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Pensamento e Linguagem

As origens socias e interpessoais da linguagem

Os bebés:

➔ mostram intensa responsividade ao discurso- o batimento cardíaco do recém-


nascido altera-se em função do tipo de tom ouvido.
➔ a brincar com um brinquedo novo: quando ouvem uma voz numa língua estranha,
têm reação idêntica à que teriam face à língua materna.
➔ observam e tentam agarrar objetos inanimados, mas só acenam e fazem
pequenos movimentos da boca (pré-discurso) em reação às pessoas.
➔ preferem aceitar brinquedos de estranhos que falem a língua que têm ouvido
➔ detetam e reagem com estranheza quando ouvem estranhos a falar a sua
língua, mas com outro sotaque
➔ preferem amizades baseadas na partilha linguística do que em semelhanças
étnicas

A partilha do dialeto é fundamental para proximidade desde a infância mais precoce, até
à idade adulta. É um forte elicitador de julgamentos emocionais sobre “nós” vs. “os
outros” (decisivo para o agrupamento social)

Aquisição da Linguagem vs Aprendizagem

➔ Aquisição: é um processo de apropriação subconsciente de um código linguístico,


via exposição, sem necessidade de um mecanismo formal de ensino (língua
materna).
➔ Aprendizagem: envolve um conhecimento consciente, obtido através do ensino,
que contempla a explicação e análise por parte de quem ensina e um certo nível
de metaconhecimento por parte de quem aprende (tem de pensar no que está a
aprender)

A aquisição da linguagem realiza-se em ambientes que podem diferir consideravelmente,


sendo que só há falhas se as crianças forem mantidas afastadas de toda e qualquer
presença humana ou violentamente isoladas e/ou brutalizadas.

Mesmo um individuo surdo pode facilmente aprender uma língua – neste caso a língua
será sinalizada ou gestual (visuo-manual).

Os sistemas de linguagem gestual foram criadas de forma independente nas


comunidades de indivíduos surdos. São sistemas linguísticos legítimos e possui as
mesmas características da linguagem verbal (estruturada, criadora, significativa,
referencial e interpessoal).

Arbitrariedade é composta principalmente por símbolos arbitrários.

➔ Língua oral, se substituirmos um fonema numa palavra (ex: “pata” por “bata”),
mudamos o seu significado.
➔ Na língua gestual, ao mudarmos um dos parâmetros mínimos de um gesto
(configuração, orientação, localização, movimento) mudamos o seu significado.
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Requisito básico - Via exposição, tem de ser adquirido por forma informal e não por
ensino. Os filhos de surdos utilizadores (quer sejam surdos ou não) deste sistema
adquirem-no através da interação informal com os cuidadores.

Crianças surdas sem contacto com línguas gestuais estruturas desenvolvem


espontaneamente comunicação com os ouvintes através de gestos pantomímicos
(gestos mais próximos do que pretendem representar) idiossincráticos (cada um tem o
seu).

Porém, o contacto com outros iguais a si, uniformizaram num sistema mais elaborado e
com convenções partilhadas.

Esta aquisição tem muitos paralelismos com a língua falada:

1. Começam a gesticular um sinal de cada vez, aproximadamente na mesma


altura que as ouvintes começam a dizer uma palavra de cada vez.
2. Progridem em complexidade de forma paralela
3. Colocam os gestos individuais numa ordem serial fixa, de acordo com o seu
papel sintático e semântico, tal como os ouvintes.

Em suma:

Quando privadas do modo auditivo-vocal da comunicação, crianças com desenvolvimento


cognitivo normativo arranjam alternativas que reproduzem os mesmos conteúdos e
estruturas, noutros sistemas.

Mesmo em caso de privação sensorial significativa (visão), a aprendizagem da


linguagem ocorre:

➔ Crianças cegas usam palavras relacionadas com a visão na mesma idade


(“olha lá”) e de forma tão sistemática como as crianças videntes, compreendem-
nas e conhecem a aplicação de termos relativos a cor.

A idade da exposição afeta a aquisição de uma primeira língua e a possibilidade de


reabilitação de crianças em contexto de privação, então parece haver um período critico
da linguagem

A relação entre a maturação das zonas do cérebro ligadas à linguagem e as


aquisições linguísticas aponta num sentido da: hipótese de um período crítico para a
aquisição da linguagem, que ocorre antes da puberdade, e durante o qual a aquisição é
rápida, sem esforço e sem ensino formal.

