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SUMÁRIO

1 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM .................................................... 3

1.1 Sequências previsíveis da linguagem .................................................. 4

1.2 Fatores determinantes.......................................................................... 5

1.3 Fase Pré-Linguística (antes das primeiras palavras) ......................... 15

1.4 Fase linguística (aparecimento das primeiras palavras)..................... 16

1.5 Com que idade uma criança deve falar todos os sons corretamente?
17

1.6 Sinais de alterações ........................................................................... 18

2 O que são os Transtornos de Linguagem? ............................................... 21

2.1 Tipos de Transtornos de Linguagem .................................................. 24

2.2 Apraxia de fala na infância ................................................................. 29

2.3 Atraso/Retardo na Aquisição e no Desenvolvimento da Linguagem .. 30

2.4 Distúrbio Específico de Linguagem .................................................... 31

2.5 Transtorno Fonológico (Troca de Sons na Fala) ................................ 31

2.6 Alterações na Motricidade Oral / Distúrbio Miofuncional Orofacial ..... 33

3 DISTÚRBIO ESPECÍFICO DA LINGUAGEM (DEL) ................................. 34

3.1 Fluência .............................................................................................. 34

3.2 Alterações semântico-pragmáticas .................................................... 35

4 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 37

5 LEITURA COMPLEMENTAR.................................................................... 38

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1 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM1

Fonte: blogs.odia.ig.com.br

Aprender a falar é uma das realizações mais importantes e mais visíveis da


primeira infância. Em questão de meses, e sem ensino explícito, as crianças passam
de palavras hesitantes para frases fluentes, e de um vocabulário reduzido para um
vocabulário que aumenta em seis novas palavras por dia. As novas ferramentas da
linguagem significam novas oportunidades para a compreensão social, para aprender
a respeito do mundo, e para compartilhar experiências, prazeres e necessidades.
O desenvolvimento da linguagem é ainda mais impressionante quando consi-
deramos a natureza do que é aprendido. Pode parecer que as crianças precisem ape-
nas lembrar-se do que ouviram e repeti-lo em algum momento posterior. Mas, como
mostrou Chomsky há tempos atrás, se essa fosse a essência da aprendizagem da
linguagem não seríamos comunicadores bem-sucedidos. A comunicação verbal re-
quer produtividade, isto é, a capacidade de criar um número infinito de enunciados
que nunca ouvimos antes. Essa inesgotável capacidade de inovar exige que alguns
aspectos do conhecimento linguístico sejam abstratos. Em última instância, as “re-
gras” de combinação de palavras não podem ser regras para determinadas palavras,
e sim regras para classes de palavras, tais como substantivos, verbos ou preposições.

1 Texto original extraído do link: http://www.enciclopedia-crianca.com/desenvolvimento-da-lin-

guagem-e-alfabetizacao/segundo-especialistas/fatores-que-influenciam-o

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Desde que disponha desses esquemas abstratos, o falante pode preencher os “espa-
ços” de uma frase com as palavras que melhor traduzam a mensagem do momento.
O ponto-chave de Chomsky era que, uma vez que abstrações nunca podem ser vi-
venciadas diretamente, precisam emergir da própria atividade mental da criança ao
escutar a fala.
A natureza da atividade mental que subjaz à aprendizagem da linguagem é
amplamente debatida entre os especialistas da área. Um grupo de teóricos argumenta
que a estimulação ambiental da linguagem apenas desencadeia o conhecimento gra-
matical que já está disponível geneticamente. A oposição argumenta que o conheci-
mento gramatical não é inato e resulta da forma pela qual a mente humana analisa e
organiza a informação. Esse debate reflete crenças fundamentalmente diferentes so-
bre o desenvolvimento humano, e dificilmente será resolvido. Há, no entanto, pelo
menos duas áreas nas quais há um consenso substancial que pode orientar educa-
dores e formuladores de políticas:
(a) a previsibilidade do curso da aquisição da linguagem; e
(b) sua natureza multideterminada.
O desenvolvimento da linguagem na infância tem sido um tema de interesse
desde a antiguidade, e o foco de uma quantidade substancial de pesquisa científica
desde a década de 1960

1.1 Sequências previsíveis da linguagem

Em linhas gerais, os “fatos” observáveis sobre o desenvolvimento da linguagem


não são controvertidos. A maioria das crianças começa a falar no decorrer do segundo
ano de vida; por volta dos dois anos de idade conhece, pelo menos, 50 palavras e as
combina em frases curtas. Quando o tamanho do vocabulário atinge cerca de 200
palavras, a taxa de aprendizagem de palavras aumenta dramaticamente, e começam
a aparecer, com alguma consistência, palavras com funções gramaticais, como arti-
gos e preposições. Durante os anos pré-escolares, o padrão das sentenças torna-se
cada vez mais complexo e o vocabulário diversifica-se, passando a incluir termos re-
lacionais que expressam noções de tamanho, localização, quantidade e tempo. Por
volta dos quatro aos seis anos de idade, a maioria das crianças já adquiriu a gramática
básica da sentença.

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Fonte: revistacrescer.globo.com

A partir daí, a criança aprende a utilizar a linguagem de forma mais eficiente e


eficaz. Aprende, também, a criar e a conservar unidades maiores de linguagem, tais
como conversas ou narrativas. Embora haja diferenças individuais na taxa de desen-
volvimento, a sequência em que as várias formas aparecem é altamente previsível,
tanto dentro de cada estágio quanto entre eles.

1.2 Fatores determinantes

Também há considerável consenso sobre o fato de que o curso do desenvolvi-


mento da linguagem reflete a interação de fatores de, pelo menos, cinco domínios:
social, perceptivo, de processamento cognitivo, conceitual e linguístico. Os teóricos
diferem na ênfase que atribuem a cada domínio, mas a maioria deles concorda que
todos são importantes. Há um amplo conjunto de evidências em favor da visão de que
a aprendizagem da linguagem é influenciada por muitos aspectos da experiência e
das potencialidades humanas. Mencionarei dois achados, que apreendem o teor da
evidência disponível, de cada domínio.

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1.2.1.1 Social

Fonte: sitededicas.ne10.uol.com.br

Crianças pequenas inferem a intenção comunicativa de quem fala e utilizam


essa informação para orientar sua aprendizagem de linguagem. Por exemplo, já aos
24 meses de idade são capazes de inferir, apenas a partir do tom excitado da voz de
um adulto e do contexto físico, que uma palavra nova deve referir-se a um objeto que
foi colocado sobre a mesa enquanto o adulto estava ausente.
O ambiente verbal influencia a aprendizagem da linguagem. Entre um e três
anos de idade, filhos de famílias de “profissionais” altamente verbais escutam quase
três vezes mais palavras por semana que os filhos de famílias menos verbais “depen-
dentes de assistência social”. Dados longitudinais mostram que aspectos dessa lin-
guagem parental no início da vida predizem escores em linguagem aos nove anos de
idade.

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1.2.1.2 Perceptivo

Fonte: cliapsicologia.com.br

A percepção do bebê marca a etapa. As habilidades perceptivas auditivas aos


seis ou 12 meses de idade podem predizer o tamanho do vocabulário e a complexi-
dade sintática aos 23 meses de idade.
A perceptibilidade faz diferença. Em Inglês, as formas que são mais desafiado-
ras para aprendizes com algum déficit são aquelas com pouca saliência acústica– isto
é, que não são tônicas ou que ocorrem dentro de um grupo de consoantes.

1.2.1.3 Processos Cognitivos

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Fonte: www.semprematerna.com.br

A frequência afeta a taxa de aprendizagem. Crianças que, apesar de incomum,


ouvem uma alta proporção de exemplos de uma determinada forma linguística apren-
dem essa forma mais rapidamente que crianças que recebem estimulação normal
desses mesmos exemplos
Podem ocorrer “negociações” entre os diversos domínios da linguagem quando
a sentença completa em questão exige mais recursos mentais do que os que a criança
tem disponíveis. Por exemplo, as crianças cometem mais erros em pequenas formas
gramaticais, tais como terminações de verbos e preposições, em sentenças com sin-
taxe complexa do que naquelas cujas estruturas sintáticas são simples.
1.2.1.4 Conceitual

Fonte: www.terapiadecrianca.com.br

Termos relacionais estão associados à idade mental. Palavras que expressam


noções de tempo, causalidade, localização, tamanho e ordem estão muito mais cor-
relacionadas à idade mental do que palavras que se referem simplesmente a objetos
e eventos.16 Além disso, crianças que aprendem diversos idiomas falam sobre locali-
zações espaciais como em ou perto de na mesma ordem, independentemente dos
recursos gramaticais de cada idioma que dominam.

