumento necessário para o homem viver a vida, distinguir os mundos da natureza e da
cultura e, ainda, como lugar a partir do qual o homem constrói um saber que envolve processos
de “socialização” e “aprendizagem”.
Este diálogo surge na passagem do século XIX para o século XX, com a antropologia norte-
Figura 1: As diferentes
-americana, cujas pesquisas possibilitaram uma reflexão a respeito da pedagogia que se aplicava culturas
na sociedade moderna e com a reprodução social através dos aparelhos educativos formais e in- Fonte: http://2.
formais. bp.blogspot.com/-
-XahN9SS2UgI/TewVziD-
3g4I/AAAAAAAAAGw/
RL6BqbPfnjs/s1600/antro-
de vida
Tanto a pedagogia quanto a antropologia
têm como objeto os modos de vida, os valores e
as formas de socialização. Ambas têm como ali-
cerce as relações entre o indivíduo e a socieda-
de e tratam da existência humana. Nessa relação
abre-se um espaço para debate, reflexão e inter-
venção, que acolhe desde o contexto cultural da
aprendizagem, os efeitos sobre a diferença cul-
tural, racial, étnica e de gênero, até os sucessos e
insucessos do sistema escolar em face de uma or-
dem social em mudança.
A antropologia relativiza as culturas e, atra-
vés da pesquisa em educação, vale-se do estudo
do modelo concreto de existência do educando,
direcionando para o desenvolvimento pleno do
potencial humano do mesmo. Para isso, reclama
da instituição escolar a urgência de misturar de
maneira crítica sua voz com a voz da cultura e do
fazer popular.
11
UAB/Unimontes - 2º Período
Vários estudos antropológicos sobre processos educativos entre grupos tribais revelam a
existência de um sistema de interpretação de um modo de vida, mas também uma pedagogia
que se formaliza como técnica e ritual educativo, criando sistemas especializados nessas técnicas
e ritos.
Para exemplificar que todas as sociedades possuem técnicas para estimular e corrigir seus
membros da infância à idade adulta via transmissão de conhecimento, valores e normas, Melatti
(1979) relata o processo educativo de uma criança Marubo. Diz ele: “Durante o tempo em que o
indivíduo é uma criança de colo, sem dúvida já se inicia sua formação como marubo”. Ela pressu-
põe desde o contato com os alimentos até outros hábitos como amarrar os pulsos, os braços, os
PARA SABER MAIS tornozelos e as pernas para que engrossem, fazendo dele um bom trabalhador no futuro. À me-
dida que cresce, está sujeito a tapas, empurrões ou ainda a punições quando faz algo de errado.
“A dominação política
e historicamente de-
Uma punição comum é a urtiga que é passada no corpo para que a criança deixe de ter pregui-
terminada nas relações ça e torne-se aplicada no trabalho. Da mesma forma, quando maiores, toma a “injeção de sapo”,
entre diferentes grupos uma espécie de queimadura em pele viva, que espanta a preguiça e o panema (azar).
e, principalmente, na Nesse sentido, cultura e educação são termos que se invocam mutuamente, como afirmam
história do mundo oci- Cazanga M. e Meza (1993). Segundo esses autores, “permanentemente envolvido no processo
dental, revela o colonia-
lismo como negador da
educativo e pelo simples fato de estar vivendo, o homem está aprendendo na sociedade pela
diversidade humana. cultura; a sociedade é o meio educativo próprio do homem, ainda que, a todo momento, não
centrado num modelo tenha consciência disso”.
cultural único e na Isso não quer dizer que os indivíduos sejam produtos mecânicos de uma linha de monta-
necessidade de colocar gem. O homem como ser variável, mutável no temperamento e no comportamento não fica à
sob controle o diferen-
te, a sociedade ociden-
mercê de sua natureza e de sua cultura, mas sim está sujeito a condições históricas determinadas
tal constrói uma prática e determinantes do universo em que está inserido.
pedagógica também Aos olhos da antropologia, a educação é cultura, ou seja, faz parte dos sistemas de símbo-
única e centralizadora” los e significados de uma determinada cultura. Qualquer estrutura intencional e agenciada de
(gusmão, 1997). educação constitui uma entre outras modalidades de articulação de processos de realização de
uma cultura, seja ela a de nossos indígenas Tapirapé, a da Grécia dos tempos de Sócrates ou a de
Goiânia ou Chicago de hoje em dia (BRANDÃO, 2002).
Para a antropologia todo o acontecimento da educação existe como um momento motiva-
do da cultura. Mas toda a cultura humana é um fruto direto do trabalho da educação.
A antropologia e a educação estabelecem um diálogo do qual faz parte, também, o debate
teórico e metodológico das chamadas pesquisas educativas, relacionadas às diversas e diferentes
formas de vida que, neste final de século, estão ainda a desafiar o conhecimento.
Franz Boas nasceu em 9 de julho de 1858 em Minden, na Alemanha. Em 1887 Boas emigrou
para os Estados Unidos. Foi pioneiro nas ideias de igualdade racial que resultaram nos estudos
de Antropologia Cultural da atualidade. Em sua obra “A mente do ser humano primitivo” (1911), de-
12
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
13
UAB/Unimontes - 2º Período
Defende a ideia da integração da Universidade com a Comunidade, de modo que ela abra
mão do seu isolamento.
Um sistema educacional que utiliza materiais que legitimam o poder opressor, forma pesso-
as para a submissão ou para a opressão.
A educação de um indivíduo é relativa ao seu contexto cultural. Cada um é formado de
acordo com o seu ambiente cultural e enxerga o mundo pelo viés da cultura em que nasceu, ou
que viveu a maior parte do seu tempo.
14
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
15
UAB/Unimontes - 2º Período
pois a educação familiar ou o sistema escolar não propiciou essa intimidade, não conhecem os
valores da cultura dominante, mas os reconhecem como importantes e tentam produzi-los em
suas vidas.
Para Bourdieu a educação é uma violência simbólica, ou seja, cultural; os agentes do sistema
inculcam um arbitrário cultural nas gerações. Isso não se revela como tal, porque tanto a insti-
tuição como os agentes tornam isso “naturalizado”, por ter poder e autoridade pedagógica. Essa
inculcação introduz um habitus cultural duradouro e legítimo, que incorporado, torna um capital
cultural que terá um valor social, beneficia aqueles bem nascidos e exclui (com legitimidade) os
despossuídos (BOURDIEU, 1997).
16
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Segundo o que Brandão nos faz refletir, não há uma forma única nem um único modelo de
educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece (talvez não seja o melhor lugar).
ATIVIDADE
A educação existe de formas diferentes em mundos diversos (sociedades tribais, agriculto- Na reportagem do
Box 1 a seguir, o autor
res, educação em países desenvolvidos, mundos sociais sem classes).
critica a teoria chamada
O educador, pensando às vezes que age por si próprio, livre e em nome de todos, na verda- de “essencialismo de
de, ele pode está servindo a quem o constituiu professor, a fim de usá-lo e ao seu trabalho, para classe social”. Analise o
os usos escusos que ocultam também na educação. texto e procure explicar
A educação é um dos meios de que os homens lançam mão para criar guerreiros, burocratas à luz do pensamento
antropológico sobre
e operários.
educação.
