Você está na página 1de 19

DESENVOLVIMENTO DE FALA, LINGUAGEM E APRENDIZAGEM

A comunicação humana pode ser diferenciada da comunicação das outras espécies animais de
três maneiras diferentes. A primeira e a mais importante é a possibilidade de simbolizar. Os
símbolos linguísticos são convenções sociais de significados, nos quais cada indivíduo
compartilha sua atenção com o outro, direcionando a sua atenção ou seu estado mental
(pensamento) para alguma coisa no mundo que os cerca. A segunda diferença é que a
comunicação humana linguística é gramatical. Os seres humanos usam os símbolos linguísticos
associados em estruturas padronizadas. A terceira é que, ao contrário das outras espécies
animais, os seres humanos não têm um único sistema de comunicação utilizado por todos os
membros da espécie. Portanto, diferentes grupos de humanos convencionaram, no decorrer
da história, sistemas mútuos de comunicação. Isso significa que a criança, diferente das outras
espécies animais, deve aprender as convenções comunicativas usadas por aqueles a sua volta,
pela sociedade da qual faz parte. A linguagem é um importante fator para o desenvolvimento
e aprendizagem. A língua oral seria uma base linguística indispensável para que as habilidades
de leitura e escrita se estabelecessem. As habilidades de linguagem receptiva e expressiva
também foram consideradas por diversos autores como bons sinais precoces da compreensão
de leitura. Um dos achados em pesquisa foi o de que crianças com desenvolvimento abaixo do
esperado na alfabetização apresentam um desempenho insatisfatório em compreensão da
linguagem, produção sintática e tarefas metafonológicas. As habilidades cognitivas e as formas
de estruturar o pensamento do indivíduo não são determinadas apenas por fatores
congênitos. Estão, na verdade, relacionadas às atividades praticadas de acordo com o contexto
cultural em que o indivíduo se desenvolve. Consequentemente, a história da sociedade na qual
a criança se desenvolve e a história pessoal dessa criança são fatores cruciais que vão
determinar sua forma de pensar. Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem
tem papel fundamental na determinação de como a criança vai aprender a pensar, uma vez
que formas avançadas de pensamento são transmitidas à criança através de palavras. A
aquisição da linguagem depende de um aparato neurobiológico e social, ou seja, de um bom
desenvolvimento de todas as estruturas cerebrais, de um parto sem intercorrências e da
interação social desde sua concepção. Em outras palavras, apesar de longas discussões sobre o
fato da linguagem ser inata (de nascença) ou aprendida, hoje a maior parte dos estudiosos
concorda que há uma interação entre o que a criança traz em termos biológicos e a qualidade
de estímulos do meio. Alterações em qualquer uma dessas frentes pode prejudicar sua
aquisição e seu desenvolvimento. Para entendermos a aquisição e o desenvolvimento da
linguagem, temos que considerar dois aspectos: a linguagem ajuda na cognição e na

Classificação: Uso Interno


comunicação. • Linguagem e cognição: pensamos bastante por meio da linguagem depois que
desenvolvemos esta habilidade. A memória, a atenção e a percepção podem ter ganhos
qualitativos com ela. Por exemplo, memorizamos melhor quando fazemos associações de
ideias. Ela também ajuda na regulação do comportamento. Na infância, podemos observar o
desenvolvimento da linguagem como apoio à cognição a partir dos dois anos, em média,
principalmente por meio da forma como a criança brinca.

• Linguagem e comunicação: temos a intenção comunicativa, e podemos nos comunicar de


diversas formas diferentes, através de gestos, do olhar, de desenhos, da fala, entre outros. A
estruturação da linguagem nos permite lançar mão de recursos cada vez mais sofisticados, a
fim de aprimorar nossas possibilidades de comunicação. Também é importante percebermos
que podemos dividir, didaticamente, a linguagem, considerando sua forma, seu conteúdo e
seu uso. O desenvolvimento costuma correr concomitantemente, entretanto, um disparate
entre essas áreas pode ser indicativo de dificuldade, tal como será explicado nas próximas
linhas9-11. • Forma: engloba a produção dos sons, como se emite o fonema, e também a
estrutura da frase, se tem todos os componentes e se a ordem é aceitável pela língua - níveis
fonético-fonológico e morfossintático. • Conteúdo: diz respeito aos significados, que podem
estar na palavra, na frase ou no discurso mais amplo - nível semântico. • Uso: refere-se ao uso
social da língua; não basta emitir sons, estruturar uma frase e saber o significado, tem que
adequar tudo isso ao contexto em que está sendo empregado - nível pragmático.

Sistemas de Linguagem

Há três modelos de linguagem descritos: o modelo do século 19, que descreve o modelo
neurológico com a anatomia e os componentes cognitivos do processamento auditivo e visual
de palavras, e dois modelos cognitivos do século 20, que não são restritos pela anatomia e
enfatizam duas diferentes rotas de leitura que não estão presentes no modelo neurológico. As
mais recentes séries de estudos com neuroimagem mostram que, conforme predito pelos
neurologistas do século 19, a repetição de palavras apresentadas, de modo verbal ou visual,
envolve a região posterior da borda do sulco temporal superior e na borda posterior entre o
giro frontal inferior e a ínsula anterior à esquerda. Apesar de estudos neuropsicológicos e
psicolinguísticos mostrarem o envolvimento das áreas perisilvianas anteriores como geradoras
e posteriores como “receptoras” (Broca e Wernicke, respectivamente), estudos de
neuroimagem funcional têm mostrado consistentemente que a área de Broca está envolvida
em percepção auditiva de palavras e repetição.

Classificação: Uso Interno


Por outro lado, o pico de atividade na região frontal anterior em resposta às palavras ouvidas é
mais associada à repetição e mais localizada na subregião de Brodmann. A atividade da área de
Broca é mais sutil e complexa que da área de Wernicke, a qual é mais frequentemente
demonstrada com diversas modalidades de estímulos. Além disso, é frequente a identificação
da região posterior inferior temporal bilateral, e mais à esquerda, durante tarefa de
nomeação, desta maneira relacionada à segunda via de leitura, conforme predito pelos
modelos cognitivos do século 20. Esta região e sua função não foram descritas pelos
neurologistas do século 19, muito provavelmente pela dificuldade devido à raridade de lesões
seletivas nesta área. Por outro lado, o giro angular, previamente relacionado ao
processamento visual da palavra, também tem sido implicado como parte de um sistema
semântico distribuído que pode ser “acessado” durante o processamento de objetos e faces,
além da fala. E mais, há outros componentes do sistema semântico incluindo várias regiões,
novamente nas áreas dos giros temporais inferiores e médios, e lobo occipital.

