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Questões fundamentais da linguística

Trabalho realizado por: Filipa Ribeiro

Disciplina: O Estudo da Linguagem Humana

Docente: Professora Drª. Marina Vigário

Fevereiro de 2024

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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O que é a linguagem? A linguagem é simples ou complexa? Como sabe uma criança o
que é uma palavra? Como conseguimos alterar a forma do nosso pensamento para que
ele se adapte à disposição linear de uma frase? Qual é a capacidade biológica que nos
permite fazer tal coisa? Há em todas as línguas humanas certas características centrais?
Qual é a interação das pessoas com a linguagem e como se processa? Porque é que os
vários idiomas têm tantas regras que seguimos sem saber como? O que é uma palavra?
Como é que uma criança sabe o que é uma palavra? Quanto da língua é inato e quanto
dela é adquirido por exposição ao meio? As crianças são ensinadas a falar? Como é que
as crianças sabem abordar a gramática com tão pouca experiência linguística? Se não é
pela imitação que aprendemos a falar, então como é? A partir de que idade a criança
reconhece o sujeito e o predicado da ação? Como é que se aprende o significado dos
termos? O que é um conceito? A que se refere outra pessoa quando diz uma palavra?
Porque são as línguas tão semelhantes e parecem talhadas pelo mesmo padrão? Estas
são algumas das principais perguntas ao nível da linguística que nos são expostas no
documentário Babies – First Words da Netflix. As mesmas serão tratadas com base nas
restantes fontes da nossa bibliografia no presente trabalho.

O tema em análise é nada mais nada menos do que a linguagem. A linguagem integra
um sistema complexo de fonemas ou gestos com regras combinatórias específicas e
limitadas que permitem um conjunto ilimitado de enunciados. Um conjunto de fonemas
ou gestos forma uma palavra, uma unidade básica de uma determinada língua com uma
relação arbitrária face ao seu significado. As regras combinatórias formam, através de
combinações de palavras, frases.

Toda a linguagem humana é complexa, sofisticada e obedece a regras incutidas de


forma inconsciente no indivíduo. De facto, parece haver uma gramática universal, isto é,
um conjunto de características compartilhado por todas as línguas, nomeadamente: a
existência de linguagem onde existe humanidade; um conjunto de regras para cada
língua; a evolução de todas elas; a generalidade de substantivos e verbos, sujeitos e
predicados e outras similaridades morfosintáticas; a arbitrariadade das relações entre as
palavras e a sua semântica; a finitude de recursos linguísticos e a infinidade de
enunciados possíveis dentro de uma língua; categorias semânticas tais como
«masculino» e «feminino», «animado» e «humano», «singular» e «plural»,
correspondentes ao género, estado de animação e número dos substantivos e recursos
para a referência a um tempo passado, para a negação, a formulação de perguntas ou
ordens, entre outros enunciados específicos.

Claro está que, se parece haver uma gramática universal, podemos deduzir que há uma
componente biológica do Homem em relação à aquisição da linguagem, o que,
consequentemente, significa que pelo menos parte dessa habilidade é inata e não
ensinada. Parece inclusive haver uma tendência no Homem para a fala como para
outras atividades (por exemplo, andar ou correr), sem que, no entanto, este seja
consciente dos mecanismos que o levam a executá-la, contrariamente a outras

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habilidades tais como a escrita ou a culinária, o que aparenta não ser possível noutras
espécies animais, por mais que estas estabeleçam sistemas de comunicação, por
comparação com o nosso, muito rudimentares.

Os cientistas notaram nos bebés grandes habilidades linguísticas que faltam aos
adultos, tais como a perceção a priori das palavras enquanto unidades modeladoras do
dicurso por meio do reconhecimento das variações da entoação da voz dos falantes.
Também é um facto demonstrado pela evidência que qualquer criança sem problemas
fisiológicos ou mentais, independentemente da sua etnia, região geográfica ou classe
social, é capaz de adquirir linguagem, contanto de tal aconteça dentro do período crítico
da primeira infância. Por norma, uma criança de cinco anos é capaz de esgrimir a sua
língua quase tão bem como qualquer adulto.

Ora, já percebemos que a aquisição da linguagem tem tanto de inato como de


matemático por conta das suas regras combinatórias, pelo que é natural que os bebés
apresentem uma aprendizagem estatística da linguagem. Na prática, o que acontece é
que as crianças inferem, por generalização, os paradigmas da formação de palavras e
enunciados da sua língua com base na frequência com que os ouvem, aplicando-os deste
modo a casos concretos e enunciados que nunca tenham sido por si ouvidos, o que gera
uma margem de erro muito diminuta, salvo irregularidades naturais decorrentes da
evolução linguística.

Claro que a influência do meio não é indispensável. Para uma criança adquirir uma
língua tem de ter contacto com ela, com o vocabulário e as restantes dimensões que a
compõem, tais como sintaxe, semântica e morfologia, caso contrário não será capaz de a
falar, daí que, para haver linguagem, tenha de haver uma comunidade falante. A
existência de uma língua exige a existência de uma comunidade falante e o que a torna
identitariamente uma língua singular é justamente a sua inteligibilidade no seio dessa
comunidade.

No seguimento da exposição da forma como as crianças na primeira infância adquirem


linguagem importa também referir que, quando se aponta um objeto às mesmas e se lhe
faz corresponder uma palavra, estas tendem a associar a palavra dita, primeiramente, ao
objeto como um todo e não a alguma das suas particularidades, o que implica uma
evolução linguística acompanhada da evolução mental ao longo do tempo para a
perceção de ideias mais decompostas ou abstratas enquanto objetos linguísticos a serem
tratados.

Uma vez postas todas as acima referidas considerações em cima da mesa, torna-se
evidentemente necessário admitir a eminente complexidade e unidade do sistema
linguístico, bem como a sua ligação intrínseca à humanidade. Em suma, ao aderirmos ao
sistema linguístico é-nos dado a entrar num mundo cuja inteligibilidade, sem essa
ferramenta, nos seria completamente vedada, pelo que ele próprio não existiria, dada a
correlação causal entre a humanidade e a linguagem.

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Bibliografia

FROMKIN, Victoria, ROADMAN, Robert; Introdução à Linguagem, 1ª edição,


Almedina, 1983, pp. 3-20 e pp. 267-275.

https://www.youtube.com/watch?v=wUKEx4DFqmk (consultado a 07-02-2024)

https://www.youtube.com/watch?v=BFtbXwnBRg8 (consultado a 07-02-2024)

https://www.youtube.com/watch?v=GW5fVH6iV2s (consultado a 07-02-2024)

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