Na espécie humana, a educação não continua apenas o trabalho da vida. Ela se instala den-
tro de um domínio propriamente humano de trocas: de símbolos de intenções, de padrão de cul-
tura e de relações de poder.
Entre os índios a educação existe de tantas formas e é praticada em situações tão diferentes,
que algumas vezes parece ser invisível, a não ser nos lugares onde pendura uma placa com seu
nome.
Na aldeia africana o “velho” ensina as crianças o saber da tribo. Quando um povo alcança um
estágio complexo de organização da sua sociedade e de sua cultura, ele começa pensar como
problema as formas e os processos de transmissão do saber.
Este é o começo do momento em que a educação vira o ensino, que inventa a pedago-
gia, reduz a aldeia à escola e transforma “todos” no educador. Isso significa que, para além das
fronteiras do saber comum de todas as pessoas do grupo, emergem tipos e graus de saber que
correspondem desigualmente a diferentes categorias de sujeitos – (rei, sacerdote, professor), de
acordo com sua posição social no sistema político de relações do grupo.
Entre os gregos sempre se conservou a ideia de que todo o saber que se transfere pela edu-
cação circula através de trocas interpessoais, de relações físicas e simbolicamente afetivas.
A educação do homem existe por toda parte e,muito mais do que a escola, é o resultado de
todo o meio sociocultural sobre o seus participantes.
Sugestão de filme
17
UAB/Unimontes - 2º Período
BOX 1
Essencialismo de Classe Social
“... As classes mais baixas não são simplesmente desafortunadas; de acordo com as clas-
ses mais altas, são geneticamente inferiores...”.
Michael Kraus, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, e Dacher Keltner, da
Universidade da Califórnia, em Berkeley, exploraram aquilo a que chamam “essencialismo de
classe social”.
Essencialismo é a crença de que as diferenças superficiais entre dois grupos de pessoas
ou coisas podem ser explicadas pelas diferenças nas identidades estruturais.
Os investigadores descobriram que as pessoas têm crenças essencialistas sobre catego-
rias biológicas gerais, como gênero, raça e sexualidade, mas também sobre outras mais cul-
turais, como nacionalidade, religião e orientação política. O essencialismo leva a estereótipos,
preconceitos e a uma falta de inclinação para nos misturarmos com pessoas de fora do grupo.
Começaram por desenvolver uma escala de medição das crenças essencialistas sobre classes.
Foi pedido a um grupo diversificado de adultos americanos que classificasse o seu apoio a
declarações como “acho que mesmo que todos usássemos as mesmas roupas, as pessoas con-
seguiriam dizer qual a nossa classe social”, ou “é possível determinar a classe social de alguém
através de uma análise genética”. Em média, a classificação das declarações foi de 3,43, em
que 1 significava discordância total e 7 concordância total.
Os participantes também tinham de fazer uma avaliação subjetiva, de 1 a 10, do seu
próprio grupo social dentro da comunidade, com base na educação, rendimentos e estatuto
ocupacional. Os investigadores descobriram que, quanto mais alta a classe social, maior o es-
sencialismo de classe. Este padrão confirmava-se mesmo depois de controlada a orientação
política e os rendimentos e níveis acadêmicos dos participantes, indicando que é o sentido
individual de estar acima dos outros, e não os recursos que se tem, que conduz ao resultado.
O essencialismo de classe é basicamente uma incitação ao darwinismo social. A distorção da
teoria da evolução de Darwin, numa das suas interpretações, é a crença de que só os capazes
conseguem sobreviver e vencer – e mais do que isso, que este processo deve ser aceito ou até
mesmo acelerado por políticas concretas. É um exemplo da falácia conhecida como “o apelo
da natureza” – o que é natural é bom.
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 33. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Sobre as teias e tramas de aprender e ensinar: anotações a res-
peito da antropologia da educação. Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 27 (2): 1-54, jul./dez. 2002.
Fernández Gonzáles, Leopoldo Jésus, Tânia Regina Eduardo Domingos. Antropologia e Educa-
ção. Cadernos de antropologia da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. V.1.
PETERS, Gabriel. O social entre o céu e o inferno: A antropologia filosófica de Pierre Bourdieu.
XXXII encontro anual da ANPOCS, 2008.
18
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Unidade 2
Sociedade, cultura e educação
2.1 Introdução
Pensamos, muitas vezes, que o resto do mundo é ou
deveria ser como nós, que nossos deuses são os únicos e
verdadeiros, que nossos costumes são os mais razoáveis,
que nossas instituições são as mais adequadas.
Diversos povos de diferentes épocas e lugares tinham
ou têm formas de vida distintas que, às vezes, temos difi-
culdades de imaginar. Por maiores que sejam as diferenças
sempre há regras que estruturam e organizam a vida so-
cial com a distribuição de papéis e de atividades. (Ex. To-
das as culturas procuram dar um sentido especial à Edu-
cação de seus membros). Todos devem aprender a ler e
escrever do mesmo jeito que aprendemos?
Para refletir sobre esta relação entre cultura, socie-
dade e educação, iremos estudar, nesta unidade, alguns
conceitos de cultura, multiculturalismo e a relação cultura,
educação e currículo.
2.2 Cultura ▲
Figura 6: Culturas
brasileiras
Fonte: http://t0.gstatic.
Num livro intitulado “Escola e Cultura” o sociólogo francês Jean-Claude Forquin identifica e com/images?q=tbn:ANd9
discute cinco acepções diferentes do termo cultura: 1) tradicional; 2) descritiva; 3) identitária; 4) GcRYg-DJ_NxcjIVe-
universalista-unitária; 5) filosófica. Vamos ver, com calma, cada uma delas. AKs3TmXFr_ErkRev6n-
s9Un1dcgDNtFfHT-0&t=1.
Acesso em dez. 2013.
1) Tradicional
Numa primeira acepção, a tradicional, a cultura é considerada como o “conjunto das disposi-
ções e das qualidades do espírito ‘cultivado’” (FORQUIN, 1993, p. 11). Isso diz respeito à posse de
um amplo conjunto de conhecimentos e de competências diversas. Vale dizer, essa é uma acep-
ção individualista e elitista da cultura, referindo-se ao indivíduo ilustrado, erudito, portador de
um saber enciclopédico, formado na tradição da melhor educação humanística e filosófico-cien-
tífica. É muito comum dizer que um indivíduo é “culto”, isto é, um sujeito que “cultivou o espíri-
to” e acumulou um vasto conjunto de conhecimentos. O contrário do indivíduo culto é o sujeito
rude, isto é, rudimentar, primitivo, capenga. Cultivar o espírito significa superar este estado de
rudeza e tornar-se um erudito.