Destas novas teorias, que emergiram em grande parte a partir de estudos de neuroimagem,
um modelo anatomicamente plausível de processamento de linguagem foi proposto, e que
integra as regiões anatômicas clássicas do século 19 às informações dos modelos cognitivos.
Por outro lado, o processo de leitura tem sido muito mais pautado pelo reducionismo
experimental focado em palavras. Progresso em desvendar o processamento de linguagem
depende da integração de dados comportamentais e neuropsicológicos, nem sempre possíveis
em setup experimental para neuroimagem. Além de tais considerações, há necessidade de
levar em conta a integração entre estas áreas, além da compreensão da hierarquia de
sistemas. Destacaremos abaixo as três principais regiões do sistema nervoso central envolvidas
nos processos de linguagem. Esta abordagem é contextualizada tendo em vista os distúrbios
de aprendizagem. Quando avaliamos os distúrbios que podem determinar dificuldades com o
processo de leitura, identificamos duas classes (1) sensório-motor, aqueles relacionados a
déficits auditivos, visuais e/ou motores, e o (2) fonológico. De modo simplificado, todo o
processo de aprendizagem envolve a atenção, a percepção, as funções simbólicas como a
linguagem e praxias, os processos de raciocínio, memorização e as funções executivas. As
funções simbólicas e as executivas dependem do córtex associativo, e seu processamento é
cortical, com fortes interações subcorticais. A linguagem é o sistema de simbolização
prototípico. O estudo da aquisição da linguagem é um excelente paradigma para a
compreensão do desenvolvimento da cognição em seres humanos. A função da linguagem tem
a maior parte dos substratos neurais localizados no hemisfério cerebral dominante. Na imensa
maioria dos indivíduos (mais de 90%), este é o hemisfério cerebral esquerdo. A expressão

Classificação: Uso Interno


verbal depende da área de Broca localizada no giro frontal inferior; no córtex das bordas
posteriores do sulco temporal superior encontrasse a área de Wernicke, classicamente
responsável pela compreensão e interpretação simbólica da linguagem. Os estudos de
neuroimagem para entender as bases biológicas da leitura nos permitem conhecer os
mecanismos cognitivos do aprendizado em geral.

O processo de leitura depende da decodificação das palavras, fluência e compreensão da


escrita. Neste processo, ocorre inicialmente a análise visual, dependente, portanto, deste
sistema sensorial e da atenção seguida do processamento linguístico da leitura, para a
associação grafema-fonema (correspondência grafofonêmica) e leitura global da palavra.
Participam a região occipital onde se localiza o córtex visual primário, associada ao
processamento dos símbolos gráficos e áreas do lobo parietal, associadas à função viso-
espacial diretamente relacionadas ao processo gráfico.

A capacidade da leitura está relacionada a regiões específicas do cérebro

As estruturas neurais relacionadas à leitura estão distribuídas principalmente no hemisfério


cerebral esquerdo, incluindo a região occipital, temporal posterior, giros angular e
supramarginal do lobo parietal e o giro frontal inferior e estas áreas são ativados em diferentes
tipos de situações que ocorrem durante a leitura.

Representação didática das áreas cerebrais associadas à leitura: a) Área visual primária,
situada nos lobos occipitais de ambos os hemisférios, que está associada à percepção visual da
palavra a ser lida; b) Porção posterior do giro temporal superior, giros angular e supramarginal,
que estão associadas ao processo de análise fonológica de uma palavra, ou seja, na
segmentação das unidades que a compõe; c) Junção dos lobos temporal (mais inferiormente) e
occipital, que são consideradas áreas secundárias da visão, destacando-se mais
especificamente os giros lingual e fusiforme, além de partes do temporal médio, que estão
associadas ao ato da análise visual da palavra. Especula-se que faça parte de processos de
interpretação direta da palavra, ou seja, da transferência da análise ortográfica para o
significado; d) Giro frontal inferior esquerdo (“área de Broca”), que participa no processo de
decodificação fonológica. De modo didático, podemos citar a presença de dois circuitos
principais no cérebro, que são ativados quando uma palavra escrita é visualizada pelo córtex
responsável pela visão: o circuito temporoparietal e o circuito temporooccipital; e ainda
devemos salientar o importante papel do giro frontal inferior (área de Broca), que atua em
determinadas situações, associadamente ao circuito temporoparietal.

Circuito Temporoparietal

Classificação: Uso Interno


A informação da palavra previamente processada pelo córtex da visão é “transmitida” por este
circuito para áreas do parênquima encefálico na região correspondente à junção dos lobos
temporal e parietal esquerdo, mais precisamente para porções mais posteriores dos giros
temporal superior, angular e supramarginal, inclui também áreas do giro frontal inferior, que
são ativadas principalmente durante o processo de análise fonológica de uma palavra, ou seja,
na segmentação das unidades que a compõe, que implica a transformação do grafema para o
fonema. Estas áreas estão associadas ao processo de decodificação da palavra durante a
leitura em seus menores segmentos, que são as letras, as quais são correlacionadas com os
seus respectivos sons. Assim, após a visualização da palavra “BOLA” (pelas regiões occipitais),
os quatro símbolos alfabéticos são “analisados” na região temporoparietal, a qual efetua a
correlação dos sons “be + o + ele + a”, com as suas letras correspondentes. A área de Broca (no
giro frontal inferior, correspondente às áreas de Brodmann 44- pars opercularis e 45 - pars
triangularis) também tem participação no ato da leitura, quer seja silenciosa ou em voz alta,
quando estão ocorrendo os processos de decodificação e recodificação fonológica e
provavelmente está associada à formação da estrutura sonora, através da movimentação dos
lábios, língua e aparelho vocal.

