Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sigla: HL 053
Júlia Caroline Milanezi Ferreira RA:252549
Estudo dirigido 1
A seguir, são propostas questões sobre os textos “Neurolinguística”, bem como sobre o livro de
E. Ahlsén, “Introduction to Neurolinguistics” ( 2—6; parte I).
Estudo dirigido 2
Com base nas reflexões do autor na referida obra, de algum modo condensada na passagem
acima, discorra sobre as condições que poderiam ser evocadas para pensar em termos de
continuidade e em termos de ruptura entre normal e patológico em relação à linguagem.
Exemplifique e justifique.
As reflexões de Georges em sua obra "O normal e o patológico" oferecem percepções sobre a
complexidade de estabelecer limites entre o normal e o patológico em diversos campos, incluindo a
linguagem. Ao abordar as condições que podem ser consideradas para refletir sobre a continuidade e a
ruptura entre o normal e o patológico no âmbito linguístico, é essencial levar em conta o contexto e a
perspectiva sob os quais estamos conduzindo a análise.
Em muitos casos, a variação linguística é uma continuidade natural, em diferentes culturas,
regiões e grupos sociais podem ter dialetos e formas de expressão únicas. O que pode ser considerado
"normal" em um contexto linguístico pode ser percebido como "patológico" em outro. Por exemplo,
sotaques regionais podem ser considerados normais em suas respectivas áreas, mas podem ser vistos
como desviantes em uma norma linguística mais ampla.
Pensando que a linguagem está em constante evolução, o que era considerado patológico em
um momento histórico pode se tornar parte da norma em uma época posterior, nesse contexto temos,
por exemplo, palavras, gramática e expressões que mudam com o tempo, e essa evolução é uma
continuidade natural na linguagem.
Por outro lado, existem situações em que ocorre uma ruptura entre o normal e o patológico na
linguagem. A afasia é um exemplo claro dessa condição, sendo uma perturbação da capacidade de
compreender ou produzir linguagem devido a danos cerebrais. Enquanto a maioria das pessoas é
capaz de se comunicar de modo eficiente por meio da linguagem, as pessoas com afasia experimentam
uma interrupção significativa nessa habilidade. Outro exemplo de condição que vai romper essas
barreiras é a dislexia.
Sendo assim, a perspectiva de continuidade e ruptura entre o normal e o patológico na
linguagem depende do contexto, da cultura, da evolução histórica da língua e das condições médicas
individuais. O autor ressalta a flutuabilidade das fronteiras entre esses conceitos, enfatizando que o
que é considerado normal ou patológico pode ser subjetivo e moldado por diversos fatores. A análise
deve levar em consideração essas complexidades para uma compreensão mais completa das questões
relacionadas à linguagem.
De que maneira a doença pode ser distinguida da saúde, segundo Canguilhem? Opine a respeito
dos arrazoados de Canguilhem sobre a questão.
O livro oferece uma visão interessante sobre a distinção entre saúde e doença. Segundo o
autor, essa distinção não é uma linha clara e fixa, mas algo dinâmico e contextualizado. Ele menciona
a influência do pensamento hipocrático, que via a saúde como equilíbrio e harmonia, enquanto a
doença era vista como uma perturbação desse equilíbrio.
O ponto crucial da abordagem é que a doença, ou desequilíbrio, não é necessariamente
prejudicial. Ele argumenta que a doença pode ser uma reação da natureza, uma tentativa do organismo
de restaurar a saúde e o equilíbrio. Dessa forma, a doença pode ser entendida como uma resposta
adaptativa do corpo a desafios. A visão dele sugere que a distinção entre saúde e doença não é uma
separação clara, mas um espectro. Em alguns casos, o que parece uma doença pode ser o corpo
tentando se autorregular e se curar. Essa perspectiva destaca a complexidade do conceito de patologia
e mostra que a fronteira entre normal e patológico é influenciada pelo contexto, cultura e dinâmica do
organismo.
Essa abordagem também se aplica ao campo das patologias de linguagem, e assim como na
saúde física, a linha divisória entre uma linguagem considerada "normal" e "patológica" não é clara e
pode variar dependendo do contexto e perspectiva. Por exemplo, uma criança com um
desenvolvimento linguístico um pouco diferente do esperado pode ser vista como tendo uma
"anormalidade" na linguagem, mas essa diferença pode não ser disfuncional e ser uma resposta
adaptativa às suas necessidades individuais.