2) Descritiva
Numa segunda acepção, voltemos a Forquin, exatamente no pólo oposto à primeira, está
a acepção descritiva desenvolvida pelas ciências sociais contemporâneas (Sociologia e Antropo-
19
UAB/Unimontes - 2º Período
logia). Nesse caso, “a cultura é considerada como o conjunto dos traços característicos do modo
DICA de vida de uma sociedade, de uma comunidade ou de um grupo, aí compreendidos os aspectos
Segundo a filósofa que se podem considerar como os mais cotidianos, os mais triviais ou os mais ‘inconfessáveis’”
brasileira Marilena (FORQUIN, 1993, p. 11). Pense, aí, que traços do modo de vida do povo da sua comunidade são
Chauí, o termo cultura “inconfessáveis”?
deriva do latim colere
e se referia original-
Sob essa perspectiva, constituem a cultura todas as manifestações de um povo, desde os
mente ao cuidado com aspectos mais sofisticados aos mais banais, os mais requintados pensamentos e os mais folclóri-
a terra, as plantas e os cos, os mais elevados ideais e as mais elementares ideias do senso comum. Nesse sentido, não há
animais (agricultura); povo nem indivíduo sem cultura. Há culturas diferentes, níveis diferenciados de cultura, da eru-
por extensão, referia-se dita à popular. Essas culturas são constituídas a partir de relações recíprocas, tanto entre pessoas
também ao cuidado
com as crianças e a sua
de uma mesma comunidade quanto entre comunidades humanas diferentes.
socialização (puericul- Poderíamos ir além. Vamos tomar um aspecto da cultura mineira, a culinária, por exemplo.
tura); era, ainda, expres- Você sabia que a comida mineira tem fama nacional? Pois é, “Feijão, Angu e Couve” é o nome de
são da adoração aos um livro que o escritor Eduardo Frieiro (1966) escreveu para falar da comida mineira. E que comi-
deuses (culto), termo da! Tutu de feijão com torresmo, angu com quiabo e frango caipira, pequi com arroz e carne de
que passou a designar
o indivíduo de espírito
sol, lombo de porco... Paremos por aqui. Todos nós sabemos que, para o nosso gosto, tudo isso é
cultivado.). A partir do uma delícia.
final do século XVIII, Porém, veja como a culinária pode trazer riscos à diplomacia! Você já pensou no problema
o cultivo do espírito que causaria se oferecesse a um judeu o nosso delicioso lombo de porco? E a um indiano um su-
transformou-se no ideal culento bife de boi? Agora, pensemos ao contrário. Imagine-se em viagem pela China, tomando,
de cultura da Ilustração.
Daí que cabia à chama-
como aperitivo, o sangue daquela cobra (serpente) que você acabou de escolher para o almoço.
da escola tradicional Ou comendo cérebro de macaco na própria cumbuca do crânio. Que tal, em algum país do inte-
ilustrar os indivíduos, rior da África, comendo fritas de lagarta ao invés dos nossos crocantes torresmos? Procure, você
mesmo que fosse com mesmo (a), mais alguns exemplos dessas “esquisitices” e verá que tudo não passa de uma ques-
a contribuição da pal- tão de gosto definido pela cultura. Vamos em frente.
matória (CHAUÍ, 1994,
p. 11).
Leia, escreva uma
síntese e discuta com 3) identitária
os colegas sobre a
questão.
Entre o sentido restritivo da primeira e o global e relativista da segunda, diz Forquin, há ou-
tras três acepções. Uma delas é a “identitária”, que entende a cultura como “um patrimônio de co-
nhecimentos e competências, de instituições, de valores e de símbolos, constituído ao longo de
gerações e característico de uma comunidade humana particular” (FORQUIN, 1993, p. 12). Qual é
o “patrimônio de conhecimentos e competências” da sua comunidade e como esse patrimônio é
passado de geração a geração? Quem são os responsáveis pela reprodução desse patrimônio, isto
é, quem são os mediadores que permitem às novas gerações o conhecimento desse patrimônio?
Por isso, é que se fala em identidade cultural. Há um “patrimônio de conhecimentos e com-
petências” que distinguem as pessoas do campo daquelas que vivem nas cidades, os brasileiros
dos norte-americanos, os ocidentais dos orientais, etc. Porém, não se iluda com a ideia, muito
difundida entre nós, de que há um traço distintivo no povo brasileiro, que é a cordialidade, a ge-
nerosidade, etc. Não há nada que assegure a um povo um estado de natureza que se incline para
a bondade e o espírito conciliador ou para a maldade e a violência bruta. A identidade cultural
de um povo depende da sua própria história. Existe uma identidade cultural do povo brasileiro?
E dos mineiros?
4) Universalista-unitária
20
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
O trabalho educativo, em qualquer lugar onde ele se realiza e sob quaisquer condições, diz
respeito a uma seleção feita pelos educadores (pais, pregadores, professores) daqueles bens cul-
turais que eles julgam necessário e/ou interessante repassar às novas gerações. Claro que isso
não se dá de forma espontânea. Há todo um sistema político e ideológico que cria regulamen-
tações e estabelece critérios que restringem a liberdade desses educadores. De qualquer forma,
eles são mediadores. Na escola, aquilo que é selecionado como relevante e necessário aos estu-
dantes deriva de recortes de conteúdos diversos feitos por profissionais do ensino e distribuídos
nas disciplinas que compõem o currículo. Em algum momento do curso, você terá a oportuni-
dade de verificar essa questão em maiores detalhes, quando for tratar da Gestão da Escola e das
Diretrizes Curriculares.
5) Filosófica
Há, ainda, a acepção filosófica, que afirma ser a cultura, “antes de tudo, um estado especi-
ficamente humano”, ou seja, “aquilo pelo qual o homem distancia-se da natureza e distingue-se
especificamente da animalidade” (FORQUIN, 1993, p. 12). Lembre-se. Os animais vivem em so-
ciedade, mas somente os seres humanos recriam intencionalmente seu ambiente. Do ponto de
vista puramente biológico, você sabe qual é a distância entre o homem e o chimpanzé?
Os animais reagem a estímulos externos, são domesticados e realizam trabalho, inclusive
de acordo com exigências humanas. Porém, somente ao homem é permitido criar, isto é, ir além
daquilo que é dado pela natureza e desenvolvido pelo adestramento. Isso constitui um campo
complexo há muito discutido pela Antropologia e que genericamente pode ser identificado no
tema “natureza e cultura”. Em um de seus livros mais famosos, Marx afirma que “uma aranha exe-
cuta operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir
sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente
sua construção antes de transformá-la em realidade (MARX, 1985, p. 202).
ATIVIDADE
Associe a acepção identificada na 1a coluna com sua respectiva descrição e/ou caracterização na 2a
coluna.
2.3 Multiculturalismo
A diversidade sempre foi explicada como desigualdade de estágios existentes no processo
de evolução. Essa explicação foi gerada na corrente da cultura europeia – “Eurocentrismo” – mo-
delo de humanidade concebido como sendo universal era o homem branco europeu. Visão de
mundo eurocêntrica.
21
UAB/Unimontes - 2º Período
Figura 8: Pluralismo ►
cultural
Fonte: http://www.
inclusive.org.br/
wp content/uploa-
ds/2009/12/1171701005_
diversidade.jpg. Acesso
em dez. 2013.
