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INTERPRETAÇÃO
DO DESENHO
INFANTIL

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SOBRE A PROFESSORA

Karina Fonseca é Psicóloga


e apaixonada pela psicologia,
principalmente pelo cérebro, pela
aprendizagem e pelo comportamento
humano. Nasceu em Brasília é casada
com Wisley, se formou em Psicologia
em 2002 com o objetivo de trabalhar
o desenvolvimento das crianças
tornando-as adultos que compreendem
seu papel no mundo.

Como uma forma de auxiliar pais,


professores e crianças criou a Treinando
o cérebro (@treinandoocerebro1) onde atua com palestras, consultorias, cursos
/ oficinas presenciais e atendimento clínico com crianças com dificuldade de
aprendizagem e transtornos do neurodesenvolvimento.

Atua como professora da Ello Cursos Psicologia e cursos de pós graduação


nas áreas do neurodesenvolvimento, aprendizagem e neurociencias. Nas horas
vagas gosta ler, participar de congressos, conhecer as novidades dentro das áreas
trabalhadas. Além de nadar e criar novas receitas na cozinha. E esta desenvolvendo
novos projetos na área de terapia baseada em lego para 2023.

Tem como valores o cuidado com a familia, principalmente seu filho Miguel de
8 anos que brinca, monta lego e gosta de assistir filmes e series.

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SUMÁRIO

1..............................................................................................................................................................................................................7
Introdução

2
.............................................................................................................................................................................................................9
O interesse em desenhar
.............................................................................................................................................................................................................11
2.1. Desenvolvimento infantil
............................................................................................................................................................................................................12
2.2. Estágios do desenvolvimento de Jean Piaget
............................................................................................................................................................................................................13
2.3. Estágios psicossexuais de Freud
............................................................................................................................................................................................................14
2.4. Psicomotricidade
............................................................................................................................................................................................................15
2.5. Desenvolvimento da linguagem
............................................................................................................................................................................................................16
2.6. Desenvolvimento do grafismo infantil
............................................................................................................................................................................................................18
2.7. Estágios do desenvolvimento.
............................................................................................................................................................................................................18
2.7.1. Os 4 estágios de Luquet
............................................................................................................................................................................................................19
2.7.2. Os 3 estágios do rabisco de Marthe Berson
..........................................................................................................................................................................................................20
2.7.3. 5 estágios de Piaget
..........................................................................................................................................................................................................21
2.7.4. Estágios vistos de forma geral

3
..........................................................................................................................................................................................................23
Os desenhos
..........................................................................................................................................................................................................23
3.1. Premissas importantes sobre a interpretação do desenho infantil
..........................................................................................................................................................................................................25
3.2. Sobre os materiais para desenhar
..........................................................................................................................................................................................................25
3.2.1. Figuras para colorir ou folhas brancas
..........................................................................................................................................................................................................25
3.2.2. Tipos de lápis
..........................................................................................................................................................................................................26
3.2.3. Tipos do papel
..........................................................................................................................................................................................................27
3.2.4. Orientação espacial
..........................................................................................................................................................................................................30
3.2.5. Dimensões, traços, pressão, formas, linhas e traços
..........................................................................................................................................................................................................32
3.2.6. Cores
3.2.7. Outros materiais que também são usados para se fazer
..........................................................................................................................................................................................................35
desenho ou auxiliá- los
..........................................................................................................................................................................................................35
3.3. Os elementos dos desenhos
..........................................................................................................................................................................................................35
3.3.1. Desenhos e as estações do ano
..........................................................................................................................................................................................................36
3.3.2. Repetição do mesmo tema ou a diversidade de temas
..........................................................................................................................................................................................................38
3.3.3. Surgimento da figura humana
..........................................................................................................................................................................................................38
3.3.4.1. Casa
..........................................................................................................................................................................................................38
3.3.4.1.1 Elementos da casa
..........................................................................................................................................................................................................39
3.3.4.1.1. Elementos da casa

..........................................................................................................................................................................................................41
4 Vamos praticar?

5
..........................................................................................................................................................................................................43
A prática
..........................................................................................................................................................................................................43
5.1. Como fazer a aplicação do desenho
..........................................................................................................................................................................................................44
5.2. Como fazer o inquérito do desenho
..........................................................................................................................................................................................................44
5.3. Como fazer a análise
..........................................................................................................................................................................................................45
5.4. Técnicas projetivas, um olhar psicopedagógico

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..........................................................................................................................................................................................................48
Algumas ferramentas
..........................................................................................................................................................................................................48
6.1. Par educativo
..........................................................................................................................................................................................................49
6.2. Eu com meus companheiros
..........................................................................................................................................................................................................50
6.3. A planta da sala de aula
..........................................................................................................................................................................................................51
6.4. A planta da minha casa
..........................................................................................................................................................................................................52
6.5. Os quatro momentos do dia
..........................................................................................................................................................................................................53
6.6. Família educativa
..........................................................................................................................................................................................................54
6.7. O dia do meu aniversário
..........................................................................................................................................................................................................55
6.8. Minhas férias
..........................................................................................................................................................................................................56
6.9. Fazendo aquilo que mais gosta
..........................................................................................................................................................................................................56
6.10. O desenho em episódios
..........................................................................................................................................................................................................57
6.11. O desenho e o abuso infantil
..........................................................................................................................................................................................................58
6.12. Jogo do rabisco
..........................................................................................................................................................................................................59
6.13. O desenho e a fantasia

..........................................................................................................................................................................................................60
7 O desenho e a liberdade de expressão

..........................................................................................................................................................................................................64
Referências Bibliográficas

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INTERPRETAÇÃO DO
DESENHO INFANTIL

1 Introdução

O mundo da infância é um universo encantador, repleto de descobertas,


imaginação e expressões únicas. Ao observar as crianças, é possível perceber que
elas têm uma forma especial de se comunicar, muitas vezes além das palavras.
Uma dessas formas é por meio do desenho, uma linguagem visual que permite
que as crianças compartilhem suas emoções, pensamentos e experiências de
maneira singular.
A interpretação do desenho infantil, como ferramenta de compreensão e
intervenção psicológica, remonta às bases clássicas da psicologia. Ao longo dos
anos, diversos estudiosos se dedicaram a explorar esse campo, aprofundando-
se em suas teorias e técnicas. Essas abordagens clássicas oferecem um olhar
profundo sobre o significado simbólico dos desenhos infantis, permitindo-nos
desvendar o mundo interno das crianças e compreender aspectos importantes de
seu desenvolvimento emocional, cognitivo e social.
A interpretação do desenho infantil como instrumento psicológico tem
suas raízes nas abordagens clássicas da psicologia. Ao longo do tempo, vários
estudiosos se dedicaram a explorar essa área, aprofundando-se em suas teorias e
técnicas. Essas abordagens clássicas oferecem uma visão profunda do simbolismo
presente nos desenhos das crianças, permitindo-nos desvendar seu mundo interno
e compreender aspectos cruciais de seu desenvolvimento emocional, cognitivo e
social.
É essencial compreender o desenho infantil como uma expressão autêntica da
criança, sem pré-julgamentos ou interpretações rígidas. Cada traço, cor e forma
possui um valor simbólico próprio, que se conecta com a realidade emocional e
subjetiva da criança. Por meio de uma interpretação cuidadosa e sensível, podemos
adentrar nesse universo e estabelecer uma comunicação profunda com a criança,
auxiliando-a em seu processo de autoconhecimento, expressão e transformação.

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Neste contexto, é imprescindível destacar a importância de compreender
o desenho infantil como uma expressão genuína da criança, sem julgamentos
preconcebidos ou interpretações rígidas. Cada traço, cor e forma possui um valor
simbólico próprio, que se conecta com a realidade emocional e subjetiva da
criança. Por meio da interpretação cuidadosa e sensível, é possível adentrar nesse
universo e estabelecer uma comunicação profunda com a criança, auxiliando-a
em seu processo de autoconhecimento, expressão e transformação.
Está dada, portanto, a importância que profissionais que trabalham com o
público infantil a compreendam, tenham um entendimento, mesmo que básico
sobre o desenho infantil. Para cada profissional um olhar diferenciado sobre esse
tema, dentro dos objetivos pelo qual trabalha com a criança.

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2 O interesse em desenhar

Quando uma criança é muito pequena, por volta de um ano e meio, ela
experimenta o mundo de maneira intensa, embora ainda não possa expressá-
lo completamente. Uma das formas pelas quais essa expressão começa a se
manifestar é através do desenho, que pode acompanhar a criança desde essa
fase inicial até o início da adolescência, dependendo da oportunidade oferecida
para essa prática.
As crianças desenham há muitos séculos, porém nessa época as crianças er
am . vistas como imperfeitas ou inferiores em
relação aos adultos, assim, não foram registrados ou preservados esses desenhos.
Desenhos de adultos também não eram importantes, somente quando eram feitos
por artistas famosos ou amadores que consideravam que tinham talento.
Já no século XVIII, o filósofo e educador Jean Jacques Rousseau (1712-1778)
via a infância como uma fase importante do desenvolvimento, pois direcionava a
criança a fase adulta (nessa época não existia a adolescência, depois da infância
já se era adulto). Mostrando que a criança era diferente do adulto em seu modo
de pensar, agir, de resolver problemas e esses modos não são inferiores, somente
diferentes.
Já no século XIX, começa-se o interesse pelo desenho infantil. Segundo
Maureen Cox, em seu livro O desenho da criança, ela relata:

O estudo do desenho infantil começou a cerca de cem anos. Num dia

chuvoso da década de 1880 ou pelo menos assim se conta – um italiano

de nome Corrado Ricci correu buscando abrigo em uma viela coberta –

Enquanto esperava a chuva amainar, uns rabiscos na parede atraíram

sua atenção. Viu alguns desenhos encantadores e um tanto desajeitados

que qualquer pessoa reconheceria como feitos por mão infantil. Intrigado

pelos desenhos, Ricci começou a cogitar o que haveria de tão especial

neles que as tornava tão diferentes da arte convencional dos adultos.

Assim começou o seu interesse e estudo da arte infantil. Embora não tenha

sido a primeira pessoa a levar a sério o assunto, foi seu livreto “A arte

das crianças pequenas” publicado em 1887, que deflagrou o interesse pelo

desenho infantil . ¹

1 COX, 2012, p. 2.

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Figura 1- Primeiro livro sobre o desenho infantil: A arte das crianças pequenas Figura 2- Corrado Ricci

Fonte: openlibrary.org Fonte: www.babelio.com

À medida que a criança cresce, ela vai transformando suas experiências,


muitas vezes automáticas, em expressão consciente, utilizando-se das vivências
que teve. No caso do desenho, essa evolução é bastante perceptível. Inicialmente,
a criança faz tentativas de pegar o lápis e, de forma espontânea, passá-lo no
papel. Conforme explora essa atividade, ela começa a aprimorar sua habilidade
para controlar os traços, a pressão exercida e a forma que deseja representar.
Quando uma criança tem papel e lápis para desenhar, cada uma delas pode
reagir de maneira única ao executar essa atividade. Isso ocorre porque cada criança
traz consigo um conjunto singular de vivências, emoções e experiências que se
entrelaçam com o ato de desenhar. O desenho se torna um meio de expressão e
comunicação pessoal, permitindo que a criança expresse sua individualidade, sua
percepção do mundo e suas emoções de forma única.
Por ser uma atividade de fácil realização, e dificilmente uma criança se
recusará a fazê-la. Por isso é utilizado em pesquisas e como técnica e método,
instrumento apreciado por psicólogos e por professores, em diferentes faixas
etárias, com objetivos diferentes, mas indicando, identificando e compreendendo
as vivências infantis.
Nesse contexto, é fundamental reconhecer a importância de acolher e valorizar
a singularidade de cada criança ao interpretar seus desenhos. Cada traço, cada
cor e cada forma presentes no desenho possuem significados que vão além da
superfície visual, revelando aspectos profundos do mundo interno da criança. Ao
observar e compreender essas expressões, podemos estabelecer uma conexão
mais profunda com a criança e apoiá-la em seu processo de desenvolvimento.
Então, enquanto algumas crianças ficam felizes e satisfeitas, outras jogam
fora a folha, pois não apreciam o que fizeram; em outros casos, riscam, rabiscam,

