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PORTUGUESA
Paula Denari
GUIA DA
DISCIPLINA
2019
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Objetivo:
Desenvolver saberes e fazeres pertinentes à docência da Língua Portuguesa para
as séries iniciais. Discutir o ensino de Língua Materna. Refletir sobre as falhas da gramática
normativa e sua inconsistência teórica; propor soluções mais coerentes para o ensino de
Língua Materna. Apresentar as Teorias de aquisição da linguagem. Refletir sobre o
desenvolvimento da linguagem na criança: fonológico, lexical, sintático e pragmático.
Analisar as múltiplas linguagens como recursos didáticos: linguagem não verbal, jogos,
brinquedos, atividades lúdicas, teatro, coro falado e jornal falado. Observar criticamente os
Parâmetros Curriculares Nacionais e a Língua Portuguesa.
Introdução:
Discutir Conteúdos e Métodos de Língua Portuguesa é mais do que pensar como a
criança apreende uma língua, mas como a criança se comunica nos primeiros meses de
vida, já que estamos falando em língua materna. Esta é uma reflexão abordada por
inúmeros teóricos até os dias de hoje. Além disso, se o aluno já chega ao ambiente escolar
provido de uma linguagem adquira no âmbito social, qual seria, então, o papel da escola?
Que “língua” é essa que ele aprende na sala de aula tão diferente daquela produzida pelos
falantes com os quais convive? É esse o objetivo da nossa disciplina refletir sobre esses
aspectos tão controversos a respeito do ensino da Língua Portuguesa. Para isso, dividimos
nossa disciplina em nove temas:
Como dito, se a criança viver em condições normais, o estímulo linguístico dado a ela
pela comunidade em que se encontra inserida, vai levá-la a adquirir a linguagem. Já o
1
Você, provavelmente, já estudou a teoria de Piaget e Vygotsky em outras disciplinas, já que eles
são importantes teóricos da Educação. Por este motivo, não iremos nos prolongar em desenvolver seus
estudos. Importa-nos aqui suas relações com a aquisição da linguagem.
Intuitivo;
Subconsciente;
Assistemático;
Socialmente marcado.
http://selmamcarvalho.blogspot.com.br/2014/03/desenvolvimento-da-linguagem-da-crianca.html
Sinais, símbolos, sons e gestos são alguns exemplos de linguagem do nosso dia a
dia. Por exemplo, ao nos depararmos com uma placa como esta, qualquer indivíduo, em
plena habilidade cognitiva, consegue decodificá-la.
Linguagem não verbal: é aquela que utiliza outros métodos de comunicação, que
não são as palavras. Dentre elas, estão a linguagem de sinais, as placas e sinais
de trânsito, a linguagem corporal, uma figura, a expressão facial, um gesto, etc.
(ENEM, 2013)
(GLAUCO)
De acordo com Faraco (2008), “norma culta se tornou moeda corrente para, em
primeiro lugar, resolver a maldição que caiu sobre a palavra gramática.”. Essa maldição a
que Faraco refere-se é a crítica que se iniciou na década de 60 às fragilidades conceituais
da gramática e ao crescimento dos estudos linguísticos no país. Tal crítica saiu dos muros
da academia e chegou às escolas, assim, o ensino do português mais voltado ao estudo
das regras e nomenclaturas, começou a ser questionado, ou seja, passou a ser
politicamente incorreto o ensino da gramática.
O problema é que este discurso de fato não atingiu a prática pedagógica e o termo
gramática ficou para sempre rotulado, sendo seu significado depreciado. Para substituí-lo
criou-se o termo norma culta, este soava menos permeado de regras, porém era atribuído
aos mesmos conteúdos.
Como brinca Faraco (2008), quem seria a Sra. Dona Norma Culta que proíbe, exige,
condena? Difícil personificá-la em alguém tão rancoroso. O resultado é que se desenvolveu
uma situação em que a imprecisão de sentido mistura norma culta com norma gramatical.
No entanto, a palavra “norma” entre suas inúmeras acepções pode ser entendida
como aquilo que é normal, comum ou normativo. Dessa forma, um olhar atento sobre as
produções dos falantes mostra que estamos inseridos em um universo linguístico bastante
heterogêneo, cada um com sua organização própria, sua norma.
Dentre essas normas, qual seria A CULTA? De acordo com Stella Maris Bortoni-
Ricardo (2005), o melhor instrumento para identificar os falares dos brasileiros é distribuir
as inúmeras variedades em três grupos: rural-urbano, oralidade-letramento e monitoração
estilística.