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As habilidades de linguagem são afetadas pelo conhecimento sobre o mundo.
Crianças que têm dificuldades de lembrar determinada palavra também sabem menos
sobre os objetos aos quais essa palavra se refere.18

1.2.1.5 Linguística

Terminações verbais dão pistas sobre o significado do verbo. [Em inglês], se


um verbo termina em “ing”, a crianças de três anos de idade entendem que a palavra
se refere a uma atividade, como “swim”, e não a uma mudança completa de estado,
como “push off”.
O vocabulário atual influencia novas aprendizagens. Crianças pequenas em
geral decidem que uma nova palavra se refere a objetos para os quais elas ainda não
têm uma designação.

Fonte: leiturinha.com.br

As crianças enfrentam a tarefa de aprender a linguagem providas de mecanis-


mos perceptivos que funcionam de determinado modo, e com capacidades finitas de
atenção e de memória. Esses sistemas cognitivos irão, no mínimo, influenciar quais
partes da estimulação ambiental serão notadas, e podem ser fundamentais para o
processo de aprendizagem. Da mesma forma, a experiência anterior da criança com
o mundo social e material fornece as bases iniciais para a interpretação do idioma que
ouve. Mais tarde, ela utilizará também pistas de linguagem.
No entanto, o curso da aquisição da linguagem não é movido apenas de dentro
para fora. A estrutura do idioma a ser aprendido e a frequência com que várias formas

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são ouvidas também terão efeitos. Apesar dos debates teóricos, parece claro que as
habilidades de linguagem refletem conhecimentos e capacidades em praticamente to-
das as áreas, e não devem ser vistas de forma isolada.
Frequentemente, educadores e formuladores de políticas ignoraram as crian-
ças em idade pré-escolar cuja linguagem parece estar mais atrasada do que seu de-
senvolvimento em outras áreas, argumentando que essas crianças estão “apenas um
pouco atrasadas” para falar. As evidências de pesquisa sugerem, ao contrário, que a
aquisição da linguagem deve ser tratada como um barômetro importante do sucesso
em tarefas integradoras complexas. Como vimos acima, sempre que a linguagem “fa-
lha” outras áreas também estão implicadas – seja como causas ou como consequên-
cias.
Na verdade, estudos epidemiológicos importantes demonstraram que crianças
diagnosticadas com distúrbios específicos de linguagem aos quatro anos de idade –
isto é, atrasos na aquisição da linguagem na ausência de comprometimentos sensório
motores, distúrbios afetivos ou retardos – correm alto risco de fracasso acadêmico e
de problemas de saúde mental que podem chegar até o início da vida adulta. Feliz-
mente, as evidências de pesquisa indicam também que é possível acelerar a apren-
dizagem da linguagem.
Embora seja a criança quem deve criar os padrões abstratos a partir dos dados
da linguagem, podemos facilitar essa aprendizagem:
(a) apresentando exemplos de linguagem que estão de acordo com os recursos
perceptivos, sociais e cognitivos da criança; e
(b) escolhendo objetivos de aprendizagem que se harmonizam com o curso
normal do desenvolvimento.

Fonte: itafono.blogspot.com.br

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Desenvolvimento fonológico: Os recém-nascidos têm a capacidade de ouvir
e discriminar os sons da fala. No decorrer do primeiro ano de vida, tornam-se mais
competentes para escutar os contrastes utilizados em seu idioma e insensíveis às
diferenças acústicas que não são relevantes para esse idioma. Esta sintonização da
percepção da fala ao ambiente linguístico resulta de um processo de aprendizagem
no qual os bebês formam categorias mentais de sons da fala em torno de grupos de
sinais acústicos que ocorrem com mais frequência em seu idioma. Essas categorias,
então, orientam a percepção, de forma que as variações dentro de uma categoria são
ignoradas, e as variações entre as categorias são percebidas.

Fonte: www.regiaonews.com.br

Os primeiros sons que os bebês produzem são gritinhos e ruídos que não se
assemelham à fala. Os principais marcos do desenvolvimento vocal anterior à fala são
a produção de sílabas canônicas (combinações adequadas de consoantes e vogais),
que aparecem entre os seis e os 10 meses de idade, rapidamente sucedidas por bal-
bucios duplicados (repetições de sílabas). Quando aparecem as primeiras palavras,
são utilizados os mesmos sons, e as palavras contêm o mesmo número de sons e de
sílabas, que as sequências precedentes do balbucio.
Um dos processos que contribuem para o desenvolvimento fonológico inicial
parece ser o esforço ativo dos bebês de reproduzir os sons que escutam. No balbucio,
os bebês podem descobrir a correspondência entre o que fazem com seu aparelho

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vocal e os sons resultantes. O importante papel do feedback é sugerido por observa-
ções de que crianças que têm perdas auditivas apresentam atraso na produção do
balbucio canônico.
Por volta dos 18 meses de idade, as crianças parecem ter construído um sis-
tema mental para representar os sons de seu idioma e para produzi-los dentro das
limitações de suas capacidades de articulação. A esta altura, a produção de sons da
fala pelas crianças torna-se consistente nas diferentes palavras– em contraste com o
período anterior, em que a forma de som para cada palavra era uma entidade mental
separada. Os processos subjacentes a este desenvolvimento ainda não são suficien-
temente compreendidos.

Fonte: pt.slideshare.net

Desenvolvimento léxico: Os bebês entendem as primeiras palavras já aos


cinco meses de idade, produzem as primeiras palavras entre 10 e 15 meses, atingem
o marco de 50 palavras de vocabulário produtivo por volta dos 18 meses, e o de 100
palavras entre 20 e 21 meses.
Depois disso, o desenvolvimento do vocabulário é tão rápido que se torna pra-
ticamente inviável rastrear quantas palavras as crianças conhecem. O vocabulário de
uma criança de aproximadamente seis anos de idade foi estimado em 14 mil palavras.
A tarefa de aprendizagem de palavras tem múltiplos componentes e recorre a múlti-
plos mecanismos.

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Os bebês utilizam procedimentos estatísticos de aprendizagem, monitorando a
probabilidade de que os sons apareçam juntos e, dessa forma, segmentam o fluxo
contínuo da fala em palavras separadas. A capacidade de armazenar essas sequên-
cias de sons da fala, conhecida como memória fonológica, entra em ação à medida
que são criadas entradas no léxico mental.
Na tarefa de mapear uma palavra nova em relação a seu referente, as crianças
são guiadas por sua capacidade de utilizar mecanismos de inferência socialmente
baseada (isto é, as crianças falantes falam sobre coisas para as quais estão
olhando),pelo seu conhecimento de mundo (parte da aprendizagem de palavras en-
volveu o mapeamento de novas palavras em conceitos pré existentes)e por seu co-
nhecimento linguístico anterior (isto é, a estrutura da frase na qual uma nova palavra
aparece dá pistas sobre o significado dessa palavra).
O domínio completo do significado das palavras pode exigir também novos de-
senvolvimentos conceituais.

Fonte: odesenvolvimentodalinguagem.blogspot.com.b

Desenvolvimento morfossintático. Por volta dos 24 meses de idade, a cri-


ança começa a reunir duas, três ou mais palavras em frases curtas. As primeiras fra-
ses são combinações de palavras de conteúdo, e frequentemente não incluem pala-
vras com função gramatical, por exemplo, artigos e preposições – nem terminações
de palavras, por exemplo, marcadores de plural e de tempo. Gradualmente, à medida

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que domina a gramática de seu idioma, a criança se torna capaz de produzir enunci-
ados cada vez mais extensos e gramaticais. De maneira geral, o desenvolvimento de
períodos complexos, isto é, com várias orações começa um pouco antes do segundo
aniversário, e está praticamente completo aos quatro anos de idade. Em geral, a com-
preensão precede a produção.

