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O INSTINTO DA LINGUAGEM

Steven Pinker

1 Um instinto para adquirir uma arte


Nesse primeiro capítulo, o autor faz uma introdução sobre porque ele considera a
linguagem um instinto do ser humano. Ele começa dizendo que cada animal tem uma
habilidade para certa coisa e a linguagem permite que possamos moldar no nosso
cérebro uma palavra, um sentido e consigamos fazer com que a imagem desse
pensamento ocorra no cérebro de outra pessoa. Essa habilidade é o que nos diferencia
dos outros animais, a linguagem, porque você faz uma combinação de ideias e faz com
que essa combinação surja com determinada precisão na mente de outra pessoa.
A linguagem é um milagre, pois nunca paramos para pensar a quão
extraordinária ela é. Faz uma breve pincelada na história da Torre de Babel, pois foi o
momento em que os homens chegaram muito perto de chegar de Deus, mas ele se sentiu
ameaçado, pois essa troca de uma língua única permitia uma troca de informação única,
pois todos poderiam se beneficiar, todos poderiam se entender a partir de uma única
língua, contribuindo para trabalhos em equipe, etc.
É quase impossível pensar a vida sem a linguagem. Por exemplo, quando
estamos sozinhos chegamos a falar sozinhos, pois a língua é algo inato, é um instinto
que temos e precisamos utilizá-la. As vezes a pessoa perde a linguagem, mas continua
viva, entretanto a família chega a dizer que perdeu a pessoa para sempre, pois ela
perdeu a linguagem.
Foi criada uma ciência cognitiva que reúne ferramentas para trabalhar a respeito
de aprender a falar e compreender a linguagem. O autor afirma que a linguagem não é
um artefato cultural que aprendemos como aprendemos a dizer a hora, fazer uma conta,
etc. ela é algo biológico do nosso cérebro, ou seja, ela é uma habilidade complexa,
especializada e ela se desenvolve espontaneamente na criança, sem qualquer esforço ou
educação formal. Por tanto, mesmo nós não percebendo, ela se manifesta igualmente em
todo indivíduo, claro que o que diferencia são algumas capacidades, mas ela ocorre de
maneira igual em todos.
Além disso, a linguagem é uma adaptação biológica para transferirmos e
transformamos informação, e é parte da nossa herança biológica. Temos uma tendência
instintiva a falar e passamos por etapas lentas e inconscientes para formamos a
linguagem. Muitas pessoas acreditam que as crianças aprendem a falar a partir dos
ensinamentos da mãe, mas quando essa criança comete erros gramaticais ela mostra que
não aprende com a mãe.
A tese mais famosa sobre esse assunto foi escrita por Chomsky e ele chamou a
atenção por dois fatores: cada frase que uma pessoa enuncia e compreende, é uma nova
combinação de palavras, portanto é a primeira vez que essa frase acontece, ocorre no
universo. Portanto a língua não é um repertório de respostas. O cérebro contém uma
espécie de programa, uma receita que consegue construir um número ilimitado de frases
a partir de um número limitado de palavras. E o segundo fato, é que as crianças
conseguem desenvolver gramáticas bem complexas e rapidamente, sem a educação
formal, ou seja, conforme elas vão crescendo elas vão interpretando e construindo novas
frases que elas nunca escutaram antes, ou seja é um modo inato. Isso faz com que a
gente tenha uma gramática universal que diz como extrair padrões sintáticos da fala.

2 Tagarelas
O autor explora casos de pessoas que comprovam que a linguagem é um
instinto. Ele relata um caso de quando houve descobertas de novas terras e nunca foi
encontrado um povo que não tivesse uma linguagem, ou seja, todos eles se
comunicavam e tinham uma língua. Nunca se descobriu uma tribo que fosse muda ou
alguma região que serviu de berço para espalhar a linguagem para outros locais. Todas
as tribos tinham uma linguagem.
Existe também a opinião de muitas pessoas que, as pessoas de classe mais baixa
e trabalhadores falam errado ou não muito bem, que não dominam a sua língua. Na
verdade, o autor diz que isso trata de uma ilusão, pois por exemplo, quando se tem um
computador que dá um resultado óbvio, você não se dá conta de todo o mecanismo
oculto que ocorre para que ele chegue aquele resultado. Independentemente de você
falar a língua padrão, você dominando uma linguagem tem todo um mecanismo que
ocorre no seu cérebro para que você possa dominar a linguagem e a língua para que isso
ocorra, então não é algo simples, mas sim complexo.
A onipresença de linguagem complexa entre os seres humanos, ou seja, diversas
linguagens e línguas, é uma descoberta e para muitos pesquisadores é uma prova de que
a linguagem é inata. O valor da linguagem é algo inestimável, pois tudo o que fazemos
na vida precisamos da linguagem, para ter comida, ter abrigo, para discutir, ensinar, se
relacionar. O autor acredita que tenhamos a linguagem para satisfazer as nossas
necessidades básicas, afinal em todas as línguas do mundo existem palavras para água e
alimento, pois todos precisamos falar disso para sobreviver.
Mostra o argumento dele dizendo que a linguagem é um instinto partindo do
trabalho com crianças, porque a linguagem é universal e complexa porque as crianças
sempre conseguem reinventar a linguagem, geração após geração não porque elas
aprender, porque são ensinadas, mas porque elas permitem se aprender, é um instinto e
conseguem reinventar isso.
Fala sobre o pidgin. Na época do tráfico de escravos, muitos senhores
misturavam escravos e trabalhadores de várias origens linguísticas, de várias etnias para
que não houvesse comunicação, fazendo referência a Torre de Babel. Enquanto falantes
de várias línguas, precisam encontrar um meio de se comunicar para realizar as tarefas,
é aí que surge o pidgin, que é uma mistura de todas as línguas daquele ambiente. O
pidgin pode se tornar uma língua complexa e plena, só basta que um grupo de crianças
seja exposto no período em que estão aprendendo a língua materna. Quando havia
crianças nesse grupo, elas injetavam uma complexidade gramatical ali nessa língua que
antes não existia, e criavam uma nova língua, chamada crioulo. Os adultos criavam o
pidgin, mas a partir do momento que as crianças compareciam nesses grupos, elas
reinventavam e melhoravam a língua e a transformavam no crioulo.
Analisa também a linguagem de sinais (LS). Você pode encontrar a LS em todas
as comunidades de deficientes auditivos, mas cada uma é totalmente distinta da outra,
mas eles têm os mesmos tipos de mecanismos encontradas nas línguas faladas. Ele traz
a questão por exemplo na Nicarágua, onde não havia uma LS pois os deficientes
auditivos eram mantidos separadamente, entretanto, a partir do momento em que se
juntou eles, foi desenvolvida por eles uma LS.
O ISN (idioma de sinais da Nicarágua) era uma espécie de língua crioula, pois
quando as crianças foram expostas a língua pidgin que os adultos tinham criado, elas
alteraram, fizeram mudanças, introduziram complexidades gramaticais que antes faltava
nessa língua.
Os deficientes auditivos são considerados os únicos seres humanos a chegarem
na vida adulta sem uma linguagem, e apresentam uma dificuldade muito grande em
aprender a LS, comprovando que uma boa aquisição da linguagem deve ocorrer durante
o período da infância.
Traz o caso do Simon que não conhecia a LS, mas os pais eram ouvintes e
falavam uma determinada LS. Entretanto, os pais não aprenderam muito sobre a língua
e cometiam diversos erros. O Simon aprimorou a linguagem dos pais, conseguindo
eliminar o que havia de errado nessa linguagem, sem nunca ter entrado em contato com
outra língua, e conseguiu constituir isso de uma forma bem mais correta e implícita,
adicionando verbos, etc. Isso mostra que mesmo quando a criança não tem contato com
outros tipos de linguagem, ela consegue transformar isso, porque é algo inato.
Foca também no caso da mãe, dizendo que os pais não ensinam a linguagem
para os filhos, o autor busca provar isso. Porque muitas vezes, as crianças sabem coisas
que nunca foram ensinadas. Ele comprova isso, fazendo experimentos com crianças na
formação de perguntas, pois na língua inglesa é preciso alterar a ordem do auxiliar para
formar uma frase interrogativa a partir de uma afirmativa, entretanto ninguém ensina
isso para as crianças. E muitas vezes crianças de 2 ou 3 anos, conseguiram fazer isso.
Chomsky diz que as crianças são equipadas com a lógica da língua, elas são
capazes de transformar perguntas com até dois auxiliares em uma frase, mesmo quando
se depararam com isso pela primeira vez, ou seja, elas compreendem o funcionamento
da linguagem, sem antes ter compreendido isso. Isso é comprovado, quando a família
faz input muito pobre, não estimulando a criança com frases complexas (com dois
auxiliares, sujeitos, etc) e quando ela se depara com isso pela primeira, ela fala
corretamente. Por tanto, o design básico da língua é algo inato, a criança nasce com
isso.
A mente contém um esquema detalhado de regras, através da boca dos bebes.
Antes de completar 4 anos, 90% dos casos, as crianças conjugam corretamente o uso do
S, as vezes conjugam errado, mas nunca em casos que não vai. Portanto, a aquisição da
linguagem não pode ser considera uma imitação, porque a criança aplica a regra em
situações que ela nunca viu, não é que ela imita frases que os pais falam, elas criam
situações.
O autor afirma que se a linguagem é um instinto, devia ter uma localização no
cérebro e um conjunto de genes para manter essa localização. Quando ocorre danos
nesses genes, deveria haver um dano na linguagem sem que outras partes da inteligência
fossem afetadas, e caso eles sejam poupados no cérebro, deveríamos ter um retardo
mental mas a linguagem intacta, ou seja, um sábio idiota em termos linguísticos.
Traz vários tipos de deficiências neurológicas e genéticas que comprometem a
linguagem mas poupam a cognição e vice e versa. Traz o caso da afasia da broca que o
sujeito permanece inteligente, compreende o que está acontecendo, mas na hora de falar
não consegue se expressar plenamente. Traz casos de crianças totalmente saudáveis,
mas não conseguem desenvolver a linguagem, ou seja, quando a criança começa a falar
tem dificuldade para articular as palavras, mesmo que isso aprimore conforme a idade
ela não consegue aprimorar os erros que ela comete, chamado transtorno específico da
linguagem.
Esse LI (transtorno da linguagem) é considerado algo genético. Exemplo de uma
família onde a avó teve esse transtorno, e dos cinco filhos, somente um não desenvolveu
o LI. Dos 23 netos, 14 eram saudáveis os demais desenvolveram a LI. Muitos
consideram como genético, só que muitos membros tinham resultados normais em
testes não verbais, mas na hora de usar linguagem eram bastante afetados. O uso do
plural também é afetado em pessoas que desenvolvem esse LI, diferente de crianças que
usam isso normalmente. Entretanto, isso não comprova que a linguagem existe separada
da inteligência mas por outros problemas, o cérebro consegue trabalhar sem utilizar a
capacidade total, no caso a linguagem, e todos os sistemas precisam estar 100%.
Quando a linguagem ocorre, o restante precisa estar 100%, mas ela traz o caso de uma
menina que tem um retardo significativo, mas com as aptidões da linguagem intactas,
até super desenvolvidas. Que é o caso da síndrome de Williams, que são crianças que
tem um defeito no cromossomo, e falam perfeitamente, mas os órgãos internos são mal
desenvolvidos, o QI é baixo, e incompetentes em tarefas básicas.
Todos essas casos, provam que a gramática complexa aparece em todos os
habitats humanos e que não é preciso que o pai ou a mãe ou a escola banhem o sujeito
em uma linguagem ou uma língua, não precisa ter um recurso intelectual para viver em
sociedade, porque não precisa ter nenhuma dessas vantagens e ainda sim usar a
linguagem de uma forma perfeita, só precisa ter os genes e partes do cérebro corretas,
que você irá desenvolver a linguagem de uma maneira perfeita, mesmo não sendo muito
inteligente, pois isso é um instinto do ser humano. Portanto há casos de pessoas, que
perderam ou não desenvolveram habilidades linguísticas, mas são inteligentes, e vice e
versa.

