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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO OMBAKA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO


CURSO DE LINGUÍSTICA PORTUGUESA

ELABORADO POR: GRUPO Nº 06

DOCENTE
__________________________

BENGUELA, DEZEMBRO 2023


INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO OMBAKA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE LINGUÍSTICA PORTUGUESA

Elementos do Grupo
 Adelino Evaristo
 Adelino Sala
 Elisa Kalandula
 António Dongua
 Isaac Adriano
 Isabel Luís
 Julieta Doroteia
 Manina Wado
3º Ano
Turma:
Período:
Disciplina: Introdução a administração
ÍNDICE
UNIVERSALIDADE DA LÍNGUAGEM ....................................................................... 5
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM .................................................................................... 6
Os Estágios da Aquisição de Linguagem ..................................................................... 7
Primeiros meses de vida ........................................................................................... 8
Seis meses ................................................................................................................. 9
Dez meses ................................................................................................................. 9
Um ano ..................................................................................................................... 9
Um ano e seis meses ............................................................................................... 10
Dois anos ................................................................................................................ 10
Mais de três anos .................................................................................................... 11
SINGULARIDADE NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM .......................................... 11
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 14
INTRODUÇÃO
A linguagem é um sistema estruturado de comunicação que consiste
em gramática e vocabulário. É o principal meio pelo qual os seres humanos transmitem
significado, tanto na forma falada quanto na escrita, e também pode ser transmitido por
meio de línguas de sinais. A grande maioria das línguas humanas desenvolveu sistemas
de escrita que permitem o registro e a preservação dos sons ou sinais da linguagem. A
linguagem humana é caracterizada por sua diversidade cultural e histórica, com variações
significativas observadas entre as culturas e ao longo do tempo.
As línguas humanas possuem as propriedades de produtividade e deslocamento,
que permitem a criação de um número infinito de frases, e a capacidade de se referir a
objectos, eventos e ideias que não estão imediatamente presentes no discurso. O uso da
linguagem humana depende da convenção social e é adquirido por meio do aprendizado.
Hoje em dia a relação entre língua e sociedade é aceita por muitos pesquisadores
que se dedicam ao estudo da língua e, apesar de algumas teorias da linguagem
apresentarem interpretações diversas dos fenômenos linguísticos, aproximando-os ou
distanciando-os de seu papel na vida social, os estudos sociolinguísticos comprovam ser
inegável a relação entre língua e sociedade, sendo, portanto, imprescindível o
entendimento desse vínculo quando se discute o fenômeno linguístico.
Uma vez que a linguagem se constitui como um dos instrumentos mais eficazes
ao serviço da comunicação entre os seres humanos, interessa-nos conhecer o
desenvolvimento linguístico na infância, analisando o processo de desenvolvimento
padronizado da aquisição da linguagem, integrando o desenvolvimento da linguagem
recetiva e o desenvolvimento da linguagem expressiva (Sim-Sim, 1998; Rigolet, 2000;
Andrade, 2008). A aquisição e desenvolvimento das competências linguísticas, enquanto
dimensão específica do ser humano, são tão naturais e espontâneas que dificilmente
pensamos na complexidade que as envolvem.

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UNIVERSALIDADE DA LÍNGUAGEM
Considerando tal complexidade das línguas naturais, podemos nos perguntar como todas
as crianças adquirem uma língua, aparentemente sem esforço algum e sem serem explicitamente
ensinadas. Toda criança normal adquire uma língua natural, sem nenhum treinamento especial e
sem um input1 linguístico sequenciado, ou seja, sem nenhuma preocupação com a ordem em que
as sentenças são faladas às crianças.
Essa propriedade da aquisição de linguagem é chamada de universalidade da linguagem
(Crain e Lillo-Martin (1999)). Embora as línguas naturais sejam muito diversas, o curso de
aquisição de linguagem é o mesmo em qualquer língua, como tem sido observado
translinguisticamente. Para explicar o processo de aquisição de linguagem, uma teoria linguística
tem de dar conta dessa universalidade da linguagem e responder o que é especial sobre linguagem,
e sobre as crianças, que garante que elas irão dominar um sistema de regras rico e complexo num
período em que elas estão apenas entrando em idade escolar.
A experiência linguística da criança e com a qual ela adquire linguagem em algumas
comunidades, a criança passa bastante tempo com os adultos, que dão muita atenção a elas. Se
esse fosse sempre o caso, poderíamos sugerir que a linguagem é ensinada às crianças pelos seus
pais ou responsáveis. No entanto, encontramos comunidades em que as crianças recebem menos
atenção individual dos adultos, mas mesmo assim acabam adquirindo linguagem da mesma forma
que aquelas que recebem mais atenção. Existem até mesmo comunidades em que os adultos não
conversam diretamente com as crianças, que se comunicam apenas com outras crianças. Apesar
dessas grandes diferenças de experiência linguística, em todos esses casos, as crianças numa
comunidade adquirem a língua daquela comunidade.
As considerações acima nos levam a uma outra característica da aquisição da linguagem:
uniformidade. Ou seja, crianças numa mesma comunidade têm experiências linguísticas bastante
diversas (com inputs diferentes) e os dados linguísticos primários que cada criança recebe são
diferentes do que as outras recebem; mesmo com essa diversidade no input, todas elas acabam
aprendendo a mesma língua. Grolla (2000)
Outro ponto a ressaltar é que algumas crianças aprendem várias línguas, apesar de a
maioria aprender apenas uma. Em comunidades onde mais de uma língua é falada, as crianças
aprendem todas as línguas da comunidade.
Nesse sentido, a aquisição de linguagem é uma função do input. Grolla (2000) afirma
que:

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Se uma criança filha de brasileiros é levada para a China, ela
aprenderá chinês. Se uma criança filha de chineses for levada à França, ela
aprenderá francês. Assim, a língua dos pais não determina que língua a
criança falará; o que determina a língua da criança é a língua que é falada ou
sinalizada ao seu redor. Assim, toda criança exposta ao inglês falará inglês,
toda criança exposta à língua de sinais português sinalizará a língua de sinais
português e assim por diante.

Além de ser universal e uniforme, o processo de aquisição de linguagem é também muito


rápido. Como mencionado acima, quase toda a complexidade de uma língua é adquirida por volta
dos 4 anos de idade; ou seja, antes mesmo de as crianças começarem a frequentar a escola. O que
elas levam mais tempo aprendendo são as palavras da língua algo que continua para a vida toda,
já que mesmo os adultos estão sempre aprendendo palavras novas. Entretanto, por volta dos 4 anos
de idade, as crianças já dominam quase todos os tipos de estruturas usadas na sua língua. Nessa
mesma idade, no entanto, elas estão apenas começando a contar e muitas vezes nem sabem ainda
amarrar os sapatos.

AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
A aquisição da linguagem é uma capacidade da espécie humana. Contudo, não basta ser
humano para que ocorram comportamentos linguísticos, é necessário que se cresça num ambiente
linguístico de comunicação. A aquisição da linguagem é um fenómeno universal, uma vez que
qualquer criança, independentemente da raça, cultura ou grupo social, é capaz de adquirir a língua
da comunidade onde está inserida. Segundo Lima (2000):
“A criança aprenderá a linguagem graças a uma
competência, ou estruturas profundas de carácter inato, passíveis de
serem operacionalizadas ou actualizadas, frente a um contexto sócio-
cultural onde a mesma se insere.” (p. 53).
Desta forma, esta capacidade torna-se um traço distintivo do ser humano, dado que a
linguagem é adquirida de uma forma natural e espontânea e num espaço de tempo relativamente
curto.
Como refere Sim-Sim (1998):
“Em pouco tempo e sem esforço tornamo-nos conhecedores
deste sistema sofisticado e complexo que é a linguagem. A simples
exposição à língua da comunidade a que se pertence faz de cada criança
um falante competente dessa língua.” (p. 19).
O sistema linguístico que a criança adquire de forma tão natural é, no geral, o das línguas
a que está exposto, as línguas maternas. No processo da aquisição da linguagem a criança vai
reconhecendo, progressivamente, os sons com que, na sua língua materna, se constroem as
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palavras que servem para comunicar com os outros. A, pouco e pouco, inconscientemente, ela vai
apreendendo as relações que se estabelecem entre os sons e delimitando o funcionamento de cada
um. (Franco et al., 2003, p. 30). É assim, que de uma forma intuitiva e implícita, a criança vai
dominando o sistema fonológico da sua língua materna.
Como referem Garrison, Kingston e Bernard (1979):
“Com ela, o homem adquire a cultura que prevalece na
sociedade na qual nasceu; sem ela, permanece alheio a sua herança e dela
ignorante. A linguagem é elemento essencial para participar da vida social,
veículo para a auto-realização, expressão e comunicação, e instrumento
para a ordenação dos processos mentais” (p. 184).
O domínio da língua materna permite que os indivíduos se integrem e participem na
sociedade, uma vez que o desenvolvimento das capacidades comunicativas significará para a
criança uma maior compreensão do que acontece à sua volta, uma maior possibilidade de expressar
as suas necessidades e de ter acesso a actividades mais completas. (Nunes, 2001, p. 82).
Através da comunicação linguística a criança desenvolve as suas capacidades e
competências, em virtude das trocas que mantém e assume com o meio ambiente. Quanto maior
for a sua capacidade para comunicar, maior controlo ela poderá ter sobre o seu meio ambiente
(Nunes, 2001, p. 81). A apropriação da linguagem promove o desenvolvimento das capacidades
da criança de receber, transformar e transmitir informação. Neste sentido, a linguagem
desempenha um papel indispensável na evolução da criança como ser social, uma vez que é o
instrumento fundamental por meio do qual são transmitidos à criança os modelos de vida, a cultura,
os modos de pensar e de agir, as normas e os valores de uma sociedade. (Bitti & Zani, 1997, p.
93).

