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Anna Laura Soldatti - RA 252472

Beatriz Cella - RA 252479


Julia Milanezi - RA 252549
Lara Cavaletti - 252564
Sara Campos - RA 252642
Thais Fernandes - RA 252661

Discussão de Caso Disfagia

1) Características da doença de base


A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa
progressiva, que afeta as células nervosas do cérebro e da medula espinhal,
desencadeando uma paralisia motora, sendo que a fraqueza muscular é uma marca inicial
da doença, ocorrendo em aproximadamente 60% dos pacientes. Outras manifestações
clínicas incluem espasticidade, fasciculações e atrofia, levando a dificuldades progressivas
no movimento e controle muscular. As mãos e os pés podem ser os primeiros afetados,
dificultando as atividades do dia a dia. Entretanto, com a progressão da doença, ela
eventualmente irá prejudicar a fala, deglutição, mastigação e respiração.
A ELA costuma apresentar a forma de início bulbar, com a degeneração do
neurônio motor superior (paralisia pseudobulbar), do inferior (paralisia bulbar), ou de ambos.
Na paralisia bulbar progressiva, são afetados os nervos dos músculos da
mastigação, da deglutição e da fala, tornando a voz com um tom mais anasalado. Já a
paralisia pseudobulbar progressiva afeta principalmente os músculos da face, do queixo e
da garganta, porém em ambas as doenças, os músculos ficam fracos, rígidos e tensos, sem
espasmos musculares e desgastes.

2) Disfagia na Doença de Base


Sabe-se que na doença ELA há grande comprometimento muscular, como citado
anteriormente, e consequentemente, pode acarretar em disfagia, já que essa alteração
(fraqueza) dos músculos responsáveis pela mastigação e deglutição.
Quando presente, a disfagia na ELA pode ocorrer na fase oral e faríngea, ocorrendo
aumento da duração da fase voluntária da deglutição, uma vez que há alterações motoras
da língua, como redução da movimentação da base de língua, fator que contribui para a
disfagia, já que causa uma ineficiência do trânsito oral do bolo alimentar. Tais alterações
podem acabar gerando aspirações dos resíduos faríngeos após a deglutição, havendo
maior risco de aspiração em líquidos ralos, já que há um escape precoce deste, mesmo que
no começo da doença.
Outro fator contribuinte é a fadiga e lentidão durante as refeições, devido à fraqueza
e incoordenação da musculatura da língua. Estudos comprovam que pacientes que
possuem essa condição, terão mais queixas durante a deglutição, como escape anterior do
alimento, dificuldade na formação, contenção e ejeção do bolo alimentar, resíduos em cavidade
oral e escape precoce para a faringe.
As alterações na fase faríngea são: menor frequência de deglutição espontânea, menor
estabilidade do fechamento laríngeo, contração mais lenta da faringe e estase faríngea.

3) Aspectos clínicos da deglutição da percepção do caso


Na deglutição, paciente apresenta engasgos frequentes com líquidos e comprimidos,
já faz uso de líquido espessado (1) para auxílio da deglutição. Teve redução importante do
volume da dieta V.O., que pode ter auxiliado na redução do peso. Outro ponto importante é
o nível de fadiga muscular, uma vez que esta também é um fator para a diminuição da
ingesta oral. Como citado anteriormente, a fadiga além de ser um agente causador para a
diminuição da via oral, também está relacionada diretamente com a eficiência da
mastigação, movimentação da língua, menor estabilidade do fechamento laríngeo, etc.
Além disso, a paciente refere espasticidade na abertura e fechamento da boca,
sendo que isso também corrobora para a diminuição da alimentação.
Sendo assim, a degeneração neuromuscular pode induzir as sensações de
desconforto, o que vai repercutir no nível de ingestão.
4) Compreensão dos resultados do exame instrumental VED
Durante o exame de VED a paciente apresentou:
● Secreção em região orofaríngea menor que 20%, o que indica
comprometimento da coordenação da deglutição. Porém, mostra que a
paciente não possui penetração de saliva.
● Mobilidade de EVF e laringe presente com coaptação glótica completa,
indicando boa proteção de vias aéreas e boa elevação e anteriorização de
laringe.
● Na avaliação com as consistências foi observado incoordenação quando
ingestão de líquidos, o que corrobora com seu quadro clínico da doença de
base.
● A estase observada em valécula para a consistência sólida confirma
também a incoordenação e a falta de força para a deglutição, sendo
necessário a ingestão de líquidos para facilitar a deglutição na fase
orofaríngea.
● Além disso, a sensibilidade laríngea está preservada, o que torna a paciente
apta a uma boa reabilitação da deglutição.