3 Mentalês
Nesse capítulo ele discutirá se o pensamento depende das palavras ou se as
palavras dependem do pensamento. O autor questiona se um conceito é inimaginável e
portanto sem nome ou o conceito não tem nome e portanto é inimaginável, ou seja, o
pensamento depende das palavras, as pessoas pensam literalmente em inglês, ou será
que nossos pensamentos se expressam por algum meio de comunicação silencioso do
cérebro, uma linguagem do pensamento (Mentalês) e só se revestem de palavras quando
temos que nos comunicar com um ouvinte? Ou seja, ele fala que o Mentalês é como
uma linguagem que existe no cérebro que ele vai construindo nossos pensamentos mas a
linguagem acontece quando queremos transmitir isso para alguém, e aí materializamos o
Mentalês na linguagem.
O autor faz diversas analises, e afirma que é falso que o pensamento depende da
linguagem, porque a ideia de que o pensamento seja a mesma coisa que a linguagem é
um exemplo que pode ser chamado de absurdo, porque todos tivemos a experiência de
escrever uma frase e dizer “bem, não era bem isso que eu queria dizer”, então pra que
isso ocorra é preciso haver um “o que queríamos dizer”, ou seja é preciso que haja um
pensamento, diferente daquilo que a gente diz, afinal nem sempre é fácil de encontrar
palavras para aquilo que estamos pensando.
Se os pensamentos dependem das palavras, como uma palavra nova poderia
surgir? A língua não se transformaria se dependessem só dela, portanto é o pensamento
que cria e altera a língua e nós transmitimos isso pela linguagem. Como uma criança
aprenderia uma língua, ou como seria feita a tradução de uma língua para outra se não
pudéssemos criar palavras. Não há evidencias científicas de que uma língua molde de
maneira decisiva o odo de pensar de seus falantes, por isso a ideia de que o pensamento
é independente da linguagem.
A partir disso, o autor traz diversas analises e ele afirma que para saber o que
uma pessoa está pensando, ou para conversarmos sobre o pensamento, precisamos
utilizar a linguagem. O pensamento é diferente da linguagem, o determinismo é um
absurdo, pois ele é um corpo de estudos experimentais que rompem a barreira da
palavra e dão acesso a vários tipos de pensamento não-verbal. E outra é uma teoria
sobre o funcionamento do pensamento que formula as questões de uma maneira
satisfatoriamente precisa.
O autor traz o caso de um mexicano que era surdo e mudo e nunca havia se
comunicado com ninguém, mas mesmo assim ele conseguia contar histórias, manipular
histórias, etc., ou seja, ele pensava sem utilizar a linguagem.
Traz três exemplos para complementar isso. No caso dos bebes, que eles não
poderiam pensar porque eles não têm linguagem, automaticamente, eles pensam mas
não dominam a linguagem. Outro exemplo são os macacos que eles não poderiam
pensar porque eles conseguem utilizar palavras, ou seja, eles não seriam capazes de
realizar algumas atividades logicas pelo fato de não dominar a linguagem, mas eles
conseguem. E o ultimo são adultos (físicos, filósofos) que afirmaram criaram as suas
teses, metodologias, a partir do pensamento de imagens e não de palavras, então eles
pensaram mas não precisam da palavra pra isso, manifestaram pensamentos sem
desenvolver a linguagem. Raciocinar é deduzir novos conhecimentos a partir de
conhecimentos antigos, você adapta o que já sabe.
A língua na escrita contem ambiguidades, mas é só a partir do pensamento que é
possível identificar e interpretar essas ambiguidades, pois só a linguagem não dá conta
disso, como por exemplo os computadores ou a falta de lógica, se eu digo que o
cachorro Rex tem rabo, automaticamente todos tem rabo, é uma questão lógica, ou a co-
referência quando se faz uso de pronomes definidos e indefinidos, somente a
interpretação permite entender de quem se está falando, não é a linguagem que faz isso
mas o pensamento.
Qualquer pensamento na nossa cabeça abarca grande quantidade de informação.
Mas quando se trata de comunicar um pensamento a alguém, nem sempre conseguimos
ter o tempo suficiente, então para conseguir colocar um pensamento na cabeça de
alguém muitas vezes falamos uma frase e o ouvinte através de seus conhecimentos e
interpretações, vai conseguir completar o restante do sentido. Ou seja, eu dou uma
informação curta e acredito que o ouvinte vai complementar com mais informações,
sendo que se fosse somente linguagem, a informação morreria ali com as minhas
palavras.
O autor afirma que as pessoas não pensam na língua em que estão falando, mas
em uma língua do pensamento, por isso que o Mentalês é mais rico porque vários
símbolos conceituais devem corresponder a uma determinada palavra, mas mais simples
porque não existem palavras e construções dependentes do contexto, etc.
Portanto, saber uma língua é saber como traduzir o Mentalês para cadeiras de
palavras e vice e versa. Se os bebes não tivessem o Mentalês para traduzir para sua
língua, é muito difícil imaginar como poderia ocorrer a aprendizagem dessa língua.
Logo, as crianças não se contentam em reproduzir o que é fornecido pelos adultos, elas
criam uma complexa gramática que pode ir muito além da que recebem.

