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Psicolinguística da

Aquisição da Linguagem

Uma introdução
❖ Tópicos que serão abordados:

● Definição de Psicolinguística da Aquisição da Linguagem


● As questões centrais que são estudadas
● Investigação desses fenômenos pelo método da Psicolinguística da
Aquisição da Linguagem: como estudar?
● O papel da Prosódia na Aquisição da Linguagem
● Conclusão: Grandes linhas de investigação
❖ O que é a Psicolinguística da Aquisição da Linguagem?
1) A naturalidade com que uma criança adquire uma Língua:
● Não ensinamos a criança a falar: é um processo que acontece naturalmente;
sem necessidade de instrução explícita. Dessa forma, toda criança adquire
espontaneamente a língua usada a sua volta nos primeiros anos de sua vida,
a menos que tenha algum comprometimento cognitivo que a impeça de
desenvolver plenamente essa capacidade. Não importa a modalidade da
língua: seja língua oral ou língua de sinais, o processo é o mesmo.

● Essa naturalidade fica ainda mais evidente quando comparamos essa


aquisição das crianças com o processo de aprendizagem de adultos e
adolescentes em uma nova língua: um ensino formal é necessário. Mesmo
quando “mergulhamos” em outra comunidade linguística aprendemos a
língua de modo diferente de como uma criança a adquire.
2) Esses processos na visão do behaviorismo:

● Até aproximadamente a primeira metade do século XX, uma das


teorias que influenciaram a linguística para explicar a Aquisição
da linguagem foi o Behaviorismo, uma abordagem da psicologia
que estuda o comportamento humano. Para essa abordagem
teórica, tanto adquirir quanto aprender tratavam-se do mesmo
processo, portanto, comparava-se a Aquisição da linguagem
como algo semelhante a qualquer outro tipo de aprendizagem,
como andar de bicicleta, por exemplo.
● De acordo com B.F. Skinner, principal
representante do behaviorismo, os
seres humanos nasciam como uma
tábula rasa, ou seja, sem nenhum
conhecimento prévio, por isso,
adquirem todo o conhecimento
necessário através de experiências
vividas ao longo da vida e estímulos
externos.

● Nesse sentido, Skinner defendia que


as crianças eram linguisticamente
condicionadas através da repetição e
reforços (positivo ou negativo)
recebidos, isto é, elas apenas
imitavam os adultos e a língua seria
apenas um comportamento verbal.
● Em 1959, Chomsky critica essa
visão, visto que defende uma
capacidade linguística inata na
espécie humana para explicar o que
é conhecido como o “problema de
Platão ou o “argumento da pobreza
de estímulo.

● Essa capacidade inata, inscrita em


nosso código genético, depende de
amadurecimento ou maturação,
como outras funções biológicas, e
da inserção do bebê e da criança em
uma comunidade linguística para se
desenvolver.
● Eric Lenneberg foi um linguista e
neurocientista, cujas ideias sobre
Aquisição da Linguagem e inatismo
foram extremamente influentes na
segunda metade do século XX, junto
a outros linguistas, como Noam
Chomsky, fundou as bases do que
viria a ser conhecido como
biolinguística, o estudo das bases
biológicas da linguagem.

● Ele concluiu que falar e andar são


fenômenos biológicos, enquanto
aprender a ler e escrever é cultural.
Há culturas ágrafas, sem escrita,
mas não há comunidades sem
língua.
● Ele também defendeu a hipótese do período crítico: propôs a existência de um
período crítico para a Aquisição da Linguagem tendo como pressuposto que a
linguagem é inata. Esse período é chamado de crítico porque seria aquele mais
sensível à Aquisição da Linguagem. Caso a criança não adquira linguagem nesse
período, seu desenvolvimento linguístico será prejudicado.

