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LINGUAGEM E PENSAMENTO

Livro: Atkinson& Hilgard

Introdução à Psicologia

A linguagem é o nosso principal meio para comunicar o pensamento.


Além disso, é universal: toda a sociedade humana usa a linguagem, e cada ser
humano de inteligência normal adquire sua linguagem nativa e a usa sem
esforço.

Níveis da linguagem: Esta apresenta dois aspectos- produção e


compreensão. Na produção da linguagem começamos com um pensamento,
de alguma forma o traduzimos em um período e terminamos com sons que
expressam o período. Na compreensão da linguagem começamos ouvindo os
sons, acrescentamos significados aos sons em forma de palavras e então
acrescentamos significados à combinação de palavras em forma de períodos.

A linguagem é um sistema de vários níveis para relacionar pensamento


ao discurso por meio de unidades de palavras e períodos.

Há impressionantes diferenças no número de unidades em cada nível.


Todas as línguas tem apenas um número limitado de sons; o inglês tem
aproximadamente 40 deles. Mas a regra para combinar estes sons possibilita
produzir e entender milhares de palavras, (um vocábulo de 70mil palavras é
comum para um adulto).

O aspecto mais importante de uma palavra é o significado. Uma palavra


pode ser vista com o nome de um conceito, e seu significado é o conceito para
o qual ela dá nome. Algumas palavras são ambíguas porque dão nome a mais
de um conceito (manga).

Além deste conhecimento prévio temos também que entender a intenção


do locutor em transmitir aquele período em particular. Por exemplo: quando
durante um jantar alguém pede: ”você pode passar as batatas”? Você
normalmente entende que a intenção do locutor não foi a de descobrir se você
é fisicamente capaz de erguer as batatas, mas sim a de convencê-lo a passar
as batatas para ele. Há várias evidências de que as pessoas determinam a
intenção do locutor como parte do processo de compreensão da linguagem.

Desenvolvimento da Linguagem:

As crianças devem dominar todos os níveis da linguagem, não apenas


os sons adequados do discurso, mas também como esses sons são
combinados em milhares de palavras e como essas palavras podem ser
combinadas em períodos para expressar pensamentos. Isso é uma maravilha
que praticamente todas as crianças em todas as culturas realizam em pouco
tempo, de quatro a cinco anos.

Com cerca de um ano as crianças começam a falar: balbucios


sucessivos soam como palavras na linguagem falada do ambiente da criança.
Mais importante, as crianças usarão palavras para se referir a conceitos. Os
bebês de um ano já aprenderam conceitos para muitas coisas (incluindo
membros da família, animais de estimação, comidas, brinquedos e partes do
corpo). Quando começam a falar, estão mapeando esses conceitos em
palavras que os adultos usam. O vocabulário inicial é mais ou menos o mesmo
para todas as crianças. Crianças de 1 a 2 anos falam principalmente sobre
pessoas (papa, mama, bebê) animais (au au, miau,) veículos (carro, caminhão,
barco) comidas (dedeira, uco) partes do corpo....

Consequentemente as crianças mais novas com frequência têm uma


lacuna entre os conceitos que querem transmitir e as palavras que têm a sua
disposição. Para preencher essa lacuna as crianças de 1 a 2 anos e meio
supergeneralizam suas palavras. Elas aplicam palavras a conceitos vizinhos.
Ex: pode usar a palavra auau para vaca, gato e cachorro. A criança conhece o
significado da palavra, se for solicitada para apontar o auau entre várias figuras
de animais ela fará a escolha correta.

Após essa idade (2e meio) tudo indica que essas supergeneralização
começam a desaparecer porque o vocabulário começa aumentar eliminando
muito dessas lacunas. Um nenê de dois anos e meio pode aprender várias
palavras novas todos os dias.
Entre 1 a 2 anos a criança começa a aquisição das unidades de período,
combinam as palavras em discursos de 2 palavras: “Lá vaca”, no qual a ideia
subjacente é: Lá está a vaca. “On bola” Essa é a bola do João.

As crianças progridem rapidamente do discurso de duas palavras a


períodos mais complexos que expressam ideias mais precisamente. Com 3
anos, a maioria das crianças usará plurais e verbos no passado: amanhã fui
nadar.

