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AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
A linguagem da criança sempre provocou especulações diversas entre leigos ou
estudiosos do assunto. Heródoto, por exemplo, narra que, no século VII a.C., o rei
Psamético do Egipto ordenou que duas crianças fossem confinadas desde o
nascimento até a idade de dois anos, sem convívio com outros seres humanos, a fim
de se observarem as manifestações linguísticas produzidas em contexto de privação
interativa. Este estudo queria levantar a hipótese de que, a linguagem que seria
produzida por aquelas crianças seria considerada a primeira língua do mundo. A pós
os dois anos de privação, as crianças emitiram uma sequência fónica interpretada
como “bekos”, palavra frígida que significa “pão”. Então concluiu-se que, a língua
que o povo frígido falava era a mais antiga que a dos egípcios.
A aquisição da linguagem é um campo de estudo que abarca muitas outras áreas. Isto
quer dizer,cada área procura responder as lacunas que se tem levantado em relação a
aquisição da linguagem pela criança. Eis ai algumas áreas interessadas pelo estudo da
aquisição dalinguagem:
a) Aquisição da língua materna;
b) Aquisição de segunda língua;
c) Aquisição da escrita, letramento, processos de alfabetização, relação entre fala e a
escrita, entre o sujeito e a escrita nesse processo.

Temas e abordagens teóricas sobre a aquisição da linguagem


- O velho debate pendular sobre nature (natureza) versus nurture (criação,
ambiente). O Inato e o adquirido. O biológico e o social.
Os estudos sobre processos e mecanismos de aquisição da linguagem tomara um
grande impulso a partir dos trabalhos do linguista Noam Chomsky, no fim da década
de 1950, em reacção ao behaviorismo vigente na época. Chomsky adopta uma postura
inatista na consideração do processo por meio do qual o ser humano adquire a
linguagem. Para este autor, a aquisição da linguagem não dependede conjuntos de
comportamentos verbais, mas sim, de um dispositivo genético inato, inscrito na mente
(em inglês: LAD). De acordo com Chomsky, uma criança é capaz de aprender um
conjunto de regras da língua num período entre 18 a 24 meses de idade. Em suma, no
processo de aquisição da linguagem, a criança é exposta a um INPUT (conjunto de
sentenças ouvidas no contexto), sendo o OUTPUT um sistema de regras para a
linguagem do adulto, a gramática de uma determinada língua 1. Deve aqui se lembrar
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que, de acordo com os princípios chomskianos, as diferenças entre as línguas do


mundo não são tão grandes do ponto de vista sntáctico, gramatical, o que ajuda a
explicar o universalismo (Chomsky, 1993).
As colocações inatistas de Chomsky suscitaram uma série de estudos, a partir dos
anos 1960, que se concentraram sobretudo na chamada fase sintática, onde a
prioridade de análise pendeu para o estudo da aquisição dagramática dacriança por
volta do seu segundo ano de vida, quando a criança já começa a produzir enunciados
de mais de uma palavra. Tais trabalhos foram criticados e contra-evidenciados por
duas vertentes teóricas que, junto com os trabalhos gerativistas, têm norteado os
estudos na área. São elas:

a) O Conitivismo construtivista: Piaget, Vygostky


a) De acordo com Piaget o aparecimento da linguagem se dá na superação do estágio
sensório-motor, por volta dos 18 meses. Neste estágio do desenvolvimento cognitivo,
dá-se o desenvolvimento da função simbólica, por meio da qual um significante (ou
sinal) pode representar um objecto significado, além do desenvolvimento da
representação, pela qual a experiência pode ser armazenada e recuperada.

Em contraposição ao modelo inatista, a aquisição é vista como resultado da interação


entre o ambiente e o organismo, através de assimilações e acomodações, responsáveis
pelo desenvolvimento da inteligência em geral, e não como resultado do desencadear
de um módulo - ou um órgão - específico para a linguagem. Daí se diz que a visão de
Piaget sobre a linguagem é não-modularista.

A crítica ao modelo piagetiano, que criaram forças também neste período, baseiam-se
na interpretação de que Piaget avaliou mal e subestimou o papel do social e das outras
pessoas no desenvolvimento da criança e que um modelo interativo social se fazia
necessário para explicar o desenvolvimento nos primeiros dois anos, modelo esse que
desse conta de como a criança e seu interlocutor exploram os fenómenos físicos e
sociais.

Vygostky (1984) parte do princípio de que os estudiosos separam o estudo da origem


e desenvolvimento da fala do estuda da orgem do pensamento prático da criança. O
autor propõe que a fala e o pensamento devem ser estudados num mesmo prisma e
atribui a actividade simbólica, viabilizada pela fala, uma função organizadora do
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pensamento: com a ajuda da fala, a criança começa a controlar o ambiente e o próprio


comportamento.

O interaccionismo social

Segundo esta visão interacionista, os rituais comunicativos pré-verbais preparam e


precedem a construção da linguagem pela criança. As caracteristicas dafala do adulto
(ou das crianças mais velhas) são estudadas e consideradas fundamentais para o
desenvolvimento da linguagem da criança. Neste caso, a fala em que a criança está
exposta (input) é vista como importante factor de aprendizagem da linguagem da
criança.

Estágio do desenvolvimento da linguagem:

As crianças começam com balbucio das vogais (cerca de 3 a 4 meses, em média),


depois começam a combinar as vogais e consoantes (geralmente entre 6 a 12 meses).
as primeiras palavras emergem entre 10 a 12 meses, embora a compreensão das
palavras começa algumas semanas antes. Daí a criança começa a evoluir produzindo
até vários enunciados de palavras. Geralmente as primeiras primeiras combinações de
palavras começam entre 18 a 20 meses e, no começo tendem a ser telegráficas. Lá
pelos 24 a 30 meses, há outra espécie de explosão vocabular e aos 3 ou 3 anos e meio,
a maioria das crianças normais já dominam as estruturas sintáticas e morfológicas de
suas línguas maternas.

Os autores concluem que, linguisticamente, as crianças não são tábuas rasas. Ela é
perfeitamente proficiente em sua língua materna e continua a aprender outras formas
pertencentes a outras modalidades da fala/ linguagem, dentro e fora da escola. Isto é, a
operação com o objectos linguísticos. Assim, a escola vai lhe proporcionar o acesso a
outras “gramáticas” pertencentes a modalidades escritas.

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