Alguns autores, avaliando crianças de sete a 17 anos de idade, sem qualquer problema de
aprendizado, observaram que durante testes de leitura, nas fases mais iniciais do aprendizado
da leitura, ocorria maior participação das áreas do circuito parieto-temporal e também do giro
frontal inferior, e em contrapartida, observaram menor participação das áreas do circuito
temporooccipital. Por outro lado, estes autores também registraram maior participação das
áreas temporo-occipitais nas crianças de maior idade. Estas regiões cerebrais envolvidas
principalmente durante as fases iniciais do aprendizado da leitura são as áreas estimuladas,
independentemente da idade e da capacidade do leitor, diante de testes com pseudopalavras.

Pseudopalavras correspondem às junções de letras que apesar de inexistentes na ortografia da


língua do indivíduo avaliado e não terem qualquer significado, obedecem às regras gerais de
ortografia e pronúncia desta língua. Exemplos de pseudopalavras na língua portuguesa são
frinte, cocarelo, porate, sambrinha, que correspondem a aglutinações de letras de modo que a
formação não pudesse ser previamente conhecida e memorizada pelo paciente avaliado.
Salientamos que para a leitura destas pseudopalavras é necessário que seja efetuada uma
decodificação fonológica adequada, salientando-se a importância de um adequado
funcionamento das vias do circuito anterior. Consciência fonológica é a capacidade de se
raciocinar explicitamente sobre os sons da língua, de manipular os sons isolados da linguagem
falada, ou seja, é a capacidade de reconhecer o fonema como a menor unidade sonora. A

Classificação: Uso Interno


consciência fonológica das crianças pode ser analisada com testes que avaliam a capacidade de
soletrar, de reconhecer e formar rimas, de identificar palavras que começam com uma mesma
letra, de identificar o primeiro e o último som de uma palavra e de criar novas palavras após a
retirada de uma letra de outra “palavra” previamente fornecida. As crianças em idade pré-
escolar podem ser avaliadas neste quesito por meio de testes que correlacionem a
identificação da correspondência dos sons das letras ou ainda pela formação de rimas mais
simples.

A ativação destas regiões (temporoparietal e frontal) ocorre previamente à interpretação do


significado da palavra lida. Deste modo, a interpretação semântica da palavra ocorre apenas
após a decodificação da mesma e é efetuada em áreas do giro temporal médio ventral inferior.
Apesar de vários estudos relacionarem o papel do córtex parietal inferior esquerdo (giros
supramarginal e angular) durante a decodificação fonológica, outros estudos sugerem que
estas regiões atuam apenas com função de suporte para a leitura, funcionando como um
“armazém” de unidades fonológicas para o processamento mais imediato da memória
operacional.

Circuito Temporo-occipital ou via direta

Uma segunda região com papel importante na atividade da leitura está localizada nas junções
dos lobos temporal e occipital esquerdo, que são consideradas áreas secundárias da visão,
destacando-se mais especificamente os giros lingual e fusiforme e partes do giro temporal
médio, que são ativados principalmente durante a análise visual da palavra, permitindo uma
interpretação mais imediata direta da palavra, ou seja, é efetuada uma transferência direta e
praticamente simultânea da análise ortográfica para o significado. Esta via, conhecida como
direta ou léxica, é ativada durante a leitura de palavras regulares (que apresenta
correspondência entre letra e som) e mais frequentemente utilizadas, ou seja, em um
momento de maior experiência do leitor-aprendiz, que já teve contato com elas por inúmeras
vezes, como “GATO, BOLA, PATO, MACACO”, estas palavras passam a ser analisadas de modo
mais automático. Nesta região estariam armazenadas todas as informações importantes sobre
estas palavras, necessárias para soletrá-las, pronunciá-las ou compreendê-las de modo
simultâneo. Assim a identificação das palavras vai ocorrer em um tempo significativamente
inferior ao que ocorre durante a leitura de uma palavra desconhecida, que é realizada através
da via indireta. Quanto mais palavras são armazenadas nesta região, pela prática repetitiva,
mais fluente será a leitura. Está região cerebral participa também na análise de palavras
irregulares, as quais não representam estrutura sonora da língua, necessitando ser conhecidas

Classificação: Uso Interno


através de processos de memorização, como “EXCEÇÃO, EXEMPLO, HOJE, AMANHÃ, BOXE OU
VEXAME”. Está região estaria representando um sistema de identificação da palavra baseado
na memória da forma da mesma. Assim, crianças pré-escolares expostas à palavra coca-cola,
como representada simbolicamente pelo fabricante, a reconhecem rapidamente, o que não
ocorre quando estas mesmas letras estão escritas em letra bastão, por exemplo.

Estágios iniciais do aprendizado da leitura

A. Processamento fonológico B. Processamento ortográfico C. Processamento semântico


O aprendizado da leitura não é tão natural como o da linguagem falada ou da marcha,
conforme já apontamos anteriormente. Ele ocorre através de uma série de estágios,
nos quais novas habilidades são adquiridas gradativamente. Inicialmente a criança
adquire um vocabulário ao ouvir as pessoas ao seu redor e ao praticar através da
repetição. A criança em idade pré-escolar passa a identificar uma correlação entre
determinados sons como representativos de determinadas letras, que aos poucos vão
lhe sendo apresentadas. A percepção do fato de que a fala é composta da associação
dos diferentes sons, que são os fonemas, e que estes são representados na escrita
pelas letras, em última análise é o princípio alfabético e corresponde ao início da
consciência fonológica, fundamental para o aprendizado da leitura e que precisa ser
ensinado. O sistema alfabético é muito eficiente, pois um pequeno número de letras
pode ser utilizado com diferentes associações de modo a formar um número enorme
de palavras. Todavia, o aprendizado do princípio alfabético não é tão fácil, pois em
primeiro lugar os fonemas na verdade apresentam um grau de abstração, nem sempre
tão fácil de ser adquirido por todas as crianças e, além disso, não representam os
segmentos naturais da fala, que é mais silábica. Soma-se a estes pontos ainda o fato de
existirem mais fonemas que letras, já que o som emitido para representar uma
determinada letra pode variar, dependendo das outras letras próximas ou de um
acento, como por exemplo, na palavra “POLO”, na qual a letra “O” tem dois sons
diferentes. E esta dificuldade varia muito de uma língua para outra, já que existem
algumas com um número imensamente maior de sons como o inglês, que tem 44 tipos
de sons (fonemas) para as 26 letras existentes, porém mais de mil possibilidades
diferentes de maneiras de soletrar os sons, enquanto o espanhol apresenta apenas 38
e o italiano 25 modos diferentes.