Sendo assim, a visão do autor nos lembra da importância de uma compreensão mais ampla e
contextualizada das patologias de linguagem, considerando a complexidade das interações entre
linguagem e indivíduo.
3) Dando como exemplo o astigmatismo, que poderia ser considerado normal em uma
sociedade agrícola, mas patológico para alguém que estivesse na marinha ou na aviação,
Canguilhem afirma que só se compreende bem que é no contexto dos "meios próprios do
homem, que este seja, em momentos diferentes, normal ou anormal". Ou seja, o patológico não
possui uma existência em si, podendo apenas ser concebido numa relação.
Comente as passagens acima, considerando as implicações que os arrazoados do autor
poderiam trazer para o terreno dos estudos da linguagem, patológica ou não.
Nas análises do autor sobre normalidade e patologia, aplicadas aos "meios próprios do
homem", encontramos que o patológico não existe isoladamente, mas apenas em relação.
Considerando a variação linguística e o contexto cultural, assim como no exemplo do astigmatismo, a
linguagem é fortemente influenciada pelo ambiente cultural e social. O que é tido como normal em
linguagem pode variar amplamente entre diferentes comunidades, exigindo uma abordagem nos
estudos linguísticos que leve em conta essa diversidade cultural.
Nas patologias da linguagem, como em distúrbios de fala e comunicação, a perspectiva do
autor traz a importância de avaliações individualizadas, pensando que, o pode ser considerado
patologia linguística para um indivíduo pode não ser o mesmo para outro, dependendo de seus
contextos e necessidades comunicativas. Isso sugere que profissionais de saúde da área da linguagem
devem considerar o contexto do paciente ao diagnosticar e tratar distúrbios de comunicação.
Na evolução linguística, entendemos que a linguagem é dinâmica e muda ao longo do tempo,
e que essas mudanças podem ser percebidas como patológicas em um contexto histórico e, mais tarde,
serem integradas à norma linguística. Isso ressalta a importância de estudar a linguagem em seu
contexto histórico, reconhecendo que as normas linguísticas não são estáticas, mas evoluem com o
tempo. Por fim, a diversidade linguística é uma característica natural da comunicação humana. Em vez
de rotular automaticamente formas de linguagem que não se encaixam em um padrão como
patológicas, os estudiosos de linguística podem adotar uma abordagem mais inclusiva, valorizando a
riqueza da diversidade linguística.
4) A seu ver, quais seriam as implicações do conceito de páthos para a compreensão das
relações entre o normal e o patológico? Justifique.
O termo "páthos", se refere ao sofrimento e à experiência emocional na doença, traz
perspectivas importantes sobre as relações entre o normal e o patológico, esse conceito destaca a
dimensão subjetiva da experiência humana diante da doença, sugerindo que a avaliação do normal e
do patológico não deve ser apenas objetiva, mas considerar as vivências individuais das pessoas com
condições de saúde.
A avaliação médica também é influenciada pelo "páthos", indicando que a abordagem clínica
não deve depender exclusivamente de critérios objetivos, mas considerar o sofrimento emocional do
paciente. Condições de saúde consideradas normais clinicamente podem ser vistas como altamente
patológicas devido ao sofrimento emocional, enfatizando a necessidade de uma abordagem completa
na medicina. A humanização dessa categoria também é incentivada pelo "páthos", enfatizando a
importância de tratar não apenas os sintomas físicos, mas também as necessidades emocionais dos
pacientes.
O "páthos" também destaca variações nas percepções do normal e do patológico conforme a
cultura e a sociedade. Em diferentes culturas, algumas condições de saúde podem ser normalizadas ou
estigmatizadas, ressaltando a importância de compreender as diferenças culturais na experiência do
"páthos" e evitar julgamentos simplistas, proporcionando uma visão mais humanizada e subjetiva das
relações entre o normal e o patológico, destacando a importância de considerar as experiências
emocionais das pessoas diante de condições de saúde.
5) Canguilhem propõe então que o estado patológico não é a ausência de uma norma,
pois não existe vida sem normas de vida, e o estado patológico também é uma forma de se viver.
A Linguística, por sua vez, também se interessa pela discussão em torno da noção de
norma (relativa ao uso, ao sistema, aos padrões linguísticos, às leis discursivas, aos atos de fala
etc.). Também tem se interessado pelas “infrações” da norma (por meio de discussões e
rediscussões em torno de noções como erro, desvio, variação, padrão, entre outras).