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usam a borracha de forma compulsiva, ou acham que terão a perfeição com o
auxílio uma régua. É possível ter em mente:

Comportamento Significância
Desenho riscado Agressividade devido a um aconteci-
mento determinado

Desenho tirado do cesto de lixo Afirmação, determinação

Passar muito a borracha Vamos apagar os acontecimentos

Desenhar em silêncio Concentração


Cantando ou explicando Quer animar o ambiente, de modo sutil
quer atrair a atenção

A maior parte das crianças mostra interesse em desenhar, sendo uma parte
importante dentro do desenvolvimento infantil. Quando pequenas, a crianças
não se importam muito com os tamanhos, as proporções anatômicas, isso ela
vai adquirindo condizente ao crescimento, adentrando a realidade, ao ensino
formal e as vivências. Essa evolução do desenho, do grafismo se dará devido a
maturidade das habilidades motoras finas, concedidas pelo desenvolvimento de
áreas cerebrais.
Conforme vão se desenvolvendo e crescendo, essa magia do desenho vai
desaparecendo, lá pelo final da infância e início da adolescência, onde, por muitas
vezes, relutam ao ter de desenhar.
A criança se dedica ao desenho mais do que a outra atividade pictórica, e
isso faz sem a ajuda de adultos, ela simplesmente o faz. É um importante meio
para o desenvolvimento criativo e a oportunidade de criarem e experimentarem
suas próprias ideias. Se o adulto for capaz de compreender o desenho da criança
sem sacrificar ou julgar sua criatividade, muitas não cairiam na armadilha com
imagens sem variações e estereotipadas.

2.1. Desenvolvimento infantil

De acordo com Rappaport ², o desenvolvimento infantil compreende todas as


mudanças físicas, psicológicas e cognitivas que ocorrem no decorrer da vida da
criança, explicando como e porque acontecem alguns comportamentos e como

2 1981, p. 8.

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eles emergem para adolescência e a vida adulta.


Dessa forma, o desenvolvimento não é algo isolado, de modo que está atrelado
a cada função cerebral, seja ela cognitiva, conativa, motora, onde uma precisa da
outra para que o indivíduo se desenvolva de forma global.
Abaixo estão listados fases ou estágios, cognitivo de Jean Piaget, psicossexual
de Freud, psicomotor, da linguagem de do grafismo, para que se possa observar
a relação entre eles, entre a idade, entre o comportamento e como nos mostra
como o desenvolvimento acontece.

2.2. Estágios do desenvolvimento de Jean Piaget

Idade Desenvolvimento Cognitivo


0 a 02 anos Estágio Sensório-Motor

• Movimentos reflexos

• Egocentrismo

• O mundo é uma extensão da criança


02 a 06 anos Estágio Pré- Operatório

• Desenvolvimento da linguagem

• Fantasia, curiosidade, criatividade

• Funciona intuitivamente, não logicamente

• Desenvolve formas iniciais de raciocínio e


classificação
07 a 12 anos Estágio das Operações Concretas

• Realiza várias operações mentais comple-


xas, alémda adição e subtração

• Desenvolvimento do pensamento lógico so-


brecoisas concretas

• Compreensão das relações entre as coisas,


capacidade de classificar
12 anos em Estágio das operações formais
diante
• Produção crítica

• Pensa sobre ideias e não só sobre o con-


creto

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2.3. Estágios psicossexuais de Freud

Idade Desenvolvimento psicossexual- Freud


1º ano de vida Fase Oral

• Energia da libido está centralizada na zona


bucolabial

• Sugar

• Colocar objetos na boca

• Morde

• Erupção dos dentes

o Conflito: Desmame
2º ano de vida Fase Anal

• Energia localizada na região anal

• Controle dos esfincteriano

• Torna-se capaz de controlar a eliminação


fecal

o Conflito: Treino a toalete


04 a 07 anos Fase Fálica

• Satisfação muda-se da região anal para a


genital

o Conflito: Complexo de Édipo/ Eléctra, ansie-


dadede castração
07 a 12 anos Fase de Latência

• Resolução do Complexo de Édipo

• Repressão temporária dos interesses se-


xuais

o O prazer deriva do mundo externo, da curio-


sidade,do conhecimento

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2.4. Psicomotricidade

Idade Desenvolvimento Psicomotor


0 a 06 meses • Hipotonia da coluna

• Hipertonia dos membros

• Reflexo de preensão

• Controle motor

• Sustenta a cabeça e membros


01 a 02 anos • Anda aparado

• Sobe escadas com apoio

• Corre com dificuldade de equilíbrio

• Preensão fina
02 a 03 anos • Sobe escadas com apoio

• Salta com os dois pés

03 a 05 anos • Sobe escadas alternando os pés

• Salta num pé só

• Dominância lateral

• Aparecimento do sentido de posição e das direções nocorpo

• Automatismo postural integrado


05 a 07 anos • Aperfeiçoamento da coordenação geral

• Domina bicicleta

• Aperfeiçoamento perceptivo-motor

• Aperfeiçoamento da motricidade fina


08 a 10 anos • Valorização de fatores de execução e controle domovimento

• Jogos de orientação

10 a 13 anos • Domínio da atividade motora

• Conscientização corporal

• Automação dos movimentos aprendidos

• Capacidade de inibição voluntária

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2.5. Desenvolvimento da linguagem

Idade Desenvolvimento da Linguagem


0 a 6 meses 0 a 2 meses

• Grito, choro ao nascer

2 a 3 meses

• Conhece e utiliza os sons que o ser humano


emite

4 a 5 meses

• Sons guturais. Ex.: som de sucção que o bebê


faz aomamar

• Balbucio, emissão de algumas sílabas repetidas


6 a 12 meses Período pré-linguístico

6 a 10 meses

• Lalações (emitem sons ainda incompreensíveis)

• Início da compreensão de palavras simples. Ex.:


papai,mamãe

Período linguístico

10 12 meses

• Usa gestos significativos. Ex.: Dá tchau

• Primeiras palavras faladas


1 a 2 anos Fase da dominação

12 a 15 meses

• Pode nomear imagens

• Associa duas palavras

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2.6. Desenvolvimento do grafismo infantil

Idade Desenvolvimento do Grafismo


0 a 12 meses Não desenha
18 meses Fase das Garatujas

• Traços desordenados, feitos ao


acaso1º etapa:

• Rabiscos desordenados

• Não há controle
motor2ª etapa:

• Rabiscos controlados

• Aquisição do controle viso-


-motor3ª etapa: (2 anos)

• Rabiscos circulares

• Movimentos mais complexos

• Forma de circuitos entrelaçados (novelo


frouxo)4ª etapa: (3 anos)

• O desenho ainda não é reconhecível, mas a


criançasabe contar o que desenhou

• Ligação dos movimentos e das formas com o


mundo a sua volta

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04 anos Estágio Pré-esquemático

• Tentativas de repre-
sentação1ª etapa:

• Primeiras figuras reconhecíveis, que sur-


gem das células

• Inicio da compreensão gráfica

• Em geral, os primeiros símbolos são a


figurahumana, animais

• das células saem olhos, bocas, não ne-


cessariamente dentro da célula e nem em
seuslugares, braços e pernas pendurados

• Não há relação de proporção

• Início da relação desenho-


realidade2ª etapa:

• Figuras soltas (5 anos)

• Desenham-se muitos elementos no mesmo


espaço,as figuras flutuam, não há limites

• Não se limita ao que vê, e sim, ao que sabe


(transparências), pode ainda não relacio-
nar a corusual ao objeto

• Das pernas e braços pendurados, surgem as


escadinhas
06 a 09 anos Estágio Esquemático

Ordenação do espaço, linha de base como apoio

Relaciona cor com o real

Evolução da relação de espaço

Conquista de conceito (forma e espaço)

Ordena os objetos com esse espaço

Poucos detalhes (cenas simples) - aos poucos os es-


paços são enriquecidos com mais detalhes

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09 a 12 anos Estágio de realismo

• Consciência visual desenvolvida

• Não faz mais exageros ou omissões

• Desenhos mais complexos

• Não há controle motor2ª etapa:

• Rabiscos controlados

• Aquisição do controle viso-motor 3ª etapa: (2


anos)

• Rabiscos circulares

• Movimentos mais complexos

• Forma de circuitos entrelaçados (novelo frou-


xo)4ª etapa: (3 anos)

• O desenho ainda não é reconhecível, mas a


criançasabe contar o que desenhou

• Ligação dos movimentos e das formas com o


mundo a sua volta

2.7. Estágios do desenvolvimento.

Ademais, quando se fala de estágios de desenvolvimento, existem variações


de autores que os abordam.

2.7.1. Os 4 estágios de Luquet


O psicólogo francês Émile Luquet foi um dos pioneiros no estudo da interpretação
do desenho infantil. Suas contribuições foram fundamentais para o entendimento
da evolução do desenho ao longo das diferentes fases do desenvolvimento
infantil. Luquet propôs quatro estágios que descrevem a progressão do desenho
na criança: o realismo fortuito, o realismo fracassado, o realismo intelectual e o
realismo visual.
Os estágios propostos por Luquet fornecem uma estrutura para compreender
a evolução do desenho infantil ao longo das diferentes fases do desenvolvimento.
Cada estágio representa uma etapa crucial no crescimento da criança e revela
as transformações cognitivas, perceptivas e sociais que ocorrem nesse processo.

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Ao reconhecer essas etapas, os profissionais da psicologia podem interpretar os
desenhos das crianças levando em consideração o contexto do estágio em que
elas se encontram, ampliando assim a compreensão de suas expressões visuais.
No estágio do realismo fortuito, que tem início por volta dos 2 anos de idade,
a criança começa a criar traçados ocasionais que dão origem às suas primeiras
representações simbólicas. Ela atribui nomes aos seus desenhos, estabelecendo
uma conexão entre suas formas e objetos ou figuras familiares. No entanto, a
relação entre o desenho e a realidade ainda é bastante vaga e imprecisa.

Já no estágio do realismo fracassado, que ocorre entre os 3 e 4 anos de idade,


a criança começa a distinguir a forma-objeto e tenta reproduzi-la de maneira
mais fiel. Ela percebe a discrepância entre o desenho que produz e a imagem que
deseja representar, o que leva a uma sensação de fracasso. A criança reconhece
que ainda não consegue reproduzir as formas com precisão, mas persiste em seus
esforços para alcançar uma representação mais realista.
À medida que avança para o estágio do realismo intelectual, que abrange dos
4 anos até os 10-12 anos de idade, a criança passa a desenhar não apenas o que
vê, mas também o que sabe sobre os objetos e o mundo ao seu redor. Ela utiliza
seu conhecimento e suas experiências para criar representações mais complexas,
que vão além da mera reprodução visual. O desenho se torna uma expressão
do pensamento e da compreensão intelectual da criança, refletindo seu nível de
desenvolvimento cognitivo.
Finalmente, no estágio do realismo visual, por volta dos 12 anos de idade, há um
«empobrecimento» do grafismo, pois a criança começa a incorporar as influências
e demandas do mundo adulto em seu desenho. A preocupação com a estética e
a representação visual realista dá lugar a questões mais pragmáticas e sociais.
O desenho se torna mais funcional e focado em cumprir propósitos específicos,
muitas vezes relacionados à comunicação ou à representação de informações.