Quanto ao nível social, a interculturalidade orienta processos que têm por base o reconheci-
mento do direito à diversidade e a luta contra todas as formas de discriminação e desigualdade
social.
O termo multiculturalismo está umbilicalmente ligado ao currículo e à cultura. O currícu-
lo para ser entendido nesta ótica antropológica e cultural tem que ser ampliado. Tem que ser
entendido como cultura. Como prática social que produz significados; contribui para a constru-
ção de identidades. Constrói políticas de identidades. E uma pergunta sempre tem que ser feita.
Como respondemos, no campo do currículo, ao caráter multicultural de nossas sociedades?
22
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
A atitude em relação ao multiculturalismo deve ser desenvolvida com atenção sempre vol-
tada a pluralidade cultural da nossa sociedade brasileira. Isso levando em consideração o legado
português, o do indígena e do negro.
Nos muitos espaços de formação humana, teremos que construir um corpo teórico de co-
nhecimentos que reflita sobre o multiculturalismo: Suas características sociais e seus problemas
de governabilidade apresentados por grupos sociais diferentes em comunidades culturais hete-
rogêneas.
O multiculturalismo na educação merece um olhar antropológico e um viés crítico, pois a
sensibilidade para a pluralidade nos espaços de formação humana tem que acontecer com a re-
dução de preconceitos e discriminações.
Imperativo transcultural: As pessoas têm direito de serem iguais sempre que a diferença as Para saber mais
tornar inferiores; contudo, têm também direito de serem diferentes sempre que a igualdade co- “Do ponto de vista
locar em risco suas identidades. A política da diferença está sedimentada nos anseios de grupos cultural, a ampliação
subalternos que expressam ética superior à dos grupos dominantes. do tempo de escola
envolve disputas entre
O ideal da sociedade brasileira em relação ao multiculturalismo é a ancoragem social do ela e outras instituições
conhecimento. É um desenvolvimento cultural com a compreensão das culturas, consciência da sociais. elementos de
discriminação e capacidade de interagir com diferentes culturas. natureza antropoló-
Ao profissional de educação cabe o desenvolvimento de formas de conhecer na ciência: va- gica entram em cena
lidação externa, memorização, conhecimento intuitivo, observação e visualização de experimen- quando pensamos
sobre a jornada escolar.
tos, construção das próprias ideias. traços da cultura
brasileira concorrem
com a escolarização;
23
UAB/Unimontes - 2º Período
Sugestões de filmes
Referências
CANDAU, Vera. Multiculturalismo e educação: a construção de uma perspectiva. In: Sociedade,
educação e culturas (Questões e propostas). CANDAU, Vera Maria (org.). Petrópolis, Editora Vozes,
2002.
CAVALIERE, Ana Maria. Tempo de escola e qualidade na educação pública. Educ. Soc. Campi-
nas, vol. 28. N. 100 – Especial. p. 1015-1035, out. 2007. Disponível: http:// www.cedes.unicamp.br
CHAUÍ, Marilena. Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil. 6. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1994.
24
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural. In: Múltiplos olhares sobre educação e
cultura. (org). Belo Horizonte. Editora UFMG, 1997.
FRIEIRO, Eduardo. Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros. Belo Horizonte:
Centro de Estudos Mineiros, 1966.
LARAIA. R. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.
MARX, Karl. O capital. Crítica da economia política. vol. I. São Paulo: Difel, 1985.
SALGADO, Maria Umbelina Caiafa, MIRANDA, Glaura Vasques (Organizadoras). Veredas – Forma-
ção de professores: Módulo 1 – Volume 2/ SEE-MG. Belo Horizonte: SEE-MG, 2002.
SALVADOR, Angelo Domingos. Cultura e Educação Brasileiras. 4. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1976.
25
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Unidade 3
Educação e diversidade
3.1 Introdução
Nesta unidade iremos estudar sobre a educação anti-racista, educação indígena, educação
PARA SABER MAIS
e gênero e refletir sobre os mecanismos sociais que transformam as diferenças em desigualdade.
O resgate dos direitos humanos e a valorização da diferença são formas de desconstruir a Nos aspectos Legais
desigualdade. Esta é a base que fundamenta a prática da diversidade como valor. temos como suporte
básico a Constituição
A Igualdade na diferença é valorizar a humanidade que provém de todo e qualquer indi- Brasileira de 1988 que,
víduo, base da ideia de direitos humanos. Mesmo em casos graves de deficiência, a pessoa deve no artigo 3º dos prin-
ter garantido seu direito de livre escolha e convívio social. cípios fundamentais
A Diferença na igualdade é o reconhecimento das peculiaridades das pessoas, na medida declara:
que impliquem adaptações para que sua participação social seja efetivada. Esta ideia está na Dos Princípios Funda-
mentais
base do surgimento do conceito de diversidade. Art. 3º - Constituem
objetivos fundamentais
da República Federati-
27
UAB/Unimontes - 2º Período
▲
Figura 9: Abadás
Fonte:http://religio-
3.2.1 O Trato pedagógico da questão racial na Infância
esafroentrevistas.
files.wordpress.
com/2012/02/49c56__ Dependendo da forma como é entendida e tratada a questão da diversidade étnica, as ins-
abadas.jpg. Acesso em tituições podem auxiliar as crianças a valorizar sua cultura, seu corpo, seu jeito de ser, ou, pelo
dez. 2013.
contrário, favorecer a discriminação quando silenciam diante da diversidade e da necessidade de
realizar abordagens de forma positiva.
A criança que vivencia situação de discriminação com relação ao seu corpo pode não cons-
truir uma imagem positiva de si mesma.
Na contextualização de situações de diversidade étnico-racial e a vida cotidiana nas salas de
ATIVIDADE aula, alunos e alunas aprenderão conceitos, analisarão fatos e poderão se capacitar para intervir
1) Comente a imagem na sua realidade e transformá-la.
e justifique, citando As propostas de educação atreladas a uma pedagogia anti-racista criam estratégias para ga-
exemplo de como as rantir a permanência da parcela negra da população escolar na escola. Em todas as dimensões
práticas educativas
podem mudar esta do cuidar e educar, é necessário considerar a singularidade de cada criança com suas necessida-
realidade. des, desejos, queixas, bem como as dimensões culturais, familiares e sociais.
2) Qual é a importância O acolhimento à criança implica o respeito à sua cultura, corporeidade, estética e presença
da educação para com- no mundo. As dimensões do cuidar e educar nos permitem compreender a importância das inte-
bater a desigualdade rações positivas entre educadores e crianças.
racial?
3) Um dos argumentos Na abordagem da questão racial como conteúdo multidisciplinar durante o ano letivo, é
do discurso anti-cotas fundamental fazer com que o assunto não seja reduzido a estudos esporádicos ou unidades di-
no Brasil é que as po- dáticas isoladas. Atividades correlatas como painéis com fotos da turma, confecção de álbuns fa-
líticas de ação afirma- miliares, feira de cultura, construção de gráficos e estimativas, etc., tendo o cuidado de não refor-
tiva não se justificam çar as hierarquias das diferenças étnico-raciais, de gênero, faixa etária e condição social.
porque “todos são
iguais perante a lei”. A perspectiva da diversidade deve ser contemplada, escolhendo-se para acervo das institui-
Comente. ções bonecos brancos, negros, indígenas, orientais, a produção de jogos e brinquedos populares
e artesanais. Os educadores devem estar atentos para textos que podem reforçar o preconceito,
sendo dúbios em seu significado.