● Identificando as propriedades da Língua, a criança usa criativamente o


conhecimento que adquiriu. Em torno dos 5-6 anos de idade, seu uso da língua é
semelhante ao de um adulto. A psicolinguística da aquisição da linguagem estuda
como isso acontece.
3) Definição de Psicolinguística da Aquisição da Linguagem

● A aquisição da linguagem, na perspectiva da psicolinguistica, é


concebida como um processo em que as habilidades perceptuais e
cognitivas desenvolvidas em seus primeiros anos de vida irão permitir à
criança reconhecer e identificar as propriedades da língua de sua
comunidade e perceber o modo como ela é usada em situações de
interação linguística.
❖ O que a psicolinguística da aquisição da linguagem
estuda

● Ao estudar a aquisição da linguagem, a psicolinguística busca responder a


algumas questões: quando a aquisição de uma língua começa? O que a
criança tem de adquirir- o vocabulário, as estruturas sintáticas, a fonologia,
a prosódia da língua? Como, então, ela percebe todas essas características
e as apreende? De que maneira ela adquire- que habilidades estão
disponíveis no seu aparato perceptual, cognitivo? Qual é o percurso do
desenvolvimento linguístico? etc.

● Graças a esses questionamentos e as pesquisas desenvolvidas na


psicolinguística, temos algumas evidências que respondem a essas
perguntas:
1) O feto é capaz de perceber o contorno prosódico dos enunciados
produzidos pela mãe e memorizá-lo

1) Com poucos dias de vida, o bebê é sensível a diferenças acústicas entre


diferentes consoantes e vogais, entre línguas prosodicamente distintas e
entre itens funcionais e itens lexicais.

1) No seu primeiro ano de vida é capaz de segmentar a fala em unidades


cada vez menores até chegar às palavras, se especializa nos contrastes
fonêmicos entre as vogais de sua língua e reconhece o padrão silábico
(CV no português) e as combinações mais frequentes de fonemas de sua
língua. Em torno de 9 meses, o bebê compreende algumas palavras e no
final de seu primeiro ano de vida, produz as primeiras palavras,
começando por substantivos e depois verbos.
4) Há evidência, também de um conhecimento sintático rudimentar em torno
de 2 anos, com o reconhecimento da ordem de palavras-padrão da língua (SVO
em português) e sua relação com papéis temáticos de agente e paciente. Nesse
mesmo período, a criança começa a produzir frases combinando duas palavras (
itens lexicais).

5) Entre os 3 e 4 anos, a compreensão e a produção da criança tornam-se cada


vez mais complexas e são frequentes as criações de novas palavras a partir das
possibilidades que a morfologia da língua apresenta (p.ex., “eu fazi”, como em “
eu comi”; “um arranhinho” para um “um arranhão pequenininho; ou um “eu
sabo”, como em “eu como”.)

6) Entre 5-6 anos, demonstra um domínio prosódico, fonológico, lexical,


semântico e sintático semelhante ao de um adulto.
● De modo geral, os estudos psicolinguísticos em Aquisição da Linguagem
se fundamentam em teorias linguísticas e em modelos de
desenvolvimento e/ou processamento cognitivo. Assim, a título de
exemplo, a investigação das propriedades que a criança deve identificar
na língua pode se pautar, por exemplo, pela concepção de língua do
programa Minimalista; o modo como a criança mapeia significado a itens
do léxico e estruturas pode ser investigado a partir da hipótese do
bootstrapping Sintático.
➢ Concepção de língua do Programa Minimalista
● O Programa Minimalista (Chomsky, 1995, 1999, 2005) é um programa de
pesquisa que apela para a ideia de que a habilidade da linguagem em
humanos mostra sinais de ser incorporada sob um design ideal com
organização primorosa, o que parece sugerir que o funcionamento
interno está de acordo com uma lei computacional muito simples ou um
órgão mental particular. Em outras palavras, a PM trabalha com a
suposição de que a gramática universal constitui um projeto perfeito no
sentido de que contém apenas o que é necessário para atender às
necessidades conceituais e físicas (fonológicas) dos seres humanos.