Os Estágios da Aquisição de Linguagem


Ao analisar o desenvolvimento da linguagem é importante compreender que este é apenas
um dos aspectos de uma interacção mais complexa onde se entrecruzam as dimensões do
desenvolvimento físico, sensorial e perceptivo, do desenvolvimento cognitivo, inteligência,
aprendizagem, memória, ou do desenvolvimento psicossocial. (Andrade, 2008, p. 17).
Como nos dizem Franco e colaboradores (2003) o processo da linguagem e o progressivo
domínio oral, objectivado pela fala da criança passa, necessariamente, pelo conhecimento,
inicialmente intuitivo, dos sons da sua língua materna e do modo como estes se organizam. (p. 28).

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O pleno domínio da língua materna implica uma variedade de processos, em que
fundamentalmente os linguísticos já de si complexos e multifacetados se conjugam com outros,
motores, cognitivos, sociais e culturais (Castro & Gomes, 2000).
A aquisição da linguagem é um processo universal, ou seja, todas as crianças com o
desenvolvimento normal adquirem a linguagem aproximadamente com a mesma idade, na mesma
sequência, quaisquer que sejam as suas condições ambientais.
Como referem Sequeira e Sim-Sim (1989):
“As diferenças estruturais e funcionais do cérebro
humano e a especificidade do seu sistema sensório-motor permitem
ao homem, qualquer que seja a sua origem étnica, o domínio dum
sistema complexo de comunicação, cujo processo de aquisição se
desenvolve do mesmo modo, obedecendo à mesma cronometria e
essencialmente pela mesma ordem sequencial, independentemente
da língua de imersão do sujeito.” (pp. 3-4).
Os processos que são característicos do desenvolvimento da linguagem são praticamente
os mesmos em todas as crianças, contudo a evolução da linguagem vai depender da sua
inteligência, maturidade, bem-estar emocional, motivação e ambiente que a rodeia, ou seja, este
desenvolvimento resulta de uma interação entre capacidades inatas e condicionantes ambientais.
Como foi referido anteriormente, o desenvolvimento da linguagem ocorre segundo etapas
com determinadas características e, se tudo correr normalmente, os primeiros 4 anos são
suficientes para dotar a criança de uma capacidade razoável de expressão oral. Durante estes anos,
a criança adquire as bases para a aquisição da linguagem adulta, através da interação entre adultos
e criança através de comportamentos verbais e não-verbais. Sim-Sim, Silva e Nunes (2008)
afirmam que:
“Nos primeiros anos de vida, o adulto desempenha
o papel mais importante nesta interacção, cabendo-lhe a
função de responder às necessidades comunicativas da criança
e promover ambientes ricos em comunicação. Desta forma,
estão criadas as condições para que o bebé possa desenvolver
as suas capacidades comunicativas e adquirir competências
linguísticas que lhe permitam dominar com eficiência a língua
materna.” (p. 29).