Além da Vasta literatura, os contos e as histórias povoam o universo de nossos alunos, por
que, então, não trazemos para a sua cultura os contos africanos e indígenas? Para a educação
28
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
29
UAB/Unimontes - 2º Período
ATIVIDADE
Escolha uma das frases
abaixo e escreva um
comentário.
a) “Não basta ter um
corpo, é necessário
senti-lo, amá-lo, cuidá-
-lo respeitosamente,
conhecê-lo, vivê-lo
na totalidade para
que possamos, na
relação com o outro,
assumir com autoria o
que somos, sentimos,
desejamos, pensamos,
fazemos com o nosso
corpo, nossa vida, nos-
sa história” (Madalena
Freire /2000).
b) “... um indivíduo ou
um grupo de pesso- Um exemplo disso são os índios sulmatogrossenses no município de Amambai, onde há
as podem sofrer um três aldeias das etnias Guarani e Kaiowá, com uma população estimada em 8.000 (oito mil) ín-
verdadeiro dano, uma dios, entre elas duas escolas indígenas, tendo como atores 80% (oitenta por cento) de professo-
autêntica deformação
se a gente ou a socie- res indígenas, habilitados em cursos específicos, sendo o Ará Verá, oferecido pela Secretaria de
dade que os rodeia lhes Estado de Educação e o Normal Superior Indígena que foi oferecido pela Universidade Estadual
mostra como reflexo, de Mato Grosso do Sul na Unidade de Amambai.
uma imagem limitada, A implantação das primeiras escolas nas comunidades indígenas no Brasil é contemporânea
degradante, deprecia- à consolidação do próprio empreendimento colonial. A dominação política dos povos nativos, a
da sobre ele” (Charles
Taylor, 1994: 58). invasão de suas terras, a destruição de suas riquezas e a extinção de suas culturas têm sido, des-
c) ”É um costume de o século XVI, o resultado de práticas que sempre souberam aliar métodos de controle político
inglês: na primavera, a algum tipo de atividade escolar civilizatória.
as pessoas semearem,
várias sementes mistu-
radas. Nada de jardins
com cercas separando 3.3.1 A educação escolar indígena na história do Brasil
qualidades... simples-
mente espalham-se as
sementes, e o maior No Brasil Colônia, a educação indígena foi promovida por missionários, principalmente jesu-
prazer, é ver o resulta- ítas, por delegação explícita da Coroa Portuguesa, e instituída por instrumentos oficiais, como as
do. A maior expectativa Cartas Régias e os Regimentos, com objetivos voltados ao ensino religioso e à preparação para o
é ver como ficará o
jardim. Não interessa
trabalho. Ressaltamos ainda que, nessa época, existiam 1.175 línguas indígenas. Mediante esse
tamanhos, cores, es- fato, os jesuítas tentaram utilizar uma única língua na comunicação com todos os povos: a nhe-
pessuras, mas a beleza engatu (língua geral amazônica), tentativa que não obteve sucesso.
disforme do jardim...” No século XIX - como súdito do Imperador, visava-se à civilização para o nativo, pois, como
civilizado, poderia fazer parte da monarquia. Esperava-se da escola a intervenção nas aldeias,
30
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
1) Maxacali
População: 1000 habitantes (Fonte: FUNAI: 2000)
Localização: município de Bertópolis-reserva de Pradinho e município de Santa Helena de
Minas-reserva de Água Boa.
Este grupo, em Minas Gerais, é o que preserva a sua cultura e língua própria de forma mais
vigorosa. São o único grupo de Minas ainda monolíngue. Possuem uma população em idade
escolar de, aproximadamente, 300 crianças. Se autodeterminam tikmã, ãn, que quer dizer “nós
humanos”. Pertencem ao tronco linguístico Macro-Gê de família Maxacali.
31
UAB/Unimontes - 2º Período
Por preservarem intensamente vivas sua língua e sua cultura, mantêm uma intensa vida ri-
tual e contato permanente com o mundo dos espíritos.
Têm uma economia de subsistência baseada na agricultura da mandioca, batata-doce e fru-
tas. Aos homens são destinados quase todas as atividades; restando às mulheres o serviço do-
méstico, cuidar das crianças, a pesca e a coleta de frutos e raízes.
2) Krenak
População: 200 habitantes dados (FUNAI 2000)
Localização: Município de Resplendor, às margens do Rio Doce Leste Mineiro.
Pertencem ao tronco linguístico Macro-Gê, família Botocudo, língua Krenak. São o grupo
Gut-Krak dos Botocudos. Embora falem cotidianamente o Português, possuem também o conhe-
cimento da língua materna em graus variados. Sua autodeterminação é Borum Watu
Apesar de falarem o Português no cotidiano, os krenak também falam a língua Krenak. Esse
grupo ocupa um território definido e possui uma liderança local. A caça e a coleta ainda são im-
portantes, mas é a pesca a atividade mais importante para a sobrevivência Krenak.
Além das tarefas domésticas cotidianas e da participação nas atividades econômicas, as mu-
lheres desempenham papel importante na vida política do grupo e forte influência sobre seus
filhos e maridos.
3) Xacriabá
População; 6000 habitantes (dados FUNAI:2000)
Localização: município de São João das Missões e Itacarambi.
Os Xacriabás pertencem à família linguística Ge, sub família Akwen.
Atualmente, esse grupo fala somente o Português (estão a aproximadamente 300 anos em
contato com os brancos). Ocupam uma área de aproximadamente 47000 hectares divididos em
23 aldeias. Possui um forte sistema de liderança centralizado,que funciona através de um conse-
lho de “caciques”.
Nas escolas Xacriabás, há um número de aproximadamente 45 professores Xacriabás, esco-
lhidos pela própria comunidade, que ensinam suas crianças. Gerenciam também as escolas e de-
finem seu próprio processo educacional.
Esses povos possuem uma longa história de luta e resistência, enfrentando sérios problemas
com a sociedade envolvente na luta pelas terras e pela identidade.
Pataxó
População: 250 habitantes (dados: FUNAI 2000)
Localização: Terra Indígena Fazenda Guarani, município de Carmésia.
A comunidade Pataxó é originária de Barra Velha, próximo a Porto Seguro (Bahia). Como
os maxacali e Krenak, pertencem ao tronco linguístico Macro-Gê, mas se expressam hoje,
corretamente, apenas em português. Há um universo de palavras Pataxós que estão sendo pes-
quisadas, a fim de serem recuperadas, registradas em fontes diversas, como parte da reconstru-
ção de sua identidade étnica.
Com um longo período de contato, possuem grande participação na vida da cidade. A prin-
cipal atividade desse grupo é o artesanato, atendendo à demanda de uma produção colocada
pelo mercado. Como parte do processo de venda, fazem apresentações sobre sua vida nas al-
deias, suas festas e seus costumes.