Encontramos essa variedade nos meios de comunicação de massa, muito por uma
imposição econômica e social. Vamos discutir mais sobre essa variante nas próximas aulas.
Essa tal norma culta, para os falantes, seria melhor que as demais e se confunde
com a própria língua. O que não se percebe é que qualquer língua é heterogênea.
Aqui no Brasil, não se optou pela norma culta (comum aos falantes brasileiros), a
elite letrada conservadora do século XIX queria fixar como padrão o modelo lusitano. Para
eles, era preciso viver em um país branco e europeu. Para isso, combatiam-se os
fenômenos linguísticos identificados como “português de preto”, entendido como
degeneração da língua. (FARACO, 2009). O objetivo não era criar um Estado unificado,
mas combater o português popular, produzido nas ruas, um português misturado à língua
indígena e africana.
Antigamente
(Carlos Drummond de Andrade)
"Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e
muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os
janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas
ficavam longos meses debaixo do balaio."
E foi a partir daí que se começou a atribuir aos linguistas o papel de formuladores de
uma nova política para o ensino do português. O problema é que para eles, mais importante
do que a correção é a situação comunicativa. Não é incomum serem acusados de aceitarem
de tudo na língua. O que não é verdade. Para um linguista, não adianta corrigir o equívoco,
mas avaliar o cenário em que tal equívoco ocorre. Afinal, só é possível falar em certo e
errado se observarmos a língua sob um único prisma: a norma culta.
Para alguns falantes é tão absoluto que esta é a única forma válida que são capazes
de afirmar que o brasileiro não sabe falar o português!!!! Para eles, as normas estão acima
do uso. Essa visão purista não admite a adequação linguística, somente a regra. O que
para a linguística é um absurdo.
Como se supõe que para os linguistas “tudo vale na língua”, supõe-se também que
eles são contrários ao ensino das variedades ditas cultas.
Não há, em seus textos, nenhuma afirmação nesse sentido. Ainda assim, são
acusados de esquerditas de meia-pataca porque (supostamente) idealizam tudo o
que é popular e preconizam que os ignorantes continuem a sê-lo, cf. revista Veja de
07/11/01, p. 112
(FARACO, 2009, p. 168)
Outro problema são os livros didáticos que apresentam as variantes de forma quase
anedótica. Ao citarem o português rural, muitos trazem uma tirinha de Chico Bento, um
personagem estereotipado que não reflete o real falar rural. A variante acaba sendo vista
como algo só existente por determinada parcela da população rural.
Antes de tudo, é preciso compreender o conceito de texto. Este já foi concebido como
unidade linguística superior à frase e, no campo da pragmática, expressão do pensamento.
Também há conceitos relacionados ao aspecto comunicativo. Assim, o texto passa a ser
visto como resultado de nossa atividade de interação com o outro e, portanto,
compreende processos mentais conscientes e criativos.
Para que o texto seja processado, envolvemos três grandes sistemas: o linguístico,
o enciclopédico e o interacional. (HINEMANN & VIEHWEGER, 1991). Pelo linguístico,
compreendemos o sistema gramatical e lexical. O enciclopédico, refere-se ao
conhecimento de mundo dos interlocutores e o interacional sobre o processo de
comunicação. Ou seja, produzir um texto é muito mais do que trabalhar palavras, mas
articular pensamentos e compreender pessoas.
Por esta razão, um dos aspectos mais intrigantes e, ao mesmo tempo, fascinantes,
no estudo da neuropsicologia, é como ocorreu o processo de adaptação que culminou no
acervo, guarda e reprodução do conhecimento historicamente acumulado, através das
linguagens oral e escrita. (BOTELHO,2001). Afinal, se os textos são expressões de ideias,
pensamentos, também é por meio deles que disseminamos saberes e culturas.
Tanto que por muitos anos questionou-se de quem seria a responsabilidade por um
processo não bem-sucedido na leitura de um texto: do autor, do texto ou do leitor. Diferentes
correntes da hermenêutica já se confrontaram e as mais contemporâneas têm sacrificado
o leitor.
Assim, uma interação textual tem maiores chances de ser efetiva se o leitor for
proficiente.
E por que estamos trabalhando tais questões em nossa aula? Porque para nós, em
uma sociedade em que a língua ocorre por textos, não podemos imaginar que o ensino
ocorra de outra forma.