Procure desenvolver uma reflexão sobre a noção de norma no campo dos estudos da
linguagem a partir dos arrazoados de Canguilhem. Exemplifique (pode levar em conta
fenômenos da linguagem cotidiana relativos à linguagem, como digressão, repetição,
autocorreção, mal-entendido, lapsos de natureza diversa – fonética, semântica, etc. -, falas
parentéticas, infração de máximas conversacionais, titubeios, hesitações, falsos começos,
assíndetos semânticos, etc.)
A norma linguística é vista como uma construção que se adapta a diferentes contextos e às
necessidades individuais dos falantes, não sendo algo universal, mas sim dependente do contexto e da
comunidade linguística. Em certos contextos, a interrupção durante uma conversa pode ser
considerada um “erro”, mas pode ser aceita em outros, dependendo das habilidades linguísticas do
grupo.
A autocorreção durante a fala não é vista como um erro, mas como um mecanismo natural de
autorregulação para se adequar à norma contextual, se corrigir durante a fala é uma forma de ajuste à
norma fonética esperada no contexto linguístico e mal-entendidos não são automaticamente
considerados patologias da comunicação, mas reflexos da complexidade da linguagem e da
interpretação subjetiva.
Hesitações, falsos começos e titubeios na fala são entendidos como adaptações naturais à
complexidade da linguagem falada, e não como desvios da norma. As máximas conversacionais, são
princípios gerais, mas a aplicação pode variar conforme o contexto e a cultura. Em algumas culturas,
as regras de conversação, como a assíndese semântica, podem ser aceitas, mas não em outras,
destacando a flexibilidade da norma.
6) Porter (1993) afirma que apenas na segunda metade do século XVIII tem-se uma
espécie de “moeda linguística” entre médico e doente: antes disso os médicos, ao se dispor a
ouvir a história do paciente, interpretando suas queixas, tentava formar uma ideia totalizante
da doença, sem possuir um conjunto de tecnologia de diagnose, sem um nome que permitisse a
este compreender sua doença. Não é à toa que o final do século XVIII marcou a preocupação
com a terminologia, com o jargão técnico. A terminologia devia ser uma expressão neutra e
objetiva de conhecimento científico, mas está, ao mesmo tempo, “emaranhada em transações
socioeconômicas e aspirações terapêuticas”.
Vemos aqui a expectativa de que a linguagem seja não apenas a expressão da doença,
como também de seu conteúdo patológico. Em sua opinião, quais os problemas que poderiam
advir desse papel atribuído à linguagem de interpretar o que os sintomas significam e de fazer a
doença significar algo de determinada maneira.
A consideração de Porter sobre a evolução da relação médico-paciente em termos de
linguagem na medicina destaca questões significativas sobre o papel fundamental da linguagem na
interpretação e atribuição de significado aos sintomas. Isso pode resultar em diversos desafios:
- Descrição dos sintomas por meio da linguagem inevitavelmente envolve interpretação
subjetiva, podendo resultar em mal-entendidos e diagnósticos imprecisos, e a subjetividade na
interpretação dos termos usados pelos pacientes pode impactar a compreensão adequada.
- Construção de significado por meio da linguagem é uma ferramenta poderosa, mas diferentes
escolhas de palavras e metáforas podem resultar em interpretações distintas da mesma
condição, dificultando a comunicação eficaz entre médicos e pacientes.
- Influência cultural na linguagem médica é significativa, pois o contexto cultural pode moldar
como os sintomas são expressos e compreendidos.
- Estigmatização pode surgir da escolha de palavras e frases ao descrever condições de saúde,
perpetuando estigmas e dificultando o acesso ao tratamento adequado, especialmente em
relação a problemas de saúde mental.
- Expectativas de tratamento podem ser moldadas pela linguagem usada na descrição de uma
doença.
- Complexidade e ambiguidade inerentes à linguagem podem criar desafios na descrição precisa
de sintomas, levando a termos vagos e genéricos.
Portanto, enquanto a linguagem é essencial para a comunicação e interpretação de sintomas
na medicina, ela também apresenta desafios relacionados à subjetividade, construção de significado e
complexidade. Médicos e pacientes devem estar cientes dessas complexidades, promovendo uma
comunicação clara e precisa para melhorar diagnósticos e tratamentos, lembrando que a linguagem
médica deve ser sensível, inclusiva e culturalmente apropriada para evitar estigmatização e equívocos
na interpretação dos sintomas e condições de saúde.