Primeiros meses de vida


Nos primeiros meses, a criança chora e começa a balbuciar, emitindo sons que não têm
nenhum significado. Diversos estudos com bebês muito novos (desde recém-nascidos até bebês

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com 12 meses de vida) indicam que desde os primeiros dias de vida os bebês mostram uma
sensibilidade impressionante às propriedades e estruturas da fonologia das línguas naturais. Por
exemplo, com 4 dias de vida, eles conseguem discriminar uma grande variedade de línguas,
algumas que eles nunca ouviram, ao se basear em seu ritmo. Eles podem distinguir sua língua
nativa de uma língua estrangeira e até mesmo duas línguas estrangeiras uma da outra (alguns
estudos investigando essa habilidade dos recém-nascidos são: Bosch e Sebastián-Gallés (1997);
Christophe e Morton (1998); Mehler et al. (1988); Moon, Cooper e Fifer (1993); entre outros).

Seis meses
Por volta dos 6 meses de vida, as crianças balbuciam um maior número de sons. Elas
produzem várias sílabas diferentes, que são repetidas à exaustão, como ba, ba, ba, bi, bi, bi.
Crianças adquirindo línguas diferentes apresentam o mesmo tipo de balbucio. O fato mais
marcante é que até mesmo crianças surdas balbuciam neste estágio, embora elas não ouçam
nenhum input linguístico (Karnopp (1999); Newport e Meier (1986)). Isto indica que o balbucio
não é uma resposta à estimulação externa, mas um comportamento guiado internamente.
A partir desta idade, os bebês começam a separar as palavras no fluxo contínuo dos
enunciados. Bebês também conseguem discriminar uma grande variedade de sons de sua língua
nativa ou de uma língua estrangeira (Jusczyk (1997)).

Dez meses
Aos 10 meses, o balbucio das crianças muda e elas começam a balbuciar somente os sons
que ouvem. As crianças também usam o acento e contornos entoacionais de sua língua. Nesta
idade, a criança surda deixa de balbuciar (Petitto e Marentette (1991)). Por volta desta idade, os
bebês começam a mapear som ao significado. Para extrair palavras do fluxo contínuo dos
enunciados, os bebês se baseiam em várias fontes de informação específica de linguagem: a forma
prosódica das palavras, regularidades distribucionais, informação fonética e restrições fonotáticas.
Essas habilidades de percepção de linguagem altamente sofisticadas são cruciais para se aprender
o léxico da sua língua nativa.

Um ano
Ao completar um ano de vida, a habilidade de discriminar sons de línguas estrangeiras
decai. Os bebês começam como potencialmente falantes de qualquer língua humana e sua
capacidade para linguagem pode se adaptar a qualquer input linguístico. Enquanto ao nascer eles

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têm capacidade para lidar com variações globais, depois de um ano de experiência suas
capacidades ficam mais refinadas. Durante esse desenvolvimento, eles perdem algumas
habilidades (por exemplo, lidar com contrastes de consoantes de línguas estrangeiras), mas
ganham outras que os preparam para aprender as unidades da língua que ouvem ao seu redor (i.e.,
palavras).
Nesta idade, a criança, além de balbuciar, também começa a produzir suas primeiras
palavras (Elbers (1982); Vihman e Miller (1988)). Elas geralmente usam palavras que nomeiam
objectos em seu ambiente, como “mamãe”, “papai”, “auau”, etc. Nesse estágio, os enunciados das
crianças são compostos por apenas uma palavra. Esses enunciados de uma palavra geralmente têm
o significado de uma sentença completa. Por exemplo, aos 15 meses, o bebê estudado por McNeil
(1966) usou a palavra “door” (porta) para significar “feche a porta” e “water” (água) para significar
“tem água em meus olhos”. A criança de um ano pode também usar gestos para se comunicar,
como erguer os braços para indicar que quer que alguém a pegue no colo. A criança também
combina gestos com palavras, como, por exemplo, apontar para um cachorro e dizer “auau”. Neste
estágio, as crianças surdas também começam a produzir seus primeiros sinais. No lado da
compreensão, a criança entende ordens, como por exemplo, “me dê um beijo”.

Um ano e seis meses


Por volta de um ano e meio, as crianças começam a combinar duas palavras isoladas, por
exemplo, “auau ... água”. O padrão de entonação usado pela criança é o padrão de palavra isolada,
com uma pausa entre elas. Essas combinações de palavras não são ainda sentenças. Nesta idade, o
vocabulário aumenta rapidamente, pois as crianças aprendem várias palavras novas a cada dia. O
mais surpreendente, no entanto, é que mesmo antes de as crianças começarem a combinar palavras,
elas podem detectar e usar a ordem de palavras para compreender enunciados.