2.7.2. Os 3 estágios do rabisco de Marthe Berson


Marthe Berson dedicou-se ao estudo do desenvolvimento infantil e fez
importantes contribuições para a compreensão da evolução do rabisco na
infância. Por meio de suas pesquisas, ela propôs a divisão desse estágio em
três fases distintas. Ao analisar os estágios do rabisco, Berson nos oferece uma
visão aprofundada das habilidades motoras, cognitivas e comunicativas que se
desenvolvem nas crianças nessa fase crucial de seu desenvolvimento.
Dentre os estágios propostos por Berson, o primeiro é o estágio vegetativo

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motor, que se inicia por volta dos 18 meses de idade. Nessa fase, a criança realiza
traçados arredondados e alongados, explorando o lápis e o papel de forma
sensorial. Ainda não há uma preocupação em criar representações simbólicas ou
formas reconhecíveis.
O segundo estágio, denominado representativo, ocorre entre os 2 e 3 anos de
idade. Nessa fase, a criança começa a produzir formas isoladas em seus rabiscos. Os
traçados podem ser contínuos e descontínuos, demonstrando maior coordenação
motora e controle do lápis. A criança experimenta diferentes movimentos e atribui
significado às suas criações, sendo possível identificar elementos simples, como
círculos, linhas retas e curvas.
No estágio comunicativo, que se desenvolve entre os 3 e 4 anos de idade, a
criança busca expressar-se por meio do desenho de forma mais intencional. Ela
busca reproduzir elementos da escrita adulta em seus rabiscos, como letras ou
números, e atribui significados específicos aos seus traçados. Essa fase evidencia
o emergir da linguagem simbólica e a capacidade da criança de utilizar o desenho
como um meio de comunicação.
Por meio da compreensão dos estágios do rabisco propostos por Marthe Berson,
é possível adentrar no mundo da criança em desenvolvimento, compreendendo
as nuances motoras, perceptivas e comunicativas que se manifestam em suas
produções gráficas. A análise dos rabiscos infantis dentro desse contexto oferece
uma valiosa ferramenta para profissionais que buscam compreender e auxiliar no
crescimento emocional, cognitivo e social das crianças.

2.7.3. 5 estágios de Piaget


Jean Piaget é amplamente conhecido por suas contribuições no campo da
psicologia do desenvolvimento infantil. Ao longo de sua carreira, Piaget investigou
minuciosamente a evolução do pensamento e da cognição nas crianças,
identificando estágios distintos que refletem o desenvolvimento progressivo
de suas habilidades mentais. No contexto da interpretação do desenho infantil,
Piaget descreveu cinco estágios fundamentais que revelam a transformação da
representação gráfica das crianças ao longo de seu crescimento.
O primeiro estágio, conhecido como «Garatuja», ocorre durante a fase
sensório-motora (0 a 2 anos) e pré-operacional (2 a 7 anos). Nessa fase inicial,
a figura humana ainda é inexistente, mas começa a ser representada de forma
rudimentar por meio de rabiscos. A cor não é um elemento central nesse estágio,
e os movimentos são amplos e desordenados na fase inicial, evoluindo para
traçados mais circulares e longitudinais posteriormente.

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O segundo estágio, denominado «Pré-esquemático», está inserido no estágio
pré-operacional. Nele, os desenhos das crianças ainda são dispersos na folha, não
seguindo uma organização espacial definida. Nessa fase, as cores são utilizadas
de forma aleatória, e vínculos emocionais começam a ser expressos nas criações
gráficas.
No estágio do «Esquematismo», que ocorre durante as operações concretas
(7 a 10 anos), as crianças passam a desenhar linhas de base inferior e superior,
embora ainda possam apresentar exageros, negligências e omissões em seus
desenhos. Além disso, nesse estágio, a relação entre cor e objeto começa a ser
estabelecida.
O estágio seguinte, denominado «Realismo», também se enquadra nas
operações concretas. Nessa fase, as crianças demonstram uma maior consciência
de gênero, sendo capazes de representar diferenças nas vestimentas. Os desenhos
tornam-se mais rígidos e formais, com a incorporação de formas geométricas e
cores mais realistas. As emoções também ganham destaque nesse estágio, assim
como a compreensão e aplicação de regras.
Por fim, no estágio do «Pseudo-naturalismo», que ocorre durante as operações
abstratas (a partir dos 10 anos), as crianças passam a demonstrar um senso mais
apurado de realidade e subjetividade em seus desenhos. As figuras humanas
tornam-se mais evidentes, com maior profundidade e expressão emocional,
refletindo a própria personalidade da criança.
A compreensão desses cinco estágios propostos por Piaget proporciona uma
visão abrangente sobre a progressão do desenvolvimento cognitivo e artístico
na infância. A análise dos desenhos infantis dentro desse contexto nos permite
acompanhar as transformações das habilidades de representação gráfica das
crianças, auxiliando-as em seu crescimento intelectual, emocional e artístico.

2.7.4. Estágios vistos de forma geral


Durante o período compreendido entre 1 e 3 anos, as crianças estão no estágio
das garatujas, em que os rabiscos são realizados sem controle motor preciso. Não
há limites definidos no papel, e muitas vezes a criança se movimenta enquanto
desenha. As linhas iniciais são longitudinais, e aos poucos vão sendo trabalhadas
de forma pendular, até que se fechem e formem círculos. Os desenhos são soltos
na folha, sem uma organização espacial específica.
À medida que as crianças avançam para a faixa etária de 3 a 4 anos, é
observado o início da representação de temas mais complexos. As paisagens
começam a surgir, e há uma variação no uso das cores. Além disso, as figuras

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humanas vão além das simples células, recebendo detalhes como cabelos e
rostos. Apesar dos temas presentes, as figuras continuam sendo desenhadas de
forma solta na folha. Também é comum nessa fase a antropomorfização, em que
características humanas são atribuídas aos elementos da natureza.
Entre os 5 e 6 anos de idade, as crianças passam a demonstrar a capacidade
de criar roteiros com início, meio e fim em seus desenhos. Os desenhos começam
a apresentar cenas mais elaboradas, porém, ainda são predominantemente
fantasiosas. Nessa fase, as histórias imaginárias ganham vida por meio dos traços
infantis.
A partir dos 7 a 8 anos, as crianças desenvolvem a noção de distância em
seus desenhos. Elas passam a criar cenas com mais detalhes e a representação
se torna mais elaborada. As crianças começam a considerar aspectos como a
perspectiva e a proporção na representação de objetos e pessoas.
Esses estágios de desenvolvimento na interpretação do desenho infantil
refletem o progresso cognitivo e criativo das crianças ao longo dos anos pré-
escolares e iniciais. Cada estágio representa uma etapa importante na evolução da
expressão gráfica, revelando as habilidades motoras, perceptivas e imaginativas
que se desenvolvem nesse período. Ao compreender e valorizar esses estágios, os
educadores e profissionais podem fornecer um ambiente adequado e estimulante
para o crescimento artístico e criativo das crianças.

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23

3 Os desenhos

3.1. Premissas importantes sobre a interpretação do


desenho infantil

Cada desenho realizado por uma criança é considerado um autorretrato, uma


representação única do seu desenvolvimento em todos os aspectos. Vai além de
uma mera projeção, é uma descoberta de como a criança está se expressando e
se desenvolvendo. Nesse sentido, é fundamental que o desenho seja estimulado,
não imposto, respeitando a individualidade e a liberdade de cada criança.
É de grande importância conhecer as diferentes fases do desenvolvimento do
desenho infantil para verificar se a criança está realizando desenhos compatíveis
com sua faixa etária. Essa compreensão nos permite acompanhar o crescimento
e a progressão do desenvolvimento da criança ao longo do tempo. Embora as
etapas do grafismo sejam uma continuidade, é necessário observar atentamente
as mudanças e evolução na arte da criança.
É essencial evitar a apresentação de modelos prontos para as crianças, pois
isso pode estimular a mera imitação. O papel do educador é facilitar e permitir
a expressão da criança, oferecendo liberdade criativa. O ato de desenhar é uma
forma de aprendizado, na qual são retratados sentimentos, capacidade intelectual,
desenvolvimento físico, criativo e social da criança.
Nenhum detalhe ou combinação de detalhes em um desenho possui significado
isolado. Para uma análise mais completa, é importante observar os detalhes fora
do desenho, como o tom de voz, a postura, o interesse demonstrado e a forma
como a criança utiliza o material e os espaços na folha de papel. Essa observação
cuidadosa nos ajuda a compreender o contexto e as intenções da criança ao se
expressar.
À medida que a criança recebe estímulos adequados, é possível perceber
mudanças no grafismo. O desenho se torna um veículo pelo qual a criança inicia
um processo de autoconhecimento, expressão da autoimagem e elaboração de
sentimentos. Além disso, o ato de desenhar auxilia na organização do pensamento
da criança, contribuindo para o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas.
Enquanto exploram o desenho, o tema em si não é o aspecto mais importante.
O foco está na forma como a criança retrata o tema, na expressão pessoal que
emerge através dos traços e cores. Cada desenho é uma janela para a mente e o

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mundo interior da criança, revelando sua perspectiva única e proporcionando um
meio de comunicação não verbal.
Em bullet points:
• O desenho nunca deve ser imposto e sim estimulado;
• É importante conhecer as várias fases do desenvolvimento, para verificar se
a criança está realizando um desenho dentro de sua faixa etária;
• À medida que a criança cresce e se desenvolve, sua arte também cresce e
se desenvolve;
• As etapas do grafismo são uma continuidade, difícil perceber onde começa e
termina, mas precisa-se observar o crescimento e progressão do desenvolvimento
da criança;
• Não apresentar modelos prontos para a criança. Modelos prontos estimulam
a imitação;
• É preciso que o educador facilite e permita as expressões e dê liberdade a
criança;
• O ato de desenhar é uma tentativa de aprendizagem, pois em cada
desenhos estão retratados sentimentos, capacidade intelectual, desenvolvimento
físico, criativo, social;
• Nenhum detalhe ou combinação de detalhes tem significado isolado;
• Devem ser observados detalhes fora do desenho em conjunto ao desenho,
como o tom de voz, postura, interesse, como a criança utiliza o material, os espaços
da folha de papel;
• À medida que a estimulação correta é dada, percebe-se a mudança no
grafismo;
• A criança inicia um processo de autoconhecimento, autoimagem, dando
espaço a se expressar e elaborar melhor seus sentimentos;
• A criança inicia também a organização do pensamento;
• O tema não é o mais importante e sim a forma como é retratado.

Em resumo, a interpretação do desenho infantil envolve uma compreensão


sensível e atenta ao contexto, ao desenvolvimento individual e à expressão criativa
da criança. Por meio dessa prática, podemos acompanhar seu crescimento,
estimular seu autoconhecimento e permitir que ela se expresse de maneira
autêntica e significativa.

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3.2. Sobre os materiais para desenhar

Se o tipo de elementos entregue à criança não for adequado ao seu


conhecimento, desenvolvimento e idade, poderá frustrá-la e seu comportamento
e sentimentos perante o desenho dará uma visão errônea a quem deu a atividade
a criança. Então, tipos de papeis e tipos de lápis adequados trarão dimensões,
formas, linhas, traços e mostrará também a orientação espacial a que essa criança
se refere em seu desenho.

3.2.1. Figuras para colorir ou folhas brancas


Existem uma discussão se a criança deve utilizar desenhos prontos para
colorir. Na realidade o que devemos refletir primeiro é “o que eu quero com essa
atividade?”
O desenho pronto para colorir auxilia no desenvolvimento da concentração,
o respeito as delimitações, estimula o processo de escolhas, já que para pintar
precisa pensar em que cores vai utilizar. Não os dê quando o objetivo é fazer com
que elas se expressem, pois a ideia pode inibir sua criatividade, fazendo com que
no passar do tempo não criem algo, e sim, criem padrões. Já na folha em branco, a
criança faz o próprio desenho, trabalha a criatividade, as emoções. Nesse sentido,
é importante apenas ter em mente: qual seu objetivo com tais atividades?

