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ALTERAÇÕES DA FALA:

DESVIO FONÉTICO X FONOLÓGICO

Dhébora Heloisa N. dos Santos


Fonoaudióloga - UFPB (2019)
Especialista em Transtorno do Espectro Autista
Mestre em Fonoaudiologia com ênfase em Voz e Funções Orofaciais UFPB\UFRN
Introdução

Fonologia:

-Fonologia é o estudo sonoro da língua, como o idioma se organiza, a  entonação, acentuação,


estrutura silábica, entre outras características.
-

-Hütner (1999), diagnóstico e tratamento – tarefa exclusiva do fonoaudiólogo.

--Trouxe, para a Fonoaudiologia, uma possibilidade de


descrição teoricamente orientada da fala da criança.
Aquisição Fonológica

 Lamprecht (2004): entre o nascimento e a idade, aproximadamente, de cinco anos, ocorre o


processo de maturação fonológica.
 Processo gradativo, não-linear, com variações individuais.
 Até 3m: a criança ainda não atribui valor distintivo aos sons da língua. Sua percepção à fala do
adulto é estritamente fonética.
 +- 8 m: crescimento na capacidade fonológica e a habilidade de discriminação fonética diminui -
ganho fonológico (o bebê começa a distinguir as diferenças úteis no sistema fonológico).
 Na época de produção de fala propriamente dita (+- 1 ano) -conflito entre o sistema fonológico do
adulto-alvo e as limitações na capacidade de categorização de sons, articulação, planejamento
motor, memória fonológica e processamento auditivo (LAMPRECHT, 2004).
Como saber se o desenvolvimento
Fonológico está normal?

A forma mais adequada para se avaliar o desenvolvimento fonológico de uma


criança é comparar a sua produção com o modelo previamente diagnosticado como
normal.
Desenvolvimento da Fala

 RN: O desenvolvimento da fala nos recém nascidos começa logo nos primeiros dias de
vida quando há por parte do RN um interesse pela face humana mais do que objetos, bem
como exibem vontade de fixar seus olhos nos olhos dos pais. A linguagem sempre
começa então, quando há interesse de interação!! Nesse período acontece os primeiros
sons dos seres humanos, onde são esboçados pelos grunhidos, balbucios e o choro.
Desenvolvimento da Fala

 2 MESES: Aos 2 meses, os bebês, começam os balbucios pré-linguístico de forma mais


intensa –Nesse período, eles começar a exibir gargalhadas e viram a cabeça em direção a
sons.

 4 meses : Os balbucios ficam ainda mais intensos. Porém, somado a esses, tem choro de
DIVERSAS FORMAS PARA DEMONSTRAR FOME, CANSAÇO OU DOR. Vemos
aqui, que os choros são as palavras que traduzem: quero brincar, quero comer, quero
colo.
Desenvolvimento da Fala

 6 meses: Os bebês responde a sons fazendo sons, emite sons para demonstrar alegria e
desagrado ,olha quando chamamos seu nome, começa a esboçar sons: AAAAAA, EEEEE e
duplicação de consoantes: MMMMM, BBBBB.

 9-10 meses: Os bebês começam a entender o não, faz duplicações: dadadada ,mamamama,
papapapa, copia gestos,utiliza dedos para apontar coisas. O fato de entender comandos(não) ,
copiar gestos e utilizar os dedos para apontar, é uma comunicação não verbal que não
necessariamente precisa ser expressa em palavras! Se houver intuito de comunicação, já temos
essas manifestações como linguagem!
Desenvolvimento da Fala

 12 meses: As crianças começam a responder a simples solicitações, balançam a cabeça dizendo


não e sim, fazem exclamações, falam papa e mama( não como duplicação, mas chamando.
Diferente do que vemos aos 9- 10 meses. Eles tem a vontade não só de repetir vocábulos, mas
usá-los para chamar a atenção dos pais. Além disso, identificam o próprio nome quando são
chamados.