Fonte: fonoeduca.blogspot.com.br

O mecanismo responsável pelo desenvolvimento da gramática é um dos te-


mas mais ardorosamente debatidos no estudo do desenvolvimento da linguagem. Ar-
gumenta-se que as crianças enfrentam a tarefa de aprendizagem da linguagem já
equipadas com o conhecimento inato da estrutura da linguagem, e que a linguagem
não poderia ser adquirida de outra forma. No entanto, também é evidente que, mesmo
na infância, as crianças são capazes de detectar padrões abstratos na fala que ou-
vem, e há evidências muito sólidas de que as crianças mais expostas à fala e que
ouvem enunciados estruturalmente mais complexos adquirem a gramática mais rapi-
damente do que crianças com menos experiências, – o que sugere que a experiência
linguística desempenha um papel substancial no desenvolvimento da linguagem.

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1.3 Fase Pré-Linguística (antes das primeiras palavras)

Fonte: descobreaterapiadafala.blogspot.com.br

Recém-nascido/1 mês: choro como reação biológica à dor e à fome. As voca-


lizações são esporádicas, reflexas. Acorda, assusta-se com sons intensos. Acalma-
se com a voz da mãe.
2/3 meses: choro passa a ser diferenciado (choro de fome é diferente do choro
de dor). Vocalizações apresentam variação quanto à altura e duração. Reage à fala
humana: sorri, olha, vocaliza. Apresenta atenção ao som.
6 meses em diante: rápido aumento na quantidade de combinações de vogais
e consoantes. “Jogos vocais” e “auto-balbucio”: o bebê parece brincar com os sons
que emite. Balbucio diferenciado, com repetição de diferentes sílabas (padada/ma-
mada). O balbucio é uma parte importante para a preparação para a linguagem falada.
Nesta fase os bebês estão “experimentando” todos os tipos de sons.
9/10 meses: O repertório de sons dos bebês passa a ser aqueles da língua
falada em casa. Nesta fase também começam a usar gestos (apontar) para o que
desejam (combinação de sons e gestos). Repete sons emitidos pelos outros. Atende
a imperativos rotineiros acompanhados de gestos (“joga beijo”, “dá tchau”).

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1.4 Fase linguística (aparecimento das primeiras palavras)

Fonte: anagamonal.blogspot.com.br

12 meses/1 ano: Aparecem as primeiras palavras (“papá”; “mamã” “da”, “qué”).


Apresenta intenção comunicativa, mesmo com limitada estrutura linguística. Produz
onomatopeias (au-au, miau, bibi). Demonstra-se atento para as situações de comuni-
cação.
Entre 12 /18 meses: Há um aumento rápido da compreensão e da expressão.
A partir de 18 meses começam a combinar duas palavras (“mã au-au”: como se a
criança dissesse “mamãe olha o cachorro” ou “may leti” : dá mais leite). Compreende
ordens simples rotineiras e situacionais com duas ações.
2 anos: Aparecem as primeiras frases, com 2 a 3 palavras. A gramática começa
a se desenvolver. Identifica as partes do corpo. Nomeia figuras. Compreende ordens
situacionais. Com 2 anos e meio produzem frases com 3 a 4 palavras, com desvios
de flexionamento nominal e verbal. Por exemplo: “esse meu bola” ou “eu comeu tudo
bolacha”. No final do segundo ano, ocorre a chamada explosão do vocabulário (aqui-
sição de novas palavras). Com 2 anos, o vocabulário de uma criança é de aproxima-
damente 200 palavras.
3 anos: Consegue repetir partes de uma história que lhe foi contada, produz
frases com 4 a 5 palavras, com períodos de coordenados (“essa boneca chóia e fazi

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xixi” ). Inicia, mantém uma conversação, mas não por muitos turnos, pode se disper-
sar.
Canta canções/músicas infantis. Também nessa idade é a fase dos “por
quês?”. Aprende a falar “eu”.
4 anos: Elabora frases com 5 a 6 palavras; faz perguntas “quem? / por que?”;
fala de situações imaginárias. Narra uma história conhecida sem ajuda do outro. Re-
conhece cores, formas geométricas.
5 anos: Define objetos, conhece relações espaciais, conta histórias, usa corre-
tamente os principais tempos verbais (passado, presente e futuro), pede informações,
utiliza orações com períodos simples e compostos. Léxico: mais de 6000 palavras.
6 anos: Possui uma articulação correta da maioria dos sons da fala. Relata
fatos com frases gramaticalmente estruturadas. Narra com detalhes histórias conhe-
cidas, inventa propositalmente histórias com coerência entre os fatos. Léxico acima
de 10.000 palavras.
Consegue manter uma “conversa” com o adulto.
Reconhece letras, escreve palavras simples.

1.5 Com que idade uma criança deve falar todos os sons corretamente?

Fonte: ccidiomas.com.br

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Uma criança finaliza a aquisição dos sons (para o Português-Brasileiro) por
volta dos 5 / 6anos.Existem sons mais simples, mais fáceis e outros mais complexos
e por isso, são aprendidos mais tardiamente.
Em geral, a aquisição dos sons ocorre da seguinte forma:
2 anos: M; P; T e D (nessa idade o vocabulário da criança é de aproximada-
mente 200 palavras
- 2 anos e 6 meses: K, G, N, F, V, S, e NH
A partir de 3 anos: Z; R forte ("Carro") R fraco” (“aRaRa”); L (“Lua, Leite”);
“lha” (“paLHAço”)
4 anos e 6 meses: “cha” (“Chave”) “ja” (“Janela”)
Entre 5 e 6anos: Encontros consonantais (“PRato”; “FLôr”; “CLasse”; “CRavo”,
etc) e consoantes "intercaladas" (por exemplo, poRco; paSta; eScola; amoR).

1.6 Sinais de alterações

Crianças com atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem podem preci-


sar de ajuda. Demorar para falar ou falar com dificuldade pode significar que a criança
tenha algum distúrbio ou transtorno neste processo.

Fonte: es.paperblog.com

A seguir, descreverei alguns sinais que podem ajudar os pais a identificarem


ou a suspeitarem de uma dificuldade. Os professores também podem ajudar a identi-
ficar possíveis dificuldades, afinal uma criança passa muito tempo na escola.

Crianças pequenas (até 3 anos de idade):

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1. Atraso no aparecimento das primeiras palavras (já completou 1 ano e ainda
não fala “papá” e “mamã”);
2. Crianças com 18 meses (1 ano e meio) e que ainda não falam ou que apenas
usam gestos de apontar;
3. Crianças com 2 anos e que falam pouco (apenas algumas sílabas ou palavras
isoladas) e que ainda não combinam palavras. Crianças com 2 anos e meio e
que ainda não falam pequenas frases ("mamã dá eiti" (mamãe dá leite!), por
exemplo.
4. Crianças que compreendem tudo, mas que não falam;
5. Crianças que brincam pouco, interagem pouco, que são agitadas ou muito qui-
etinhas;
6. Crianças que tem dificuldades para imitar ou para repetir o que os pais falam;
7. Crianças desatentas, que não olham ou que são indiferentes às situações;
8. Crianças que não sabem brincar ou não se interessam pelos brinquedos que
os pais compram;

Fonte: www.mundodastribos.com

Crianças mais velhas (depois dos 4 anos):

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1. Crianças com vocabulário pobre. Os pais perguntam os nomes dos objetos e
não respondem ou confundem os nomes;
2. Crianças com falam errado, que até os pais, não conseguem compreender tudo
o que falam;
3. Crianças com dificuldade de compreensão. Parecem não entender o que foi
pedido, não entender uma brincadeira ou um jogo;
4. Crianças com dificuldade para aprender novas palavras;
5. Dificuldade para produzir frases: apresentam fala “truncada”, desorganizada.
Frases gramaticalmente incorretas, com dificuldade para conjugação dos ver-
bos, uso dos pronomes;
6. Crianças que não conseguem contar fatos (não conseguem relatar o que fize-
ram na escola, por exemplo);
7. Crianças com dificuldade para contar histórias. Os pais leem histórias, mas a
criança não consegue recontar.
8. Crianças que não conseguem manter uma conversa. Que não fazem perguntas
ou que respondem o que foi perguntado de forma incorreta. Os pais perguntam
uma coisa e a criança responde outra. São descontextualizados (mudam de
assunto, falam de forma “esquisita”);
9. Crianças que não entendem piadas, linguagem figurada, com compreensão li-
teral;
10. Crianças que apresentam dificuldade para aprender o que é ensinado;
11. Crianças com alterações na fluência da fala: repetição de sílabas, de palavras,
com tiques associados);
12. Criança que entrou na escola e após 3 meses não apresentou evolução no
desenvolvimento da fala;
13. Pobre interação social (crianças mais arredias, com dificuldade de socialização,
que preferem brincar sozinhas);
14. Crianças com comportamento infantilizado;
15. Brincadeira pobre, desorganizada e que não consegue brincar de faz-de-conta;
16. Crianças com dificuldade de coordenação motora, com dificuldade para segu-
rar e manusear os objetos.
17. Crianças com dificuldade para mastigar e deglutir.