3.2.2. Tipos de lápis


Como se sabe, o lápis é um dos primeiros materiais que pensamos quando
falamos em desenho, por ele estar mais a mão e por ele dar cor (apesar de
algumas crianças não gostarem de colorir, mas gostam de desenhar, de realizar
desenhos acromáticos). Para crianças pequenas, dê preferência aos gizes de cera
grossos, passando posteriormente para os triangulares em seguida aos mais finos.
Como a criança
ainda está desenvolvendo a coordenação motora, tanto a pega como o deslize
do lápis no papel são realizados com mais facilidade.
Conforme vai crescendo e desenvolvendo-se, passa para o lápis de madeira
jumbo ou triangular que é um pouco mais grosso e chega-se então ao lápis de cor
tradicional. De acordo com Bédard, a preferência do lápis de ponta fina mostra
“conforto, luxo, mas que ainda possa ter dificuldade de auto-afirmação”³. Já a

3 1989 apud MEREDIEU, F. O Desenho Infantil: Estrutura, evolução e interpretação. São Paulo:
Edições Loyola, 2009.

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ponta mediana indica a “qualidade de adaptação e flexibilidade”⁴. E a ponta grossa


simboliza que “tomada uma decisão, não se muda de ideia com facilidade, não é
influenciável”⁵.

ponta mediana indica a “qualidade de adaptação e flexibilidade”⁴. E a ponta


grossa simboliza que “tomada uma decisão, não se muda de ideia com facilidade,
não é influenciável”⁵.

Fonte: www.elo7.com.br Fonte: leonora.com.br

3.2.3. Tipos do papel


A escolha do papel é tão importante quanto a escolha do lápis. É interessante
ter diferentes formatos, tamanhos, espessuras e texturas, para que a criança possa
escolher.
O formato do desenho realizado pela criança pode revelar características
importantes sobre sua personalidade e forma de interação com o mundo ao seu
redor. O tamanho do desenho, em particular, pode transmitir mensagens sutis
sobre a criança.
Quando o formato do desenho é pequeno, isso geralmente indica uma
tendência à introversão e concentração. A criança que desenha em um formato
pequeno tende a não ocupar todo o espaço disponível no papel. Essa característica

4 1989 apud MEREDIEU, F. O Desenho Infantil: Estrutura, evolução e interpretação. São Paulo:
Edições Loyola, 2009.
5 1989 apud MEREDIEU, F. O Desenho Infantil: Estrutura, evolução e interpretação. São Paulo:
Edições Loyola, 2009.

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pode estar relacionada à falta de confiança ou à preferência por manter suas
necessidades restritas. No entanto, é importante considerar outros elementos,
como o traço e a pressão aplicada no desenho, para uma interpretação mais
completa.
Por outro lado, um formato médio indica adaptabilidade e flexibilidade por
parte da criança. Ela tem facilidade em ocupar seu lugar no grupo e se ajustar às
situações. O desenho em formato médio sugere uma capacidade saudável de se
adaptar a diferentes contextos e interações sociais.
Já o formato grande revela uma criança que se sente socialmente capaz
e confiante em realizar coisas importantes. O tamanho do desenho reflete a
autoconfiança e a vontade de se fazer presente e se destacar em seu ambiente.
Essa criança tende a ter uma visão positiva de si mesma e acredita em suas
habilidades.
A textura e espessura do papel utilizado pela criança ao desenhar também
podem transmitir informações interessantes sobre sua personalidade e forma de
expressão. Quando a folha de papel possui uma textura brilhante, é adequada para
a utilização de técnicas como pintura com os dedos ou giz de cera. Nesse caso, os
dedos ou o lápis «patinam» sobre a superfície da folha. Geralmente, as crianças
que preferem essa textura são objetivas e diretas em sua abordagem. Elas tendem
a não gostar de conversas muito longas e preferem atividades práticas e tangíveis
para expressar suas ideias.
A espessura do papel também é um aspecto relevante. Quando a criança
utiliza um papel de espessura grossa, pode indicar uma busca por conforto, afeto
ou carinho. Essas crianças podem estar procurando uma sensação de proteção
e aconchego em suas expressões artísticas. Por outro lado, a espessura fina do
papel revela sensibilidade, emoção e um lado mais romântico na criança. Elas
podem ser mais propensas a expressar seus sentimentos e explorar o aspecto
subjetivo de suas experiências através do desenho.
É importante lembrar que essas interpretações devem ser consideradas em
conjunto com outras características do desenho, bem como com o contexto e a
idade da criança. Cada criança é única e o desenho é apenas uma das formas de
expressão que nos permite compreender seu mundo interior.

3.2.4. Orientação espacial


A forma como a criança utiliza o espaço da folha ao desenhar também pode
fornecer insights sobre sua psicologia e suas necessidades emocionais.
Quando a criança utiliza predominantemente a parte superior da folha, isso

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pode indicar um enfoque na imaginação, curiosidade e intelecto. Ela pode estar
explorando ideias e desejando descobrir coisas novas. Essa preferência pelo espaço
superior reflete uma mente aberta para novas possibilidades e uma inclinação em
direção ao mundo das ideias e da fantasia.
A utilização da parte inferior da folha está relacionada às necessidades físicas
e materiais da criança. Ela pode estar expressando preocupações sobre sua
sobrevivência, conforto ou satisfação de desejos materiais. Essa preferência pelo
espaço inferior pode refletir uma maior sensibilidade em relação às necessidades
práticas e tangíveis do dia a dia.
Quando a criança desenha principalmente no centro da folha, isso indica que
ela está focada no momento presente e aberta ao que está acontecendo ao seu
redor. Essa posição central reflete uma disposição para viver o presente, sem muita
ansiedade ou tensão. A criança pode estar mais em sintonia com suas emoções e
experiências imediatas.
A utilização da parte esquerda da folha está relacionada a pensamentos
relativos ao passado. Pode indicar uma tendência à inibição e ao controle
emocional. A criança pode estar processando eventos passados, lembranças ou
sentimentos que ainda exercem influência sobre ela. Essa preferência pelo espaço
esquerdo reflete uma maior introspecção e reflexão sobre experiências anteriores.
Quando a criança desenha predominantemente na parte direita da folha,
isso está relacionado a pensamentos relativos ao futuro. Essa posição reflete
uma tendência à extroversão, à busca de satisfação imediata e a uma visão mais
otimista em relação às possibilidades futuras. A criança pode estar expressando
suas aspirações, desejos e uma atitude mais voltada para o futuro.
Resumindo:
A - Superior: Representa a cabeça, imaginação, curiosidade, intelecto, desejo
de descobrir coisas novas
B - Inferior: Necessidades físicas, materiais
C - Centro: Momento atual, aberta ao que ocorre ao seu redor, não vive
ansiedades e tensões, relacionado à criança
D - Esquerda: Pensamentos relativos ao passado, inibição, controle emocional
E - Direita: Pensamentos relativos ao futuro, extroversão, procure de satisfação
imediata, criança visionária

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Figura: Posição do desenho na folha

A-SUPERIOR

D- ESQUERDA C- CENTRO E- DIREITA

PASSADO PRESENTE FUTURO

B- INFERIOR

Fonte: Elaborado pela autora

Ao observar o posicionamento do desenho no papel, é possível obter insights


adicionais sobre as características e emoções da criança. Além das interpretações
anteriores, existem outros aspectos a serem considerados.
Quando a criança desenha para fora do papel, estendendo seus traços além das
margens, isso pode indicar debilidade mental ou um fraco índice de sociabilização.
É como se ela se desconectasse do mundo ao seu redor, demonstrando dificuldade
em se envolver plenamente em interações sociais.
Se a criança desenha nos cantos da folha, buscando as bordas, pode ser um
indício de fuga ou desajuste em relação ao ambiente. Ela pode se sentir mais
confortável ao se distanciar ou se afastar do centro das atenções e das demandas
sociais.
Quando o desenho se concentra no canto direito da folha, isso pode revelar um
comportamento mais controlador e racional por parte da criança. Ela pode preferir
a satisfação intelectual em detrimento da satisfação emocional, mostrando uma
tendência a pensar de forma lógica e priorizar a análise e o planejamento.
Por outro lado, se o desenho se concentra no canto esquerdo da folha, pode
indicar um comportamento mais impulsivo e uma busca por satisfação imediata.
A criança pode ser mais orientada pelo desejo de gratificação imediata, tendo
dificuldade em considerar as consequências a longo prazo.
Se a metade superior da folha é utilizada para o desenho, isso pode refletir uma
tendência à fantasia. A criança pode ter uma imaginação vívida e uma inclinação
para criar mundos imaginários e histórias fantásticas.

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Já se a metade inferior da folha é predominantemente utilizada, isso pode


sugerir insegurança e um estado depressivo. A criança pode estar expressando
preocupações, ansiedade ou tristeza através do posicionamento do desenho.

3.2.5. Dimensões, traços, pressão, formas, linhas e


traços
O tamanho do desenho também é um aspecto significativo na interpretação do
trabalho infantil. Tanto desenhos muito grandes quanto desenhos muito pequenos
podem transmitir mensagens específicas:
Quando o desenho é muito grande, podemos atribuir uma interpretação
favorável ou desfavorável. Em geral, um desenho grande indica uma certa
segurança e autoafirmação por parte da criança. Ela está ocupando um espaço
maior na folha, mostrando confiança em si mesma e em suas habilidades. No
entanto, também pode ser um desenho de compensação, revelando o desejo da
criança de receber mais atenção e reconhecimento. Ela pode sentir que precisa se
afirmar mais fortemente e ocupar um espaço maior para ser notada.
Por outro lado, quando o desenho é muito pequeno, isso pode indicar
crianças que se conformam com «aquele pouco espaço» disponível. Elas têm
uma necessidade menor de se afirmar e ocupar um espaço maior na folha. Essas
crianças podem ser mais reservadas, introvertidas e menos exigentes em termos
de atenção e espaço físico. Elas se sentem confortáveis com um espaço mais
limitado e têm uma abordagem mais contida em relação ao desenho.

Os traços presentes no desenho de uma criança transmitem informações sobre


seu espírito, rapidez, rebeldia e tranquilidade. Cada tipo de traço revela diferentes
características e estados emocionais:
O traço contínuo é suave e desliza sobre o papel sem interrupção. Essas linhas
precisas e contínuas expressam um espírito dócil e em harmonia. A criança que
utiliza esse tipo de traço demonstra respeito pelo seu ambiente e busca o bem-
estar físico. Ela tem uma abordagem cuidadosa e atenta ao desenhar, transmitindo
uma sensação de tranquilidade e equilíbrio.

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Por outro lado, o traço manchado ou cortado é o oposto do contínuo. Nesse
caso, a criança começa a desenhar, para abruptamente e recomeça em outra
direção. Esse padrão de movimento revela indecisão em relação às mudanças e
instabilidade emocional. A criança pode ter uma abordagem impulsiva inicialmente,
mas depois percebe que não era aquilo que desejava e recomeça na direção
desejada. Esse tipo de traço indica uma busca por clareza e um processo de
autodescoberta em relação às próprias emoções.

O traço oblíquo é aquele lançado ao céu, como um foguete. Ele indica que a
criança sabe o que está fazendo. A pressão exercida durante esse traço é o que
irá determinar sua interpretação. Se a pressão for normal, simboliza a criança
descarregando sua energia de forma agradável e harmônica. No entanto, se a
pressão for maior, pode indicar raiva ou frustração. A intensidade do traço oblíquo
revela o estado emocional e a energia que a criança está canalizando para o
desenho.
A pressão exercida no papel ao realizar um traço também traz informações
significativas. Uma boa pressão demonstra vontade e entusiasmo ao desenhar.
Quanto mais forte a pressão, mais agressividade pode estar presente. Por outro
lado, uma pressão superficial indica distanciamento, falta de convicção ou até
mesmo cansaço físico.
Traços com pouca pressão revelam um baixo nível de energia e um sentimento
de inadequação. A criança pode estar passando por um momento de desânimo
ou falta de confiança. Por outro lado, traços com muita pressão denotam tensão
e agressividade. Esse tipo de traço pode estar associado a uma criança que está
lidando com emoções intensas ou até mesmo a indivíduos com epilepsia.
Traços trêmulos indicam insegurança. A criança pode estar se sentindo ansiosa
ou com medo, o que resulta em linhas tremidas e menos precisas.
Dentro de seu traçado podem existir formas e não só linhas. As formas são
interpretadas universalmente.