Processo de Aprendizagem

Os Behavioristas acreditavam que as crianças aprendiam a linguagem


através do condicionamento, reforço e imitação. Embora esses processos
tenham seu papel fica claro que não correspondem a muitos aspectos do
desenvolvimento da linguagem. Os adultos podem recompensar as crianças
quando elas produzem um período gramatical e repreende-las quando
cometem erros. Para que esta afirmativa seja verdadeira, os pais teriam que
responder a cada detalhe do discurso da criança. Pesquisas mostram que os
pais não prestam atenção em como as crianças dizem as coisas, contanto que
o enunciado seja compreensível.

Embora a imitação tenha alguma importância na aprendizagem de


palavras, não é o principal meio pelo qual a criança aprende a produzir e
entender frases. Crianças mais novas estão constantemente articulando frases
que nunca ouviram um adulto dizer: “leite foi embora” O problema com a
imitação e o condicionamento é que eles focam em expressões específicas. No
entanto, as crianças frequentemente aprendem algo geral, como uma regra.
Elas parecem criar uma hipótese testam e conservam caso funcione.

Fatores Inatos

Para explicar a complexidade do desenvolvimento da linguagem foi


desenvolvido uma teoria que afirma que os seres humanos têm uma
capacidade biológica inata ou nativa, de aprender uma linguagem. O cérebro
humano é equipado desde o nascimento com um dispositivo de aquisição de
linguagem, processo que facilita o aprendizado da linguagem. Pesquisas
mostram que o aprendizado da linguagem tem períodos críticos, durante os
quais ela deve ser adquirida. É evidente quando falamos sobre a aquisição do
sistema sonoro- aprender novos fonemas e suas regras de combinação (sons
das palavras). As crianças de menos de 1 ano conseguem discriminar fonemas
de qualquer idioma, mas perdem essa capacidade no fim do primeiro ano.
Assim, os primeiros meses de vida são um período crítico para focar nos
fonemas de um idioma nativo.

AFASIAS.

O termo afasia é usado para descrever os déficits de linguagem


causados pela lesão cerebral. Em 1861 o médico francês Paul Broca examinou
o cérebro de um paciente falecido que havia sofrido a perda da fala. Ele
encontrou danos em uma área do hemisfério esquerdo um pouco acima da
fissura lateral no lobo frontal. Essa região hoje conhecida como área de Broca,
está envolvida na produção da fala. Pessoas que apresentam danos na área
de Broca sofrem de afasia expressiva: elas tem dificuldades em pronunciar
palavras corretamente e falam de maneira lenta e laboriosa. A fala geralmente
faz sentido, mas inclui apenas palavras chave. Em geral, os substantivos são
expressados no singular, enquanto os adjetivos, advérbios, artigos e
conjunções são omitidos. No entanto, estas pessoas não tem dificuldades em
entender a palavra falada ou escrita. Um acidente vascular cerebral que cause
danos no hemisfério esquerdo é mais provável de produzir um
comprometimento da linguagem do que se for confinado ao hemisfério direito.
Nem todas as pessoas possuem o centro da fala no hemisfério esquerdo; em
alguns canhotos, ele está no hemisfério direito.

Em 1874, o pesquisador alemão Carl Wernicke relatou uma lesão em


outra parte do córtex- também no hemisfério esquerdo, porém no lobo
temporal- é associada a um distúrbio de linguagem denominado afasia
receptiva. Pessoas com uma lesão neste local, conhecido como área de
Wernicke são incapazes de compreender palavras; elas ouvem, mas não
sabem o seu significado. Elas conseguem produzir séries de palavras sem
dificuldades e com a articulação adequada, mas cometem erros de uso e a fala
tende a não fazer sentido.
Em 1979, Geschwind, baseou-se neste modelo de Wernicke para
explicar como o cérebro funciona para produzir e compreender a linguagem;
ficou conhecido como modelo de Wernicke-Geschwind. De acordo com este
modelo, a área de Broca armazena códigos de articulação que especificam a
sequência de ações musculares exigidas para pronunciar uma palavra. Quando
os códigos são transmitidos para a área motora, eles ativam os músculos dos
lábios, língua e laringe na sequência adequada e produzem uma palavra
falada. A área de Wernicke no entanto, é o local em que os códigos auditivos e
os significados das palavras estão armazenados. Para que uma palavra seja
falada, o seu código auditivo deve ser ativado na área de Wernicke e
transmitido para a área de Broca, onde o código de articulação correspondente
é ativado. Por sua vez o código de articulação é transmitido para a área motora
a fim de ativar os músculos que produzem a palavra falada.