4 Como a linguagem funciona


O autor tenta explicar como a linguagem funciona partindo principalmente da
análise da gramática. A essência do instinto da linguagem é que a linguagem transmite
notícias. A cadeia de palavras que são denominadas frases, nos dizem quem fez o que e
para quem.
Saussure trabalhou a partir da arbitrariedade do signo, ou seja, uma combinação
totalmente convencional de um som com um significado. Quando se aprenda a palavra
cachorro, ela não faz nada como um cachorro, mas nos associamos o som cachorro com
o signo, com o significado do que é um cachorro. Portanto isso acontece porque todo o
falante passou por um aprendizado idêntico no período da infância, que liga
determinado a determinado significado.
Os membros de uma comunidade linguística desfrutam de um enorme benefício,
que é a possibilidade de você transmitir um conceito de uma mente para outra, de um
modo praticamente instantâneo, isso tudo a partir dessa arbitrariedade do signo.
Além disso, um autor que surgiu um pouco antes de Chomsky afirma que a
língua faz um uso infinito de meios finitos, ou seja, nós temos um número finito de
elementos discretos, nesse caso as palavras, e um número finito que elementos
concretos que são combinados para formar estruturas maiores, que nesse caso são as
frases, com propriedades bastante distintas, ou seja, você parte de um número finito de
palavras para construir um número infinito de frases.
O autor diz que a língua funciona da seguinte maneira: o cérebro de cada pessoa
contém um léxico de cada palavra e o conceito de cada uma dessas palavras representa,
que é uma espécie de dicionário mental, e também contém um conjunto de regras que
vai combinar essas palavras para transmitir as relações entre conceitos, ou seja, uma
gramática mental. Eu tenho a palavra o sentido que ela significa e uma gramática
mental, e adequo tudo isso para transmitir uma ideia, um pensamento.
O Pinker diz que o fato da gramática ser um sistema combinatório discreto tem
duas consequências. A primeira é a vastidão da linguagem, no sentido de eu realmente
tenho diversas frases que realmente são únicas no mundo, que um ser humano fala
milhões fala milhões de frases sem nunca ter ouvido, isso distingue o cérebro humano
de praticamente todo os mecanismos que utilizam a linguagem artificial. E a segunda, é
o design da gramática, pois ela é um código autônomo com relação a cognição, ou seja,
as palavras devem se combinar para exprimir significado.
A partir disso, o autor analisa, por exemplo, dentro da questão da cadeia de
palavras que é um exemplo mais simples em um sistema combinatório discreto, pois ele
cria um número ilimitado de combinações a partir de um conjunto finito, que você
acaba optando por algumas palavras para construir uma frase e não outras.
Chomsky mostrou que os mecanismos de cadeias de palavras são uma maneira
equivocada de pensar o funcionamento da linguagem, porque existem três problemas e
cada um esclarece um aspecto verdadeiro do funcionamento da linguagem. O primeiro é
que uma frase em inglês é completamente diferente de uma sequência de palavras de
acordo com as probabilidades da transição do inglês, ou seja, mostrar que sequencias
improváveis de palavras podem ser gramaticais, então eu posso juntar diversas palavras,
elas não vão fazer nenhum sentido juntas, mas estarão gramaticalmente corretas.
Quando as pessoas aprendem uma língua, elas aprender a ordenar palavras mas não
fazem isso decorando qual palavra geralmente vem depois da outra, e sim a ordem
lexical, ou seja a classe de palavras. Os substantivos, verbos e adjetivos não estão
apenas amarrados uns aos outros em uma longa cadeia, tem um certo esquema um plano
geral que coloca cada palavra em seu plano específico. Então o Chomsky refuta a ideia
de que a linguagem seja uma cadeia de palavras, que nós podemos criar elas de diversas
maneiras gramaticalmente corretas ou não, com sentido ou não.
O autor termina dizendo que a gramatica é um protocolo que precisa se conectar
em si, no ouvido, na boca e na mente. E a aprendizagem é causada pela complexidade
da mente.

5 Palavras, palavras, palavras


Trabalha a respeito de como a mente utiliza as palavras para formar sentido. O
mundo das palavras é tão maravilhoso quanto o mundo da sintaxe, ou até mais pois não
só as pessoas são tão infinitamente criativas com palavras, como as são com sintagmas e
sentenças, como também são com a memorização de palavras isoladas exigem um
virtuosismo especial.
As palavras não são simplesmente retiradas de um arquivo mental, as pessoas
precisam ter uma regra mental para produzir palavras novas a partir das velhas. A partir
disso, o autor trabalha com toda a transformação que ocorre com as palavras, desde
acrescentar sufixos, prefixos, radical, etc.
A combinação das palavras, bem como das sentenças é delicada demais para ser
produzida por um mecanismo de cadeias. Um mecanismo seria um sistema que
seleciona um item de uma lista, desloca para outra lista, e depois para outra.
Palavra é uma unidade de língua que são produtos de regras morfológicas e que
não podem ser dividas segundo regras sintáticas. A força da palavra é um símbolo, e sua
força provem do fato de que cada membro de uma comunidade linguística a emprega de
modo intercambial ao falar e entender, ou seja, quando eu falo algumas palavras os
membros da minha comunidade conseguem me entender, tem o mesmo sentido dessa
palavra do que eu.
O produto morfológico do substantivo é uma estrutura montada em camadas de
regras em que até o que é mais peculiar segue leis, ou seja, é um sentido que segue
normas. No sentido de um listema, um substantivo é um símbolo puro, arte de um
conjunto de milhares de símbolos, rapidamente adquirido devido a harmonia da mente
da criança do adulto e realidade, ou seja é o sentido puro e que se mantem dentro da
nossa mente.

6 Os sons do silencio
Trabalha a respeito da fonologia da linguagem. Toda fala é uma ilusão porque
nós escutamos a fala como um encadeamento de palavras isoladas mas diferente de uma
árvore que cai na floresta sem que ninguém escute, a separação de palavras que
ninguém escuta não tem som, então na onda sonora da fala, uma palavra segue a outra
sem interrupção, não há pequenos silêncios entre palavras faladas como nós temos nas
palavras escritas. Então simplesmente alucinamos separações entre palavras quando
atingimos o final de uma sequência de sons que combina com uma entrada de nosso
dicionário mental. Fica claro isso quando escutamos falar em uma língua estrangeira,
não é possível saber quando uma palavra termina e a outra começa.
A fala é a maneira mais rápida de inserir uma informação na cabeça de outra
pessoa através do ouvido. Em termos de decodificação, nenhum sistema construído pelo
homem se equipara ao do ser humano, não por falta de necessidade ou esforço, porque
se o sistema deve ser capaz de escutar várias pessoas diferentes ele só vai conseguir
reconhecer um pequeno número de palavras, diferente do ser humano que consegue
identificar todas as palavras em todos os seres humanos que falam a sua língua.
Uma pessoa consegue reconhecer em torno de 60 mil palavras, mas a boca de
uma pessoa não tem capacidade de produzir 60 mil ruídos diferentes. Portanto, mais
uma vez a língua explora o sistema combinatório discreto, então diferente de palavras e
morfemas, os fonemas não contribuem com palavras de significado para o todo, como
por exemplo, o significado de dog não é deduzível do d, do o e do g e nem da ordem
que ele se coloca. Os fonemas são um tipo diferente de objeto linguístico, pois eles se
ligam exatamente a fala e não internamente a nosso Mentalês, ou seja, um fonema
corresponde ao fato de produzir um som.
Além disso a grande maioria dos sons dos idiomas do mundo, são criados e
escutados. O truque é que um som de fala não é um gesto simples de um único órgão.
Cada som falado é uma combinação de gestos em que cada um imprime seu próprio
padrão de escultura a onda sonora mais ou menos simultaneamente, e esse é um dos
motivos da fala poder ser tão rápida, pois há um conjunto de gestos muito rápidos e
simultâneos no aparelho fonador. E esse é também um dos motivos de não conseguirem
criar uma máquina que consiga recriar isso.
Pinker afirma que cada fonema tem de levar uma assinatura acústica, ou seja, um
conjunto de ressonâncias para as vogais, uma faixa de ruído para as fricativas, uma
sequência de transição do silencio para a explosão no caso das oclusivas. Então, as
sequências de fonemas são organizadas de maneira previsível por regras fonológicas
ordenadas cujos efeitos supostamente poderiam ser suprimidos se elas fossem aplicadas
em ordem inversa.
Portanto, o motivo para que o reconhecimento da fala seja tão difícil é que há
vários mecanismos que são ativados entre o cérebro e a boca, e a voz de duas pessoas
nunca é igual, nem quanto a forma do aparelho fonador que produz os sons, nem aos
hábitos de articulação. Mas o principal motivo apontado pelo autor, tem a ver com o
fenômeno geral do controle muscular que é chamado de coarticulação, ou seja, enquanto
movimentamos a boca, o nosso cérebro antecipa a próxima postura e planeja a sua
trajetória e colocamos a língua naquela que encurta o caminho para o próximo fonema.
É um trabalho totalmente simultâneo e articulado que nem uma máquina conseguiria
reproduzir. Dessa forma, as unidades isoladas da fala são produzidas, representadas no
dicionário mental e são rearranjadas e espalhadas antes de emergirem na boca.