Mesmo quando os textos são utilizados em sala de aula, o foco são os exercícios de
interpretação. Algumas vezes são utilizados como pretextos para o ensino gramatical, mas
não de uma língua em uso. Novamente sentenças são pinçadas para um estudo
determinado. O texto é visto como um grupo de frases reunidas e não como um todo único.
As atividades que utilizam textos em aula não incentivam o prazer pela escrita e nem
pela leitura. No entanto, é necessário trabalhar com essa prática de maneira natural em
sala, o aluno precisa se acostumar com o exercício da leitura e da escrita, pois, dessa
forma, torna-se um sujeito atuante na sociedade, exprimindo sua opinião e exercitando sua
capacidade discursiva de acordo com a situação que lhe é proposta, pois cada texto exige
uma linguagem diferente.
Escrever nem sempre é uma tarefa fácil, enfrentar o papel em branco assusta e ela
se torna ainda mais complexa com a falta de prática, por esta razão, cabe ao ambiente
escolar trabalhar o texto de forma desafiadora, mas prazerosa. E inserir a gramática neste
contexto textual, compreendendo o todo do qual faz parte.
Saber gramática não é o suficiente para uma atuação verbal eficaz. De fato, um dos
maiores equívocos consiste em se acreditar que o conhecimento da gramática é
suficiente para se conseguir ler e escrever com sucesso os mais diferentes gêneros
de texto, conforme as exigências da escrita formal e socialmente prestigiada.
(ANTUNES, 2007, p.53)
Mesmo nas séries iniciais, o ensino deve ter por foco os sentidos que o texto
apresenta e que devem servir para estabelecer comunicação entre os interlocutores.
Devemos compreender que a melhor forma de sairmos do grande abismo do ensino da
língua materna é trabalhar diretamente com a língua em uso, ou seja, através de textos.
Quando ele torna-se objeto de estudo, o aluno entende os mecanismos que norteiam sua
língua.
No entanto, esse trabalho por meio de textos exige prática, escrita, leitura e reescrita.
Por outro lado, faz com que o aluno escreva e leia de forma sempre mais sofisticada, ou
seja, que ele alcance a norma culta de sua língua.
Como veremos na próxima aula, desde o início da década de 80, o ensino de Língua
Portuguesa na escola tem sido um dos principais focos no que se refere a melhoraria da
qualidade da educação do país. Essa situação acentua-se no fim da primeira série e na
quinta série, em que o índice de repetência é maior. No primeiro, por dificuldade em
alfabetizar; no segundo, por não conseguir garantir o uso eficaz da linguagem.
Os textos produzidos pelos alunos, de acordo com os PCN, devem ser materiais de
apoio para os professores, uma vez que poderiam ser analisadas e usadas em sala para
mostrar aos alunos que eles são produtores de textos e que a gramática não é algo tão
abstrato.
Não basta saber ler que 'Eva viu a uva'. É preciso compreender qual a posição
que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem
lucra com esse trabalho.
Paulo Freire
Por muitos anos, acreditou-se que a linguagem era expressão do pensamento, logo,
ler e escrever bem eram uma consequência do pensar. Assim, à escola, restava a
discussão sobre as características normativas da língua.
Para identificar uma leitura de qualidade, o estudante tinha que reproduzir o que o
autor “quis dizer”, sem ir além em possíveis sentidos. Quando os alunos dominavam a
primeira etapa de aprendizagem, estavam aptos para a seguinte.
A linguagem não era mais entendida como uma representação da realidade, mas o
resultado das intenções do falante e o impacto produzido no receptor. Em consequência
disso, nas salas de aula, o aluno passou a ser visto como sujeito ativo e atuante. Tais ideais
nos lembram das concepções de aprendizagem socioconstrutivistas de Piaget, que
consideram o conhecimento como sendo elaborado pelo sujeito, e não só transmitido pelo
professor.
Devemos ser criteriosos com a seleção de conteúdos ministrados nesta fase inicial
do aprendizado da língua portuguesa. É necessário trabalhar com práticas de leitura e
escrita realmente pertinentes, que desenvolvam no aluno noções teóricas e saberes que o
habilite a se comunicar em qualquer nível de linguagem, inclusive e principalmente o nível
culto.
O que vemos, ao contrário, é que a escola ignora o que deveria ser a sua função
primordial: formar cidadãos críticos, atuando com isso, na promoção da cultura,
socializando-a nas suas diferentes faces. Instrumentalizando educando-os para refletirem
sobre suas realidades. Paulo Freire considera que o docente não deve se limitar ao
ensinamento dos conteúdos, mas, sobretudo, ensinar a pensar, pois “pensar é não
estarmos demasiado certos de nossas certezas”. (FREIRE, 1996, p. 28).