● Do ponto de vista teórico, e no contexto da gramática gerativa, o PM


baseia-se na abordagem minimalista do programa de princípios e
parâmetros, considerado o modelo teórico padrão que a linguística
gerativa desenvolveu desde os anos 80.
● O que essa abordagem sugere é a existência de um conjunto fixo de
princípios válidos para todas as linguagens que, quando combinadas com
configurações de um conjunto finito de chaves binárias ( parâmetros), podem
descrever as propriedades específicas que caracterizam o sistema de
linguagem.

Ex.: A estrutura SVO é comum em muitas línguas, mas apresenta parâmetros


diferentes em algumas línguas.

● Essa abordagem, que se desenvolveu como uma evolução da teoria


linguística de Chomsky, busca identificar princípios universais que estão por
trás de todas as línguas naturais, ao mesmo tempo em que reconhece a
presença de variações e parâmetros que determinam as especificidades de
cada língua particular. Assim, para entender como uma criança consegue
produzir e compreender enunciado infinitos a partir de uma experiência
limitada, pode-se aplicar esta abordagem do PM como uma dessas bases.
➢ Hipótese do Bootstrapping Sintático

● A hipótese do Bootstrapping sintático parte da ideia de que a relação


sistemática entre o significado do verbo e a estrutura sintática pode ser uma
fonte robusta de informações para a criança. É uma teoria proposta no
campo da aquisição da linguagem que sugere que as crianças utilizam pistas
sintáticas para aprender a estrutura sintática de sua língua materna. Essas
“pistas sintáticas” referem-se a informações disponíveis no ambiente
linguístico que auxiliam as crianças a extrair regras e regularidades
gramaticais da linguagem, mesmo antes de possuírem um amplo
vocabulário.

● As pistas sintáticas referem-se a pistas visíveis na estrutura das sentenças


que ajudam na compreensão do significado. Alguns exemplos:
1) A ordem das palavras em uma sentença, como a posição do sujeito, verbo e
objeto.

1) A concordância entre sujeito e verbo, como em “ele correrá” e “eles correrão”

1) Marcadores de tempo e modo, que indicam quando uma ação ocorreu, como
o uso de “ontem” ou “amanhã”

1) Marcação de caso, como em algumas línguas em que o caso de um


substantivo indica a sua função na sentença.

● Assim, através das pistas sintáticas, juntamente com sua capacidade inata de
processamento linguístico, para extrair informações sobre a estrutura da
língua, o Bootstrapping Sintático auxilia na aquisição da gramática e das
estruturas sintáticas da língua materna.
❖ Como estudar algum desses fenômenos usando a
Psicolinguística da Linguagem?

➢ Esclarecendo alguns conceitos:

● Quanto aos seus métodos de pesquisa:

Na perspectiva da psicolinguística, a pesquisa em Aquisição da Linguagem


implica a observação do fenômeno estudado através do método naturalista
e/ou do método experimental. No primeiro caso, busca observar e descrever
fenômenos em ambientes naturais, rotineiros, sem interferir diretamente
neles; é usado ao se investigar a ocorrência espontânea do fenômeno
estudado durante o processo de aquisição de uma língua. No segundo caso, o
método envolve a manipulação de variáveis controladas em um ambiente
controlado, buscando estabelecer relações de causa efeito.
Faz-se uso do método experimental quando se busca evidência de que um ou
mais fatores afetam o processamento linguístico, isto é, têm um papel na
percepção de propriedades da língua em aquisição, na compreensão ou na
produção de enunciados. Há diferente técnicas experimentais e a escolha
depende do que está sendo investigado e da idade da criança.