Dois anos
Aos dois anos de idade, a criança tem um vocabulário de aproximadamente 400 palavras
e já produz sentenças simples com mais de duas palavras. Nesse estágio, algumas palavras
gramaticais, como artigos (“o”, “a”) e complementizadores (como “que” e “se”), ainda não são
usados (Brown (1973)). Entre 2 anos e meio e 3 anos, a criança tem um vocabulário de
aproximadamente 900 palavras e começa a usar palavras gramaticais como artigos e pronomes.
Nesta fase, a criança apresenta “erros”, como as formas de passado eu fazi e eu trazi, produzidas
por crianças adquirindo o português.

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Tais “erros” são na verdade indícios de que a criança aprendeu a regra de formação de
passado em português. Ou seja, ela aprendeu que o passado de verbos terminados em – er (como
vender) é formado adicionando-se –i ao radical. O que ela não aprendeu ainda é que os verbos
fazer e trazer são irregulares e seu passado é feito de forma diferente. Tais formas têm que ser
aprendidas uma a uma. O importante é notar que as crianças detectam regularidades em seu input
e vão além delas, produzindo formas novas, que elas nunca ouviram antes e que são regidas por
regras.

Mais de três anos


Entre 3 anos e 3 anos e meio, o vocabulário da criança gira em torno de 1200 palavras.
Preposições e outras palavras gramaticais continuam a ser adquiridas. Entre 3 anos e meio e 4
anos, as crianças começam a usar sentenças com mais de uma oração, como orações relativas e
orações coordenadas. Por volta dos 4 e 5 anos de idade, as crianças têm um vocabulário de mais
ou menos 1900 palavras e já usam orações subordinadas com termos temporais, tais como “antes”
e “depois”.
É importante observar que por volta dos 5 anos de idade as crianças já adquiriram a grande
maioria das construções encontradas em sua língua materna (como orações relativas, orações
clivadas, perguntas, construções passivas, etc). Apesar de seu input ser constituído por um número
finito de sentenças, a criança é capaz de produzir um número infinito delas. Isto porque o que a
criança adquire não é uma lista de sentenças, mas um conjunto de regras que a permitirá gerar
sentenças novas, que ela nunca ouviu antes.

SINGULARIDADE NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM


A questão da singularidade será abordada a partir do paralelismo, manifestação linguística
de força estrutural, que sustenta falas de crianças com idade aproximada de volta dos 2,6 anos,
seja em diálogos (LEMOS, 2006), seja em monólogos (LIER-DeVITTO, 1998, 2011). O
paralelismo emerge num tempo em crianças dão sinais de ter conquistado certa autonomia em
relação à fala do outro. Trata-se de um momento em que fenômenos linguísticos particulares (erros
e composições insólitas) irrompem e imprimem marcas nos enunciados infantis que justificam a
expressão “fala de criança” fala diferente daquela do adulto (representante da língua constituída).
Trata-se de enunciados que a criança não ouviu do outro.
Nos termos da proposta Interacionista de De Lemos (1992 e outros), essa diferença
surpreendente de distanciamento da fala do outro marca um corresponde a uma mudança

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estrutural: um descolamento de posição, i.e., a criança descola da dependência dialógica estrita e
imediata. Há mudança de posição subjetiva, i.e., de “falada pelo outro”, a criança salta para a
posição de ser “falada pela língua”.
Entre um e outro tempo estrutural há mudança na natureza da repetição. De facto, na
primeira posição, há repetição da substância sonora de fragmentos do enunciado do outro; na
segunda posição, ainda que a fala do outro esteja na da criança, esta perde assinatura e se
transforma. A repetição adquire uma particularidade da maior relevância, como veremos:
1. Que cor
2. Qual a cor do cobertor
3. Qual é a cor do esfregão
4. Qual a cor do vidro
É característica do paralelismo a repetição com diferença, como se nota acima. Nele
insiste uma grade estrutural/sentencial móvel que liga toda a sequência de enunciados; que
restringe e dá suporte à expansão trôpega da fala da criança. A repetição estrutural é, portanto,
coesiva no paralelismo. A diferença, que lhe é inerente, manifesta-se como efeito de intensa
variação que ocorre em lugares estruturais; variação, esta, decorrente de substituições comandadas,
aqui, pela dominância da operação metafórica, que inaugura a segunda posição.
Vale realçar que a referida singularidade vem à tona, de forma especialmente visível,
através de algumas produções insólitas da criança, ou melhor, através daqueles enunciados que,
de acordo com Bowerman (in KESSEL, 1982), não estariam respondendo, claramente, a padrões
ou regras da língua constituída.
Esse tipo de produção foi concebido por De Lemos (2002) do ponto de vista de um efeito
de enigma ou de um efeito de estranhamento provocado sobre o adulto De um modo bem geral,
uma primeira posição se caracteriza pelo espelhamento, através do qual a fala da criança é
constituída, nesse momento inaugural, por fragmentos da fala do outro (mãe). Por sua vez, a mãe
reconhece a fala (fragmentária) da criança, colocando-a em uma cadeia verbal – que lhe dá forma
e consistência –, ou seja, interpretandoa.2 Seria, portanto, esse encontro ou cruzamento inicial
entre a fala da mãe e a fala da criança, isto é, esse espelho ou espelhamento recíproco que permitiria
a passagem do infante para as posições seguintes, ao longo de sua trajetória linguística. Desse
modo, o espelhamento é destacado como uma função que constitui o sujeito falante. Entretanto,
de acordo com o quadro teórico aqui assumido, o outro/intérprete não seria um indivíduo real e,
sim, uma instanciação da língua concebida em sua combinatória de significantes.