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Nesse sentido, desenhos com círculos simbolizam ciclos, renovação, criança
que trabalha com o que já vive e conhece. Gosta de fazer as mesmas coisas, mas
de formas diferentes. Traços arredondados, grossos e amplos mostram preguiça,
desmotivação, pode ser por cansaço, mas também podem não ser. Já desenhos
com quadrados apresentam traços mas rígidos, determinação, são decididos.
Estão mais presentes em desenhos de crianças que precisam gastar energia, se
movimentar, se esses movimentos são mais bruscos, normalmente são de crianças
que não mudam de opinião e são mais competitivas.
Por fim, desenhos com triângulos estão ligados ao conhecimento. Crianças
que desenham muitos triângulos com o vértice para cima são mais sensíveis,
intuitivas, criativas, tranquilas, porém curiosas. Já as que desenham com vértice
para baixo, também buscam conhecimento, mas são de uma índole mais física e
material, são mais pragmáticas.

3.2.6. Cores
A maior parte dos desenhos que vemos das crianças são coloridos, apesar de
algumas não gostarem de colorir, somente de desenhar com lápis nº 2 (desenhos
acromáticos)
Essas cores muitas vezes auxiliam na interpretação, mostrando um todo,
desses desenhos, com pontos negativos ou positivos.
As vezes uma cor colocada em uma folha de papel não mostra nenhum
desequilíbrio na criança, o importante ao olhar o desenho é ver que informações,
que mensagem, as pistas que a criança nos transmite.

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Fonte: Elaborado pela autora, baseado na obra de BÉDARD, pg. 29 a 36 (1998)

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3.2.7. Outros materiais que também são usados


para se fazer desenho ou auxiliá- los
O lápis e o papel são os principais instrumentos quando se fala em desenho,
mas existem outros materiais que também estão presentes em um desenho, ou
para desenhar ou para auxiliar nesse processo de estimulação da criatividade. Os
materiais sempre deverão ajustar-se as necessidades da criança.
Durante a fase da garatuja, por exemplo, a criança deve utilizar materiais em
que elas experimentem as sensações e estimulem a livre expressão. Argila, massinha
de modelar, materiais com diferentes texturas, cores e formas, intensificam essas
sensações corporais.
Utilize papéis diversos e lápis de acordo com as idades. Pode ser giz de cera
(grosso, triangular, tradicional), giz de quadro (branco ou colorido), lápis de cor
jumbo ou tradicional. Quando nos referimos ao desenho infantil, normalmente não
oferecemos canetinha hidrocor as crianças, mas não é vedado, porém sempre as
crianças maiores, não as pequenas. Podemos entregar materiais para adicionarem
aos desenhos, como folhas de árvores, recortes, barbantes, e ela construirá o
próprio trabalho. Outra forma que podemos utilizar para produzir os desenhos são
a tinta guache, pintura a dedo, com pincel, soprada (com canudos), esponjado.
Outras formas de arte que podem auxiliar estimulação da criatividade são
materiais como argilas, barro, massinha de modelar, massinha de areia e areia .

3.3. Os elementos dos desenhos

3.3.1. desenhos e as estações do ano


De acordo com BÈDARD (1998), as estações do ano também podem influenciar
no desenho infantil.
As estações do ano também podem transmitir mensagens e significados
especiais nos desenhos das crianças. Cada estação possui características
simbólicas que refletem o estado emocional e as aspirações da criança.
No inverno, o desenho pode mostrar o desejo de paz e harmonia. Se houver
neve cobrindo o desenho, isso pode simbolizar experiências ou sentimentos que a
criança não deseja que sejam revelados. A atmosfera do inverno pode representar
a necessidade de acalmar a mente e buscar tranquilidade.
A primavera evoca esperança e renovação. O desenho pode refletir a energia
e o otimismo da criança, lembrando-a de promessas feitas a ela. A criança pode
mostrar atenção aos detalhes e fazer questionamentos, parecendo intuitiva. No

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entanto, na realidade, ela pode desejar que suas vontades sejam adivinhadas,
buscando uma conexão mais profunda com os outros.
O verão é frequentemente associado a desenhos de flores e pássaros,
representando a vivência no momento presente e a satisfação com o ambiente.
O desenho pode expressar a crença da criança de que seus sonhos podem se
tornar realidade. O verão traz uma sensação de alegria e liberdade, com a criança
aproveitando o calor e a plenitude da vida.
O outono simboliza a conclusão de uma etapa. O desenho pode indicar a
produtividade vivenciada pela criança e sua necessidade de descanso. O ritmo
mais lento representa a finalização de um evento ou momento, marcando um
período de transição e preparação para a próxima fase.

3.3.2. Repetição do mesmo tema ou a diversidade


de temas
Quando uma criança desenha repetidamente o mesmo tema, existem
algumas considerações importantes a serem observadas, de acordo com estudos
e pesquisas, como mencionado por Bédard (1998). Esses desenhos podem refletir
diferentes aspectos da personalidade e das experiências da criança:
Em alguns casos, a criança pode ter sido elogiada anteriormente por um
determinado desenho e, por ser insegura, acredita que deve desenhar sempre o
mesmo tema para ser bem vista e aceita. Ela busca a aprovação e a aceitação
dos outros através do desenho repetitivo, buscando uma sensação de segurança
e reconhecimento.
Por outro lado, para algumas crianças, desenhar repetidamente o mesmo
tema pode ser uma forma de expressar vivências e emoções agradáveis ou, ao
contrário, uma maneira de lidar com frustrações e pedir ajuda. Essas crianças
podem reproduzir desenhos que representam experiências positivas ou negativas,
utilizando a repetição como uma forma de processar e comunicar suas emoções.
Desenhos que apresentam uma diversidade de temas podem dificultar a
análise, pois não há uma relação clara entre eles. Geralmente, esses desenhos são
produzidos por crianças que são influenciadas pelo ambiente ou pelas pessoas
ao seu redor. Essa diversidade pode ser um reflexo da instabilidade emocional da
criança, que está exposta a diferentes estímulos e influências.
Ao interpretar um desenho, é importante ter cuidado, pois um único desenho
com traços inesperados pode ser algo isolado e sem grande significado. No
entanto, se houver uma continuidade em desenhar repetidamente o mesmo tema
ao longo de várias sessões, isso pode indicar a necessidade de uma investigação

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mais aprofundada. É importante analisar o contexto do desenho, considerando
outros elementos presentes e buscando compreender a intenção e as emoções
subjacentes que a criança está expressando através do seu desenho repetitivo ou
diversificado.
Cada criança é única e suas expressões artísticas refletem sua personalidade,
suas experiências e suas necessidades individuais. Portanto, a interpretação dos
desenhos deve levar em conta o contexto geral, a observação contínua e o diálogo
com a criança, a fim de compreender plenamente o significado de suas criações e
oferecer suporte adequado quando necessário.
As crianças ao desenharem fazem ilustrações diversas, porém algumas
repetem sempre o mesmo tema, enquanto outras nunca desenham na mesma
linha de pensamento.

Outros fatores importantes


• Sempre olhar o verso da folha: Em alguns casos, algumas crianças desenham
algo que esqueceram, ou que não coube. Porém pode ser uma forma de chamar
a atenção para algo ou alguém ou desenham algo consciente que querem que
sabia sem que conte conscientemente. Ex.: Desenhar os membros da família e
deixar um de fora (do outro lado da folha, isolado).
• Originalidade: Os desenhos originais, as vezes são mal vistos pelos adultos,
como absurdos ou que a criança não vive na realidade. Ex.: Uma árvore que as
folhas são peixes. Como já mencionado algumas vezes, tudo deve ser analisado.
Essa criança vive no mundo real ou num mundo a parte?
Essa criança é criativa e cria histórias com contextos, início, meio e fim? Ela
tem possui suas próprias opiniões de forma lógica?
• Transparências: Desenhos em as crianças desenham o interior como se
fosse algo transparente, um vidro, como por exemplo, mostra o interior de uma
casa, uma pessoas com seus órgãos a mostra, indicam duas coisas: 1- Inteligência
e intuição, a criança vê além, a frente que o aparente ou, 2- Inclinadas a mentira,
escondem pensamentos e sentimentos

Fonte: rocioodi.blogspot.com Fonte: rodadeinfancia.blogspot.com

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3.3.3. Surgimento da figura humana


O surgimento da figura humana mostra o conhecimento que a criança tem
de si mesma, uma forma de linguagem e expressão. Mostra como ele enxerga sua
evolução.
• 3 anos: Início dos rabiscos circulares, uma tentativa de representação,
surgimento da célula, brações e pernas pendurados
• 4 anos: Das células saem boca, olhos, mas não necessariamente dentro da
célula, braços e pernas continuam pendurados
• 5 anos: Figuras soltas, que flutuam na folha, os brações e pernas pendurados
se transformam em escadinhas que correspondem as costelas e a continuidade
das pernas
• 6 a 9 anos: Figura completa, mas com poucos detalhes
• 10 a 12 anos: Figura completa, agora com mais detalhes

3.3.4.1. Casa
A casa é um dos primeiros desenhos feitos pela criança. Transmite segurança,
convívio, mostra o tamanho da abertura que a criança dá ao mundo ao seu redor.
Cada desenho de casa representa a vida de cada criança, se engana quem acha
que todos os desenhos de casa infantis são iguais.

3.3.4.1.1. Elementos da casa


Observam-se alguns elementos da casa que fazem diferença no desenho
feito por uma criança.
• Portas: Pequena, mostra que a criança tem dificuldade em chamar o outro
para sua casa, é seletiva (até com amigos e parentes). Já porta muito grande, é
ela dando as boas-vindas. Não esquecendo que ela precisa de outros elementos
que a auxiliam nessa abertura, essa porta possui maçaneta? Em que lado está
essa maçaneta. Ao centro, pouco

vista, criança que procura por uma independência, autonomia, se estiver à


esquerda, pensamentos ligados ao passado (para obter confiança no futuro),
não gosta muito de mudanças, prefere crianças menores, não quer crescer. Já à
direita, mostra que a criança quer mudar, por isso tem dificuldade de firmar-se no
tempo presente.
• Janelas: Quanto mais janelas, mais curiosa a criança é. BÈDARD afirma que,
“Observa-se através da janela, porém, entra-se pela porta” (1998, pg. 43). Janelas

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pequenas tem curiosidade, porém, é introvertida, discreta, e normalmente não as
desenha em grandes quantidades. Já as janelas grandes, mostram uma grande
curiosidade pela vida, deseja sempre saber mais, ir além
• Chaminé: Vemos menos nos desenhos de hoje em dia, na realidade,
quando peço a uma para desenhar uma casa percebo mais são as antenas e
menos chaminés. Quando pensamos em nosso país, a chaminé não faz parte da
arquitetura que a criança conhece, ela as vê em desenhos animados, em filmes
(principalmente os de Natal!), nas historinhas clássicas (os três porquinhos) e em
desenhos vindos de outras gerações. Em muitos desenhos, mesmo conhecendo,
não as desenharão, e quando as desenham, em algumas não saem fumaça.
Lembremos sempre que a chaminé não é considerada obrigatória, mas o que
representa quando as crianças as inserem em seus desenhos? O grau de emoção
do ambiente vivido pela criança. Por exemplo, um traço simples mostra uma
influência favorável. Já a fumaça densa e escura é desfavorável, um traço muito
fino pode ser desfavorável (que o fogo apagou) ou favorável (que o fogo acabe
de se reacender)
Ao interpretar, lado esquerdo refere-se ao passado, enquanto o lado direito,
refere-se ao futuro. Quanto mais legre for o desenho, harmonia entre cores,
proporções, simboliza que o ambiente familiar é saudável. Já desenhos com
cores fracas, falta de elementos importantes, fumaça suave e fraca, mostra que o
ambiente familiar não anda bem.