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Outros fatores importantes e que também devem ser considerados:

 Se há problemas semelhantes na família (pessoas que têm problemas de fala


e linguagem ou algum tipo de deficiência);
 Histórico de prematuridade/baixo peso. Crianças que ficaram em UTI Neona-
tal.
 Ambiente familiar bilíngue, mas com atitudes desfavoráveis ao desenvolvi-
mento da fala;
 Pais com perfil superprotetor (“que falam pela criança”); Pais ansiosos;
 Ambiente familiar com privação de estímulos (por exemplo, pais trabalham e a
criança passa o dia com a babá que pode não estimular a fala e a linguagem
de uma forma adequada). Muitas babás são boas cuidadoras, porém pouco
estimuladoras.

2 O QUE SÃO OS TRANSTORNOS DE LINGUAGEM?

Fonte: anagamonal.blogspot.com.br

Partindo-se do pressuposto de que a principal ferramenta para o ser humano


interagir com o mundo e formar vínculos é a linguagem, conclui-se que dificuldades

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nos campos social e intelectual podem emergir caso exista algum problema no pro-
cesso de desenvolvimento da linguagem do indivíduo. Tais dificuldades são identifi-
cadas por baixo rendimento acadêmico, isolamento social ou retardo no desenvolvi-
mento cognitivo, que por sua vez, acabam sendo responsáveis por prejuízos no de-
senvolvimento psicológico da criança, podendo gerar transtornos de conduta ou emo-
cionais significativos. Dessa forma, vários casos de Transtornos de Linguagem são
assistidos tanto pelo fonoaudiólogo quanto pelo psicólogo e/ou outros profissionais.

Fonte: famoni.blogspot.com.br

Entende-se por Transtornos de Linguagem os quadros que apresentam des-


vios nos padrões normais de aquisição da linguagem desde suas etapas iniciais. En-
tretanto, crianças normais variam amplamente na idade na qual elas iniciam a aquisi-
ção da linguagem falada e no ritmo no qual as habilidades de linguagem se tornam
firmemente estabelecidas.
Existem diferentes tipos de Transtornos de Linguagem, embora seja frequente
a presença de comorbidades, tanto entre si, como entre transtornos psicológicos.
Sendo assim, muitas crianças que apresentam atrasos na aquisição da linguagem,
possuem dificuldades de leitura e escrita, e também problemas nos relacionamentos
interpessoais, que levam respectivamente, a um rendimento escolar deficiente e a
possíveis transtornos da esfera emocional e de comportamento. Embora a criança
que apresenta algum quadro de Transtorno de Linguagem seja capaz de se comunicar

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melhor em situações que lhe sejam familiares, o comprometimento da linguagem
existe em qualquer situação.

Fonte: fopifono.com/category/fala-e-linguagem/

As etiologias das alterações da linguagem e da fala podem envolver aspectos


genéticos, degenerativos, lesionais, ambientais e/ou emocionais. Alguns autores clas-
sificam os transtornos com base em dois tipos de fatores que podem alterar e incidir
desfavoravelmente na evolução da comunicação e da linguagem: fatores orgânicos,
sejam eles genéticos, neurológicos ou anatômicos e fatores emocionais. Entretanto,
outros autores consideram que a diferenciação entre os transtornos de etiologia orgâ-
nica e psicológica pode resultar mais útil no adulto, embora ambos os tipos de fatores
devam ser considerados de forma integrada. Na criança essa diferenciação está ul-
trapassada, já que o efeito de qualquer fator orgânico ou psicológico tem repercussões
sobre o conjunto de processos de ordem psicológica que constituem a aquisição e o
desenvolvimento da linguagem.

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2.1 Tipos de Transtornos de Linguagem2

Fonte: www.rhemaeducacao.com.br

Os transtornos que interferem na comunicação do indivíduo, podem estar rela-


cionados à fala, à linguagem, à audição ou à voz.

2.1.1.1 Dislalia

Normalmente até os 6 anos de idade, a maioria dos sons da fala já está adqui-
rida. A dislalia ou transtorno específico de articulação da fala corre quando a aquisição
dos sons da fala pala criança está atrasada ou desviada, levando a:

 Má articulação e consequente dificuldade para que os outros a entendam;


 Omissões, distorções ou substituições dos sons da fala;
 Inconsistência na co-ocorrência de sons (isto é, a criança pode produzir fone-
mas corretamente em algumas posições nas palavras, mas não em outras).

A gravidade do distúrbio articulatório varia de pouco ou nenhum efeito sobre a


inteligibilidade da fala até uma fala completamente ininteligível, embora mesmo nestes
casos, as pessoas da família compreendam o que a criança quer expressar.
Existem vários fatores etiológicos, além dos aspectos que favorecem indireta-
mente a existência e manutenção da alteração, como:

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Texto original extraído do link: http://www.plenamente.com.br/artigo/197/-que-sao-os-transtornos-linguagem-cau-
sas.php#.WMcPOfJCjiA

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 Permanência de esquemas de articulação infantis;
 Déficit na discriminação auditiva;
 Déficit na orientação do ato motor da língua.

Alterações na respiração, inadequação da mastigação e deglutição, hábitos


orais inadequados (uso prolongado da chupeta e mamadeira, onicofagia e sucção de
dedo), podem causar prejuízos anatômicos e funcionais no sistema orofacial da cri-
ança, alterando os movimentos adequados e necessários para a produção correta dos
fonemas.
Diversas classificações são encontradas para o distúrbio articulatório, entre-
tanto, a classificação abaixo é bastante esclarecedora:

 Dislalias fonológicas: os mecanismos de conceitualização dos sons e as re-


lações entre significantes e significados estão afetados, os sons não se orga-
nizam em sistemas e não existe uma forma apropriada de usá-los em um con-
texto;
 Dislalias fonéticas: determinadas por processos fisiológicos, de realização ar-
ticulatória com traços característicos de incoordenação motora e/ou insensibi-
lidade orgânica.

Existem alterações articulatórias nos casos de disartrias, entretanto estas são


ocasionadas por danos cerebrais.

2.1.1.2 Disfemia

A disfemia é conhecida pela dificuldade em manter a fluência da expressão


verbal, é um transtorno de fluência da palavra, que se caracteriza por uma expressão
verbal interrompida em seu ritmo, de maneira mais ou menos brusca. O tipo mais
comum de disfemia é a gagueira, também chamada de tartamudez.

25
Fonte: transtornosdafluencia.blogspot.com.br

A tartamudez se caracteriza pela interrupção da fluência verbal, por meio de


repetições ou prolongamento dos sons, sílabas ou palavras. Frequentemente, ela vem
acompanhada de movimentos corporais, como balançar os braços e as mãos, piscar
os olhos ou tremor labial, na tentativa de superar o bloqueio da fala. Observa-se que
a frequência e a intensidade da gagueira estão associadas ao estado emocional do
indivíduo.
Muitas crianças apresentam uma disfluência, também chamada gagueira fisio-
lógica, entre os dois e cinco anos de idade, o que é considerado normal, visto que o
desenvolvimento e a aquisição da linguagem se dão de forma intensa nesse período.
A criança apresenta uma fala vacilante, repetições de vocábulos, semelhantes ao ga-
guejar, mas assim como a disfluência aparece, com o desenvolvimento da criança ela
cessa. Recomenda-se não chamar a atenção da criança a respeito desse comporta-
mento, nem corrigi-la ou completar frases e palavras por ela. Nessa fase pais e pro-
fessores necessitam paciência e a espera para que a criança possa voltar a falar com
ritmo normal. A procura por um tratamento só deve ser feita se a disfluência perma-
necer após essa fase.
Não se reconhece uma etiologia única para a gagueira, e as formas terapêuti-
cas e abordagens de tratamento são variadas, visando em alguns casos uma melhor
adaptação social e emocional, passando pelo enfrentamento de situações de exposi-
ção verbal, pela diminuição da ansiedade e o aumento da autoestima.