7 Cabeças falantes
O autor busca mostrar que mesmo depois de tanto tempo de avanços
tecnológicos, os robôs ainda não conseguem se igualar aos seres humanos. A primeira
lição dos 35 anos de pesquisa em IA (Inteligência artificial) é que os problemas difíceis
são fáceis, e os fáceis são difíceis. Por exemplo, compreender uma frase é um problema
fácil difícil, porque para interagir com computadores, nós ainda precisamos aprender a
linguagem deles, eles são não suficientemente inteligentes para aprender a nossa.
Analisa pessoas que dialogaram com maquinas e seres humanos e precisavam
identificar quem era quem/o que. Essas perguntas não poderiam fazer pegadinhas então
facilitou para o robô se passar como um ser humano.
Ao explorarmos a compreensão da linguagem, o autor diz que nós vamos
descobrir que tipos de frases confundem a cabeça do entendedor. Analisa e questiona
porque é tão difícil programar um computador para fazer isso e porque as pessoas
acabam achando difícil interpretar questões burocráticas e mal escritas.
Quando percorremos a frase, fingindo ser um peaser, uma espécie de sistema
que compreende frases, de computação, nos encontramos duas ideias do campo da
computação. Uma é a memória, porque nós temos que manter em mente os sintagmas
que necessitamos de tipos particulares de palavras para completarmos. E a outra é a
tomada de decisão, que quando uma palavra ou sintagma é encontrado do lado direito
de duas frases diferentes, nós temos que decidir qual usar para construir o próximo ramo
da frase, ou seja a questão da ambiguidade, em qual sentido se a ter. Foi verificada que a
parte da memória é mais fácil para o computador e difícil para pessoas, e a tomada de
decisões o contrário.
Analisa frases e afirma que os peasers de computadores são meticulosos demais,
pois quando encontram ambiguidades no que concerne a gramática inglesa, eles
consideram essas ambiguidades mas que nunca ocorreriam com uma pessoa sã. Por
exemplo, quando é dito o tempo voa como uma flecha, ele não considera ambiguidade
do sentido, mas o sentido literal, que uma pessoa não faria. Como as pessoas acertam o
peaser de uma frase, sem se deter a todas as alternativas gramaticalmente legitimas mas
bizarras, questiona como fazemos isso. Uma das possibilidades é que o nosso cérebro é
como um peaser de computador que computada dezenas de fragmentos, mas os
improváveis serão de alguma maneira filtrados e eliminados antes de atingirem a nossa
consciência. E a outra, é que o peaser humano dá um jeito de que a cada passo nós
possamos apostar na alternativa mais provável de ser a verdadeira e em seguida
continuamos avançando com aquela única opção até for possível.
Analisa frases que podem confundir tanto o ser humano quanto o computador,
também que quando se troca a ordem original de frases, é preciso ter um pouco de
memória para identificar o sentido e termina dizendo que a comunicação humana não é
apenas uma transferência de informação, como duas maquinas de faz, mas sim uma
série de mostras alternadas de comportamento por parte de animais sociais, sensíveis,
ardilosos e cheios de segundas intenções.

8 A Torre de Babel
É feita uma análise para que se possa comparar as línguas e definir se elas
realmente são de uma única vertente ou não. O autor começa contanto a respeito do que
era a Torre de Babel. Segundo a bíblia, há muitos anos, existia somente uma língua em
todo o mundo, mas um dia, os homens decidiram construir uma torre e chegar até o céu
e alcançar Deus. Não satisfeito com isso, Deus desceu a terra e disse “são todos um só
povo e uma só língua, vamos, desçamos e confundamos ali sua língua, de sorte que não
se entendam um ao outro” por isso foi lhe dado o nome da Babel, porque ali o senhor
confundiu a língua de toda a terra, e ali os dispersou por toda a terra.
Pinker diz que o Deus das gêneses se contentava apenas com a ininteligibilidade
reciproca, que Joos declarou que as línguas poderiam diferir entre si de modo ilimitado
e imprevisível. Chomsky diz que se algum dia algum marciano visitar a terra ele
certamente concluiria que apesar dos vocabulários ininteligíveis nós falamos uma única
língua.
Pinker diz que das 4 a 6 mil línguas do planeta realmente parecem muito
diferentes, se juntar o inglês e outras línguas. Então ele cita seis diferenças evidentes:
1 O inglês é uma língua isolante, constrói frases por meio do rearranjo de
unidades invariáveis de palavras, já outras línguas são flexionais em que cada afixo
contém várias informações assim como os aglutinantes.
2 O inglês contém uma ordem fixa de palavras já outras contem ordem livre de
palavras.
3 O inglês é uma língua acusativa em que o sujeito de um verbo intransitivo é
tratado exatamente da mesma maneira que o sujeito de um verbo transitivo, mas há
línguas em que o sujeito do verbo transitivo se exprime de modo diferente.
4 o inglês é uma língua com proeminência de sujeito porque todas as frases
precisam ter um sujeito, outras tem proeminência de tópicos.
5 O inglês é uma língua SVO, já outras são SOV ou VSO.
6 Em inglês um substantivo pode nomear uma coisa, mas em línguas
classificadoras substantivos pertencem às classes de gênero, portanto em algumas
construções não se usa o substantivo, mas sim a classe dele.
Centenas de padrões universais foram documentados. Por exemplo, nenhuma
língua forma frases interrogativas invertendo a ordem das palavras da frase. Em quase
todas as línguas, geralmente os sujeitos vem antes dos objetos. A maioria das línguas
tem ordem SVO. Se uma língua tem X também tem Y. Essas implicações universais
podem ser encontradas em todos os aspectos da língua, da fonologia ao significado da
palavra.
O autor afirma que as línguas não variam livremente, não de modo direto. Uma
possibilidade é que as línguas têm uma única origem, todas as línguas descendam da
protolíngua ou seja conversam algumas de suas características. Essas, seriam formadas
porque todas as línguas derivam de uma só. Mas nenhum linguístico aceita isso como
explicação para os universais linguísticos, por um simples motivo, as vezes ocorrem
quebras radicais na transmissão da língua entre gerações. A mais extremada dela sendo
a crioulizaçao, mas as universais valem para todas as línguas, inclusive as crioulas.
O autor diz que qualquer língua tomada aletoriamente, vai encontrar no mínimo
coisas que podem ser chamadas de sujeitos, objetos e verbos. Portanto, assim algumas
evidencias de que todos falamos uma mesma língua, além do exemplo acima citado,
todos os humanos falam a mesma língua baseia-se na descoberta de que sem exceção a
mesma maquinaria de manipulação de signos subjaz as línguas do mundo. Ou seja, as
línguas usam o canal boca-ouvido sempre que a audição dos usuários esteja intacta e
permite aos falantes emitir qualquer mensagem linguística que possam compreender e
vice e versa.
As línguas podem transmitir significados abstratos e afastados no tempo, ou no
espalho do falante. Formas linguísticas são infinitas em número porque soa criadas por
um sistema combinatório discreto. Essas línguas possuem uma dualidade de
modelagem, em que um sistema de regras é usado para ordenar fonemas dentro de
morfemas independentemente do significado e outro para ordenar morfemas dentro de
palavras e sintagmas, especificando seu significado.
Toda a língua tem um vocabulário composto por dezenas de milhares de
vocábulos distribuídos em classes gramaticais que incluem categorias como substantivo
e verbo. Deus não teve muito trabalho para confundir a língua dos descendentes de Noé.
Fora o vocabulário, pouquíssimas propriedades da linguagem não se encontram
especificadas na gramatica universal e constituem parâmetros variáveis.
Diferenças entre línguas são parecidas. Parece haver um arcabouço comum das
regras e princípios sintáticos, morfológicos e fonológicos com um pequeno conjunto de
parâmetros variáveis como uma lista de opções. Se há um único plano sobre a superfície
das línguas do mundo então as propriedades básicas de uma língua deveriam poder ser
encontradas em outras. Logo, o autor reexamina as seis características citadas no início
do capitulo.
1 O inglês possuiu mecanismos que permitem grudar vários pedaços em uma
única palavra comprida, como é o caso do s no presente simples.
2 O inglês tem liberdade em sequências de sintagmas preposicionais, já em
outras a ordem de palavras nunca e completamente livre.
3 O inglês marca uma similaridade entre os objetos de verbos transitivos e os
sujeitos de verbos intransitivos.
4 O inglês tem um constituinte tópico.
5 Assim como as línguas SOV, não faz muito tempo o inglês tinha a ordem
SOV.
6 O inglês insiste em classificadores para muitos substantivos. Você não pode se
referir um quadrado isolado com a papar pois precisa dizer a sheet of paper.
Se o marciano concluiu que os humanos falam uma única língua, ele deve se
perguntar porque a língua da terra tem milhares de dialetos mutualmente ininteligíveis.
Os cientistas não têm uma resposta conclusiva. Dyson propôs que a diversidade
linguística existe por uma razão: foi a maneira que a natureza encontrou para nos fazer
evoluir rapidamente, criando grupos étnicos isolados em que a evolução biológica e
cultural não diluída pode se dar aceleradamente. Mas esse raciocino é falho. Como não
podem prever o futuro, as linhagens tentam se aperfeiçoar o melhor que podem, agora.
Darwin afirmou que línguas e dialetos dominantes se espalham provocando a
gradual extinção de outros idiomas. Depois de extinta uma língua assim como uma
espécie nunca reaparece. Logo o inglês é semelhante embora não idêntico ao alemão,
pois ambos são modificações de uma língua ancestral comum falada no passado.
As diferenças entre línguas ocorrem a partir de três processos que agem durante
longos períodos. São eles: a variação, a hereditariedade e o isolamento. Para
compreender porque há mais de uma língua, é preciso compreender os efeitos da
inovação, aprendizagem e imigração.
A capacidade de aprender encontra-se em organismos tão simples como uma
bactéria. A inteligência humana talvez dependa de termos mais instintos inatos e não
menos. Aprender é uma opção. A teoria evolutiva mostrou que quando um ambiente é
estável há uma pressão para que as habilidades apreendidas se tornem pouco a pouco
inatas, isso porque, se uma habilidade for inata pode se manifestar mais cedo na vida da
criatura e há menos chances de uma criatura infeliz não tenha acesso as experiências
necessárias para aprende-la. Além disso palavras para plantas, animais, ferramentas e
pessoas novas são necessárias durante uma vida. Mas de que serve aprender diferentes
gramaticas? A pressão para substituir conexões neurais adquiridas por outras inatas
diminui à medida que uma parcela cada vez maior da rede se torne inata, porque é cada
vez menos provável que a aprendizagem falhe para o resto. Uma segunda razão é a
necessidade de compartilhar um código com outras pessoas, uma gramática inata é inata
se só você a possui.
Palavras são cunhadas, emprestadas de outras línguas. Seu sentido se amplia e
elas são esquecidas. Novos jargões ou modos de falar podem parecer geniais dentro de
uma sub cultura e em seguida se infiltrar na linguagem corrente. A fala pode ser
imprecisa, e as palavras e frases ambíguas. Vez por outra as pessoas conseguem
reanalisar a fala que escutam, interpretando como proveniente da entrada ou regra de
um dicionário diferente daquele que o falante costuma usar.
A separação entre grupos de falantes. As inovações que vingam não se efetivam
em todo lugar, mas se acumulam isoladamente nos diversos grupos. Embora as pessoas
modifiquem sua língua a cada geração, a extensão dessas mudanças é pequena. Alguns
padrões dos vocabulários, som e gramatica sobrevivem por milênios. O processo Babel
ao inverso surgiu através do inglês dos Estados Unidos, pois mesmo com suas ricas
diferenças regionais, é homogêneo comparado com as línguas em territórios de
dimensão semelhante no resto do mundo.
A hipótese de Greembarg, foi furiosamente atacada por outros estudiosos da
língua americana, pois um observado sempre pode encontrar similaridades em listas de
vocabulários longos, mas isso não implica que elas descendam de um ancestral comum.
Além de que as línguas podem se parecer entre si, devido a empréstimos laterais e não
por heranças verticais.
Línguas desaparecem pela destruição dos habitats de seus falantes, assim como
por genocídio, assimilação forçada e educação assimilatória, asfixia demográfica e
bombardeio da mídia eletrônica. A perda de uma língua é parte da perda mais geral de
que o mundo padece, a perda da diversidade em todas as coisas.