Para o aluno ler, produzir textos e ter a oralidade desenvolvida, assim como possuir
as capacidades sugeridas pelos PCN, é imprescindível que o trabalho com a Língua
Portuguesa no ensino fundamental ofereça um processo de ensino e aprendizagem mais
sistematizado, consciente e aprofundado a partir de atividades reflexivas, dinâmicas,
interativas e motivadoras. O trabalho com gêneros do cotidiano é um caminho, já que insere
o aluno como ser social: telefonema, carta, bilhete, reportagem, bula de remédio, aula
expositiva, receita culinária, lista de compras, horóscopo, piada, mensagem de celular,
dentre outros. Os pequenos têm habilidades para se apropriar de muitos gêneros.
autônoma e criativa, desde os gêneros mais adequados a suas idades, até o reconto de
histórias clássicas. Fazer deles leitores e escritores da nossa língua.
Há uma frase que diz “O homem que não lê bons livros não tem nenhuma
vantagem sobre o homem que não sabe ler.” (Mark Twain), você já pensou em
quantos livros leu este mês? Se gaguejou na resposta repense sua prática
pedagógica. Como criará hábito leitor em seus alunos se não tem esta prática. É
inconcebível um professor que não seja leitor. Ler é cidadania. Comece agora
mesmo. Não é preciso apropriar-se dos clássicos da humanidade, leia por prazer,
leia para aprender, leia para se informar. Para ajudá-lo nesta caminhada, assista
ao vídeo Nova Escola - Emilia Ferreiro - Leitura e escrita na Educação Infantil.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=0YY7D5p97w4 acesso
22/02/2018.
Para Vygotsky, a escrita começa com os gestos, é o signo visual inicial que contém
a escritura da criança. Para ele, “ os gestos são a escrita no ar, e os signos escritos são,
frequentemente, simples gestos que foram fixados”.(VYGOTSKY, 1988, p. 142). Os
rabiscos que as crianças costumam fazer relacionam-se mais a gestos do que a desenhos,
pois “Quando ela tem de desenhar o ato de pular, sua mão começa a fazer os movimentos
indicados do pular; o que acaba aparecendo no papel” (id). Com a tecnologia, por que não
brincar com palavras? Não mostrar o pular realmente pulando!
Vygotsky afirma ainda que os jogos unem gestos e linguagem escrita. É através dos
objetos que a criança consegue estabelecer símbolos e assim chegar aos signos, os
pequenos precisam dessa associação. “O mais importante é a utilização de alguns objetos
como brinquedos e a possibilidade de executar, com eles, um gesto representativo. ”
(VYGOTSKY, 1998, p. 143). Para uma criança qualquer objeto pode ser usado para brincar,
lápis viram super-heróis e lençol, uma cabana. O papel do professor é o passo seguinte:
Cabe ao professor, preparar aulas que incluam esses recursos como auxiliares
significativos ao seu ofício. A brincadeira, a arte e a literatura, mediadas pelo corpo que se
move, que comunica o que não é dito com palavras, também são linguagens diferenciadas
que a criança usa para internalizar o mundo a que ela pertence e exteriorizar a sua
percepção da realidade. São formas muito singulares de experimentação, de vivências, de
sensações e de apropriação da cultura que também permitem o contato com as emoções,
o estreitamento das relações sociais e das negociações e o partilhar da vida em grupo
(PLETSCH, 2005, p. 3).
Percebemos, portanto, que o lúdico nas séries iniciais é fundamental para o processo
ensino aprendizagem; a utilização de jogos na sala de aula desperta o interesse e aguça a
criatividade do aluno. No entanto, infelizmente, os professores ainda fazem pouco uso
desse recurso em suas aulas, por não acreditarem que o mesmo auxilia no processo e na
facilitação da aprendizagem de maneira significativa ou por seguirem um modelo de ensino
que não acredita que a criança deva brincar na escola, mas ser sufocador por tarefas
enfadonhas e repetitivas.
Na internet encontramos muito material que nos ajudam a preparar aulas mais
lúdicas. A Revista Nova Escola, por exemplo, desenvolveu uma série de
reportagens sobre brincadeiras regionais. Você pode conhecer as peculiaridades
do nosso país e ter excelente material pedagógico.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=rpw_FnrI3RQ acesso
22/02/2018.