3.3.4.1.1. Elementos da casa


• Sol: Antigamente, representava o pai. Mas agora é visto de uma forma
diferente. Se desenhado do lado esquerdo, representa o passado e vínculo com
a mãe. Já do lado direito, representa a percepção que a criança tem do pai. Ao
centro, representa a própria criança.
• Lua: Já está vinculado a mãe (representa doçura, adaptação, intuição) e
normalmente a desenha do lado esquerdo. Já a lua a direita, pai imaginativo,
com talentos artísticos. Uma criança sonhadora, desenha uma lua ao centro,
normalmente cheia.
• Estrelas: Parecido com a simbologia da flor (que veremos a frente). Crianças
que desenham estrelas vivem no presente. Relativo a desejos, que podem se
transformar em realidade
• Nuvem: Normalmente indicam mau tempo, mas também demonstram
regeneração, simboliza sensibilidade ao ambiente paterno, entende que a vida
tem momentos bons e ruins. A cor é que entoará a interpretação (brancas ou

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azuis, bom tempo, cinza ou negra, a chuva vai chegar!!)
• Chuva: Fecunda, limpa, purifica, mas também pode devastar. Alguns
interpretam como lágrimas das crianças.
• Arco-íris: Demonstra paz e harmonia, proteção, a curvatura simboliza
flexibilidade. Arco-íris em demasia, pode significar que a criança já viveu muitos
momentos de tormenta. Um elemento importante, normalmente estão nos
desenhos das crianças, representa o emocional + físico + intelectual.
• Árvore: A interpretação, de acordo com BÈDARD (1998), está relacionada
a três partes: base e as raízes, a altura e a espessura do tronco e os ramos e
folhagem. O tronco nos sobre a energia física da criança. A altura do tronco
simboliza a atitude e comportamento em relação do mundo exterior. Ramos e
folhas falam sobre a criatividade e imaginação. Folhagem em abundância revelam
muitas ideias e projetos. Árvores enraizadas demonstram força, pois puxam muita
energia da terra.
• Flores: simboliza o amor, criança deseja agradar (em demasia, pode indicar
falta de segurança)
• Montanhas: Indica estabilidade, mas também metas e sonhos. A esquerda
estabilidade adquirida, a direita, a estabilidade que deseja adquirir, já ao centro,
desejo que sua meta se concretize agora. É importante observar o contexto
do desenho, pois podem haver outros elementos junto a montanha e eles se
relacionarão a história da criança.
• Animais: Desenhos constantes com animais simbolizam a necessidade
em comunicar-se com algo. Animais domésticos (Companhia, tranquilidade),
cavalos (ambição), pássaro (curiosidade e alegria, desejo de realizar várias coisas
ao mesmo tempo), água e peixes (felicidade, mesmo estando só ou em grupo). O
desenho monstros, quer impressionar ou influenciar, não devemos nos preocupar
se não houver relação com a idade em crianças tem medo ou algo relacionado ao
assunto.
• P Veículos: Bicicletas, ônibus, carro, avião, barcos, indicam atitudes sociais.
Carros mostram a relação com as regras. Já os ônibus, simbolizam que a criança
não gosta de sentir-se isolada. Avião, voa sempre mais alto. Já a bicicleta nos
mostra um ritmo mais pausado. O barco, indica grande capacidade de adaptação,
porém precisa-se observar o porte da embarcação.

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4 Vamos praticar?

Agora que já conhecem alguns elementos e seus significados iremos observar


alguns desenhos e tentar decifrá-los. Lembre-se, isso é apenas um exercício
para praticar, pois para tirarmos algumas conclusões é importante ver a criança
realizando o desenho, conhecer sua história de vida.

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5 A prática

5.1. Como fazer a aplicação do desenho

Ao trabalhar com crianças e seus desenhos, é fundamental respeitar sua


livre expressão e promover um ambiente propício para o desenvolvimento de sua
criatividade. Valorizar a singularidade de cada criança é essencial, permitindo
que ela se expresse livremente por meio do desenho, sem imposições ou modelos
prontos. É importante que o educador esteja presente como um facilitador,
fornecendo apoio e encorajamento, sem interferir diretamente no processo criativo.
A valorização do desenho da criança é um aspecto crucial. Reconhecer e elogiar
seus esforços e conquistas, demonstrando interesse genuíno por seu trabalho, é
fundamental para estimular sua autoestima e seu crescimento artístico. Isso cria
um ambiente de confiança, no qual a criança se sente encorajada a explorar suas
habilidades e expressar-se de maneira autêntica.
A disponibilidade de materiais adequados também é importante. Garantir
que a criança tenha acesso a lápis de cor, canetas, pincéis e papel de qualidade
possibilita a exploração de diferentes técnicas e estilos de desenho. Isso amplia
suas possibilidades criativas e promove um maior engajamento com a atividade.
É necessário fornecer comandos claros e objetivos durante o processo de
desenho. Ao estabelecer expectativas específicas, a criança compreende melhor
o que se espera dela e pode concentrar-se nas tarefas propostas. No entanto,
é importante equilibrar essa orientação com a liberdade para que a criança
desenvolva sua própria expressão e estilo pessoal.
Por fim, é essencial respeitar o tempo e o espaço da criança. Permitir que
ela tenha o tempo necessário para concluir seu desenho é importante para
que ela possa transmitir suas informações e emoções de maneira adequada.
Evitar pressões e incentivar a autonomia no processo de criação contribui para
o desenvolvimento de habilidades artísticas e promove um ambiente acolhedor
para a expressão da criança.
Ao seguir essas orientações, os educadores podem criar um ambiente
enriquecedor, no qual a livre expressão da criança seja valorizada e estimulada.
O desenho torna-se não apenas uma atividade criativa, mas também um meio

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de comunicação e desenvolvimento pessoal, no qual a criança pode explorar sua
imaginação, expressar suas emoções e desenvolver sua identidade artística.

5.2. Como fazer o inquérito do desenho

Após a atividade concluída, deve-se realizar o inquérito, uma conversa, sobre


o desenho. Use palavras adequadas para fazer um comentário ou perguntas
sobre o desenho. Nunca pergunte diretamente “O que você desenhou?”. Prefira
perguntas indiretas como: “O que é isso? “ ou Conte-me sobre o seu desenho.”
Pergunte sempre de forma adequada, que deixe a criança a vontade e sinta
que você se interessa pelo que ela fez. Um desenho isolado, não lhe trará respostas.
Peça que a criança faça outros desenhos em momentos diferentes.
Observe se a linguagem foi espontânea ou provocada.
Os desenhos devem ter o nome da criança e a data que foi realizado no
canto da folha ou no verso, para possa realizar a comparação dentro do período
cronológico correto. Sempre redigir o comentário, da forma como a criança
contou. E lembre-se: a interpretação do desenho é um complemento e deve estar
integrado a outras atividades da criança.

5.3. Como fazer a análise

Após a conclusão dos desenhos, é importante reunir não apenas as próprias


criações da criança, mas também complementar as informações com a anamnese
e a história de vida dela. Essa abordagem holística permite uma compreensão
mais completa e precisa do significado dos desenhos. Interpretar um desenho
isoladamente pode levar a interpretações equivocadas, uma vez que um único
elemento pode ser mal compreendido ou interpretado fora de contexto.
Ao combinar as anotações dos desenhos com informações sobre a vida
da criança, como experiências passadas, relacionamentos familiares, eventos
significativos e até mesmo aspectos emocionais e comportamentais observados,
é possível obter uma visão mais abrangente e profunda de sua expressão artística.
Isso permite uma interpretação mais precisa e contextualizada, levando em
consideração a individualidade da criança e as nuances de sua história pessoal.
A interpretação dos desenhos deve ser realizada com cuidado e sensibilidade,
buscando compreender o significado simbólico por trás dos elementos presentes.
O contexto fornecido pela anamnese e pela história de vida ajuda a identificar
possíveis padrões, associações ou temas recorrentes nos desenhos da criança.

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Além disso, a observação das escolhas de cores, traços, composição e expressões
emocionais presentes nos desenhos também desempenha um papel importante
na interpretação adequada.
Portanto, a combinação dos desenhos com a anamnese e a história de vida
da criança é essencial para uma interpretação mais precisa e significativa. Essa
abordagem multidimensional permite compreender os desenhos como uma forma
de comunicação não verbal, refletindo a visão de mundo, as emoções, os conflitos
e os anseios da criança. Ao considerar todos esses aspectos, os profissionais
envolvidos podem oferecer um suporte mais efetivo e personalizado, auxiliando
no desenvolvimento emocional, psicológico e criativo da criança.

5.4. Técnicas projetivas, um olhar psicopedagógico

As técnicas projetivas, de acordo com Visca⁶, têm como objetivo observar os


vínculos que a criança estabelece dentro do grupo familiar, escolar e com ela mesma.
Já Sara Paim⁷, analisa o desenho ou a história do desenho como “a capacidade do
pensamento para construir uma organização coerente e harmoniosa e elaborar
a emoção”.
Para Visca, a interpretação deve ser realizada de forma individual, pois cada
traço, cada cor e cada vivência são únicas. Por isso, é necessário que sejam
aplicadas somente aquelas as provas que auxiliem dentro do que foi observado
até o momento, não há necessidade de aplicação de todas em conjunto.
Visca propôs uma organização para a seleção das provas projetivas, que
englobam diferentes aspectos dos vínculos da criança. Essas provas são divididas
em três categorias principais: vínculo escolar, vínculo familiar e vínculo consigo
mesmo.
No vínculo escolar, as provas projetivas exploram a relação da criança com o
ambiente educacional. Elas podem envolver a representação de um par educativo,
a criança com seus companheiros ou até mesmo a planta da sala de aula. Essas
expressões visuais revelam aspectos do vínculo da criança com seus colegas, sua
adaptação ao ambiente escolar e sua percepção do espaço de aprendizado.
No vínculo familiar, as provas projetivas abordam a relação da criança com
sua família. Isso pode ser representado através da planta da casa, onde a criança
desenha os diferentes cômodos e os quatro momentos do dia, refletindo a dinâmica
familiar. Essas provas podem revelar informações sobre o ambiente familiar, os

6 2008.
7 1992 apud Sampaio, 2018.

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papéis desempenhados pelos membros da família e a interação entre eles.
No vínculo consigo mesmo, as provas projetivas exploram a relação da criança
com sua própria identidade e individualidade. Isso pode incluir representações
do dia de seu aniversário, de suas férias ou de si mesma realizando atividades
que gosta. Esses desenhos em episódios fornecem insights sobre as emoções,
interesses e autoconhecimento da criança.
Além dessas categorias, há observações importantes que devem ser feitas ao
analisar as técnicas projetivas. O tamanho do desenho pode indicar um vínculo
inadequado, seja ele muito grande ou muito pequeno. O tamanho dos personagens
também é relevante, assim como a presença do próprio sujeito na cena e a possível
ausência de alguém que deveria estar ali.
Outros aspectos a serem considerados incluem o distanciamento dos
personagens, o uso de borracha e como ela é utilizada, a representação de
pés e mãos (que pode indicar dificuldades de relacionamento ou busca por
conhecimento), a presença ou ausência de boca, olhos e orelhas (relacionados
à comunicação e atenção) e se o desenho foi realizado conforme a solicitação,
demonstrando uma boa compreensão.
Além disso, é importante observar se há recusa em desenhar ou escrever, o
que pode indicar resistências emocionais ou dificuldades específicas. A relação do
desenho na folha também pode fornecer pistas sobre a organização espacial e a
percepção do sujeito em relação ao ambiente.
Ao considerar todas essas observações e categorias na interpretação das
provas projetivas, é possível obter uma compreensão mais completa e precisa
dos vínculos da criança, suas emoções, seu comportamento social e sua relação
consigo mesma e com o ambiente que a cerca.