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CONCLUSÃO
Em suma, podemos afirmar que a linguagem constitui-se como uma das principais
ferramentas para o desenvolvimento dos indivíduos e para a plena integração e participação ativa
na sociedade. O domínio linguístico é essencial, não só do ponto de vista social, mas também
porque permite o acesso a um conjunto de conhecimentos e de experiências pessoais, académicas
e culturais. Dado que é um instrumento de socialização, construção do conhecimento e organização
do pensamento, torna-se evidente a importância do desenvolvimento adequado das competências
linguísticas e o impacto na vida do ser humano que sofra alterações nesta área.
O processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, por ser uma área complexa e
pluridimensional, tem merecido ao longo dos tempos o interesse e dedicação de diversos autores
no intuito de enriquecer os conhecimentos relativos a este tema. Atualmente é consensual que a
aquisição da linguagem é um processo complexo que resulta da interação das componentes
genéticas com os estímulos do meio linguístico envolvente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Andrade, F., (2008). Perturbações da linguagem na criança: análise e caracterização.
Aveiro: Universidade de Aveiro - Comissão Editorial.
Bosch, L. e N. Sebastián-Gallés (1997) “Native-language recognition abilities in 4-
month-old infants from monolingual and bilingual environments”. Cognition 65: 33-69.
Crain, S. e D. Lillo-Martin (1999) An Introduction to Linguistic Theory and Language
Acquisition. Oxford: Blackwell Publishers.
Castro, S. L., & Gomes, I., (2000). Dificuldades de aprendizagem da língua materna.
Lisboa: Universidade Aberta.
Christophe, A. e Morton, J. (1998) “Is Dutch native English? Linguistic analysis by 2-
montholds”. Developmental Science 1: 215-219.
De Lemos, Cláudia Thereza. 2002. Das vicissitudes da fala da criança e de sua
investigação, em Cadernos de Estudos Linguísticos, 42: 41-69.
Franco, M., Reis, M., & Gil, T., (2003). Domínio da comunicação, linguagem e fala.
Perturbações específicas da linguagem em contexto escolar. Lisboa: Ministério da Educação.
Grolla, E. (2000) A aquisição da periferia esquerda da sentença em Português Brasileiro.
Dissertação de Mestrado, Unicamp.
Jusczyk, P. W. (1997) The discovery of spoken language. Cambridge, MA: MIT Press
Karnopp, L. (1999) Aquisição Fonológica na Língua Brasileira de Sinais: estudo
longitudinal de uma criança surda. Tese de Doutorado, PUCRS.
Lima, R., (2009). Fonologia infantil: aquisição, avaliação e intervenção. Coimbra:
Edições Almedina.
Nunes, J., (2006). Linguagem e cognição. Rio de Janeiro: LTC Editora.
Newport, E. e R. Meier (1985) “The Acquisition of American Sign Language”. In: D. I.
Slobin (ed.), The Crosslinguistic Study of Language Acquisition, vol. 1. Hillsdale, NJ: Lawrence
Erlbaum Associates: 881-938.
Rigolet, S., (2000). Os três P – precoce, progressivo, positivo: comunicação e linguagem
para uma plena expressão. Porto: Porto Editora.
Sim-Sim, I., (2001). Avaliação da linguagem oral: um contributo para o conhecimento do
desenvolvimento linguístico das crianças portuguesas (2ª. ed.). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.

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