Não se sabe ainda totalmente o que ocorre na arquitetura cerebral da criança para
permitir a identificação de cada som com cada letra, mas sabemos que existem estágios de

Classificação: Uso Interno


aprendizagem de leitura, que podem ser visualizadas como no modelo proposto por Ehri.
Este modelo é baseado em quatro fases: pré-alfabética, alfabética parcial, alfabética plena
e alfabética consolidada. A velocidade com que cada criança ultrapassa estas diferentes
fases varia muito de acordo com o ambiente, com a língua e também com a capacidade
individual, mas de modo geral a sequência é sempre a mesma e a transição de uma para
outra é sempre gradativa. Segundo Ehri, na fase pré-alfabética a criança não apresenta
ainda um reconhecimento da correlação fonema-grafema, lembrando apenas de pistas
visuais da palavra como o “M” de McDonald ou o “S” da Sadia, e assim pode interpretar,
erroneamente, palavras similares que contenham estas iniciais. Na fase alfabética parcial,
a criança identificaria apenas algumas letras de cada palavra, como, por exemplo, o “S” e o
“O” da palavra sono, o que poderia implicar dificuldade de interpretação quando estivesse
diante da palavra sino, por exemplo. A fase alfabética plena caracteriza-se pela completa
identificação de todas as letras de cada palavra e sua respectiva correspondência sonora,
permitindo assim uma leitura correta, que vai ser muito mais rápida em uma fase
posterior, alfabética consolidada, na qual o leitor é capaz de ler sequências de letras que
ocorrem com uma grande frequência, como, por exemplo, ENTE, que está presente em
dente, mente, carente, saliente etc., em vez de ler cada letra isoladamente. O modelo de
aquisição da leitura previamente apresentado é baseado principalmente em estudos de
neuroimagem em adultos, e sugere a relação com o desenvolvimento de redes neurais
predominantemente no hemisfério cerebral esquerdo, e que incluem o giro temporal
superior, associado principalmente com os processos de decodificação fonológica, o giro
fusiforme e áreas vizinhas de associação ao processamento visual correlacionadas ao
processamento ortográfico e, ainda, ao giro temporal médio associado à decodificação
semântica. Em paralelo a tudo isto, salientamos o papel do giro frontal inferior, que
apresenta um grande número de conexões com estas áreas cerebrais mais posteriores.
Tem sido observado ainda um papel mais importante das áreas mais anteriores do giro
frontal no processamento semântico, e das áreas mais posteriores no processamento
fonológico e gramatical. A seguir, apresentamos as modificações anatômicas e funcionais,
associadas à especialização e integração das principais áreas cerebrais relacionadas à
aprendizagem da leitura, desde a infância até a adolescência.

Processamento fonológico

Já no primeiro ano de vida, no início do desenvolvimento do processamento fonológico,


tem sido observada a ativação de regiões cerebrais occipitais e temporais dos hemisférios
direito e esquerdo. Nos anos seguintes observa-se a consolidação da ativação

Classificação: Uso Interno


principalmente do giro temporal esquerdo, porém dos nove aos 11 anos de idade ainda
ocorre uma ativação desta região durante o processamento visual e auditivo da palavra,
diferentemente dos adultos, onde apenas o estímulo pela via auditiva vai determinar a
ativação desta região. Vários estudos demonstram que o córtex temporal superior
esquerdo desenvolve-se antes que outras áreas relacionadas à linguagem e acredita-se
que, com o desenvolvimento do corpo caloso, ocorreria um efeito inibitório das regiões
temporoparietais do hemisfério esquerdo sobre áreas homólogas do direito. Além disso, a
importância dessa região no desenvolvimento da leitura pode ser confirmada através da
análise de pacientes com dislexia do desenvolvimento submetidos a estudos
anatomopatológicos, onde pode ser observada a presença de distúrbios da migração
neuronal no córtex temporal superior esquerdo. Há também uma menor ativação desta
região em testes de decodificação fonológica durante a realização de exames de
neuroimagem, comprovando o papel do giro temporal superior na interpretação e
correlação dos sons com os grafemas. A ativação das áreas do giro frontal inferior durante
a decodificação fonológica aumenta com o desenvolvimento da criança e da melhora da
capacidade da leitura. Conforme já citado anteriormente, vários estudos têm demonstrado
que na verdade existe uma segmentação funcional em relação à leitura no giro frontal
inferior que apresenta, em sua porção mais dorsal, uma maior especialização para auxiliar
a decodificação fonológica (associadamente a regiões temporo-parietais), e uma área mais
anterior, que participa da interpretação do significado da palavra.

Processamento ortográfico

O giro fusiforme esquerdo, que corresponde a “área visual da palavra” é mais ativado à
medida que ocorre o desenvolvimento da leitura na criança, ocorrendo
predominantemente quando diante da visualização de palavras de uso rotineiro. As
crianças na fase pré-alfabética costumam apresentar ativação do giro fusiforme
bilateralmente durante o reconhecimento de uma palavra, quer apresentada por
estímulos visuais ou auditivos. À medida que vão atingindo a fase alfabética, eles passam a
recrutar cada vez menos os neurônios do giro fusiforme direito e intensificam a ativação
do lado contralateral. No adulto, além de ocorrer a ativação apenas do giro frontal
esquerdo durante a apresentação de estímulos visuais, não se observam alterações
funcionais por estímulos auditivos. Esta lateralização e participação mais imediata do giro
fusiforme esquerdo, observada durante o desenvolvimento literário da criança, está
diretamente relacionada a uma maior capacidade de leitura que ocorre com o passar dos
anos.