26
2.1.1.3 Afasia

Fonte: hazmehablar.wordpress.com

As afasias compreendem os transtornos de linguagem causados por uma lesão


cerebral, ocorrida após a aquisição total da linguagem ou durante seu processo. Exis-
tem diferentes tipos de afasias, porém elas são definidas de acordo com o local lesio-
nado.
Independentemente do local da lesão, a afasia é vista como um transtorno de
linguagem no qual existe uma perda parcial ou total da capacidade de expressão dos
pensamentos por sinais e da compreensão dos mesmos. Assim, entende-se que a
afasia é a incapacidade de compreender a palavra falada, de leitura e escrita, embora
essas últimas se apresentem em graus variáveis.

2.1.1.4 Disfonias

Embora não estejam incluídas nos transtornos de linguagem, as disfonias im-


plicam as alterações na qualidade da voz ou em sua emissão, consequente de distúr-
bios orgânicos ou funcionais das cordas vocais ou ainda por uma respiração incorreta.
A disfonia pode se apresentar através da rouquidão, soprosidade ou aspereza da voz.

27
Fonte: www.ativaclinica.com.br

As circunstâncias afetivas, emocionais, os fatores culturais e estéticos, a


idade, o sexo, as exigências e autovalorização da própria voz são fatores que influem
diretamente na avaliação da patologia da vocal.
As disfonias podem ser causadas por alterações orgânicas, desarmonia ou
incoordenação dos músculos respiratórios, laríngeos e das cavidades de ressonân-
cia, principalmente geradas pelo mau uso ou abuso vocal.
O otorrinolaringologista deve ser o médico que fará exames clínicos para di-
agnóstico juntamente com o fonoaudiólogo que atuará na reabilitação vocal.

28
2.2 Apraxia de fala na infância

Fonte: www.babysignlanguage.com/

Crianças que apresentam um atraso no desenvolvimento da fala e/ou da lin-


guagem, ou que falam errado, não apresentam os mesmos problemas e os motivos
do atraso também podem ser diferentes. A gravidade das alterações também varia
(existem atrasos que são mais leves e outros que são graves e que podem, inclusive,
afetar a aprendizagem, o rendimento acadêmico e até persistir na idade adulta).
Na área da fala e da linguagem, identificar e diferenciar estas alterações é o
primeiro passo para o diagnóstico correto e para o planejamento adequado das con-
dutas terapêuticas. É necessário planejar e elaborar um programa de intervenção para
cada caso e para cada família.
É uma dificuldade em realizar voluntariamente os movimentos necessários à
produção dos sons da fala ou sequência de sons e sílabas, devido alteração na pro-
gramação motora da fala.
Crianças com este diagnóstico podem apresentar: fala com trocas, com uma
pronúncia imprecisa (articulação lentificada); com uma “melodia diferente” (alteração
na prosódia), troca de vogais, uso excessivo de gestos. Em crianças pequenas (por
volta de 2 anos), os pais já conseguem perceber que a criança não fala como as outras
crianças (ela consegue compreender o que falam com ela, mas não consegue se ex-
pressar, usa muitos gestos ou apenas vogais para se comunicar).
29
Embora a criança possa apresentar uma compreensão adequada, a expressão
da fala é muito comprometida.

2.3 Atraso/Retardo na Aquisição e no Desenvolvimento da Linguagem

Fonte: www.pinterest.com

Ocorre quando uma criança desenvolve a fala e a linguagem de uma forma


mais lenta que as outras crianças da mesma idade. Por exemplo, a criança tem 2 anos
e meio e, ainda não fala frases.
São crianças que demonstram ter uma compreensão adequada, interagem,
olham, brincam, sorriem, mas falam pouco, quando comparadas às outras crianças
da mesma idade.
Em geral, este tipo de atraso está relacionado à falta de estímulos adequados
e com orientações e intervenções apresentam evoluções e este atraso pode ser su-
perado. Muitas vezes, por serem crianças "espertas" e inteligentes, os pais não pro-
curam ajuda e isso pode prejudicar o desenvolvimento da criança.

30
2.4 Distúrbio Específico de Linguagem

Fonte: www.kidstalkmatters.com

Existem crianças que aparentemente, apesar de não terem nenhum problema,


ou seja, são inteligentes, ouvem bem, não apresentam nenhum problema emocional,
não apresentam problemas neurológicos, síndromes genéticas, não conseguem de-
senvolver a fala e a linguagem conforme o esperado.
Em geral, crianças com este distúrbio, já realizaram diversos exames com re-
sultados normais ou já passaram por vários especialistas. E apesar disso, a dificul-
dade no desenvolvimento da linguagem persiste.
O Distúrbio Específico de Linguagem (DEL), é uma alteração persistente da
fala e da linguagem e que pode acompanhar o indivíduo durante toda a vida (inclusive
na idade adulta), gerando dificuldades escolares, sociais, comportamentais e de adap-
tação.

2.5 Transtorno Fonológico (Troca de Sons na Fala)

É uma dificuldade de fala e de linguagem, bastante frequente, caracterizada


pelo uso inadequado dos sons da fala, de acordo com a idade. Crianças com idade
igual ou superior a 4 anos, aproximadamente e que apresentam alteração no desen-
volvimento da fala em diferentes graus. Os desvios na fala não se limitam a alterações
na força ou mobilidade dos órgãos responsáveis pela fala, mas são decorrentes de
dificuldades na aquisição das consoantes da sua língua materna.
31
Fonte: ericasitta.wordpress.com

O nome Desvio Fonológico tem origem na dificuldade de formação desse ar-


quivo de sons pelo cérebro (sistema fonológico) e irá se caracterizar por trocas na fala
inesperadas para sua idade e tipo de estímulo recebido durante o seu desenvolvi-
mento. As trocas mais frequentes são:

• S por CH, como chapo ao invés de sapo;

• R por L, balata ao invés de barata;

• V por F, faso por vaso;

• Z por S, sebra por zebra;

• Alterações na ordem das sílabas ou nos sons das palavras: mánica


(máquina), tonardo (tornado);

Pode envolver erros na produção, percepção ou na organização dos sons. Po-


dem ocorrer graus variados de severidade (desde formas mais leves, por exemplo,
trocas de R por L (a criança fala “molango” para morango), até formas mais graves,
ocasionando uma fala de difícil compreensão (fala ininteligível). Estas alterações nos

32
sons da fala podem interferir no rendimento escolar, e ocasionar dificuldades de
aprendizagem.

2.6 Alterações na Motricidade Oral / Distúrbio Miofuncional Orofacial

Fonte: susanadias.pt

São alterações estruturais e/ou funcionais dos órgãos fonoarticulatórios (lábios,


língua, bochechas, palato (“céu da boca”) e das funções estomatognáticas, como a
sucção, respiração, mastigação e deglutição. São frequentes em pacientes com alte-
rações odontológicas/ortodônticas, crianças com hábitos orais nocivos (chupeta, roer
unhas, etc) e com hábitos de alimentação inadequados (por exemplo, preferência por
alimentos pastosos, "fáceis" de mastigar"). As alterações na motricidade oral também
estão presentes nas pessoas que possuem padrão respiratório oral (respiram pela
boca).
Crianças com este tipo de alteração podem apresentar: lábios, língua mais flá-
cidos (hipotonia), não conseguem mastigar o alimento, mantém lábios entreabertos,
alterações oclusais, posturais, etc.

33
3 DISTÚRBIO ESPECÍFICO DA LINGUAGEM (DEL)

Fonte: www.cfligiamotta.com.br

Cerca de 3 a 10% da população apresenta o Distúrbio Específico de Linguagem


(DEL), que parece acometer um maior número de meninos do que meninas.O DEL
refere-se a crianças que apresentam dificuldade em adquirir e desenvolver habilida-
des de linguagem na ausência de deficiência mental, déficits físicos e sensoriais, dis-
túrbio emocional importante, fatores ambientais prejudiciais e lesão. Elas apresentam
uma visível discrepância entre o desenvolvimento global e o desenvolvimento de lin-
guagem, mas a comunicação não-verbal costuma estar intacta.
Podemos encontrar na fala de parte destas crianças (já que existem variações
do problema):
 Pouca memória para uma sequência de sons, por isso tendem a falar em um
primeiro momento basicamente monossílabos;
 Dificuldade no planejamento motor da produção dos fonemas;
 Frases desestruturadas e/ou construídas na ordem inversa;
 Vocabulário reduzido;
 Trocas na fala;
 Dificuldades na compreensão (ou não).

