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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS/PORTUGUÊS


DISCIPLINA: ASPECTOS COGNITIVOS
ALUNOS: JOÃO MARCELO BARROS CARDOSO
PROFESSOR: LUCIANA ESPÍNDOLA CORREA

SÍNTESE 2
TEMA: AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM
AUTORA: ESTER MIRIAN SCARPA

Imagem Divulgação
O estudo do processo da manifestação da linguagem pelas crianças sempre provocou
especulações ao longo da história. Desde muito tempo, imperiosa foi a curiosidade que conduziu os
antigos na busca pelas condições acerca da produção da fala humana nas crianças. Contudo, apenas
recentemente, no século XIX, linguistas e psicólogos, guiados pela espontaneidade do interesse
paterno e profissional, elaboraram os primeiros esboços de diários das manifestações fônicas de
seus filhos. Esses relatos identificavam o desenvolvimento da linguagem da criança ao longo do
tempo, em ambiente natural e em situações cotidianas. Pouco tempo depois esses registros seriam
feitos em fitas magnéticas, com áudio e vídeo, no que acabaria por conferir uma maior riqueza de
informações ao estudo. A suposição é que. registrando-se uma quantidade razoável da fala da
criança de cada vez, pode-se ter uma amostra bastante representativa para se estudar
A autora apresenta a Aquisição de Linguagem como área multidisciplinar, heterogênea, já que se
lança na tentativa de desvendar os mecanismos do processo de obtenção da linguagem com bases
em fundamentos linguísticos e psicológicos. Hoje em dia, a Aquisição da Linguagem alimenta os
tópicos recobertos pela Psicolinguística, além de ser de interesse central nas ciências cognitivas e
mesmo nas teorias linguísticas, sobretudo de inspiração gerativista. A evidente abrangência desses
estudos recobre, por sua vez, algumas outras subáreas, como: o processo de aquisição de linguagem
é o meio pelo qual a criança aprende a língua materna; a aquisição da segunda língua; a aquisição
da escrita e do processo de alfabetização a partir do letramento.

TEMAS E ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

BEHAVIORISMO: SKINNER

Foi em 1950, a partir da reação do linguista Noam Chomsky ao behaviorismo vigente à época,
que os estudos dos processos de aquisição de linguagem ganharam grande tração. Segundo
behaviorismo, a aprendizagem da linguagem seria fator de exposição ao meio e decorrente de
mecanismos comportamentais como reforço, estímulo e resposta. Que aprender a falar, em essência,
não seria diferente, por exemplo, de andar de bicicleta. O pensador que mais influenciou o
movimento do behaviorismo com seus trabalhos, o psicólogo Skinner, sustentava, sob a ótica da
impossibilidade de acessar a mente humana, que dava ênfase à observalidade de manifestações
comportamentais externas, mensureis, portanto, da aprendizagem. Essa teoria explica, por fim, a
aquisição da linguagem através da contingência de mecanismos de estímulo-resposta-reforço, que
explicam o condicionamento e que estão na base da estrutura do comportamento.
GERATIVISMO: NOAM CHOMSKY

Chomsky, por sua vez, adota uma postura inatista. A linguagem, para ele, específica da espécie, é
de dotação genética, não acumulo de comportamentos verbais. Seria a linguagem, portanto,
resultado do desencadear de um dispositivo nato. O argumento é o seguinte: “num tempo bastante
curto (mais ou menos dos 18 aos 24 meses), a criança, que é exposta normalmente a uma fala
precária, fragmentada, cheia de frases truncadas ou incompletas, é capaz de dominar um conjunto
complexo de regras ou princípios básicos que constituem a gramática internalizada do falante”. Ou
seja, um mecanismo que faz aparacer o que já está lá, com certo grau de instantaneidade através de
conhecimento linguístico prévio (gerativismo). Essa visão coloca a gramática num domínio
cognitivo e biológico, admitindo que o ser humano vem equipado de uma Gramática Universal
(GU), dotado de princípios universais oriundos da faculdade da linguagem.

