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Pensamento e Linguagem

Teorias Explicativas sobre a aquisição da linguagem

Todas as teorias da aquisição da linguagem tem de ser capaz de explicar:

➔ Como é que a criança adquire rapidamente a linguagem


➔ Como é que a criança consegue compreender e produzir sequencias linguísticas
por elas nunca ouvidas
➔ Prever evolução sistemática no comportamento linguístico da criança em
qualquer um dos domínios da linguagem

O que distingue as teorias são as explicações entre como se adquire e porque se adquire

Perspetiva Comportamentalista

A linguagem também é resultado da experiência e da aprendizagem. A linguagem é um


comportamento verbal, cuja aprendizagem se instala através dos processo de imitação
e de situações de condicionamento. O desenvolvimento da linguagem é visto como
aprendizagem de comportamentos verbais.

Fundamentação

1. O comportamento verbal não deve ser distinguido do comportamento em geral


2. Os mecanismos subjacentes são iguais na construção de reportórios verbais e
comportamentais
3. A criança possui capacidade gerais de aprendizagem, não especificas para a
linguagem.
4. O desenvolvimento linguístico segue um percurso que vai da produção aleatória
de sons até à comunicação verbal estruturada

Se não há meio, não há aprendizagem, pois são os estímulos do meio que condicionam a
aprendizagem.

➔ Papel do meio - depende exclusivamente de variáveis ambientais, determinado


pela prática/exercício e NÃO pela programação genética.

Condicionamento clássico

Aprender uma língua é associação entre estímulos vocais e objetos do mundo

➔ A criança vê a maçã (ENC) que provoca satisfação (RNC). O adulto diz palavra
“maçã” (EN), que não provoca reação da criança. Por associação, a palavra
“maçã” para a EC, e provoca satisfação (RC).
➔ À medida que a criança cresce, estabelece uma resposta vocal condicionada
para cada objeto e situação do seu ambiente externo
➔ Ao fim do processo, a criança já trouxe para dentro si tudo o que existe no seu
ambiente externo.

Condicionamento Operante
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➔ O adulto reforça a criança por dizer a palavra na presença do estímulo
apropriado. A criança repete a palavra e o adulto diz “muito bem”. A criança vai
aprendendo, assim, a dizer as palavras sob controlo do estímulo.
➔ Alguns estímulos são internos e não externos. Como consequência, sempre que
sente o estímulo interno passa a eliciar a resposta verbal.

Papel das aproximações sucessivas

➔ Quando a criança diz “guete” – a criança é reforçada


➔ Quando diz “paguete” - a criança é reforçada
➔ Depois, só é reforçada como diz “esparguete”.

A expansão da aprendizagem lexical deve-se à imitação (criança imita as palavras que


houve), reforço positivo e modelagem.

A criança ouve frase que lhe vão servir de modelo para sequencias semelhantes, e
aplica a generalização.

Evolução

1. A criança imite sons aleatórios. Através do reforço positivo, vai isolando os sons
que integram as palavras no léxico adulto.
2. Reforço Positivo – controlamos e modelamos as repostas verbais adequadas e
eliminado as incorretas
3. A imitação e generalização permitem a criança ampliar o seu reportório
linguístico.

Críticas

1. É insuficiente para explicar a rapidez com que a criança aprende a emitir


enunciados complexos. A imitação não é justificação suficiente
2. Não explica:
a. Como é que as crianças emitem enunciados nunca ouvidos
b. Porque é que as crianças emitem determinadas palavras, sem ser na
presença dos estímulos correspondentes
c. Certos défices linguísticos/desenvolvimento menos produtivo em crianças
que vivem ambientes reforçantes
3. O reforço por parte dos pais não explica a correta construção gramatical das
crianças, pois os pais tendem a reforçar as frases com base num critério de
veracidade / adequação e não gramatical

Perspetiva Inatista

Nascemos com estruturas cerebrais especificas responsáveis pela capacidade de


aquisição da linguagem. As semelhanças universais no processo de desenvolvimento da
linguem são explicadas pela herança genética. O desenvolvimento da linguagem é
concebido mais como uma questão de maturação do que propriamente de aprendizagem.
O desenvolvimento da linguagem materializa-se na aquisição da linguagem.
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“É notável que, embora as aptidões cognitivas de crianças pequenas e chimpanzés não
sejam assim tão diferentes, as suas aptidões linguísticas são-no”.