Quanto à educação, algumas crianças permanecem na Escola Municipal de Carmésia, mas
os Pataxós já se mobilizaram e estão trabalhando em suas próprias escolas, voltadas para à sua
cultura.
O Programa de Implantação das Escolas Indígenas em Minas Gerais foi o primeiro trabalho
efetivamente articulado do Estado em relação a esses povos, buscando responder as suas reivin-
dicações históricas. Isso aconteceu num contexto em que, em diferentes pontos do país, surgiam
propostas de educação escolar indígena.
A Secretaria Estadual de Educação, orientada pela constituição de 1988 e pelo Plano nacio-
nal de Educação Para Todos, começou a formular, em 1993, uma primeira proposta para Implan-
tação de Escolas Indígenas no Estado. Essas propostas foram consolidadas em 1995.
32
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Sugestões de filmes
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UAB/Unimontes - 2º Período
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Ciências Sociais - Antropologia e Educação
do de caminhãozinho ou bola, e a menina está sempre com uma boneca, olhando o irmãozinho
brincar de coisas mais interessantes.
Nos livros de ciências, só os meninos aparecem fazendo experiências. Quando, de vez em
quando aparece uma menina, ela está lá atrás, observando, ou é encarregada de providenciar os
materiais para a experiência que os meninos vão fazer. Isso tudo reforça as ideias preconceituo-
sas da sociedade de que as meninas não têm jeito para a ciência, que só os homens podem ser
cientistas.
Ainda nos livros didáticos, a mulher negra costuma aparecer sozinha, sem família, e no pa-
pel de empregada que serve à mesa para a família branca, como se ainda estivéssemos no tem-
po da escravidão.
As atividades na educação física são divididas e reproduzem preconceitos até nas brincadei-
ras, como aquela que diz “quem chegar por último é mulher do sapo”.
A professora, na maioria das vezes, é tratada como a segunda mãe ou tia. Isso significa não
reconhecer sua profissão e considerar o ato de educar como extensão do papel da mãe.
Como mães e professoras, as mulheres muitas vezes reproduzem o machismo e as ideias do-
minantes na sociedade, que pregam a suposta inferioridade das mulheres em relação aos ho-
mens. Não podemos nos esquecer de que as ideias dominantes na sociedade são dominantes
justamente porque estão na cabeça da maioria dos homens e das mulheres também. Essas ideias
são repetidas à exaustão na família, na escola, nas igrejas, nos meios de comunicação e não é de
estranhar que muitas mulheres se convençam delas.
Sugestões de filmes
Referências
AUAD, Daniela. Educar meninas e meninos. Relações de gênero na escola. São Paulo: Contex-
to, 2006.
CANDAU, Vera Maria, (1996). Formação continuada de professores: tendências atuais. In: RE-
ALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues, MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti (orgs). São Carlos:
Editora da UFSCar.
35
UAB/Unimontes - 2º Período
D’ANGELIS, Wilmar da Rocha, (1999). Educação Escolar Indígena: um projeto étnico ou um pro-
jeto étnico-político? Texto apresentado no 12º COLE, UNICAMP.
DINIZ, Margareth e VASCONCELOS, Renata Nunes (orgs) o que produz o silenciamento das mu-
lheres no magistério?. Belo Horizonte: Formato, 2004 (Série educador em formação).
FRANCO. Maria Laura P. B. Análise do Conteúdo. Série Pesquisa, Liber Livro, 2. ed. 2007.
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
ROSENDO, Ailton Salgado. Educação escolar indígena: ranços e avanços. Mestrando em Educa-
ção/UFGD. Universidade Federal da Grande Dourados.
36
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Unidade 4
A escola e os novos complexos
culturais
4.1 Introdução
O novo complexo cultural representado pela combinação entre cultura popular (nos chama-
dos meios de comunicação de massa) e as novas tecnologias de comunicação estão produzindo
uma transformação radical nos processos de educação.
Na mudança de uma cultura baseada nos meios impressos para uma cultura baseada nos
meios audiovisuais e nos computadores, gera-se um sujeito com novas e diferentes capacidades
e habilidades.
Nessa perspectiva, as novas identidades sociais assim produzidas também são vistas como
patológicas, no que se refere ao passado e ao presente. Um passado romântico não perturbado
por formas inferiores de cultura e, no presente, um mundo utópico, não distorcido pelas tendên-
cias mercantilizantes da cultura.
Essas questões implicam, por um lado, a defesa da volta às antigas formas de disciplina e
as formas tradicionais de aprendizagem e, por outro, a defesa de que o currículo deveria prova-
velmente incluir formas de desenvolver uma apreciação crítica da ideologia da mídia da cultura
popular, ancorada provavelmente em capacidades e habilidades mais próprias da cultura escrita
e impressa.
37
UAB/Unimontes - 2º Período
Supostamente, essas formas culturais – a “alta cultura”: da literatura, das artes e das ciências –
encarnariam valores, capacidades e conhecimentos “superiores” e mais genuinamente humanos.
A outra, a tradição da crítica à “cultura de massa” tem apresentado poucas sugestões em ter-
mos de educação e currículo.
Nessa tradição, o currículo deveria provavelmente incluir formas de desenvolver uma apre-
ciação crítica da ideologia da mídia de cultura popular, ancorada provavelmente em capacidades
e habilidades mais próprias da cultura escrita e impressa.
Aqui, como lá, a “cultura de massa”, os novos meios, novas formas e conteúdos culturais, são
colocados sob suspeita, são vistos como o outro de uma forma cultural superior, representada
pela educação institucionalizada.
Esses estudos vêm tentando demonstrar que as transformações colocadas pelos novos
meios e formas culturais não podem ser caracterizadas absolutamente como desvio, déficit, re-
gressão, anomalia, patologia. Elas devem ser compreendidas dentro de sua própria lógica e ótica
e não por referência a outras formas e meios culturais, característicos de outra época.
PARA SABER MAIS Elas implicam, sim, a produção de novas capacidades e habilidades, essas novas subjetivida-
Na mudança de uma des não podem ser entendidas como carência e desvio em relação a outras formas históricas de
cultura baseada nos produção e transformação cultural.
meios impressos para A separação entre baixa cultura e alta cultura, característica de ambas as interpretações con-
uma cultura baseada vencionais descritas anteriormente – tendem a se dissolver no novo cenário cultural representa-
nos meios audiovisuais
e nos computadores, do pela difusão e generalização das novas mídias.
gera-se um sujeito Na verdade essa oposição adquire cada vez menos sentido, entre outras razões, porque as
com novas e diferentes novas mídias tendem a incorporar formas e conteúdos culturais tradicionalmente pertencentes à
capacidades e habili- esfera da alta cultura, mas de uma forma completamente nova e transformada (maquilada).
dades. A educação institucionalizada e os/as educadores/as parecem mal equipados para lidar com
Como descrever e ana-
lisar essas mudanças? essas novas configurações do cultural. Os pensadores educacionais têm dedicado muito pouco
tempo a essa importante questão.