COGNITIVISMO CONSTRUTIVISTA: PIAGET E VYGOTSKY

A ideia primária dessa corrente era de que a aquisição e desenvolvimento da linguagem nas
crianças são derivadas do desenvolvimento do seu raciocínio, contestando, por sua vez, a ideia do
inatismo de que a Gramática Universal seria o centro do domínio específico do conhecimento
linguístico. Que a aquisição de linguagem pela criança estaria associada ao desenvolvimento de sua
inteligência. Em contraposição ao modelo inatista, por conseguinte, a aquisição é vista como
resultado da interação entre o ambiente e o organismo, através de assimilações e acomodações,
responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência em geral, e não como resultado do desencadear
de um módulo - ou um órgão - específico para a linguagem. Os trabalhos de inspiração vygotskiana
entendem a aquisição da linguagem como um processo pelo qual a criança se firma como sujeito da
linguagem. a linguagem é entendida, por Piaget, como um sistema simbólico de representações,
assim como outros aspectos da função simbólica geral, como é o desenhar, por exemplo.

INTERACIONISMO SOCIAL

Essa visão leva em conta fatores sociais, comunicativos e culturais para a aquisição da
linguagem. Assim, as relações sócias e familiares são fundamentais, requisitos básicos no
desenvolvimento da linguagem. Segundo ainda essa abordagem, rituais comunicativos pré verbais
preparam e precedem a construção da linguagem na criança. Propostas sociointeracionistas afirmam
que a linguagem é atividade constitutiva do conhecimento do mundo pela criança. A linguagem é o
espaço em que a criança se constrói como sujeito; o conhecimento do mundo e do outro é, na
linguagem, segmentado e incorporado.
Dando continuidade às suas indagações sobre como, através da interação com o adulto, a criança
chegaria à língua. Lemos (1992, 1995, 1998, 1999) deu uma direção alternativa ao
sociointeracionismo presente nos seus escritos até os anos 1980. preferindo, atualmente, chamar sua
postura simplesmente de "interacionista". Inspirada em leituras de Saussure e do psicanalista Lacan.
estuda as relações do sujeito com a língua e questiona as noções de desenvolvimento e
conhecimento linguístico que têm sido a base das teorias psicolinguísticas, psicológicas e
linguísticas.

PERÍODO CRÍTICO

Teóricos como Pinker (1994) e Lenneberg (1967), dizem haver um período crítico para a
aquisição da língua em entre dois e três anos de idade, a linguagem emerge a través da interação
entre maturação e aprendizado pré-programado. Depois da puberdade, a capacidade de auto-
organização e ajustes às demandas psicológicas do comportamento verbal declinam rapidamente.
Pinker (1994) afirma que para a aquisição de uma linguagem normal ela deve acontecer até os seis
anos de idade, e que a partir daí, a aquisição fica comprometida. O autor fala sobre período crítico e
que ele se explica através das mudanças maturacionais do cérebro, tais como o declínio da taxa de
metabolismo e do número de neurônios durante a idade escolar e da diminuição das sinapses
cerebrais na adolescência. Para Meisel (1993), a aquisição de uma segunda língua depois da
adolescência não é mais função da Gramática Universal, mas é um processo cognitivo, de
aprendizagem de habilidades.

ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

É preciso ter em mente que o conceito de estágio é dinâmico, como sugere Perroni (1994).
Segundo Bates e Goodman (1997), por seu turno, a trajetória do desenvolvimento da linguagem
parece ser, com algumas especificidades, universal e contínua. A criança começa com os balbucios,
primeiro com vogais (cerca de 3 a 4 meses). Depois combinações com vogais e consoantes de
complexidade cada vez maior (entre 6 e 12 meses). As primeiras palavras emergem (entre 10 e 12
meses), embora a compreensão das palavras pareça surgir semanas antes. Ha, entre 16 e 20 meses,
um súbito crescimento em seu vocabulário. As primeiras combinações de palavras surgem,
geralmente, entre 18 e 20 meses. Lá entre 24 e 30 meses há outra explosão vocabular e entre 3 e 3
anos e meio as crianças normais dominam as estruturas sintáticas e morfológicas de sua língua
materna.

ALGUMAS CONCLUSÕES

É preciso, porém, deixar claro que as polêmicas que envolvem as grandes questões da área estão
ainda em aberto. Se, por um lado, é pouco afirmar que a aquisição da linguagem se restringe à
internalização de regras fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas da língua
materna do aprendiz, por outro lado é ainda pouco clara a natureza da passagem entre estruturas
interativas pré-linguísticas e a gramática adquirida, a natureza do conhecimento linguístico
vinculado ou não ao conhecimento do mundo, a dificuldade metodológica causada pela falta de
transparência da fala da criança (e da própria fala do interlocutor), entre tantos outros mistérios.
Uma coisa é certa, porém: quando vai para a escola, a criança já percorreu um longo caminho
elaborando sua linguagem, inserindo-se na língua de sua comunidade.

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