3.1 Fluência

Existem vários Transtornos da Fluência como pode ser visualizado abaixo:

34
 Gagueira do desenvolvimento - É considerada um Transtorno da Fluência,
caracterizado por repetições de sílabas ou sons, prolongamentos, bloqueios,
interjeições de sons e uso de expressões como: "éh", "ãh", marcadores discur-
sivos: "tipo assim", "aí". Acomete 5% da população. A maior parte dos casos
se inicia paralela à aquisição da linguagem e do desenvolvimento neuropsico-
motor, entre 2 e 4 anos. No entanto, cabe ressaltar que nessa fase gaguejar
pode ser comum (gagueira fisiológica), mas a criança supera rapidamente. Si-
nais de risco seriam o fato de perdurar ou de mostrar sinais muito intensos.
A gagueira é involuntária, não é possível controlar a sua ocorrência, e é de
suma importância não chamar a atenção da criança para os momentos de gagueira,
não forçá-la a falar nem constrangê-la.
 Taquifemia - as principais características são: a velocidade de fala rápida que
compromete o entendimento da mensagem, hesitações e disfluências, e uma
irregularidade, momentos de melhora e piora no discurso.
 Taquilalia - é caracterizada pela velocidade de fala alta que compromete o
entendimento da mesma, porém não encontramos momentos de disfluências.

3.2 Alterações semântico-pragmáticas

Fonte: estudandoletras4.blogspot.com.br

35
Podem ser decorrentes de várias dificuldades, incluindo um subtipo de DEL, ou
características do espectro autístico. Diz respeito à competência comunicativa. Não
basta falar todos os sons da língua e estruturar fases complexas (estes podem ou não
estar prejudicados), deve-se falar o conteúdo certo para o momento exigido. Como
exemplo de alguns comportamentos linguísticos pode-se citar:
 Leva o adulto como instrumento para conseguir o que deseja, no lugar de se
manifestar verbalmente ou por gestos ou expressões faciais;
 Pouca intenção de iniciar ou manter um diálogo;
 Mesmo que se expresse bem, a troca de ideias é restrita (não há reciprocidade
na comunicação);
 Mais facilidade para listar palavras ou situações do que para contar histórias;
 Dificuldade com a linguagem figurada, incluindo a compreensão de metáforas
e/ou piadas;
 Ingenuidade em situações sociais, com dificuldade em se colocar no ponto de
vista dos outros;
 Tendência a superfocar em objetos ou assuntos em particular, em detrimento
de uma visão mais global sobre a situação ou assunto.

36
4 BIBLIOGRAFIA

ANDRADE C. Abordagem neurolinguística e motora da gagueira. In: Tratado de


fonoaudiologia. São Paulo:Roca;2004.

AIRMARD, PAULE. O surgimento da linguagem na criança. Porto Alegre, Artmed,


1998.Chevrie-Muller, C., Narbona, J. A Linguagem da criança: aspectos normais e
patológicos.Porto Alegre, Artmed, 2005.

ARDOUIN, J., BUSTOS, C., GAYÓ, R., JARPA, M. Transtornos del lenguaje en la
infancia, 2000.

BEE, H. A CRIANÇA EM DESENVOLVIMENTO, Porto Alegre, Artes Médicas, 2011.


SCHEUER, C.; Befi-Lopes, D.M, Wertzner. Desenvolvimento da Linguagem: uma
introdução.

BOONE D, Plante E. COMUNICAÇÃO HUMANA E SEUS DISTÚRBIOS. 2ª ed. Porto


Alegre:Artes Médicas;1994

Wertzner, H.F. Estudo da aquisição do sistema fonológico: crianças de três a sete


anos. Fonoaudiologia Informação para a Formação. Guanabara Koogan, 2003.

MERÇON S, NEMR K. Gagueira e disfluência comum na infância: análise das ma-


nifestações clínicas nos seus aspectos qualitativos e quantitativos. Rev. CEFAC.
2007;9(2).

RIBEIRO IM. Conhecimentos essenciais para atender bem a pessoa com ga-
gueira. Coleção CEFAC. 1ª ed. Ed Pulso; 2003.

ZORZI J. A intervenção fonoaudiológica nas alterações de linguagem infantil. 2ª


ed. Editora Revinter; 2008.

37
5 LEITURA COMPLEMENTAR

Autores: Maria da Graça Chamma Ferraz e Ferraz;


Tassiana Barbeiro Fragoso; Andréa Regina Nunes Mis-
quiatti
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282013000100009
Acessado em: 14/03/2017

ESTUDO PSICOLÓGICO DE UM CASO DE DISTÚRBIO DE LINGUAGEM

RESUMO
Buscamos descrever o caso de um menino de 6 anos, portador de distúrbio de linguagem associado a
transtornos neurológicos, em terapia da linguagem. Relacionando as características psicopatológicas
do paciente com um comprometimento neurológico pré-frontal, entendemos que os dois resultam em
manifestações de agressividade verbal e física, bem como no distúrbio severo da linguagem. Espera-
mos ter contribuído para a compreensão dos distúrbios da comunicação associados aos sintomas psi-
cogênicos e de transtornos neurológicos.

Descritores: distúrbio da linguagem; distúrbios psicogênicos; relação simbólica; vín-


culo objetal.

ABSTRACT
Our intention was to describe the case of a six-year-old boy, carrier of a language disturbance associ-
ated to neurological disorders, in language therapy. Our goal was to build instruments for the diagnosis
of similar cases. Relating the patient's psychopathological characteristics with a neurological disease,
we understood that both results in manifestations of verbal and physical aggressiveness as well as in
the severe disturbance of the language. We hope we have contributed to the understanding of the dis-
turbances of communication associated to psychogenic symptoms and of neurological disorders.

Index terms: language disorder; psychogenic disturbances; symbolic changes; ob-


jetal relations.

RESUMEN
Nuestra intención fue describir el caso de un niño de seis años, portador de una perturbación del len-
guaje asociado a un problema neurológico, en la terapia del lenguaje. Relacionando las características
psicopatológicas del paciente con un compromiso neurológico prefrontal, entendemos que los dos re-
sultan en manifestaciones de agresividad verbal y física, así como en la perturbación severa del len-
guaje. Esperamos haber contribuido a la comprensión de las perturbaciones de la comunicación asoci-
adas a los síntomas psicogénicos y de problemas neurológicos.

38
Palabras clave: perturbación del lenguaje; perturbaciones psicogénicas; intercam-
bios simbólicos; vínculo objetal.

1. Introdução
Nossa proposta de trabalho, enquanto profissionais de formação psicológica ou
fonoaudiológica, membros de uma equipe multidisciplinar, é proceder a estudos na
tentativa de traçar perfis dos pacientes da comunicação que apresentam sintomas
psicogênicos e, consequentemente, contribuir para a prática diagnóstica e terapêutica
junto a eles.
Este trabalho buscou relatar o perfil de um paciente com sintomas de distúrbio
psicogênico associado a distúrbio neurológico. Luiz, que contava 6 anos e 6 meses à
época deste estudo, foi encaminhado pela escola para a terapia fonoaudiológica. Sua
condição psicológica, neurológica e fonoaudiológica, então, era bastante precária. A
seguir, comentaremos as três instâncias referidas, buscando fundamentação na psi-
canálise e em estudos neurológicos.