A escola, por outro lado, parece não apenas habitada por seres que se confrontam como
numa relação entre alienígenas, mas parece, ela própria, uma nave alienígena e anacrônica plan-
tada na paisagem futurística e ficcional de outro planeta.
O que aí se passa tende a movimentar-se em paralelo com aquilo que se passa no restante
da paisagem cultural, não havendo possibilidade de qualquer encontro ou contato.
O currículo é o espaço onde se corporificam formas de conhecimento e de saber. Como tal,
o descaso pelas radicais transformações efetuadas na produção da subjetividade pelas novas
mídias, demonstrado pela escola e pelos educadores profissionais, significa deixar de fora desse
espaço formas importantes de conhecimento e de saber que, no entanto, na contracorrente da
escola, estão, na realidade, moldando e formando novas formas de existência e sociabilidade.
O que precisamos é de formas criativas, abertas, renovadas de pensar e desenvolver currícu-
los que levem em conta esses novos mapas e configurações sociais.
38
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
39
UAB/Unimontes - 2º Período
nômicas, sociais e culturais, têm não só invadido a escola como disputado com ela o espaço
pedagógico. A indústria do entretenimento não se restringe a fazer circular mercadorias, ela
protagoniza uma pedagogia cultural regida por poderosas dinâmicas comerciais, assentadas
sobre estética e prazer, que se impõem sobre as vidas privadas e públicas de crianças, jovens e
adultos.
Em outro departamento da cena escolar, podemos testemunhar, outra vez, a força das cor-
porações empresariais nessa modelagem. Batata frita, salgadinho, hamburguer e refrigerante
têm sido os alimentos preferidos da população jovem escolar, em detrimento de uma merenda
balanceada e nutritiva. Amplamente difundidos, os maus hábitos alimentares que vêm assolan-
do a população mundial − principalmente crianças e jovens −, dobrando o número de obesos,
são incentivados por campanhas promocionais que, não raro, potencializam a capacidade dos
produtos na geração de prazer e fruição. Adquire-se uma determinada marca de salgadinhos,
ou outro alimento qualquer, porque, junto com esses, dentro da embalagem, vem também o
bonequinho do Homem-Aranha, a decalco das Meninas Super-Poderosas, o bottom do Ronaldi-
nho ou o prendedor de cabelo da Sandy.
Além disso, a maior parte de tais guloseimas está associada a desenhos animados, seriados
de sucesso, grupos musicais, etc. Salvo raras exceções, as cantinas escolares são uma fulgurante
vitrine desses produtos destituídos de valor nutricional, mas investidos de significados simbóli-
cos que os tornam altamente desejáveis. Como nos alerta a pesquisa de Isleide Fontenelle (2002)
sobre a McDonald´s, quem come um Big Mac ingere uma combinação complexa de valores, de-
sejos, estilo de vida e padrão universal de gosto, embalados pelo nome da marca. Em sua vida
cotidiana, jovens e crianças são submetidos ao fascínio e aos apelos estéticos consubstanciados
em narrativas que empreendem uma verdadeira cruzada para a mercantilização de objetos, ima-
gens e toda a sorte de artefatos consumíveis. Bem a propósito, poderíamos afirmar que, no mun-
do que Guy Debord (1997) batizou de sociedade do espetáculo, pão e circo se confundem.
Parte considerável das análises contemporâneas têm ressaltado enfaticamente as subjeti-
vidades como objeto de sujeição e disciplina. Na escola e na família, parece que têm surgido li-
nhas de fuga, mas é muito difícil escapar do que poderíamos denominar “subjetivação cultural”
− algo mais ou menos fortuito em termos de endereçamento, mas que atinge a todos nós, de
várias formas, em praticamente todas as esferas de nossa existência hoje em dia. Isso porque as
práticas de subjetivação escolares, familiares e religiosas requerem, em grande parte, renúncia,
abnegação, provação e obediência.
A subjetivação cultural, por sua vez, reveste-se quase sempre de peculiaridades que acio-
nam o lúdico, a fascinação, o deleite, ou seja, somos subjetivados na fruição e no prazer, ou na
expectativa desses; nesses casos parece que não há resistência.
Assim, não podemos esquecer que os sujeitos do currículo são, antes de tudo, as subje-
tividades forjadas em uma cultura regida pelos apelos do mercado. As regras, estratégias e o
modus operandi das sociedades neoliberais de economias globalizadas articulam-se caprichosa-
mente para fabricar um cliente.
Um olhar mais atento nos mostrará também a expansão de um contingente de cidadãos
de “segunda classe” – crianças, jovens e adultos pobres, trabalhadores eventuais, subemprega-
dos, desempregados, não empregáveis − que, segundo a lógica do capitalismo tardio, não po-
dem ficar de fora do circuito do consumo. Mesmo que não estejam habilitados a adquirir mer-
cadorias de primeira linha, inventam-se categorias a eles adaptadas − réplicas, versões baratas
de objetos de consumo desejados, que circulam amplamente no fluxo contínuo dos mercados
globais espetacularizados.
Esse consumo imaginário reforma os modos com que os setores populares se relacionam
com sua própria experiência, com a política, com a linguagem, com o mercado, com os ideais
de beleza e saúde. Quer dizer: tudo aquilo que configura uma identidade social.
A escola é uma dessas arenas, no entanto “empobrecida material e simbolicamente, não
sabe como fazer para que sua oferta seja mais atraente do que a da cultura audiovisual”.
Enquanto, por um lado, proliferam as representações de crianças e jovens integrados na
condição pós-moderna, familiarizados com a cibercultura, com mundos e relacionamentos vir-
tuais, imersos criativamente em novas culturas juvenis, adaptados às formas e composições
contemporâneas de “vida familiar”, por outro despontam os bem-sucedidos manuais para pais
e professores, bestsellers que celebram a retomada da disciplina, da hierarquia familiar, da de-
finição de limites, das fórmulas domésticas e escolares de vigilância sobre a vida cotidiana de
crianças e jovens que estariam fora de controle.
É relevante destacar em um texto como este, que pretende contemplar uma das perspecti-
vas da conexão entre identidade e currículo, a forma como as identidades se reconfiguram face
40
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
à perda de um cenário que se manteve estável por longos anos. Vivemos em um tempo em que
novos desenvolvimentos tecnológicos e culturais, muito especialmente a mídia, a computação ATIVIDADE
e a internet, tornaram-se organizadores privilegiados da ação e do significado na vida dos hu-
Pesquise, leia e debata
manos. Essa fantástica mudança desestruturou as instituições consagradas, subverteu práti-
sobre o assunto com os
cas centenárias, e instalou em seu lugar a incerteza, a provisoriedade e a imprevisibilidade. A colegas, no Ambiente
mudança é radical, as consequências são sérias e exigem investimentos na busca de um novo Virtual de Aprendiza-
modo de ser e de fazer escola. gem:
Não poderemos vencer uma competição contra as pedagogias da mídia, tampouco de- 1) Os teletrabalhos,
as telecompras, os
veremos fugir amedrontados de nossos alunos e alunas, bem como seria inépcia desqualificar
telebancos, educação a
e desperdiçar nossas habilidades e capacidades para viver num mundo que, concordemos ou distancia, são sintoma
não, parece que está se tornando cada vez mais pós-moderno. do fim das cidades? Do
descongestionamento?