Classificação: Uso Interno


Processamento semântico

A capacidade de processamento semântico durante a leitura também se aperfeiçoa


durante o desenvolvimento, sendo observado de modo gradativo uma maior ativação das
regiões posteriores do giro temporal médio. Com o passar dos primeiros anos de
treinamento da leitura, observa-se também durante testes de interpretação semântica
uma gradativa ativação das áreas do giro frontal inferior. Conforme já comentamos
anteriormente, durante a interpretação do significado da leitura, observa-se no
adolescente e no adulto uma maior ativação de áreas mais anteriores do giro frontal,
lembrando que as porções mais posteriores apresentam maior especialização para auxiliar
a decodificação fonológica. Esta menor ativação das áreas mais anteriores em crianças,
provavelmente, está relacionada a uma imaturidade do giro frontal inferior das crianças ou
a uma maior influência do processamento semântico na rapidez da decodificação
fonológica e reconhecimento ortográfico da palavra, que não é tão necessária no leitor
mais experiente. O fato de o giro frontal inferior ser ativado apenas posteriormente
durante o desenvolvimento evidencia o seu papel na melhor capacidade de leitura.
Salientamos ainda o fato de que a menor modulação do córtex pré-frontal em crianças
determina um insuficiente controle cognitivo e maior susceptibilidade à interferência de
estímulos irrelevantes, prejudicando muito a compreensão do texto.

Toda a aprendizagem está diretamente envolvida com a leitura e a escrita, tanto que já
está entre os conteúdos a serem ensinados desde as séries iniciais, ou seja, as crianças
entram na escola e o primeiro contado que terão com este mundo de estudos é a escrita e
a leitura.

Linguagem

A linguagem é um exemplo de função cortical superior, e seu desenvolvimento se


sustenta, por um lado, em uma estrutura anatomofuncional geneticamente determinada
e, por outro, em um estímulo verbal que depende do ambiente.

Serve de veículo para a comunicação, ou seja, constitui um instrumento social usado em


interações visando à comunicação. Desta forma, deve ser considerada mais como uma
força dinâmica ou processo do que como um produto. Pode ser definida como um sistema
convencional de símbolos arbitrários que são combinados de modo sistemático e
orientado para armazenar e trocar informações.

Desenvolvimento da linguagem

Classificação: Uso Interno


Muito antes de começar a falar, a criança está habilitada a usar o olhar, a expressão facial
e o gesto para comunicar-se com os outros. Tem também capacidade para discriminar
precocemente os sons da fala. A aprendizagem do código linguístico se baseia no
conhecimento adquirido em relação a objetos, ações, locais, propriedades, etc. Resulta da
interação complexa entre as capacidades biológicas inatas e a estimulação ambiental e
evolui de acordo com a progressão do desenvolvimento neuropsicomotor. Apesar de não
estar completamente esclarecido o grau de eficácia com que a linguagem é adquirida,
sabe-se que as crianças de diferentes culturas parecem seguir o mesmo percurso global de
desenvolvimento da linguagem. Ainda antes de nascer, elas iniciam a aprendizagem dos
sons da sua língua nativa e desde os primeiros meses distinguem-na de línguas
estrangeiras No desenvolvimento da linguagem, duas fases distintas podem ser
reconhecidas: a pré-linguística, em que são vocalizados apenas fonemas (sem palavras) e
que persiste até aos 11-12 meses; e, logo a seguir, a fase linguística, quando a criança
começa a falar palavras isoladas com compreensão. Posteriormente, a criança progride na
escalada de complexidade da expressão. Este processo é contínuo e ocorre de forma
ordenada e sequencial, com sobreposição considerável entre as diferentes etapas deste
desenvolvimento (Tabela 1).

O processo de aquisição da linguagem envolve o desenvolvimento de quatro sistemas


interdependentes: o pragmático, que se refere ao uso comunicativo da linguagem num
contexto social; o fonológico, envolvendo a percepção e a produção de sons para formar
palavras; o semântico, respeitando as palavras e seu significado; e o gramatical,
compreendendo as regras sintáticas e morfológicas para combinar palavras em frases
compreensíveis. Os sistemas fonológico e gramatical conferem à linguagem a sua forma. O
sistema pragmático descreve o modo como a linguagem deve ser adaptada a situações
sociais específicas, transmitindo emoções e enfatizando significados. A intenção de
comunicar-se pode ser demonstrada de forma não verbal através da expressão facial,
sinais, e também quando a criança começa a responder, esperar pela vez, questionar e
argumentar. Essa competência comunicativa reflete a noção de que o conhecimento da
adequação da linguagem a determinada situação e a aprendizagem das regras sociais de
comunicação é tão importante quanto o conhecimento semântico e gramatical.

Bases biológicas da linguagem

O processo da linguagem é bastante complexo e envolve uma rede de neurônios


distribuída entre diferentes regiões cerebrais. Em contato com os sons do ambiente, a fala

Classificação: Uso Interno


engloba múltiplos sons que ocorrem simultaneamente, em várias frequências e com
rápidas transições entre estas. O ouvido tem de sintonizar este sinal auditivo complexo,
decodificá-lo e transformá-lo em impulsos elétricos, os quais são conduzidos por células
nervosas à área auditiva do córtex cerebral, no lobo temporal. O logo, então, reprocessa os
impulsos, transmite-os às áreas da linguagem e provavelmente armazena a versão do sinal
acústico por um certo período de tempo.

A área de Wernicke, situada no lobo temporal, reconhece o padrão de sinais auditivos e


interpreta-os até obter conceitos ou pensamentos, ativando um grupo distinto de
neurônios para diferentes sinais. Ao mesmo tempo, são ativados neurônios na porção
inferior do lobo temporal, os quais formam uma imagem do que se ouviu, e outros no lobo
parietal, que armazenam conceitos relacionados. De acordo com este modelo, a rede
neuronal envolvida forma uma complexa central de processamento.