A condição fonoaudiológica
Luiz apresenta linguagem oral pouco desenvolvida, considerando que suas pri-
meiras palavras foram emitidas aos 2 anos e 8 meses. Comunica-se preferencial-
mente pela fala, respondendo quando solicitado e trocando turnos, mas com frases
curtas e às vezes com uma única palavra. Em alguns momentos, ele apresenta fala
sem significado e descontextualizada. Além disso, poucas vezes inicia uma conversa.
Comunica-se com a mãe apontando o que quer, possui fala parcialmente ininteligível,
e revela distúrbio fonético, fonológico e gagueira. Quanto à funcionalidade de objetos
domésticos, tais como copo, faca, pente, caneta, etc., a criança mostra um bom de-
sempenho.
Segundo Peña-Brooks e Hedge (2000) e Wertzner (2002), citados por Wertz-
ner, Amaro e Teramoto (2005),o distúrbio fonológico é definido como uma alteração
de fala caracterizada pela produção inadequada dos sons e uso inadequado das re-
gras fonológicas da língua, com relação à distribuição do som e ao tipo de sílaba, que
resultam no colapso de contrastes fonêmicos, afetando o significado da mensagem.
A causa do distúrbio é desconhecida, sendo a gravidade e a inteligibilidade de fala de

39
graus variados. (p. 186) Wertzner et al. (2005), citando Stoel Gammon e Dunn (1985),
comentam que,do ponto de vista linguístico, a literatura aponta que as crianças com
distúrbio fonológico têm características de fala similares, tais como inventário de sons
reduzido, estrutura silábicas simples, e uso de um número limitado de processos fo-
nológicos, em geral semelhantes aos das crianças normais, sendo que algumas usam
processos idiossincráticos. (p. 186)
O desvio fonético caracteriza-se por um comprometimento motor com etiologia
orgânica. Ele pode ser causado por uma falha na arcada, produzida pela perda de um
dente, ocasionando alterações na produção fonética. Pode ser também consequente
da presença de um "frênulo lingual" (uma pequena tira de tecido que une a língua ao
assoalho da boca) curto ou grosso, ou mesmo da ausência de frênulo. Essas situa-
ções inadequadas de frênulo lingual (vulgarmente conhecidas como "língua presa")
impedem a movimentação adequada da língua para a produção de alguns fonemas.
Aliada às condições fonético-fonológicas já explicitadas, temos no caso de Luiz
a precariedade no estabelecimento de relações simbólicas no plano das operações
psíquicas, cognitivas e linguísticas. Estamos falando da dificuldade de aquisição da
estrutura mental a que Jean Piaget (1969) chamou de "função simbólica", que se
forma no período entre 2 e 7 anos de idade. Essa estrutura é fundamental para a
aquisição da linguagem porque é ela que possibilita o movimento de representação
mental.
Pensar o conceito de representação mental implica trabalhar com o conceito
de "signo linguístico". A teoria linguística nos oferece a definição do signo como sendo
composto por significante (imagem) e significado (conceituação sobre o "referente", a
"coisa"). Um signo linguístico, portanto, corresponde a um conceito sobre uma dada
realidade e a uma imagem (fônica, gráfica ou gestual) que possa comunicar esse con-
ceito de interlocutor a interlocutor, em uma dada comunidade sociolinguística. A re-
presentação mental é justamente esse movimento que remete o indivíduo, a partir de
um significante, a um significado. Podemos nos referir a esse movimento de repre-
sentação mental também como "operação significante", que permite ao indivíduo co-
municar-se em seu ambiente sociolinguístico.
A nossa experiência terapêutica, em equipe multiprofissional, tem deixado ób-
vio que a aprendizagem dos signos tem início no desenvolvimento psíquico e que um

40
psiquismo malformado impossibilita a aprendizagem das operações significantes. En-
tendemos ainda que a aprendizagem dos signos "mãe", "pai" e "filho", que acontece
nos primórdios da constituição do psiquismo e no plano dos afetos, é precursora e
condição indispensável para a constituição do sujeito das operações significantes nos
planos psíquico, cognitivo e linguístico. Sugerimos que a aprendizagem dos primeiros
signos, "pai", "mãe" e "filho", no caso de Luiz, não aconteceu de forma satisfatória.
Passamos, a seguir, à análise das condições de desenvolvimento psicológico de Luiz,
buscando mostrar como a precariedade do sujeito psíquico pode ter acarretado a pre-
cariedade do desempenho linguístico.

A condição psicológica
Luiz apresenta comportamentos agressivos na maior parte do tempo das ses-
sões terapêuticas. Mostra, ainda, dificuldade em simbolizar, ou seja, não é capaz do
jogo de "faz de conta" e não sabe brincar. Lembrando Laplanche e Pontalis (2001),
quando explicitam o conceito psicanalítico de relações simbólicas, sugerimos que a
dificuldade de simbolizar de Luiz indica transtornos na constituição das relações sim-
bólicas. Como comentamos anteriormente, tais relações são fundamentais, desde o
plano da constituição do sujeito psíquico até a constituição do sujeito linguístico – este
último, necessário para um desempenho satisfatório da linguagem. Entendemos com
a psicanálise lacaniana (Vallejo & Magalhães, 1991) que os elementos de organização
do inconsciente, os significantes, estão associados à situação edípica (Vallejo & Ma-
galhães, 1991). Os significantes são representações das experiências vividas princi-
palmente durante a fase fálica do desenvolvimento do psiquismo. A operação signifi-
cante que constrói o inconsciente e vai, simultaneamente, permitir a constituição do
sujeito da linguagem é movimento de reapresentação do mundo ao ego; um movi-
mento obediente às leis universais do psiquismo humano. Isto quer dizer: um movi-
mento de fundação de modelos humanos de efetuação dos afetos. Laplanche e Pon-
talis (2001), indicando o conceito freudiano de complexo de Édipo, observam que os
referidos modelos são fundados à imagem das relações efetuadas no triângulo fami-
lialista, pai-mãecriança, pensado por Freud. As relações simbólicas, portanto, são da
instância da fundação do sujeito psíquico, ou seja, da instância da inscrição da natu-
reza primária, instintual, na Ordem Simbólica (Vallejo & Magalhães, 1991).

41
A agressividade apresentada por Luiz pode ser compreendida a partir dessa
dificuldade de reapresentação da realidade ao ego. Seu comportamento está mais
fundado em ações instintuais, e é evidente que encontrou dificuldade no estabeleci-
mento das relações objetais, ideia explicitada por Laplanche e Pontalis (2001) que
designa os modos produtivos de relações do indivíduo com o seu mundo, apresen-
tando resultados complexos de uma certa organização da personalidade a partir do
recalcamento da pulsão incestuosa. Sugerimos que a criança encontrou dificuldades
na constituição do ego e no estabelecimento de vínculos afetivos satisfatórios.
Luiz é filho adotivo. A mãe adotiva relatou ter superprotegido a criança pelo fato
de esta apresentar disritmia cerebral desde os 2 anos e 8 meses. Esse problema neu-
rológico pode ter levado, de fato, a mãe adotiva a superproteger a criança, o que con-
tribui intensamente para o enfraquecimento de vínculos objetais. Luiz apresenta com-
portamentos bastante agressivos com colegas de escola, professores e terapeutas.
Em geral, se comporta de maneira inadequada para a sua idade e refere-se constan-
temente a situações relacionadas com a morte de pessoas e animais.
Segal (1975) afirma que a posição esquizoparanoide, uma das fases do desen-
volvimento psicológico esperado, é caracterizada pela divisão do psiquismo em expe-
riências boas (seio bom) e experiências más (seio mau). No desenvolvimento cha-
mado normal, as experiências boas vividas pela criança predominam sobre as expe-
riências más. No desenvolvimento normal, a posição esquizoparanoide é caracteri-
zada por uma divisão entre objetos bons e maus, e entre o ego que ama e o ego que
odeia. No desenvolvimento esperado, as experiências boas predominam sobre as
más. No desenvolvimento malsucedido, o seio mau prevalece na condução da vida
de relações.
O comportamento manifesto de Luiz sugere que as experiências más sobrepu-
seram-se às experiências boas e o dado de que a mãe de Luiz é superprotetora nos
leva a questionar se o comportamento materno permitiu o processo adequado de
constituição do ego e a emergência satisfatória do Outro lacaniano (Vallejo & Maga-
lhães, 1991), ou seja, da estrutura mínima para a introjeção das regras do convívio
social. Lacan pensa o inconsciente como uma cadeia de significantes (Vallejo & Ma-
galhães, 1991). Esses significantes estão associados ao complexo de Édipo, pois são
representações de experiências vividas principalmente durante a fase fálica, que
ocorre por volta dos quatro anos de idade. Os significantes associam-se na construção