A linguagem humana é uma faculdade especial, com relativa independência de outros


processos cognitivos, que tem uma base biológica específica, e que evoluiu apenas em
humanos porque o cérebro ultrapassou um patamar em dimensão

Apenas os humanos possuem a LAD - Language Acquisition Device/Dispositivo para


Aquisição da Linguagem

Pressupostos:

1. As crianças nascem com uma predisposição inata para adquirir a linguagem,


materializada na capacidade para extrair as regras gramaticais da sua língua.
2. A aquisição da linguagem é determinada por princípios e estruturas mentais
linguísticas específicas da espécie humana, determinadas pela genética: LAD

Fundamentação

1. Evidências desse conhecimento implícito

O processo natural e informal através do qual as crianças adquirem as regras que


regulam a formulação sintática da respetiva língua materna. Antes de ir para a escola,
as crianças já adquiriram as regras.

Adultos não escolarizados, aderem automaticamente regras quando falam -> Temos
conhecimento intuitivo das restrições estruturais da nossa língua

2. O modo como as crianças adquirem a linguagem

Nós nascemos preparados para aprender qualquer língua. Quando a criança diz uma
frase com uma estrutura especificas, é por que ela a compreendeu antes (a
compreensão precede a produção).

Mesmo uma criança sujeita a um meio desfavorável (adultos falam mal), conseguem
adquirir corretamente.

Desde que tenha condições mínimas, a criança adquire a linguagem, independente de


inteligência, motivação ou experiência.

A sequência relativamente universal, com etapas mais ou menos idênticas,


independentemente da língua, a que a criança está expostas, e das condições específicas
do meio.
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Fazi - fiz Jornales – jornais

➔ São um apoio ao inatismo (vs comportamentalismo)


➔ Apesar de serem produções jamais ouvidas pelas crianças portuguesas, são
regularizações infantis para exceções e assentam em regras existentes no
português
➔ É uma prova de que a aquisição da linguagem assenta na apreensão de regras
extraídas do meio linguístico envolvente

3. Existência de uma gramática universal

Que dita as semelhanças universais. Os aspetos sintático que são comuns a todas as
línguas do mundo ditam a gramática universal:

➔ Frases com sintagmas nominais (SN) e verbais (SV)


➔ Concordância entre SN e SV relativamente ao género e ao número
➔ Existência de regras transformacionais

Gramática generativa: Permite criar um nº ilimitado de combinações, totalmente


diferentes e novas, a partir de um nº limitado de unidades e de regras. A estruturação
permite a criatividade.

Em suma:

Expostas às produções linguísticas que o meio lhes oferece (input) e confrontadas com
uma infinidade de exemplos, as crianças parecem formular as hipóteses sobre as
categorias e relações subjacentes à linguagem e testá-las através do uso, aplicando as
regras extraídas (a gramática da língua) a novos contextos.

Bases Biológicas da Linguagem - Áreas de Broca e Wernicke especializadas na


linguagem.

Existe um período crítico para a aquisição da linguagem.

A universalidade do momento em que as crianças começam a emitir enunciados de 2


palavras decorre da finalização do processo de mielinização (+/- até aos 2 anos). A
criança torna-se capaz de fazer frases mais complexas.

Perspetiva Cognitivista

A universalidade do processo de aquisição da linguagem pode levar-nos a questionar se


as semelhanças nas aquisições em diversas línguas não poderão ser devidas a
capacidades cognitivas inatas mais latas, que determinam tudo o que podemos aprender,
e, portanto, subjacentes à capacidade para a linguagem.

➔ Damos entrada no mundo da linguagem com predisposições gerais que não só


nos permitem o acesso à linguagem, como determinam tudo o que podemos
aprender
Pensamento e Linguagem
➔ É impossível separar a análise do desenvolvimento da linguagem da análise do
desenvolvimento cognitivo
➔ A apropriação da linguagem pela criança avança de acordo com o respetivo
nível de desenvolvimento global

A criança desenvolve o conhecimento do mundo em geral, o qual é por natureza não


linguístico e, a partir daí, “enforma-o” em categorias e relações linguísticas. A criança
começa por conhecer os objetos (conhecimento não linguístico). Depois é que os
colocamos em categorias e fazemos associações entre eles.

A base são os mecanismos sensórios-motores. A linguagem faz parte de uma


organização cognitiva mais vasta, que vai beber a mecanismos sensório-motores que
estão na base da FUNÇÃO SIMBÓLICA, de que a linguagem é uma das manifestações.

