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ATENÇÃO

DESENVOLVIMENTO E ESCOLARIZAÇÃO

Nerli Nonato Ribeiro Mori


ATENÇÃO
DESENVOLVIMENTO E ESCOLARIZAÇÃO
Qual a importância de se

estudar a atenção?

Consumo de Ritalina no Brasil


cresce 775% em dez anos (O Diário
Catarinense, 14/08/2014)
O objetivo deste texto é discutir o desenvolvimento da
atenção, suas características básicas e como a
prática pedagógica pode contribuir para o processo.
Os conceitos básicos da atenção estão pautados em
pressupostos da Teoria Histórico-cultural, mais
especificamente em Gonobolin (1969) e Vigotski
(2001).

Como demonstram Bonadio e Mori (2013), uma


preocupação bastante atual é o aumento do consumo
de medicamentos para o controle da atenção. Em 2007
um total de seis milhões de norte americanos
consumiam Ritalina, um dos principais
medicamentos para esse fim. Desse total quase cinco
milhões eram crianças, a maior parte meninos. Vejam
na próxima página os gráficos apresentados por
Moysés (2010)
Os transtornos relacionados à atenção são os
diagnósticos mais frequentemente associados a
fracasso escolar, especialmente o Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade, o TDAH.

A medicalização de um problema que é pedagógico


Alguns pontos de partida...

Sob a perspectiva da Teoria Histórico-cultural,


os problemas de atenção e comportamentos
hiperativos estão vinculados às formas de
transmissão social dos comportamentos e à
formação funções psicológicas superiores. Eles
não são causados por problemas orgânicos,
genéticos individuais. A regulação de condutas,
hábitos e comportamentos é formada no
ambiente sociocultural em que a criança vive.

Da qualidade das mediações e do acesso aos


signos e instrumentos culturais no percurso do
desenvolvimento.
Elementos essenciais para a
formação das FPS

Motivo
Necessidades

Sentido
Impressões pessoais

Significado
Transmitido socialmente

É essencial a prática pedagógica trabalhar a


importância de conteúdos, pois o reconhecimento do
conteúdo como necessidade confere sentido à
atividade, contribuindo para fixar a atenção e controle
voluntário do comportamento.
Características gerais da atenção

A atenção é o reflexo seletivo de elos que implica

isolar simultaneamente todos os demais. Os atos

de atenção sempre começam em determinadas

reações ou atitudes, as quais se resumem a

movimentos de diversos órgãos receptores.

A excitação máxima corresponde à inibição

simultânea de estímulos não relacionados; ou seja,

quanto maior o foco em um objeto, maior o

isolamento dos estímulos externos.

Excitabilidade ótima <===> inibição simultânea


 
Imagine um viajante na estrada. A sua atenção
para os outdoors variará conforme a sua
necessidade e motivação. Sem fome talvez ele
nem preste atenção; mas, se estiver faminto,
seu olhar será atraído e, aos poucos começará
a atentar para o tipo de comida, preço e
distância do local, entre outros.

Huuuummm.... salada bonita.... o preço parece


bom....
A atenção pode variar conforme os seguintes
aspectos:

Grau de concentração
Determinada pela seleção de um círculo limitado de objetos ao
qual está dirigida. Quanto mais reduzido o círculo, maior a
concentração. 

Intensidade ou tensão
Caracteriza-se pelo grau de direção frente aos objetos dados e
a abstração simultânea de todos os demais.

Distribuição
É o estado correspondente à ação simultânea de duas ou várias
ações.

Constância ou fixação
Determinada por uma fixação prolongada sobre algo.