Então há duas regiões do hemisfério esquerdo do córtex que são


essenciais para a linguagem: a área de Broca, que fica na parte posterior dos
lóbulos frontais, e a área de Wernicke, que fica na região temporal. Danos a
uma dessas áreas, ou a alguma área intermediária, causam um tipo específico
de afasia ( um colapso da linguagem). Capítulo 2 livro: Introdução à Psicologia
Atkinson & Hilgard.

O Fundamento Neural da Linguagem

A linguagem embaralhada de um paciente com afasia de Broca ( um


paciente com dano na área de Broca) é ilustrada pela entrevista a seguir, na
qual E representa o entrevistador ( ou pesquisador) e P, o paciente.

E: Você era da Guarda Costeira?

P: Não, er, sim, sim... navio...Massachu...Chusentts...Guarda


Costeira...anos ( levanta as mãos duas vezes com os dedos indicando 19)

E: Ah! Você ficou na Guarda Costeira por 19 anos.

P: Oh! ...cara...certo..certo.

E: Por quê você está no hospital?


P: (aponta para o braço paralisado) Braço ruim. (Aponta para a boca)
Fala...não pode falar...conversar, você vê.

E: O que aconteceu que o fez perder a fala?

P: Cabeça cair, Jesus Cristo, eu não bom, str, str...ai, Jesus... derrame.

E: Poderia me dizer o que tem feito no hospital?

P: Sim, claro. Eu ir, er, uh, P. T. nove hos, fala...duas


vezes...ler...er...crep, er, rer, er, escrever...praticar...ficando melhor.

O discurso está longe de ser fluente (quebrado e hesitante). Mesmo em


períodos simples, as pausas e hesitações são inúmeras. Isto está em contraste
com o discurso fluente de um paciente com afasia Wernicke (um paciente com
dano na área de Wernicke):

Cara, estou transpirando, estou terrivelmente nervoso,


você sabe, de vez em quando eu me envolvo demais.
Não posso mencionar o tarripoi, um mês atrás, um pouco,
eu fui muito bem, eu impus muito, enquanto, por outro
lado, você sabe o que eu quero dizer, eu tenho que andar
ao redor, olhar por aí, trebin e todo esse tipo de coisa.
Além da fluência, há mais diferenças marcantes entre as afasias de
Broca e Wernicke. O discurso de um afásico de Broca consiste principalmente
em palavras lexicais. Contém alguns morfemas gramaticais e períodos
compostos e, no geral, têm uma qualidade telegráfica que lembra o estágio de
duas palavras da aquisição da linguagem. Em contraste, a linguagem de um
afásico de Wernicke preserva a síntese mas é notavelmente desprovida de
conteúdo. Há problemas claros para encontrar o substantivo certo e , às vezes,
algumas palavras são inventadas no momento (como o uso de tarripoi e trebin)
Essas observações sugerem que a afasia de Broca envolve a desordem no
estágio sintático e que a afasia de Wernicke envolve a desordem no nível das
palavras e dos conceitos. Essas duas afasias são apoiadas por descobertas de
pesquisas. Capítulo 9 livro: Introdução à Psicologia Atkinson & Hilgard.
PENSAMENTO

Pensar é um processo mental que permite ao indivíduo modelar sua


percepção de mundo ao redor de si e lidar com este mundo de uma forma
efetiva de acordo com suas metas, planos e desejos.

Podemos afirmar que o pensamento é a capacidade de compreender,


formar conceitos e organizá-lo. Ele (pensamento) estabelece relações entre um
conceito e outro, além de criar novas representações, ou seja, novos
pensamentos.

Todo pensamento deve ser compreendido como uma “linguagem da


mente”. Existem pelo menos dois tipos de pensamento: pensamento
proposicional e pensamento imagético. Ex: pensamento proposicional
expressa uma proposição ou afirmação- mães são muito trabalhadoras; é uma
proposição, tal pensamento consiste em conceitos- como mães e muito
trabalhadoras.

Quando pensamos em termos de proposições, nossa sequência de


pensamentos é organizada e frequentemente toma forma de um argumento, no
qual uma proposição corresponde a uma afirmação ou conclusão que estamos
tentando traçar.

No caso de pensamento imagético, corresponde a imagens,


particularmente as visuais, que podemos “ver” em nossas mentes.