Antes de tudo é preciso entender que o professor de língua materna, segundo Duarte
(1998), deve possuir o domínio da língua padrão, fluência de leitura, nível adequado de
maestria na expressão escrita e no conhecimento explícito. Ou seja, nada justifica um
professor, seja de que série for, que não tenha PLENO CONHECIMENTO da sua língua
materna. E não adianta elencar inúmeras desculpas para os desvios cometidos. É nossa
responsabilidade buscar o conhecimento contínuo.
Uma das primeiras reflexões que temos é como avaliar leitura e escrita nos diferentes
estágios da criança se muitas vezes o professor não tem acesso ao material produzido pelo
aluno nas séries anteriores? E, pior, se as atividades propostas não têm qualquer elo?
Novamente, se minha concepção de aprendizagem é de processo, é preciso ter em mente
que o início não é exatamente no momento em que os pequenos nos são apresentados. E
o final também não é o último dia do ano letivo. Essas crianças vão continuar uma
caminhada escolar e é preciso dar instrumentos aos outros profissionais para ela progredir,
respeitando os seus conhecimentos. Para isso, é fundamental que as atividades de
avaliação respeitem o estágio em que essa criança se encontra, mas tenham uma lógica
pedagógica em todos os anos, uma linearidade. Um exemplo é que para verificar como o
aluno avança em suas práticas de escrita e leitura, não é de muita utilidade uma situação
em que ele escreva ou leia palavras no primeiro ano, orações no segundo e textos no
terceiro. O que nos interessa é ver como leem e escrevem palavras e textos ao longo de
todo o ciclo, e nossa intenção é estabelecer certos padrões que nos permitam fixar
expectativas específicas de conquista para cada ano.
Para que os sistemas de avaliação sejam coerentes com o ensino como processo,
ela precisa ser planejada com critério e envolver todo o corpo docente. Estabelecer as
atividades que serão avaliadas, identificar os objetivos dessas atividades e as expectativas.
Deve-se partir do nível inicial de cada criança e não se fixar expectativas mínimas
de conquista por ano, mas isso acontece por acréscimo. Consideramos que, se não houver
nenhuma questão adversa, nenhuma criança pode nem deve terminar o ano como
começou, por isso, esperamos que todas as crianças terminem o primeiro ano com uma
escrita que se relaciona de maneira sistemática com a sonoridade (silábica), que todas
terminem o segundo com escrita alfabética e que o terceiro ano seja destinado a explorar
questões ortográficas. Por outro lado, se a criança já começa o primeiro ano com domínio
da sonoridade, qual será minha intervenção? Nenhuma? Ele não aprenderá nada? Não
podemos esquecer qual o meu papel como professor: promover o crescimento linguístico
desse aluno. Ele nunca poderá ficar estanque.
Alliende e Condemarín (1987) explicam que a leitura compreende etapas que não
devem ser confundidas com a totalidade do processo. A primeira é a decodificação,
capacidade de decifrar o código de uma mensagem e captar seu significado. Em seguida,
temos a compreensão, capacidade de entender a mensagem. Por isso, não basta entender
o código, quando a criança já concebe o sistema de escrita como alfabético e já aprendeu
as regras mais básicas de correspondência letra-som, ela ainda tem muito o que aprender.
Aprender a ler significa dominar progressivamente textos cada vez mais complexos,
captando seu significado.
Esses resultados, segundo a autora, nos mostra que é preciso ensinar a ortografia
tendo em mente que a criança adquire um sistema de escrita e não aprende simplesmente
a escrever as palavras que copia na escola. O professor precisa considerar que os erros
de transcrição da fala serão maiores de acordo com a divergência entre a variedade
linguística usada pela criança e a língua padrão ideal.
Como a língua escrita só será apresentada à criança pela leitura, o melhor plano
para o desenvolvimento de uma boa ortografia não é a correção exagerada, nem a cópia
sem compreensão, mas a leitura.
ANTUNES, Irandé. Aula de português encontro & interação. São Paulo: Parábola.
Editorial, 2003.
<http://www.filologia.org.br/cluerj-
sg/anais/iv/completos/oficina/Renata%20da%20Silva%20de%20Barcellos.pdf>
acesso em 22/02/2018.
FARACO, Carlos Alberto. Norma Culta Brasileira: desatando alguns nós. São Paulo,
Parábola Editorial. 2008
PERINI, Mário A. Sobre língua, linguagem e linguística: uma entrevista com Mário
A. Perini. ReVEL. Vol. 8, n. 14, 2010.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini José P. Paes
e I. Blikstein. São Paulo: Cultrix; USP, 1969.