9 Bebe nasce falando – Descreve o céu


O autor busca explicar porque os bebes não nascem falando e como se dá o
processo de aprendizagem no decorrer do tempo. Todos os bebes vêm ao mundo com
dotes linguísticos. Crianças de menos de seis meses que aprendem inglês distinguem
fonemas usados em várias línguas, mas adultos que falam inglês não conseguem faze-lo,
nem mesmo depois de quinhentas tentativas de treinamento ou um ano de curso. No
entanto, os ouvidos adultos conseguem separar os sons quando as consoantes são
retiradas das silabas e apresentadas sozinhas como sons esganiçados, só não conseguem
distingui-las enquanto fonemas.
Dois psicólogos mostraram que bebes franceses de 4 dias sugam com mais força
quando escutam francês do que quando escutam russo. Isso não se trata de uma incrível
prova de reencarnação. A melodia da fala materna penetra em seus corpos e é audível na
barriga. Os bebes continuam a aprender os sons de suas línguas durante o primeiro ano.
Por volta dos seis meses começam a juntar sons distintos que suas línguas reúnem num
só fonema. Por volta dos dez meses não são mais foneticistas universais mas se parecem
com os pais, não distinguem mais fonemas tchecos a não ser que sejam bebes tchecos.
Fazem essa transição antes de emitir ou compreender palavras, portanto, sua
aprendizagem não pode depender de conseguir correlacionar som e sentido.
O balbucio é muito importante. O bebe é como uma pessoa que ganhou um
complicado equipamento de áudio cheio de botões, sem legenda e sem manual de
instruções. Ao escutar seu próprio balbucio, na verdade, os bebes escrevem seu próprio
manual de instruções, aprendem quanto devem mover que musculo e em que sentido
para obter a mudança no som.
Por volta dos dezoito meses a linguagem deslancha. O incremente de
vocabulário ganha a velocidade de no mínimo uma palavra nova a cada duas horas e a
sintaxe tem início com a construção de frases contento duas palavras. Essas microfrases
já refletem a aquisição da linguagem em andamento. Em 95% delas, as palavras estão
na ordem correta.
Entre o final do segundo ano e em meados do terceiro, a linguagem das crianças
transforma-se numa conversa gramatical fluente desabrochando de maneira tão rápida
que desconcerta os pesquisadores e até agora ninguém conseguiu descobrir a sequência
exata desse processo.
As crianças também parecem estar plenamente preparadas para a Babel de
línguas que possam encontrar, pois rapidamente adquirem a ordem livre de palavras,
ordens SOV e VSO, sistemas complexos de casos e concordância, cadeias de sufixos
aglutinados, marcadores ergativos de caso ou qualquer outra coisa que suas línguas lhes
proponham com nenhum retardo em comparação com seus contemporâneos
algofalantes.
Algumas crianças cometem erros com questões irregulares de verbos. Elas
cometem esses erros por um motivo simples. Como as formas irregulares tem de ser
memorizadas e a memória é falível, cada vez que a criança tenta usar uma frase no
passado com um verbo irregular, mas não lembra de cor a forma de seu passado, a regra
regular vem preencher o vazio.
A criança de três anos é um gênio gramatical, pois domina a maioria das
construções, é bem mais fiel do que infiel as regras, respeita os universais da linguagem,
erra de maneira de sensata como se fosse um adulto, ao mesmo tempo que evita vários
tipos de erros. Como elas conseguem fazer isso? Crianças dessa idade são
reconhecidamente incompetentes em muitas outras atividades. É plausível pensar que a
organização básica da gramática esteja inscrita no cérebro da criança, mas ainda assim
ela tem de reconstruir as nuanças do inglês ou outras línguas.
Como será que a experiência interage com a inscrição para dar a uma criança de
três anos a gramática de uma determinada língua? Essa experiência deve incluir no
mínimo a fala de outros seres humanos. O que aconteceria com as crianças privadas do
estímulo da fala? O resultado é sempre o mesmo: as crianças são mudas e muitas vezes
continuam assim por toda a vida, sejam quais forem as habilidades gramaticais inatas
existentes elas são esquemáticas de mais para produzir fala, palavras e construções
gramaticais por conta própria. Ainda que os próprios genes especifiquem o design
básico da linguagem eles tem de armazenar as características específicas da língua no
meio para que a língua de uma pessoa esteja sintonizada com a de todos os outros,
apesar de a singularidade genética de cada indivíduo. Nesse sentido a linguagem é
quintessência da atividade social.
A fala deve ser estimulada para se desenvolver, mas uma trilha sonora não é
suficiente. Os falantes humanos vivos tendem a falar sobre o que aqui e agora na
presença de crianças. A criança consegue ler os pensamentos adivinhando o que o
falante quer dizer sobre tudo se já conhece muitos termos e conteúdo. Além disso, o
mamanhês é lento e exagerado em intensidades, portanto é mais fácil de aprender.
O desenvolvimento da gramatica não depende de uma prática explícita porque
na verdade dizer algo em voz alta em contraposição a escutar o que outras pessoas
dizem não fornecem a criança informações sobre a língua que está tentando aprender. A
única informação sobre gramática que a fala poderia fornecer viria do feedback que os
pais dão a criança do sentido de sua emissão ser gramatica e significativa.
Para se tornar um falante, não basta as crianças memorizarem, elas precisam
mergulhar no desconhecido linguístico e generalizar para um mundo infinito de frases
até então não ditas. Uma criança bem projetada, ao deparar com várias escolhas sobre o
quanto pode generalizar, deveria em geral ser conservadora, começar com a hipótese
mais restrita sobre a língua que seja coerente com o que os pais dizem para depois
expandi-la a medida que os fatos assim exigem. Estudos sobre a linguagem das crianças
mostram que, de modo geral, é assim que elas funcionam.
O autor retorna com a pergunta: por que os bebes não nascem falando? Parte da
resposta consiste em que os bebes precisam escutar a si mesmos para aprender como
funcionam seus articuladores e precisam escutar os mais velhos para aprender a ordem
habitual dos fonemas, palavras e sintagmas. Algumas dessas aquisições dependem de
outras, fonemas antes de palavras, palavras antes de frases.
Qualquer mecanismo mental suficientemente potente para aprender essas coisas
provavelmente faria isso com poucas semanas ou meses. Por que a sequência leva três
anos? Talvez não. Os bebes humanos são expelidos da barriga da mãe antes de seus
cérebros estarem completos. Se os seres humanos permanecessem na barriga por um
período de vida proporcional aquele de outros primatas, nasceriam aos dezoito meses. E
é com essa idade que os bebes começam a juntar palavras. Portanto, poder-se-ia dizer
que em certo sentido os bebes nascem falando.
Pode ser também que o desenvolvimento da linguagem dependa de um
cronograma maturacional. Portanto a linguagem parece desenvolver-se na velocidade
que o cérebro em crescimento tolera. Por que a linguagem se instala tão rápido enquanto
o resto do desenvolvimento mental da criança parece se dar em um passo mais
tranquilo? É muito mais difícil aprender uma segunda língua na idade adulta do que
uma primeira língua da infância. Existem é claro grandes diferenças individuais que