Para verbalizar um pensamento, acontece o inverso. Inicialmente, é ativada uma


representação interna do assunto, que é canalizada para a área de Broca, na porção
inferior do lobo frontal, e convertida nos padrões de ativação neuronal necessários à
produção da fala. Também estão envolvidas na linguagem áreas de controle motor e as
responsáveis pela memória. O cérebro é um órgão dinâmico que se adapta
constantemente a novas informações. Como resultado, as áreas envolvidas na linguagem
de um adulto podem não ser as mesmas envolvidas na criança, e é possível que algumas
zonas do cérebro sejam usadas apenas durante o período de desenvolvimento da
linguagem. Acredita-se que o hemisfério esquerdo seja dominante para a linguagem em
cerca de 90% da população; contudo, o hemisfério direito participa do processamento,
principalmente nos aspectos da pragmática.

Etiologia dos distúrbios da linguagem oral e escrita

A fala caracteriza-se habitualmente quanto à articulação, ressonância, voz, fluência/ritmo


e prosódia. As alterações da linguagem situam-se entre os mais frequentes problemas do
desenvolvimento, atingindo 3 a 15% das crianças, e podem ser classificadas em atraso,
dissociação e desvio (Tabela 2).

A etiologia das dificuldades de linguagem e aprendizagem é diversa e pode envolver


fatores orgânicos, intelectuais/cognitivos e emocionais (estrutura familiar relacional),
ocorrendo, na maioria das vezes, uma inter-relação entre todos esses fatores. Sabe-se que
as dificuldades de aprendizagem também podem ocorrer em concomitância com outras
condições desfavoráveis (retardo mental, distúrbio emocional, problemas sensório-

Classificação: Uso Interno


motores) ou, ainda, ser acentuadas por influências externas, como, por exemplo,
diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada (Tabela 3)

Linguagem e epilepsia

Os efeitos da epilepsia, das crises convulsivas e das descargas eletroencefalográficas sobre


a linguagem têm sido discutidos em diversos estudos. Pode-se dizer que três são os
distúrbios mais relatados em pacientes epilépticos: as disfasias do desenvolvimento
associadas a epilepsia; as afasias críticas (agudas), onde ocorre uma alteração transitória
da função cognitiva; e a afasia epiléptica adquirida (síndrome de Landau-Kleffner). A afasia
epiléptica adquirida é caracterizada pela deteriorização da linguagem na infância associada
a crises ou atividade eletroencefalográfica epileptiforme anormal. Esse tipo de afasia
muitas vezes é confundido com síndrome autística ou deficiência auditiva. Além da
deteriorização da linguagem e da agnosia auditiva, observam-se alterações de
comportamento, incluindo traços autistas. Por isso, devemos estar atentos a qualquer
criança que apresente regressão de linguagem, devendo esta ser avaliada cuidadosamente
(para que seja feito um diagnóstico diferencial) e encaminhada para o tratamento
adequado.

Linguagem e autismo A regressão da linguagem é observada na síndrome de Landau-


Kleffner e na regressão autística. Recentes estudos focados na linguagem verbal de
crianças com espectro autista enfatizam traços anômalos da fala, como a escolha de
palavras pouco usuais, inversão pronominal, ecolalia, discurso incoerente, crianças não-
responsivas a questionamentos, prosódia aberrante e falta de comunicação. Muitos
estudos atribuem a ausência de fala em alguns indivíduos ao grau de severidade do
autismo, à tendência a retardo mental ou a uma inabilidade de decodificação auditiva da
linguagem. No autismo, a compreensão e a pragmática estão invariavelmente afetadas, e
os achados incluem prosódia aberrante, ecolalia imediata e/ou tardia e perseveração
(persistência inapropriada no mesmo tema). Outros sintomas estão também presentes,
distinguindo essas crianças daquelas com apenas atraso de linguagem; esses sintomas
incluem, particularmente, perturbações da comunicação não-verbal, comportamentos
estereotipados e perseverantes, interesses restritos e/ou inusuais e alteração das
capacidades sociais. Concluímos, com isso, que a regressão de linguagem na infância se
caracteriza por um distúrbio grave, com morbidades significativas a longo prazo.

Conceituação de aprendizagem

Classificação: Uso Interno


Aprendizagem é um termo abrangente, que permite diversas conceituações. Na Psicologia
representa uma área de extrema importância, à qual se dedicaram teóricos de grande
porte, como Bandura, Gagné, Guthrie, Hull, Kohler, Lewin, Piaget, Rogers, Skinner,
Thorndike, Tolman, entre outros.

Existem muitas teorias sobre a aprendizagem. No quadro a seguir, encontram-se


resumidas as características de algumas delas.

As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar


e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem e tentam
explicar a relação entre o conhecimento preexistente e o novo conhecimento. A
aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de conhecimento, mas,
basicamente, identificação pessoal e relação por meio da interação entre as pessoas. Ao
falar de aprendizagem, Fernández (1991) argumenta que a visão usual encara o processo
de aprender como ação vinculada à mão e ao cérebro, desconsiderando o sujeito
desejante e criador, que atribui sentido e expressão ao ato da aprendizagem Pain (1992)
considera que as dificuldades de aprendizagem representam todas as perturbações que
impedem a normalidade do processo de aprender, qualquer que seja o status cognitivo do
sujeito. Independente de o sujeito obter escores de inteligência altos ou baixos serão
considerados problemas de aprendizagem outros fatores que o impeçam de aprender, não
permitindo o aproveitamento de suas potencialidades.

Conceitos importantes para a aquisição da aprendizagem

Com base em análises feitas sobre os comportamentos envolvidos nos processos da leitura
e da escrita, é possível verificar a classificação das várias habilidades básicas ou pré-
requisitos necessários à alfabetização. É possível definir estes pré-requisitos como certos
“conceitos”, que a criança deve adquirir ao longo do seu período pré-escolar, e que
facilitam a aprendizagem da leitura e da escrita. A aquisição dessas habilidades não
acontece de forma aleatória ou espontânea, é um processo ao qual a criança é submetida
e que exige um treinamento programado e específico, de acordo com a fase de
desenvolvimento em que se encontra. a) Imagem corporal – Esta habilidade implica no
conhecimento adequado do corpo, das funções dos seus órgãos, seus membros, suas 20
sensações, e por fim a impressão que a criança tem de seu corpo, proveniente das
experiências desta com o meio ambiente que a rodeia. É através do corpo que a criança
interage com o mundo. Dessa maneira, o conceito de imagem corporal é relevante no que
tange à aprendizagem, pois uma boa formação deste pré-requisito faz com que a criança