5) Estabelecimento de orientações e proposta de reabilitação (curto, médio e


longo prazo)
A curto prazo a orientação deve visar uma avaliação para saber se é possível
manter a alimentação via oral ou não devido à perda de peso do paciente, modificações na
consistência dos alimentos se possível, para isso é necessário o início imediato de terapia
fonoaudiológica.
A médio prazo, quando o paciente estiver habilitado após terapia fonoaudiológica,
acompanhamento médico e nutricional, estratégias de posicionamento durante as refeições
também devem ser implementadas.
A reabilitação a longo prazo foca em manter a qualidade de vida, adaptando a
alimentação conforme a progressão da doença e oferecendo suporte nutricional adequado.
Como a paciente apresenta fadiga muscular e disfagia, os exercícios de deglutição
devem ser adaptados para preservar a energia muscular. Os exercícios terão como objetivo
a estabilização da condição muscular, retardando o uso de via alternativa de alimentação e
dessa forma, proporcionando melhor qualidade de vida a paciente. Algumas estratégias de
reabilitação incluem:
Para estase de alimento:
- Inclinação da Cabeça: inclinar a cabeça para frente durante a deglutição para
facilitar o escoamento dos alimentos.
*Geralmente, pacientes com ELA vão para a via alternativa de alimentação
por conta da impossibilidade de realizar exercícios com esforço devido à
fadiga muscular
Falta de força de língua: Foco em exercícios leves e específicos durante a deglutição.
- Pressão Contra o Palato: pressionar a língua contra o palato, começando
suavemente e aumentando a intensidade gradualmente.
- Movimentos Laterais e Verticais: exercícios que envolvam movimentos laterais e
verticais da língua para fortalecer diferentes áreas.
Falta de incoordenação:
- Melhorar a capacidade pulmonar pode ajudar na coordenação respiratória durante a
deglutição, reduzindo a fadiga
- Expiração Prolongada: Exercícios para prolongar a expiração, promovendo o
controle respiratório.
Penetração:
- Ela já faz uso de garrafa de água para controle de volume, deve manter essa
estratégia.
- Exercícios de Coordenação: exercícios que melhorem a coordenação entre a língua,
a epiglote e a deglutição para prevenir a penetração. Como elevar anteriormente e
segurar
Modificação da consistência dos alimentos é importante, pois ao adaptar a
consistência podemos reduzir a demanda muscular durante a deglutição. Isso pode
envolver a escolha de alimentos mais fáceis de mastigar e engolir, que sejam seguros para
a paciente. Deve-se também haver a diminuição de quantidade sendo esses alimentos
hipercalóricos e com um intervalo menor entre alimentação.
Além disso, um posicionamento adequado é essencial para reduzir riscos, facilitar a
deglutição e reduzir a fadiga. Isso inclui a postura da cabeça e do tronco. Também vale
destacar que os exercícios devem ser feitos apenas na sessão durante a deglutição.
Logo, devemos lembrar da supervisão de um fonoaudiólogo para garantir que os
exercícios sejam adaptados às necessidades específicas da paciente com ELA. Os
exercícios devem ser realizados com cuidado para evitar a fadiga excessiva.
As atividades extra terapêuticas forçam a parte respiratória, que pode gerar maior
incoordenação respiração-deglutição, as atividades devem ser feitas com precaução pelo
profissional responsável, para possíveis sinais de fadiga, que vão se tornar prejudiciais para
a terapia fonoaudiológica.

Referências Bibliográficas
1. Ribeiro, L. M., Falcão, V. M., Oliveira, N. C. de, Lozer, A. C., Pereira, N. E. L.,
Campos, V. N. R., Pinto, A. L. M., & Lee, S. Y. (2020). Relato de caso de Esclerose
Lateral Amiotrófica (ELA) de início bulbar / Case report of Lateral Amiotrophic
Sclerosis (ALS) from bulbar start. Brazilian Journal of Health Review, 3(3),
5555–5561. https://doi.org/10.34119/bjhrv3n3-127
2. Luchesi, K. F., & Silveira, I. C.. (2018). Cuidados paliativos, esclerose lateral
amiotrófica e deglutição: estudo de caso. Codas, 30(5), e20170215.
https://doi.org/10.1590/2317-1782/20182017215
3. Ruoppolo G, Schettino I, Frasca V, Giacomelli E, Prosperini L, Cambieri C et al.
Dysphagia in amyotrophic lateral sclerosis: prevalence and clinical findings. Acta
Neurol Scand. 2013; 128(6):397-401.
4. MORIM, Lurdes; ROCHA, Joana; ALMEIDA , Alexandre Frey. Intervenção da
Terapêutica da Fala na Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Cadernos de
comunicação e Linguagem , [S. l.], p. 119-130, 20 jan. 2009. Disponível em:
https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/2881/3/119-130.pdf. Acesso em: 4 dez. 2023.
5. PONTES, R. T. et al. Alterações da fonação e deglutição na Esclerose Lateral
Amiotrófica. Revista Neurociências, v. 18, n. 1, p. 69–73, 31 mar. 2001.

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