Figura: Posição do desenho da criança na folha

Fonte: Elaborado pela autora, baseado na obra de VISCA,2008, pg. 23

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Ao analisar os desenhos produzidos pelas crianças, é fundamental considerar
o conjunto da obra e não avaliar elementos isolados. Os desenhos devem ser
observados dentro de um contexto, levando em conta as características gerais, os
temas abordados e a forma como estão organizados no papel. Essa abordagem
mais abrangente permite uma compreensão mais precisa do que a criança está
expressando por meio de suas criações visuais.
Quando a criança já é alfabetizada, é possível enriquecer a análise solicitando
que ela escreva sobre o desenho que fez. Essa escrita pode revelar informações
adicionais, como a habilidade de escrita, a ortografia e a grafia da criança.
Observar a relação entre o desenho e o texto escrito proporciona uma visão mais
completa da mensagem que a criança deseja transmitir.
No entanto, é importante respeitar a vontade da criança. Caso ela não queira
escrever, não é necessário forçá-la a fazê-lo. Cada criança tem seu próprio ritmo e
suas preferências individuais. A não realização da escrita não invalida a análise dos
desenhos, que por si só já fornecem informações relevantes sobre a percepção e
as emoções da criança.
Quando a criança opta por escrever, pode-se também solicitar que ela coloque
um título para o desenho ou história. Esse exercício permite avaliar a capacidade
de síntese, a relação entre o conteúdo visual e o título escolhido, bem como a
elaboração e complexidade do título. Dessa forma, é possível compreender melhor
a intenção por trás do desenho e a forma como a criança interpreta e estrutura
sua criação.

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6 Algumas ferramentas

6.1. Par educativo

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


Par 6 a 7 anos Escolar • Malvina Oris Explorar os vínculos
Educativo • Maria Luisa de de aprendizagem
Ocampo

Como realizar:
Solicitar à criança que desenhe uma pessoa que ensina e uma pessoa que
aprende.
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• Qual o nome dessas pessoas?
• Qual a idade delas?
• Conte-me sobre seu desenho, o que está se passando nele?
• Qual título você daria a ele?
• Gostaria que escrevesse algo sobre ele para mim
• Outras perguntas que achar conveniente, de acordo com o desenho

Analisar⁸:
• Tamanho do desenho
• Tamanho dos personagens
• Tamanho dos objetos
• Posição dos personagens
• Distância entre os personagens
• Contextualização
• Local da cena

8 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.2. Eu com meus companheiros

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


Eu e 7 a 8 anos Escolar • Sara Bozzo de Investigar o
meus Shettini vínculo
companheiros com os colegas de
classe

Como realizar:
Solicitar à criança que desenhe com seus colegas de sala.
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• que pode me dizer a respeito de seus colegas?
• Pode me falar sobre cada um deles?
• Quem é você nesse desenho?
• Como cada um se chama? Você sabe a idade de cada um?
• Gostaria que escrevesse algo sobre seu desenho para mim
• Outras perguntas que achar conveniente, de acordo com o desenho

Analisar9:
• Tamanho do desenho
• Tamanho dos personagens principal
• Tamanho dos demais personagens
• Posição dos personagens
• Inclusão do professor
• Inclusão de uma pessoa que é fora desse grupo
• Comentário sobre os companheiros

9 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.3. A planta da sala de aula

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


Planta da Sala 8 a 9 anos Escolar • Desconhecido Explorar a
de Aula representação da
sala de aula e sua
posição real e dese-
jada

Como realizar:
Solicitar à criança que desenhe a sala de aula como se estivesse a vendo de
cima, a planta de sua sala de aula.
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• Como é a sua sala de aula?
• Como são as suas aulas?
• Mostre-me com um X qual o lugar que você se senta?
• Quem escolheu esse lugar, você ou sua professora?
• Você queria sentar-se em outro lugar? Por quê?
• Como é a sua professora?
• que você poderia me dizer sobre ela?
• Quem está estado nesses outros lugares?
• Fale-me um pouco sobre eles
• Outras perguntas que achar conveniente, de acordo com o desenho

Analisar10:
• Disposição da sala
• Tamanho da sala
• Localização da sala
• Elementos inclusos na cena
• Representação de pessoas nesse desenho
• As aberturas
• Comentários sobre as aulas

10 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.4. A planta da minha casa

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


A planta da 8 a 9 anos Familiar • Desconhecido Investigar a
minha casa representação da
sua casa e a posição
real e desejada

Como realizar:
Solicitar à criança que desenhe a sua casa como se estivesse a vendo de cima,
a planta de sua casa.
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• Me diga, como é a sua casa?
• Onde vocês fazem as refeições? Vocês comem juntos?
• que fazem quando todos estão juntos?
• Onde você estuda? E com quem você estuda?
• Há um lugar reservado para os estudos?
• Onde fica seu quarto?
• Quem o escolheu para você?
• Você pode arrumá-lo, organizá-lo como quiser?

• Você gosta de seu quarto ou gostaria de ter outro quarto? Você dorme
sozinho, com alguém ou gostaria de dormir com outra pessoa?
• Coloque o nome de cada cômodo (local) da sua casa
• Coloque um título e escreva algo sobre o seu desenho
• Se houver perguntas complementares pertinentes ao desenho, faça-as.

Analisar11:
• Ponto de vista: O sujeito se sente parte integrante dessa família?
• Espaços representados
• Tamanho do plano da casa
• Desenhou só a planta da casa ou adicionou pessoas a ela?
• Há aberturas, canais de comunicação?
• Observar as respostas sobre o quarto, local de estudo, espaço de reuniões
familiares

11 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.5. Os quatro momentos do dia

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


Os quatro 6 a 7 anos Farmiliar Adaptação do Explorar os vínculos
momentos do desenho em que o indivíduo esta-
dia episódios de A. belece ao longo
Jaeggi (Visca, p do dia
128)

Como realizar:
O entrevistador dobrará a folha em quatro partes iguais e pede que a criança
faça o mesmo com a folha dela.
O entrevistador dia a ela que gostaria que ela desenhasse quatro momentos
do seu dia (desde o momento que levanta até a hora de se deitar)
Perguntas que devem ser feitas após os desenhos prontos:
• Conte-me sobre seus desenhos
• Se necessário, peça-lhe detalhes
• Escreva o que acontece em cada cena Antes da análise, deve-se observar:
• Se o desenho é realizado na sequência do dia (espaço-temporal)
• Existem detalhes, ela é criativa?
• Usa os quadrantes para situações consideradas importantes (como
aprendizagem, por exemplo)

Analisar12:
• Que pessoas estão na cena
• Locais escolhidos
• Momentos escolhidos
• As cenas possuem carga afetiva positiva ou negativa
• Que atividades a criança realiza
• Observar se há detalhes no desenho
• A sequência temporal foi ordenada ou desordenada

12 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.6. Família educativa

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


Família Educa- 6 a 7 anos Família • Desconhecido Explorar os vínculos
tiva de aprendizagem
com os membros da
família

Como realizar:
Solicitar à criança que desenhe sua família e coloque o que cada um sabe
fazer.
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• Quem são essas pessoas?
• Qual o nome e a idade delas?
• que cada um está fazendo?
• que eles sabem fazer, eles ensinam a alguém? Como?
• Qual título você daria a ele?
• Gostaria que escrevesse algo sobre ele para mim Antes da análise, deve-se
observar:
• tamanho as pessoas, dos personagens a atividade que estão realizando,
localização na folha, objetivos e participação na atividade e o relato sobre o
desenho

Analisar13:
• Posição dos personagens
• Os objetos
• A idade e sexo dos personagens

13 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.7. O dia do meu aniversário

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


O dia do meu 6 a 7 anos Consigo • Desconhecido Investigar a
aniversário mesmo relação
entre o crescimento,
a
mudança de
idade,
desejos e interesses

Como realizar:
Solicitar à criança que faça o desenho de um dia de aniversário de um menino
(se a criança for menino) ou de uma menina (se acriança for uma menina).
Obs.: Visca observa que alguns não comemoram aniversário ou o fazem de
forma específica, ou por cultura, religião. Então é importante conhecer a história
de vida de sua criança.
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• De quem é o aniversário?
• Que idade ele está fazendo?
• Quem são as pessoas?
• Quantos anos elas têm?
• Aconteceu alguma outra coisa com esse (a) menino (a) no dia do aniversário?
• aniversariante ganhou presentes? Quais? Ele gostou? Qual gostou mais?
• Gostaria de trocar algum presente?
• Qual título você daria a ele?
• Gostaria que escrevesse algo sobre ele para mim
• Outras perguntas que achar conveniente, de acordo com o desenho

Analisar14:
• Está rodeado de pessoas ou sozinho?
• Presentes recebidos
• Tamanho e posição dos personagens (De frente, de costas)
• Tamanho dos objetos relacionados ao aniversariante
• Complementos do desenho (lugar, conteúdo do relato – caracterização
dos personagens, contradições idade do aniversariante, comparada a idade da
criança)
14 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.8. Minhas férias

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


Minhas férias 6 a 7 anos Consigo • Desconhecido Explorar as ativida-
mesmo des realizadas no
período de férias

Como realizar:
Solicitar à criança que desenhe algo que fez nas férias. Utilizando os materiais
sobre a mesa (papel, lápis preto, borracha)
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• Conte-me seu desenho
• Que outra coisa fez durante suas férias
• Perguntas complementares, se necessário
• Escreva algo sobre o desenho
• Coloque um título em seu desenho

Analisar15:
• Houve adequação do desenho ao que foi solicitado
• A atividade foi bem representada (fez algo das férias, fea algo totalmente
diferente, desenho inacabado)
• Coerência entre o relato e as férias

15 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.9. Fazendo aquilo que mais gosta

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


Fazendo aquilo 6 a 7 anos Farmiliar • Desconhecido Observar as coisas
que mais gosta que mais gosta de
fazer
Como realizar:
Solicitar à criança que desenhe aquilo que mais gosta.
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• Conte-me seu desenho
• que acontece na cena
• Quando isso aconteceu
• Perguntas complementares, se necessário

Analisar16:
• Apagar o desenho e modificar a cena
• Apagar objetos, mas não mudar a cena
• Contexto espacial e temporal
• Coerência no relato

6.10. O desenho em episódios

Nome Idade Vínculo Autor Objetivo


Desenho em A partir Família • Desconhecido Observar os vínculos
episódios de 4 de aprendizagem
anos com o tempo, espaço
e causalidade

Como realizar:
O entrevistador dobra a folha ao meio e diz: Um (a) menino (a) tem o dia
todo para ele (a). Você irá desenhar o que esse (a) menino (a) desde a hora que
acorda, sai de casa até a hora que retorna
Perguntas que devem ser feitas após o desenho pronto:
• Conte-me seu desenho
• Que título você quer dar ao seu desenho
• Analisar: (baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca (2008)
• Tempo
• Espaço
16 baseado no livro “Técnicas projetivas” de Jorge Visca, de 2008.

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6.11. O desenho e o abuso infantil

Vemos a infância como um período de alegrias e descobertas, porém algumas


vivem momentos de angústia e violência. Estou me referindo a lares desequilibrados.
Quando há uma suspeita de abuso infantil, o desenho é por muitas vezes utilizado,
para deixar a criança mais confortável para se expressar.
Primeiro ponto é entendermos o que é o abuso, de acordo com Miller,

O abuso infantil pode ser decomposto em até três categorias amplas:

abuso físico, abuso sexual e negligência. Abuso físico: Lesões (por exemplo,

contusões e fraturas) que resultam de tapas, socos, chutes, mordidas ou

queimaduras que traumatizam a criança... As lesões podem resultar de

um único episódio ou de episódios repetidos, com gravidade de simples

machucados à morte. Negligência: Omissões por parte dos pais ou de outras


pessoas responsáveis que podem causar transtornos comportamentais,

cognitivos, emocionais ou mentais sérios17.