2) Como combinar:
novas tecnologias e
Sugestões de filmes
41
UAB/Unimontes - 2º Período
um grande ciclo de relacionamentos “virtuais” e dando em uma divertida sátira social sobre a
vida nos grandes centros urbanos (1995). Estados Unidos
Diretor: Hal Salwen - roteiro: Harold Salwen - fotografia: Harold Salwen - montagem: Edil
Giguere - música: Lynn Geller
Referências
BIGUM, Chris. Alienígenas em sala de aula (Trad. Tomaz Tadeu da Silva). Tomaz Tadeu da Silva
(org.) Petrópolis RJ: Vozes, 1995.
COSTA, Marisa Vorraber. Quem são? Que querem? Que fazer com eles? eis que chegam às nossas
escolas as crianças e jovens do século XXI. Ufrgs/Ulbra, 2004.
42
Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Resumo
UNIDADE I
• A especificidade teórica da antropologia não se reduz às particularidades das “culturas pri-
mitivas” mas envolve as múltiplas dimensões do ser humano.
• Carlos Rodrigues Brandão nos provoca a pensar sobre o que é educação exatamente na
perspectiva antropológica: Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na
escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela.
• A gênese da antropologia aplicada à educação se encontra no âmbito da antropologia cul-
tural norte-americana, concretamente na Escola de Cultura e personalidade, liderada por
Boas.
• Margareth Mead, nos anos 30 do século passado, procurava entender de que forma valores,
gestos, atitudes e crenças eram transmitidos pelos adultos a crianças, com o objetivo central
de moldá-los para a vida em sociedade.
• O capital cultural, amplamente desenvolvido por Bourdieu, seria o acúmulo dos bens cultu-
rais adquiridos ou investidos durante a vida. Seria o investimento em arte, literatura e imer-
são no meio de cultura.
• O específico da Antropologia da Educação consiste em criar teorias que possam explicar os
fenômenos educativos e contribuir eficazmente com o desenvolvimento pedagógico.
UNIDADE II
• A educação existe de formas diferentes em mundos diversos (sociedades tribais, agriculto-
res, educação em países desenvolvidos, mundos sociais sem classes).
• Na espécie humana, a educação não continua apenas o trabalho da vida. Ela se instala den-
tro de um domínio propriamente humano de trocas: de símbolos, de intenções, de padrão
de cultura e de relações de poder.
• A educação do homem existe por toda parte e, muito mais do que a escola, é o resultado de
todo o meio sociocultural sobre os seus participantes.
• Em todo processo educativo, encontra-se um modelo de ser humano, de comportamento
e de sociedade. Educar é humanizar, contribuir com a pessoa para que ela reconheça seus
próprios limites e possibilidades.
• Toda prática educativa, de maneira consciente ou inconsciente, firma-se sobre um conceito
de ser humano e de sociedade.
• No desenvolvimento da pesquisa educativa, podem-se seguir várias linhas que, de modo
geral, obedecem às grandes correntes filosóficas do século XIX e início do século XX: positi-
vismo, fenomenologia e a dialética.
• O multiculturalismo na educação merece um olhar antropológico e um viés crítico, pois a
sensibilidade para a pluralidade nos espaços de formação humana tem que acontecer com
a redução de preconceitos e discriminações.
• Os silêncios, os ritos, o currículo, a forma de organização escolar, os tempos e espaços esco-
lares, as linguagens que perpassam as nossas atuações docentes produzem meninas e me-
ninos e perpetuam relações desiguais entre elas e eles.
UNIDADE III
• As instituições podem auxiliar as crianças a valorizar sua cultura, seu corpo, seu jeito de ser,
ou, pelo contrário, favorecer a discriminação quando silenciam diante da diversidade e da
necessidade de realizar abordagens de forma positiva.
• As principais consequências de uma educação Racista e discriminatória para as crianças são:
a não percepção do diálogo como possibilidade positiva de contraposição de ideias; o com-
prometimento do senso crítico e ético; as atitudes de competição, agressão e violência no
cotidiano escolar e o estabelecimento de conceitos de hierarquia racial.
• As propostas de educação atreladas a uma pedagogia anti-racista criam estratégias para ga-
rantir a permanência da parcela negra da população escolar na escola.
• É importante que a temática das relações étnico-raciais esteja contida nos projetos pedagó-
gicos das instituições, evitando-se práticas localizadas em determinadas fases do ano como
maio, agosto ou novembro.
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UAB/Unimontes - 2º Período
UNIDADE IV
• O novo complexo cultural representado pela combinação entre cultura popular (nos chama-
dos meios de comunicação de massa) e as novas tecnologias de comunicação estão produ-
zindo uma transformação radical nos processos de produção de subjetividade e de identi-
dades sociais.
• O currículo é o espaço onde se corporificam formas de conhecimento e de saber. Como tal,
o descaso pelas radicais transformações efetuadas na produção da subjetividade pelas no-
vas mídias, demonstrado pela escola e pelos educadores profissionais, significa deixar de
fora desse espaço formas importantes de conhecimento e de saber, que, no entanto, na con-
tracorrente da escola, estão, na realidade, moldando e formando novas formas de existência
e sociabilidade.
• Crianças, jovens, mulheres, negros, idosos, docentes, surdos, etc., são exemplos de identi-
dades recriadas e reinventadas de múltiplas formas pelas variadas narrativas que passam a
circular de forma planetária, fazendo aparecer novos atores sociais.
• O currículo deveria provavelmente incluir formas de desenvolver uma apreciação crítica da
ideologia da mídia de cultura popular, ancorada provavelmente em capacidades e habilida-
des mais próprias da cultura escrita e impressa.
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Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Referências
Básicas
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Ciências Sociais - Antropologia e Educação
Atividades de
Aprendizagem – AA
1) Qual o ponto comum entre antropologia e educação? Como se explica?
4) Bourdieu desenvolve os conceitos de Habitus, Capital cultural , Capital Social e Violência Sim-
bólica, para criticar o papel da educação como reprodutora das desigualdades sociais. Enumere a
segunda coluna de acordo com a primeira.
5) A afirmação da diferença cultural como recusa positiva à hierarquização etnocêntrica das cul-
turas é denominada:
a) interculturalismo
b) multiculturalismo
c) interculturalidade
d) transculturalismo
Associe a acepção identificada na 1a coluna com sua respectiva descrição e/ou caracterização na
2a coluna.
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UAB/Unimontes - 2º Período
6) “O resgate dos direitos humanos e a valorização da diferença são formas de desconstruir a de-
sigualdade”. Comente esta ideia.
10) Na mudança de uma cultura baseada nos meios impressos para uma cultura baseada nos
meios audiovisuais e nos computadores, gera-se um sujeito com novas e diferentes capacidades
e habilidades. Um novo mapa cultural é formado por essas revolucionadas configurações cultu-
rais.
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