Classificação: Uso Interno


torne seu corpo um ponto de referência. Assim, poderá assimilar conceitos indispensáveis
à alfabetização, tais como: em cima, embaixo; na frente, atrás; esquerdo, direito; alto,
baixo; b) Lateralidade – Segundo o seu conceito é o uso preferencial de um lado do corpo
para a realização das atividades, referindo-se aos olhos, mão e pé. Dessa forma, existem
pessoas destras que usam a parte direita do corpo para realizar as atividades. E, existem
pessoas canhotas, que são aqueles que utilizam da parte esquerda do corpo. Além destas
classificações mais conhecidas, também, se podem encontrar indivíduos com lateralidade
contrariada, cruzada, indefinida e ambidestros. A lateralidade contrariada refere-se às
pessoas, na grande maioria canhotos, que foram obrigadas a mudar a preferência manual
devido às exigências sociais e/ou familiares. Já na lateralidade cruzada não ocorreu à
pressão ambiental, não existindo homogeneidade na preferência de um dos lados do
corpo. Lateralidade indefinida é um termo utilizado para caracterizar crianças que ainda
não se decidiram pelo uso preferencial de um lado do corpo – é esperado que a
dominância lateral esteja estabelecida por volta dos 4 ou 5 anos de idade. E por último, o
termo ambidestria que vêm a ser aplicado às pessoas que se utilizam de ambos os lados do
corpo com mesma habilidade e destreza. No que diz respeito ao processo de
aprendizagem, verifica-se que as dificuldades que surgem nas crianças com lateralidade
contrariada, cruzada e indefinida referem-se: ao tipo de grafia; às dificuldades de
orientação espacial quando utilizam a folha de papel; e, às posturas inadequadas para
escrever. c) Conhecimento de direita e esquerda - O conceito de direita e esquerda é de
suma importância para o processo de alfabetização. Este conceito, ligado ao conceito de
imagem corporal e de lateralidade, permite à criança distinguir o lado direito e o lado
esquerdo em si, nas outras pessoas e nos objetos. É esperado que por volta dos 6 ou 7
anos, a criança consiga reconhecer em si mesma estas noções. Iniciar aprendizagem da
leitura e da escrita sem aquisição destes conceitos pode implicar em confusões na
orientação espacial. A criança poderá apresentar dificuldades para diferenciar letras que
distinguem quanto à posição espacial, por exemplo: b-d, p-q. Em nossa sociedade, a leitura
e a escrita, realizam-se no sentido da esquerda para a direita. A criança que não possui
estas noções tende a não respeitar esse sentido, por não precisar corretamente o lado
esquerdo e direito. Todavia, essas dificuldades deverão ser motivo de preocupação, caso
estejam presentes no momento em que se inicia a alfabetização, pois interferirão de
forma negativa na associação entre letras e sons. d) Orientação espacial – Ao se falar em
orientação espacial, é necessário fazer a diferenciação entre posição no espaço e relação
espaciais. Considerando que a posição espacial é a relação existente entre um objeto e seu
observador. A criança que possui uma boa imagem corporal é capaz de perceber a posição

Classificação: Uso Interno


que os objetos ocupam, usando como ponto de referência o seu próprio corpo. Desta
maneira, ela consegue discriminar as diferentes posições espaciais que os objetos ocupam
e, compreender e assimilar os diferentes conceitos relacionados com a posição espacial,
tais como: atrás, à frente; esquerdo, direito; em cima, embaixo, etc. Assim, as crianças que
iniciam o processo de alfabetização sem possuírem as noções de posição e orientação
espacial, acabam por confundir letras que diferem quanto à orientação espacial e têm
dificuldades em respeitar a ordem de sucessão das letras nas palavras e das palavras na
frase. e) Orientação temporal – Conquanto, a orientação espacial está sempre relacionada
às atividades visuais, a orientação temporal relaciona-se à audição. A criança precisa
captar e discriminar a duração e a sucessão dos sons, e ainda, dominar determinados
conceitos temporais, como exemplo: ontem, hoje, amanhã, dias da semana, meses, anos,
horas, etc. A noção destes conceitos vai permitir que a criança se oriente no tempo
durante a realização das tarefas. A ausência deste pré-requisito pode causar dificuldades
na pronúncia e na escrita de palavras, trocando a ordem das letras ou invertendo-as;
dificuldades na retenção de uma série de palavras dentro da sentença e, de uma série de
ideias dentro de uma história; má utilização dos tempos verbais; e problemas nas
correspondências dos sons com as respectivas letras que o representam. f) Constância de
percepção de forma e tamanho – É a capacidade de perceber que um determinado objeto
permanece inalterado apesar da posição que ocupa no espaço – se está perto, longe – ou
independente do ângulo que é percebido.

A constância de tamanho permite à criança perceber o tamanho como constante, mesmo


que a imagem desse objeto tenha se tornado menor na retina. A constância de forma é a
habilidade que permite o reconhecimento de que as formas são as mesmas, apesar de
olhadas por diferentes ângulos. Crianças com dificuldades em perceber a constância de
tamanho e de forma poderão apresentar dificuldades no reconhecimento de figuras
geométricas, e no reconhecimento de palavras ou letras aprendidas, mas inseridas em
contextos diferentes e desconhecidos, ou quando escritas tipos diferentes de grafia –
manuscrita, impressa. g) Percepção de figura-fundo - No que se refere à escrita, a criança
poderá ter dificuldades em dirigir sua atenção para uma palavra ou grupo de palavras
dentro de um texto ou para letras dentro das palavras. Neste caso, as palavras ou letras
serão percebidas de forma confusa o que dificultará bastante a compreensão do que é lido
ou escrito. Numa realidade mais específica, as crianças poderão ter dificuldades em
perceber com exatidão as letras e as palavras impressas numa folha, pois a sua atenção
perceptiva pode alterar-se entre as palavras impressas e o branco da folha. h) Habilidades