 18 meses: Estão aptos a se comunicar, formando frases curtas. Além disso, já são capazes de
falar algumas palavras(em média de 10),identifica 1 ou + partes do corpo.
Desenvolvimento da Fala

 2 anos: As crianças começam a compreender e emitir frases, em média com 2-4 palavras.
Nessas frases, contém perguntas, nomes de pessoas e objetos e funções de objetos, partes
do corpo.

 3 anos: Fala muitas frases. No entanto, há erros gramaticais. Consegue dizer onome de
todos os amiguinhos e comunicar em palavras o que estão sentindo, o que querem em
determinado momento.
Desenvolvimento da Fala

 4 anos: Inventa histórias, entende regras(Entender comandos faz parte do


desenvolvimento) e jogos simples, consegue diferenciar os pronomes ele e ela, canta
canções de cabeça, diz nome completo.

 5 anos: Fala corretamente frases completas e todos os sons da língua.


Desvio

 As produções que fogem ao padrão de normalidade são consideradas desvios.

 Desvio = afastamento de padrão e não como distúrbio, já que não há uma desordem, mas
um sistema diferente e inadequado quanto a seu uso.

 As pesquisas em Fonologia Clínica falam em demora na organização do sistema


fonológico, não mais em alteração articulatória.
Desvio

 Lamprecht (2004): “falar errado” era tratado como um problema articulatório, orgânico e
funcional. Havia dois tipos de desvios:
 Os distúrbios de fala realmente causados por disfunções de etiologia conhecida, como as
fissuras de lábio e de palato, as lesões orgânicas focais, como no córtex cerebral,
deficiência mental, auditiva, autismo, entre outras;
 Os de origem não-orgânica, conhecidos pelo termo dislalia.

 Depois, passou-se ao termo “distúrbio articulatório funcional” para o falar errado sem
causa aparente.
Desvio

 Através da análise lingüística da fala dessas crianças, ficou evidente a natureza regular e
previsível das omissões e substituições encontradas, o que levou os estudiosos da área
concluírem que o que existe são desvios de natureza fonológica.

HOJE:

Desvio Fonético x Desvio Fonológico


Desvios: Fonético x Fonológico

Problemas neurológicos que afetam a programação neuro


Distúrbios Neurológicos muscular.
Ex: Disatria , dispraxia Apraxia.

Problema nas Estruturas ósseas e musculares envolvidos na


Alterações músculos –Esqueléticas produção da fala .
Ex: Fissuras, lesões de parte óssea , alterações de forma e
tamanho
Dificuldades que dizem respeito ao domínio de padrão fonêmico
Desvios Fonológicos de língua na ausência de alterações orgânicas detectadas
Desvio Fonológico

 Caracteriza-se pela presença da capacidade de produzir corretamente os sons da fala, mas


mesmo assim continuar apresentando trocas na emissão

 Podem ser caracterizados por uma alteração ou por demora na organização do sistema
fonológico, durante seu processo de aquisição.
Desvio Fonológico

 Grunwell (1982) caracteriza os desvios fonológicos e aponta particularidades:

 Fala ininteligível, em crianças com mais de 4 anos;

 Audição normal;

 Capacidades intelectuais adequadas para o desenvolvimento da


Desvio Fonológico

 Ausência de lesões orgânicas (de órgãos fono-articulatórios e lesões neurológicas);

 Compreensão da linguagem oral apropriada à idade mental;

 Linguagem com vocabulário abrangente e bom uso sintático;

 Estimulação adequada (exposição à língua e à interação social).


Desvio Fonético

 O desvio fonético, segundo Costa (2009), irá ocorrer quando existir uma inadequação ou
um déficit na articulação da fala. Estruturas ósseas e ou musculares e outras funções
orofaciais alteradas serão as responsáveis pelas alterações na fala.