O abuso sexual infantil é definido como o contato ou interação entre

a criança e um adulto, em que este usa a criança de maneira sexual. Inclui

uma ampla variedade de atividades sexuais, variando de agressões não

violentas e não físicas, como a exposição a agressões, envolvendo contato

físico ( e as vezes até violento). Entre os exemplos, estão a manipulação, o

contato oral ou genital, a estimulação e a penetração anais, assim como a

exploração de crianças, por meio de pornografia ou prostituição18.

Quando se trabalha com uma criança que sofreu abuso, é muito importante o
acolhimento, a escuta e atividades que proporcionem que a criança se expresse,
como desenhos, uma pintura. Se a criança for muito pequena, dê uma folha para
que possa rabiscar e tome nota do que achar relevante. Atividades sobre os
sentimentos também são necessárias nesse momento, pois há uma confusão, um
turbilhão de pensamentos que a criança não compreende, como por exemplo,
“como uma pessoa que diz que me ama, pode fazer mal para mim?”
Nem todo o desenho de uma criança que sofreu abuso terá figuras fálicas.
Muitas lhe mostrarão tristeza e angústia, cores carregadas, uma história triste.
Então é preciso muita atenção.
Cuidado também com o contrário, dependendo do traçado da criança uma

17 MILLER, 2008, p. 119.


18 MILLER, 2008, p. 132.

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figura pode parecer fálica, mas conta uma história normal e rotineira da criança.
Nunca esqueça de olhar o lado detrás da folha, crianças ao desenharem
familiares abusadores, acham que os precisam desenhar, mas não os querem
próximo a outros membros da família e o desenham do outro lado da olha, como
um sinal de distanciamento.

6.12. Jogo do rabisco

O jogo do rabisco foi criado por Donald Winnicott (1971), para ser utilizado
em contextos terapêuticos. Um jogo bem simples, necessitando apenas de papel
e lápis. Com a tentativa de estabelecer uma comunicação com sentimentos e
pensamentos que são para a criança difíceis de conversar.
A instrução que é dada ao paciente: Desenhe livremente a partir do rabisco
feito por mim. Na sequência é o paciente quem faz o rabisco e o terapeuta realiza
o desenho. De acordo com Lawrence19, a criança tem que estar a brincar, senão os
resultados não serão satisfatórios. O jogo é iniciado pelo terapeuta, para que ele
mostre a criança como se faz.
Trabalhando assim espaço para a criação e a interação entre inconscientes. O
jogo não possui o mesmo objetivo que os desenhos projetivos, que são estruturados.
A forma menos perfeita de desenho deixa o paciente mais tranquilo e a vontade em
realizar a atividade e cria também um vínculo maior com o terapeuta. A habilidade
de desenhar não é importante nesse jogo.
Jogo do rabisco com histórias, tem os mesmos objetivos, mas deve jogado
da seguinte maneira: “Cada um de nós terá um pedaço de papel e um lápis. Eu
desenharei um rabisco e você fará o desenho que quiser, a partir desse rabisco;
depois você criará uma história sobre seu desenho, e eu farei algumas perguntas
sobre ele (seu desenho e a história). Em seguida, você desenhará um rabisco, e
eu farei um desenho a partir dele, contarei uma história, e você poderá me fazer
perguntas a respeito dele”20.
Desenhos e histórias: Se for trabalhar com o jogo do rabisco-história, dizer a
criança que ela invente, crie uma história (e não sobre si mesma). Lembrando que,
rabisco é a variação de uma curva, uma linha, ondulação ou ziguezague.
O papel do terapeuta é ser guiado pelo conteúdo do desenho e da história,
auxiliando que a criança consiga expressar seus próprios pensamentos e
sentimentos. Na hora do desenho do terapeuta, ele desenhará algo relativo ao
desenho da criança, que seja significativo para ela.
19 2005
20 LAWRENCE, 2005, p. 393.

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6.13. O desenho e a fantasia

Em seu livro, Descobrindo crianças, a autora americana Violet Oaklander, com


PhD em psicologia nas áreas de aconselhamento matrimonial, familiar e infantil,
nos mostra como a criança realiza desenhos sobre suas vivências através de
fantasias.
Através da fantasia podemos nos divertir junto com a criança e também
descobrir qual é o processo dela. Geralmente o seu processo de fantasia (a forma
como faz e se move no mundo fantasioso) é o mesmo que o seu processo de vida.

Podemos penetrar nos recantos mais íntimos do ser da criança por

meio da fantasia. Podemos trazer à luz aquilo que é mantido oculto ou

que ela evita, e podemos também descobrir o que se passa na vida da

criança a partir da perspectiva dela própria. Por estas razões encorajamos

a fantasia e a utilizamos como instrumento terapêutico21.

21 OAKLANDER, 1980, p. 25. LAWRENCE, 2005, p. 393.

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7 O desenho e a liberdade de ex-


pressão
O desenho simboliza consciente que veio, por muitas vezes, de algo inconsciente.
É importante lembrar que o desenvolvimento representa uma vivência, uma
experiência, e não uma perfeição.
Nem todas as crianças gostam de desenhar, para muitas delas, cantar, dançar,
fazer esportes também desenvolvem a sua imaginação.
O desenho é a primeira maneira simbólica que a criança se expressa. Muitas
vezes percebemos que esse trabalho tão bonito e tão importante no desenvolvimento
infantil é interrompido por uma estética exigida pelas escolas e pelos pais, onde
rabiscos e garatujas não são valorizados como olhar de expressividade pelas
crianças, o que passa a ser importante é desenhar com perfeição.
Então o professor deve ter consciência da importância do desenho dentro do
desenvolvimento infantil, conhecendo as fases e etapas para que possa respeitar
as limitações dessa criança ou uma grande criatividade que ela possua, podendo
assim interferir e orientar quando necessário, para que ela se estimule e mostre
através do desenho suas habilidades aprendidas nos ambientes e com as pessoas
as quais convive.

A importância dessa fala pode ser vista no texto a seguir.

O MENININHO

Um dia um menino partiu para a escola. Ele era ainda bem pequeno, e a
escola era bem grande. Porém, quando o menino descobriu que podia chegar à
sua sala entrando diretamente pela porta do pátio, ficou contente. E a escola já
não parecia mais tão grande.
Uma manhã, quando o menino já estava na escola há um certo tempo, a
professora disse:
– Hoje nós vamos fazer um desenho.

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Ele gostava de desenhar. Sabia fazer desenhos de todos os tipos: leões,
e tigres, galinhas e vacas, trens e navios... Pegou sua caixa de lápis de cor e
começou a desenhar. Mas a professora disse:
– Esperem! Não é para começar ainda!
E ela esperou até que todo mundo estivesse pronto.
- Agora! disse a professora – Nós vamos fazer flores!Legal! pensou o menino.
Ele gostava de desenhar flores. E começou a fazer magníficas flores com seus
lápis cor-de-rosa, laranja e azul. Mas a professora disse:
– Esperem! Eu vou mostrar como fazer!
E ela fez uma flor vermelha com um caule verde.
– Aí está, disse ela, agora vocês podem começar.
O menininho olhou a flor desenhada pela professora. Depois olhou as suas
flores. Ele preferia as suas às da professora, mas não disse nada. Apenas virou a
folha e fez uma flor como a da professora. Ela era vermelha com um caule verde.
Num outro dia, quando o menininho estava em aula, ao ar livre, a professora
disse:
– Hoje nós vamos fazer alguma coisa com o barro!
«Que bom!» – pensou o menininho. Ele gostava de trabalhar com barro.
Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e
caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro. Então, a
professora disse:
– Esperem! Não é hora de começar! – Ela esperou até que todos estivessem
prontos.
– Agora! – disse a professora – Nós iremos fazer um prato
. «Que bom!» – pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as
formas e tamanhos. A professora disse:
-- Esperem! Vou mostrar como se faz. Assim, agora vocês podem começar. E
o prato era um prato fundo.
O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e
gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro
numa grande bola novamente e fez um prato fundo, igual ao da professora.
E logo o menininho aprendeu a esperar, E a olhar, E a fazer coisas
exatamente como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si
próprio.
Então, aconteceu de o menininho e de sua família mudarem-se para outra
casa, em outra cidade. Ele teve que mudar de escola. Essa escola era ainda

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maior do que a primeira, e não havia porta para entrar diretamente em sua sala.
Ele tinha que subir; subir degraus altos e caminhar por um longo corredor para
chegar a sua sala.
No primeiro dia, a professora disse:
– Hoje nós vamos fazer um desenho!
«Que bom!” – pensou o menininho. E esperou que a professora dissesse o que
fazer. Porém, ela nada disse. Apenas andava pela sala. Quando chegou perto do
menininho, ela disse:
– Você não quer desenhar?
– Sim, o que é que nós vamos fazer?
– Eu não sei, até que você o faça.
– Como eu posso fazê-lo?
– Da maneira que você gostar.
– E de que cor?
– Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu
posso saber qual é o desenho de cada um?
– Eu não sei! disse o menino. E começou a desenhar uma flor vermelha com
caule verde.
(Helen E. Buckley)

Vejamos um segundo texto:

O GATO DA ESCOLA

Através desta expressão eu vejo retratada a ausência de imaginação e


criatividade nos “desenhos livres” de uma criança de escola e da maioria dos
adultos escolarizados.
A criança passa, de ser pensante e criativo a um ser reprodutivo. E o que é
pior, para a criança este é o seu desenho, a sua forma de imaginar de imaginar
um gato. Na verdade, esse gato sentado em seu rabo, de orelhas em pé e ainda
de costas não pode ser o gato de uma criança que já percebeu que esse animal
sobe em telhados, corre come, descansa, dorme, pula, brinca... O gato não é um
animal raro, nem distante da vida de uma criança. Dificilmente o representaria
por si só de forma como o descrevemos.
Em recente encontro com professores do 1º ao 4º ano, em determinado
momento pedi que desenhassem um gato. E foi para o papel o desenho livre de

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cada um, um gato. Um gato correndo, comendo, de pé, pulando, descansando?
Não! Foi para o papel o “gato da escola”. Com exceção de variação de tamanho,
os desenhos eram idênticos. Todos tiveram a mesma imaginação ou o “gato da
escola” foi tão marcante que mesmo depois de adultos não conseguimos nos
livrar dele?
Diante de situações como esta, nos dá a impressão de que todos passamos
por uma única escola, mesma turma, mesmo professor. E quantas marcas como
a de o desenho de um gato nos fizeram menos imaginativo, menos criadores,
menos pensantes. Foram marcas muito fortes, por muito tempo, para que hoje
consigamos nos livrar tão facilmente, tão rapidamente. Se acreditássemos que
os adultos futuros possam ser menos marcados, é necessário que se reflita
a prática educacional que ora se faz. Casos semelhantes a esta se repetem
nas salas de aula. Daí a necessidade de se criar situações em que a criança
realmente tenha condições de expressar o que pensa e do jeito que pensa, sem
modelos pré-estabelecidos. A criança precisa sentir que o professor acredita
nela, que o professor a vê como ser pensante e capaz. O professor precisa
lembrar que o processo de desenvolvimento de cada criança se inicia muito
antes de seu contato com a escola.

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<https://pedagogiaaopedaletra.com/fases-do-desenho-infantil/>. Acesso
em: 5 de fevereiro de 2022.
https://arteemanhasdalingua.blogspot.com/2011/06/esse-texto-me-encanta.
html https://biancarodrigues00.wordpress.com

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