Hipótese de período critico – Lenneberg

1. A especialização hemisférica dá-se durante um período precoce, durante o qual


existe uma flexibilidade nas funções cerebrais que nunca mais existirá. No
nascimento, não há assimetria cerebral e ambos os hemisférios são
equipotenciais (os dois hemisférios estariam preparados para os vários tipos de
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funções). Lateralização –ocorre como resultado maturação, ocorre rapidamente
entre 2 e 5 anos.

2. Certos acontecimentos linguísticos tem de ser apresentados às crianças para


que o desenvolvimento possa dar-se com normalidade.

Hoje sabe-se que:

1. Alguma laterização está presente desde muito cedo ou até no nascimento


(diferenças atividade elétrica; hemisfério esquerdo na reação à linguagem, em
recém-nascidos). Evidência de ligação entre assimetria precoce e aptidões
linguísticas posteriores (bebés com maior assimetria apresentam melhores
aptidões linguísticas)

2. Alguma evidência de que as crianças podem recuperar completamente de


privação linguística precoce, se lhes for fornecida exposição e treino linguístico,
numa idade suficientemente precoce.
▪ Caso “Isabelle” – criada em reclusão com a mãe surda até aos
6.5 anos e idade mental equivalente a 2 anos e sem linguagem
falada; exposição e treino intensivos por 18 meses, a inteligência
estava a níveis normativos e tinha elevado competência
linguística.

O período critico

Rapidez de recuperação da linguagem em crianças que sofreram lesões cerebrais


conducentes a afasia. Enquanto o adulto não consegue recuperar.

➔ Uma vez terminada a maturação cerebral, as funções são fixadas nas


respetivas localizações cerebrais e, se houver destruição do respetivo tecido,
nenhum reajustamento pode ter lugar.

Período sensível aplicado aos pássaros, após o qual o pássaro nunca cantará
normalmente

➔ Há um momento importante: demasiado cedo ou demasiado tarde leva a que o


canto seja quase inexistente

Período Critico e Aquisição da Segunda Língua.

Embora os adultos pareçam muito mais eficientes que as crianças, num momento inicial,
em poucos anos as crianças falarão a nova língua fluentemente e assemelhar-se-ão
aos nativos. Adultos mantêm um sotaque persistente, e assim o desenvolvimento
fonológico parece ser uma área a qual se aplica o período critico.

➔ Evidência científica:
Chineses e coreanos que foram para o EUA (e imergiram na comunidade de
língua inglesa) em idades variadas. Foram testados após pelo menos 5 anos de
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permanência. Tarefa de reconhecimento de erros gramaticais subtis: os que
iniciaram a exposição ao inglês antes dos 7 anos tiveram desempenho idêntico
aos nativos. Quanto mais tarde tinham sido exposto ao inglês, ia diminuindo a
capacidade de identificar erros subtis.

Será que a hipótese do período critico também se aplica a linguagem não falada?

Muitas crianças surdas têm pais ouvintes que não permitiram o acesso dos filhos a
linguagem gestual. Assim, aprendem a primeira linguagem num momento maturacional
invulgarmente tardio. De que forma este atrase influencia a aprendizagem da
linguagem?

➔ Participantes que utilizavam a língua gestual há pelo menos 25 anos. Mas o


momento da aprendizagem mudava (exposição desde o nascimento; aprenderam
aos 4 e 6 anos; primeiro contacto após os 12 anos)
o Desde o nascimento – usar e compreender todas as elaborações
o Após os 4 anos – défices subtis
o Primeiro contacto após os 12 anos – défices muito superiores e utilização
irregular e muitas vezes incorreta de itens funcionais.

Em suma, parece haver um período sensível, mais do que critico:

➔ As crianças parecem ser capazes de recuperar do mesmo desde que recebam


estimulação suficientemente cedo
➔ Se a privação continuar, o desenvolvimento linguístico fica muito debilitado, sendo
o impacto maior no desenvolvimento sintático, e seguidamente, no fonológico.

Linguagem e Cérebro

Até ao aparecimento da ressonância magnética, as fontes principais de evidencias


sobre a relação entre o funcionamento hemisférico e a linguagem eram os casos
confirmados de lesão responsáveis pela afasia (perda total ou parcial da capacidade
para compreender e/ou produzir linguagem, devido a lesão cerebral).