42
de significados (eu, outro, pai, mãe, filho) intrapsíquicos. Os modelos são fundados à
imagem das relações efetuadas no triângulo familialista (pai-mãe-criança) pensado
por Freud. Se a relação mãe-criança não for mediada pelo pai, o interditor do corpo
materno, a construção do mundo intrapsíquico pode se alterar, pois esta construção
ocorre pela atuação do símbolo fálico, representante do poder castrador do pai ou da
mãe. A mãe porta o "falo embutido", que é o significante intrapsíquico fundamental,
pois construirá os primeiros significados do mundo psíquico, tais como pai, mãe e filho.
Então, pode-se dizer que o falo simbólico, enquanto significante fundamental do psi-
quismo, dá forma aos conteúdos inconscientes, que são estruturas simbólicas.
Considerando que Luiz dorme entre os pais desde bebê, além de ter sempre
recebido uma atenção especial de sua mãe, sem grande atuação do pai, entendemos
que a interdição paterna não foi feita corretamente, já que o pai não interferiu na rela-
ção da mãe e da criança. Dessa forma, Luiz não atribui poder ao falo (ao pai); não
criou esse significante fundamental do inconsciente, responsável pela fundação do
superego e, portanto, da socialização. A consequência disso foi a fragilidade egoica e
a precariedade da construção do mundo intrapsíquico. Tal mundo é uma estrutura
simbólica que a psicanálise descreve como sendo produto de uma perda, pelo fato de
a criança ter renunciado ao corpo da mãe, em nome do pai.
Os comportamentos de Luiz não parecem demonstrar internalização das leis
sociais, internalização essa que se refletiria em comportamentos mais adequados à
vida social, linguagem mais adequada e mais eficiente na comunicação. Sugerimos
que Luiz apresenta um psiquismo diferenciado, do tipo psicótico, o que dificulta sua
inserção na linguagem e no grupo social. Na patologia do tipo psicótico, a pessoa
apresenta maior ou menor dificuldade de inserção na linguagem, dependendo da
maior ou menor fragilidade do ego. O processo simbólico tem início na instância do
psiquismo e se estende para a instância cognitiva de constituição dos signos pertinen-
tes à língua da comunidade em que a pessoa se insere. A constituição dos significa-
dos e significantes linguísticos, bem como a manutenção de uma relação estável (não
flutuante) entre eles, se torna possível porque o significante fálico, intrapsíquico, re-
cortou os primeiros significados, quais sejam: pai, mãe, filho. Na ausência ou na pre-
cariedade da linguagem, a inserção social se torna muito mais difícil também.

43
Dissemos acima que a criança se refere constantemente ao tema da morte e
repete compulsivamente as palavras "sangue" e "fogo". Exemplo de diálogo entre cri-
ança e terapeuta da linguagem: a terapeuta lê um trecho de história infantil: "Joãozi-
nho colocou as pedras no bolso". Em seguida, pergunta à criança: "O que Joãozinho
fez mesmo, Luiz"? Ao que a criança responde: "Pegou fogo!" Em outro momento a
terapeuta folheia um livro de figuras com a criança, aponta para a figura de um pato e
pergunta: "Você gosta do pato?", ao que a criança responde: "O pato tem sangue?
Em casa mata pato".
Verificamos com a mãe adotiva que não se matam animais na casa da criança,
mas sim no sítio em que seus pais trabalham e onde Luiz já foi várias vezes. A mãe
disse que assim que Luiz chega ao sítio corre a jogar pedras nas galinhas, dar paula-
das e tentar matar os porquinhos. Sugerimos que o instinto de morte prevalece no
psiquismo de Luiz, e seus comportamentos demonstram a prevalência de seio mau,
de experiências ruins e mortíferas. Nesse caso, o ego deflete o instinto de morte, con-
vertendo-o, em parte, em agressividade (Segal, 1975). Os comportamentos agressi-
vos de Luiz foram relatados pela mãe: "ele bate e puxa o cabelo dos colegas de escola
e chama a terapeuta por 'biscatinha'".
Além disso, a mãe referiu que a criança limpa a secreção do nariz nas outras
crianças e sempre tenta "sujar" as pessoas com o que tiver na mão. Certa vez, man-
chou propositalmente, com sumo de tangerina, a calça de uma jovem que passava
pela rua.

A condição neurológica
Outro fator que pode estar produzindo os comportamentos inadequados dessa
criança é um comprometimento no lobo encefálico frontal, que é caracterizado princi-
palmente por alterações no comportamento. De acordo com o DSM-IV-R: Manual Di-
agnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Associação Americana de Psiquiatria,
1994) as lesões no lobo frontal podem proporcionar uma alteração significativa dos
modos de comportamento do indivíduo. As alterações dizem respeito particularmente
à expressão das emoções, das necessidades e dos impulsos. O quadro clínico pode
apresentar também alteração das funções cognitivas, do pensamento e da sexuali-
dade.

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A área cerebral pré-frontal, que é a área mais anterior do cérebro, pode estar
relacionada com algum tipo de memória para fatos recentes, com a escolha das op-
ções e estratégias comportamentais mais adequadas à situação física e social do in-
divíduo, assim como com a capacidade de alterá-las quando tais situações se modifi-
cam. Machado (1993) observa que essa área também é responsável pela manutenção
da atenção e controle do comportamento social. De acordo com a descrição das fun-
ções da área pré-frontal, e de acordo com exame neurológico realizado, é possível
inferir uma alteração, no caso de Luiz, já que seus comportamentos e atitudes também
permitem essa inferência. Como já foi dito, Luiz apresenta comportamentos agressi-
vos e socialmente inadequados, fala descontextualizada e dificuldade na resolução
de problemas cotidianos de relacionamento social. Além disso, não mostra habilidade
de monitorar seu próprio comportamento de acordo com a sua idade e em poucos
períodos toma alguma iniciativa. Portanto, concordando com Mattos, Saboya, & Ara-
újo (2002), essa criança apresenta comprometimento sócioocupacional que é compa-
tível com uma alteração de funções frontais.
Rodríguez, Albuquerque & Arenas (1999) apontam que o quadro clínico de um
indivíduo com alterações no lobo frontal pode comportar alterações das funções cog-
nitivas, do pensamento e da sexualidade, segundo as classificações internacionais.
Quando observamos Luiz, não temos dificuldades de inseri-lo na descrição da
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Sa-
úde – décima revisão (Organização Mundial da Saúde, 1993) e do DSM-IV-R (Asso-
ciação Americana de Psiquiatria, 1994), visto que, de acordo com resultados de ava-
liação fonoaudiológica, essa criança também apresenta comprometimentos nas fun-
ções cognitivas. Luiz mostra comportamentos não esperados para a sua idade com
relação à sexualidade. Segundo informações colhidas com a mãe, ele expõe seu ór-
gão sexual aos colegas da escola e a pessoas desconhecidas, bem como o manipula
frente a qualquer pessoa. Machado (1993) descreve outra dificuldade encontrada em
pacientes com alterações frontais: a de fixação da atenção. Essa habilidade também
se encontra comprometida no caso de Luiz.

Considerações finais

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Relacionando as características psicopatológicas do paciente com o compro-
metimento neurológico pré-frontal, conclui-se que os dois fatores estudados se so-
mam, resultando nas alterações comportamentais e de linguagem apresentadas du-
rante as sessões de terapia da linguagem. Esperamos, com este estudo, ter contribu-
ído para o conhecimento dos efeitos dos estados psicológico e neurológico desfavo-
ráveis no desenvolvimento linguístico. Esperamos, ainda, ter contribuído para a com-
preensão das manifestações de sinais fonoaudiológicos nos distúrbios da comunica-
ção associados aos sintomas psicogênicos. Queremos ter contribuído também para a
reafirmação da importância de se compreender as condições psicológicas e a condi-
ção de comprometimento neurológico de localização frontal para o encaminhamento
multiprofissional, em especial o psicológico, bem como para definir as condutas tera-
pêuticas fonoaudiológicas adequadas, em casos como o que foi descrito. Sugerimos
que a desconsideração da condição psicológica, em casos como o descrito, pode tor-
nar a terapia da linguagem improdutiva e, mesmo, ineficiente.

REFERÊNCIAS
Associação Americana de Psiquiatria (1994). DSM-IV-R: Manual Diagnóstico e Esta-
tístico de Transtornos Mentais (4a ed.). Porto Alegre: Artmed.
Laplanche, J. & Pontalis, J. B. (2001). Vocabulário de psicanálise (P. Tamen, Trad.,
4a ed.). São Paulo: Martins Fontes.
Machado, A. B. M. (1993). Neuroanatomia funcional (2a ed.). São Paulo: Atheneu.
Mattos, P., Saboya, E. & Araújo, C. (2002). Seqüela comportamental pós-traumatismo
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neiro: Editora Forense.
Rodríguez, J. L. S., Albuquerque, J. T. L. & Arenas, A. M. S. (1999). Estudio de un
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