● Quanto às formas de observações:

Pode ser feita uma observação longitudinal ou uma observação transversal. No


primeiro caso, os pesquisadores coletam dados de uma amostra ao longo do
tempo, realizando medições repetidas em intervalos específicos, isso permite
acompanhar o desenvolvimento ou mudanças ao longo do tempo dentro de uma
mesma amostra de indivíduos; essa abordagem é útil para entender parâmetros
de mudanças ao longo da vida, como desenvolvimento cognitivo, mudanças de
comportamento ou progressão de doenças em uma população específica. No
segundo caso, os pesquisadores coletam dados em um único ponto no tempo de
indivíduos de diferentes faixas etárias, grupos ou condições sobre uma
determinada variável e comparam as diferenças entre esses grupos.
● Quanto aos tipos de variáveis:

As variáveis são componentes essenciais em pesquisas e análises de


dados. Existem dois tipos principais de variáveis: as variáveis
independentes e as variáveis dependentes. Essas variáveis são
essenciais para compreendermos a relação de causa e efeito, bem como
para testar hipóteses e tomar decisões embasadas em evidências
sólidas. Em termos simples, uma variável dependente é aquela que está
sujeita a mudanças ou variações em resposta a outra variável, chamada
de variável independente. Por outro lado, as variáveis independentes são
aquelas que representam os fatores ou condições que se acredita
influenciarem a variável dependente. Elas são controladas e manipuladas
pelo pesquisador para entender como afetam a variável dependente.
● A hipótese Nula:

É um conceito central em estatística, utilizado principalmente para testes


de hipótese. Ela é uma afirmação de que não há efeito ou diferença
significativa quando se realiza um estudo ou experimento. Na prática, a
hipótese nula é aquilo que se tenta refutar ou rejeitar com a coleta e
análises de dados. No conceito de teste de hipótese, rejeitar a hipótese
nula sugere que há evidências estatística que apoiam a existência de um
efeito ou diferença. Se a hipótese nula não é rejeitada, isto é, verdadeira,
o pesquisador conclui que os dados não fornecem suporte suficiente
para afirmar que há uma diferença real. É importante notar que não
rejeitar não é o mesmo que aceitá-la como verdadeira. Em vez disso, é
uma forma de dizer que, com base nos dados disponíveis, não há
evidências suficientes para concluir a existência de um efeito ou
diferença significativa.
➢ Exemplo de Método experimental usando a Psicolinguística da
Aquisição da Linguagem:

● Investigar se bebês distinguem consoantes vozeadas (/b/) de consoantes


desvozeadas (/p/) usando a Técnica de Sucção Não Nutritiva:

Essa técnica consiste em apresentar um tipo de estímulo enquanto o bebê chupa uma
chupeta ligada a um computador, que registra a taxa de sucção do bebê. Quando a
frequência de sucção está estabilizada, apresenta-se ao bebê um novo estímulo, que
pode ser igual ou diferente daquele que ele estava ouvindo- p.ex., [pa] e depois outro
[pa], produzidos por pessoas diferentes (Condição A), ou [pa] e depois [ba] (Condição
B). A atividade é realizada com dois grupos de bebês, sendo cada grupo exposto a uma
condição. Comparam-se as médias das taxas de sucção dos bebês ao ouvirem o novo
estímulo nas duas condições e, se a taxa média de sucção na mudança para o novo
estímulo na Condição B é maior, com uma diferença estatisticamente significativa
entre as condições, podemos interpretar essa diferença como evidência de que os
bebês perceberam a diferença entre [p] e [b].
● Um experimento semelhante foi realizado por Eimas e colaboradores (1971). Os
autores queriam verificar se bebês americanos de quatro meses são capazes de
perceber essas consoantes como categorias distintas, como fazem os adultos. A
diferença entre [b] e [p] é o vozeamento: a primeira é vozeada e a segunda
desvozeada. Quando produzimos essas consoantes, a vibração pode variar,
começando mais próxima ou mais distante do início da articulação da consoante
(mais precisamente, da explosão inicial, como se produzíssemos [b] com menos
voz (a vibração mais distante do início da explosão e [p] com algum vozeamento
(com uma vibração próxima da explosão). A questão é que, apesar das variações
de produção, os adultos percebem os primeiros como b se o tempo decorrido
entre a vibração das cordas vocais e o início da explosão do som não ultrapassar
25ms; caso contrário, serão percebidos como elementos da categoria p. Os
pesquisadores manipularam os estímulos, variando a distância entre o
vozeamento e o início de explosão da consoante ( VOT em inglês:Voice Onset
Time)
❏ Para exemplificar:
● Os bebês foram divididos em três grupos distintos e apresentados a pares de
estímulos diferentes. No gráfico a seguir, podemos perceber a reação diferente
dos bebês em função do estímulo ouvido:

1. [ba]-[pa] ou [pa]-[ba]
2. [pa]-[pa] ou [ba]- [ba]
vozes diferentes
3. [pa]-[pa] ou [ba]-[ba]
Mesma voz
● Dois pontos devem ser destacados para entendermos o uso do método
experimental: primeiro, a percepção dos bebês às diferenças entre os
estímulos e sua capacidade de categorização não podem ser verificadas
diretamente. Por isso, usamos uma técnica experimental para que possamos
observar essas habilidades indiretamente, através do comportamento do
bebê. O outro ponto é que a técnica tem de ser adequada à faixa etária da
criança. Bebês de quatro meses não falam, não apontam para imagens.
Chupar a chupeta é uma tarefa adequada a essa idade e a variação no ritmo
de sucção pode ser um índice de percepção do bebê a uma mudança no
ambiente.
❖ Investigação do papel da prosódia na Aquisição da
Linguagem

● A fala é organizada em constituintes prosódicos organizados


hierarquicamente e há uma relação, ainda que imperfeita, entre
constituintes prosódicos e constituintes morfológicos e sintáticos.
(Nespor e Vogel, 1986). Os constituintes prosódicos são, do maior para
o menor: Enunciado U, Frase Entonacional I, Frase fonológica, Grupo
clítico, palavra fonológica, pé métrico, sílaba.
❏ Domínios prosódicos:
● Na figura, vemos que o nível mais alto da hierarquia prosódica é o enunciado
fonológico. Em seguida, temos o sintagma entoacional e o sintagma fonológico,
níveis em que se estabelece a interface entre prosódia e sintaxe. Dizemos que a
relação entre prosódia e sintaxe não é perfeita porque a fronteira porque a
fronteira de sintagma fonológico sinaliza uma fronteira de constituinte sintático,
mas nem sempre uma fronteira sintática coincide com uma fronteira prosódica.
Ex: A criança/ pegou o brinquedo

● De toda forma, as pistas de fronteiras prosódicas podem auxiliar o bebê a


segmentar o fluxo da fala em unidades menores e facilitar o reconhecimento de
domínios sintáticos. Assumimos, de acordo com a Hipótese de Bootstrapping
Prosódico, que a propriedades acústicas do sinal de fala podem sinalizar
propriedades morfológicas e sintáticas e, portanto, a análise acústica dos
enunciados facilita a aquisição da língua pelo bebê. Se o bebê é sensível a
marcadores acústicos de fronteiras de sintagma entoacional, pode-se usá-los
como pistas para segmentar os enunciados em unidades sintáticas.
● Na literatura há evidência dessa sensibilidade em bebês adquirindo outras línguas;
investigamos se bebês brasileiros também são capazes de identificar as pistas
delimitadoras de fronteira de sintagma entoacional no português brasileiro (PB).