dependem de esforço, atitudes, quantidade de exposição e qualidade, e simples talento.
Mas ainda assim e mesmo nas melhores circunstancias parece haver uma barreira
intransponível para qualquer adulto. Um fato chave se destaca: a idade.
São raros os casos de pessoas que chegam a puberdade sem ter aprendido uma
língua, mas todos apontam para a mesma conclusão: a aquisição de uma linguagem
normal é certa para crianças até seis anos, fica comprometida depois disso. Alterações
maturativas do cérebro são causas plausíveis.
A razão para termos braços aos sessenta anos não é o fato deles estarem ali
desde o nascimento, mas porque braços são úteis para idosos assim como são para
bebes. A capacidade de aprender é necessária o mais cedo possível para permitir que se
desfrute dos benefícios da linguagem pelo máximo de tempo. Aprender uma língua é
extremamente útil uma única vez. Uma vez aprendidos, os detalhes da língua local
falada pelos adultos, qualquer outra capacidade de aprender é supérflua.
O fato matemático é que, há mais chance de ser jovem do que de ser adulto.
Portanto os genes que fortalecem organismos jovens as espinças de organismos velhos,
tem a sorte a seu favor e tenderão a se acumular no transcurso evolutivo do tempo, seja
qual for o sistema corporal e o resultado é sempre ascendência.
A inépcia linguística de turistas e estudantes talvez seja o preço a pagar pela
genialidade linguística que demonstramos quando bebes, assim como a decrepitude da
idade é o preço pelo vigor da juventude.

10 Órgãos da linguagem e genes da gramática


O autor discute a respeito da formação do cérebro enquanto responsável pela
linguagem e a respeito de possível genes da gramática. Um relatório supostamente
reunia provas de que o transtorno especifico da linguagem ocorre em famílias na qual o
padrão hereditário é particularmente claro.
Ninguém identificou um gene da gramática. Inferiu-se a existência de um gene
defeituoso devido ao modo como a síndrome ocorre na família. Acredita-se que é um
único gene prejudica a gramática, mas isso não significa que um único gene controla a
gramática. O que fica prejudicado é a capacidade de conversar normalmente, não a
capacidade de aprender o dialeto padrão escrito na escola.
A ideia de haver um gene ligado a algo tão específico como a gramática é um
ataque a crença profundamente enraizada de que o cérebro é um mecanismo de
aprendizagem geral, vazio e sem forma antes de passar pela experiência da cultura. Mas
se existe um instinto da linguagem ele tem de estar incorporado com algum lugar do
cérebro e estes circuitos cerebrais devem ter sido preparados para sua função pelos
genes que os construíram.
Os pesquisadores tentaram encontrar o gene da gramática começando com uma
visão panorâmica do cérebro para em seguida se aproximar de componentes cada vez
menores. O médico francês Broca, concluiu que a faculdade da linguagem articulado
reside no hemisfério esquerdo do cérebro. Um paciente com o hemisfério direito
adormecido consegue falar, um paciente com o hemisfério esquerdo adormecido não.
O hemisfério direito está especializado em habilidades espaço-visuais e portanto
seria de esperar que a língua de sinais estivesse relacionada com o hemisfério direito.
Os achados de um médico mostraram que a linguagem é controlada pelo hemisfério
esquerdo, seja por ouvido e boca ou por olho e mão. O hemisfério esquerdo deve ser
responsável pelas regras abstratas e pelas árvores que subjazem a linguagem, pela
gramática, pelo dicionário e pela anatomia das palavras e não apenas pelos sons e
movimentos superficiais da boca.
O hemisfério esquerdo controla a linguagem em praticamente os destros (97%),
mas o hemisfério direito controla a linguagem numa minoria dos canhotos (19%), o
resto deles tem a linguagem no hemisfério esquerdo (68%), ou redundantemente em
ambos. Existem alguns dados que demonstram que embora os canhotos se destaquem
em matemática e atividades espaciais e artísticas, eles são mais suscetíveis a distúrbios
da linguagem, dislexia e gagueira. Destros com parentes canhotos parecem analisar
frases de maneira sutilmente diferente dos destros puros.
A área de Broca e várias outras regiões anatômicas que envolvem ambos os
lados do sulcro lateral afetam a linguagem quando sofrem dano. Descobriram que todas
as áreas relacionadas com a linguagem são adjacentes, formando um território continuo.
Essa região do córtex, a região da esquerda do sulcro lateral pode ser considerada o
órgão da linguagem. A Broca parece estar envolvida no processamento da gramática em
geral.
Entretanto, é muito difícil analisar essa questão. É frequente encontrar dois
pacientes com lesões na mesma área mas com deficiências diferentes, ou, dois pacientes
com as mesmas deficiências mas lesões em áreas diferentes. O cérebro é um tipo
especial de órgão, o órgão da computação, e diferentemente de um órgão que move
coisas pelo mundo físico. As partes funcionais do cérebro não têm de ter formas coesas,
desde que a conectividade dos microcircuitos neurais esteja preservada suas partes
podem ser colocadas em lugares diferentes e fazer a mesma coisa.
Algumas das razoes pelas quais as funções da linguagem são tão difíceis de
localizar no cérebro, são: alguns tipos de conhecimento linguístico podem ser
armazenados em várias copias, algumas de melhor qualidade que outras, em vários
lugares. Além disso, no momento em que passa a ser possível testar sistematicamente as
vítimas de derrames, muitas vezes elas recuperaram algumas de suas facilidades com a
linguagem, em parte compensando, as deficiências com habilidades gerais de raciocínio.
Nunca será possível compreender os órgãos da linguagem e os genes da
gramática se procurarmos apenas por porções de cérebro do tamanho de um selo postal.
Os processos computacionais que subjazem a vida mental são provocados pela
interconexão de complexas redes que compõe o córtex, redes com milhões de
neurônios, cada um conectado a milhares de outros, operando em milésimos de
segundo.
Os genes da gramatica seriam pedaços de DNA que determinam sequencias que
compõe proteínas ou desencadeiam a transcrição de proteínas em certos tempos e
lugares do cérebro que guiam, atraem ou unem neurônios em redes que em combinação
com os ajustes sinápticos que ocorrem durante a aprendizagem são necessárias para
computar a solução de algum problema gramatical.
Não há atualmente meios para verificar diretamente a existência de genes da
gramática dos seres humanos, mas sabe-se que há algo no esperma e no ovulo que afeta
as capacidades linguísticas da criança. Mas um único gene não é responsável por todos
os circuitos que subjazem a gramática.
Há indícios que sugerem a existência de genes da gramática no sentido de genes
cujos efeitos parecem ser específicos do desenvolvimento dos circuitos que subjazem a
partes da gramática. O autor imagina que o design básico da língua da sintaxe X-barra,
as regras fonológicas e a estrutura do vocabulário sejam uniforme na espécie como um
todo, afinal de que outra maneira as crianças poderiam aprender a falar e os adultos
poderiam se entender entre si. Mas a complexidade dos circuitos da língua abre a
possibilidade de variações quantitativas criarem combinações linguísticas singulares.