➔ Broca estabeleceu uma relação entre o surgimento de graves perturbações


articulatória e discursos sem coerência gramatical (agramatismo)– lesão no
lobo frontal esquerdo
➔ Wernicke estabeleceu uma relação entre a compreensão linguística deficitária,
com um discurso gramaticalmente correto mas sem significado – lesão no lobo
temporal esquerdo

Perturbação neurológicas:

1. Afasia de expressão (motora ou de Broca): a capacidade de produzir palavras


é prejudicada, mas a compreensão e capacidade de formar um conceito são
relativamente preservadas. Frequentemente causa agrafia (perda da
capacidade de escrever) e prejudica a leitura oral.
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2. Afasia de receção (sensorial ou de Wernicke): os pacientes são incapazes de
compreender palavras ou de reconhecer símbolos auditivos, visuais ou táteis.
Frequentemente, também está presente a alexia (perda da capacidade de ler
palavras)

Bilinguismo

➔ Bilingue: individuo que é fluente no uso de 2 línguas. O Bilinguismo: não implica um


igual domínio das línguas em questão, nem simultaneidade total da aquisição.
➔ Bilinguismo de raiz (de aquisição simultânea): a criança e exposta entre os 0 e
os 3 anos a duas línguas, porque os pais têm línguas diferentes.
➔ Bilinguismo compósito (de aquisição sucessiva): a língua de casa (L1) é diferente
da língua de escolarização (L2), e é a entrada no ambiente escolar que vai
determinar a aquisição desta.

Efeitos Positivos do Bilinguismo

Criança de 3 anos exposta a 2 línguas desde o nascimento:

➔ apresenta em cada uma delas a competência na fala e compreensão de uma


criança da mesma idade que apenas adquiriu uma.

Como e que não mistura as palavras e regras das 2 línguas?

➔ O bilinguismo precoce, devido à sua exigência cognitiva, aumenta a capacidade de


monitorizar e mudar entre tarefas concorrentes (alterar entre as duas línguas)
de uma forma que alem de favorecer a aprendizagem de ambas as línguas,
estende a flexibilidade e controlo cognitivo a outros tipos de tarefa

Crianças menores de 8/9 anos são literais e não compreendem a ambiguidade. A


criança bilingue da mesma idade consegue reinterpretar estas frases (pois é obrigada a
reinterpretar nas várias línguas).

A criança bilingue tem maior precisão em: descobrir relações semânticas entre as
palavras e detetar e corrigir erros sintáticos.

Consciência superior e mais precoce da arbitrariedade lexical, por ter sido confrontada
precocemente (a criança aprende que o mesmo objeto tem várias palavras).

A necessária automatização de estratégias de processamento para diferenciar as 2


línguas obriga o sujeito bilingue a tratar a língua como objeto de analise: maior
consciência metalinguística (a criança bilingue tem de pensar sobre a língua).

➔ Conhecimento metalinguístico: - Conhecimento deliberado, explícito e


sistematizado das propriedades e regras estruturais da língua, pela qual o
individuo as controla. Resultado do desenvolvimento de processos metacognitivos,
quase sempre dependentes de instrução formal, como o ensino da gramática.
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Implicações menos positivas

➔ Pode haver algum atraso inicial na aprendizagem de itens de vocabulário numa


das línguas, que e rapidamente ultrapassado
➔ Tendência para um ligeiro défice no processamento cognitivo e memoria de
trabalho em tarefas que são realizadas na linguagem aprendida em 2º lugar
(pode pensar que não pensa tão bem na segunda língua do que na primeira
língua).

Bilinguismo e Dislexia

A dislexia existe em todas as línguas do mundo. O bilinguismo não causa dislexia nem
aumenta o risco do seu desenvolvimento.

A criança com dislexia apresentará défices na leitura de ambas as línguas, mesmo que
os tipos de défices sejam diferentes (se apresentar défices em apenas uma das línguas,
então não é desleixo).

A criança bilingue poderá ter maior dificuldade em ser diagnosticada como disléxica (os
outros podem interpretar as dificuldades da criança pelo facto de falar mais que uma
língua). A criança bilingue com suspeita de dislexia deveria ser avaliada em ambas as
línguas.

O processo de aquisição da segunda língua não é diferente do processo de aquisição da


primeira língua.

➔ Crianças chinesas adotadas entre os 2 e os 6 anos por americanos que ficaram


em ambientes monolinguístico.
➔ A aquisição da 2 língua segue o mesmo processo de aquisição (nomes antes dos
verbos e palavras de conteúdo semântico antes de palavras de função/ligação)
➔ Este processo e idêntico nas crianças de 2 anos e de 6 anos.
➔ As crianças a adquirir a segunda língua adquirem vocabulário com maior
rapidez, ficando equiparadas as nativas da mesma idade após 18 meses de
exposição.

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