Capacidade para transladar de um objeto a outro


A passagem de uma atividade a outra exige a capacidade de
mudar o foco e redirecioná-lo a uma nova tarefa ou objeto. Isso
é diferente de distração, a qual é o oposto da atenção.
A atenção em cada etapa da infância
Primeira Infância - nascimento a 3 anos
Inicialmente o processo é orgânico, de maturação e
desenvolvimento dos aparatos nervosos e das funções da
criança. A atenção é involuntária e dirigida a objetos brilhantes,
de cores vivas ou móveis e a sons fortes. Com as interações
com os pais e cuidadores, a criança desenvolve a primeira fase
da linguagem e da atenção. As mediações organizam e dirigem a
atenção da criança:
_ Olha o au au; olha a árvore.
Aos seis meses, a criança tem grande interesse pelos objetos
do meio, pessoas e palavras. A atenção ainda é inconstante.
Posteriormente, quando já domina a língua, a criança começa a
dar ordens a si própria. A princípio, estas ordens ocorrem de
forma extensa, porque a linguagem ainda é externa.
Mais tarde, ao interiorizar a linguagem, as ordens para si
mesma acontecem de forma abreviada e interna. A linguagem
interna passa, então, a ter a função de regular a conduta, com
isso, desenvolvendo, portanto, a ação voluntária consciente na
criança, mediada pelo pensamento verbal, com conceitos.
Até os dois anos de idade, a criança não consegue manter sua
atenção em um objeto, mesmo com a instrução verbal do
adulto; se durante o caminho ela encontrar algo mais
interessante, voltar-se-á a ele e não cumprirá o que lhe foi
solicitado.
Mais tarde, ao interiorizar a linguagem, as ordens
para si mesma acontecem de forma abreviada e
interna. A linguagem interna passa, então, a ter a
função de regular a conduta, com isso, desenvolvendo,
portanto, a ação voluntária consciente na criança,
mediada pelo pensamento verbal, com conceitos. Até
os dois anos de idade, a criança não consegue manter
sua atenção em um objeto, mesmo com a  instrução
verbal do adulto; se durante o caminho ela encontrar
algo mais interessante, voltar-se-á a ele e não
cumprirá o que lhe foi solicitado.
Idade pré-escolar e escolar primária 3-7anos/7-
11anos
Aos quatro ou cinco anos a criança pode mostrar
atenção intensa e constante para aquilo que faz. Ela
pode jogar durante muito tempo, escutar com atenção
os contos que um adulto lhes conta, mas a atenção
ainda se desvia com facilidade.
Os jogos são importantes, pois por meio deles se
desenvolve a intensidade, concentração e constância.
Por volta dos três anos, as crianças podem
concentrar-se por 20 a 25 minutos. Aos seis anos elas
podem jogar por uma hora ou mais. O volume ainda é
pequeno, se limita a dois ou três objetos.
Nos primeiros anos escolares predomina a atenção
involuntária, que depende do grau de interesse, do
caráter demonstrativo do ensino e da influência que
tem o que vê escuta na classe sobre sua esfera
emotiva. A criança ainda não consegue repartir
atenção; todavia, ela começa a elaborar o hábito de
ser atento.

 
Adolescência

Nessa fase há maior constância, concentração


e intensidade da atenção; por outro lado, é
característica da idade certa impulsividade, o
que dificulta controlar a atenção. A boa direção
por parte do mestre ajuda o adolescente a
educar em si mesmo a atenção voluntária.

No jovem há um desenvolvimento maior da


atenção, proporcionando uma maior
capacidade de trabalho.

Nos primeiros anos é essencial a forma de


apresentação das lições; nos anos posteriores,
é fundamental o conteúdo do que está sendo
ensinado.
Educar a atenção em sala de aula

 
Acostumar as crianças a ver e escutar, a observar
ao seu redor.

Para tornar o processo de aprendizagem


suficientemente atrativo:
* Boa organização da classe;
* A importância do material que se vai estudar e de como ele é
apresentado;
* Utilização de quadros, desenhos, modelos, a realização de
experimentos, apresentação de exemplos concretos,
ilustrações da vida corrente;
* Fixar a atenção involuntária com explicações que levem os
alunos a pensar sobre as questões, a querer saber o que
acontecerá depois, a comparar e estabelecer relações; *Atuar
de forma que os alunos participem da aula, façam
perguntas, experimentem.
* Formar no aluno uma atitude consciente de
estudo e de cumprimento de suas obrigações.
* Exigência consequente e sistemática do mestre,
ensinando a realizar não só o que é agradável.
* Variedade, ritmo e complexidade dos trabalhos.
* Fortalecer o organismo. O cansaço físico ou
mental, a insuficiência do sono, a alimentação
irregular e a atmosfera pesada nas aulas influenciam
negativamente sobre a atenção.
* Exercícios físicos fortalecem o estado geral e o
sistema nervoso e, ao mesmo tempo, eles
desenvolvem nas crianças a capacidade de concentrar
sua atenção.
Referências

BUONADIO, R. A. A.; MORI, N. N. R. M. Transtorno


de Déficit de Atenção/Hiperatividade: Diagnóstico e
Prática Pedagógica. Maringá: Eduem, 2013.

GONOBOLIN, F. N. La atención. In: SMIRNOV, A.;


LEONTIEV, A.; TIEPLOV, B. M. (Org.). Psicologia.
México: Grijalbo, 1969, p. 177-200.

MOYSÉS, M. A. A. Dislexia existe? Questionamentos a


partir de estudos científicos. In: CRPSP. Conselho
Regional de Psicologia de São Paulo (org). Dislexia:
subsídios para políticas públicas. São Paulo: CRP,
2010, p. 11-23. (Cadernos Temáticos CRP SP, v. 8).

VIGOTSKI, L. S. A psicologia e a pedagogia da atenção.


In: VIGOTSKI, L. S. Psicologia Pedagógica. São Paulo:
Martins Fontes, 2001, p. 149-180.

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