Classificação: Uso Interno


auditivas específicas - Assim como na visão, o sistema auditivo em seu perfeito
funcionamento é de suma importância no processo de aprendizagem. É por meio destes
dois sistemas (visual e auditivo), que as informações gráficas são recebidas e conduzidas
ao cérebro para serem analisadas, comparadas com outras informações e armazenadas na
memória. Especificamente no caso da audição, além do bom funcionamento deste
sistema, há a necessidade que exista uma estimulação a nível de discriminação de sons, de
figura-fundo e memória auditiva, para que o processo de aprendizagem ocorra com
facilidade. i) Discriminação de sons - Refere-se à capacidade de se perceber e discriminar
auditivamente e, sem duplo sentido, todos os sons existentes na língua falada. As crianças
com dificuldades em discriminar auditivamente sons diferentes, não terão possibilidade de
reproduzi-los com exatidão na leitura e na escrita, pois será muito difícil associarem um
som percebido de forma errada com a grafia correta. j) Memória auditiva - A memória
auditiva permite a retenção e a recordação das informações captadas auditivamente. Este
acontecimento faz com que a criança seja capaz de fixar e reproduzir, oralmente ou por
escrito, as informações recebidas auditivamente e lembrar qual o som correspondente a
um símbolo gráfico visualizado. As dificuldades mais frequentes ligadas a esta habilidade
são as falhas na retenção de palavras ou séries de palavras percebidas auditivamente, e as
falhas em associar os símbolos gráficos discriminados visualmente aos correspondentes
sonoros. k) Linguagem oral – A linguagem oral é uma etapa anterior à linguagem escrita,
então a linguagem oral, constitui um pré-requisito que serve de alicerce à aprendizagem
gráfica. Entre as modalidades inseridas na linguagem falada podem-se destacar três, sendo
a prolação ou pronúncia, que seria a forma correta de pronunciar as palavras ou frases e,
deve ser avaliada de acordo com a idade cronológica da criança e de estágio de
desenvolvimento, o vocabulário, que seria a capacidade de falar palavras conhecendo seu
significado baseado na própria experiência, e por fim a sintaxe oral que vêm a ser a
habilidade de formular frases oralmente ou sintaxe oral correta, que implica na perfeita
elaboração mental das unidades básicas do pensamento, que são as frases.

Aprendizagem

Do ponto de vista do construtivismo, aprendizagem é construção, ação e tomada de


consciência da coordenação das ações. O aluno irá construir seu conhecimento através de
uma história individual já percorrida, tendo uma estrutura, ou com base em condições
prévias de todo o aprender, além de ser exposto ao conteúdo necessário para seu
aprendizado. Em relação ao aprendizado específico da leitura e da escrita, este está
vinculado a um conjunto de fatores que adota como princípios o domínio da linguagem e a

Classificação: Uso Interno


capacidade de simbolização, devendo haver condições internas e externas necessárias ao
seu desenvolvimento.

Desenvolvimento normal

A habilidade de leitura é verificada através da capacidade de decodificação, fluência e


compreensão da escrita29. O processo normal de leitura ocorre em duas etapas.
Inicialmente, é realizada a análise visual, através do processamento vísuo-perceptivo do
estímulo gráfico. Em seguida, ocorre o processamento lingüístico da leitura, onde, através
da via não-lexical, é feita a conversão grafema-fonema e, pela via lexical, é feita a leitura
global da palavra com acesso ao significado. A criança tem que descobrir que há letras que
não representam o som da fala, visto que a leitura alfabética associa um componente
auditivo fonêmico a um componente visual gráfico, o que é denominado de
correspondência grafofonêmica. É necessária a conscientização da estrutura fonêmica da
linguagem (decomposição das palavras) e das unidades auditivas que são representadas
por diferentes grafemas. O processo de aquisição da linguagem escrita, assim como o da
linguagem oral, envolve diversas regiões cerebrais, entre elas a área parietooccipital. Na
região occipital, o córtex visual primário é o responsável pelo processamento dos símbolos
gráficos, e as áreas do lobo parietal são responsáveis pelas questões vísuo-espaciais da
grafia. Essas informações processadas são reconhecidas e decodificadas na área de
Wernicke, responsável pela compreensão da linguagem, e a expressão da linguagem
escrita necessita da ativação do córtex motor primário e da área de Broca. Para todo este
processo ocorrer, é importante que as fibras de associação intra-hemisféricas estejam
intactas. Em uma pesquisa, observou-se ativação cerebral de pessoas normais durante a
leitura de pseudopalavras nas seguintes regiões: região frontal inferior esquerda; região
parietotemporal, envolvendo os giros angular, supramarginal e a porção posterior de giro
temporal superior; e regiões occipitotemporais, envolvendo porções mesiais e inferiores
do giro temporal e giro occipital. O mesmo estudo foi realizado em disléxicos, sendo
constatado um aumento de ativação no giro frontal inferior e pouca ativação em regiões
posteriores. Pesquisadores relatam que, em relação aos mecanismos neurológicos das
dificuldades de leitura, alterações referentes à assimetria hemisférica geram uma
organização atípica do hemisfério direito em crianças e adolescentes com dislexia.
Disléxicos apresentam uma desconexão temporo-parieto-occipital e uma desconexão com
o córtex frontal esquerdo, assim como anormalidades do córtex têmporo-parietal e do
cerebelo em relação a outras regiões do cérebro. Dificuldades de aprendizagem da
linguagem escrita na infância Dificuldades de aprendizagem referem-se a alterações no

Classificação: Uso Interno


processo de desenvolvimento do aprendizado da leitura, escrita e raciocínio lógico-
matemático, podendo estar associadas a comprometimento da linguagem oral.

Ao se estudar alterações no processo de aprendizagem da linguagem oral,


frequentemente verifica-se a ocorrência de posteriores dificuldades de aprendizagem da
leitura e escrita. Da mesma forma, ao se investigar os fatores que antecedem as
dificuldades de leitura e escrita, surgem questionamentos a respeito das dificuldades de
aprendizado da linguagem. Ressalta-se que, entre as alterações de linguagem oral
existentes na infância, são as dificuldades fonológicas, e não as articulatórias, que podem
ocasionar prejuízos no aprendizado posterior da leitura e da escrita.

Classificação: Uso Interno

Você também pode gostar