11 O Big Bang
O autor analisa se a linguagem também existe em outros animais. Chomsky e
alguns de seus oponentes concordavam em uma coisa: que um instinto da linguagem
unicamente humano é incompatível com a moderna teoria darwiniana da evolução,
segundo a qual, sistemas biológicos complexos surgem pela gradual acumulação ao
longo de muitas gerações de mutações genéticas aleatórias que conseguem se reproduzir
ou bem não existe instinto da linguagem ou então deve ter evoluído de outra maneira.
Embora se conheça poucos detalhes sobre como evoluiu o instinto da linguagem,
não há motivos para duvidar de a principal explicação é a mesma que se aplica a
qualquer outro instinto ou órgão complexo: a teoria da seleção natural de Darwin.
A linguagem humana organiza-se de maneira bem diferente dos sistemas de
comunicação não humanos. O sistema combinatório discreto denominado gramatica
torna a linguagem humana infinita, digital e composicional. Existem algumas
capacidades gerais de aprendizagem que podem ser encontradas em todo o reino animal
e que funcionam de modo mais eficiente nos seres humanos. Em algum ponto da
história a linguagem foi inventada e refinada e desde então passamos a aprende-la.
O autor analisa pesquisas a respeito de macacos que poderiam estar
desenvolvendo a linguagem como os humanos. Entretanto o autor mostra que isso não
ocorreu efetivamente, pois eles devem saber que os treinadores gostam que façam sinais
e que fazendo muitos sinais conseguem o que querem, mas nunca parecem entender de
fato o que é língua e como usa-la.
É uma ironia que a suposta tentativa de rebaixar o homo sapiens a alguns pontos
na ordem natural tenha adotado a forma de humanos atormentando outra espécie para
que esta rivalize com nossa forma instintiva de comunicação, ou alguma forma artificial
que inventamos como se fossemos a medida biológica de valor. Na verdade a ideia de
que alguma espécie precisa de nossa intervenção para que seus membros possam exibir
uma habilidade útil como um pássaro que só conseguisse voar depois de receber
educação humana está muito longe de ser uma ideia humilde.
Se os princípios básicos da linguagem não podem ser aprendidos ou derivados
existem apenas duas explicações possíveis para sua existência: ou fomos dotados da
gramática universal diretamente pelo criador ou então nossa espécie sofreu uma
mutação de magnitude nunca vista, um equivalente cognitivo do Big Bang.
Temos de encontrar um meio de fundamente símbolos e sintaxe no material
mental que compartilhamos com outras espécies. No entanto, se ao que tudo indica, a
linguagem humana é realmente única no moderno reino animal, a implicação disso em
termos de uma explicação darwiniana de sua evolução seria a seguinte: nenhuma.
Pesquisadores acreditam que há uma versão modificada da antiga noção
biológica da grande cadeia dos seres segunda a qual todas as espécies estão ordenadas
numa hierarquia linear com os humanos no topo. A contribuição de Darwin mostrou
que cada espécie na escada evolui a partir da espécie situada um degrau abaixo. Não
evoluímos dos chimpanzés. Nós e eles evoluímos de um ancestral comum agora extinto.
E esse ancestral não evoluiu dos macacos, mas de um ancestral dos dois ainda mais
antigo e também extinto, e assim por diante. Todas as espécies estão extintas (99%). Os
organismos que encontramos a nossa volta, são primos distantes, são umas poucas
pontas de galhinhos de uma enorme arvore.
Uma primeira forma de linguagem poderia ter surgido depois que o ramo que
leva os humanos se separou daquele que leva aos chimpanzés. O resultado disso seria os
chimpanzés destituídos de linguagem e aproximadamente 5 a 7 milhões de anos,
durante os quais poderia ter evoluído gradualmente, mesmo que nenhuma espécie
existente disponha dela.
O caráter gradual tão enfatizado por Darwin aplica-se a linhagens de organismos
individuais numa arvore genealógica espécie e não a toda a uma espécie viva numa
grande cadeia. É improvável que um macaco ancestral tenha gerado um bebe que
pudesse aprender uma língua.
Os biólogos distinguem dois tipos de similaridade. Traços análogos são aqueles
que tem uma função comum mas surgem em ramos diferentes da arvore evolutiva e
num importante sentido não são o mesmo órgão. Traços homólogos podem ou não ter
uma função comum mas descendem de um ancestral comum e por isso tem alguma
estrutura comum que indica tratar-se do mesmo órgão.
O que interessa é saber se a linguagem humana é homologa a algo no moderno
reino animal. Qualquer semelhança entre os sistemas de símbolos dos chimpanzés e a
linguagem humana não seria um legado de seu ancestral comum. Para comprovar uma
homologia seria preciso encontrar algum traço típico que tivesse surgido ao mesmo
tempo nos sistemas de símbolos dos macacos e na linguagem humana e que não fosse
tão indispensável para a comunicação a ponto de ter surgido duas vezes. Uma no curso
da evolução humana e outra nos laboratórios de psicólogos ao elaborarem o sistema a
ser ensinado aos macacos.
O autor elabora diversas metodologias que poderiam ser aplicadas aos
chimpanzés mas nunca foram aplicadas embora seja possível prever com pequena
margem de erro, qual seria a resposta.
A linguagem provavelmente surgiu de uma maneira semelhante, a indução de
órgãos e unicelular, por uma restituição dos circuitos do cérebro dos primatas que
originalmente não desempenhavam nenhum papel na comunicação vocal e pela adição
de alguns circuitos novos. Algumas pessoas costumam dizer que somos muito similares
aos chimpanzés, pois compartilhamos de 99% de seu DNA. Mas uma diferença de 1%
no total do DNA nem mesmo significa que a penas 1% dos genes humanos e dos
chimpanzés são diferentes. Em teoria poderia significar que 100% dos genes humanos e
dos chimpanzés são diferentes, cada um em 1%.
Ninguém sabe quando na linhagem que começa com o ancestral comum os
chimpanzés e humanos surgiu a protolíngua ou a que velocidade ela se desenvolveu até
adotar a forma do moderno instinto da linguagem. Muitos acreditam que pelo homem
não deixar fragmentos de sua existência não desenvolveu a linguagem. Entretanto
existem povos que possuem diversas tecnologias e linguagem, mas que essas
ferramentas rapidamente se desintegrariam após sua partida, ocultando sua competência
linguística de futuros arqueólogos.
O moderno homo sapiens apareceu a 200 mil de anos atrás a partir da África e se
espalhou pelo mundo a 100 mil anos. É difícil acreditar que eles não tivessem
linguagem já que em termos biológicos eram como nós. Isso derruba a datação
geralmente difundida sobre a origem da linguagem: 30 mil anos atrás. Afinal os
principais ramos da humanidade se separaram bem antes disso e todos os seus
descendentes tinham habilidades linguísticas idênticas, por isso é provável que um
instinto já existisse bem antes disso.
Darwin foi meticuloso ao argumentar que sua teoria da seleção natural poderia
explicar tanto a evolução dos instintos quanto a dos corpos. Se a linguagem é igual a
outros instintos provavelmente evoluiu por seleção natural. Provavelmente as respostas
encontram-se na biologia molecular e nos estudos de quais tipos de sistemas físicos
podem se desenvolver sob as condições de vida na terra e porquê.
A seleção natural aplica-se a qualquer conjunto de entidades com propriedades
de multiplicação, variação e hereditariedade. Multiplicação significa que as entidades
copiam-se a si mesmas. Variação significa que o processo de cópia não é perfeito, erros
aprecem inesperadamente. Hereditariedade significa que um traço variante produzido
por um erro de cópia reaparece em copias subsequentes. A seleção natural é o resultado
matematicamente necessário segundo qual todo traço que promove uma replicação
superior tenderá a se espalhar pela polução ao longo de muitas gerações.
A seleção natural é o único processo que pode pilotar uma linhagem de
organismos no astronomicamente vasto espaço de possíveis corpos ao longo de um
trajeto que conduz de um corpo com nenhum olho para um corpo com um olho que
funciona.
Cada uma das discussões sublinhou a complexidade adaptativa do instinto da
linguagem. Ele é composto de muitas partes: sintaxe, com seu sistema combinatório
discreto que constrói as estruturas sintagmáticas; morfologia, um segundo sistema
combinatório que constrói palavras; um espaço léxico; um trato vocal renovado; regras
e estruturas fonológicas; percepção da fala; algoritmos de analise; algoritmos de
aprendizagem.
Circuitos neurais estruturados de maneira intrincada criados por uma cascata de
eventos genéticos precisamente cronometrados: linguagem. Linguagem é uma perfeição
de estrutura e de adaptação que com razão desperta nossa admiração e enquanto tal, traz
em si a inconfundível marca do projetista da natureza: a seleção natural.
Todos os indícios levam a crer que são as conexões precisas dos microcircuitos
do cérebro que fazem a linguagem acontecer. Se a linguagem envolve outro individuo,
com quem o primeiro mutante gramatical falou? Uma das respostas poderia ser a
pequena porcentagem de irmãos, irmãs, filhos e filhas que também tinham o novo gene.
Mas uma resposta mais geral é que talvez os vizinhos entendem-se parcialmente o que o
mutante estava dizendo, mesmo não possuindo os novos circuitos. Isso exerceu uma
pressão sobre eles, no sentido de desenvolverem o sistema de combinações que dá lugar
a um processo de análise inconsciente e automático, capaz de compreender as distinções
de modo confiável.
Afinal é incrivelmente lucrativo trocar conhecimentos duramente adquiridos
com parentes e amigos e obviamente a linguagem é um dos principais meios para
conseguir isso. As pessoas dependem de esforços conjuntos para sobreviver, formando
alianças por meio da troca de informações e compromissos.
A evolução é descendência com modificação e a seleção natural moldou a
matéria prima de corpos e cérebros para encaixa-los em incontáveis nichos diferentes.