 Aqui se situam as alterações relacionadas a lábios, língua, bochechas, palato mole, dentes,
maxila e mandíbula, faringe e laringe, musculatura da respiração, alterações da face e da
boca e de suas estruturas, alterações na oclusão, respiração oral, aumento ou diminuição da
quantidade de saliva, frênulo alterado, língua com macroglossia, alterações da ATM,
piercings linguais, próteses dentárias, dentre outros (Marchesan, 2004)
Desvio Fonético
Desvio Fonético

 As alterações fonéticas, que também podem ser chamadas de alterações de origem


musculoesqueléticas, referem-se aquelas decorrentes de algum problema na cavidade oral
, o que pode gerar distorções em alguns fonemas.
 Entre as principais, e mais frequentes, encontram-se o ceceio anterior, o ceceio lateral e
as interdentalizações, que acometem respectivamente fones fricativos e linguodentais.
 E, com menor frequência, as posteriorizações e distorções de líquidas, entre outros.
Existe uma gama bem maior de distúrbios musculoesqueléticos, mas os citados aqui são
a realidade encontrada em nossa prática clínica.
Prevalência dos Desvios

 Prevalência de desordens de fala estimada em torno de 25%

 30% entre os meninos e 18% entre as meninas

 Meninos têm 1,7 vezes o risco de apresentar desvios de fala quando comparados a
meninas de mesma faixa etária e condição socioeconômica.
Desvio fonético x Desvio Fonológico

 Quando o indivíduo apresenta dificuldade em entender a estrutura sonora da fala e


juntamente apresenta alterações funcionais que dificultam essa produção.
Desvio fonético x Desvio Fonológico

 Desvio fonético - a pessoa não consegue produzir os sons devido a deficiências


anatômicas, motoras e sensoriais.

 Desvio fonológico - a pessoa é capaz de produzir os sons, mas os utiliza de forma


inconsistente, imatura ou inventada, revelando que os erros têm uma base lingüística.
Avaliação

 Objetivo:

- Avaliar o desenvolvimento e o funcionamento do sistema fonológico.


Objetivos Específicos

 Obter dados de fala que possibilitem estabelecer o inventário da criança;

 Investigar os níveis linguísticos: pragmático, semântico e morfossintático;

 Identificar a natureza das trocas, os processos, os contextos e a sistematicidade;


Objetivos Específicos

 Investigar as regras que operam no funcionamento do sistema fonológico;

 Avaliar percepção x produção;

 Realizar exame clínico da motricidade orofacial (ECMO);

 Comparar os dados da criança com níveis de desenvolvimento pré-estabelecidos pela literatura;

 Avaliar a habilidade metafonológica;


Procedimentos

 Exame clínico da motricidade orofacial (ECMO);

 Testes padronizados (AFC – Yavas, ABFW, ERT, …);

 Elicitação - Provas de repetição e de nomeação de figuras;

 Elaboração de histórias a partir de sequências narrativas;

 Conversa espontânea com situação lúdica...


Procedimentos
Procedimentos
Procedimentos
Procedimentos
Procedimentos
Procedimentos
Procedimentos
Procedimentos
Procedimentos
Procedimentos
Caso clinico 1

 Caio, 4a.

 Sem alteração orgânica.

 Percepção x produção.

 Fala inteligível .

 Apresenta Troca.
Caso 2

 B. (7:2), frênulo lingual com inserção curta, prejudicando a elevação da língua.


Apresenta dificuldades na emissão do /r/. Após terapia fonoaudiológica, sem evolução
com relação a este fonema, optou-se pela frenectomia e B.passou a emiti-lo.
Caso 3

 O M;S.C ao invés de falar “CHAFARIZ” o indivíduo pronuncia “FASSARIZ” . Por


apresentar hipotonicidade labial e uma mordida Classe II, ele não conseguiu posicionar o
lábio a frente em forma de bico para produção do fonema /x/, colocando assim no lugar o
fonema /s/.
Obrigada!
@dheboraheloisa
dheboraheloisafono@gmail.com

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