➔ A criança só adquire a linguagem pois existe a função simbólica, que emerge ao


mesmo tempo que a linguagem. Só quando eu sou capaz de simbolizar é que eu
consigo usar a linguagem.
➔ Surge a partir da ação: é o jogo que conduz o bebé da ação à representação.
➔ Requisito fundamental à função simbólica: capacidade de diferenciar significados
de significantes, para poder evocar significados não presentes.

Então, a aquisição da linguagem tem a mesma origem da imitação diferida (consigo


imitar o que vi fazerem), do jogo simbólico e do desenho (tornar presente algo ausente).

O que é importante é a conquista da representação, pois só assim é que possível a


aquisição dos signos verbais.

No período sensório-motor, a aquisição da permanência do objeto e a consequente


capacidade de simbolização têm um efeito direto na compreensão e uso de palavra.

Isto explica o atraso de linguagem em crianças com um desenvolvimento cognitivo


deficiente (se tem um défice cognitivo no desenvolvimento, não pode desenvolver a
linguagem).

Perspetiva Sociointeracionista

A base da aquisição e do desenvolvimento da linguagem é mais social e cultural do que


individual e biológica.

Bruner

A linguagem é adquirida num contexto de comunicação e diálogo. As manifestações de


comunicação pré-verbal, por parte do bebé, já são uma forma de inserção no grupo
social.

Diálogo em Ação

Atividade conjunta entre a criança e o adulto que estabelece as referências comuns e o


contexto de base para o desenvolvimento da linguagem estruturada.
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Papeis do adulto que são modelos para o desenvolvimento futuro da linguagem:

➔ Interpreta permanentemente e atribui significado aos comportamentos das


crianças
➔ Estandardiza formas de ação conjunta – repetição e ritualização das
interações (semelhanças na interação, e só assim é que a criança consegue
extrair modelos).

Mecanismo Explicativos

LASS (Language Acquisition Support System) – rede de suporte da criança mais os


mecanismos inatos. São as diferenças no LASS individual que explicam diferenças na
aquisição da linguagem.

Aprendizagem em espiral – as palavras e os significados vão sendo introduzidas de


forma leve e natural (espelha a forma como, naturalmente, aprendemos a linguagem).

Conhecimento da estrutura conversacional

Através da interação, aprendemos aspetos da pragmática. É na situação de díade


cuidador-bebé que residem as origens da aprendizagem de uma competência
fundamental para o sucesso comunicativo no futuro: o “tomar a vez”.

Situação de amamentação

➔ Mães e bebés raramente vocalizam em simultâneo


➔ O mamar ocorre intercalado com pausas que parecem funcionar como um sinal
para a mãe comunicar com o bebé
➔ A mãe responde à vocalização do bebé como se os seus sons fossem
verdadeiras elocuções
▪ Este “tomar a vez” (quando uma pausa, o outro vocaliza) é o
primórdio de uma conservação

O diálogo é feito de repetições comportamentos verbais e não verbais, que ocorre com
grande frequência na interação. A maior parte das repetições introduz alguma pequena
variação (dizer Olá e Oláaaa).

Assim, o bebé:

➔ Aprende que qualquer ato importante é repetido muitas vezes, com diferentes
propriedades comunicativas
➔ Torna-se progressivamente capaz de alargar cada vez mais o âmbito das
categorias de comportamentos humanos.

Ao fim de seis meses:

➔ Aprendeu as pistas e convenções sociais que são eficazes na iniciação,


manutenção e evitamento de interações sociais.
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➔ Adquiriu o significado de diferentes variações em tempo e rimo (a mesma
palavra dita de forma diferente).
➔ Adquiriu esquemas das alterações que formam diferentes expressões emocionais
com capacidade de ler os sinais que os outros transmitem e discriminam a
maioria das expressões básicas humanas

Distinção entre sujeitos e objetos: através deste “tomar a vez” existente em jogos com o
cuidador

Descoberta dos referentes das palavras: a palavra refere-se a um objeto. Olhar mútuo
– a criança está a olhar para algo e o cuidador olha para esse algo também e faz
comentários sobre esse objeto, criando um estado de atenção reforçada na criança

Desenvolvimento da gramática: embora os pais possam não fornecer correção explícita,


fornecem correção implícita (quando a criança diz uma coisa gramaticalmente
incorreta, o cuidador tende a repetir as verbalizações mal construídas, em formato de
questão).

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