● Um experimento foi desenvolvido usando a Técnica de Olhar Preferencial. Nessa


técnica, o bebê é habituado a um tipo de estímulo durante certo tempo na fase de
Familiarização e, na fase de Teste, é exposto a estímulos compatíveis com o que
ouviu na fase anterior ( condição congruente) ou não ( condição incongruente). A
ideia é que o bebê reage se percebe diferença entre os estímulos apresentados,
escutando mais tempo os estímulos de sua preferência. Os estímulos auditivos
são apresentados acompanhados de um estímulo visual, que é sempre o mesmo
em todas as fases, apresentado na tela em frente ao bebê. Enquanto ele estiver
olhando para a tela, o som é emitido; se desviar a cabeça da direção do som/da
tela por mais de 2 segundos, o som para e um novo estímulo começa. (semelhante
ou diferente do que foi ouvido anteriormente).
● Mas como investigar a sensibilidade de bebês à fronteira de sintagma
entoacional? Partimos de trabalho com adultos (Alves, 2010; Alves e
Name, 2010; Christophe et al., 2004) e criamos duas situações: uma em
que a fronteira prosódica coincidia com uma palavra e outra em que a
fronteira prosódica “caía” no meio da palavra. Um grupo de bebês ouviu
na familiarização, durante dois minutos, a palavra BARCO em diferentes
contornos prosódicos. O outro grupo ouviu durante o mesmo tempo a
palavra BAR. Na fase de teste, os dois grupos ouviram os mesmos
estímulos- sentenças como as dos exemplos a seguir:

Condição BARCO (I): [A sócia do nosso BARCO ] I [ fechou contrato com turistas].
Condição BAR (I) CO: [ A sócia do nosso BAR ] I [ cochila durante o trabalho].
● Nossa hipótese de trabalho é que o bebê é sensível às pistas acústicas
que sinalizam uma fronteira de sintagma entoacional. Assim, tínhamos
previsões diferentes sobre o comportamento dos bebês em função da
Familiarização.

● Dezesseis bebês brasileiros foram testados, divididos em dois grupos


(familiarizados com bar ou com barco). Os tempos médios de reação (em
segundos) dos bebês de cada grupo podem ser vistos no gráfico a seguir:
● Os bebês familiarizados com BARCO escutaram mais tempo as frases contendo
essa palavra (14,39s) do que as frases com as duas sílabas separadas por fronteira
de I (... o BAR ] [COmeça…] (8,81s). Já os bebês familiarizados com BAR não
apresentaram preferências de escuta por um tipo ou outro de frases, como esperado
(12,27s vs. 11,79s)

● Os dados foram submetidos à ANOVA e, ainda, foram realizadas análises estatística


por grupo (teste-t). Nas duas análises, no grupo BARCO, observou-se que todos os
bebês desse grupo preferiram ouvir a condição congruente. Bebês familiarizados
com a palavra BAR preferiram ouvir sentenças da condição BAR, mas a diferença
entre as médias das duas condições não foi significativa. Quando observamos os
tempos de reação por bebê, notamos que metade deles preferiu ouvir sentenças
congruentes (BAR) e metade preferiu ouvir as sentenças incongruentes. (BARCO),
qualificando-se que as diferenças não foram significativas neste caso.

● Esses resultados sugerem que crianças são sensíveis às fronteiras entoacionais,


utilizando-as como pistas para a segmentação do fluxo da fala.
❖ Conclusão: Grandes linhas de investigação

São muitos os temas de interesse em Aquisição da Linguagem na


perspectiva da Psicolinguística. Aquisição da fonologia e aquisição da
sintaxe são grande áreas com um conjunto expressivo de pesquisas já
desenvolvidas, mas que continuam produtivas, nos cenários mundial e
brasileiro. Houve um aumento de pesquisas nas interfaces entre níveis
linguísticos (prosódia-sintaxe, prosódia-sintaxe-semântica), assim como
entre domínio Teoria da Mente etc.). Em termos mais amplos, o papel da
interação e de habilidades sociais e pragmáticas no processo de aquisição
tem sido revisitado, despertando grande interesse.
Obrigada pela atenção e pela
paciência!

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