Funções dos conceitos:

Um conceito representa uma classe inteira, é um conjunto de


propriedades que associamos com uma classe específica. Nosso conceito de
gato é que tem 4 patas e bigodes. Uma das funções importantes que o
conceito representa na vida mental é o de dividir o mundo em unidades
gerenciáveis, assim, ao tratamos objetos diferentes como membros de um
mesmo conceito. Ex: todos os gatos tem 4 patas, bigodes e são animais, mas
nem todos os animais são gatos e tem bigodes. Dessa forma já tenho o
conceito de gato e a diferença com os outros animais. Reduzimos assim a
complexidade do mundo que temos que representar mentalmente.

Categorização:

Refere-se ao processo de designar um objeto a um conceito. Quando


categorizamos um objeto, tratamo-lo como se tivesse muitas das propriedades
associadas ao conceito, incluindo propriedades que ainda não percebemos
diretamente. Uma segunda função dos conceitos é que nos permitem prever
informações que não são prontamente percebidas chamadas de poder de
previsão. Ex: conceito de maçã. Está associada a propriedade tão difíceis de
perceber quanto ter sementes e ser comestível, além de ser redonda ter cor
distinta e ser proveniente de árvores. Podemos usar as propriedades visíveis
para categorizar um objeto como uma maçã (objeto redondo, vermelho nasce
em uma árvore. E também tem propriedades menos visíveis como ter
sementes e ser comestível.

Também temos conceitos de atividades: comer, estudar idoso... e de


abstrações como: verdade, justiça, regras, números. Em cada caso, sabemos
algo sobre as propriedades que são comuns a todos os membros do conceito.

Os conceitos de “tempo e espaço” podem ser considerados inatos os outros


devem ser aprendidos. Os pais ensinam os filhos a nomear e classifica os
objetos. Depois, quando a criança ver outro objeto, ela pode determinar se ele
está na mesma categoria do exemplar armazenado.

Raciocínio Dedutivo-regras da lógica:

De acordo com especialistas em lógica, os argumentos mais fortes


demonstram validade dedutiva, o que significa que é impossível que a
conclusão do argumento seja falsa se suas premissas forem verdadeiras. Ex:

a) Se estiver chovendo, eu vou pegar meu guarda-chuva


b) Está chovendo
c) Portanto, eu vou pegar um guarda-chuva.
Raciocínio Indutivo- regras da lógica

Os especialistas perceberam que que um argumento pode ser bom mesmo se


ele não for dedutivamente válido; o que significa que é improvável que a
conclusão seja falsa se as premissas forem verdadeiras. Ex:

a) Mário cursou contabilidade na faculdade


b) Mário agora trabalha para uma empresa de contabilidade
c) Portanto, Mário é um contador.

Esse argumento não é dedutivamente válido. Mário pode ter se cansado do


curso e ter aceito um emprego de vigia noturno na dita empresa.

Pesquisadores usaram tomografia para diferenciar o pensamento dedutivo do


indutivo e descobriram áreas distintas no cérebro humano envolvidas nos dois
tipos de raciocínio. Pesquisas mostraram vários padrões neurais para o
raciocínio dedutivo e vários outros para o indutivo.

Pensamento Imagético:

São imagens visuais, parecemos pensar, às vezes, visualmente. Recuperamos


percepções anteriores, ou partes delas, e agimos, em relação a elas do modo
como agiríamos, em relação a uma percepção real. Responda:

1- Qual o formato das orelhas de um pastor alemão?


2- Que nova letra é formada quando um “M” é girado a 180º?
3- Quantas janelas há na sala de visita dos seus pais?

Para responder a 1 questão temos que formar uma imagem da cabeça do


pastor alemão visualizar as orelhas para definir o formato. Ao responder a
segunda, as pessoas relatam que primeiro formam a imagem da letra M e
depois giram 90º e observam para definir qual a nova letra. A terceira, as
pessoas relatam que imaginam a sala da casa dos pais e “examinam” a
imagem enquanto contam as janelas.

Evidências sugerem que o pensamento imagético envolve as mesmas


representações e os mesmos processos que são usados na percepção. Tanto
a percepção quanto o pensamento imagético utilizam a mesma estrutura
cerebral. Pacientes que apresentam danos cerebrais e que mostram que
qualquer problema que este paciente tenha na percepção visual é tipicamente
acompanhado por um problema paralelo no pensamento imagético.

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