12 Os craques da língua
O autor questiona que, se a linguagem é tão instintiva quanto tecer uma teia, se
toda criança de três anos é um gênio gramatical, se o design da sintaxe está codificado
em nosso DNA e instalado no nosso cérebro, porque falamos errado, porque cometemos
erros gramaticais.
Não há contradição em dizer que toda pessoa normal pode falar gramaticalmente
e agramaticalmente. Alguém em algum lugar deve estar tomando decisões sobre o
inglês correto em nome de todos nós. O autor questiona quem seria, e afirma que são os
craques da língua.
A maioria dos erros por ignorância que supostamente corrigem revelam uma
lógica precisa e uma aguda sensibilidade para a textura gramatical da língua que os
craques não percebem. A partir disso o autor faz sobre possíveis erros cometidos e após
analisa os craques.
O tipo mais comum de craque é o observador de palavras. Eles analisam as
palavras especialmente caprichosos, excêntricas e pouco documentadas e para
expressões idiomáticas que podem ser encontradas de tempos em tempos. Outro tipo de
craque são os Jeremias com seus amargos lamentos e profecias moralizantes de ruina. O
terceiro é o animador que exige sua coleção de trocadilhos e gafes. O último tipo é o
sábio. São conhecidos por sua abordagem moderada e sensata de questões de uso e eles
provocam suas vítimas com humor em vez de ataca-las com infictivas. Desconsideram a
sofisticação linguística do falante comum e portanto erram em suas análises.
O autor questiona se não são os craques que não entendem a gramática inglesa,
ao em vez dos falantes. A linguagem que eles querem que falemos não só não é inglês
como não é nenhuma outra língua humana possível.
Os craques evitariam muitos embaraços se guardasse o veredito de
incompetência linguística como último recurso. As pessoas se saem com uma
verbiagem visível quando sentem que estão em um ambiente que exige delas um estilo
elevado e formal e sabem que sua escolha de palavras pode ter consequências
tremendas.
Outro ponto cego dos craques da língua é sua completa ignorância da moderna
ciência da linguagem. O mais importante é não subestimarmos a sofisticação da verdade
causa de qualquer exemplo de uso da linguagem: a mente humana.
Muitas regras prescritivas da gramatica não passam de tolices e deveriam ser
eliminadas dos manuais de uso. Boa parte do inglês padrão é apenas padrão. O aspecto
do uso da linguagem que mais vale a pena mudar é a clareza e o estilo da prosa escrita.
Textos expositivos exigem uma linguagem encadeamentos de ideias bem mais
complexos do que aqueles para os quais foi biologicamente desenhado.

13 O design da mente
O autor após conversar da existência de um instinto da linguagem, busca
responder a importância disso. Ter uma linguagem faz parte do que significa ser
humano. Todo comportamento é uma interação entre natureza e educação. A
aprendizagem não é uma alternativa a um inato. Sem um mecanismo inato para
aprender, ela simplesmente não ocorreria. Tanto a hereditariedade quanto o ambiente,
desempenham importantes papeis.
Uma criança no Japão fala japonês. A mesma criança no Brasil, português. O
ambiente desempenha um papel. Uma criança crescendo inesperada de seus hamster,
fala uma língua. Um hamster exposto ao mesmo ambiente, não. A hereditariedade
desempenha um papel.
- O comportamento linguístico de duas pessoas nunca é o mesmo e é até mesmo
impossível arrolar o comportamento potencial de uma pessoa. Mas um número infinito
de frases pode ser produzido por um sistema finito de regras, uma gramatica. E faz
sentido estudar a gramatica mental e outros mecanismos psicológicos que estão por trás
do comportamento linguístico.
- A linguagem nos vem de forma natural. Um exame mais minucioso do que é
necessário para juntar palavras em frases comuns, revela que os mecanismos
linguísticos mentais têm de ter uma organização complexa com a interação de muitas
partes.
- A babel de línguas já não aparece mais como algo que varia de modo arbitrário
e sem limites. Um design comum na maquinaria que está por trás das línguas do mundo,
uma gramatica universal.
- A aprendizagem seria impossível se esse design básico não estivesse inserido
no mecanismo que aprende uma gramatica em particular. As crianças escolhem as falas
certas e rapidamente.
- Alguns dos mecanismos de aprendizagem parecem ser desenhados
especificamente para a linguagem. Povos da idade da pedra com gramaticas de alta
tecnologia, crianças indefesas que são gramatica competentes e sábios idiotas em termos
linguísticos.
Crianças generalizam a partir de modelos de conduta ou a partir de seus próprios
comportamentos que são recompensados ou não recompensados. A força dessa
aprendizagem está na generalização por similaridade. Uma criança que apenas repetisse
literalmente as frases dos pais poderia ser chamada de autista e não de boa aprendiz.
Crianças generalizam frases similares as dos pais, não exatamente as mesmas frases. O
problema é que a similaridade só existe na mente do observador e não no mundo. A
conclusão é que deve haver um senso de similaridade inato.
Sem a computação inata que define qual frase é similar e qual não, a criança não
teria como generalizar corretamente. A maioria das outras práticas culturais humanas
(esporte, literatura, desenho, bale) mesmo que pareçam resultados arbitrários de uma
loteria, são tecnologias inteligentes que inventamos para exercitar e estimular módulos
mentais originalmente destinados para funções adaptativas especificas. O instinto da
linguagem sugere antes uma mente composta de módulos computacionais adaptados do
que a tabula rasa.
Um dos motivos pelos quais traços comuns inatos e diferenças inatas são tão
fáceis de confundir é que os genescistas do comportamento usurparam a palavra
hereditário. Algo pode ser geralmente herdado, mas ter zero de hereditabilidade, como
números de pernas ao nascer ou a estrutura básica da mente. Em contrapartida algo pode
não ser herdade mas ter 100% de hereditabilidade. Imagine uma sociedade em que todas
as pessoas ruivas e apenas elas fossem ordenadas padres. O sacerdócio seria
extremamente hereditário embora não fosse herdade em nenhum sentido biológico.

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