7) Como entender, no texto de Porter, a expressão “Uma doença nomeada é uma doença
quase curada”?
A expressão "Uma doença nomeada é uma doença quase curada", encontrada no texto de
Porter, reflete uma ideia que era prevalente em determinado momento da história da medicina. Essa
ideia sugere que, ao atribuir um nome a uma doença ou condição médica, já se dá um passo
significativo em direção ao tratamento eficaz e à cura. Contudo, é essencial entender essa afirmação
dentro do contexto histórico e social em que foi proferida.
Antes da padronização e sistematização dos diagnósticos médicos, muitas doenças não eram
categorizadas com nomes específicos, sendo descritas de maneira imprecisa. Nesse cenário, dar um
nome a uma doença era considerado um avanço crucial, pois possibilitava que os médicos
identificassem, comunicassem e estudassem a condição de forma mais efetiva.
A expressão reflete a crença de que, ao nomear uma doença, os médicos estariam mais
próximos de compreender suas causas e, consequentemente, de encontrar tratamentos adequados. A
nomeação representava uma forma de classificação e categorização, sendo vista como um passo inicial
no processo de tratamento.
Atualmente, compreendemos que dar um nome a uma doença é apenas o ponto de partida em
direção ao tratamento e à cura. A prática médica moderna requer uma compreensão mais aprofundada
das causas, mecanismos e tratamentos das doenças, frequentemente demandando pesquisas científicas
extensivas.
Portanto, a expressão "Uma doença nomeada é uma doença quase curada" deve ser
interpretada como uma simplificação histórica da complexidade envolvida na prática médica. Embora
a nomenclatura das doenças seja crucial para a comunicação e pesquisa médica, não é, isoladamente,
suficiente para alcançar a cura. A abordagem contemporânea da medicina exige uma análise mais
abrangente, fundamentada em evidências científicas sólidas, para o tratamento e a cura das doenças.
8) Você poderia fornecer exemplos atuais do que Porter chama de “moeda linguística”?
Um exemplo atual seria a pandemia de Covid-19, em que surgiram termos específicos para
descrever a doença e seus tratamentos, por exemplo, “SARS-COV-2”, “vacina de mRNA”,
“isolamento social” “passaporte de vacina”, foram termos que se introduziram na nossa linguagem
cotidiana, a medida que as pessoas buscavam meios de se comunicar e entender assuntos relacionados
a pandemia.
Estudo Dirigido 3
1) Debert analisa e dá visibilidade ao conceito de velhice não apenas pela lente do
diagnóstico de um crescente envelhecimento populacional brasileiro, mas a partir de
critérios e reflexões de natureza sócio-antropológicas que nos ajudam a compreender o
que está em jogo na construção e na percepção social da velhice nas últimas décadas.
Tendo isso em vista, procure identificar fatores ou condições que explicariam a
preocupação com a idade cronológica e com o envelhecimento (com suas várias
implicações).
A abordagem de Debert se aprofunda em aspectos sócio-antropológicos para compreender a
construção social da velhice no contexto brasileiro, diversos fatores e condições podem ser
identificados como explicativos para a preocupação generalizada com a idade cronológica e o
envelhecimento.
Primeiramente, mitos e estigmas associados à velhice, a ideia propagada de que o
envelhecimento está diretamente ligado à fragilidade, dependência e declínio cognitivo contribui para
a apreensão social e individual em torno dessa fase da vida. Se pensarmos na representação midiática
que os idosos têm, sempre sendo retratados de maneira estereotipada, contribuindo para uma visão
desvalorizada dessa fase da vida e alimentando ainda mais os estigmas.
Além disso, padrões culturais que valorizam a juventude e impõem padrões específicos de
beleza associados à idade podem intensificar a aversão ao envelhecimento, juntamente da pressão
social para atender a esses padrões estéticos cria uma percepção negativa do processo de
envelhecimento.
Outro fator é a discriminação etária no mercado de trabalho, o medo da perda de
oportunidades de emprego e o estigma associado a trabalhadores mais velhos alimentam ansiedades
em relação à idade e ao envelhecimento. Os desafio no acesso aos serviços de saúde também é ponto
de importância, estando principalmente vinculada a acessibilidade e qualidade do serviço.